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CURSO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL FAVENI – FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE O FENÔMENO RELIGIOSO ESPÍRITO SANTO 2 SUMÁRIO 1 A INSTITUIÇÃO RELIGIOSA ............................................................................... 4 2 O QUE SÃO OS RITUAIS? .................................................................................. 6 2.1 Ritual de benção de alimentos ...................................................................... 7 3 MAS POR QUE A IGREJA CATÓLICA POSSUI TANTO PODER? ...................12 4 ATEÍSMO ............................................................................................................17 5 RELIGIÕES E SEUS VÁRIOS TIPOS.................................................................18 6 RELIGIÕES ORIGINÁRIAS DO EXTREMO-ORIENTE ......................................18 6.1 Taoísmo ........................................................................................................18 6.2 Xintoísmo ......................................................................................................19 6.3 Hinduísmo ....................................................................................................19 6.4 Budismo ........................................................................................................21 6.5 Confucionismo ..............................................................................................22 7 RELIGIÕES DE ORIGEM AFRICANA ................................................................22 7.1 Candomblé ...................................................................................................23 7.2 Umbanda ......................................................................................................23 8 RELIGIÕES ORIGINÁRIAS DO ORIENTE-MÉDIO ............................................24 8.1 Judaísmo ......................................................................................................24 8.2 Cristianismo ..................................................................................................25 8.3 Islamismo .....................................................................................................26 9 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................29 10 TEXTOS PARA REFLEXÃO ............................................................................30 10.1 O Fenômeno Religioso ..............................................................................30 10.2 Ensino religioso: lição de tolerância ..........................................................35 11 ARTIGO PARA REFLEXÃO ............................................................................38 11.1 A Contribuição Do Fenômeno Religioso Na Construção Da .....................38 3 11.2 Sociedade .................................................................................................38 12 RESUMO .........................................................................................................38 13 INTRODUÇÃO .................................................................................................39 13.1 A importância da Fenomenologia ..............................................................40 13.2 A importância do fenômeno religioso para o homem e para a sociedade .40 13.2.1 Influências positivas na sociedade .......................................................41 13.2.2 O risco que envolve o fenômeno religioso ............................................42 13.2.3 Breve histórico do fenômeno religioso no Brasil ...................................43 13.2.4 Considerações finais ............................................................................44 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................46 4 1 A INSTITUIÇÃO RELIGIOSA Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar. Por causa disso a minha gente lá de casa Começou a rezar... (Assis Valente) Imagine se algo semelhante ocorresse hoje, ou se nos fosse dado o poder de saber o dia de nossa morte? Como agiríamos? O que pensaríamos? Para muitos, a consciência de nossa finitude, a certeza de que somos mortais, levaria a repensar nossos valores, nossos atos cotidianos, nossas preocupações, as quais, numa situação como a colocada acima, ganhariam outra dimensão. Os versos citados acima pertencem à música “E o mundo não se acabou” do compositor Assis Valente (1908-1958), e foram inspirados numa notícia divulgada nas rádios do país no ano de 1938. A notícia era uma brincadeira (é claro), mas o fato provocou a preocupação e agitação da população do país que teve as mais variadas reações, desde gastar todo o dinheiro, até praticar atos considerados insanos... Talvez nem seja necessário pensar no fim do mundo, ou na própria morte, mas o simples fato de ficar “frente a frente” com a perda de alguém muito querido, comover-se com as catástrofes que levam à morte de milhões de pessoas ou com o drama cotidiano dos doentes e famintos que passam a vida somente em busca de alimento, e morrem ignorando totalmente as possibilidades que a vida pode nos oferecer, sejam situações que certamente levam muitos de nós a pensar sobre o sentido da vida, sobre as razões de nossa existência, sobre os motivos que fazem cada um de nós termos vidas tão diferentes. Estas são questões que incomodam a humanidade desde os mais remotos tempos, muito antes dos filósofos gregos colocarem as clássicas questões: De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos? Para que viemos? A busca dessas respostas motivou-nos a desenvolver o que podemos chamar de pensamento sagrado, ou seja, nossa imaginação e inteligência, movidas pela curiosidade, 5 levou-nos a criar histórias que nos explicam e aquietam nossas angústias sobre os mistérios acerca da criação de todo o universo, e sobre o destino que nos espera. É claro que a ciência também se encarregou de buscar estas respostas, mas trataremos disto mais à frente. Fonte:revistagalileu.globo.com Segundo Marilena Chauí, filósofa brasileira, o “sagrado opera o encantamento do mundo” (Chauí,1998: 297), ou seja, essa forma de pensamento nos remete a um mundo povoado de seres sobrenaturais com poderes ilimitados que nos observam, nos recompensam, nos castigam, nos auxiliam, etc. Em todas as culturas conhecidas, vamos encontrar sinais do sagrado. Não importa se são seres naturais dotados de poderes sobrenaturais – a água, o fogo, o vento, se animais – o cordeiro, a vaca, a serpente, se seres com forma humana – santos, heróis, ou seres imaginários – anjos, demônios. Em outros casos não há deuses, mas práticas, regras ou rituais com dimensões sagradas. Exemplificando: para alguns povos indígenas o Sol e a Lua são considerados sagrados, para os hindus, a vaca é um animal digno de idolatria, os judeus não cultuam deuses, mas têm seus dogmas, assim como os budistas, que transformam todo o universo em entidade sagrada. Juntamente com o desenvolvimento do pensamento sagrado, são criados os “locais sagrados”, templos, igrejas, sinagogas, terreiros, mesquitas, os céus, que são os lugares estabelecidos para as celebrações, as homenagens, os sacrifícios, enfim são os lugares em http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Espaco/noticia/2015/03/o-universo-pode-acabar-mais-cedo-do-que-pensavamos.html 6 que as pessoas se reúnem ou aos quais se dirigem mentalmente, para reafirmarem suas crenças, celebrarem seus rituais. Observe que para algumas religiões, em alguns momentos históricos, esses locais tornam-se verdadeiros símbolos de poder, como as catedrais medievais. Fonte:catedraismedievais.blogspot.com.br 2 O QUE SÃO OS RITUAIS? Os rituais são atos repetitivos,que rememoram o acontecimento inicial da história sagrada de determinada cultura. É fundamental na celebração do ritual que as palavras e os gestos sejam sempre os mesmos, pois trata-se de uma reafirmação dos laços entre os humanos e os deuses. Quem já presenciou uma cerimônia de casamento da Igreja Católica conhece de antemão as palavras e os gestos que serão ditos e praticados pelo padre e pelos noivos. Trata-se de um ritual de passagem, da vida de solteiro para a vida de casado. Os rituais são realizados para agradecermos graças recebidas, para pedirmos ajuda, para desculpar-nos por atos considerados incorretos, assim como para sermos aceitos numa religião, ou nos despedirmos da vida. Outra importante característica das religiões são os dogmas – verdades irrefutáveis que são mantidas pela fé. Um dogma jamais pode ser questionado, ou colocado em dúvida. Por exemplo: a transformação do vinho e do pão em sangue e corpo de Cristo. Este conjunto 7 de símbolos sagrados, que inclui o pensamento religioso, somado aos locais e rituais sagrados formará um sistema religioso, ou uma religião. Fonte:www.forumdoc.org.br/ 2.1 Ritual de benção de alimentos São muitas as definições propostas a este termo. Por tratar-se de um aspecto ao mesmo tempo amplo, multifacetado e que envolve a subjetividade humana, torna-se quase impossível chegar-se a algum consenso. No entanto, escolhemos para este texto uma pequena definição de Peter Berger, sociólogo norte-americano: “A religião é uma obra humana através da qual é construído um cosmo sagrado”. Em sua definição, Berger contempla tanto o aspecto transcendental quanto o cultural (obra humana). Prosseguindo nesse raciocínio, cabe a explicação etimológica da palavra religião. A partir de um pensamento de Santo Agostinho o qual nos propõe que liguemos nossa alma a um único Deus, temos hoje a associação da palavra religião a “religar”. Ligar 8 o que a quê? Ligar o mundo sobrenatural, sagrado, ao mundo humano, ou profano, fazer- nos crer (e este é um aspecto fundamental da religião: a fé), que nós mortais não estamos sozinhos no universo, que há um sentido para a vida, e que cabe a cada um de nós tentarmos descobrir a que viemos. Fonte:www.brasil.discovery.uol.com.br Em resumo, consideramos que esta seja uma das formas de compreendermos o pensamento religioso. A religião como uma forma de alimento às nossas esperanças, como uma força que nos impulsiona em direção a construção daquilo que consideramos justo, ético e ideal. A crença de que em última instância, algo ou alguém irá nos socorrer, que não estamos abandonados à própria sorte, pode nos dar a força necessária para prosseguirmos em nossa aventura pela vida! A religião pode também nos ensinar a conviver com nossos conflitos interiores e aceitarmos o que é inevitável, caso contrário, a vida se tornará inviável. Talvez elevar o pensamento ao Céu possa colocá-lo à altura de nossos desejos. Mas por que estudar a religião, e suas várias manifestações http://www.brasil.discovery.uol.com.br/ 9 Fonte:www.napec.org/ Antes de tudo porque não vivemos isolados no mundo. Estamos em contato contínuo com as mais diversas culturas do planeta! Já há muito tempo a antropologia nos alertou sobre os riscos e os prejuízos que os pensamentos etnocêntricos causaram à humanidade. Quantas culturas arrasadas, quantos povos destruídos e dominados em virtude da ignorância e da arrogância de outros, mais poderosos economicamente. Hoje, é inadmissível termos este tipo de atitude, qual seja, a de olharmos com superioridade para povos com culturas diferentes da nossa, julgarmos como inferiores comportamentos culturais que nos parecem “estranhos” ou exóticos. Conhecer as diferentes religiões que se espalham por nosso país e pelo mundo afora, possibilita-nos abrirmos os olhos para o mundo, ou melhor, conhecermos outras dimensões para se compreender e explicar a vida e o universo. Veremos que o mundo é muito maior do que imaginamos e muito mais fascinante depois de conhecermos as histórias que buscam dar significado às nossas existências. Uma segunda forma de compreensão do pensamento religioso é percebê-lo como instrumento de dominação, de intolerância, e que ao extremo pode chegar ao fanatismo religioso. 10 Fonte:religiao.culturamix.com/ No Brasil, temos hoje o respeito e a tolerância pelas mais diversas religiões. Não somos obrigados a seguir uma única religião, como ocorre em alguns países. Inclusive a Constituição Nacional nos assegura a liberdade de credo e de culto segundo o art.5º, cap.I, inciso VI. Isso significa que, ao nascermos, quase sempre seguimos a religião de nossa família, mas que ao longo da vida podemos escolher uma nova religião, ou mesmo optarmos pelo ateísmo. Essa conquista, no entanto, foi obtida por meio de muita luta e de muita opressão. Relembrando um pouco da história de nosso país, vamos chegar aos povos nativos que aqui habitavam. Estes povos, assim como ocorre em uma parte das sociedades ditas “primitivas”, tinham o pensamento religioso como eixo central de suas vidas, o sagrado permeando todas as relações e explicando todos os acontecimentos da comunidade. Tinham, portanto, seus deuses, seus rituais, que davam significado à sua existência. A chegada dos europeus, povos de tradição católica, na condição de colonizadores, provocou um verdadeiro massacre cultural. Os padres jesuítas, representantes do catolicismo, iniciaram, no Brasil, na primeira metade do século XVI, sua obra de catequização, impondo novos valores e uma visão de mundo aos curumins, que em nada correspondiam à cultura daqueles povos. 11 Fonte:mundoeducacao.bol.uol.com.br/ A visão eurocêntrica fazia-os crer que os indígenas, apesar de estarem situados numa escala inferior de humanidade, se comparados aos europeus, ainda assim poderiam ser cristianizados e salvos com intervenção de um religioso que lhes encaminhasse para a fé. Logo em seguida, com o processo de colonização, povos africanos foram trazidos como escravos e consigo carregam também seus cultos, suas crenças, seus rituais, enfim sistemas religiosos estruturados há muito tempo. No Brasil, essas pessoas foram tratadas como mercadorias, como coisas, e, portanto, suas crenças também foram desprezadas, ou pior, proibidas. Mais tarde houve a vinda de outros povos europeus e asiáticos que imigraram em busca de terras e trabalho. Junto com seus sonhos, trazem também suas religiões, as quais buscaram preservar, como forma de manterem-se unidos e mais fortes numa terra tão estranha a seus hábitos culturais. 12 Fonte:religiao.culturamix.com/ No entanto, mesmo com todas essas variedades religiosa, as leis brasileiras declaravam o catolicismo como a religião oficial do país. Aliás, a Igreja Católica, no Brasil sempre teve um poder muito grande, não somente em seu âmbito, mas também nas questões políticas nacionais e regionais. Até o advento da República, Estado e Igreja legislavam em conjunto, decidindo os rumos da nação. Ainda no período Vargas (1930 – 1945), vamos encontrar fortes influências dos chamados setores católicos na política nacional. 3 MAS POR QUE A IGREJA CATÓLICA POSSUI TANTO PODER? Fonte:scritturistico.blogspot.com.br/ 13 A origem deste poderio da Igreja Católica pode ser encontrada no fim do Império Romano do Ocidente, com a legalização do cristianismo no ano 313. A partir daí o progresso do cristianismo se acelerou, chegando ao seu auge na Idade Média europeia. Nesse período da história, a Igreja Católica reinou absoluta,decidindo os destinos dos reinos e dos indivíduos. Todos eram obrigados a professar a mesma religião, e aqueles que não obedecessem seriam duramente castigados. Foi um tempo de muito terror e mentiras. Qualquer ato ou sinal que contrariasse os rígidos preceitos da Igreja eram considerados heresia ou feitiçaria, motivos para perseguições e castigos. Muitos séculos se passaram, e somente no século XVI, veremos o poder da Igreja Católica ser abalado, com o Movimento da Reforma Religiosa. A Reforma constituiu-se num rompimento da Igreja Católica e teve como consequência religiosa o surgimento de novas igrejas – conhecidas como protestantes (luteranismo, calvinismo). O conflito tem início quando Martinho Lutero (1484–1546), monge alemão rompe com o Papa porque discordava de algumas práticas da Igreja, como a venda de indulgências, de relíquias e cargos. Fonte: tiagolinno.wordpress.com A partir do Iluminismo, teremos o acirramento do conflito entre ciência e religião. Galileu Galilei (1564–1642) foi obrigado pela Igreja a negar sua teoria (heliocentrismo), caso não desejasse sofrer as penas da Inquisição. O Iluminismo introduziu formas inéditas de ver o mundo, que até então era percebido somente em termos religiosos, e esta nova visão estava associada a uma nova classe social que se insurgia contra o poder aristocrático. 14 Neste período (séc.XVIII), a religião está associada ao poder aristocrático. Portanto, é fácil perceber que a luta contra o pensamento religioso se transformou numa luta política, contra os representantes deste pensamento conservador. É neste contexto histórico (séc.XIX), que alguns teóricos da Sociologia iniciam seus estudos sobre a religião. Karl Marx (1818 -1883), Émile Durkheim (1858 -1917) e Max Weber (1864 -1920) mais uma vez nos auxiliam nesta tarefa da Sociologia de analisar contextualmente e desnaturalizar as relações sociais. Chegam a conclusões distintas em suas análises e reflexões sobre as funções da religião nas sociedades. No entanto, num aspecto é possível observar a convergência entre os três pensadores: são unânimes em anunciar o previsível fim da religião. Afirmam que com o desenvolvimento das sociedades industriais, a religião tenderia a perder espaço para outras atividades sociais. Ou seja, a modernização e a industrialização levaria ao que a Sociologia denomina de processo de secularização. Para Durkheim, a religião teria a função de fortalecer os laços de coesão social, e contribuir para a solidariedade dos membros do grupo. Por isso, as cerimônias e os rituais ganham uma grande importância, uma vez que são estes momentos que possibilitam o encontro dos fiéis e a reafirmação de suas crenças. Durkheim iniciou e baseou suas análises em uma pesquisa realizada com os povos aborígenes australianos, na qual abordava a prática do totemismo. Fonte:relhumanidades11.blogspot.com.br/ 15 Um totem é um objeto sagrado, um símbolo do grupo, venerado nas cerimônias ritualísticas. Pode ser uma planta, um animal, ou objeto, que por possuir, em sua origem, um significado especial para o grupo, adquire o caráter de sagrado. A utilização do termo Totem está restrito às religiões chamadas “elementares” ou simples. Reafirmando, podemos concluir que para Durkheim, a religião possui unicamente a função de conservar e fortalecer a ordem estabelecida. De forma alguma pode ser associada a questões de poder político ou ideológico. Marx muitas vezes foi citado como um crítico mordaz da religião, devido principalmente à sua famosa frase: “a religião é o ópio do povo” (MARX, 1991: 106). Mas veremos que isto não é bem assim. Marx foi um grande pensador e crítico do sistema capitalista. Suas análises e críticas estão focadas no lucro, na mais-valia, na divisão da sociedade entre burguesia e proletariado, na luta de classes. Portanto, suas principais preocupações estavam focadas nas condições materiais das vidas das pessoas, na concretude do sistema. Para ele, a forma como a sociedade se organiza para produzir os seus bens materiais, ou seja, a forma de organização do trabalho vai exercer forte influência sobre a forma como as pessoas pensam. Este pensar é representado pelo conjunto de valores e conhecimentos impostos pelo Estado e pela religião. Em seu texto “A questão judaica”, escrito em 1844, Marx discute a respeito do papel desempenhado por estas instituições no sentido de controlarem e modelarem o pensamento social. Fonte:www.minutopsicologia.com.br/ 16 Para Marx, a sociedade civil só terá condições de alcançar a liberdade, ou a “emancipação humana” quando tiver condições de participar efetivamente das decisões políticas do Estado, e, por conseguinte alcançar a verdadeira democracia. Mas atenção! Entenda-se democracia não somente em sentido político/eleitoral, como nos ensinaram os liberais do século XVIII, mas sim em seu sentido pleno, como igualdade na distribuição dos bens socialmente produzidos e materializados na forma de direitos sociais. Por esse motivo, podemos afirmar que para Marx, a grande transformação deveria acontecer no modo da sociedade produzir e distribuir seus bens, assim como na presença de um Estado que atendesse aos interesses coletivos, pois uma vez construída uma sociedade justa e igualitária, não haveria mais necessidade das pessoas sonharem com um mundo ideal, ou um paraíso. “Ópio do povo” significa que o povo projeta em seus deuses e no mundo sobrenatural a vida que deseja ter aqui na Terra. Esta forma de pensar leva à resignação, a aceitação das condições de nossa vida como um destino que não pode ser modificado. Mas Marx demonstra grande compreensão pelas manifestações religiosas quando afirma: “a religião é o coração de um mundo sem coração” (MARX, 1991:106), ou seja, a religião é o único refúgio, o único consolo para aqueles a quem a vida é muito dura e ingrata. Essa é mais uma forma de compreendermos a religião. Que nos leva à acomodação, à submissão, à aceitação de nosso lugar na sociedade sem questionamentos como nos sugere o ensinamento “é mais fácil um camelo passar num buraco da agulha que um rico entrar no reino dos céus”. Weber foi um grande estudioso da religião. Empreendeu análises comparativas entre as religiões orientais e ocidentais, com o objetivo de compreender as razões do desenvolvimento do capitalismo na Europa. Concluiu que o mundo oriental não oferecia condições para este tipo de organização econômica devido aos seus sistemas religiosos (que veremos adiante), os quais pregavam valores de harmonia com o mundo, de passividade em relação às condições de existência, ao contrário das religiões cristãs que incentivavam o trabalho e a prosperidade. 17 Em sua obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber desenvolve um interessante estudo em que demonstra o quanto os protestantes (em especial os calvinistas) contribuíram para o desenvolvimento do capitalismo. Esses possuíam um forte espírito empreendedor baseado na crença de que com o trabalho estariam servindo a Deus. O enriquecimento e o sucesso material eram sinais de favorecimento divino. Esses são, portanto, três possíveis olhares sociológicos sobre a instituição religiosa. 4 ATEÍSMO Como já comentamos anteriormente, saber da existência e conhecer outras religiões, além de ampliar nosso universo cultural e nos ensinar a respeitar a diversidade cultural, leva- nos principalmente a compreender melhor nossa própria religião. Sim, porque só nós percebemos como construtores de cultura na medida em que conhecemos a cultura do outro. Quando só conheço o meu mundo este se torna “natural”, ou o único possível! Importa ressaltar, antes de conhecermos o quadro das religiões, a existência de uma postura filosófica denominada Ateísmo. Surge na antiguidadegreco-romana e ganha maior espaço a partir do século XVIII, com o surgimento das teorias anarquistas, liberais e socialistas. Consiste na total ausência de explicação divina para a vida. Vamos, em seguida, apresentar as principais religiões que podemos encontrar espalhadas por todo o mundo. Apenas citaremos e apontaremos algumas características de cada uma delas. O interesse e a curiosidade de vocês poderão levar à pesquisa e ao aprofundamento sobre o assunto. 18 Fonte:www.bulevoador.com.br/ 5 RELIGIÕES E SEUS VÁRIOS TIPOS 6 RELIGIÕES ORIGINÁRIAS DO EXTREMO-ORIENTE 6.1 Taoísmo Baseia sua doutrina num livro chamado “Tao Te Ching” – o livro do Tao (ordem do mundo) e do Te (força vital), escrito presumivelmente pelo filósofo chinês Lao Tsé, no séc. VI a. C. O Taoísmo prega a passividade para se alcançar o Tao, ao contrário do confucionismo que propõe o conhecimento. Para Lao Tsé, o mundo ideal era aquele das antigas aldeias, onde a simplicidade e a ingenuidade criariam as condições propícias para o perfeito equilíbrio entre o Tao e o Te. 19 Fonte:pt.slideshare.net 6.2 Xintoísmo Trata-se da antiga religião oficial do Japão. Originariamente não possuía um fundador, doutrinas nem dogmas. Estrutura-se por intermédio de um conjunto de mitos e ritos que estabelecem o contato com o divino e explicam a origem do mundo, do Japão e da família imperial japonesa. O universo xintoísta é povoado por milhares de deuses, denominados kamis – que se manifesta forma de rios, montanhas, flores, seres humanos, animais, etc. Kami também pode ser traduzido por espírito, sendo o culto aos ancestrais uma das práticas mais importantes do xintoísmo. 6.3 Hinduísmo São surpreendentes a permanência no tempo e a complexidade desta religião, que perdura há aproximadamente 6 mil anos, e compõe-se de tão grande variedade de cultos e práticas religiosas, que pode ser considerada como um grande conjunto formado por várias pequenas religiões. Mas algumas características unem todos os hinduístas, quais sejam: o sistema de castas, a adoração às vacas e a crença no carma. A organização da sociedade em castas parte do princípio de que os indivíduos vêm ao mundo já ocupando um lugar na hierarquia social, como resultado de suas encarnações nas vidas passadas. Portanto, este http://pt.slideshare.net/_IsabelVitoria/taoismo-31408612 20 deve cumprir com resignação a função que lhe coube, porque um viver com pureza pode resultar como “prêmio”, uma vida futura numa casta superior. Fonte:www.fatem.org.br As quatro castas do hinduísmo são: 1º. – os sacerdotes (brâmanes), 2º. – guerreiros, 3º. – agricultores, comerciantes e artesãos e 4º. – os servos. Um quinto grupo que não é considerado casta, são os párias. Cada casta tem suas próprias regras de condutas e suas próprias regras religiosas. A vaca é considerada um animal sagrado, um símbolo da vida, porque ela supre tudo que é necessário à sobrevivência humana, portanto, não é permitido matá-la. http://www.fatem.org.br/nossos-cursos/evangelizacao-mundial-hinduismo-e-budismo 21 6.4 Budismo Fonte:desafioscristao.blogspot.com.br/ Criado na Índia, pelo príncipe Sidarta Gautama O Buda (o iluminado), por volta do séc. VI a.C. Este é tratado pelos adeptos do budismo como um guia espiritual, e não um deus. Importa ressaltar que Buda era absolutamente contra o sistema de castas existente na Índia. Segundo o budismo, o ser humano está condenado à reencarnação após cada morte, e a enfrentar novamente os sofrimentos do mundo (lei do carma). Para encerrar este constante ciclo, deve-se buscar o estado da perfeita iluminação, ou nirvana. Este estado é alcançado por intermédio da meditação e da contemplação, que corresponde à negação dos desejos – fonte de todos os sofrimentos. 22 6.5 Confucionismo Fonte:www.viajejet.com/ Foi a doutrina oficial da China durante quase dois mil anos (do séc.II ao início do séc. XX). Criada pelo filósofo Confúcio (Kung Fu Tzu), seus ensinamentos apontam no sentido da busca do caminho do Tao – que seria o equilíbrio e a harmonia entre o universo, a natureza e o indivíduo. Para alcançar este caminho são necessários o conhecimento e a compreensão, os quais são obtidos por meio do estudo do passado, da tradição. A respeito da vida após a morte, Confúcio não ousava comentar, uma vez que ainda não havíamos compreendido o que é a vida na Terra. 7 RELIGIÕES DE ORIGEM AFRICANA Citaremos aqui somente as principais religiões afro-brasileiras presentes hoje no Brasil, não esquecendo de que, na África, encontraremos uma grande variedade de religiões – as religiões tradicionais ou tribais. 23 7.1 Candomblé Fonte:www.cartaeducacao.com.br/ Originário da África, o candomblé chegou ao Brasil junto com os primeiros escravos africanos, entre a séc. XVI e XVII. Seus deuses são chamados de Orixás e representam as principais nações africanas de língua ioruba. Suas cerimônias são realizadas em língua africana, acompanhadas de cantos e sons de atabaques. Como esta forma de religião era proibida no Brasil, seus adeptos associaram seus deuses a santos católicos, criando o que se conhece como sincretismo religioso. Os deuses do candomblé dão proteção às pessoas, mas não determinam como essas devem agir, e não castigam caso essas cometam algo considerado incorreto para a sociedade. 7.2 Umbanda É uma religião brasileira, resultado da fusão de duas religiões africanas: a cabula e o candomblé, e de crenças europeias. O universo para os umbandistas é habitado por entidades espirituais – os guias, que entram em comunicação com as pessoas por intermédio dos iniciados, ou médiuns. Os guias assumem formas como o caboclo, a pomba- gira, o preto velho e outros. A umbanda se propagou por todas as regiões do Brasil, e é frequentada por pessoas de todas as classes sociais e todas as origens étnicas. 24 8 RELIGIÕES ORIGINÁRIAS DO ORIENTE-MÉDIO As religiões comentadas abaixo adotam a prática do monoteísmo, ou seja, o culto a um único Deus. 8.1 Judaísmo Fonte:www.nunes3373.com/br É a mais antiga das três grandes religiões monoteístas, sendo suas origens encontradas há aproximadamente 1.OOO anos a.C. A palavra judeu deriva de Judéia, parte de uma região do antigo reino de Israel. Os judeus creem num único Deus, onipotente, o qual estabeleceu com eles um pacto, uma aliança. Por isso, consideram-se “o povo escolhido por Deus”. O livro sagrado dos judeus é a Bíblia judaica, ou Torá, que corresponde ao Antigo Testamento dos cristãos, porém organizada de uma forma um pouco diferente. A vida dos judeus é regida por normas rígidas estabelecidas por Deus. O não- cumprimento dos deveres com Deus e com seus semelhantes implicará em castigos divinos. 25 8.2 Cristianismo Fonte:pt.slideshare.net/ Tem origem no séc.I, na região ocupada hoje pelos atuais Estados de Israel e territórios palestinos. Seus primeiros adeptos são os seguidores de Jesus Cristo e de seus apóstolos. A doutrina cristã nos ensina que Deus envia à Terra, seu filho Cristo – o salvador, o qual foi morto a favor dos homens que estavam distanciando-se de Deus. Na sua ressurreição Jesus oferece às pessoas a possibilidade de salvação eterna após a morte, caso essas aceitem seguir seus preceitos de amor a Deus e aos seus semelhantes. O cristianismo segue a Bíblia, que se divide em Antigo e Novo Testamento. Algumas vertentes do cristianismo são apresentadas a seguir: Igreja Católica Romana Igreja Ortodoxa Igreja Anglicana Igreja Luterana Igreja Presbiteriana Igreja Metodista Igreja Batista 26 Igreja Pentecostais: Congregação Cristã no Brasil - Assembleiade Deus - Evangelho Quadrangular - Deus é Amor Igrejas Neopentecostais: Igreja Universal do Reino de Deus, entre outras. Cristianismo de fronteira: Mórmons – Adventistas - Testemunhas de Jeová 8.3 Islamismo Fonte:pt.wikipedia.org Sua origem baseia-se nos ensinamentos do profeta Maomé, assim como ocorre com o cristianismo. A palavra islã significa submeter-se. Seu deus é chamado Alá, e seus seguidores são conhecidos como muçulmanos (em árabe Muslim, aquele que se subordina a Deus). O livro sagrado do islamismo é o Alcorão, sendo seus principais ensinamentos: onipotência de Deus e a necessidade de bondade, generosidade e justiça entre as pessoas. A maioria dos muçulmanos está concentrada no Norte e no leste da África, no Oriente Médio e no Paquistão. Após elencarmos todo este numeroso rol de religiões e suas subdivisões em igrejas, que aliás não termina aqui, se você pesquisar, certamente encontrará outras ramificações destas religiões ou seitas isoladas e provavelmente você ficará surpreso com a quantidade e a diversidade de manifestações religiosas existentes no mundo. 27 Este quadro constitui-se no que se chama de pluralismo religioso, e certamente nos coloca importantes questões sociológicas, que não poderão ser aprofundadas neste momento, mas sobre as quais vale a pena pensar: A lógica do mercado que nas últimas décadas do século XX invadiu todas as esferas da vida humana nas sociedades capitalistas não poupou as religiões. Por isso, temos que estar atentos aos “espertalhões”, que se aproveitam dos sofrimentos e falta de perspectivas das pessoas para vender sua “mercadoria” e ganhar adeptos que favorecerão seus “negócios”. O desenvolvimento industrial levaria a uma perda da influência das religiões, diziam os teóricos do séc. XIX. A ciência avançou vertiginosamente no último século, e as religiões, por sua vez, ganharam uma abrangência e diversidade nunca antes conhecidas. É importante observar o papel dos meios de comunicação na difusão de mensagens religiosas, que chegam prontas em nossas casas. Fonte:conage.catholicus.org/ Não importam suas crenças religiosas, não importa se você é ateu. Mas importa que você não espere o mundo acabar para lembrar-se da experiência da vida, do presente, que se acaba e recomeça a cada dia. Caso queiram entender mais sobre o assunto em questão, veja a listagem de filmes abaixo que abordam sobre o tema. 28 Sugestões de filmes: “A letra escarlate”,1995, E.U.A,direção: Roland Joffé “Em nome de Deus”, 2002, Inglaterra, direção: Peter Mullan “Lutero”, 2003, Alemanha/E.U.A, direção: Eric Till “O corpo”, 2001, E.U.A., direção: Jonas MC Cord “Tenda dos Milagres”, 1977, Brasil, direção: Nelson Pereira dos Santos “O nome da Rosa”, 1986, Alemanha/França/Itália, direção: Jean Jacques Annaud. “A missão”, 1986, Inglaterra, direção: Roland Joffé 29 9 BIBLIOGRAFIA BOWKER, John. Para entender as religiões. São Paulo, Ática, 1997. CELANO, Sandra. Corpo e mente na educação - Uma Saída de Emergência. Petrópolis, Vozes, 1999. FINE, Dorren. O que sabemos sobre o judaísmo. São Paulo, Callis, 1998. GANERI, Anita. O que sabemos sobre o budismo. São Paulo, Callis, 1999. GHAI, O P. Unidade na diversidade – Coleção herança espiritual. Petrópolis – Vozes, 1990. HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry; GAARDER, Justein. O livro das religiões. São Paulo, CIA das Letras, 2000. MARCHON, Benoit e KIEFFER, Jean-François. As grandes religiões do mundo. São Paulo, Paulinas, 1995. 30 10 TEXTOS PARA REFLEXÃO DISPONÍVEL EM: http://professorrodrigosouza.blogspot.com.br AUTOR: Rodrigo Sousa ACESSO EM: 18/07/2016 10.1 O Fenômeno Religioso Frente aos fenômenos religiosos, duas posições se fazem possíveis: uma estritamente intelectual, outra pessoal-existencial. Sendo que, a primeira considera o fenômeno religioso como objeto de sua pesquisa, e de seu estudo. No entanto a segunda é empenhativa, ou seja, a interpretação do fenômeno religioso é através da própria pessoa. O homem faz com que as interpretações existenciais adquiram sempre novas formas, novas significações, novas exigências e conduza a novas decisões. Antes de tudo, cabe uma distinção entre experiência religiosa e formas religiosas. A experiência religiosa só é possível quando se exprime de forma concreta. Pois ela não se faz no vazio, no abstrato. A forma religiosa é uma forma histórica e cultural do homem. Portanto neste caso ambas fazem uma só realidade. Essa junção da experiência e da forma religiosa faz com que uma delas se torne vazia. Pois se pode rejeitar uma delas ao mesmo tempo. Podemos dizer que o fenômeno religioso está situado dentro de uma tradição cultural, que no qual o homem a produz e de outro lado a religião produz o homem. Portanto o homem produz sua cultura religiosa, más está cultura faz com que o homem também se produza religiosamente. A Bíblia é considerada como a descrição do paraíso terrestre, pois é uma confissão pública, um manifesto de resistência, um grito de esperança, um apelo de transformação do mundo. Pois seu autor não está interessado em elaborar uma teoria sobre como o mal entrou no mundo, mas em oferecer uma estratégia de como fazê-lo sair do mundo. Mas, no entanto, há uma interpretação errônea do homem, que no qual usa a “palavra de deus” como uma forma de corromper o outro. http://professorrodrigosouza.blogspot.com.br/2010/08/o-fenomeno-religioso.html 31 Vejo que o poder pessoal é maior que a própria Bíblia, que, no entanto, é considerada como “livro sagrado” ou “a palavra de Deus”. Portanto esta conclusão se dá pelo convívio com pessoas que dizem seguir a Bíblia, pois a maioria delas agem de forma diferente na qual a própria Bíblia propõe. Ou seja, as pessoas agem de forma preconceituosa contra o outro, onde a um descaso com a vida humana. Algumas das críticas teóricas tratam antes de tudo, da concepção do homem do que seria religião, quais são suas propostas e o que a religião traz de benefício e de malefício ao homem. Para Durkheim a religião é a ”matriz dos laços e das coisas de qualquer sociedade”. Ou seja, a religião é necessária para que o homem se torne um ser social, que o transforma em um ser coletivo. Já para Marx a religião é uma alienação ou “o ópio do povo”. Segundo Marx a religião é sempre um conceito de alienação, pois, a consciência religiosa é falsa consciência, algo de vazio sobre qualquer sabedoria do real. Portanto, analisando o conceito de religião de Durkheim e Marx, podemos chegar à conclusão que a religião em si é necessária para que o homem tenha algo de valioso em sua vida que é Deus, más esta sua concepção pode vir a se tornar alienação pelo fato no qual o homem a absorve. A religião seria uma espécie de esconderijo do homem enquanto um ser sofredor que busca em Deus sua salvação. Podemos dizer então que a religião faz com que o homem se sinta mais feliz, e busque em Deus sua felicidade. Mas também o homem neste sentido chega a ser brutal com sigo e com outro, trazendo para a sociedade problemas no qual a própria religião o apresenta como sua conduta moral, um exemplo claro disto é os mulçumanos que se explodem por Deus, ou por uma moral religiosa. Portanto, tanto Durkheim, como Marx de certa forma estão certos em suas afirmações, ou seja, o homem tem a religião como uma forma de integração ao mundo interior e exterior, mas às vezes se tornam flexíveis a estas integrações, trazendo para si uma forma errônea de buscar sua felicidade. Frente aos fenômenos religiosos, duas posições se fazem possíveis: uma estritamente intelectual, outra pessoal-existencial. Sendo que, a primeira considera o fenômeno religioso como objeto de sua pesquisa, e de seu estudo. No entanto a segunda é empenhativa, ou seja, a interpretação do fenômeno religioso é através da própriapessoa. O 32 homem faz com que as interpretações existenciais adquiram sempre novas formas, novas significações, novas exigências e conduza a novas decisões. Antes de tudo, cabe uma distinção entre experiência religiosa e formas religiosas. A experiência religiosa só é possível quando se exprime de forma concreta. Pois ela não se faz no vazio, no abstrato. A forma religiosa é uma forma histórica e cultural do homem. Portanto neste caso ambas fazem uma só realidade. Essa junção da experiência e da forma religiosa faz com que uma delas se torne vazia. Pois se pode rejeitar uma delas ao mesmo tempo. Podemos dizer que o fenômeno religioso está situado dentro de uma tradição cultural, que no qual o homem a produz e de outro lado a religião produz o homem. Portanto o homem produz sua cultura religiosa, más está cultura faz com que o homem também se produza religiosamente. A Bíblia é considerada como a descrição do paraíso terrestre, pois é uma confissão pública, um manifesto de resistência, um grito de esperança, um apelo de transformação do mundo. Pois seu autor não está interessado em elaborar uma teoria sobre como o mal entrou no mundo, mas em oferecer uma estratégia de como fazê-lo sair do mundo. Mas, no entanto, há uma interpretação errônea do homem, que no qual usa a “palavra de deus” como uma forma de corromper o outro. Vejo que o poder pessoal é maior que a própria Bíblia, que, no entanto, é considerada como “livro sagrado” ou “a palavra de Deus”. Portanto esta conclusão se dá pelo convívio com pessoas que dizem seguir a Bíblia, pois a maioria delas agem de forma diferente na qual a própria Bíblia propõe. Ou seja, as pessoas agem de forma preconceituosa contra o outro, onde a um descaso com a vida humana. Algumas das críticas teóricas tratam antes de tudo, da concepção do homem do que seria religião, quais são suas propostas e o que a religião traz de benefício e de malefício ao homem. Para Durkheim a religião é a ”matriz dos laços e das coisas de qualquer sociedade”. Ou seja, a religião é necessária para que o homem se torne um ser social, que o transforma em um ser coletivo. Já para Marx a religião é uma alienação ou “o ópio do povo”. Segundo Marx a religião é sempre um conceito de alienação, pois, a consciência religiosa é falsa consciência, algo de vazio sobre qualquer sabedoria do real. 33 Portanto, analisando o conceito de religião de Durkheim e Marx, podemos chegar a conclusão que a religião em si é necessária para que o homem tenha algo de valioso em sua vida que é Deus, más esta sua concepção pode vir a se tornar alienação pelo fato no qual o homem a absorve. A religião seria uma espécie de esconderijo do homem enquanto um ser sofredor que busca em Deus sua salvação. Podemos dizer então que a religião faz com que o homem se sinta mais feliz, e busque em Deus sua felicidade. Mas também o homem neste sentido chega a ser brutal com sigo e com outro, trazendo para a sociedade problemas no qual a própria religião o apresenta como sua conduta moral, um exemplo claro disto é os mulçumanos que se explodem por Deus, ou por uma moral religiosa. Portanto, tanto Durkheim, como Marx de certa forma estão certos em suas afirmações, ou seja, o homem tem a religião como uma forma de integração ao mundo interior e exterior, mas às vezes se tornam flexíveis a estas integrações, trazendo para si uma forma errônea de buscar sua felicidade. Frente aos fenômenos religiosos, duas posições se fazem possíveis: uma estritamente intelectual, outra pessoal-existencial. Sendo que, a primeira considera o fenômeno religioso como objeto de sua pesquisa, e de seu estudo. No entanto a segunda é empenhativa, ou seja, a interpretação do fenômeno religioso é através da própria pessoa. O homem faz com que as interpretações existenciais adquiram sempre novas formas, novas significações, novas exigências e conduza a novas decisões. Antes de tudo, cabe uma distinção entre experiência religiosa e formas religiosas. A experiência religiosa só é possível quando se exprime de forma concreta. Pois ela não se faz no vazio, no abstrato. A forma religiosa é uma forma histórica e cultural do homem. Portanto neste caso ambas fazem uma só realidade. Essa junção da experiência e da forma religiosa faz com que uma delas se torne vazia. Pois se pode rejeitar uma delas ao mesmo tempo. Podemos dizer que o fenômeno religioso está situado dentro de uma tradição cultural, que no qual o homem a produz e de outro lado a religião produz o homem. Portanto o homem produz sua cultura religiosa, más está cultura faz com que o homem também se produza religiosamente. A Bíblia é considerada como a descrição do paraíso terrestre, pois é uma confissão pública, um manifesto de resistência, um grito de esperança, um apelo de transformação do 34 mundo. Pois seu autor não está interessado em elaborar uma teoria sobre como o mal entrou no mundo, mas em oferecer uma estratégia de como fazê-lo sair do mundo. Mas, no entanto, há uma interpretação errônea do homem, que no qual usa a “palavra de deus” como uma forma de corromper o outro. Vejo que o poder pessoal é maior que a própria Bíblia, que, no entanto, é considerada como “livro sagrado” ou “a palavra de Deus”. Portanto esta conclusão se dá pelo convívio com pessoas que dizem seguir a Bíblia, pois a maioria delas agem de forma diferente na qual a própria Bíblia propõe. Ou seja, as pessoas agem de forma preconceituosa contra o outro, onde a um descaso com a vida humana. Algumas das críticas teóricas tratam antes de tudo, da concepção do homem do que seria religião, quais são suas propostas e o que a religião traz de benefício e de malefício ao homem. Para Durkheim a religião é a ”matriz dos laços e das coisas de qualquer sociedade”. Ou seja, a religião é necessária para que o homem se torne um ser social, que o transforma em um ser coletivo. Já para Marx a religião é uma alienação ou “o ópio do povo”. Segundo Marx a religião é sempre um conceito de alienação, pois, a consciência religiosa é falsa consciência, algo de vazio sobre qualquer sabedoria do real. Portanto, analisando o conceito de religião de Durkheim e Marx, podemos chegar à conclusão que a religião em si é necessária para que o homem tenha algo de valioso em sua vida que é Deus, más esta sua concepção pode vir a se tornar alienação pelo fato no qual o homem a absorve. A religião seria uma espécie de esconderijo do homem enquanto um ser sofredor que busca em Deus sua salvação. Podemos dizer então que a religião faz com que o homem se sinta mais feliz, e busque em Deus sua felicidade. Mas também o homem neste sentido chega a ser brutal com sigo e com outro, trazendo para a sociedade problemas no qual a própria religião o apresenta como sua conduta moral, um exemplo claro disto é os mulçumanos que se explodem por Deus, ou por uma moral religiosa. Portanto, tanto Durkheim, como Marx de certa forma estão certos em suas afirmações, ou seja, o homem tem a religião como uma forma de integração ao mundo interior e exterior, mas às vezes se tornam flexíveis a estas integrações, trazendo para si uma forma errônea de buscar sua felicidade. 35 DISPONÍVEL EM: http://novaescola.org.br/ AUTOR: Arthur Guimarães ACESSO EM: 18/07/2016 10.2 Ensino religioso: lição de tolerância Refletir sobre a relação entre escola e religião ajuda a compreender a importância de respeitar a liberdade de crenças Arthur Guimarães (novaescola@fvc.org.br) A separação entre Igreja e Estado representa uma conquista histórica que sempre esteve associada ao reconhecimento da liberdade e da pluralidade espiritual. Garante-se, assim, a tolerância a todos os cultos e inibem-se manifestações oficiais sobre a validade de qualquer posição religiosa. Em nosso país, a Constituição Federal contempla essa tendência e assegura como inviolável aliberdade de consciência e de crença. Por outro lado, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) explicita que o ensino religioso nas escolas de Ensino Fundamental é parte integrante da formação básica do cidadão, tendo matrícula facultativa e devendo ser multiconfessional, o que significa que todas as religiões devem ter as mesmas oportunidades de estudo. O período em que as aulas devem ser ministradas não foi definido formalmente. O ideal é que elas aconteçam no turno inverso ao das aulas regulares. Entre os especialistas, esse tema gera um embate. Há os que defendem que os estabelecimentos públicos não podem servir de espaço para a pregação religiosa e os que argumentam que a escola tem a obrigação de oferecer tal ensino dentro da proposta curricular regular. Esse debate continua em curso e acaba potencializado pelas diferentes interpretações da lei. "Definições sobre a forma de financiamento, perfil dos professores, horário das aulas e conteúdo a ser trabalhado ficaram sob responsabilidade dos sistemas de ensino, estaduais e municipais", explica Lúcia Lodi, do Ministério da Educação (MEC). Dessa forma, peça informações à mantenedora da sua escola para saber como organizar o ensino religioso em sua unidade, evitando ações sem respaldo legal. É importante, de qualquer maneira, refletir sobre seu papel na construção da espiritualidade dos estudantes. "Uma coisa é certa: o respeito mútuo, a não-violência e a mailto:novaescola@fvc.org.br 36 compreensão não têm relação direta com a religião. São valores que podem ser ensinados independentemente de crenças", exemplifica Roseli Fischmann, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Respostas às suas principais dúvidas Na escola pública, a educação religiosa sempre foi motivo de polêmica. Algumas das questões que mais afligem o professor foram respondidas por Roseli Fischmann, da USP. Meus alunos são obrigados a assistir às aulas de ensino religioso? Tratando-se de uma instituição pública, não. O estudante só poderá cursar as aulas se a família consentir por meio de uma carta, que deverá ficar arquivada na secretaria. No entanto, mesmo com essa permissão, a criança tem o direito de optar por não frequentar as aulas. Por isso, a direção da unidade é obrigada a informar ao estudante que há essa escolha. E sob nenhuma hipótese ele poderá ser reprovado por falta ou nota - o que seria ilegal e inconstitucional. Já no caso de colégio privado que optar pelo caráter confessional, e que for assim reconhecido e autorizado pelo Estado, a opção deve ficar explícita para a comunidade. Como devo lidar com a espiritualidade dos estudantes? Lembre-se de que os estudantes têm liberdade de crença, como qualquer cidadão brasileiro. Há tradições religiosas que pregam o monoteísmo, outras o politeísmo e as que nem sequer se referem a uma figura divina. Com relação a temas da espiritualidade, o importante é saber que temos de nos respeitar, sem constranger quem pensa de um modo distinto do nosso. Respeito independe de concordância e essa é a grande lição que a escola pode ensinar. Eu preciso saber se meus alunos têm religião e qual? A criança não pode ser forçada a se manifestar nesse sentido. A crença, como a não-crença, habita o íntimo das pessoas, como a consciência. Assim como ninguém pode ser impedido de manifestar sua religiosidade, também não pode ser obrigado a manifestá-la ou mesmo a possuí-la. Isso pode gerar constrangimento, vergonha e medo. E, o que é pior, desenvolver esses sentimentos em relação a ser quem é, porque a criança se sente "diferente" do que 37 os outros dizem que deveria ser. E quem não está filiado a uma religião ou escolheu ser ateu deve ter igualmente reconhecida sua dignidade. Nós, professores, acabamos servindo de exemplo para muitas crianças. Como evitar que a nossa fé tenha influência sobre elas? Pautando sua atuação pelo respeito às crenças de todos, ao mesmo tempo que exige respeito à sua escolha religiosa. Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, os professores são, mesmo, reconhecidos pela criança como uma grande e respeitada autoridade. Se ela sente que essa figura, muito amada, por sinal, a reprova ou a discrimina por ter um modo de crer e de manifestar a crença diferente do seu, o dano à construção de sua identidade pode ser muito grande. Há o risco até mesmo de o próprio processo de ensino-aprendizagem ser prejudicado. Tem problema se, durante as aulas, eu falar da minha religião, que conheço bem e acho a melhor? Não é correto expor a turma a seu modo de praticar a fé, seja ela qual for, quando estiver na escola pública. Num país como o Brasil, nação de composição populacional marcada pela pluralidade cultural, étnica e religiosa, você corre o risco de ofender qualquer um que não tenha a mesma crença. A simples ideia de rezar ou orar antes da aula, na rede pública, pode significar a transmissão de uma forma de exclusão para seus alunos. Ao mesmo tempo, homogeneizar as mensagens religiosas é atitude simplificadora e corresponde, frequentemente, a mutilar a verdade presente em cada credo. É preciso deixar claro para a turma que nós, seres humanos, somos iguais em dignidade e direitos, como ensina a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Constituição Federal. 38 11 ARTIGO PARA REFLEXÃO DISPONÍVEM EM: http://fases.com.br AUTORES: Humberto Dias 1 William Antônio ACESSO EM: 18/07/2016 11.1 A CONTRIBUIÇÃO DO FENÔMENO RELIGIOSO NA CONSTRUÇÃO DA 11.2 SOCIEDADE Humberto Dias 2 William Antônio 12 RESUMO O presente artigo tem a finalidade de abordar de modo racional à construção da sociedade através da contribuição do fenômeno religioso perpassando pela família e pelo indivíduo. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica para a compreensão e enriquecimento do assunto através de vários autores. As principais conclusões mostram que apesar de muitos equívocos humanos ocorridos nos principais palcos em que se verifica o fenômeno religioso, a sua importância para a sociedade como um todo, vai além de uma influência do referido fenômeno que tende a restringi-la aos templos. Na verdade, se estende até a instituição, hoje em decadência: a família. A presença do fenômeno religioso centrado, equilibrado e coerente tem trazido profundos benefícios e ajudado decisivamente na construção da família brasileira. Faremos esta abordagem através destes sub-itens: introdução, a importância da fenomenologia, a importância do fenômeno religioso para o homem e para a sociedade, influências 1 Concluinte do curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião: Educação/Ensino Religioso da Universidade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC – Uberlândia. Pastor da Shalon Comunidade Cristã. 2 Concluinte do curso de Pós-Graduação em Ciências da Religião: Educação/Ensino Religioso da Universidade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC – Uberlândia. Pastor da Shalon Comunidade Cristã. http://fases.com.br/old/upload/artigo13.pdf 39 positivas para a sociedade, o risco que envolve o fenômeno religioso, breve histórico do fenômeno religioso no Brasil e considerações finais. PALAVRAS-CHAVE: fenômeno religioso; construção; família, ética. 13 INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é analisar, estudar e pesquisar a contribuição do fenômeno religioso na construção da sociedade. O estudo da fenomenologia permite compreender de modo mais claro o fenômeno religioso e de que forma ele contribui na construção da sociedade.Para tal estudaremos a contribuição de vários autores ligados ao tema, dentre eles WOLTON (2000) CATÃO (1995), SANCHIS (1997), INCONTRI (2002). A religião é um fenômeno universal e de uma complexidade no mínimo transcendente. A religião tem um papel de fato importante na construção da sociedade de modo benéfico? A escolha deste tema se deve ao fato de ser constatado por pesquisadores a significativa contribuição do fenômeno religioso na construção da história, na construção de famílias e de muitas sociedades e na construção do indivíduo que busca de um modo ou de outro uma aproximação e compreensão do sagrado. Segundo Malinowski (1983, p. 19), Não existem povos, por mais primitivos que sejam, sem religião e magia. Tampouco há povos primitivos sem atitudes científicas ou ciência, mesmo que se lhes fosse negada esta capacidade. Encontrou- se nestas sociedades duas esferas distintas, o sagrado e o profano; em outras palavras, o domínio da magia e religião como o da ciência. É sabido que, por ser parte integrante da história da raça humana desde os seus primórdios, a religião ocupa um espaço importantíssimo e ao mesmo tempo indissociável de todo o contexto sociológico que todas as gerações anteriores e a atual têm experimentado. 40 13.1 A importância da Fenomenologia A função da fenomenologia é interpretar os fenômenos que se apresentam à percepção. A fenomenologia surgiu para extinguir a separação entre “sujeito” e “objeto”. Para Immanuel Kant, o fenômeno tem duas propriedades: tempo e espaço. O tempo é a priori enquanto dedução lógica da coisa, e a posteriori enquanto identificação do objeto. Por isso, o homem como ser religioso acredita numa divindade, dentro ou fora de si. A religião é a forma de expressão do ser humano em relação ao sagrado que influencia toda a sua existência. Em outras palavras, dizia Jung (1971f: 25): Acusaram-me de ‘deificação da psique'. Foi Deus, e não eu, quem a deificou! Não fui eu quem criou para alma uma função religiosa, ao contrário, somente expus os fatos que comprovam que a alma é naturaliter religiosa, (...). A alma humana é essencialmente religiosa e é inegável a sua atração àquilo que é transcendente, ao que é invisível, porém real. O sagrado é parte da existência humana até para mesmo para os que a negam. 13.2 A importância do fenômeno religioso para o homem e para a sociedade Sabemos que a religião tem um forte poder de influência sobre o ser humano e pressupõe-se que ela traga respostas às indagações mais íntimas do homem. Segundo CATÃO (1995), Dentre os inúmeros instrumentos de que dispõe a sociedade para alcançar tão elevado objetivo está a religião, pois somente quando se coloca a questão da transcendência, a que se denomina Deus, encontra a comunidade humana e cada uma das pessoas individualmente, respostas às perguntas fundamentais que todos se colocam diante da vida. No Brasil, esta importância foi destacada mais uma vez através de uma pesquisa feita sobre o tema juventude e religião, publicada no livro Retratos da Juventude Brasileira (Fundação Perseu Abramo, 2005). O tema encontra-se em terceiro lugar no ranking de 41 assuntos que os jovens mais gostariam de discutir com seus pais ou responsáveis, acima de assuntos de grande importância e visibilidade, como saúde e relacionamentos amorosos. Conhecido como o “Pai da filosofia moderna”, Descartes menciona o Sagrado/Deus de modo a contribuir de maneira relevante dizendo que: (...) resta tão somente à ideia de Deus, na qual é preciso considerar se há algo que não possa ter vindo de mim mesmo? Pelo nome de Deus entendo uma substância infinita, eterna, imutável, independente, onisciente, onipotente e pela qual eu próprio e todas as coisas que são foram criadas e produzidas. (DESCARTES, 1996, p. 107). A família, como elemento de base para uma sociedade mais humana, é referencial para o ser humano, contribuindo decisivamente para a socialização de um povo. Coopera também para o aprendizado do amor, da ética e do respeito ao outro, ainda que não da mesma família. Para Aristóteles, “toda arte e toda indagação, assim como toda ação e todo propósito, visam algum bem” e desta forma, a ética teria como seu principal bem a amizade pois “a função própria de um homem bom é o bom e nobilitante exercício desta atividade. ” (ARISTÓTELES, 1996, p.17). Com a fragilização da família (separações, divórcios, brigas, inversão de papéis, etc.), o ser humano e o meio em que ele vive – a sociedade – sofrem diretamente as consequências desta fragilização, produzindo pessoas cada vez mais egoístas, desumanas e gananciosas. A longo prazo está fragilização causa uma devastação moral, cultural e mesmo material de difícil mensuração. Segundo WOLTON (2000, p. 247-8), A crise do vínculo social é o resultado da dificuldade em encontrar um novo equilíbrio no seio deste modelo de sociedade. As relações primárias, vinculadas à família, ao município, à profissão desapareceram; e as relações sociais, vinculadas às solidariedades de classe e de pertença religiosa e social também decaíram. Dessa forma, a contribuição do fenômeno religioso, se mostra altamente relevante, pois concebido e manifestado de modo correto, produz resultados permanentes em uma sociedade, trazendo benefícios compatíveis com a racionalidade sadia de uma comunidade. 13.2.1 Influências positivas na sociedade 42 Uma sociedade estabelecida sobre um sistema religioso equilibrado, especialmente com base e fundamentação cristã é comprovadamente mais ajustada principalmente no que diz respeito ao comportamento ético do ser humano, pois “(...) toda religião comporta uma ética e toda ética desemboca numa religião, na mesma medida em que a ética se orienta pelo sentido do transcendente da vida humana" (CATÃO, 1995, p. 63). Está claramente evidenciado em toda a história das civilizações, que quanto mais o homem se afasta do sagrado, mais ele tende a perder os seus valores e sua consciência da necessidade de andar debaixo de leis e regras que contribuem para o bem da coletividade. Observamos que embasado no reconhecimento do homem como ser religioso e da capacidade inata e espontânea da criança para a religiosidade, um dos grandes líderes da escola nova, definiria assim a proposta: Assim temos tido a satisfação de educar nossos filhos para a plenitude de seu ser, de inspirar-lhes um espírito reto e puro e de prepará-los para que sejam na vida homens completos e almas religiosas, no sentido mais elevado da palavra. (FERRIÈRE, 1930, p.152). A influência religiosa cristã coerente (define-se como coerente um ensino que abrange valores éticos e morais bem como o respeito ao criador e à sua criação), como já destacada anteriormente, é um anseio que permeia o ser humano ainda que de forma inconsciente. Para muitos, reconhecer esta necessidade é algo que só vem com o tempo, com as imprevisíveis catástrofes familiares e/ou com a busca pela razão da existencialidade humana. 13.2.2 O risco que envolve o fenômeno religioso O mundo inteiro convive com o impacto que o fenômeno religioso produz em um povo. A religião pode e deve ser benéfica, mas corre o risco de se tornar um problema ao invés de proporcionar melhora na vida das pessoas pois “(...) todas as religiões, no início, são dinâmicas, revolucionárias, criativas, transformadoras. (...) Mas, conforme o tempo passa, a religião cria instituições, regras rígidas, poderes... e aí se torna conservadora, estagnada e até contrária ao progresso”. (INCONTRI, 2002, p. 87). Outro risco é a substituição da religião e tudo que a ela pertence por elementos ou coisas que apesar de não serem todas necessariamente ruins, a descaracterizam e podem presumir extingui-la.Segundo FEURBACH (1988, p. 24) “ [...] para substituir a religião, a 43 filosofia deve tornar-se religião enquanto filosofia... Para o lugar da fé, entrou a descrença... Para o lugar da Bíblia, a Razão”. Se quisermos substituir a religiosidade, a fé e a Bíblia estaremos entrando na contramão da história e repetiremos a história onde tenta-se matar Deus e tudo o que a ele se refere. 13.2.3 Breve histórico do fenômeno religioso no Brasil O Brasil, desde o seu descobrimento, foi religiosamente colonizado pelo catolicismo romano que desde a sua chegada por estas terras tem procurado manter a hegemonia religiosa sobre a população brasileira. Esta hegemonia ainda prevalece, mas com a chegada dos escravos de ascendência africana e com a vinda de missionários europeus, americanos e outros, aliado à chegada das religiões orientais e de outros países, esta religião tida como que “oficial” tem sido questionada, e abandonada por muitos que descobrem várias falhas doutrinárias e mesmo por buscarem algo de maior impacto de transcendência. Hoje, o Brasil, possui uma grande variedade de religiões, o que expressa a busca das pessoas por um contato mais próximo com o sagrado. Segundo Pierre Sanchis, Quando se olha para o campo religioso brasileiro contemporâneo, um primeiro fato chama a atenção: a transformação introduzida nele pelo fim da hegemonia – quase que monopólio – católica, [...]. Aceleradamente as diferenças – e cruzamentos – se manifestam. Diversificação ativa, que a Igreja Católica, as instâncias de referências indenitárias, os sistemas de atribuição de sentido, as famílias de espírito reagrupadas em torno de visões de mundo e etos institucionalizados... (SANCHIS, 1997, p. 103-104). Não poderíamos de modo algum nos esquecer de destacar a influência do movimento na Europa chamado de Reforma protestante, o qual marcou forte presença em todas as classes sociais do nosso país e em muitos outros, mas de uma maneira mais acentuada nas classes sociais menos favorecidas, fazendo o homem pensar e sair da condição de manipulado pela elite religiosa dominante. Os estudiosos da religião apontaram o movimento “neopentecostal” como um movimento marcante nos últimos anos. Foi também, o grupo que marcou presença através de diversas publicações, dissertações e teses que abordavam vários aspectos deste movimento. 44 Ricardo Mariano no seu livro “Neopentecostais”, aponta que o Pentecostalismo brasileiro pode ser dividido em: [...] três ondas[...] pentecostalismo clássico; [...]A segunda onda teve início nos anos 50 na cidade de São Paulo com o trabalho missionário de dois ex-atores de filmes de faroeste do cinema americano, Harold Williams e Raymond Boatright, vinculados à International Church of The Fourthsquare Gospel [...] A terceira onda começa na segunda metade dos anos 70, cresce e se fortalece no decorrer das décadas de 80 e 90[...] demarca o corte histórico-institucional da formação de uma corrente pentecostal que será aqui designada de neopentecostal. (P.28-33, ênfase do autor) A influência positiva do movimento neopentecostal merece destaque em nosso contexto histórico haja vista a sua grande contribuição para a saúde espiritual, financeira emocional e física de milhões de brasileiros, saúde esta que continua a fazer eco até os nossos dias. 13.2.4 Considerações finais Observamos através desta pesquisa bibliográfica, a importância do fenômeno religioso no contexto familiar e social como fator de construção de valores do ser humano através de uma pesquisa bibliográfica que gera compreensão e enriquecimento de um assunto tão pertinente em nossos dias, portanto digna de acurado estudo. O estudo dos fenômenos religiosos é comprovadamente essencial para a compreensão da causa/efeito nas sociedades. O resultado, positivo ou negativo, varia de sociedade para sociedade na medida em que a religiosidade internalizada é mais ou menos acentuada em termos de prática exteriorizada. Percebemos claramente que o fenômeno religioso equilibrado, racional e inteligente, não somente de dogmas e regras “sacras”, mas de conteúdo cristão, é de extrema importância para a construção do indivíduo e de suas relações interpessoais na sociedade que o cerca, especialmente contribuindo para a sua formação ética e seu caráter, viabilizando assim a sua convivência no seio de uma família. Apesar de a religiosidade sadia de um povo ter muitas possibilidades de ser benéfica, existem riscos dela se tornar uma forma de engessamento mental e espiritual, caso não sejam observados os cuidados devidos no ensino e transmissão da mesma. É sábio procurar realçar a importância do Sagrado e não a tolice da exaltação humana em nome de Deus. 45 João Batista, famoso por sua mensagem de transformação interior, dizia: “É necessário que Ele (Deus) cresça e que eu diminua”. (Evangelho de João, cap. 3, verso 30, Bíblia Sagrada). Dentro do assunto abordado, entendemos ser fundamental destacar a importância indubitável do movimento protestante que teve e até hoje tem influenciado de modo mais positivo que negativo a sociedade brasileira. A fé por este movimento proclamada e ensinada tem um saldo extremamente positivo: milhões de pessoas libertas de seus vícios letais, famílias recuperando seus valores e importância, uma infinidade de jovens e adultos aprendendo a viver de modo coerente com os valores morais equilibrados, e com a ética necessária para a construção de uma sociedade que pretende ir muito além de uma mera “civilização moderna”, degradada por pessoas e por uma mídia descompromissada com o valor do ser humano. Diante do que foi exposto, evidencia-se a importância do fenômeno religioso na construção da sociedade. Compreendemos que, respeitada a individualidade e crença de cada pessoa, a religiosidade sadia não deveria em instância alguma ser coibida, mas incentivada por todos, pois ela é parte inerente de cada ser humano, queira este ou não, e pode definitivamente contribuir para termos uma sociedade mais justa, mais humana e mais próxima de Deus. 46 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. In: Coleção os Pensadores. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1996. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Coleção os Pensadores. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1996. CATÃO, Francisco. O Fenômeno Religioso. São Paulo, Editora Letras & Letras, 1995. FEURBACH, L. Princípios da Filosofia do Futuro. Lisboa. Edições 70, 1988. JUNG, Carl Gustav. Psicologia e Alquimia. Petrópolis: Vozes, CW 12, 1971. WOLTON, Dominique. Internet, ¿y después?: una teoría crítica de los nuevos medios de comunicación. Barcelona: Gedisa, 2000. p. 247-8 MALINOWSKI, B. Magia, Ciência e Religião. São Paulo: Ática, 1983. 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