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Expansão em Criminalidade

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Prévia do material em texto

Indaial – 2020
Expansão Em 
CriminalidadE
Prof.ª Ivone Fernandes Morcilo Lixa
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.ª Ivone Fernandes Morcilo Lixa
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
L788e
 Lixa, Ivone Fernandes Morcilo
 Expansão em criminalidade. / Ivone Fernandes Morcilo Lixa. 
– Indaial: UNIASSELVI, 2020.
 212 p.; il. 
 ISBN 978-65-5663-103-5
1. Criminalidade. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 341.59
III
aprEsEntação
No Brasil, a violência e o crime ocupam o centro de nosso dia a dia. 
Nos telediários, nas manchetes dos jornais, nas mídias sociais, nos debates 
políticos e acadêmicos, em todos os espaços se fala, se reflete, se vive e se 
convive com a expansão da criminalidade e todas as formas de violência. 
Assim, somos tomados pela permanente sensação de insegurança e vamos 
assistindo à desintegração dos tradicionais vínculos sociais, fragilizando a 
vida coletiva e com uma profunda descrença nas instituições. 
A criminalidade e a violência estão cada vez mais presentes, porém 
nem sempre visíveis. Além dos crimes praticados à luz do dia e nas ruas, 
também por trás dos muros das casas, no ambiente do trabalho e nos 
ambientes mais privados, pessoas são vítimas de toda forma de crime e, não 
raras vezes, o silêncio impede que se puna com rigor os algozes de mulheres, 
crianças e idosos. No Brasil, as mortes violentas são a causa primeira da 
perda de vida na faixa etária entre cinco a 45 anos. São mortes prematuras 
que poderiam ter sido evitadas e representam um ônus para o conjunto da 
sociedade e do país. 
Com o objetivo de melhor compreendermos o fenômeno da expansão 
da criminalidade, a fim de contribuir com sua formação profissional, 
apresentaremos o presente livro de estudos, com temas atualizados que lhe 
permitirão adquirir conhecimento eficiente, idealizados especialmente para 
você.
Metodologicamente, o livro está dividido em três grandes unidades, 
subdividas em tópicos que lhe permitirão um estudo minucioso e sistemático 
sobre o tema do crime e sua expansão na realidade contemporânea. 
Na Unidade 1 serão estudados os conceitos fundamentais de crime 
e criminalização, de forma a permitir que você compreenda o crime como 
fenômeno complexo, definido juridicamente e tipificado pelo Direito Penal. 
Você perceberá que o crime, além de representar um sofrimento à vítima, é a 
violação de um bem protegido juridicamente e exige punição.
Na Unidade 2, o tema central será a expansão do crime na 
contemporaneidade, de forma a compreender os impactos da globalização 
na expansão da criminalidade, particularmente com relação ao crime 
organizado, buscando identificar e problematizar as novas formas de 
manifestação do crime no Brasil e as formas institucionais de enfrentamento. 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Ao final, na Unidade 3, serão estudadas as diferentes formas de 
violência, com destaque para a violência estrutural, doméstica e midiática, 
com o objetivo de identificar e discutir as distintas faces da violência e crime 
no Brasil, desde uma análise crítica e problematizadora. 
Você terá ao final de cada tópico autoatividades que lhe permitirão 
avaliar e aprofundar melhor os estudos realizados. Não esqueça de também 
ler atentamente os textos selecionados ao final de cada unidade, bem como 
de visitar os sites especializados indicados. 
Bons estudos! Estaremos juntos nesta desafiadora jornada.
V
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento.
Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada!
LEMBRETE
VIII
IX
UNIDADE 1 – CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS ......................1
TÓPICO 1 – A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE CRIME NA SOCIEDADE 
OCIDENTAL ........................................................................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 BREVE ANÁLISE HISTÓRICA DO CONCEITO OCIDENTAL DE CRIME ............................3
2.1 CRIME E CASTIGO NAS SOCIEDADES ANTIGAS E MEDIEVAIS OCIDENTAIS ..............4
2.2 O LIBERALISMO E A REDEFINIÇÃO DA FUNÇÃO PUNITIVA ..........................................11
2.3 A IDEOLOGIA DA DEFESA SOCIAL ..........................................................................................16
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................20
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................21
TÓPICO 2 – O CONCEITO JURÍDICO DE CRIME .........................................................................23
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................23
2 CONCEITO JURÍDICO PENAL DE CRIME ...................................................................................23
3 A “CONDUTA” COMO ELEMENTO DO CRIME .......................................................................26
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................32
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................33TÓPICO 3 – SUJEITOS, OBJETO E TIPOS DE CRIME SEGUNDO O DIREITO PENAL ......35
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................35
2 SUJEITOS DA CONDUTA TÍPICA ..................................................................................................35
3 OBJETO DO CRIME ............................................................................................................................40
4 TIPOS DE CRIME SEGUNDO O DIREITO PENAL ....................................................................42
4.1 CRIMES COMUNS E CRIMES ESPECIAIS .................................................................................45
4.2 CRIMES DE DANO E DE PERIGO ..............................................................................................45
4.3 CRIMES MATERIAIS, CRIMES FORMAIS E CRIMES DE MERA CONDUTA ....................46
4.4 CRIMES INSTANTÂNEOS E PERMANENTES ........................................................................47
4.5 CRIME CONTINUADO .................................................................................................................48
4.5.1 Algumas outras classificações relevantes ............................................................................50
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................55
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................62
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................63
UNIDADE 2 – A EXPANSÃO DO CRIME NA CONTEMPORANEIDADE ...............................65
TÓPICO 1 – GLOBALIZAÇÃO E EXPANSÃO DA CRIMINALIDADE .....................................67
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................67
2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS .....................................................................................................67
2.1 CRIMES DE COLARINHO BRANCO .........................................................................................72
2.2 LAVAGEM DE DINHEIRO ...........................................................................................................77
2.3 TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS ..............................................................................82
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................88
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................89
sumário
X
TÓPICO 2 – CRIME ORGANIZADO E NOVA CRIMINALIDADE ............................................91
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................91
2 CONCEITO ...........................................................................................................................................91
3 CARACTERÍSTICAS DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS ...............................................104
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................109
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................110
TÓPICO 3 – O CRIME ORGANIZADO NO BRASIL ....................................................................113
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................113
2 O CRIME ORGANIZADO NO BRASIL: ORIGENS HISTÓRICAS ......................................113
3 AS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS BRASILEIRAS E A VISIBILIZAÇÃO DAS 
FRAGILIDADES POLÍTICAS E SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS .........................................116
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................125
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................130
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................131
UNIDADE 3 – VIOLÊNCIA ESTRUTURAL, DOMÉSTICA, CULTURAL E MIDIÁTICA ....133
TÓPICO 1 – VIOLÊNCIA: SUAS FACES E IMPACTOS ...............................................................135
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................135
2 CONCEITO E FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA VIOLÊNCIA ..........................................135
3 IMPACTOS DA VIOLÊNCIA E DO MEDO .................................................................................144
4 A EXPANSÃO DA VIOLÊNCIA E A SAÚDE DOS BRASILEIROS ........................................150
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................154
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................155
TÓPICO 2 – OS ESPAÇOS INSTITUCIONAIS E DOMÉSTICOS DE VIOLÊNCIA ..............157
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................157
2 A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL NO BRASIL ..........................................................................157
3 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ..............................................................................................................164
4 VIOLÊNCIA CONTRA MULHER ..................................................................................................169
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................177
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................178
TÓPICO 3 – DESAFIOS E POSSIBILIDADES NO ENFRENTAMENTO DA EXPANSÃO DA 
VIOLÊNCIA .....................................................................................................................181
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................181
2 CULTURA DA VIOLÊNCIA ............................................................................................................181
3 MÍDIA E VIOLÊNCIA ......................................................................................................................187
4 CULTURA PACIFICADORA: BREVES CONTRIBUIÇÕES PARA SUPERAÇÃO DA 
CULTURA DA VIOLÊNCIA ............................................................................................................193
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................199
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................201
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................202
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................205
1
UNIDADE 1
CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: 
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender o crime como um fenômeno complexoe multifacetado, que 
é objeto de estudo de distintos campos do conhecimento e não pode ser 
reduzido e problematizado como mero comportamento individual e lo-
cal, mas produto da soma de distintos fatores de natureza e origens diver-
sas que, conjugados, resultam no atual cenário de expansão da violência; 
• analisar o processo histórico de construção do conceito ocidental de cri-
me, de forma a identificar os fatores culturais, econômicos, sociais e po-
líticos que foram, ao longo do tempo, convergindo para definir o que é 
delito e justificar juridicamente a punição; 
• diferenciar os sujeitos envolvidos no crime a fim de identificar o agente 
ativo, o que a norma penal define como possível autor da ação ou omissão 
típica, e o sujeito passivo, o ofendido ou vítima, titular do bem jurídico 
lesionado. O acadêmico deve, ainda, compreender que tal identificação é 
elemento essencial para a definição do tipo penal e a punição cominada; 
• identificar o objeto do crime enquanto valor, bem ou interesse protegido 
pela norma penal e utilizado para classificar o crime;
• classificar os distintos tipos de crime segundo o direito penal, de forma a 
identificar os critérios utilizados para a classificação das infrações penais.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE CRIME 
NA SOCIEDADE OCIDENTAL 
TÓPICO 2 – O CONCEITO JURÍDICO DE CRIME 
TÓPICO 3 – OS TIPOS JURÍDICOS DE CRIME: BREVE ESTUDO
Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em 
frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO 
DE CRIME NA SOCIEDADE OCIDENTAL
1 INTRODUÇÃO
Ao iniciarmos o estudo acerca do fenômeno do crime, a criminalização e o 
processo de expansão no Brasil, a primeira tarefa que se impõe é conceitual, ou seja, 
é necessário compreender “o que” é crime e como sua concepção foi construída 
na sociedade ocidental. É nessa tentativa que, neste Tópico 1, analisaremos o 
processo de construção do que atualmente chamamos de “crime”. 
“Crime” é um fenômeno que pode ser compreendido a partir de distintos 
campos do conhecimento. Por exemplo, a sociologia tenta explicar a criminalidade 
antes de definir o que vem a ser crime, problematizando e analisando os fatores 
que envolvem o processo de criminalização e os mecanismos institucionais de 
enfrentamento. 
Já para as distintas teorias psicanalíticas, indo além do simplismo de explicar 
o comportamento criminoso como ato individual, esclarece as razões pelas quais 
uma sociedade busca a punição de determinadas condutas tipificadas como crime. 
Para o Direito, crime é um conceito jurídico, formalmente definido pela 
lei, ou seja, é um fato típico, uma conduta – ação ou omissão – que se “molda” 
perfeitamente aos elementos previstos na lei penal. 
Portanto, embora a definição de crime não seja simples e tampouco 
unitária, neste tópico, após um breve estudo sobre a construção histórica do 
conceito de crime na tradição ocidental, destacaremos a concepção jurídica de 
crime por ser exatamente esta a que se destaca e predomina para a definição de 
políticas públicas de segurança. 
2 BREVE ANÁLISE HISTÓRICA DO CONCEITO OCIDENTAL 
DE CRIME 
O crime e seus desdobramentos no cotidiano da sociedade brasileira, como 
adiante analisaremos, é um fenômeno sociopolítico complexo e multifacetado, ou 
seja, pode ser compreendido em diversos aspectos – sociopolítico, jurídico, moral, 
psicanalítico etc. – que não pode ser, portanto, reduzido a uma única forma de 
análise e definição. 
UNIDADE 1 | CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
4
A “questão criminal”, como lembra o pensador e criminólogo argentino 
Eugênio Raúl Zaffaroni, não pode ser considerada apenas como um problema local 
ou nacional, mas integra uma autêntica “trama mundial”, e é nesta perspectiva 
que deve ser considerada. Tal perspectiva exige um grande esforço para impedir 
que não se tenha uma visão parcial e reducionista, porque, na verdade, estamos em 
uma fase da civilização humana difícil, em que se deve optar pela sobrevivência 
e coexistência humana e humanizadora, ou corremos o risco de perdermos nossa 
condição de humanidade (ZAFFARONI, 2013). 
Assim, ampliando um pouco nosso horizonte compreensivo, a fim de não 
cairmos na armadilha de definir crime como algo simples, mas um fenômeno 
definido e estudado nos distintos campos do conhecimento nas diversas etapas 
do pensamento, é que o resgate histórico ganha relevância, a fim de conhecermos 
como ao longo da história humana o conceito de crime e as formas de punição 
foram sendo elaboradas e reinventadas. 
Historicamente, o crime e a sua punição é um dilema que atravessa 
a trajetória humana ao longo do tempo e revela as grandes contradições e 
antagonismos sociais: ordem/desordem; justiça/injustiça; bem/mal etc. Várias 
são as compreensões acerca do que é crime: legal (comportamento punido pelo 
código penal); moral (quando o comportamento é ofensivo aos valores sociais); 
política (quando o poder instituído, através dos que dele se apropriam, viola 
direitos a fim de ser mantido) etc. 
Ao longo da história ocidental, em diferentes momentos e de diferentes 
formas encontramos formas de punir, sempre se pretendendo construir discursos 
legitimadores, ou seja, ideias e conceitos justificadores acerca da função e resultados 
da pena. Afinal, o problema da finalidade da pena acompanha a construção do 
próprio conceito de crime e para cada finalidade foram sendo elaboradas teorias, 
fundamentando e legitimando a função e a finalidade de intervenção do poder 
político no corpo e nos bens dos seres humanos considerados transgressores. 
2.1 CRIME E CASTIGO NAS SOCIEDADES ANTIGAS E 
MEDIEVAIS OCIDENTAIS 
Reconstruindo a tradição ocidental, um marco na definição de crime 
e punição é o Código de Hamurabi. Conjunto de leis da antiga Mesopotâmia, 
datado, aproximadamente, do século XVIII a.C., atualmente no Museu do Louvre. 
Previa dispositivos para punir delitos praticados desde o homem comum até os 
altos funcionários públicos. Embora sendo claro que a punição variava de acordo 
com a condição social tanto do autor como da vítima. 
TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE CRIME NA SOCIEDADE OCIDENTAL
5
FIGURA 1 – CÓDIGO DE HAMURABI – MUSEU DO LOUVRE
FONTE: <https://www.todoestudo.com.br/wp-content/uploads/2018/06/c%C3%B3digo-de-
hamurabi.png>. Acesso em: 18 mar. 2020.
Contendo cerca de 282 (duzentos e oitenta e dois) dispositivos legais que 
privilegiavam o conhecido “princípio da Lei de Talião” (do latim lex talionis, que 
significa “tal qual”), é considerado um importante documento histórico e uma 
das primeiras legislações escritas, ao lado de outros documentos, como o Código 
de Ur-Nammu, datado no ano de 2050 a.C., com escrita em língua Suméria e 
conhecido como Código de Lipit-Ishtar de Isin. 
Lançando um olhar atento ao Código de Hamurabi não é difícil perceber 
que, apesar de buscar estabelecer um limite para as vinganças privadas, as penas 
são muito severas e de natureza retributiva: pagava-se o mal com o mal e com “a 
mesma moeda”. 
Entre os antigos gregos, Platão (428/427 a 348/347 a.C.), em sua obra “A 
República”, afirma que “o ouro do homem sempre foi motivo de seus males”, 
demonstrando, assim, sua convicção de que fatores socioeconômicos são causas 
de crimes, porque “onde há gente pobre haverá patifes e vilões” (PLATÃO, 2000, 
p. 135). 
Já Aristóteles (384-322 a.C.), buscando a causa dos delitos, em sua obra 
“A Política”, advertia que “a miséria engendra rebelião e delito” (ARISTÓTELES, 
2017, p. 248) e que delitos graves são cometidos para se possuir o supérfluo. 
Preocupou-se também com o caráter dos delinquentes, analisando, além da 
reincidência, fatores atenuantes que deveriam ser levados em conta em um 
julgamento.Em Roma, no ano de 452 a.C., foi promulgada a Lex Duodecimum Tabularum 
(Lei das XII Tábuas), a qual tinha como objetivo retirar a incerteza do direito 
por meio de códigos devido à arbitrariedade dos magistrados patrícios contra 
a plebe. Foi a primeira forma de codificação do direito romano, cuja elaboração 
teve como base os costumes existentes. 
UNIDADE 1 | CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
6
A Lei das XII Tábuas, embora abarcando distintas áreas do direito, 
privilegia o que atualmente chamamos de área penal, contendo penas cruéis. 
A Tábua de número VIII é direcionada ao delito. Aplicava-se pena de morte: à 
difamação, contra o cidadão púbere que prejudica à noite as colheitas, incendiário 
lúcido e deliberado, para ladrão noturno, para ladrão diurno que se defendesse 
com arma, escravo apanhado em flagrante de roubo, contra falso testemunho, 
homicídio, contra feitiçaria ou envenenamento e para levantadores de motins 
noturnos.
FIGURA 2 – FRAGMENTO DAS XII TÁBUAS
FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-mvdCywO_tIU/VgPXEc4AS-I/AAAAAAABAYE/9vu1TyaU6qc/
s1600/12-tabuas-250x250.jpg>. Acesso em: 18 mar. 2020.
Ainda, os romanos aplicavam a “Lei de Talião”, lógica punitiva comum 
entre os antigos, em casos de lesão corporal e pena pecuniária para reparação por 
injúria, reparação pelo prejuízo causado injusta, mas acidentalmente e prejuízo 
causado por animal. 
FIGURA 3 – A CRUEL PENA DE CRUCIFICAÇÃO
FONTE: <https://truttafario.files.wordpress.com/2013/07/crucificar-3.jpg>. Acesso em: 18 mar. 2020.
TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE CRIME NA SOCIEDADE OCIDENTAL
7
A pena de crucificação praticada pelos romanos e aplicada para os não 
romanos, acredita-se ter sua origem na Pérsia e levada ao mundo ocidental por 
Alexandre (330 a.C.). É considerada a pena romana cruel por excelência e aplicada 
como forma de demonstração do poder imperial de Roma. 
A figura anterior reproduz a maior crucificação da história. Em meio a uma 
Roma destroçada por crise política e social, no ano de 71 a.C. foram crucificadas, 
em um só dia, 6 mil pessoas que haviam se rebelado em uma das maiores guerras 
civis da história, conhecida como a Terceira Guerra Servil. Narram os documentos 
da época que o cheiro de corpos em decomposição era tal que a estrada principal 
que levava a Roma tornou-se intransitável! 
Como você já deve ter percebido, a criminalização e a penalização, desde 
os primórdios da humanidade, estão intimamente relacionadas à manutenção e ao 
exercício do poder, sendo os rebeldes e “indesejáveis” comumente exterminados 
em nome da justiça. 
É particularmente interessante as considerações de Zaffaroni (2013) acerca 
da relação entre o fim do império romano e o aumento das contradições sociais 
que se manifestou com a impressionante e violenta verticalização do poder, ou 
seja, quando o poder político era centralizado pelo imperador, exercido “desde 
cima” sem consulta ao Senado ou qualquer instituição representativa.
 
Quando Roma passou da república ao império seu poder punitivo 
se fez muito mais forte e cruel. No entanto, Roma caiu praticamente 
sem que ninguém a empurrasse; seus imperadores eram generais 
que brincavam de golpe de Estado, passavam o tempo intrigando ou 
neutralizando as intrigas, e em seus momentos de ócio se divertiam 
com amantes e escravos núbios. Os costumes se relaxaram, dizem 
os moralistas, porém, Roma não caiu por causa das amantes ou dos 
escravos, mas sim porque a estrutura vertical que proporciona o poder 
colonizador, imperial, logo se solidificou até imobilizar a sociedade, as 
classes tornaram-se castas, o sistema perde flexibilidade para adaptar-
se às novas circunstâncias, torna-se vulnerável aos novos inimigos. 
Chegaram os bárbaros com suas sociedades horizontais que ocuparam 
os territórios quase caminhando, e o poder punitivo desapareceu 
quase por completo (ZAFFARONI, 2013, p. 21).
O exercício do poder centralizador e, portanto, vertical romano, exercido 
através da violência, parecia ter desaparecido com a formação dos reinos bárbaros 
até os séculos XII e XIII, quando os novos donos do poder decidem retomar as 
práticas de confisco de bens e vai se delineando o sistema inquisitorial medieval, 
que lançará as bases do pensamento punitivo moderno. 
O surgimento da Inquisição na Idade Média é uma espécie de retomada 
de práticas judiciárias romanas imperiais, quando a verdade processual passa a 
ser obtida pela interrogação, inquisitivo, superando o antigo modelo dos ordálios. 
UNIDADE 1 | CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
8
“Ordálios” eram as chamadas “provas de Deus”, praticados pelos povos bárbaros. 
Era um tipo de “prova judiciária” para determinar a culpa ou inocência de um culpado 
através da submissão a situações, como caminhar sobre brasas, enfiar a mão em óleo 
fervente etc., cujo resultado era interpretado como resposta ou juízo divino. Paulatinamente, 
com o avanço do poder da Igreja, o uso dos ordálios foi caindo em desuso, até que o 
Papa Inocêncio III, no IV Concílio de Latrão, em 1215, proíbe que o clero cooperasse em 
julgamentos por “fogo ou água”, substituindo-os pela confissão ou compurgação (misto de 
juramento e testemunho).
NOTA
As necessidades políticas de estabelecer um controle simultâneo sobre 
a criminalidade comum e a heresia (misto de grave crime político e religioso) 
encontra no mecanismo inquisitorial um excelente sistema para reprimir qualquer 
resistência e oposição ao “saber oficial”. 
O conhecimento construído pelos canonistas, especialistas em Direito 
Canônico, resultante da revitalização do Corpus Iuris Civilis (Código de Justiniano) 
no século XII pela Universidade de Bolonha, permite ao clero formular mudanças 
no procedimento processual fundadas em uma teocracia radical, ou seja, uma 
forma de governo de fundamento religioso, que centrava no Poder Papal todo o 
poder político. 
Assim, vai se consolidando uma nova classe de profissionais do direito 
e ao mesmo tempo também se disseminou uma forma de solucionar conflitos, 
uma prática processual, cuja marca era a racionalidade e a técnica. Além de 
ter introduzido o processo escrito – autos –, que passou a exigir de um corpo 
de escrivães auxiliares a escrita processual, o processo passa a exigir termos e 
fórmulas específicas e, assim, a lógica de técnica vai assumindo relevância. Com 
o trabalho dos canonistas, o processo torna-se um procedimento técnico que deve 
ser transcrito. 
Nesta etapa da história, ao se identificar delito como pecado, ser 
consolidada uma rede de burocratas e edificado um eficiente sistema de 
repressão, criam-se os instrumentos necessários para o “combate à heresia” 
(crime grave, considerado de lesa-majeste) e punição de seu agente: o herege, 
um instrumento do demônio.
 
Santo Agostinho, mil anos antes da Inquisição, escreve “A Cidade de 
Deus” (De Civitate Dei) no século V, e já afirmava que havia “dois mundos” em 
permanente combate: o de Deus e o de Satã, dedicando-se Satã e seus agentes 
(anjos caídos) a tentar a Deus. Portanto, para os humanos não havia alternativa, 
ou se estava ao lado de Deus ou do Demônio. 
TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE CRIME NA SOCIEDADE OCIDENTAL
9
Desde tal concepção e com os instrumentos de ação criados, a Igreja, 
aliada a Reis interessados em consolidar seu poder, coloca em funcionamento 
uma autêntica “máquina” de poder dedicada ao “combate do mal”. 
Nessa época, foi inventada a Teoria do Pacto Satânico:
Satã não podia atuar sozinho, necessitava da cumplicidade de 
humanos (não me perguntem o porquê, porque não sei). Para isso 
havia humanos que celebravam um pacto com o inimigo, com Satã. Era 
um contrato de compra e venda proibido, mas que por sua natureza 
só podia ser celebrado por humanos inferiores, que eram as mulheres. 
Por quê? Por razões genéticas, biológicas: tinham um defeito de 
fábrica por provir de uma costela curva do peito do homem, o que 
contrastava com a retidão deste (não sei tampouco onde o homem éreto, mas prossigamos). Por isso, elas têm menos inteligência e, por 
conseguinte, menos fé [...]. Foi assim que a Inquisição se dedicou a 
controlar as mulheres desobedientes e levou à combustão milhares 
delas, como bruxas, por toda a Europa (ZAFFARONI, 2013, p. 28-29).
FIGURA 4 – PRÁTICA DE TORTURA: UMA FORMA LEGAL DE PRODUÇÃO DE PROVAS
FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/_98Lp2dvqd9U/TBZwSyGHIPI/AAAAAAAABFI/Y-jRdWiuGlg/
s640/0036+-+SANTA+INQUISI%C3%87%C3%83O.jpg>. Acesso em: 18 mar. 2020.
Tortura medieval da água (Figura 4): consistia em deitar a vítima numa 
maca, totalmente amarrada, seu carrasco lhe obrigava a abrir a boca, e colocando 
um funil até a garganta, ia enchendo de água, provocando a sensação de 
afogamento, a quantidade de água variava de 1 até 4 litros. Essa pena era aplicada 
mais para as mulheres.
Os canonistas, como você deve ter percebido, criam maneiras de 
aceitabilidade das provas: probabilidade, relevância e materialidade, descartando 
as provas supérfluas (que já estavam provadas no processo), as impertinentes 
(que não interessavam), obscuras (que não poderiam ser usadas com segurança), 
as inacreditáveis ou antinaturais (absurdas e impossíveis de serem aceitas). 
UNIDADE 1 | CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
10
Portanto, o sistema de provas vai assentar-se sobre o que passou a se 
chamar de “prova legal”, uma vez que sua apreciação dependia de regras 
previamente estabelecidas, como o famoso “código processual”, o Manual dos 
Inquisitores, criado por Nicolau Eymerich. Este Directorium Inquisitorum, de 1376, 
é uma espécie de modelo fundacional do direito processual penal moderno, que 
visava perseguir e punir todo aquele que representasse uma ameaça ao poder 
papal, o herege.
Para auxiliar os demonólogos em sua “divina missão”, em 1484 é publicado 
o Malleus Maleficarum ou Martelo das Bruxas, de autoria de dois inquisitores 
peculiares: Heinrich Krämer e Jakob Sprenger. 
Segundo Zaffaroni (2013), Heinrich era considerado um sujeito 
problemático, o próprio bispo acabou por suspendê-lo de suas funções porque 
além de estar exterminando quase todas as mulheres, dizia-se que ganhava muito 
dinheiro com a venda de indulgências, falsificando a recomendação do funesto 
Manual pela Universidade de Colônia, com a finalidade de conferir-lhe “validade 
acadêmica”. Já Sprenger era um conhecido e exagerado beato. Com certeza, 
ambos formaram uma “dupla perfeita” de sujeitos problemáticos sob o ponto de 
vista ético e moral para dar forma a seus delírios insanos em um livro! 
Como delírios, ao longo da história, são pretextos para encobrir crimes!
 
Na época, se um padre aparecesse nu dentro de um celeiro, contará 
que Satã o levou a um banquete e, como não quis jurar-lhe fidelidade, o 
lançou ali; se um homem santo é encontrado debaixo da cama de uma 
mulher, será porque Satã se apoderou de seu corpo para se esconder. 
[...] Os inimigos são inferiores. [...] Como não podiam eliminar todas 
as mulheres, contentam-se em queimar somente as desobedientes 
(ZAFFARONI, 2013, p. 37).
Os Inquisitores se consideravam superiores e infalíveis. Não admitiam 
seus erros. Por esta razão, afirmavam que nunca houve erros, mesmo quando 
mentiam ou deixavam de cumprir acordos com os hereges para obter confissões, 
porque se autoconsideravam imunes e “protegidos” por Deus. De certa forma, 
os inquisitores acreditavam que possuíam uma missão salvadora e que o método 
utilizado para torturar e enganar era “abençoado” e, portanto, infalível, até 
porque, graças a seus métodos, a “confissão brotava” dos lábios dos supliciados. 
TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE CRIME NA SOCIEDADE OCIDENTAL
11
FIGURA 5 – O MARTELO DAS FETICEIRAS
FONTE: <http://www.dhnet.org.br/dados/livros/memoria/mundo/feiticeira/malleus2.jpg>. Acesso 
em: 18 mar. 2020.
Em síntese, a Inquisição foi e, até certo ponto, continua sendo uma 
mentalidade que permanece viva. Consistiu em um movimento político-religioso 
que em nome do combate ao demônio promoveu a perseguição indiscriminada 
e intolerante à diversidade, seja de crença ou opiniões, alimentada pela 
intolerância. Sem dúvida, foi uma estrutura de poder mantida pelo terror que 
não desapareceu e foi repetida, como prática, por inúmeros regimes políticos 
totalitários modernos. Pode-se afirmar que a Idade Média, como mentalidade, 
não acabou! Os “transgressores” permanecerão na história e serão perseguidos 
por aqueles que os consideram “inconvenientes”.
2.2 O LIBERALISMO E A REDEFINIÇÃO DA FUNÇÃO 
PUNITIVA
Por volta dos séculos XVII e XVIII as fogueiras da Inquisição foram parando 
de arder e os princípios humanistas e racionalistas do moderno liberalismo 
ganharam relevância. Para os juspenalistas e filósofos que iam emergindo, o 
Estado Liberal que ia se delineando representava uma contraposição ao Estado 
Absolutista e começava a ser considerado como único ente legítimo a deter o 
monopólio do direito de punir.
UNIDADE 1 | CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
12
Estado Absolutista ou Monárquico é o modelo político construído entre os 
séculos XVI e XVII, quando os senhores feudais perdem força política e econômica e os 
benefícios concedidos à nobreza passam a crescer e o poder centraliza-se de maneira 
ilimitada nas mãos dos monarcas, destacando-se como exemplo Portugal, França, Itália e 
Inglaterra. 
Com as chamadas Revoluções Burguesas, como a Revolução Gloriosa (1688-1689) na 
Inglaterra e a Revolução Francesa (1789), os Estados absolutos dos monarcas dão lugar 
aos Estados Liberais, definidos como modelos políticos com tripartição de poderes – 
Legislativo, Executivo e Judiciário – nos quais a intervenção estatal é mínima. Parte-se do 
pressuposto ideológico de que todo homem nasce livre e igual e a liberdade em todos 
os níveis deve ser assegurada pelo distanciamento da “máquina” política do Estado. Os 
Estados Liberais possuem a limitação de poder pelas Constituições, que também servem 
para garantir direitos dos cidadãos contra o arbítrio do Estado. 
IMPORTANT
E
Em tal perspectiva, o livre-arbítrio é considerado um verdadeiro dogma e 
o criminoso, indivíduo que dotado de vontade livre e consciente (capacidade de 
optar, de escolher entre o bem e o mal; entre o certo e o errado) escolhe delinquir. 
Assim, a ação criminosa é considerada como imoral, já que o indivíduo, podendo 
escolher, elege infringir a lei do Estado. Na esteira desse pensamento, portanto, o 
crime é entendido como ato de vontade e a pena um mal justo que se contrapõe a 
um mal injusto de caráter essencialmente retributivo. 
 
Baratta (2002, p. 31) assim sintetiza o pensamento da Escola Liberal:
Como comportamento, o delito surgia da livre vontade do indivíduo, 
não de causas patológicas, e por isso, do ponto de vista da liberdade 
e da responsabilidade moral pelas próprias ações, o delinquente não 
era diferente, segundo a Escola clássica, do indivíduo moral. Em 
consequência, o direito penal e a pena eram considerados pela Escola 
clássica não tanto como meio para intervir sobre o sujeito delinquente, 
modificando-o, mas sobretudo como instrumento legal para defender a 
sociedade do crime, criando, onde fosse necessário, um dissuasivo, ou 
seja, uma contramotivação em face do crime. Os limites da cominação e 
da aplicação da sanção penal, assim como as modalidades de exercício 
de poder punitivo do Estado, eram assinalados pela necessidade ou 
utilidade da pena e pelo princípio da legalidade. 
O principal expoente da luta contra o absolutismo é Cesare Bonesana, o 
Marquês de Beccaria (1738-1794), que em 1764, ao publicar Dei Delitti e Delle Pene 
(Dos Delitos e Das Penas), redefine o sistema punitivo dominante.
TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE CRIME NA SOCIEDADE OCIDENTAL
13
FIGURA 6 – CESARE BECCARIA
FONTE: <http://criminologytoday.com/images/beccaria.jpg>. Acesso em: 18 mar. 2020.
O impacto do manifesto de Beccaria se deve pela capacidade de expressar 
as convicções do pensamento iluminista, constituindoum marco do pensamento 
liberal, que encontra no contrato social o novo fundamento e legitimidade para o 
direito de punir.
É sob tal perspectiva que Beccaria (2005, p. 41, grifos nossos) justifica a 
origem das penas:
As leis são condições sob as quais homens independentes e isolados 
se uniram em sociedade, cansados de viver em contínuo estado 
de guerra e de gozar de uma liberdade inútil pela incerteza de sua 
conservação. Parte desta liberdade foi por eles sacrificada para 
poderem gozar o restante com segurança e tranquilidade. A soma 
dessas porções de liberdade sacrificada ao bem comum forma a 
soberania de uma nação e o soberano é o seu legítimo depositário e 
administrador. Mas não bastava constituir esse depósito, havia que 
defendê-lo das usurpações privadas de cada homem particular, o qual 
sempre tenta não apenas retirar do depósito a porção que lhe cabe, 
mas também apoderar-se daquela dos outros. Faziam-se necessários 
motivos sensíveis suficientes para dissuadir o espírito despótico de 
cada homem de novamente mergulhar as leis da sociedade no antigo 
caos. Esses motivos sensíveis são as penas estabelecidas contra os 
infratores da lei.
 Incomodado por um ambiente de generalização de castigos 
constrangedores, torturas e violência indiscriminada, Beccaria é um porta-voz da 
defesa da condição humana clamando por leis claras, justas e precisas. 
UNIDADE 1 | CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
14
Invocando a razão e o sentimento de humanidade, denuncia a 
arbitrariedade dos julgamentos secretos, das penas infamantes e da atrocidade dos 
suplícios. Defende o direito de punir a partir de sua utilidade social, declarando 
inútil a pena de morte, sobretudo, postulando o princípio de proporcionalidade 
das penas com relação aos delitos. É famosa sua frase: “Para que uma pena 
seja justa, deve ter apenas o grau de rigor para desviar os homens do crime” 
(BECCARIA, 2005, p. 27).
Pena infamante: é o nome que se dá a penas que causam desonra, vergonha, 
constrangimento ou aviltamento ao apenado, acreditando-se que provoque uma 
desaprovação social capaz de impedir que o sujeito volte a delinquir. São exemplos de 
penas infamantes: raspar o cabelo, marcar o rosto com ferro ou ser obrigado a usar “cone” 
na cabeça como chapéu etc. 
Leia mais em: https://oimpacto.com.br/2016/10/13/uma-pena-infamante/.
IMPORTANT
E
Do conjunto de ideias da obra de Beccaria (2005), podem-se destacar como 
conceitos principais:
• Apenas as leis (elaboradas pelo legislador) podem fixar as penas aplicadas aos 
delitos.
• A lei deve ser abstrata e genérica e que a um terceiro órgão, o Poder Judiciário, 
cabe a análise da perfeita adequação do fato à norma.
• Absoluta impossibilidade de que a lei seja interpretada.
• Combate a pena de morte por três razões: ilegitimidade, inutilidade e desnecessidade.
• A pena poderia unicamente atingir direitos renunciáveis, os direitos que o 
indivíduo pode dispor como o direito de propriedade, dentre os quais não faz 
parte o direito à vida.
Hipóteses excepcionais, para Beccaria (2005), em que a pena de morte é 
aceitável:
a) Quando o condenado, mesmo punido, privado de sua liberdade, permanece 
com ações e/ou práticas que sejam ameaças ao poder constituído, tornando 
necessária a execução. 
b) Quando se predomina a anarquia, em detrimento das leis, e a morte seja o 
único freio a inibir a prática dos delitos.
Finalmente, o grande princípio de Beccaria (2005): a proporção entre os 
crimes e as penas, que pode ser resumida nos seguintes postulados: 
TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE CRIME NA SOCIEDADE OCIDENTAL
15
• A defesa de que a pena não passe da pessoa do condenado.
• A desaprovação da pena de confisco, ou seja, punir com a retirada dos bens 
patrimoniais, porque atinge inocentes, como os familiares do condenado, 
levando-os à prática de novos delitos.
• Nenhuma lei que não tenha força suficiente para vigorar, tornando-se 
insubsistente, deverá ser promulgada, devendo-se evitar as leis inúteis.
• O freio que inibe a criminalidade não é a crueldade da pena, mas a certeza de 
sua aplicação.
• Com relação à tortura, sustenta que o sofrimento imposto não é o caminho 
para a busca da verdade, mas apenas se comprova a resistência física do 
atormentado; porque a tortura é o meio seguro para absolver os delinquentes 
de constituição resistente e condenar os inocentes fracos e debilitados.
• O alto valor atribuído à confissão deve-se à confusão abusiva com preceito 
religioso, consistente na confissão dos pecados.
Entretanto, não apenas Beccaria adota as ideias iluministas. Na Itália, 
Gian Domenico Romagnosi (1761-1835), ao publicar Genesi del diritto penale (1791) 
e Filosofia del diritto (1825), concebe o Direito Penal (leis sociais) como conjunto de 
leis naturais conhecidas pelo homem através da razão e anterior às convenções 
humanas. O princípio essencial do direito natural, para Romagnosi (1956), é 
a conservação da espécie humana e a obtenção da máxima utilidade, do qual 
derivam três relações ético-jurídicas fundamentais: o direito e o dever de cada um 
de conservar a própria existência, o dever recíproco dos homens de não atentar 
contra sua própria existência e o direito de cada um de não ser ofendido por 
outro. 
De forma semelhante a Beccaria, entende que o fim da pena é a defesa 
social, já que funcionaria como um contraestímulo com relação ao impulso do 
criminoso para impedir os crimes. Essa convicção é afirmada nas famosas palavras 
de Romagnosi (1956): se depois do primeiro delito existisse uma certeza moral de que 
não ocorreria nenhum outro, a sociedade não teria direito algum de punir um delinquente.
Na Inglaterra, Jeremias Bentham (1748-1832) considerava que a pena se 
justificava por sua utilidade: impedir que o réu cometa novos crimes, emendá-lo, 
intimidá-lo, protegendo, assim, a coletividade. Já na Alemanha, Anselmo Von 
Feuerbach (1775-1833) opinava que o fim do Estado é a convivência dos homens 
conforme as leis jurídicas. A pena, segundo ele, coagiria física e psicologicamente 
para punir e evitar o crime.
Para saber o que é Iluminismo, sugerimos a leitura de um breve texto, disponível 
em: https://www.infoescola.com/historia/iluminismo/.
DICAS
UNIDADE 1 | CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
16
Em síntese, o pensamento punitivo liberal dos séculos XVIII e XIX resulta 
em absoluta separação entre a esfera jurídica e a esfera moral, compreendendo-
se, a partir desta perspectiva, a função da pena como de defesa social, ou seja, 
punir é o meio de eliminar o perigo social que poderia advir da impunidade, 
sendo a ressocialização um resultado desejável, porém acessório.
2.3 A IDEOLOGIA DA DEFESA SOCIAL
Em que pese as distinções, as diferentes teorias sobre crime compreendem 
que as causas do delito são relacionadas ao criminoso, delegando a tarefa de 
definir o crime para o direito, tendo como pressuposto de que cabe ao Estado, 
através do direito, a função de defender a sociedade do “outro”, do “deformado”, 
daquele que escolhe delinquir. 
Desde tal ótica, acaba por se criar a lógica de que o Estado, através do 
Direito Penal com seu conjunto de normas que definem pena e determinam 
penas, detém o poder político legítimo de reprimir o criminoso, que é um risco 
para a vida em sociedade. É esta, em síntese, a ideologia da defesa social, e 
constitui um dos fundamentos legitimadores da ação punitiva do Estado através 
do direito penal, para o qual é conferido um papel técnico dogmático justificador 
e racionalizador do controle social.
Ideologia é um conceito modificado historicamente em distintos períodos. 
Entretanto, o maior enfoque é dado ao seu significado, que se relaciona com o processo pelo 
qual as ideias da classe dominante se tornam universais, legitimando, assim, a dominação 
e a exploração dos detentores do poder econômico e político. Em síntese, é clara a 
percepção de que as ideologias são “fabricadas” no intuito de difundir os ideais dominantes 
e torná-los gerais.Ideologia pode ser definida como um conjunto de representações e de 
normas que fixam e prescrevem de antemão o que se deve e como se deve pensar, agir 
e sentir. Com o objetivo de impor os interesses particulares dos grupos dominantes, esse 
conjunto de ideias produz uma universalidade imaginária. A eficácia da ideologia depende, 
justamente, da sua capacidade de produzir um imaginário coletivo, cujo interior dos 
indivíduos possam localizar-se, identificar-se e, pelo autorreconhecimento assim obtido, 
legitimar involuntariamente a divisão social. 
FONTE: CHAUÍ, M. O que é ideologia. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 
2008.
NOTA
TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE CRIME NA SOCIEDADE OCIDENTAL
17
A ideologia da defesa social – ou de justificativa final do sistema punitivo 
–, nasceu contemporaneamente à revolução burguesa, no século XIX, que teve na 
criação dos modernos códigos penais seu elemento principal, razão pela qual as 
leis penais passam a ser a base referencial da definição e controle do crime. 
Sinteticamente, o conteúdo da ideologia da defesa social pode ser 
resumido nos seguintes princípios:
Princípio de Legitimidade: o Estado como expressão social, é legítimo 
para reprimir a criminalidade através de instituições oficiais de controle 
(legislação penal, polícia, magistratura, instituição penitenciária) como 
enfrentamento aos sujeitos responsáveis pelo crime (o criminoso).
Princípio do bem e do mal: o delito é um dano social e o criminoso é 
um elemento negativo para a correta funcionalidade do sistema social. 
Portanto, o crime é um desvio (um mal) da sociedade (um bem).
Princípio de Culpabilidade: o delito é a expressão de uma atitude 
interior reprovável, porque é contrária aos valores e às normas sociais 
recepcionadas e sancionadas pelo legislador.
Princípio da Finalidade ou da Prevenção: a pena possui como 
finalidade prevenir o crime e não somente caráter retributivo. Sua 
função é servir como contramotivação ao comportamento delitivo que 
também ressocializa.
Princípio da Igualdade: o crime é uma violação à lei e como tal é um 
comportamento adotado por uma minoria desviada. A pena é igual 
para todos e a reação penal se aplica de modo igual a todos os autores 
dos delitos.
Princípio do Interesse Social e do Delito Natural: o núcleo central 
dos delitos definidos nos códigos penais representa uma ofensa aos 
interesses fundamentais, às condições essenciais para a vida em 
sociedade. Os interesses protegidos pelo direito penal são interesses 
gerais e comuns a todos os cidadãos (BARATTA, 2002, p. 42). 
A ideologia de defesa social encontra na ciência e dogmática penal 
moderna, a expressão de seus princípios ideais. Segundo Baratta (2002), mais 
que um elemento técnico legislativo ou dogmático, o conceito de defesa social 
possui uma função justificadora daqueles. É um conceito que foi produzido 
historicamente e absorvido pelo discurso jurídico moderno.
Dogmática penal é o complexo de normas jurídico-penais vigentes em um 
Estado, assim chamada porque a norma atua como dogma, isto é, imperativo indeclinável 
e, como tal, o respectivo preceito precisa ser acatado. O mesmo que Direito Penal positivo.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/topicos/291097/dogmatica-penal.
NOTA
UNIDADE 1 | CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
18
O discurso da defesa social fascinou os penalistas e a sociedade moderna. 
Eram encantadoras as ideias sobre o crime em fins do século XIX e deveriam ser 
absorvidas pela ciência penal. 
Tal empreendimento intelectual foi levado a cabo pelo penalista alemão 
Franz Von Liszt (1851-1919), que compreendia a ciência do direito penal como 
composta por três partes: 
• a dogmática – estritamente jurídica, teria a função de proteger o cidadão contra 
o arbítrio do Estado (uma autêntica “Magna Carta” do delinquente);
• a científica ou criminológica – caberia o estudo das causas do delito e efeitos da 
pena sob os fundamentos das ciências naturais;
• a político-cultural – estabeleceria as linhas de ação do sistema punitivo. Liszt 
desenvolve um programa – conhecido como “Programa de Marburgo” – em 
1882, que define as bases do que viria a ser o Direito Penal Moderno.
Embora havendo resistência por parte dos penalistas da época, 
vinculados ao positivismo jurídico, que defendiam o fortalecimento da lei escrita, 
identificando-se assim o justo com o lícito, as ideias de Liszt tiveram grande 
repercussão no direito penal ocidental em geral. 
Portanto, os fundamentos do direito de punir, restritos ao Estado e 
dirigidos contra o que científica e legalmente é definido como “perigoso” (modelos 
de periculosidade individual e social), são elaborados sob a matriz do estrito 
legalismo criminológico e jurídico, permitindo compreender o funcionamento e a 
legitimidade do sistema punitivo moderno. O direito de punir é restrito política 
e tecnicamente ao Estado, que também assume a tarefa de garantir condições 
através de ações e intervenções públicas para que os cidadãos não cometam 
crimes.
“Positivismo jurídico” é a doutrina ou concepção política e jurídica segundo 
a qual não existe outro direito senão o direito positivo, que é o direito posto pelo Estado 
através das normas jurídicas. 
FONTE: BOBBIO, N. O positivismo jurídico: lições de filosofia de direito. Tradução de 
Márcio Pugliesi. São Paulo: Ícone, 1999, p. 26.
NOTA
Neste sentido, portanto, o discurso dominante é o de que a sanção estatal 
(através do sistema punitivo, que inclui direito penal, dogmática penal, sistema 
penitenciário e política criminal) é justificável e legítima porque é “bondosa” 
ao promover não apenas a coação aos não desviados, mas os meios para que o 
criminoso (desviado social) não volte a delinquir e seja integrado no meio social.
TÓPICO 1 | A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE CRIME NA SOCIEDADE OCIDENTAL
19
FIGURA 7 – O MONOPÓLIO DO CONTROLE DA VIOLÊNCIA PELO ESTADO
FONTE: <http://ratinhonoticias.com.br/wp-content/uploads/2019/09/Opera%C3%A7%C3%A3o.
jpeg>. Acesso em: 18 mar. 2020.
Segundo Pavarini e Giamberardino (2011), em seus operadores, uma 
absolutização dos interesses e valores dos órgãos punitivos, através da certeza 
de que eles são detentores do direito, vai sendo desenvolvida e sustentada nas 
instituições em que os cidadãos devem se submeter, predominando os valores 
e interesses do Príncipe (interesse público ou de Estado) sobre os dos súditos 
(cidadãos). 
20
Neste tópico, você aprendeu que:
• “Crime” é um fenômeno complexo que não pode ser compreendido a partir de 
uma única definição, uma vez que se trata de um conceito político, jurídico e 
social elaborado ao longo da história do pensamento ocidental. 
• Ao longo da história, crime foi associado a distintas causas, de acordo com as 
relações de poder e avanço técnico científico da sociedade humana, passando 
de violação à vontade dos deuses a pecado até a Idade Média. Na Modernidade, 
com uma lógica racional e técnica, crime passa a ser definido de maneira 
dominante pelo Direito Penal, que tem no Estado o centro privilegiado de 
produção e aplicação da norma penal. 
• A ideologia da defesa social, como um conjunto de ideias e conceitos 
dominantes, segundo o qual o criminoso é um ser perigoso e que atenta contra 
a ordem social, é um dos justificadores da predominância do conceito jurídico 
de crime, compreendendo-o como conduta que viola a lei posta pelo Estado. 
RESUMO DO TÓPICO 1
21
1 Embora o crime seja um fenômeno que comporta análise e conceituação 
desde os distintos campos do conhecimento, o certo é que ao longo da história 
ocidental foram elaboradas diversas formas de punir comportamentos 
entendidos como violadores das leis morais, religiosas ou políticas. Um 
marco histórico é o Código de Hamurabi, datado do século XVIII a.C. 
aproximadamente. Acerca da importância jurídica do referido Código, 
assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Sua importância é porque foi a primeira lei escrita da humanidade quese tem notícia.
b) ( ) Apesar do rigor das penas, buscou estabelecer um limite para a vingança 
privada.
c) ( ) Faz parte da Bíblia Sagrada e é parte do decálogo de Moisés.
d) ( ) Foi o primeiro conjunto de leis romanas escritas. 
2 Os romanos antigos acabaram por edificar um imenso império que se 
alastrava por todo o mundo antigo conhecido. Na busca de garantir o 
mínimo de certeza nas relações humanas no século V a.C., começam a ser 
elaboradas as primeiras leis escritas. Embora o direito romano tenha sido mais 
sofisticado no campo das relações privadas, no que atualmente chamamos 
de Direito Civil, havia penas impostas às condutas consideradas criminosas. 
Acerca do tipo de pena de morte mais cruel e usada pelos romanos, assinale 
a alternativa CORRETA:
a) ( ) Era aplicada a pena de crucificação para os criminosos não romanos. 
b) ( ) A pena de morte para os romanos de origem era a crucificação e para os 
não romanos o enforcamento.
c) ( ) A pena de morte não era usada pelos romanos e sim pelos estrangeiros 
que viviam sob o domínio de Roma. 
d) ( ) Para os romanos havia preocupação com a aplicação de penas para 
crimes cometidos por cidadãos de Roma e não por estrangeiros. 
3 Na Idade Média, com a consolidação do poder da Igreja, forma-se uma 
categoria de intelectuais e estudiosos do Direito chamados de canonistas. 
Essa categoria de juristas reformulou o procedimento processual, ganhando 
relevância as novas formas de investigar, processar e julgar crimes, 
principalmente os de heresia, considerados extremamente graves. A essa 
forma processual, difundida na fase medieval pelos Tribunais Canônicos, 
foi dado o nome de: 
a) ( ) Notarial.
b) ( ) Judicial.
c) ( ) Inquisitorial.
d) ( ) Sacrificial. 
AUTOATIVIDADE
22
4 Apesar do grande poder da Igreja, a partir do século XVII as fogueiras 
da Santa Inquisição foram parando de arder. Nesta etapa, inaugura-se 
paulatinamente uma nova forma de pensar acerca do crime e da punição. É 
a etapa do liberalismo. Sobre as características da concepção de crime para o 
pensamento liberal, analise as sentenças a seguir:
I. Para o pensamento liberal, o crime é uma livre escolha do indivíduo, que 
opta pela violação da lei do Estado.
II. Sendo o crime uma escolha livre e consciente de um indivíduo, a pena é um 
mal que se impõe retributivamente a um outro mal. 
III. Delinquir não é uma escolha individual, mas uma consequência do poder 
do Estado. 
IV. Para o pensamento liberal, o crime não é uma conduta imoral e sim uma 
escolha livre e consciente. 
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas. 
b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas. 
d) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
23
TÓPICO 2
O CONCEITO JURÍDICO DE CRIME
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A questão criminal é bastante complexa, uma vez que são múltiplos os 
fatores subjacentes ao processo de criminalização. Portanto, não é possível um 
conceito absoluto e imutável de crime. São inúmeras as determinantes do crime 
de criminalização, podendo, portanto, o fenômeno ser analisado pelos distintos 
campos do conhecimento. 
No Direito Penal, as políticas públicas de segurança e ações voltadas para 
o controle e enfrentamento da criminalidade possuem como ponto de partida o 
conceito jurídico penal de crime. 
O Direito Penal, através de um conjunto de normas, estabelece que uma 
conduta é delituosa ou não e se, por via de consequência, cabe a aplicação de uma pena. 
Sem dúvida, o crescimento da violência na sociedade brasileira 
contemporânea tem exigido uma melhor resposta a esse dramático fenômeno e, 
para tanto, um dos pontos mais importantes é a compreensão do conceito jurídico 
penal de crime e seus elementos caracterizadores. 
2 CONCEITO JURÍDICO PENAL DE CRIME
Para o pensamento moderno, com a consolidação do Estado, o conceito de 
crime é estabelecido pelo Direito Penal e este passa a ser a concepção dominante 
para a definição de crime. 
FIGURA 8 – “THEMIS”: A DEUSA GREGA SÍMBOLO DA JUSTIÇA
FONTE: <https://veja.abril.com.br/brasil/moradores-do-norte-e-nordeste-tem-pior-acesso-a-
justica/>. Acesso em: 18 mar. 2020.
UNIDADE 1 | CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
24
“Crime” é um fenômeno que pode ser conceituado por distintas concepções 
e categorias; no âmbito do estudo do Direito Penal, é um conceito jurídico, uma 
vez que crime, criminalidade e criminalização são questões complexas. 
• Conceito material de crime: é a categoria ou conceito que define crime 
considerando a relevância da conduta, a fim de identificar e caracterizar ou 
não a importância sociojurídica do comportamento, isto é, com a intenção de 
classificá-lo como criminoso. É o que poderíamos chamar de “reprovação” 
social por ferir um bem protegido pelo direito.
Define-se crime como “toda ação ou omissão consciente e voluntária, 
que, estando previamente definida em lei, cria um risco juridicamente proibido 
e relevante a bens jurídicos considerados fundamentais para a paz e convívio 
social” (LENZA, 2012, p. 265). Em outras palavras, trata-se de uma conduta 
antijurídica, contrária ao justo, que lesa um bem juridicamente protegido. 
• Conceito formal de crime: define crime considerando as consequências 
jurídicas previstas em lei. É o indicador técnico que permite identificar o ilícito 
penal dentro do ordenamento jurídico. 
Exemplificando: compare os seguintes dispositivos legais: 
• Art. 389 do Código Civil: não cumprida a obrigação, responde o devedor por 
perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais 
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. 
• Art. 129 do Código Penal: ofender a integridade corporal ou saúde de outrem. 
Pena: detenção, de três meses a um ano. 
Observe que no Art. 389 do Código Civil – inadimplemento contratual – 
não há a previsão de sanção de pena. Portanto, o inadimplemento contratual não 
pode ser considerado crime, porque não é uma conduta definida em lei como 
crime, embora sendo relevante juridicamente no campo civil e não criminal. 
Já o Art. 129 do CP – lesão corporal – prevê sanção para a conduta, portanto, 
é uma conduta definida em lei como crime, porque além de lesar um bem jurídico 
relevante – integridade física – é definida em lei como conduta criminosa. 
Desta forma, tem-se que crime é um fato típico. 
Fato típico é a conduta humana que se “molda” perfeitamente aos 
elementos previstos na lei penal. Portanto, a característica de um crime é ser um 
fato típico. Ação ou omissão descrita na lei penal.
A tipicidade é o trabalho do jurista que analisa a conduta em suas múltiplas 
faces, de modo a verificar a relação fiel, perfeita e absoluta entre a conduta e o tipo 
penal existente. Esse raciocínio é o que se chama “relação de tipicidade”.
TÓPICO 2 | O CONCEITO JURÍDICO DE CRIME
25
• Conceito analítico: preocupa-se em identificar, ordenar e sistematizar os 
elementos e a estrutura do crime, de forma a permitir a aplicação técnica e 
racional do Direito Penal. Portanto, o conceito analítico permite qualificar uma 
conduta humana como crime, considerando se a ação ou omissão é típica, 
antijurídica e culpável. 
Partindo do conceito analítico, chega-se a uma das máximas do Direito 
Penal: crime é uma ação ou omissão humana, típica antijurídica e culpável. 
Observe, então, que os conceitos se complementam. 
O crime considerado tão somente como ação ou omissão (conduta) 
proibida por lei, sob a qual incide uma sanção (conceito formal) é insuficiente, 
uma vez que restaria em aberto o elemento valorativo. O conceito material que 
define crime como ação ou omissão que contraria valores ou interesses do grupo 
social e exige sua proibição com ameaça de punição vem a complementar o 
conceito formal.
Entretanto, o conceito sistemático do delito é aquele que divide a conduta 
em seus elementos buscando identificar se possuem, em conjunto, características 
essenciais do crime, é o quepossibilita ao jurista concluir de forma inequívoca 
acerca da tipicidade da conduta.
Através dos conceitos formal, material e analítico, pode-se identificar 
os elementos essenciais de uma conduta criminosa respondendo às seguintes 
indagações diante do fato:
1. A conduta é humana?
2. A conduta identifica-se de maneira inequívoca com algum tipo penal?
3. A conduta é antijurídica ou possui alguma justificação admitida pelo Direito 
Penal (como legítima defesa ou qualquer outra excludente de culpabilidade)?
4. O autor, pessoa que cometeu o crime, possui plena capacidade de entender o 
que fez ou está fazendo? Tem capacidade de se autodeterminar? É imputável?
Caso todas as respostas sejam afirmativas, ou seja, se o fato é típico, a 
conduta é antijurídica e o autor culpável estará diante de um crime. 
Síntese:
• Crime é um fato típico: comportamento humano que se molda perfeitamente e 
sem dúvida aos elementos do modelo previsto na lei penal. Portanto, a primeira 
característica do crime é ser um fato típico, des crito, como tal, numa lei penal. 
Um acontecimento da vida que corresponde exatamente a um modelo de fato 
contido em uma norma penal incriminadora, ou seja, se há nexo de causalidade. 
• Antijurídico: conduta que fere o valor social protegido juridicamente. A 
antijuridicidade é a relação de contrariedade entre o fato típico praticado e o 
ordenamento jurídico. 
UNIDADE 1 | CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
26
• Nem todo fato típico é antijurídico. Ex. “matar alguém” (Art. 121 CP) é fato 
típico. Entretanto, não será antijurídico se o agente praticar a conduta em estado 
de necessidade, em legítima defesa etc. Portanto, não há, nessas hipóteses, crime. 
• A legítima defesa ocorre quando seu autor pratica um fato típico, previsto em 
lei como crime, para repelir a injusta agressão de outrem a um bem jurídico 
seu ou de terceiros. Tal agressão deve ser proveniente de ato humano, caso 
contrário, poderá se caracterizar como estado de necessidade e, assim como 
no estado de necessidade, a legítima defesa também pressupõe uma agressão 
atual ou iminente (prestes a ocorrer).
• Culpável: a culpabilidade é a relação entre a vontade do agente e a vontade da 
norma. Não é característica, aspecto ou elemento do crime, e sim condição para 
se impor a pena pela reprovabilidade da conduta.
• Para que se possa afirmar que determinado acontecimento da vida é um crime, 
deve debruçar-se sobre o fato e suas circunstâncias, analisando-o, decompô-
lo em suas faces mais simples, para verificar, com certeza absoluta, se entre o 
fato e o tipo existe relação de adequação exata, fiel, perfeita, completa, total e 
absoluta. Se é justificável ou não, sob o ponto de vista jurídico e, finalmente, se 
é culpável.
3 A “CONDUTA” COMO ELEMENTO DO CRIME 
A conduta – ação ou omissão – é um elemento essencial sob o aspecto 
objetivo do delito. São excluídos do âmbito da conduta os movimentos chamados 
de “reflexos”, uma vez que estão fora do domínio da vontade do sujeito. São 
movimentos que independem do impulso psíquico – do “querer”, da “vontade” 
–, a exemplo de quem, por sofrer uma convulsão, danifica coisa alheia, este não 
pratica crime. Portanto, a conduta criminalmente relevante é a que possui o 
elemento volitivo. 
Também devem ser excluídas as condutas ou movimentos executados sob 
coação exterior, irresistível e absoluta. A ação ou omissão praticada sob coação 
irresistível e absoluta não é conduta penalmente relevante. 
FIGURA 9 – “AÇÃO”: O AGIR NO SENTIDO DE PRODUZIR A LESÃO A UM BEM JURÍDICO
FONTE: <http://twixar.me/bjmm>. Acesso em: 18 mar. 2020.
TÓPICO 2 | O CONCEITO JURÍDICO DE CRIME
27
Quem pratica ação ou omissão através de coação a qual não pôde resistir não 
pratica conduta típica. O ato não é seu, mas do coator. Ao contrário, a coação moral não 
ilide a conduta porque, embora com a vontade viciada, há a conduta.
IMPORTANT
E
FIGURA 10 – COAÇÃO
FONTE: <http://twixar.me/gjmm>. Acesso em: 18 mar. 2020.
Segundo as concepções penais contemporâneas, os elementos que devem 
compor a conduta são:
• Exteriorização do pensamento: através de um movimento corpóreo ou 
abstenção indevida de um movimento. Isso significa que o direito penal não 
pune o pensamento ou mera cogitação por mais imoral, reprovável, que 
seja. Cogitationis poenam nemo patitur – ninguém pode sofrer pena pelo 
pensamento. 
• Consciência: apenas entram na esfera da ilicitude penal os atos conscientes. Se 
a conduta é praticada sem a consciência do que se faz, o ato não é ilícito. 
• Voluntariedade: a conduta deve refletir um ato voluntário, isto é, produto de 
uma vontade consciente. Como já visto, os atos “reflexos” ou coação moral 
irresistível são penalmente irrelevantes. 
Teoria finalista da Ação é uma teoria de Direito Penal que considera o crime 
como atividade humana. O principal nome e considerado criador é o alemão Hans Welzel, 
que a elaborou na década de 1930.
NOTA
UNIDADE 1 | CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
28
Deve-se entender como “conduta” o comportamento consubstanciado no 
verbo núcleo do tipo penal. Exemplo: “matar” (Art. 121 CP), “sequestrar” (Art. 
148 CP) etc. Conforme o núcleo do tipo penal, a conduta pode ser composta por 
um só ato ou de vários (esses são os chamados atos plurissibsistentes). “Matar” é 
uma conduta que pode ser exercida por uma única conduta – um disparo de arma 
de fogo, por exemplo – ou por várias, como inúmeros golpes com instrumento 
contundente na cabeça da vítima até produzir traumatismo fatal. 
Há crimes que só podem ser praticados por meio de um único ato, por 
exemplo, a injúria verbal (Art. 140 CP). Esses são os crimes unissubsistentes ou 
monossubsistentes, que são os crimes que não admitem a forma tentada.
As formas de condutas são duas: ação e omissão.
Ação é a conduta positiva e se manifesta através de um movimento 
corpóreo facere. A maioria dos tipos penais descreve condutas positivas. São as 
chamadas condutas comissivas, por serem proibitivas. É o caso, por exemplo, do 
homicídio (CP, Art. 121), furto (CP, Art. 155), roubo (CP, Art. 157), apropriação 
indébita (CP, Art. 168), estelionato (CP, Art. 171), estupro (CP, Art. 213), ato 
obsceno (CP, Art. 233) etc.
Omissão é a conduta negativa, a que consiste na abstenção de um 
movimento (non facere). Nos crimes omissivos há na norma penal um 
mandamento imperativo. 
FIGURA 11 – OMISSÃO: DEIXAR DE FAZER ALGO DE FORMA A CONTRIBUIR PARA A LESÃO OU 
OFENSA A UM BEM JURÍDICO
FONTE: <https://thumbs.jusbr.com/filters:format(webp)/imgs.jusbr.com/publications/artigos/
images/omissao-direito-pena-concursos-png.png>. Acesso em: 18 mar. 2020.
Observe a “charge” anterior. Ela faz alusão à prática de crime de omissão! 
No caso há a caracterização de uma conduta típica, que é a omissão de socorro, 
crime previsto no Art. 135 do CP: 
Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem 
risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa 
inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou 
não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta 
lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
TÓPICO 2 | O CONCEITO JURÍDICO DE CRIME
29
Você entendeu a diferença entre ação e omissão? 
• Ação: é um fazer proativo. É atuar, agir, conforme previsto na lei, constituindo 
um fato típico. Ex.: matar, furtar, roubar, ludibriar etc.
• Omissão: é o oposto, uma não atuação. É deixar de fazer o que o agente poderia 
ou deveria fazer. Para o Direito Penal, omissão é deixar de fazer o que a lei 
determina. Ex.: omissão de socorro.
Há normas de condutas comissivas e omissivas: as condutas comissivas são 
as que não atendem a preceitos proibitivos (a norma mandava não fazer e o agente fez), 
as condutas omissivas não atendem mandamentos imperativos (a norma mandava agir e 
o agente se omitiu).
IMPORTANT
E
a.Da Conduta Omissiva – omissão penalmente relevante
A conduta humana não se limita apenas ao exercício de uma atividade 
final positiva (o fazer), mas também na sua omissão. A omissão é uma forma 
independente de conduta humana, regida pela vontade dirigida a um fim. A norma 
jurídica sempre protege determinado bem jurídico e quando impõe a realização de 
uma conduta positiva, a omissão dessa imposição legal produz lesão à norma e ao 
bem jurídico protegido, configurando-se, assim, uma conduta omissiva. 
As formas de condutas omissivas são:
• Crimes omissivos próprios: quando existe o dever jurídico de agir. Nesses 
casos, há ausência de um segundo elemento da omissão, que é a norma 
impondo o que deveria ser feito. Havendo a inexistência do quod debeatur – 
quem deve –, aquele que tem a obrigação, a omissão perde relevância causal e 
o omitente – aquele que pratica a omissão – apenas praticará crime se houver 
tipo incriminador descrevendo a omissão como infração formal ou de mera 
conduta. Ex.: o Art. 269 do CP: “deixar o médico de denunciar à autoridade pública 
doença cuja notificação é compulsória. Pena: detenção, de 6 meses a dois anos, e multa”. 
Em resumo, os crimes omissivos próprios são os que exigem uma 
atividade do agente, no sentido de salvaguardar um bem jurídico e, sendo 
desconsiderado por omissão, produz o ajuste da conduta omissiva à situação 
tipificada. São também chamados de crimes de mera conduta, porque o tipo penal 
sequer faz referência ao resultado naturalístico. Basta tão somente que o sujeito 
tenha se omitido indevidamente, independentemente de qualquer modificação 
da realidade exterior. 
UNIDADE 1 | CRIME E CRIMINALIZAÇÃO: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
30
• Crimes omissivos impróprios: são também denominados comissivos por 
omissão. São os que o agente tinha o dever jurídico de agir, ou seja, não fez 
o que deveria ter feito. Nesse caso, há uma norma penal que prevê o que o 
omitente deveria fazer e, por essa razão, a omissão tem relevância causal. Como 
consequência, o omitente não responde só pela omissão como simples conduta, 
mas pelo resultado produzido, exceto se a ele não lhe puder ser imputado dolo 
ou culpa. Exemplo: Art. 135 do CP:
Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco 
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou 
ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, 
nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
• Crime omissivo por comissão: embora parte da doutrina não reconheça 
esse tipo de crime, deve-se mencioná-lo. Nesse tipo de crime há uma ação 
provocadora da omissão. Exemplo: o professor em sala de aula impede que 
um aluno, que está passando mal, seja socorrido. Se ele morrer, o professor 
responderá pela morte por crime omissivo por comissão. 
• Participação por omissão: ocorre quando o omitente, tendo o dever jurídico 
de evitar o resultado, concorre para ele ao quedar-se inerte. Nesse caso, 
responderá como partícipe. Quando não existe o dever de agir não se fala em 
participação por omissão, mas em conivência (crime silenti) ou participação 
negativa, hipótese em que o omitente não responde pelo resultado, mas por 
sua mera omissão (CP, Art. 135). 
Síntese: a maior parte dos doutrinadores considera como requisitos da 
omissão, analisar se o omitente tinha poder, nas circunstâncias, para executar a 
ação exigida, considerando os seguintes requisitos: 
• Conhecimento da situação típica, ou seja, sabe que está previsto em lei que 
deve agir no sentido de evitar o dano ou lesão ao bem jurídico.
• Consciência, por parte do omitente, de seu poder de ação para a execução da 
ação omitida; ou seja, sabe que pode evitar o resultado danoso. 
• Possibilidade real, física, de levar a efeito a ação exigida, ou seja, pode agir, 
pelas condições existentes, de evitar o mal. 
Se o obrigado não estiver em condições de na situação levar a efeito essa tarefa, 
poderá servir-se de um terceiro, também obrigado, ou não, a cumpri-la. Na presença de tais 
circunstâncias, verifica-se, então que o omitente tinha a real possibilidade de agir, ou seja, 
poder para executar a ação exigida, e não o fez, caracterizando-se, assim, a conduta omissiva.
IMPORTANT
E
TÓPICO 2 | O CONCEITO JURÍDICO DE CRIME
31
b. Crimes de conduta mista 
São crimes de conduta mista aqueles em que o tipo penal descreve 
uma conduta inicialmente positiva, mas a consumação se dá com uma omissão 
posterior. Por exemplo: Art. 169 CP: “Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda 
ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza. Pena – detenção, de um 
mês a um ano, ou multa”.
Observe que inicialmente a conduta é positiva, a coisa veio a seu poder 
por erro, porém, o agente apropria-se como sua. Portanto, a consumação deu-se 
por sua omissão em não entregar a coisa a quem de direito pertencia. 
FIGURA 12 – TIPOS DE CRIME
FONTE: <https://static.significados.com.br/foto/mind-map.png>. Acesso em: 18 mar. 2020.
Veja que na figura são destacados os tipos de crime (omissivos, comissivos 
e omissivos impróprios); elementos (culpabilidade, tipicidade e ilicitude) e 
tipicidade (o que deve conter obrigatoriamente um fato típico: conduta, resultado, 
nexo de causalidade e tipicidade). 
32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Crime é para o direito uma conduta típica (prevista na lei); antijurídica 
(contrária ao justo) e culpável (o agente deve ter a intenção consciente voltada 
para o fim desejado de lesar um bem protegido juridicamente). 
• A conduta do agente, que pode ser ação (fazer) ou omissão (deixar de fazer), 
é um elemento relevante para a caracterização de um crime, constituindo o 
elemento objetivo do delito. 
• Apenas se considera conduta delituosa a que é consciente e intencionalmente 
voltada para a realização ou contribuição para que ocorra um fato típico. 
Assim, as ações praticadas sob coação exterior irresistível e absoluta, ou seja, 
que impedem qualquer resistência do agente, não são consideradas condutas 
típicas. 
33
1 Para o Direito Penal, crime é materialmente uma ação ou omissão consciente 
e voluntária prevista em lei como proibida, que fere ou viola bens jurídicos 
relevantes. É uma conduta definida por lei como crime, sendo, portanto, 
tipificada. Sobre o conceito de fato típico, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Fato típico é um fato ou evento da vida humana que produz efeitos no 
coletivo social.
b) ( ) Fato típico é uma conduta humana descrita em lei como crime.
c) ( ) Fato típico é a pena imposta aos crimes contra a vida. 
d) ( ) Fato típico ocorre quando um juiz condena um criminoso por violar a 
lei. 
2 Uma conduta é considerada delituosa quando reúne os seguintes elementos 
nucleares: tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade. Se diz que a 
conduta é antijurídica quando fere ou viola um valor ou um bem protegido 
juridicamente. Acerca da antijuridicidade, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Nem todo fato típico é antijurídico. 
b) ( ) Necessariamente, todo fato típico deve ser antijurídico. 
c) ( ) O conceito jurídico de fato típico e antijuridicidade são sinônimos. 
d) ( ) A antijuridicidade não depende da conduta criminosa e sim da intenção 
do agente. 
3 A conduta do agente é um elemento relevante para a tipificação de um 
crime. Obrigatoriamente, a conduta que tem importância penal é a que 
possui o elemento volitivo, ou seja, a vontade do agente de ferir um bem 
jurídico. Sobre a conduta como elemento do crime, assinale a alternativa 
CORRETA:
a) ( ) As ações ou movimentos praticados pelo agente que independem da 
vontade não são consideradas condutas típicas. 
b) ( ) A ação praticada, mesmo sob coação moral ou física irresistível, que 
viola bem jurídico, é considerada crime. 
c) ( ) As omissões não são consideradas condutas típicas porque é um “não 
fazer” e, por não fazer, ninguém pode ser condenado. 
d) ( ) As omissões apenas são consideradas

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