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ACONSELHAMENTO_PASTORAL_PARA_CASAIS

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ACONSELHAMENTO PASTORAL PARA CASAIS 
 
 
 
 
Edilma de Paula Carrijo Oliveira1 
Jaqueline da Silva dos Santos2 
 
 
 
Resumo 
 O artigo apresenta uma reflexão sobre o aconselhamento pastoral para casais, 
analisando seu papel e principais objetivos em situações em que a intervenção se faz 
necessária. Analisa-se problemas e situações comuns nos relacionamentos conjugais e 
familiares, situações recorrentes e específicas, bem como as formas de intervenção para 
ajudar nessas situações de conflitos. O texto convida a uma leitura realista das famílias, em 
especial as famílias brasileiras, e os impactos da pós-modernidade em seu formato e seu 
papel nas comunidades de fé e na sociedade. Apresenta os resultados que o aconselhamento 
pastoral oferece para o casal e sua família numa perspectiva bíblico-cristã. Por último, traz 
uma reflexão sobre a importância de se oferecer cuidado pastoral para aqueles que estão 
envolvidos no cuidado de outros casais. 
 
Palavras-chave: aconselhamento pastoral; família, intervenção; pós-modernidade; 
poimênica. 
 
 
 
 
1 Mestranda em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Bacharel em Teologia pela 
Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo. Artigo aprovado em 03.11.2016 na disciplina Trabalho 
de Conclusão de Curso com vistas à obtenção de grau de Bacharel em Teologia, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos 
Aurélio da Silva. 
2 Graduada em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo. Trabalho de Conclusão de 
Curso com vistas à obtenção de grau de Bacharel em Teologia, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos Aurélio da Silva. 
 
2 
 
Introdução 
 
 O presente trabalho tem por objetivo trazer uma reflexão sobre o aconselhamento 
pastoral para casais numa perspectiva bíblico-cristã. Compreender seus reflexos nas famílias 
brasileiras, abordando a forma como o aconselhamento e acompanhamento pastoral podem 
auxiliar na saúde dos relacionamentos matrimoniais e também o cuidado pessoal com cada 
membro da família. 
 Esta pesquisa se origina da compreensão de que a família é um sistema aberto em 
constante transformação e, por ser o núcleo mais antigo das instituições e sua estrutura ter 
sido criada com o propósito de manutenção da vida, vem lutando contra os reflexos da pós-
modernidade para sobreviver e não desaparecer. 
 O tema deste estudo merece reflexão porque reconhecemos que as crises familiares 
e a falta de identidade, principalmente dentro da família, tem contribuído para o 
agravamento dos desajustes pessoais com reflexos direto na família. Casos como depressão, 
baixa autoestima, síndromes, surtos psicóticos, suicídios, violências domésticas e até 
mesmo fora do ambiente doméstico tem sido recorrente. 
 Assim, nosso objetivo com este estudo é contribuir para resolução de problemas 
matrimoniais levando em consideração os problemas individuais dos membros da família, 
reconhecendo que é um processo educativo onde o aconselhamento e acompanhamento 
fazem toda a diferença. 
Dessa forma, cada membro tem a oportunidade de fazer as mudanças necessárias de 
comportamento para o bem-estar no contexto da família, além da oportunidade de entregar-
se completamente ao amor cuidadoso de Deus, através de um relacionamento íntimo e 
pessoal. 
 Para tanto, o texto que se segue está organizado em três seções. A primeira delas, 
conhecendo o aconselhamento pastoral para casais, concentra-se em compreender os 
desafios que os casais e suas famílias vem enfrentando ao longo dos anos com os novos 
modelos familiares institucionalizados e suas implicações nos relacionamentos, o papel do 
aconselhamento pastoral e seus objetivos diante de situações de conflito, a importância de 
desenvolver a comunicação no processo de intervenção e busca de soluções. 
 A segunda seção, problemas e situações comuns no relacionamento conjugal e 
familiar, traz uma abordagem mais específica quanto às situações recorrentes e comuns que 
tem gerado esses desajustes, a forma como o aconselhador pode contribuir através de sua 
intervenção, tendo como padrão final no processo de aconselhamento a Bíblia Sagrada. 
3 
 
 A terceira seção, resultado do aconselhamento pastoral para a sociedade, aborda a 
contribuição do aconselhamento pastoral como instrumento de edificação para o corpo de 
Cristo, os resultados desse acompanhamento para o casal e sua família e apresenta uma 
pequena reflexão sobre a importância de se oferecer cuidado pastoral para aqueles que estão 
envolvidos no cuidado de outros casais. 
 Por fim, são apresentadas as considerações finais, encerrando, assim, o tema 
escolhido. 
 
 
Conhecendo o Aconselhamento Pastoral para casais 
A família, desde o início da criação, passa por processos de transformação para 
manter-se numa sociedade que não para de mudar, e vem se esforçando para não 
desaparecer. Sob a perspectiva bíblica, a família é o núcleo mais antigo das instituições e 
sua estrutura foi criada com o propósito de manutenção da vida. (CARDOSO, 2003) 
Cardoso afirma que 
Como realidade social, a família responde pela necessidade de 
sobrevivência humana, em permanente movimento de adaptação. 
[...]Atualmente, os modelos formais de constituição familiar estão 
decrescendo, diante das alternativas informais de relacionamento, já 
reconhecidas pelo novo Código Civil Brasileiro, em condições quase 
equivalentes às dos relacionamentos formalmente constituídos. Mulheres 
com independência financeira resolvem gerar filhos sem construir um 
vínculo conjugal, na forma de ‘produção independente’. Cônjuges 
separados se unem em novas núpcias, trazendo filhos dos relacionamentos 
anteriores, tendo filhos em comum e formando núcleos familiares bastante 
complexos. (CARDOSO, 2003, p. 95) 
Essa nova configuração tem surgido nas famílias modernas, e os indivíduos que 
compõem esses novos núcleos enfrentam uma crise de identidade e, por consequência, uma 
crise familiar, onde já não se consegue definir e/ou identificar qual o papel de cada membro 
dentro desse ambiente. Essa crise familiar tem contribuido para o agravamento dos 
desajustes pessoais que refletem nas famílias. Casos como depressão, baixa autoestima, 
síndromes (de pânico, bulimia, anorexia, etc.), surtos psicóticos, suicídos, violências 
domésticas e até mesmo fora do ambiente doméstico tem sido recorrente. 
Schneider-Harpprecht & Streck apresenta a seguinte reflexão sobre a realidade da 
família, em especial a família brasileira 
4 
 
Observa-se o quanto também no Brasil as famílias sofrem e se 
desestruturam devido ao empobrecimento. Realidade familiar para muitas 
significa: divórcio, abandono de crianças, violência, agressividade contra 
crianças dentro do lar, abuso sexual, diminuição da família tradicional 
constituída, pais afastados do lar, empobrecimento da mãe depois da 
separação e dificuldades econômicas da mesma. Em quase todos os níveis 
sociais constata-se uma mudança da ética matrimonial. (SCHNEIDER-
HARPPRECHT & STRECK, 1994, p. 184) 
As demandas das comunidades de fé, enquanto igreja universal do reino de Deus, 
pelo aconselhamento pastoral é latente diante de um cenário como este. Esta afirmativa é 
percebida na reflexão de Collins: “nunca pensei que houvesse tanta gente sofrendo neste 
mundo. [...] No seminário não nos avisaram que havia tanta gente necessitada. [...] nunca 
imaginamos a profundidade e a variedade dos problemas que iríamos encontrar depois da 
formatura.” (COLLINS, 2004, p. 15). 
Oates afirma o seguinte 
Independente de qual tenha sido sua formação, o pastor não tem o 
privilégio de escolher se vai ou não aconselhar os membros de seu 
rebanho, pois é inevitável que eles levem seus problemas até ele, em busca 
de orientação e de uma palavra de sabedoria. Não há como contornar isso, 
se ele permanecer no ministério pastoral. A opção que ele tem que fazernão é entre aconselhar ou não, mas sim entre aconselhar de maneira 
organizada e competente, ou fazê-lo de forma caótica e incompetente. 
(OATES apud COLLINS, 2004, p. 15) 
Collins reforça esse entendimento de Oates ao afirmar que 
Para os escritores dos livros da Bíblia, a assistência ao próximo não era 
uma questão de opção, mas uma responsabilidade de todo crente, inclusive 
do líder da igreja. Há ocasiões em que o aconselhamento pode parecer 
perda de tempo, mas é uma ordenança bíblica e pode vir a ser importante, 
necessária e eficaz em qualquer ministério. (COLLINS, 2004, p. 16) 
 Diante dessa demanda cada vez mais crescente pelo aconselhamento pastoral, 
reconhecemos que as igrejas cristãs precisam capacitar seu corpo eclesiástico, seja esta 
protestante ou católica. O cristão, enquanto líder levantado e atendendo ao chamado de Deus 
para o cuidado com pessoas, se vê diante de problemáticas de toda ordem, que lhe confronta 
com a necessidade de ouvir atentamente e, por vezes, aconselhar àqueles que reconhecem 
nele a possibilidade de resolver os problemas que estão enfrentando, especialmente assuntos 
de ordem espirituais e emocionais. 
 Adams afirma que 
5 
 
a Bíblia é o livro texto de aconselhamento da igreja cristã. [...] A Bíblia se 
constitui a base para o aconselhamento cristão porque trata das mesmas 
questões abordadas no aconselhamento. Ela foi dada para ajudar a trazer 
os homens à fé salvadora em Cristo e assim transformar os crentes à 
imagem do Filho de Deus (2 Timóteo 3:15-17). (ADAMS, 2016, p. 13) 
 Por se tratar de um processo de auxiliar o indivíduo e as famílias a encontrarem apoio 
e solução aos desafios da vida, além de ajudá-los a amarem a Deus e ao próximo, a Bíblia 
deve ser essa fonte de orientação e ensino, pois estabelece o padrão de vida que agrada a 
Deus. Através da mudança de valores apresentadas ao aconselhando, este tem a 
possibilidade de uma mudança de vida, em suas crenças, valores, relacionamentos, atitudes 
e comportamentos. Somente ela é capaz de transformar as pessoas à imagem do Filho de 
Deus, conforme 2 Timóteo 3: 15-17. 
Maldonado diz que: “cada nova geração tem o dever de retomar os textos bíblicos 
procurando descobrir como aplicar os princípios neles contidos à realidade contemporânea”. 
(MALDONADO, 2003, p. 8) 
Ainda conforme Adams, “sempre que as pessoas tentam viver suas vidas de modo 
independente [...] acabam por falhar miseravelmente. [...] Elas não somente falham 
inevitavelmente no decurso do tempo [...], mas suas falhas resultam em misérias para si 
mesmas e para os que a cercam”. (ADAMS, 2016, p. 16) 
O papel do aconselhamento pastoral e seus objetivos 
 O aconselhamento pastoral é o ofício mais especializado do cuidado ministerial e 
pastoral da Igreja e, em se tratando de aconselhar casais, requer do aconselhador habilidades 
específicas, além de cuidados especiais para realizar seu ofício. Dessa forma, necessário se 
faz compreender o seu papel no processo e, principalmente, ter os objetivos bem definidos 
para ser eficaz nesse acompanhamento pastoral. 
O conceito de Aconselhamento Cristão, segundo Collins, seria 
uma área mais especializada do cuidado pastoral, que se dedica a ajudar 
indivíduos, famílias ou grupos a lidarem com as pressões e crises da vida. 
O aconselhamento pastoral emprega vários métodos de cura para ajudar 
as pessoas a enfrentarem seus problemas de uma forma coerente com os 
ensinamentos bíblicos. (COLLINS, 2004, p. 17) 
6 
 
 O cuidado pastoral através do aconselhamento cristão utiliza-se de métodos que 
contribuem para a cura e aperfeiçoamento do indivíduo na caminhada de fé. Aprendem a 
enfrentar as crises, pressões da vida e os desafios dessa caminhada, a preservar suas emoções 
tirando proveito das circustâncias para seu crescimento e amadurecimento. 
Para Clinebell, o Aconselhamento Cristão seria definido como 
uma dimensão da Poimênica3, a qual se utiliza de vários métodos 
terapêuticos e espirituais de cura para ajudar as pessoas a lidar com seus 
problemas e crises, de uma forma mais conducente e,assim, a 
experimentar a cura de seus quebrantamentos. (CLINEBELL, 2011, p. 25) 
De acordo com o conceito apresentado por Collins e Clinebell, o aconselhamento 
pastoral se utiliza de métodos que auxiliam as pessoas a enfrentarem seus problemas e 
crises, dando-lhes oportunidade de viver sabiamente à luz de Deus através dos ensinamentos 
bíblicos. 
Quanto aos objetivos, para Collins, 
o alvo principal de todo conselheiro que é discípulo de Jesus Cristo é este: 
mostrar às pessoas como ter vida abundante e levá-las a encontrar o 
caminho da vida eterna prometida a todo aquele que crê. [...] No entanto, 
todo mundo sabe que existem muitos crentes sinceros que terão a vida 
eterna no céu, mas cuja vida na terra não tem nada de abundante. 
(COLLINS, 2004, p. 44) 
Em conformidade com o entendimento de Collins, o alvo principal para o 
aconselhamento pastoral é estimular o cristão a aprender a caminhar com os outros cristãos 
e ser desafiado a enfrentar as crises e dificuldades da vida. Então Collins complementa 
afirmando que 
Essas pessoas precisam de aconselhamento, algo que envolve outras 
coisas além do evangelismo e da educação cristã tradicional. O 
aconselhamento pode, por exemplo, ajudá-las a identificar padrões de 
pensamento que geram atitudes negativas, aperfeiçoar seus métodos de 
relacionamento interpessoal, ensinar novos comportamentos, orientá-las 
em decisões difíceis, ajudá-las a mudar seu modo de viver, ou ensiná-las 
a mobilizar recursos internos nos momentos de crise. Em alguns casos, o 
aconselhamento guiado pelo Espírito Santo consegue libertar o indivíduo 
de complexos arraigados, memórias do passado ou atitudes que estão 
 
3 Poimênica: do grego “poimen”, que significa “pastor”. Tem a ver com o trabalho pastoral de um modo geral. 
O ministério de ajuda da comunidade cristã para os seus membros e para outras pessoas que a procuram na 
área da saúde através da convivência diária no contexto da igreja. 
(http://www.dicionarioinformal.com.br/significado/poim%C3%AAnica/5446/, acessado em 03/10/2016 as 
10:35h) 
http://www.dicionarioinformal.com.br/significado/poim%C3%AAnica/5446/
7 
 
impedindo o seu amadurecimento. Para o incrédulo, esse aconselhamento 
pode funcionar como uma espécie de “pré-evangelismo”, removendo 
alguns obstáculos que impedem a conversão. (COLLINS, 2004, p.44-45) 
O aconselhamento passa pelo caminho de ajudar as pessoas a reconhecerem os 
padrões errados e, diante de novas possibilidades e perspectivas, caminhar em direção à 
novos desafios, além da oportunidade de entregar-se completamente ao amor cuidadoso de 
Deus, através de um relacionamento íntimo e pessoal. 
Já Clinebell diz que o aconselhamento pastoral 
[...]é um instrumento de contínua renovação através de reconciliação, 
contribuindo para curar nossa alienação em relação a nós mesmas e nossas 
famílias, a outros membros da igreja, às pessoas que estão fora da igreja e 
a um relacionamento avivador e crescente com Deus. Pode criar aberturas 
para uma nova consciência, restaurando a visão de olhos anteriormente 
cegados por nossa autopreocupação cheia de ansiedade e culpa - para a 
beleza, a tragédia, a maravilha e a dor existentes ao nosso redor. O 
aconselhamento pode permitir-nos descobrir novas dimensões de nossa 
humanidade. Pode liberar nossos potenciais de autenticidade e vivacidade. 
Pode ajudar a libertar nossa criatividade aprisionada – a criatividade 
potencial presente em toda pessoa. Renovando-nos como pessoas, o 
aconselhamento ajuda a potencializar-nos para nos tornarmos agentes de 
renovação numa igreja e numa sociedade que necessitam 
desesperadamente de renovação. (CLINEBELL, 2011, p.14-15) 
Analisando os conceitos apresentados por esses autores, quanto aos objetivos, 
escolhemos aquele apresentado por Clinebell,que expressa bem os objetivos do 
aconselhamento pastoral. Primeiramente ele expressa a condição que necessita de mudança, 
restauração e transformação, identificando a área a ser tratada, seja de âmbito pessoal, 
familiar, interpessoal dentro ou fora da igreja. 
Os fatores principais para alcançar, além de um relacionamento bom e crescente com 
Deus, é a mudança de mente, liberdade, cura, restauração e transformação. Algo 
impressionante é que uma vez que o aconselhando alcança esses objetivos ele se torna 
agente de transformação para outros, tornando-se potencializado para renovar e transformar 
sua família, sua igreja e até mesmo a sociedade na qual está inserida. 
 No contexto famíliar, os objetivos do aconselhamento pastoral são os mesmos. É a 
maneira de fazer refletir, confrontar, amar, curar, restaurar e transformar. Em meio a uma 
sociedade corrompida, onde seus relacionamentos também estão corrompidos, o 
aconselhamento é uma ferramenta de auxílio e transformação desse núcleo. E família 
restaurada significa igreja fortalecida e sociedade transformada. 
8 
 
Quando a intervenção se faz necessária através do aconselhamento pastoral e a 
importância da comunicação no relacionamento familiar 
Sabemos que o matrimônio não é uma instituição muito estável, especialmente 
nestes tempos de pós-modernidade. Porém, sabemos que existem casamentos felizes. 
Fatores como ter uma imagem positiva do cônjuge, considerá-lo como seu melhor amigo, 
se importar um com o outro, ser acessível e confiável, ter uma comunicação eficaz são 
fundamentais para manter esta harmonia e preservar a alegria de permanecerem juntos. 
(COLLINS, 2004) 
Mas, apesar de sabermos que existem casamentos felizes e crer que isso é possível, 
estamos vivendo numa época em que a infidelidade conjugal é mais 
comum, e em que muitas pessoas vêem o divórcio como uma saída de 
emergência conveniente e sempre disponível, para o caso dos problemas 
matrimoniais ficarem muito difíceis de resolver. A ‘incompatibilidade de 
gênios’ torna-se motivo suficiente para o rompimento da união conjugal, 
e o divórcio amigável permite que o casamento seja legalmente desfeito 
quando um dos cônjuges – ou ambos – simplesmente não quer mais 
permanecer junto. O matrimônio, essa união permanente instituída por 
Deus, é tratado cada vez mais como um acordo de conveniência 
temporário. Essas atitudes da sociedade, associadas às diversas pressões 
que cercam o casamento de hoje, muitas vezes causam problemas que 
acabam nos gabinetes dos conselheiros. As pesquisas realizadas nos 
últimos anos demonstram insistentemente que os problemas conjugais 
levam mais pessoas a procurarem aconselhamento do que qualquer outro 
motivo isolado. (COLLINS, 2004, p. 476-477) 
A facilidade com que as pessoas hoje em dia conseguem realizar um divórcio é 
assustador, além de tornar esse mecanismo, para muitos, como uma saída rápida de uma 
escolha malfeita. Como um contrato em que basta uma das partes desejar e assim proceder 
ao seu rompimento. Sem considerar que houve muito mais do que uma união de corpos. 
“A psicologia moderna, a sociologia e disciplinas correlatas esclareceram algumas 
das formas pelas quais as pessoas se desviaram dos padrões bíblicos para o casamento” 
(COLLINS, 2004, p. 478), conforme descrito em Gênesis 2.24: “Por essa razão, o homem 
deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne”. 
Quando o Senhor estabelece que “serão os dois uma só carne” (Gn 2.24), 
não decreta nenhuma escravidão, como alguns afirmam hoje, mas o 
contrário. A indissolubilidade é uma demonstração do amor do Criador 
por suas criaturas, proporcionando-lhes a oportunidade de realizar-se 
plenamente e ser felizes. Além disso, é importante destacar que a união 
matrimonial marca ambos os cônjuges para toda a vida. O amor mútuo, a 
9 
 
intimidade sexual, o choro e o riso juntos durante mais ou menos tempo, 
o amor e o cuidado dos filhos – se o tiverem – tudo isso deixa marcas que 
nem o desamor, nem o egoísmo, nem o capricho, nem todas as normas 
legais podem apagar facilmente. (CARDOSO, 2003, p. 174) 
Questões como falhas na comunicação; relacionamentos onde “o desenvolvimento 
pessoal do marido e da esposa parecem seguir caminhos independentes”, ou quando “o 
relacionamento se torna tão envolvente que os dois cônjuges perdem sua identidade própria 
e se sentem num beco sem saída”; tensões interpessoais, como inflexibilidade, dinheiro, 
sexo, religião, valores; necessidades conflitantes e diferenças de personalidade; pressões 
externas e até mesmo o tédio são pontos de fragilidade que podem acabar contribuindo para 
as dificuldades conjugais. (COLLINS, 2004, p. 478-482) 
Quando isso acontece, a expectativa de se ter um relacionamento saudável dá espaço 
à confusão, desânimo, levando ao afastamento, abandono e se transforma numa grande fonte 
de frustração e infelicidade (COLLINS, 2004). É aí que a intervenção se faz necessária para 
que o desfecho desse relacionamento não seja a separação ou o divórcio. 
Em todas as situações de aconselhamento, o orientador precisa fazer pelo 
menos quatro perguntas: Qual o problema? Será que devo intervir e tentar 
ajudar? O que eu poderia fazer para ajudar? Será que existe alguém mais 
qualificado para atuar neste caso? É importante que os conselheiros 
cristãos tenham conhecimento da natureza dos problemas (como eles 
surgem e como podem ser resolvidos), saibam o que a Bíblia ensina sobre 
eles e estejam familiarizados com as técnicas de aconselhamento. 
(COLLINS, 2004, p. 19) 
A intervenção se faz necessária quando os envolvidos reconhecem que precisam de 
ajuda, ou quando o aconselhador vê que em determinados aspectos é necessário intervir. 
Porém, sabemos que se torna mais eficaz quando uma das partes reconhecem que precisam 
de acompanhamento, pois muitas vezes uma intervenção de terceiros pode levar a recusa e 
retração, prejudicando assim a eficácia do aconselhamento pastoral. 
Collins afirma que “a intervenção nos momentos de crise geralmente é uma boa 
oportunidade para trabalhar com as famílias, ajudando-as a lidar com os problemas que estão 
enfrentando e, também, a evitar métodos de solução de problemas que são destrutivos a 
longo prazo”. (COLLINS, 2004, p. 489) 
Muitos não tem aberto seus relacionamentos para o diálogo, sendo que a 
comunicação é a chave para um relacionamento saudável, pois é um momento de troca. 
10 
 
 Collins explica que: 
A comunicação envolve o envio e o recebimento de mensagens. As 
mensagens podem ser enviadas de forma verbal (com palavras) e não 
verbal (através de gestos, tom de voz, expressões faciais, palavras escritas 
num papel, imagens na tela de um computador, ações, presentes, ou até 
períodos de silêncio). Quando a mensagem verbal e não verbal se 
contradizem, uma mensagem dupla é enviada. Isso causa confusão e 
interrupção da comunicação. [...] Numa comunicação eficiente, a 
mensagem enviada verbalmente é coerente com a mensagem não verbal. 
A boa comunicação também requer que a mensagem enviada seja idêntica 
à mensagem recebida. (COLLINS, 2004, p. 478-479) 
 O corpo humano fala, através de olhares, gestos, expressões faciais e até mesmo pelo 
silêncio. O ser humano traz dentro de si padrões de reações diante de situações de confronto 
e conflito, e acabam por reproduzir em seus relacionamentos. Muitos não conseguem expor 
seus sentimentos de forma clara, objetiva e sincera. 
Quase todo mundo concorda que falhas ocasionais na comunicação entre 
marido e mulher são inevitáveis. Entretanto, quando as falhas são mais 
frequentes que os sucessos, o casamento começa a ter sérios problemas. 
As falhas na comunicação tendem a se reproduzir. (COLLINS, 2004, p. 
479) 
A comunicação, ou a falta dela, tem se tornado uma arma poderosa para destruir os 
relacionamentos, principalmente os familiares. Especialmente nessa era tecnológica, muitos 
casais tem perdido o hábitode se comunicar e relacionar. Os membros das famílias tem se 
perdido dentro da suas casas, cada um no seu mundo virtual, e a única maneira de se 
comunicar e se relacionar é com a tela de seus produtos eletrônicos, perdendo o aprendizado 
e seus valores, e dando espaço para a destruição dos relacionamentos pessoais e familiares. 
 
Problemas e situações comuns no relacionamento conjugal e familiar 
Reconhecemos que as pessoas são diferentes umas das outras, com criações, manias, 
culturas e, em meio a essas diferenças, elas decidem viver juntas e no mesmo lugar. Sabemos 
que relacionamento não é algo fácil, principalmente quando se trata do relacionamento 
conjugal e familiar. Nesse momento já se pode iniciar grandes conflitos se um não estiver 
disposto a compreender o outro. 
11 
 
Como já dito na primeira parte deste artigo, a sociedade na qual estamos inseridos 
pouco nos ajuda a vivenciar um relacionamento saudável, principalmente com a nova 
formatação familiar que não condiz com o que a Bíblia nos ensina, acarretando muitas 
indisciplinas e desavenças no âmbito familiar que hoje já se encontra corrompido. 
Scheneider–Harpprecht & Streck apresenta a seguinte reflexão sobre a questão da 
mudança do papel do homem e da mulher dentro do contexto familiar 
Especialmente em famílias empobrecidas a figura paterna parece estar 
ausente. Muitos homens são alcoolistas ou dependentes de drogas e as 
mulheres trabalham fora de casa para garantir o sustento da família. Isso 
faz com que as crianças passem a maior parte do tempo em creches e 
escolas, longe do convívio com os pais. O tempo que pais e filhos passam 
juntos é cada vez menor. Muitas crianças começam a trabalhar 
precocemente para ajudar no sustento da família. A situação habitacional 
de famílias pobres e de classe média baixa é precária. (SCHENEIDER –
HARPPRECHT & STRECK, 1994, p. 184) 
 
O que se vê é que, além da bagagem sócio-cultural que o indivíduo traz quando entra 
num relacionamento matrimonial, soma com esses os problemas externos que são fatores 
talvez mais complexos e difíceis de vivenciar, romper e vencer. Oliveira & Fleury, citando 
Diniz-Neto & Feres-Carneiro, apresentam outros fatores que tem contribuido para os 
desajustes nos relacionamentos 
[...] as mudanças tecnológicas que transformam a arquitetura da família, 
podendo provocar um distanciamento enorme aos casais; as novas 
exigências, conquistas e papéis da mulher na contemporaneidade 
(trabalho, lideranças corporativas e empresariais, espaço mundo 
acadêmico, etc.), que obrigam readaptações familiares, devido sua 
ausência em detrimento às suas novas conquistas. (DINIZ-NETO; 
FERES-CARNEIRO apud OLIVEIRA & FLEURY, 2005, p. 7) 
Igualmente em processo de mudanças, os homens também vivenciam desafios de 
transformação no seu interior como consequência das mudanças no ambiente externo. 
Oliveira & Fleury expõem com muita propriedade algumas dessas mudanças 
 
Quanto ao homem na modernidade e/ou pós-modernidade, pode-se dizer 
que ele também experimenta uma nova reorganização em termos do seu 
papel: como homem da casa, provedor, profissional, esposo, pai, 
masculinidade, entre outras realidades inerentes a sua imagem 
historicamente concebidos. Tais fatores apontam a constatação de que o 
homem atual também está envolto a conflitos sobre sua identidade e passa 
por crises, o que pode interferir sensivelmente na vida conjugal. 
(OLIVEIRA & FLEURY, 2013, p. 7) 
 
12 
 
Diante das considerações de Scheneider–Harpprecht & Streck e Oliveira & Fleury, 
podemos identificar as crises mais frequentes, além daquelas pessoais de aprender a 
conviver com os defeitos um do outro, e essas crises externas são cada dia mais evidentes e 
tem se tornado recorrentes nos lares. 
Além da questão do empobrecimento que acarreta muitas outras crises, temos o 
contexto da modernidade, por isso consideramos a observação de Oliveira & Fleury, pois 
estão conceituando bem as consequências das mudanças culturais e tecnólogicas que tem 
influenciado no contexto familiar nesses dias atuais, principalmente em se tratando da 
particularidade da mulher e do homem. 
As mudanças do mundo moderno tem causado, primeiramente, crises internas no 
homem e na mulher, fazendo com que eles se auto-avaliem e analisem tudo aquilo que eles 
se relacionam. Analisam o seu passado, seu presente e futuro, e todas as suas escolhas desde 
a infância. Infelizmente, uma das primeiras coisas que é colocado em conflito é o 
relacionamento matrimonial. 
Os conflitos sempre vão existir, e o desafio está na maneira que esses indivíduos 
encontrarão para solucioná-los. Nesse momento, é papel do aconselhador pastoral trazer a 
importância do matrimônio baseado em princípios bíblicos, sem ignorar que a modernidade 
não está acontecendo e influenciando, mas tendo como objetivo auxiliar os casais a 
vencerem seus conflitos internos e com a sociedade, e a aprenderem a se adaptar sem 
corromper valores e princípios, principalmente os princípios bíblicos. 
Aconselhando casais em crise e situações recorrentes e específicas 
Como vem sendo apresentado nesta reflexão, o aconselhamento pastoral consiste no 
estabelecimento de um relacionamento terapêutico de cooperação entre o aconselhando e o 
aconselhador. Esse relacionamento cresce na medida em que o aconselhador se propõe a 
estar com o aconselhando, ouvindo-o e respondendo-o com uma empatia solícita, ou seja, 
ele precisa “ouvir profundamente e relacionar-se plenamente” com o aconselhando. 
(CLINEBELL, 2011, p. 72) 
 Nesse sentido, percebemos que os pastores são aconselhadores naturais devido à sua 
posição e seu papel na vida de sua comunidade de fé, pois dispõem de acesso frequente e 
natural a muitos núcleos familiares. Aos olhos das pessoas que estão sofrendo com alguma 
situação, a imagem e a identidade do pastor representa apoio e nutrição, além da 
13 
 
oportunidade de discutir as causas de seus problemas para, então, encontrar caminhos de 
solucioná-los. 
São muitas as pessoas à procura de um ouvido que às ouça. Elas não o 
encontram entre os cristãos, porque eles falam quando deveriam ouvir. 
Quem não mais ouve a seu irmão (ou irmã), em breve também não mais 
ouvirá a Deus. [...] Quem não consegue ouvir demorada e pacientemente, 
estará apenas conversando à toa e nunca estará realmente falando com os 
outros, embora não esteja consciente disso. (DIETRICH BONHOEFFER, 
apud CLINEBELL, 2011, p. 69) 
 É sabido que um conflito conjugal normalmente sinaliza questões mais sérias, como 
problemas de comunicação, sentimentos de inferioridade, pecados ocultos, egoísmo, 
dificuldade de liberar perdão, ansiedade, vícios, raiva, amargura, e até falta de amor. 
Tensões interpessoais, como inflexibilidade, princípios e valores, dinheiro, sexo, 
interferências externas de parentes ou pessoas próximas, divergências nos papeis e até 
mesmo religião, são fatores que podem contribuir para os conflitos no casamento, e são 
pontos que precisam ser trabalhados de forma minuciosa no aconselhamento pastoral, por 
serem recorrentes nos relacionamentos. 
“Muitas crises familiares em que se busca a ajuda de um pastor envolvem relações 
pai/mãe – filho pequeno, pai/mãe – adolescente, criança – pai/mãe – avós, relações com 
sogro/a e entre irmãos/irmãs.” (CLINEBELL, 2011, p. 288) O que se vê hoje são 
relacionamentos conjugais expostos a desafios nunca antes enfrentados.Índices cada vez 
mais altos de divórcio, de abandono de família, espancamento da mulher, abuso de crianças, 
delinquência juvenil, suicídio, bem como tédio, sofrimento e infelicidade conjugais são 
evidências alarmantes de que a experiência matrimonial vem se tornando um fato gerador 
de dano às pessoas. 
O aconselhador, no entanto, precisa ter certos “objetivos operacionais” para que, 
durante o processo de aconselhamento, ele possa caminhar por esse processo e colaborar 
para que o casal encontre o caminho do perdão ereconciliação e a harmonia familiar seja 
restabelecida. 
Quando as vidas de indivíduos são de alguma forma traumatizadas, toda 
sua rede familiar recebe o impacto. É importante proporcionar assistência 
poimênica e, em alguns casos, aconselhamento pastoral para a família 
inteira. Provavelmente todos estão sofrendo, alguns mais obviamente que 
outros. Para ajudar famílias a usarem seus problemas para o crescimento 
é fundamental intervir pastoralmente junto à família inteira. 
(CLINEBELL, 2011, p. 288-289) 
14 
 
Infelizmente, nos tempos atuais, poucos são os casais que ao enfrentar uma crise 
conjugal pedem ajuda. É mais fácil separar do que resolver questões que causam dor, 
desconforto e sofrimento. Mas iniciar um novo relacionamento sem resolver o anterior é 
perigoso, pois a bagagem emocional das feridas e decepções vão acompanhá-lo. 
É de suma importância o aconselhamento em crises conjugais e familiares e 
situações recorrentes e específicas de cada núcleo familiar. Na verdade, é necessário que as 
pessoas tenham condições de expor suas questões, feridas e decepções, afinal, a 
comunicação é uma chave importante para um acerto. Por isso, se faz necessário o 
aconselhamento pastoral principalmente quando se depara com as crises, sejam elas interior 
ou exterior. 
Temas sobre conflitos familiares e conjugais tornaram-se recorrentes nas igrejas, em 
forma de pregações para pastores e também material de estudos para os ministérios dentro 
dessas instituições. As igrejas tem reconhecido a necessidade de contribuir para a 
reconstrução e restauração dos relacionamentos em crise, além de oferecer esperança através 
das possibilidades de saída dessas situações. Pois a fé tem papel fundamental para ajudar o 
indivíduo nesse processo de reparação e restauração do vínculo. 
 A tarefa de um aconselhador pastoral diante de um casamento em crise, dessa forma, 
é oferecer a oportunidade de identificar e discutir as causas de seus problemas, para que 
ambos assumam sua parte da culpa, porém, sem se sentirem derrotados ou condenados, mas 
para reconhecer qual seu papel na busca da solução. 
“O aconselhamento em casos de crise matrimonial pode ajudar alguns casais a 
enfrentar seus problemas e a resolvê-los de maneira que tragam crescimento. Em 
matrimônios profundamente conturbados, a terapia conjugal é essencial”. (CLINEBELL, 
2011, p. 239) 
 Através das ferramentas e técnicas de aconselhamento, o pastor pode cooperar para 
melhorar a saúde física, emocional e espiritual de casais e ver os resultados dessa 
cooperação nos filhos e nos filhos de seus filhos. Por meio de um confrontamento profundo 
e íntimo, cada um tem a oportunidade de conhecer a si mesmo, ao outro e, durante esse 
processo, ao próprio Deus. “No sofrer, no arriscar-se, no abrir-se, no conhecer-se, ambos 
podem ir concretizando o ‘ser uma só carne’, que também inclui o sofrimento.” (BREPOHL, 
2003, p. 117) 
15 
 
Formas de intervenção com o aconselhamento pastoral 
Existem várias maneiras de intervenção dentro do aconselhamento pastoral, mas os 
objetivos principais sempre serão crescimento, cura, restauração, libertação e um bom 
relacionamento, mesmo diante das adversidades e lutas que sempre existirão. As formas de 
intervenção direcionam o aconselhador na melhor maneira de intervir, ou qual a melhor 
ferramenta para ajudar casais e famílias a viverem satisfatoriamente, ativando suas 
capacidades de superação e de se relacionarem com o interior e exterior. 
Primeiramente, para que haja a intervenção, é necessário que uma das partes busque 
ajuda e exponha o problema, ou que apenas reconheça que tem algo que esteja 
incomodando. Depois, é necessário que o aconselhador seja sensível e atento na 
identificação dos problemas para que possa encontrar a melhor forma de ajudar e intervir e 
assim oferecer um aconselhamento eficaz. 
 Collins ressalta que 
Intervir nas crises é um meio de prestar primeiros socorros emocionais, de 
caráter imediato e temporário, a vítimas de traumas psicológicos e físico. 
O interventor precisa agir hábil e rapidamente diante de comportamentos 
muitas vezes desorganizado, confuso e potencialmente perigoso. Como as 
crises geralmente surgem de repente e são de duração limitada, é melhor 
tratá-las tão logo aparecem. (COLLINS, 2004, p. 77) 
 
 Essa afirmação de Collins é para nós um ponto de partida, visto que a crise, num 
primeiro momento, parece um acidente, onde é necessário um resgate imediato, mas na 
verdade, aponta para algo que foi sinalizado anteriormente e não foi dada a devida atenção. 
Nesse caso, a intervenção é uma maneira de amenizar um turbilhão para que se possa tratar 
o mal pela raiz e orientar, fazendo refletir ambas as partes, auxiliando para que possam 
chegar a solução e satisfação pessoal e conjugal, segundo os princípios bíblicos, como um 
processo terapêutico. 
É importante que o interventor tenha habilidade e seja sensível para agir no tempo 
certo ou até mesmo rapidamente, dependendo da situação. A sensibilidade do aconselhador 
para intervir é o fator primordial, pois a sensibilidade auxilia na identificação de coisas que 
as partes provavelmente estejam escondendo, situações graves e perigosas, o fator 
motivador e a raiz do problema, a solução, como vai ser esse aconselhamento, se vai ser a 
curto ou longo prazo. 
É necessário cuidado para que não perca a confiança dos aconselhandos, passando 
confiança e interesse pelo assunto, e principalmente, muito cuidado para não tomar partido 
16 
 
ou se envolver, de tal maneira que leve para o lado pessoal, deixando influenciar na sua vida 
secular. 
É necessário estar atento para que o casal não desanime. Em situações como essa, 
Oliveira & Fleury também destacam que 
[...] o pastor ou a pastora que se dispõe a tarefa de acompanhar casais em 
momentos de crises precisa ter cuidado com os gestos, atitudes, olhares, 
falas etc. Qualquer realidade que indique não engajamento ou 
acolhimento, pode determinar também a falta de motivação e até o 
fracasso do programa. (OLIVEIRA & FLEURY, 2013, p. 18) 
 
O aconselhamento também deve ser de maneira dinâmica, para que haja interesse 
das partes, para isso há várias formas de fazer do aconselhamento um processo eficaz e 
prazeroso. Por exemplo, pode-se, além do acompanhamento terapêutico, sugerir e fazer uso 
de literaturas, filmes, dinâmicas, material lúdico, grupos de apoio e tudo aquilo que a 
imaginação do aconselhador possa trazer como ferramenta para auxiliar nesse processo de 
aconselhamento. 
É importante ser criativo, porém, sempre atento para identificar em cada caso 
específico a maneira e ferramenta específica, respeitando a seriedade de toda a questão 
envolvida. Cada caso é diferente do outro, então, a intervenção acontece da mesma forma. 
Não se pode esquecer que a intervenção deve promover interesse aos aconselhandos para 
prosseguirem fielmente no processo de aconselhamento. 
 O que não se pode esquecer, em todas as etapas do processo de intervenção, é que a 
Bíblia é o padrão final em termos de autoridade no aconselhamento cristão. A própria Bíblia 
nos oferece princípios para o entendimento e contribuição no aconselhamento pastoral, além 
de orientar o aconselhador em cada fase desse cuidado. 
Embora o aconselhamento pastoral faça uso de material utilizado no 
aconselhamento secular, ele não é, não pode ser, secular. É um tipo distinto 
de aconselhamento. O que em particular o distingue de outras formas de 
aconselhamento é a abordagem e a orientação do conselheiro. O seu 
trabalho tem um nível espiritual, baseado em valores espirituais e 
princípios bíblicos. (JAGNOW, 2003, p. 29-30) 
 Sabemos que Deus tem propósito em tudo que nos acontece, apesar de nem sempre 
conseguirmos encontrar respostas para determinadas situações que vivenciamos. Por outro 
lado, temos a oportunidade de aprender e crescer quando enfrentamos situações de tensão 
ou crises específicas.17 
 
E o aconselhamento pastoral que utiliza a Bíblia como base para este cuidado, tem 
em si uma importante ferramenta para orientar os casais e famílias nos princípios divinos e 
na busca por uma espiritualidade transformadora. Como diz Collins, “o cerne de toda a 
assistência genuinamente cristã, seja ela pública ou particular, é a influência do Espírito 
Santo. Na verdade, o que torna o aconselhamento cristão realmente único é justamente a 
influência e a presença do Espírito” (COLLINS, 2004, p. 21). 
 
Resultado do aconselhamento pastoral para a sociedade 
Como vem sendo apresentado neste artigo, as famílias tem tomado diferentes formas 
e sofrido muitas mudanças através do tempo e das influências sócioculturais. Porém, jamais 
desapareceu. Em meio a tantas mudanças, desajustes e desafios e tendo o divórcio muitas 
vezes como saída, ainda assim as pessoas continuam se casando e tendo filhos. E, ao 
afirmarmos que família é projeto de Deus, podemos garantir e assegurar sua permanência. 
Deus certamente quer que os relacionamentos conjugais sejam bem sucedidos e se 
tornem a representação do bom relacionamento entre Cristo e a sua igreja. E isso é possível 
quando o aconselhador cristão compreende os princípios bíblicos para os relacionamentos 
e se utiliza das técnicas corretas no acompanhamento pastoral. Assim, terá condições de 
obter sucesso, além de estar melhor qualificado para o apoio a casais e famílias, e alcançará 
o ideal divino para o relacionamento conjugal. Os recursos da graça e da Palavra são 
primordiais para o relacionamento familiar. 
 Jorge Atiencia, em seu artigo intitulado “Pessoa, casal e família”, esclarece que, 
quando o indivíduo compreende a estrutura famíliar e seus fins, terá papel decisivo “no 
desenvolvimento de seus membros” (ATIENCIA, 2003, p. 41). E complementa 
A família está projetada e chamada a ser um núcleo onde se permite e se 
estimula o crescimento integral de todos os seus membros; não somente 
dos filhos. Esse crescimento integral implica na satisfação das 
necessidades sexuais (Gn 1: 27-28), afetivas (Ef 6: 1-4), intelectuais (Pv 1 
a 4; Lc 2:52), materiais (Lc 2:6-7), espirituais (Lc 2:52), de relacionamento 
(Lc 2:21-38; 2:52), etc. Ou seja, vemos a família cumprindo as funções 
básicas de reprodução, nutrição, educação e socialização, algumas das 
quais tem sido descritas pela sociologia e pela psicologia. 
Com o objetivo de prover esse crescimento integral, a família, à luz da 
Bíblia, reconhecendo suas múltiplas expressões históricase culturais, está 
18 
 
capacitada a desenvolver-se com base nos seguintes princípios: relação de 
amor, marido e esposa, pais e filhos, e mesmo senhores e servos, e devem 
relacionar-se com base no amor mútuo (Ef 5:21 ss); [...] provisão afetiva, 
[...] na qualidade das relações [...]; posição e limites, a Bíblia insinua que 
cada membro da família tem uma função a desempenhar e que existem 
regras que regulam as suas relações. Ao mesmo tempo, provê recursos 
para corrigir a quebra das normas. [...] Dos filhos espera-se obediência 
mediada pelos mandamentos (Ef 6:1-12). Dos pais espera-se uma 
participação ativa, que leve em conta a disciplina e a admoestação do 
Senhor (Ef 6:4). (ATIENCIA, 2003, p. 41-42). 
 Esta afirmação de Atiencia nos mostra o quanto a realidade atual está comprometida 
diante da falta de compreensão desses princípios norteadores da relação familiar e da sua 
relevância na formação do indivíduo como um ser responsável e capaz. Os princípios 
bíblicos são claros quanto às orientações na formação desse indivíduo para habilitá-lo a 
viver em comunidade, a servir ao próximo e também ao mundo. Ignorá-los traz implicações 
sérias nos ambientes em que este indivíduo está inserido. 
 Na base da família está o casal e o seu delicado relacionamento. Não se pode ignorá-
lo. Parece-nos, então, de extrema importância hoje, diante desse cenário de desajustes no 
ambiente familiar, o papel do aconselhador cristão como um conhecedor desses marcos de 
referência familiares, de entrar em contato com essas raízes de problemas para orientar e 
conduzir os casais e familiares na busca por alcançar o padrão que Deus estabeleceu. 
Resultado do aconselhamento pastoral para o casal e sua família 
Evidentemente o que mais se espera do aconselhamento pastoral são seus resultados, 
para o casal, sua família e para a sociedade. Quando o aconselhamento atinge seus objetivos, 
os resultados não atingem somente os aconselhandos, mas reflete em todas as áreas da vida. 
O aconselhamento pastoral tem se tornado muito eficaz e também muito procurado. Muitos 
reconhecem seus benefícios, para si e para a sociedade, tanto que podemos ver alguns casos 
de pessoas não cristãs que, quando estão vivendo uma crise conjugal ou familiar, procuram 
a orientação de um aconselhador cristão, pois identificam os resultados positivos do 
aconselhamento. 
O relacionamento conjugal e familiar é a base estrutural e principal do ser humano, 
é o primeiro estreitamento relacional onde descobrimos nossa identidade. Atualmente 
encontramos muitas pessoas sem identidade, sem conhecimento de si, pois as famílias de 
hoje não tem se relacionado, não tem intimidade, confiança e amor. Sabemos que muito se 
dá pela agitação do mundo, muitas coisas que tiram a atenção e o foco do relacionamento 
19 
 
pessoal. Podemos ver que há uma troca de valores relacionais, pois hoje, o relacionamento 
pessoal e interpessoal se limita às redes sociais. 
Um dos mais importantes resultados do aconselhamento pastoral é justamente o 
resgate do relacionamento pessoal e interpessoal, que traz de volta o contato físico e a 
comunicação, fortalecendo, reestruturando e promovendo crescimento para as relações. Os 
pastores têm um papel importante para um resultado satisfatório quando o assunto é 
aconselhamento pastoral, afinal, não são solucionadores dos problemas dos outros, mas 
educadores. 
Clinebell faz a seguinte afirmação 
[...] o papel dos pastores como educadores lhes possibita ensinar intuições 
de nossa tradição religiosa que fomentam o relacionamento assim como 
habilidades contemporâneas de comunicação e solução de conflitos. 
Semelhante ensinamento pode contribuir para a prevenção de problemas 
familiares. Pode também lançar sementes que eventualmente darão fruto 
em oportunidades de aconselhamento quando surgem crises na família. 
(CLINEBELL, 2011, p. 236) 
 Esta afirmação de Clinebell enfatiza que os aconselhadores são educadores e não 
solucionadores. O pastor e a pastora não resolvem os problemas conjugais e familiares, 
apenas ensinam aos seus aconselhandos a maneira bíblica e a melhor forma de saírem de 
suas crises e criam caminhos para identificar possíveis problemas e também meios de 
prevenção das mesmas. Esses ensinamentos resultam em crescimento e maturidade para 
que, diante dos conflitos conjugal e familiar, os problemas sejam solucionados da melhor 
forma e os valores bíblicos sejam introduzidos no processo. 
 As pessoas quando procuram o aconselhamento pastoral estão em busca de socorro, 
cuidados, respostas, cura, libertação, transformação e crescimento. 
 Oliveira e Fleury afirmam que 
As pessoas quando procuram o cuidado pastoral, seja individualmente ou 
com seu cônjuge, chegam profundamente machucadas, tristes, magoadas, 
sem esperança. O papel do/a conselheiro/a pastoral é prover sempre ao 
casal uma esperança realística e segura, quanto a mudanças da realidade 
provocadora de conflitos, dramas ou crises. Isto não isenta o/a 
conselheiro/a de tocar na ferida quando necessário; chamar os cônjuges a 
responsabilidade da relação e não deixá-la apenas a Deus ou uma das 
partes da relação. O caminho para o crescimento e libertação na vida 
conjugal está nessa atitude. (OLIVEIRA & FLEURY, 2013, p.16) 
20 
 
 Nesta afirmação de Oliveira & Fleury podemos ver também que, como resultado do 
aconselhamento pastoral, o individuo é confrontadocom a realidade e tem a liberdade de 
fazer suas escolhas e decisões, levando ao nível de crescimento pessoal, conjugal e familiar. 
Os resultados vão além da reconciliação entre o casal, o resgate de relacionamentos pessoais 
e interpessoais como casal e familiar, mas podem se modelar e estreitar relacionamentos, 
transformando o individuo a nível pessoal, ensinando-o a resolver seus conflitos. 
Esses resultados são mais visíveis não somente quando acontece a reconciliação do 
casal e familiar, mas quando depois desse primeiro momento de socorro e de conflitos, 
ambos conseguem lidar consigo mesmo e com suas possíveis crises, e descobrem maneiras 
de prevenir. Diante desses resultados de resoluções, reconciliações e crescimento, é gerado 
um desejo de ajudar a outros nessa difícil, porém, maravilhosa tarefa de aconselhar 
casais.Com isso, o resultado alcançado vai além do nível pessoal e familiar, pois reflete na 
sociedade. Afinal é exatamente isso que buscamos: uma identidade em meio a esta 
sociedade com valores corrompidos e comprometidos, onde podemos, em meio a isto, viver 
conforme os padrões bíblicos e ter uma vida, igreja e sociedade saudáveis. 
Cuidando dos que cuidam 
Atualmente, é muito comum ver casais que venceram suas crises e cresceram 
espiritualmente e em seus relacionamentos, desejarem fazer com que outros experimentem 
o que viveram, e além de testemunhar o que viveram, passam a ajudar a outros também. 
Esta última parte deste artigo diz respeito à categoria cuidado, em especial ao 
cuidado daqueles que oferecem cuidado pastoral no contexto das instituições eclesiais, 
sejam eles pastores e pastoras ordenados ou consagrados, ou até mesmo aqueles que são 
considerados pastores / cuidadores leigos. 
Roseli M. K. de Oliveira, em sua dissertação de Mestrado sobre o tema, apresenta a 
seguinte reflexão 
A questão do cuidado aos cuidadores tem sido objeto de estudos recentes, 
na teologia, psicologia, medicina e outras profissões de ajuda. O ambiente 
eclesiástico propicia que pastores e pastoras sejam considerados 
cuidadores por excelência. Isto porque, no contato com a sociedade em 
geral, os religiosos são muitas vezes procurados por pessoas ou famílias 
em dificuldades, em busca de aconselhamento ou de consolo. Disto resulta 
uma grande rede de apoio e faz do aconselhamento pastoral um dos 
maiores sistemas de prevenção e atuação de saúde mental, gratuito e 
21 
 
acessível a todas as camadas da população. Mas, e os religiosos, 
especificamente, pastores e pastoras evangélicos, como eles mesmos 
lidam com estas situações? 
Visões distorcidas e idealizadas da figura do pastor tem sido detectadas 
junto às comunidades cristãs [...]. Neste sentido, pastores e pastoras por 
vezes não são percebidos como pessoas, mas como semideuses, não 
sujeito ao cansaço, enfermidades e irritações, entre outras mazelas. O 
poder pastoral a que são expostos, as questões do tempo familiar e pessoal, 
as demandas da comunidade religiosa na qual se inserem, podem gerar 
estresse, visto que manter a imagem idealizada ou mostrar-se como ser 
humano envolve tensão e ansiedade. (OLIVEIRA, 2004, p. 12) 
 Fica evidente, diante dessa reflexão, a necessidade de ampliar os estudos sobre esse 
tema e, assim, poder oferecer possibilidades de cuidado àqueles que cuidam. Infelizmente, 
nos dias de hoje, vemos na mídia casos de homens e mulheres de Deus que já ajudaram 
tantas pessoas a restaurar casamentos e relacionamentos, e, de repente, estão envolvidos em 
escândalos ou serem encontrados em depressão profunda. Muitos desses casos acontecem 
por não assumirem e nem reconhecerem que precisam de ajuda. 
Várias perguntas [..] tornaram-se pertinentes, tais como: quem cuida dos 
pastores? Com quem eles podem desabafar e repartir os problemas? De 
que forma é possível o cuidado dos pastores? Como as estruturas 
denominacionais ou comunidades religiosas podem colaborar? Pode-se 
pensar em cuidados preventivos, além dos terapêuticos, contra o estresse 
e a exaustão? (OLIVEIRA, 2004, p. 13) 
Perguntas como essas levantadas por Oliveira tem se tornado frequente nos 
ambientes informais das comunidades de fé, em especial aquelas em que o número de 
membros já não permite um cuidado mais próximo de seu pastor titular. Esse tipo de cuidado 
tende a uma estafa emocional, espiritual e até mesmo física que é preciso ser bem 
administrado, até mesmo para a revitalização, crescimento e bom andamento do corpo de 
Cristo. 
 A frustração por não conseguir oferecer um cuidado pastoral que atenda a todas as 
demandas da comunidade pode levar o pastor a um isolamento, desencadeando no orgulho 
e vergonha de pedir ajuda. Collins alerta que 
Haverá momentos em que você pode sentir necessidade de procurar um 
conselheiro, mas esta pessoa pode ser difícil de achar. É duro e humilhante 
admitir que “eu, um conselheiro, estou precisando de aconselhamento”. 
Talvez você conheça todos os conselheiros em sua região, e pode não ser 
fácil escolher um com quem possa se abrir. Algumas pessoas preferem 
procurar alguém distante, mas talvez você queira discutir até mesmo esta 
22 
 
decisão com algum colega respeitável que esteja próximo. (COLLINS, 
2004, p. 700) 
 Assim como alerta Collins, com certeza não é fácil admitir que o aconselhador 
precisa de ajuda, até mesmo porque a imagem que as pessoas tem de um pastor/aconselhador 
é que seja uma pessoa bem resolvida, que é inabalável e que sempre se resolve muito bem 
e que não precisa de ajuda, muito menos de um aconselhador. 
 Um outro ponto que pode ser destacado é quando os sentimentos de raiva e frustração 
são contidos e não expostos a alguém de confiança do pastor aconselhador que vão 
somatizando e volta-se contra a própria pessoa, desenvolvendo em sintomas físicos ou até 
mesmo em doenças psicossomáticas, como a depressão. 
A depressão, que pode variar da melancolia e da distimia4, aos casos onde 
é preciso intervenção médica psiquiátrica e internação em hospital 
especializado, também atinge os cuidadores pastorais, e se apresenta de 
várias formas, como o desleixo próprio e adoecimentos, até situações de 
descuido à família ou ao trabalho na igreja. (OLIVEIRA, 2004, p. 84) 
 Diante dessas reflexões sobre os desencadeamentos dos sintomas que o aconselhador 
pastoral está sujeito, como a depressão e suas formas de manifestar, percebemos que o tema 
requer atenção não só das igrejas, mas das várias especialidades médicas, como a psicologia 
e psiquiatria. Quanto às instituições eclesiais, estas precisam ter um olhar mais atento à 
pessoa do cuidador. A atividade do aconselhador pressupõe o acompanhamento e 
aconselhamento pastoral, da parte do pastor às pessoas da comunidade, mas e o contrário? 
Cabe aqui uma reflexão sobre o assunto. 
 
Considerações finais 
 Ao abordarmos o tema aconselhamento pastoral para casais, refletimos sobre as 
várias mudanças que as famílias brasileiras vem sofrendo com a modernidade e a pós-
modernidade, e tivemos a oportunidade de reconhecer o aconselhamento pastoral como o 
ofício mais especializado do cuidado ministerial e pastoral da igreja para os casais e famílias 
 
4 Pode-se dizer que a distimia é uma depressão crônica, de moderada intensidade. É uma palavra que vem do 
grego e significa mau humor. Durante séculos, serviu para caracterizar o sujeito mal humorado, irritadiço, de 
personalidade complicada. Atualmente, o termo é empregado para designar um subtipo da depressão. Leia 
mais em http://drauziovarella.com.br/letras/d/distimia-3/ acessado em 06/11/2016 às 23:25h. 
http://drauziovarella.com.br/letras/d/distimia-3/
23 
 
em crise. Em se tratando de aconselhar casais, compreendemos que o aconselhador precisa 
desenvolver habilidades específicas, além de cuidados especiais para realizar seu ofício. 
 Ao compreender os benefícios do aconselhamento para casais, foi possível 
identificar quandoa intervenção se faz necessária, através da identificação de problemas 
conjugais e familiares. Foi possível compreender, também, a importância da comunicação 
nos relacionamentos tanto para solucionar os conflitos como para evita-los. 
 Ao abordarmos as problemáticas vividas pelos casais e identificarmos situações 
comuns nos relacionamentos conflituosos, foi possível compreender os reflexos que a 
bagagem sócio-cultural que o indivíduo traz quando entra num relacionamento, somado às 
mudanças vividas no ambiente externo, enfrentados por ambos, são fatores complexos e, 
muitas vezes difíceis de serem ultrapassados para vencerem as crises conjugais. 
 Vale também destacar que, quando os indivíduos de alguma forma sofrem traumas, 
toda a família é afetada. Através do aconselhamento pastoral, esses indivíduos tem a 
oportunidade de expor suas feridas, decepções, e reconhecer sua parte na busca para 
enfrentar os problemas e resolvê-los de maneira que lhes tragam crescimento. 
 A sensibilidade do aconselhador para contribuir numa intervenção é fator primordial 
para identificar coisas que as partes muitas vezes omitem nos encontros de aconselhamento. 
Por outro lado, o interventor precisa ter cuidado para não perder a confiança dos 
aconselhandos. A criatividade e dinamicidade nas atividades realizadas com os casais pode 
contribuir e promover o interesse aos aconselhandos para prosseguirem no processo de 
aconselhamento. 
 Ao abordarmos os resultados do aconselhamento pastoral para a sociedade, foi 
identificada uma realidade comprometida nas famílias quanto à falta de compreensão dos 
princípios norteadores da relação familiar, bem como da sua relevância na formação do 
indivíduo como um ser responsável. Porém, compreendemos que os princípios bíblicos são 
claros quanto às orientações para a formação desse indivíduo como ser social. Recusá-los 
e/ou ignorá-los traz implicações sérias nos ambientes em que este indivíduo está inserido. 
 Para os casais e suas famílias, um dos resultados mais importantes do 
aconselhamento é justamente de promover o resgate nos relacionamentos entre os membros 
desse núcleo familiar, através de uma comunicação efetiva. O aconselhador tem em si o 
24 
 
papel educativo ao ajudar os casais a desenvolverem habilidades contemporâneas de 
comunicação e solução de conflitos. 
Finalmente, trouxemos uma reflexão sobre o tema cuidado daqueles que oferecem 
acompanhamento pastoral no contexto das instituições eclesiais, tema este que foi destacado 
por Roseli M. K. de Oliveira em sua dissertação de mestrado5, que trabalhou a problemática 
de cuidadores que se veem em situações de dificuldades mas que, por serem vistos muitas 
vezes como semideuses, não tem coragem de buscar apoio e cuidado, mergulhando muitas 
vezes no mar da depressão e do isolamento. Tema este bastante amplo e que merece uma 
oportunidade de ser aprofundado, mas que este espaço não nos permite. 
Cremos que o exposto até aqui mostra que o tema merece uma revisão detalhada e 
profunda. Não há como esgotar o assunto, afinal, a pesquisa é dinâmica e um mesmo tema 
pode ser estudado sob várias perspectivas. Que estas linhas sirvam como um impulso e 
motivação para uma troca de ideias, preocupações e experiências no campo do 
aconselhamento bíblico-pastoral para casais. 
 
Referências bibliográficas 
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ATIENCIA, Jorge. Pessoa, casal e família. In: MALDONADO, Jorge (Ed.). Casamento e 
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5 Para se aprofundar no assunto cuidado aos cuidadores, leia a Dissertação de Mestrado de Roseli Margareta 
Kuhnrich de Oliveira, Cuidando de quem cuida: Propostas de poimênica aos pastores e pastoras no contexto 
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