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Maria Carolina B. de Castro PERINATOLOGIA E NEONATOLOGIA EQUINA •Perinatologia: Estudo da parte final da gestação, parto e primeiras semanas de vida do neonato. Envolve o período pré- parto, parto e pós parto. •Neonatologia: Estudo das doenças que acometem o neonato. • Neonatologia equina: O fato da área de reprodução (com suas biotecnologias) ter crescido muito, impulsionou a área de neonatologia equina, melhorando muito a parte de diagnóstico e tratamento. O potro nasce sem imunidade, e vai adquirir a imunidade passiva através do colostro da égua. Portanto, é importantíssimo o manejo adequado da égua durante todo o período gestacional. • A prenhez dura em média 340 dias (as vezes 10 a mais, 10 a menos), o que equivale a 11 meses em média. Se o potro nasce com 320 dias, ele é prematuro, mas possui chances de sobreviver. Se nasce com 310 dias é mais difícil de sobreviver. MANEJO GERAL DA ÉGUA - Acompanhamento da gestação: Nutrição e manejo sanitário, cuidados com o ambiente onde a égua fica. - Vermifugação: 30-60 dias antes do parto, preferencialmente 30 dias. Os endoparasitas podem passar para o colostro, o que pode desencadear diarreia e levar o potro ao óbito. - Vacinação: Deve-se vacinar para Raiva (antes de emprenhar, independente de estar prenha ou não a égua deve ser vacinada), Aborto equino a vírus (causada pelo Herpes Vírus tipo 1, no 5º, 7º e 9º mês de gestação, são 3 doses), Tétano (30 dias antes do parto). - Adaptação ao local do parto: Levar a égua para um piquete ou baia maternidade assim que entrar no período pré-parto (cerca de 30 dias antes do parto), para que fique lá sozinha. - Controle de Ectoparasitas: Deve-se também fazer o controle de ectoparasitas na égua, para que o potro não seja contaminado assim que nascer, seja por piolho, sarna ou carrapato que é o mais comum. Os carrapatos podem causar anemia nos potros, além de carrear patógenos como babesia e erlichia. MANEJO DO PRÉ-PARTO - Previsão do parto: Pode ser feita de duas formas, sendo elas: a data do diagnóstico da gestação feita pelo veterinário da propriedade, e os sinais maternos (que a égua apresenta durante esse período). • Sinais maternos: Enchimento do úbere; abdome fica penduloso um mês antes do parto; aparecimento de cerume no úbere de 4-7 dias antes do parto; agitação ou isolamento na véspera da parição; micção com maior frequência; bebe mais água. • Horário de parto normalmente é a noite/de madrugada e dura cerca de 3 horas (começa a se isolar → micção frequente → deita e levanta agitada → aparecimento da membrana fetal → rompimento da bolsa e feto nasce). Depois de romper a bolsa o feto demora de 15-20 minutos para nascer. Não pode demorar muito, por isso o ideal é sempre ter alguém observando. • A cesariana não é indicada em equinos por necessitar de anestesia geral, além da posição em decúbito dorsal e os equinos serem mais propícios a peritonite/infecção, diferentemente dos bovinos. • Úbere cheio não necessariamente indica um colostro de boa qualidade. - Local adequado para parto MANEJO DO PARTO E PÓS PARTO - Cuidados higiênico-sanitários: Importante lavar a vulva e úbere da égua ao começar o trabalho de parto, bem como fazer uso de bandagem na cauda para evitar contaminação. - Parto assistido/auxílio ao parto: Só deve intervir se for realmente necessário. • O potro nasce com os membros anteriores para frente e com a cabeça no meio, sendo esta a posição adequada. Durante a parição, a égua normalmente fica deitada, porém éguas de primeira cria podem ficar desesperadas e em pé. De 15-20 minutos após sair o potro, sai a placenta (é aceitável até 1h30), e se não sair nesse tempo é chamado de Retenção de placenta. CONHECENDO O POTRO NEONATO SADIO - Reflexo de sucção: 2-20 minutos - Posição quadrupedal: 1-2 horas - Primeira mamada: 2 horas (assim que fica em pé ele normalmente já faz a primeira mamada) - Primeira defecação: Mecônio, após ficar em pé. Se não consegue é chamado de Retenção de mecônio, pode levar a cólica. - Primeira micção: Aproximadamente 8 horas - Estado mental: vivo, alerta e responsivo ao ambiente - Temperatura corporal: 37,2-38,9ºC (é um pouco mais alta do que em cavalos adultos). - FC: 65-125bpm, em média 80 - FR: 60-80mpm, após 12h cai para 30- 40mpm - Mucosas: Róseas, com TPC de 1 segundo Reto: Tem que ter a presença do mecônio, se não defecou faz palpação retal com o dedo para ver se tem mecônio. Se não tiver nada, ou defecou e ninguém viu ou nem chegou mecônio ali. - Mama de 4-6x/hora - Fezes pastosas de 2-5x/dia - 1/3 do tempo deitados MANEJO SANITÁRIO DO PÓS PARTO: ÉGUA E POTRO Égua: Cuidados gerais (comendo, bebendo, urinando, defecando, dando leite, cuidando do potro). Potro neonato: Cuidado com o ambiente (limpo e seco); Observar sempre os parâmetros clínicos; Observar se mamou o colostro, quanto mais mamar melhor (uns 2-3L), dentro das primeiras 6 horas de vida. Com o passar do tempo, a absorção das imunoglobulinas no intestino começa a diminuir, e com 24 horas já não há mais absorção. Se não mamar, desenvolve a Tríade neonatal (hipoglicemia, hipovolemia e hipotermia) podendo levar ao óbito. É necessária a ingestão do colostro para imunidade e nutrição; Cuidados com o umbigo (iodo 3-5% OU clorexidine 1%, de preferência curar o umbigo de 2-3 vezes ao dia; Vermífugos (30 dias, repetir 2/2 meses); Controle de ectoparasitas (evitar amitraz pois é tóxico para cavalos e interfere na motilidade intestinal); Vacinação (Tétano, Influenza, Encefalomielite e Herpesvirus a partir dos 3 meses, com reforço de 30 dias e anual, Raiva a partir dos 4 meses com reforço anual, Garrotilho a partir cos 4 meses com reforço a cada 6 meses). • Se o potro nasceu e está com o reflexo de sucção diminuído, ordenha a égua e faz o potro mamar por mamadeira ou sonda. Se a égua não produz colostro, morreu ou rejeitou, deve-se dar colostro de outra égua ou até de vaca. Se nada der certo, transfusão de sangue total ou plasma ou soro hiperimune IV. • Até 30 dias é neonato, após isso é potro. • O potro nasce aglobulinogênico devido a placenta epiteliocorial difusa da égua, portanto necessita do colostro para adquirir imunidade passiva. O colostro é importante pela imunidade (anticorpos - imunoglobulinas IgA, igG e IgM), nutrição (excelentes componentes essenciais para a saúde do potro), maturação do TGI (diminui risco de diarreia pois oferece proteção intestional, impedindo proliferação e aderência bacteriana no epitélio intestinal, bem como vírus e toxinas), além de hidratação. Todos esses fatores auxiliam o potro a não entrar em tríade neonatal. • Artigo: Como prever o parto em éguas? A distocia é menos comum em éguas, mas se ocorre é de emergência médica. Existem sinais de inquietação, posição de urinar, cauda elevada e com movimentos vigorosos, sudorese, aumento de cálcio, diminuição de sódio e aumento de potássio no leite no periparto, diminuição do pH do leite, posição de decúbito lateral da égua. •Artigo: Método para avaliação do colostro equino. Métodos diretos (eletroforese, Imunodifusão radial simples, Elisa) e Métodos indiretos ( Refratometria, Turbidez por sulfato de zinco, Coagulação por glutaraldeído e Aglutinação no látex). PROBLEMAS QUE AFETAM O POTRO NEONATO •- São consideradas éguas de alto risco: Estado geral de saúde deficiente (desnutrição, doença crônica...); Idade avançada ( > 15 ou 18 anos); Dificuldade anterior de concepção; Potros anormais anteriores; Má conformação perineal (o ideal é ter a vulva logo abaixo do ânus em um ângulo de 90º entre eles, se a égua for muito magra também pode cair fezes dentro da vulva); Lactaçãoprematura; Doença anterior ou concomitante; Transporte prolongado ao final da gestação. • Essas alterações podem levar a anormalidades hemodinâmicas, hipóxia e endotoxemia na égua, o que leva ao comprometimento do feto no útero e pode interferir na viabilidade fetal (verificar por meio da palpação transretal, ultrassonografia e ECG fetal). Nesses casos, pode nascer um neonato de risco. • Deve-se estar atento para identificar fatores de risco o mais cedo possível, reconhecer os sinais precoces da doença, quais são as medidas a tomar para a prevenção. CONDIÇÕES MATERNAS QUE AFETAM A SAÚDE DO NEONATO - Deficiência nutricional; Verminoses; Corrimento vaginal purulento; Insuficiência placentária; Febre (pode afetar a temperatura do feto e útero); Anestesia geral/cirurgias (anestésico deprime a função cardiocirculatória do feto e da mãe, pressão arterial diminui); Cólica/torção uterina; Medicamentos (corticóides induzem o parto, antibióticos que podem ser tóxicos, amitraz); Perda de colostro/Agalaxia → DTPI; Rejeição do potro. CONDIÇÕES DO PARTO QUE AFETAM A SAÚDE DO NEONATO - Gestação longa; Parto demorado; Parto induzido; Distocias; Placenta prévia (deslocamento prematuro da placenta que diminui a oxigenação do feto); Ruptura precoce do cordão umbilical (se o cordão rompe durante a saída do feto, até ele sair fica em hipóxia, é chamado de asfixia neonatal); Prematuridade; Cesariana. CONDIÇÕES NEONATAIS QUE AFETAM A SAÚDE DO NEONATO - Gestação gemelar (não é muito comum, é indesejável); Prematuridade; Falha na ingestão do colostro; Má absorção/má digestão; Traumas; Asfixia; Anorexia por doença; Doenças não infecciosas e infecciosas. SINAIS DE PREMATURIDADE - Estado mental: deprimido - Disposição para levantar: deprimida, dificuldade para ficar em pé - Reflexo de sucção: prejudicado/ ausente - Cabeça: fronte abaulada - Orelhas: falta de rigidez (caídas) - Ossificação carpo e tarso: incompleta - Cascos úmidos e moles -Hiperextensão do boleto (achinelamento, o boleto toca o chão) - Pelo curto e sedoso - Temperatura corporal: normal ou reduzida (mais comum) IMPORTÂNCIA DO COLOSTRO E TRANSFERÊNCIA PASSIVA DE IMUNOGLOBULINAS • Colostro → Nutrição, Maturação do TGI, Defesas Igs. • Imunização passiva: É a transferência de anticorpos produzidos por um animal a outro. Pode ser Natural (pela placenta/colostro, no caso das éguas apenas pelo colostro devido a placenta ser epiteliocorial), ou Artificial (transfusão de sangue total, soro ou plasma sanguíneo). Para a transfusão de sangue total precisa de uma bolsa de transfusão. Para a transfusão de soro e plasma coleta-se o sangue da mesma forma, coloca a bolsa na centrífuga e separa o soro do plasma. Pode-se deixar na geladeira a bolsa que ela irá decantar, caso não tenha centrífuga. IMPORTÂNCIA DA IMUNIZAÇÃO PASSIVA • O colostro deve ser ingerido nas primeiras 6 horas de vida (com pico de absorção de 3h), pois vai diminuindo a taxa de absorção no intestino delgado e cessa com 24 horas. Tem IgG em maior importância, mas também tem IgA e IgM. • IgG adequada = ou > 800 mg/dl • IgG ideal = ou > 3000 mg/dl • Densidade > 1.060 (quanto maior a densidade, maior a concentração de imunoglobulinas) • Melhor qualidade é mais amarelado e pegajoso • Precisa ingerir 2 litros em 24h. Qualquer potro que em 3 horas não se levantou e/ou não mamou, precisa de assistência. Em caso de dúvidas, SUPLEMENTAR. • Colostro de má qualidade (28% das éguas); Pouca quantidade (não formação ou perda); Não ingestão pelo potro; Incapacidade de absorção no ID (25% dos potros). Essas situações levam a Deficiência ou falha na transferência passiva de imunoglobulinas (DTPI). • A DTPI, atrelada a um alto desafio bacteriano ambiental, deixa o animal mais susceptível a Processos infecciosos, Septicemia/SIRS e óbito. - Determinar se há DTPI: Histórico geral, mensurar IgG no potro por meio de testes rápidos como IgG Check (rápido e subjetivo). Se IgG estiver abaixo de 400mg/dl, deve-se suplementar. Também pode-se utilizar outros parâmetros como a Densidade (com o colostrômetro), e Imunodifusão radial ou Elisa (é mais caro e mais específico). - Terapia na DTPI: Suplementar colostro e plasma em casos onde a IgG esteja menor que 400-800mg/dl e a Densidade esteja menor que 1060, ou em casos de elevado desafio bacteriano ambiental + Suporte geral. - Banco de colostro: 250ml (retira após a primeira mamada do potro na égua), armazenamento em -20ºC por até 1 ano. Também pode ser colostro bovino (não é o ideal) ou comercial. - Plasma hiperimune: IV, 20ml/kg.
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