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Puberdade Precoce e Tardia Puberdade É o período de transição entre a infância e a vida adulta. Marcada por uma sucessão de eventos controlados por fatores neuroendócrinos que modulam: o crescimento somático, e o desenvolvimento gonadal (características sexuais secundárias e a capacidade de reprodução). A puberdade normal inicia entre 8 e 13 anos nas meninas e entre 9 e 14 anos nos meninos. OBS: Após 2,3 anos do aparecimento de telarca (aparecimento do broto mamário- que pode ser unilateral) seguida pela pubarca (aparecimento de pelos) há a menarca. Estadiamento de Tanner e Marshal São 5 categorias do desenvolvimento puberal. P1: Ausência de pelos pubianos; P2: Pelos finos e lisos na borda dos grandes lábios; P3: Aumento na quantidade de pelos dos grandes lábios e da sínfise púbica; P4: Pelos escuros, crespos, grossos nos grandes lábios, na sínfise púbica e no períneo; P5: Pelos terminais abundantes em sínfise, períneo e raiz das coxas. M1: Ausência de desenvolvimento mamário, estagio infantil; M2: Aparecimento do broto mamário; M3: Crescimento mama e aréola, sem separação de contornos; M4: Projeção da papila e aréola acima do contorno da mama; M5: Projeção apenas da papila e retorno da aréola ao contorno da mama. Estirão de Crescimento Caracteriza-se pelo desenvolvimento somático que ocorre mais cedo nas meninas e que é marcado pela ação dos hormônios de crescimento (GH), os estrógenos e o IGF-1. Baixas doses de estrógeno estimulam o GH, que ativa o IGF-1 e assim, este se comporta como um mediador da ação do GH. Todavia, em altas doses de estrógeno, acabam inibindo o GH pela modulação do IGF-1. Durante o estirão ocorre o ganho de peso com importante alteração do percentual de gordura corporal. Sua duração é de 2 a 3 anos e a velocidade de crescimento é de 9/10 cm/ano. Após a menarca, ocorre desaceleração do crescimento com ganho estatural médio de 6 cm. O ritmo de crescimento pode ser analisado pelas curvas de crescimento da OMS. Assim, a definição de altura – alvo pode verificar se a menina está crescendo dentro do seu padrão familiar, por meio da conta: Altura Alvo= (Altura do pai em cm -13) + altura da mãe em cm/2. OBS: Depois da menarca considera-se parada de crescimento? -Estirão de Crescimento: Velocidade de crescimento é de 10cm/ano, sendo que o tempo necessário para um bom estirão é maior ou igual a 2 anos. -Parada de Crescimento: A velocidade de crescimento é de menos que 2 cm/ano e a idade óssea atinge seu desenvolvimento final até os 14 anos. Puberdade Precoce É o desenvolvimento do processo puberal antes dos 8 anos em meninas e antes dos 9 anos em meninos. Não possui uma incidência tão grande, porém pode impactar tanto no desenvolvimento físico, acarretando em perda do potencial de estatura final, mas também psicológico, uma vez que fica discordante das crianças do seu convívio sem proporcionar um desenvolvimento psíquico. A Puberdade precoce é classificada de acordo com as manifestações clinicas em: -Puberdade Precoce Central (PPC) ou verdadeira (PPV); -Pseudopuberdade Precoce (PPP) – Isossexual ou Heterossexual; -Precocidade Sexual Incompleta – Telarca Precoce e/ou Pubarca Precoce. Puberdade Precoce Central (PPC) É completa, isossexual (características secundarias estão de acordo com o sexo genético da paciente), central e dependente do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH). Decorre da ativação precoce do eixo hipotálamo- hipófise-ovário, com a produção de esteroides sexuais pelos ovários e desenvolvimento puberal precoce, porém com padrão semelhante ao da puberdade fisiológica. Em 80% dos casos, tem-se uma causa idiopática, mas podem ser provenientes de lesões do SNC tumorais (hemartoma, craniofaringioma, astrocitoma, glioma, neurofibromas e teratomas suprasselar) ou não tumorais (meningite, encefalite, hidrocefalia, pós- irradiação, trauma, anomalias congênitas, infecções). As de acometimento precoce surgem usualmente antes dos 4 anos de idade e podem ser hematomas do hipotálamo, craniofaringiomas, astrocitomas, gliomas, neurofibromas e teratomas. O impacto causado pela puberdade precoce está associado tanto a fatores psicossociais, mas também a redução na altura final esperada para a idade adulta, devido a soldadura precoce das epífises ósseas. Pseudopuberdade Precoce (PPC) É incompleta, periférica, isossexual ou heterossexual (características sexuais são inapropriadas para o sexo), independente do GnRH. O que ocorre é o aumento dos esteroides sexuais, ovarianos ou da suprarrenal, não associado a produção de gonadotrofinas hipofisárias. A apresentação clinica é variável, sendo que a sequência da progressão puberal não ocorre na ordem da puberdade normal (telarca, pubarca, menarca). Ela pode se apresentar na forma isossexual (caracteres secundários são os mesmos do sexo da criança) ou heterossexual (caracteres secundários são próprios aos do sexo oposto da criança, como a virilização). Dentre as causas, temos: -Ovarianas: Presença de um tumor ou cisto ovariano que produz esteroides sexuais (maior parte são tumores nas células da granulosa). Outros tumores também podem acarretar em tal quadro, como: arrenoblastomas, cistadenomas, gonadoblastomas, carcinomas, tecomas, cistos ovarianos benignos (foliculares ou luteinicos) e tumores produtores de HCG. -Adrenais: Tumores produtores de estrogênio (adenomas e adenocarcinomas), hiperplasia adrenal congênita – sinais de virilização; -Síndrome de McCune-Albright: É definida como uma tríade clinica que inclui puberdade precoce (presença de cistos ovarianos), displasia óssea e hiperpigmentação da pele com manchas “Café com leite”; -Iatrogênica: Exposição a esteroides sexuais em alimentos, medicamentos, cosméticos e no ambiente (plástico e pesticidas); -Hipotireoidismo Primário: Uma reação cruzada entre FSH e LSH, com estimulo do FSH pelo LSH. OBS: Qualquer causa da pseudopuberdade precoce pode causar a elevação crônica dos esteroides sexuais, acarretando em uma ativação do eixo hipotálamo- hipófise-ovário pela sensibilização dos receptores centrais, levando a um quadro de sobreposição de uma puberdade precoce central. Precocidade Sexual Isolada ou Incompleta TELARCA PRECOCE: A telarca é o desenvolvimento mamário que se inicia 2 anos antes da menarca com o aparecimento do broto mamário e eventualmente pode ser precedida pela pubarca. A Telarca Precoce é um desenvolvimento mamário uni ou bilateral, sem o desenvolvimento de outros caracteres puberais e sem aceleração do crescimento. É comum em meninas abaixo de 2 anos, provavelmente em decorrência de um aumento transitório de estrogênio ou por uma maior sensibilidade mamaria a níveis baixos de estrogênio, investigando também causas iatrogênicas. Tal desenvolvimento pode regredir, progredir ou persistir, por isso o tamanho das mamas e a sua velocidade de crescimento devem ser monitoradas periodicamente. Não devem ser tratadas com medicamentos, merecendo controle da evolução do desenvolvimento puberal e da estatura até o inicio da puberdade normal. São uteis na avaliação a citologia hormonal vaginal, o teste com estimulo ao GnRH, a idade óssea e a ultrassonografia pélvica. PUBARCA PRECOCE: A pubarca caracteriza-se pelo aparecimento de pelos pubianos, seguidos dos axilares. Assim, o aumento da secreção de glândulas sebáceas confere a adolescente o odor peculiar e o surgimento de acne. A pubarca prematura ou adrenarca prematura ocorre antes dos 8 anos e pode permanecer inalterada ou com progressão lenta até a puberdade. Não há o desenvolvimento mamário, mas pode ocorrer uma discreta aceleração da velocidade de crescimento, evidenciada pela maturação esquelética e estatura avançada para a idade, mas não comprometendoa estatura final. Clinicamente, apresenta-se com pubarca, axilarca e odor característico nas axilas, sendo mais comum em crianças negras, hispânicas e obesas. Relaciona-se com a ativação da suprarrenal e aumento discreto nos níveis de andrógenos, androstenediona, deidroepiandrosterona e sulfato de deidroepiandrosterona. A associação de pubarca precoce, baixo peso ao nascimento e aumento do índice de massa corporal parece relacionar-se a risco aumentado de anovulação, hirsutismo e hiperinsulinemia no menacme. Em casos mais exuberantes, investigar hiperplasias congênitas das adrenais de forma tardia e tumores adrenais. MENARCA PREMATURA: É um evento raro e que necessita de um diagnostico diferencial: presença de corpo estranho, infecções, trauma, abuso sexual e neoplasia. A menarca isolada parece estar associada a sensibilidade endometrial a pequenas doses de estrogênio, mas deve ser cuidadosamente investigada. Assim, o crescimento é normal, bem como as características secundarias e a fertilidade. Assim, o estradiol sérico deve manter-se em níveis pré- puberais. Diagnóstico O diagnostico baseia-se em história clínica, exame físico, exames laboratoriais, raio X de mãos e punhos (determinação da idade óssea), ultrassonografia pélvica, ressonância magnética e tomografia computadorizada de crânio e sela túrcica se puberdade precoce central. História Clinica Queixa: Aparecimento de características secundarias e aumento de crescimento; Anamnese: caracterizar sintomas atuais e pregressos, antecedentes de doenças do SNC (traumatismo craniano, epilepsia, malformações ou sequelas de infecções), exposição a esteroides sexuais exógenos, cefaleia recorrente ou dor abdominal sem causa (investigação de processo ovariano), cronologia do aparecimento dos eventos puberais e história familiar. O diagnostico da puberdade precoce é eminentemente clinico, baseado na observação da presença de características sexuais secundarias, principalmente a telarca e da aceleração da velocidade de crescimento antes dos 8 anos. Identificar etiologia, separando os casos patológicos dos distúrbios benignos do desenvolvimento puberal, tais como telarca e pubarca isolados. Exames devem ser solicitados de acordo com a suspeita diagnostica. Exame Físico Estadiamento de Tanner e Marshal, peso e estatura atuais (percentis), velocidade de crescimento e calculo do canal familiar (altura estimada). Registrar o diâmetro de tecido glandular palpável e do complexo areolomamilar, bem como realizar a palpação abdominal em busca de massas e analisar a presença de “manchas café com leite” da Síndrome McCune – Albright. Exames Laboratoriais Estudo Hormonal Básico: LH (está aumentado após a puberdade), FSH e estradiol basais; Estudo Hormonal Complementar: Androgênios (puberdade precoce ou suspeita de hiperplasia adrenal congênita (17 OHP e testosterona) ou tumor adrenal ou ovário (SDHEA e androstenediona)) / TSH; Citologia Hormonal Vaginal – Índice de Frost (Analisa a influência hormonal sobre as células do epitélio vaginal para analisar o índice de maturação celular); Teste do GnRH. Diagnóstico por Imagem Raios X de mão e punho do lado não dominante para avaliação da idade óssea pelos métodos: Greulich-Pyle, RUS e Tanner-Whitehouse. Assim, uma diferença superior ou igual a 2 desvios padrões entre a idade óssea e a cronológica, indica estimulo estrogênio sobre os ossos. Deve-se então, relacionar esta diferença com a idade do paciente, sendo significativa de 3 a 6 meses em pacientes de até 1 ano de idade, de 12 a 18 meses em pacientes com idade entre 1 e 3 anos e de 2 anos em pacientes com idade superior a 3 anos. Na Ultrassonografia pélvica e abdominal permite a avaliação da genitália interna, com identificação de sinais de estimulo gonadotrófico e exclusão da presença solida de tumores ou de cistos. Parâmetros para se analisar sinais de estímulos gonadotróficos: útero de aspecto globoso com diâmetro antero- posterior do fundo maior que o colo (relação útero/colo maior 2/1) , com volume uterino maior que 2 ml, presença de eco endometrial, ovários com volume maior que 1ml, apresentando 6 ou mais folículos medindo mais que 4mm e comprimento uterino maior que 3,4 a 4,0 cm. Estudo Doppler das artérias uterinas com diminuição nos índices de resistência. A ressonância magnética ou tomografia computadorizada de crânio e sela túrcica é para avaliar o SNC nos casos de puberdade precoce central, principalmente de evolução rápida e se for associada a sintomas neurológicos e cefaleia, já que permite identificar malformações ou tumores. (Preferência para ressonância magnética). A RNM é solicitada em casos de suspeita de tumor adrenal ou ovário. Tratamento O tratamento é indicado na presença de 2 dos seguintes critérios: -Aparecimento dos caracteres sexuais secundários em crianças menores de 8 anos; -Teste do GnRH indicativo de ativação do eixo hipotálamo- hipófise-ovário; -Altura predita menor ou igual a 150cm; -Altura predita 10cm menor que a altura predita pela média parietal; -IO maior ou igual a 2 anos IC; -Alterações psicológicas significativas ou idade de início menor que 5 anos. O objetivo do tratamento, visa identificar etiologia e tratar a causa quando possível, diagnosticar e tratar eventuais doenças intracranianas, adiar a maturação até a idade normal, atenuar e diminuir os caracteres sexuais secundários já estabelecidos, maximizar a estatura adulta final, evitar casos de abuso sexual e reduzir problemas emocionais. Tratamento da Puberdade Precoce Central: A primeira escolha são os análogos agonistas do GnRH de ação prolongada aGnRH, afim de bloquear a pulsatilidade de LH com o uso mensal de leuprolida 3,75mg ou goserelina 3,6mg ou com uso trimestral de leuprolida 11,25mg ou goserelina 10,8mg. Pode-se utilizar agentes progestacionais e dar apoio psicológico. O controle do tratamento clinico visa o retorno de 3/3 meses a 6/6 meses para analisar a altura, do peso, exame do local de aplicação, velocidade de crescimento e estadiamento puberal. Analisar a idade óssea de forma semestral e na parte laboratorial realizar teste de estimulo de GnRH ou dosagem de LH após aplicação do aGnRH. O uso do análogo seve ser feito até 11-12 anos. Puberdade Tardia Ausência de caracteres sexuais em pacientes maiores de 13 anos. Pesquisar amenorreia primaria aos 16 anos de idade ou após 3 anos da telarca e se os sinais de desenvolvimento somático são discordantes em Relação à idade cronológica. Classificação Pode ser classificada em: Hipogonadismo hipogonadotrófico, Hipergonadismo hipogonadotrófico ou atraso constitucional do desenvolvimento puberal. Hipogonadismo hipogonadotrófico Deficiência do eixo hipotálamo- hipófise com dosagens baixas de FSH e LH e correspondem a 30% dos casos. As principais causas são: tumores SNC (craniofaringioma, germiomas, gliomas e astrocitomas), lesões do SNC (infecções, defeitos congênitos, hidrocefalia), deficiência isolada de gonadotrofinas (síndrome de Kallman), patologias genéticas, anorexias nervosas, doença crônica e desnutrição, atividade física excessiva e hipotireoidismo. Hipergonadismo hipogonadotrófico Hipotálamo e hipófise normais, altos níveis de FSH e LH e correspondem a 43% dos casos de atraso puberal. As causas mais frequentes são: Disgenesia gonadal (monossomia do X e mosaicos – Síndrome de Turner), após quimioterapia ou radioterapia e ooforite autoimune (infiltração de leucócitos nos folículos ou nas células da teca). A Síndrome de Turner: 60% possuem cariótipo 46, X sendo que 20% são mosaicos e 20% possuem anomalias estruturais do cromossomo X ou Y, sendo que os ovários são em fitas sem células germinativas. No quadro clinico: Baixa estatura, atraso do desenvolvimentopuberal, alterações somáticas diversas (implantação baixa das orelhas, do cabelo, pescoço alado, linfedema de palma das mãos e plantas dos pés, tórax em armadura, hipertelorismo mamário (aumento da distância), cubitus valgus (deformação do cotovelo), quarto metacarpo curto, malformações urinarias e cardiovasculares. Atraso constitucional do desenvolvimento puberal É um retardo global do desenvolvimento, atingindo ao mesmo tempo altura, idade óssea e puberdade. É mais comum no sexo masculino e está associado a fatores genéticos, desnutrição e doenças crônicas. Assim, as dosagens hormonais são normais na infância e o teste de GnRH = pré puberdade. Afastando outras causas e patologias, deve-se aguardar o desenvolvimento puberal tardio, porém espontâneo. Diagnóstico O objetivo do diagnostico é determinar se tal condição é tratada como atraso constitucional ou se está envolvida com uma patologia que necessita de investigação. Assim, realiza-se anamnese, exame físico, dosagens hormonais, cariótipo e exames de imagem. Anamnese Analisar a curva de crescimento, a presença de doenças neurológicas, infecções, desnutrição, patologias crônicas, o uso de medicamentos, hábitos alimentares e intensidade de atividade física e pratica esportiva. Exame Físico Verificar peso, altura, estadiamento puberal de Tanner e Marshal, percentual de gordura corporal, identificar estigmas de síndrome de Turner. Dosagens Hormonais Analisar LH e FSH (valores altos causa periférica, valores baixos causa central). Além de prolactina, TSH e androgênios. O cariótipo é indicado somente em casos de gonadotrofinas elevadas. Métodos de Imagem Analisar a idade óssea (Diferença maior ou igual 2DP entre IO e IC – estimulo insuficiente), ultrassonografia (malformações de genitália externa), tomografia e ressonância magnética (alterações do SNC) e citologia hormonal (determinar a presença de estimulo de estrogênio). Tratamento O objetivo do tratamento é induzir e manter o desenvolvimento puberal, promover o crescimento até a estatura final adequada e minimizar o impacto psicossocial. É um tratamento adequado para a etiologia com abordagem multidisciplinar em casos de anorexia e desnutrição. Reposição hormonal em 3 fases: -Estimular o desenvolvimento mamário e promover o estirão do crescimento; -Promover menstruação regular e mineralização óssea adequada; -Manutenção do desenvolvimento e da regularidade hormonal. Disgenesia Gonadal com Y: Gonadectomia (retirada do ovário/testículo com risco de malignização).
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