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O descobrimento que é um mito de formação no Brasil, é de fato um processo sociológico e termina por esconder o passado das diferentes sociedades ameríndias. A ideia de descobrimento é contrária a ideia da violência da própria conquista, é um processo brutal e apaga não, só do ponto de vista físico mais cultural e histórico, as populações que aqui existiam. Os povos indígenas foram jogados no mais cruel esquecimento, pela ausência de preocupação da maioria dos brasileiros, que não foram educados para pensar como teria sido a ocupação e desenvolvimento dessas civilizações antes da chegada dos primeiros europeus, e o estabelecimento desse projeto colonizador, que transformou essas terras em um amplo empreendimento comercial, cuja finalidade era gerar lucros para o país imperialista. No Brasil, essas nações indígenas foram quase completamente exterminadas, vítimas do processo histórico. Esse processo brutal de conquista nega a história a esses povos, essas populações representam aquilo que na antropologia é chamada de sociodiversidade, ou seja, arranjos sociais que demonstram a diversidade humana. O objetivo desse texto de Góes Neves, é abordar a importância de se construir uma história indígena num processo de resgate do passado, que seja diferente da história eurocêntrica que se fixou no Brasil sobre esses povos, com uma imagem estereotipada deles ao pensar que essas nações não eram significativas para possuírem uma história própria, o termo descobrimento nega a história e a sociodiversidade dessas populações. Aqui, a arqueologia vai tentar compreender a estrutura funcionamento e processos de mudanças e sociedades do passado a partir do estudo dos restos materiais produzidos e utilizados e descartados pelos indivíduos que compõem essas sociedades. Góes Neves reconhece que é o meio social, com seus valores, com sua especificidade e com a sua divisão do trabalho, que apropria um meio físico, os ecofatos e os biofatos, e os transformam em materiais necessários ao seu desenvolvimento e à sua vida. Não podemos esquecer que, em toda e qualquer sociedade, tudo aquilo que é vestígio material para nós, era também, para a sociedade, fruto da sua própria divisão interna do trabalho. Em sociedades indígenas, geralmente, essa divisão era uma divisão sexual do trabalho, cabendo ao homens e mulheres tarefas diferentes na produção de uma solidariedade que vai gerar a sociedade indígena, isso faz parte de todo o conjunto cultural dessa civilização. Essa divisão do trabalho ela é ação antrópica, portanto, ela modifica a natureza enquanto modifica a si própria, produzindo territorialidades e produzindo a própria civilização. Nós podemos entender a noção de civilização de uma maneira mais inclusiva, mais abrangente, e as populações, diferente dos preconceitos que existem até hoje, elas produziram vestígios materiais significativos. Pensando na nossa ideologia que entende que a noção europeia de progresso é desenvolvimento tecnológico, desenvolvimento técnico, uma inclusão socioeconômica para se aumentar o consumo, contudo, o que para nós é progresso, para estas civilizações é o fim da vida, pois a nossa chegada e a nossa sociedade representou o fim dessa sociedades indígenas, e quando se pensa no progresso dessas nações indígenas através das noções europeias, ele se torna atraso ou inércia. O progresso para essas populações tradicionais é muito diferente dessa noção europeia de progresso que é compulsória, que é uma ideia de progresso que só diz respeito a nossa civilização. E com isso, forças físicas, econômicas, entre outras, passam a intervir mais ainda na vida desses povos originários, essas populações sofrem os efeitos da nossa civilização. Não podemos impor valores e intervir no modo de vida dessas populações indígenas. A discussão que Góes Neves faz sobre os sítios arqueológicos indígenas está propondo a ampliação das discussões acerca do tema, as nossas concepções de como que é o sítio e a importância dos objetos da cultura material para a compreensão de um dado povo, e no passado, muitas dessas civilizações produzam artefatos com extrema beleza, produções essas que precisam ser valorizadas e enxergadas de outra maneira, como parte de uma história muito ampla e rica. A escravidão indígena foi utilizada no Brasil colônia para implementar e dar o passo inicial, não só na economia de escambo, da troca de madeira, animais, drogas do sertão, pau-brasil por algumas ferramentas manufaturadas ocidentais, mas também na própria consolidação da civilização açucareira no Nordeste. Outro fator que também contribuiu para o genocídio dos povos indígenas foram as guerras de conquista travadas pelos bandeirantes. A catequese, em especial jesuítica, ajudou a desarticular o modo de vida desses povos, deslegitimando as culturas ancestrais com o etnocídio, na tentativa de gerar o extermínio cultural desses povos. Esse genocídios, a mortandade, essa escravidão, essas guerras, tudo isso vai desarticular para sempre o modo de vida dessas populações originária.
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