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1 1 RELATO DO FILME Rosa é nossa personagem principal, vive um momento delicado de mudanças na vida. O marido, Dado, é antropólogo, sua carreira profissional consiste em viajar pelo Brasil defendendo o meio ambiente, carreira essa que não gera apoio financeiro ao núcleo familiar. Dado também não compartilha das tarefas domésticas e se exime de participar na rotina da casa, isso inclui os cuidados e a educação das filhas do casal. Além disso o filme transmite a ideia de que Dado tem uma possível amante, Silvana. Nara e Juliana são as filhas do casal, duas meninas que estão chegando à pré-adolescência e com isso começam a questionar o poder e as ordens dos pais, gerando momentos de atrito durante o filme. O pai de Rosa, Homero, é artista visual, passa por um momento de separação do seu segundo casamento, com Didi. O estopim para o fim desse casamento foi Homero ter escondido de Didi que não estava pagando o colégio da filha deles, Caru, fazendo assim a menina perder o ano letivo e a matrícula do ano posterior. O irmão de Rosa, Cacau, é casado com Alessandra, desse casamento nasceu um menino, que tem por volta de cinco anos no tempo em que o filme se passa. O casamento dos dois parece ter atritos e uma possibilidade de término que é exposta no começo do filme. Uma grande parte dos desafios de Rosa está em sua relação com a mãe, Dona Clarice. Logo no começo do filme ela afirma que Rosa é filha de outra pessoa, fato que Clarice escondeu durante 38 anos. Outra grande narrativa é a história da relação entre mãe e filha durante os últimos meses de vida da mãe, que estava com câncer de pâncreas em estado irreversível. Por fim, Pedro é o pai de um dos colegas da filha mais nova de Rosa, por quem Rosa cria um forte vínculo de amizade em um primeiro momento, que depois se torna paixão e dá origem a um episódio de traição. Pedro também é casado. A história de Rosa conta um momento na vida da personagem em que muita coisa acontece ao mesmo tempo. Ela vive uma vida repetitiva, automática, no casamento. Ela dá conta do trabalho, que paga todas as contas da casa, e da alimentação e criação das filhas, pois Dado, que quase sempre está viajando, não participa de nada. O sonho dela se tornar uma dramaturga era, até então, atrapalhado por essa vida ocupada. 2 A história de Rosa gira em torno da ideia de ter outro pai, da morte iminente da mãe, a perda do emprego e o sonho de se tornar dramaturga e da crise em seu casamento, que combina uma possível traição por parte do marido e da exaustão dela em segurar todas as pontas desse casamento sozinha. Rosa se mostra uma pessoa bastante conservadora no começo do filme, característica que vai se desmontando conforme a narrativa avança, ela percebe algumas coisas e toma coragem para desenvolver outras. Não há uma resolução para todos os problemas da personagem. Roberto Nathan a reconhece como filha, mas pede distância e discrição pois é um político importante. Há uma aproximação com a mãe entre a revelação da doença e a morte desta, onde a filha acompanha algumas escolhas da mãe e ouve conselhos. O filme não nos mostra um término efetivo do casamento de Rosa e Dado, mas passa a ideia de que houve um rompimento logo nas cenas finais. Por fim, correndo atrás de seu sonho, Rosa produz uma peça e tenta vender a ideia para uma diretora. 3 2 GENOGRAMA Figura 1 – Genograma da Família Fabri Fonte: Elaborado pelo autor. 4 3 ETAPA DO CICLO VITAL Após análise do filme em comparação com o texto de CARTER E MACGOLDRICK, pode-se afirmar que o ciclo de vida que é enfrentado por essa família é o de “estágio tardio da vida”. Consiste, em resumo, na aceitação das mudanças dos papeis geracionais. É possível observar no filme as mudanças de segunda ordem, especificadas pelas autoras. Segundo elas, são mudanças necessárias para que o status familiar se mantenha em desenvolvimento: a) Manter o funcionamento e os interesses próprios e/ou do casal em face do declínio fisiológico. Fica claro, desde o começo do filme que Dona Clarice não está disposta a largar o consumo de cigarros em função da possibilidade de melhorar frente ao câncer. De forma parecida, Homero não renuncia a seus fantoches. b) Apoiar um papel mais central da geração do meio. Rosa está tanto num processo de autodescoberta como é responsável por manter algumas das funções familiares, como o cuidado e a responsabilização pelos pais assim como a criação das filhas. c) Abrir espaço no sistema para a sabedoria e experiência dos idosos, apoiando a geração mais velha sem superfuncionar por ela. Dona Clarice, até então responsável por uma união na família, começa a se abster tanto desse papel como do papel de criadora/provedora, se abstendo do papel de mãe e avó para se colocar numa posição mais horizontal em relação a filha. d) Lidar com a perda do cônjuge, irmãos e outros iguais e preparar-se para a própria morte. Revisão e integração da vida. Essa mudança é vista no processo que Dona Clarice mostra passar ao aceitar a própria morte, tanto quanto um processo parecido que Rosa vive ao aceitar que a mãe vai morrer. Outras características dessa etapa podem ser vistas em alguns momentos do filme. Rosa é responsável por manter sua família (contas, marido e filhas), além de passar por problemas pessoais e profissionais durante o filme. Para isso, as autoras 5 dizem que “a insegurança e a dependência financeira são também dificuldades especiais, especialmente para os membros da família que dão valor a administrar as coisas sozinhos.” As autoras também afirmam que nessa etapa do ciclo familiar “não existe realmente uma reversão de papéis entre uma geração e a próxima”, os mais velhos continuam tendo mais experiências do que os mais novos, característica vista nos momentos de convívio entre Clarice e Rosa, em que Clarice continua sendo mãe em seus conselhos e toques em relação a vida e a criação de filhos. E, por fim, também podemos dizer que a família passa por essa etapa do ciclo quando o filme mostra a desvalorização de Rosa em relação a sua posição, tanto por ela que não acredita ser capaz quanto pelos outros que a colocam em diversas posições. Esquecida como esposa, por um marido que não fica em casa, enfrentada como mãe, pelas filhas que estão crescendo, e impotente como filha, tanto pelo tratamento do pai que ela acata por ele ser amistoso com ela, quanto no tratamento da mãe por diversas vezes descredibiliza a filha.
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