Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Carolina B. de Castro AFECÇÕES COMUNS DO POTRO NEONATO - Doenças neonatais: Retenção de mecônio, Diarreia, Onfalite/Artrite, Persistência de úraco, Ruptura de bexiga, Pneumonia, Síndrome do mau ajustamento neonatal ou encefalopatia neonatal, Isoeritrólise neonatal (menos comum). Todas, se não tratadas, podem levar a septicemia/sirs. 1. RETENÇÃO DE MECÔNIO • São as primeiras fezes (enegrecidas e grudentas) que o potro faz • Compactação de mecônio → Dor e distensão abdominal (cólica) • Animal fica em cifose, apresentando esforço para defecar • Cauda estendida, com contrações • Diminuição da amamentação (devido a dor)→ tríade e DTPI • Agitação (no início) → depressão e decúbito • Alteração cardiovascular gradual e rápida → óbito - Diagnóstico: Histórico, sinais clínicos, RX, US, laparocentese. - Tratamento clínico: Enemas mornos de solução fisiológica, além de suporte geral (analgésico, de preferência opioide pois sente muita dor). Deve ir injetando pouca quantidade, aos poucos, para evitar ruptura do reto. Utilizar sonda uretral mais grossa, ou sonda de foley, com ponta atraumatica e lubrificado. - Tratamento cirúrgico: Em casos mais avançados, é a segunda opção caso o tratamento clínico não funcione. 2. DIARREIA EM POTROS NEONATOS • Mais frequente, o potro pode piorar em questão de horas • Associada ou não à DTPI • Pode ser branda ou severa (bacteremia/endotoxemia → septicemia) • Maior prevalência em potros com menos de 7 dias. Normalmente antes de 7 dias é ligado a DTPI. - Sinais clínicos: Diarreia/enterite, caudas e pernas sujas, apatia, depressão, decúbito, diminuição no reflexo de sucção, hipoglicemia, desidratação e desequilíbrio hidroeletrolítico, cólica e/ou distensão abdominal. - Etiologia: Bacteriana: Salmonela sp. é a mais comum e causa uma septicemia aguda, C. perfringens, C. difficile (sanguinolenta, enterite necrosante hemorrágica), Campylobacter, E. coli, R. Equi. Viral: Rotavírus que acomete mais potros com menos de 2m de idade e causa atrofia de vilosidades, levando a uma diarreia aquosa). Coronavírus e Adenovírus também podem causar. Retardam o desenvolvimento do potro, pode acontecer em surtos. Parasitária: S. westeri (pode inclusive passar pelo colostro), S. vulgaris e Criptosporídios. Cio do potro: 7-14 dias de idade, pode ser por alteração da dieta, é mais branda e autolimitante. Nutrição: Hiperingestão, ou por substitutos do leite como o sucedâneo, ou deficiência de lactase Antibióticos: Potro desenvolveu uma infecção umbilical, começou a tomar antibióticos que alteraram a microbiota intestinal, desenvolvendo a diarreia. - Diagnóstico: Anamnese, sinais clínicos, exame físico, exames laboratoriais, US abdominal, RX. - Tratamento: Tratar a causa base e a septicemia + suporte geral (correção de hipoglicemia e desequilíbrios hidroeletrolíticos) + Protetor intestinal (subsalicilato de bismuto, caolin ou pectina, carvão ativado, entram como aditivos do tratamento) + Isolar os enfermos, independente da causa. Se for uma diarreia parasitária, utilizar Febendazol 7,5-10mg/kg/5d, ou Ivermectina. •Analgésicos em caso de cólica evidente: Butorfanol 0,02mg/kg • Antiespasmódicos: Escopolamina 0,2mg/kg • Antibióticos: Ceftiofur 5mg/kg IM BID, Gentamicina 6,6mg/kg IV BID, Amicacina 25mg/kg IM SID (mais utilizado). • Prognóstico é reservado. 3. ONFALITE OU ONFALOFLEBITE • Abcesso ou infecção ascendente do onfalo (umbigo externo). A onfaloflebite é quando já acomete a veia umbilical. • Faz parte do cordão umbilical a veia umbilical (que vai em direção ao fígado), as artérias umbilicais (que passam lateralmente à bexiga) e o úraco (canal que drena e elimina a bexiga durante a gestação). - Sinais clínicos: Edema externo, consistência firme (pela fibrose) e flutuante (presença de líquido e pus), secreção purulenta, temperatura local normal ou aumentada, dor local, alteração sistêmica, bacteremia → poliartrite (é bem comum em decorrência da onfaloflebite) → septicemia → óbito, pode levar a abcessos hepáticos. • Microorganismos mais comuns são E. coli, Streptococcus, Actinomyces, Proteus e Staphylococcus. - Diagnóstico: Anamnese, sinais clínicos, palpação/punção, US. É bem visual. - Tratamento clínico ou clínico- cirúrgico: Suporte geral, curativos tópicos (com clorexidine, iodo povidine ou água oxigenada), antibióticos (de amplo espectro) e AINES, remoção do onfalo + terapia clínica, monitorar com US se estiver fazendo tratamento clínico. 4. PERSISTÊNCIA DO ÚRACO • Congênita (úraco não se fecha pois é muito amplo) • Adquirida (infecção umbilical com reabertura da porção remanescente do úraco) - Sinais clínicos: Drenagem de urina pelo umbigo por não fechamento umbilical, orifício do úraco muito aberto, edema umbilical e/ou prepucial. - Diagnóstico: Histórico, sinais clínicos, RX contrastado e US. - Tratamento clínico: o uso de revulsivo tópico é, atualmente, controverso e pode piorar a situação. Deve-se usar solução de clorexidine 0,5% + atb sistêmico 5-7 dias + suporte. - Tratamento cirúrgico: Se não melhora o clínico, fecha-se o úraco de forma cirúrgica (laparotomia e ligadura do úraco) + terapia de suporte. 5. UROPERITÔNIO/RUPTURA DE BEXIGA • Laceração na bexiga (principalmente), úraco ou uretra, após parto, secundário a trauma ou má formação. Também pode ser secundário a cistite. • Drena urina para a cavidade peritoneal → peritonite química → dor, óbito. • No parto é mais comum em machos, devido a uma questão anatômica. A uretra desses animais é mais estreita e longa, e durante o parto há um aumento da pressão abdominal e intraluminal da bexiga, levando a ruptura da mesma, do uraco ou da uretra. - Sinais clínicos: Depressão, decúbito prolongado, não mama, desidratação, hipoglicemia, hipotermia, alteração de parâmetros e choque, estrangúria, polaciúria ou anúria, alteração eletrolítica e azotemia, distensão/dor abdominal, peritonite → óbito. • A ruptura do úraco ou uretra pode drenar urina para o tecido subcutâneo. - Diagnóstico: Histórico, SC, US, RX contrastado, Paracentese, creatinina peritoneal maior que a creatinina do sangue, laparotomia exploratória. - Tratamento cirúrgico: Cistorrafia e remoção do úraco + suporte geral + tratar peritonite. 6. ISOERITRÓLISE NEONATAL • Incompatibilidade de grupo sanguíneo entre potro e égua. Acontece após o nascimento, com a ingestão do colostro. No colostro da égua há aloanticorpos que reagem contra o eritrócito do potro. • Hemólise imunomediada e/ou aglutinação. • Ocorre em éguas multíparas, na 2º ou 3º cria. - Sinais clínicos: Nascem normais, de 1 a 4 dias começam a aparecer os sinais. Pode ser hiperagudo (8-36h), agudo (2- 4d) e subagudo (4-5d). Sinais de depressão, fraqueza, reflexo de sucção diminuído, decúbito, taquicardia, taquipneia ou dispneia, mucosas pálidas que vão se tornando ictéricas por conta da hemólise (12-38h), icterícia pré- hepática, hemólise → anemia → hipóxia, hemoglobinúria → nefropatia, hiperbilirrubinemia, melena, convulsão. - Diagnóstico: Histórico, sinais clínicos 1-4º dia de vida (mais comum icterícia), teste cruzamento hemolítico, teste de coombs, teste de aglutinação. - Tratamento: Cessar ingestão do colostro, oferecer colostro de outra égua ou sucedâneo (1% PV a cada 1-2h), evitar estresse, deixar o animal de repouso, transfusão de sangue total (HT < 12, 2-4 litros em 2-4h), plasma hiperimune se não fizer transfusão de sangue total (depende do quadro do potro) + Terapia de suporte. • Prognóstico de reservado a ruim. 7. SEPSE NEONATAL • Doença sistêmica por disseminação hematógena (de bactérias ou suas toxinas no sangue, vírus, fungos,protozoários). Bactéria é mais comum. • Pode vir de uma infecção in útero, placentite, por via oral, respiratória ou umbilical. - Etiopatogenia: Gram-negativas como E. coli, Actinobacillus equuli, Salmonella, Klebsiela → LPS (toxinas, lipopolissacarídeos → endotoxemia (há alta produção de mediadores inflamatórios para controlar a endotoxemia, como FNT que causa depressão miocárdica, hipotensão e hipoglicemia, CID). Gram-positivas como Streptococcus, S. aureus, Clostridium. • Principal causa de morbidade e mortalidade, alta taxa de mortalidade antes dos 7 dias. • A inflamação exacerbada e má perfusão da SIRS afetam as funções orgânicas. • Ocorre mais em neonatos de risco e/ou com DTPI, onde a imunidade é menor que o desafio bacteriano e em ambientes precários. • Dosar IgG e se estiver abaixo de 400, deve suplementar. - Sinais clínicos: É um quadro clínico variável, progressivo e grave. Letargia aguda, diminuição do reflexo de sucção, depressão média a estado moribundo, tríade neonatal, decúbito lateral, alteração paramétrica, petéquia e equimose, choque hipovolêmico e SIRS. Pode ter uveíte, pneumonia, enterite, diarréia, cólica, onfalite, poliartrite, meningite e convulsão. - Diagnóstico: Anamnese/histórico, sinais clínicos, exame físico, exames laboratoriais (hemocultura, hemograma, fibrinogênio, bioquímica serica, dosagem de glicemia, dosagem de Ig, gasometria, opg/coprocultura, liquido peritoneal, liquido sinovial, LCR), exames complementares (RX, US, tomografia, ressonância). - Tratamento: Tratar a causa base + suporte geral (fluido, glicose, aquecer, colostro/leite, soro ou plasma hiperimune IV, atb, antitoxemico, AINES/analgésico, oxigênio. • Neutrófilos em potros tem menos opsoninas (moléculas que se ligam à bactérias e facilitam a sua fagocitose), então o plasma fornece elas e auxilia no aumento da fagocitose pelos neutrófilos. - Controle e prevenção: Observação das éguas durante a gestação, acompanhamento do pós parto, sanidade e higiene, assegurar adequada ingestão de colostro, observar o potro durante suas primeiras horas e dias de vida, minimizar número de indivíduos no ambiente, separar por faixa etária, reforçar imunidade específica. 8. SÍNDROME DO MAU AJUSTAMENTO NEONATAL • Condição não infecciosa que descreve potros que apresentam anormalidades comportamentais e/ou neurológicas durante as primeiras 24h de vida, até mais ou menos 72h. É resultante de hipóxia e isquemia. - Sinais clínicos: Desorientação, andar em círculos, isolamento, crises convulsivas → óbito. • Fatores como Insuficiência placentária, obstrução do fluxo sanguíneo umbilical, partos distócitos, entre outros, podem levar a hipóxia e isquemia. - Diagnóstico: Histórico, sinais clínicos, achados laboratoriais e exames complementares (principalmente US). • Sistemas gastrointestinal, renal e nervoso são os mais afetados.
Compartilhar