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Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 1 31.05.21 Dor torácica DOR TORÁCICA É uma das queixas mais comuns nos serviços de emergência, consultórios, ambulatórios... Queixas do paciente: • Dor; • Sensação de pressão; • Desconforto. ORIGEM • Coração; • Pericárdio; • Pulmões; • Pleuras; • Parede torácica; • Mediastino; • Esôfago; • Diafragma. SEMIOLOGIA Anamnese → decálogo da dor e exame físico. • Quais são as características semiológicas desta dor torácica? • Por estas características, qual é o provável órgão/estrutura acometido? • Quais são os achados do exame físico? Eles corroboram o meu raciocínio inicial? • Qual é o diagnóstico sindrômico? • Quais são os possíveis diagnósticos etiológicos e diferenciais? Com base em uma hipótese diagnóstica ou mais, se toma uma conduta, essa conduta já pode ser terapêutica e algumas vezes não, mas então pode-se tomar uma conduta diagnóstica, dessa forma, solicita-se exames complementares para ajudar na investigação, esses exames levam a uma conduta terapêutica. No contexto de dor torácica, a conduta terapêutica pode ser: urgente ou não urgente. CORAÇÃO SÍNDROME CORONARIANA AGUDA Envolve um amplo espectro de condições clínicas, que vão desde a isquemia silenciosa, passando pela angina instável até o IAM (com ou sem supra ST). Fatores de risco: • Idade; • DM; HAS; tabagismo; dislipidemia; • História pessoal de DAC (doença arterial coronariana) / AVC; • História familiar de DAC precoce (< 55 anos para homens e < 65 anos para mulheres). Mulheres e idosos - podem não manifestar a apresentação clássica. A oferta é menor que o consumo → insuficiência coronariana. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 2 ANGINA ESTÁVEL - ANAMNESE • Dor retroesternal, constritiva ou opressiva; • Possível irradiação para MSE, ambos os membros ou região cervical/mandibular; • Desencadeada por esforço físico ou estresse emocional; • Aliviada rapidamente com o repouso ou nitrato (após 1 – 3 min); • Duração breve (< 5 – 10 minutos). ANGINA INSTÁVEL - ANAMNESE A angina instável é clinicamente instável e, muitas vezes, constitui um prelúdio do infarto do miocárdio ou de arritmias ou, com menos frequência, de morte súbita. • Duração maior (em geral > 20 minutos); • Sinais e sintomas associados – sudorese, palidez cutânea, náuseas e vômitos. Uma história clínica, com detalhada descrição dos sintomas, possibilita aos clínicos uma caracterização adequada da dor torácica. Algumas características dos sintomas devem ser cuidadosamente indagadas com a finalidade de orientarem a probabilidade de presença de angina: qualidade: constritiva, aperto, peso, opressão, desconforto, queimação, pontada; localização: precordial, retroesternal, ombro, epigástrio, cervical, hemitórax, dorso; irradiação: membros superiores (direito, esquerdo, ambos), ombro, mandíbula, pescoço, dorso, região epigástrica; duração: segundos, minutos, horas e dias; fatores desencadeantes: esforço físico, atividade sexual, posição, alimentação, respiração, componente emocional, espontânea; fatores de alívio: repouso, nitrato sublingual, analgésico, alimentação, antiácido, posição e apneia; sintomas associados: sudorese, náusea, vômito, palidez, dispneia, hemoptise, tosse, pré-síncope e síncope. Vários são os adjetivos utilizados pelos pacientes na descrição da angina: “sufocamento”, “queimação”, “opressão”, “peso”, entre outros. Não é raro referirem apenas o sintoma de “desconforto” e não “dor” pré- cordial. Quase nunca a angina é referida como em pontada, e, usualmente, não tem relação com a respiração, nem com o decúbito. SÍNDROME CORONARIANA AGUDA – ANAMNESE • Dor retroesternal, constritiva ou opressiva; − Lembrar dos casos atípicos; • Possível irradiação para MSE, ambos os membros ou região cervical/mandibular; • A dor pode ter início quando o paciente está em repouso; • Duração maior (> 20 minutos), podendo perdurar por vária horas; • Sinais e sintomas associados – sudorese, palidez cutânea, náuseas e vômitos; • A dor persiste ou melhora muito pouco com nitratos; • Precordialgia intensa, associada a náusea, vômitos e sudorese, sugere muito IAM. SÍNDROME CORONARIANA AGUDA – EXAME FÍSICO • B3? B4? Ritmo de galope? • Sopro de regurgitação mitral? • Estertoração pulmonar? • Achados de doença aterosclerótica em outros territórios? − Sopro aorta abdominal; − Avaliação pulsos periféricos; • Sinais clínicos que sugerem fatores de risco para DCV: − PA elevada; − Acantose nigricans; − Xantomas. Pacientes com doença aterosclerótica coronariana, na grande maioria das vezes tem doença aterosclerótica em outros territórios. Acantose Nigricans Arco corneano – sugere hipercolesterolemia familiar Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 3 Xantelasmas Xantomas – patognomônicos de hipercolesterolemia familiar (risco cardiovascular elevado) SÍNDROME CORONARIANA AGUDA – EXAMES COMPLEMENTARES Eletrocardiograma: • Alterações indicativas de presença de áreas inativas prévias; • Supra ST; • Alterações dinâmicas. Raio-X de tórax: • Diagnóstico diferencial. Marcadores bioquímicos de necrose miocárdica: • CK-MB; • Troponinas (I ou T). ELETROCARDIOGRAMA: 1. Supradesnível de ST: Elevação do segmento ST (no ponto J) nova ou presumivelmente nova em duas ou mais derivações contíguas: • ≥ 2 mm nas derivações V1 a V6 (precordiais); • ≥ 1 mm nas derivações do plano frontal (periféricas); *Ponto J: junção do fim do QRS e início do segmento ST. 2. Bloqueio de ramo esquerdo: • Complexo QRS ≥ 120 ms com morfologia Qs ou rS em V1; • Ausência de q em D1, V5 ou V6. 3. Infradesnível do ST ou inversão da onda T: • Desvio negativo do ponto J > 0.5 mm em pelo menos 2 derivações contíguas. • Inversão da onda T > 2 mm simétrica em pelo menos 2 derivações contíguas. 4. Normal ou inespecífica: alteração de repolarização, áreas eletricamente inativas, normal ou inespecífica. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 4 PERICÁRDIO PERICARDITE AGUDA • Processo inflamatório do pericárdio que tem múltiplas causas: − Doença primária x doença secundária. • 5% dos casos de dor torácica no PA após afastado SCA → pericardite aguda. CAUSAS • Infecciosa: vírus, bactérias, micobactérias, fungos... • Inflamatória: LES, AR... • Insuficiência renal; • Neoplasias, radioterapia; • Medicações; • IAM; • Idiopática. ANAMNESE • Dor do tipo pontada paraesternal (pode ser constritiva, peso, queimação...); • Contínua, várias horas de duração; • Possível irradiação para o pescoço (borda do trapézio) e região dorsal; • Piora com as ventilações realizadas/respiração (simulando uma dor pleurítica), piora com o decúbito dorsal ou com movimentos no leito, piora com a movimentação de tronco; • Melhora com a posição sentada ou inclinada para frente (posição de prece maometana). Sintomas associados: Febre? PERICARDITE E ESPECTROS – EXAME FÍSICO Pericardite aguda: • Aumento da temperatura corporal/febre; • Taquicardia; • Atrito pericárdico: − Pesquisar com atenção em diversas posições e diversas vezes (pode ser discreto, depender de alguma posição específica ou mesmo intermitente). Fator de melhora: Com essa posição há uma facilitação do enchimento das câmaras cardíacas, já que na pericardite aguda existe uma barreira/diminuição muito importante do enchimento diastólico de ambos os ventrículos. Tamponamento cardíaco: • Hipofonese de bulhas cardíacas; • Taquicardia, pressão venosa elevada/estase jugular → TRÍADE DE BECK (hipofonese, estase jugular e hipotensão arterial); • Pulso paradoxal (diminuição da PAS > 10 mmHg durante a inspiração); • Hipotensão arterial/choque hipovolêmico. PERICARDITEAGUDA – EXAMES COMPLEMENTARES • Marcadores de atividade inflamatória (PCR, leucograma, VHS); Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 5 • Marcadores e necrose miocárdica; • Eletrocardiograma. Quando se está diante de uma pericardite aguda existe uma evolução dos achados eletrocardiográficos ao longo do tempo. Normalmente esses achados são vistos em todas as derivações. *Concavidade para cima, ausência de imagem em espelho. • Raio-X de tórax: − Aumento da silhueta cardíaca (derrame pericárdico). • Ecocardiograma: − Espessamento pericárdico; − Derrame pericárdico. • Exames para investigação da causa. VASOS - AORTA DISSECÇÃO AÓRTICA • Dor torácica de início súbito; • Forte intensidade; • Caráter: dilacerante; lancinante – “rasgando”; • Retroesternal ou face anterior do tórax; • Irradiação para o pescoço, região intraescapular e ombros; • Paciente inquieto (deita-se, levanta-se, revira na cama, adota posturas estranhas, comprime o tórax contra a cama ou a parede, tentando obter alívio). Sintomas associados: síncope, quadro confusional? A dissecção de aorta ocorre quando existe uma criança de uma falsa luz entre a camada íntima e a camada média da aorta. Pode ocorrer o acometimento de alguns segmentos da aorta: Classificação de Stanford: • Tipo A: existe acometimento da aorta ascendente. • Tipo B: não existe acometimento ascendente, apenas acometimento da aorta torácica descendente. EXAME FÍSICO • PA elevada; • Diminuição ou ausência de pulsos, braços e pernas: − Acometimento das subclávias/ilíacas; • Diferença na PA entre MSE e MSD: ocorre em 25 a 50% dos pacientes com dissecção de aorta. − Diferença de PAS > 20 mmHg entre os membros superiores; • Sopro de insuficiência aórtica: − Sopro diastólico em foco aórtico/borda esternal direita. EXAMES COMPLEMENTARES • Raio-X de tórax: Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 6 − Alargamento do mediastino geralmente com abaulamento localizado (ponto de origem); − Derrame pleural esquerdo. • Ecocardiograma transesofágico; • Angiotomografia; • Ressonância magnética. PLEURA DERRAME PLEURAL • Dor torácica ventilatório-dependente (dor pleurítica): − Piora à inspiração profunda e com a tosse; − Decálogo da dor/característica: de acordo com a etiologia. • Sintomas associados: dispneia, tosse, febre, palpitações... − De acordo com a etiologia. CAUSAS MAIS COMUNS DERRAME PLEURAL PARAPNEUMÔNICO: • DTVD; • Dispneia; • Tosse (expectoração?); • Febre; • Queda do estado geral, prostração, inapetência. Derrame pleural em base direita, secundário a uma pneumonia. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: • DTVD? Pode ter um dor torácica ventilatório-dependente, mas não é tão usual, pois é o quadro que se arrasta, que acumula líquido na pleura aos poucos, não é algo agudo. • Dispneia; • Tosse seca; • Palpitações; • Edema de MMII. Obliteração dos seios costofrênicos bilateralmente, maior a direita do que a esquerda. Presença de cardiomegalia. EMBOLIA PULMONAR: • DTVD súbita; • Dispneia; • Palpitações Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 7 • Hemoptise; • Sintomas de TVP? Corcova de Hampton MARCHA DIAGNÓSTICA - DP Exame físico: expansibilidade reduzida, FTV diminuído ou ausente, macicez à percussão e MV diminuído ou abolido. Toracocentese diagnóstica: analisar as características do líquido pleural. PNEUMOTÓRAX Acúmulo de ar entre o folheto visceral e parietal da pleura. • Traumático ou espontâneo; • Primário ou secundário. Traumático: lembrar de procedimentos. Exemplo: punção venosa profunda, acesso central na subclávia, biópsia... Primário e espontâneo Secundário e espontâneo Homens jovens – 10 a 30 anos DPOC Indivíduos longilíneos Histiocitose Fatores predisponentes: tabagismo, hereditariedade Tuberculose/pneumocistose Blebs/bolhas subpleurais Pode ser recorrente (50%) Pode ser recorrente (50%) ANAMNESE E EXAME FÍSICO Anamnese: • Dor torácica súbita: ombro, pescoço, abdome. • Tosse seca. • Dispneia. Exame físico: • Expansibilidade reduzida; • FTV diminuído ou ausente; • Hipersonoridade à percussão; • MV diminuído ou abolido; • Enfisema SC, desvio traqueia para o lado contralateral... Exames complementares = raio X de tórax. Acometimento do hemitórax direito. Desvio da traqueia. GI - ESÔFAGO ESPASMO ESOFÁGICO DIFUSO - ANAMNESE • Dor em cólica, constritiva ou dilacerante = “aperto substernal”; “cólica esofágica”. − Intermitente. • Pode haver irradiação para o pescoço, ombros e MMSS. • Comumente ocorre com o paciente deitado, em repouso, melhorando quando assume a posição de pé e caminha alguns passos. • Líquidos muito frios ou muito quentes podem ser fatores de piora. • Disfagia pode estar associada (líquidos e sólidos). RUPTURA ESOFÁGICA - ANAMNESE • Iatrogênica; exemplo: em uma endoscopia. • Espontânea: Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 8 − Síndrome de Boerhaave. O paciente evolui com pneumomediastino, mediastinite. Situação muito grave que compromete o prognóstico do paciente a médio e longo prazo. DOR TORÁCICA RECORRENTE COM SUSPEITA DE ORIGEM ESOFÁGICA PAREDE TORÁCICA HERPES ZOSTER – ANAMNESE • Dor intensa, incessante, contínua. − Tipo queimação; − Alodínea. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 9 • Pode estar associada a parestesias. • A dor habitualmente precede as lesões cutâneas em 5 a 10 dias. • Predominância no tórax e na face. A história clínica, características da dor e o exame físico são suficientes para uma conduta terapêutica. COSTOCONDRITE - ANAMNESE • Presença de área sensível na parede torácica. • Dor recorrente nas articulações costocondrais. • Fatores desencadeantes: alguns movimentos do tórax, palpação das articulações ou tosse. • O acometimento de mais de uma articulação é frequente. • EF: dor difusa à palpação das cartilagens costais SEM edema. Síndrome de Tietze: • Aumento de volume/edema, dor espontânea e dor à palpação das articulações cartilaginosas da parede torácica anterior. • Menor idade de início. • Predileção pela 2ª a 3ª articulação costocondral. Sem necessidade de exames complementares. PSICOEMOCIONAL DOR TORÁCICA PSICOGÊNICA O conhecimento de lesão cardíaca ou o simples medo de doença do coração pode desencadear profundas alterações na mente de qualquer um de nós, pois, mais do que o comprometimento anatômico do órgão central da circulação, o que nossa mente passa alimentar é o receio, mais em nível inconsciente, em que tem grande importância o significado simbólico de nossos órgãos, de comprometimento da fonte de nossa vida afetiva. O médico que sabe levar em conta aspectos psicológicos e culturais compreende melhor seus pacientes e pode exercer a medicina com melhor qualidade. ATAQUE DE PÂNICO – DOR TORÁCICA Um ataque de pânico é um surto abrupto de medo intenso ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro (ou mais) dos seguintes sintomas: 1. Palpitação, coração acelerado, taquicardia. 2. Sudorese; 3. Tremores ou abalos. 4. Sensação de falta de ar ou sufocamento. 5. Sensação de asfixia. 6. Dor ou desconforto torácico. 7. Náusea ou desconforto abdominal. 8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio. 9. Calafrios ou ondas de calor. 10. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento). 11. Desrealização (sensação ou irrealidade) ou despersonalização (sensação de star distanciado de si mesmo). 12. Medo de perder o controle ou “enlouquecer”. 13. Medo de morrer. CAUSAS DE DOR TORÁCICA COM RISCO À VIDA • IAM; • Dissecção aórtica; • Pneumotórax hipertensivo; • Embolia pulmonar; • Ruptura esofágica.