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Beatriz Tavares – MD2 Melanogênese A melanina é sintetizada nos melanossomos por meio de um processo chamado de melanogênese. Quando a pele é exposta à radiação UV, o gene da proteína p53 no núcleo dos queratinócitos é ativado em resposta ao dano do DNA. Essa ativação de p53 leva à clivagem da proopiomelanocortina (POMC), um precursor hormonal, que origina vários produtos como a beta-endorfina e o alfa-hormônio estimulante de melanócitos (alfa-MSH). O alta-MSH quando sem liga aos receptores de melanocortina 1 (MCR1) em melanócitos adjacentes, ativa a via adenosina cíclico (cAMP), o principal fator de transcrição da melanogênese, o fator de transcrição associado à microftalmia (MITF). O MITF ativa a transcrição da enzima tirosina. O elemento inicial do processo biossintético da melanina é a tirosina, um aminoácido essencial. A tirosina sofre atuação química da tirosinase. Em presença de oxigênio molecular, a tirosinase oxida a tirosina em dopa (dioxifenilalanina) e esta em dopaquinona. A partir desse momento, a presença ou ausência de cisteína determina o rumo da reação para síntese de eumelanina ou feomelanina Na ausência de cisteína (glutationa), a dopaquinona é convertida em ciclodopa (leucodopacromo) e esta em dopacromo. Há duas vias de degradação de dopacromo: uma que forma DHI (dopa,5,6 diidroxiindol) em maior proporção; e outra que forma DHICA (5,6 diidroxiindol-2-ácido carboxílico) em menor quantidade. Este processo é catalisado pela dopacromo tautomerase (Tyrp 2-Dct). Finalmente, estes diidroxiindóis são oxidados à melanina, produzindo eumelanina. Por outro lado, na presença de cisteína, dopaquinona rapidamente reage com tal substância para gerar 5-S-cisteinildopa, e, em menor proporção, a 2-S-cisteinildopa. Logo, as cisteinildopas são oxidadas em intermediários benzotiazínicos e, finalmente, produzem feomelanina. Eumelanina e feolamina A eumelanina é um polímero marrom, alcalino e insolúvel e a feomelanina é um pigmento alcalino, solúvel e amarelado. A eumelanina absorve e dispersa a luz ultravioleta, atenuando sua penetração na pele e reduzindo os efeitos nocivos do sol. Em outras palavras, indivíduos com maior pigmentação tendem a se queimar menos e bronzeiam mais do que indivíduos mais claros. A feomelanina, por outro lado, tem um grande potencial em gerar radicais livres, em resposta à RUV, já que são capazes de causar danos ao DNA, dessa forma, podendo contribuir para os efeitos fototóxicos da RUV. Isto explica o porquê de as pessoas com pele clara, as quais contêm relativamente altas quantidades de feomelanina, apresentarem um risco aumentado de dano epidérmico, induzido por ultravioleta, inclusive neoplasias. Beatriz Tavares – MD2 Síntese de Vitamina D Existem três fontes de vitamina D: produção endógena mediante absorção de UVB na pele, ingestão de alimentos que contenham vitamina D3 gema de ovo, e por meio de suplementos dietéticos contendo vitamina D. A síntese endógena da vitamina D tem início com a exposição cutânea à radiação UVB, e é o principal meio de acumulação de vitamina D no corpo humano. Como ocorre? Após a exposição à radiação UVB, o 7- desidrocolesterol é fotoisomerizado na pele para pré-colecalciferol, ou pré-vitamina D3. Esta molécula é então convertida em colecalciferol, ou vitamina D3, e armazenada no interior dos adipócitos. Quando a demanda fisiológica aumenta, a vitamina D3 entra na circulação para ser ainda modificada, em duas reações de hidroxilação. A primeira ocorre no fígado: a conversão de colecalciferol a calcidiol, também conhecida como 25-hidroxicolecalciferol (25(OH)D, utilizada para a medida de níveis séricos). A segunda hidroxilação ocorre nos túbulos proximais do rim, gerando a forma ativa da vitamina D também conhecida como calcitriol ou 1,25- dihidroxicolecalciferol. Protetor solar e vitamina D Existe uma sobreposição entre os perfis de absorção UV dos protetores solares e o espectro de ação para a síntese de vitamina D. Em tese, o uso correto de protetores solares deveria reduzir significativamente os níveis de vitamina D. No entanto, isto não ocorre na prática, já que, como tem sido demonstrado em vários estudos, os protetores solares raramente são aplicados corretamente, nas quantidades certas e com frequência adequada. Por conseguinte, sob condições reais, é improvável que o uso de protetores solares possa interferir na produção de vitamina D. Ainda assim, o risco de deficiência de vitamina D pode ser eliminado com uma dieta balanceada associada à suplementação de vitamina D3 quando indicada. Suplementação de Vitamina D Estão disponíveis múltiplas preparações de vitamina D e seus metabolitos. A vitamina D deve ser preferida face aos seus metabolitos por ser mais barata. Numa meta-análise o colecalciferol (Vit D3) mostrou-se mais eficiente que o ergocalciferol (Vit D2) no aumento da concentração sérica de vitamina D. Radiação Solar A maior parte da radiação solar constituída de energia não ionizante, Das radiações que compõem a luz solar, cerca de 39% correspondem à luz visível, 54% encontram-se na faixa do infravermelho e 7% na faixa da UV . A radiação UV (10 a 400 nm) pode ser didaticamente dividida em UVA (320 a 400 nm), UVB (290 a 320 nm) e UVC (200 a 290 nm). Aproximadamente 95% da radiação UV que chega à Beatriz Tavares – MD2 superfície da Terra é formada por UVA e somente 5% por UVB. A camada de ozônio impede a chegada de radiações UVC (a vida é incompatível com a presença dessa radiação) A quantidade de UVA que atinge a superfície terrestre é praticamente constante durante o dia, uma vez que o UVA é pouco filtrado pela camada de ozônio, ao passo que a quantidade de radiação UVB é maior no período entre 10 e 14 h, com pico ao meio-dia (entre 11 e 15h no horário de verão), em função do posicionamento da Terra em relação ao sol, pois acamada de ozônio absorve grande quantidade de UVB. Vale ressaltar o fato de a radiação UVA ter uma intensidade 20 vezes maior que a radiação UVB ao chegar à Terra e ser capaz de atravessar vidros comuns, diferentemente do UVB que não atravessa. Efeitos da radiação ultravioleta sobre a pele A luz UV atinge diferentes camadas da pele dependendo do comprimento de onda, e assim, interage com diferentes células localizadas em profundidades distintas. A radiação UV de comprimento de onda curto (UVB) é absorvida predominantemente na epiderme, afetando os queratinócitos. A radiação de comprimento de onda longo (UVA) penetra profundamente e interage tanto com queratinócitos da epiderme quanto com fibroblastos dérmicos. Em linhas gerais, a luz UVA atua principalmente gerando radicais livres que irão, posteriormente, ser responsáveis pela peroxidação lipídica e ativação dos fatores de transcrição. Já a radiação UVB, embora possa também gerar radicais livres, tem como principal mecanismo de ação a interação direta com o DNA, causando diversas alterações. Em termos práticos, os efeitos perceptíveis da radiação UV podem ser divididos em precoces (eritema, queimadura, bronzeamento, espessamento da epiderme, imunossupressão) e tardios (fotoenvelhecimento, fotocarcinogênese). Efeitos precoces da radiação ultravioleta Eritema A reação eritematosa à radiação UV é um processo inflamatório, e depende do comprimento de onda em questão, sendo maior quanto menor for o comprimento de onda; assim, a radiação UVB é a mais eficaz na indução de eritema, e a radiação UVA é 1.000 vezes menos potente na indução de eritema, sendo responsável por cerca de 15% do eritema induzido pelo sol. Queimadura Não difere das queimaduras em geral; na queimadura solar de primeiro grau, observam-se apenas eritema e edema das áreas irradiadas,com desconforto relativo; na queimadura de segundo grau, como o edema é muito intenso, há formação de bolhas que, ao se romperem, eliminam grandes quantidades de eletrólitos e proteínas. Beatriz Tavares – MD2 O tratamento dos casos leves é feito por emulsões, uso de pasta d’água e administração de corticosteroides locais; os casos graves necessitam de terapêutica sistêmica com corticosteroide, sobretudo triancinolona (intramuscular), e cuidados especiais (reidratação, reposição de eletrólitos etc.), sendo muitas vezes necessária a internação em CTI. Até certo ponto, após exposição solar exagerada, sobretudo em pessoas de pele fototipos I a III, impõe-se, nas primeiras horas, bloquear o efeito das prostaglandinas pelo uso de ácido acetilsalicílico ou indometacina Pigmentação Há dois tipos de pigmentação melânica da pele: a cor intrínseca da pele, geneticamente determinada e imutável; e a facultativa, decorrente da ação dos raios solares e dos hormônios, que é mutável. Esta, quando estimulada pelos raios solares ou UV artificialmente produzidos, é conhecida com o nome de bronzeamento. Chama-se unidade melanina-epiderme o conjunto constituído funcionalmente por um melanócito e cerca de 36 queratinócitos; é do funcionamento dessas unidades que dependem a cor genética da pele e a cor facultativa (bronzeamento). Os melanócitos fabricam grânulos – os melanossomos –, que sofrem a melanização por meio da tirosinase, que, pela oxidação da tirosina, leva à formação da melanina; os melanócitos injetam, por meio de seus dendritos, os melanossomos no interior dos queratinócitos que os incorporam. Com a maturação dos queratinócitos, os melanossomos são eliminados. O bronzeamento é induzido tanto pela radiação UVA quanto pela UVB, e pode ser classificado em duas categorias: Bronzeamento imediato (BI): ocorre poucos minutos após a exposição solar e persiste até 24 h Bronzeamento tardio (BT): se inicia de 2 a 3 dias após a irradiação e dura, em média, semanas a meses. O BI decorre de melanização, isto é, da foto- oxidação da melanina previamente existente, enquanto o BT deriva da melanogênese e transferência da melanina aos queratinócitos. A radiação UVA provoca o BI, que por seu caráter efêmero, não oferece proteção contra os efeitos da radiação UVB. Doses subsequentes de luz UVA promovem BT e pigmentação persistente. Assim, tanto a radiação UVA quanto a UVB podem causar bronzeamento, mas a UVA é menos eficaz (sendo a UVA curta um pouco mais eficaz). Espessamento da epiderme Em consequência das radiações solares, a pele reage tornando-se mais espessa. Nos dois primeiros dias, o espessamento é decorrente de edema inter e intracelular; a partir do terceiro dia, há uma verdadeira hiperplasia de todas as camadasepidérmicas, com exceção da camada basal. Por outro lado, observa-se, ainda, o aumento do número de mitoses. A cada nova exposição às radiações, há maior espessamento da epiderme. O retorno à normalidade pode ocorrer depois de alguns meses. Fototipos de pele A mais famosa classificação dos fototipos cutâneos é a escala de Fitzpatrick, criada em 1976 pelo médico Thomas Fitzpatrick. Ele classificou a pele em fototipos de um a seis, a partir da capacidade de cada pessoa em se bronzear, assim como, sensibilidade e vermelhidão quando exposta ao sol. Fototipo I: muitos sensível ao sol; Fototipo II: sensível ao sol; Fototipo III: sensibilidade normal ao sol; Fototipo IV: sensibilidade normal ao sol; Fotipo V: pouco sensível ao sol; Fototipo VI: insensível ao sol. Beatriz Tavares – MD2 O conceito correto de fotoproteção vai muito além do uso regular de protetor solar. Abrange as várias maneiras de se proteger o corpo contra os efeitos nocivos da exposição excessiva à radiação UV, como queimadura solar, fotoenvelhecimento, fotoimunossupressão e fotocarcinogênese. A fotoproteção ideal é obtida também pelo uso de roupas adequadas e com capacidade de proteção contra a radiação UV, chapéus com abas largas e óculos de sol com proteção UV; Protetores solares Os protetores solares são considerados fundamentais para a fotoproteção. Consistem em formulações tópicas preparadas em diferentes veículos com adição de agentes orgânicos ou inorgânicos capazes de interagir com a radiação incidente, neutralizando- a de diferentes modos (reflexão, dispersão ou absorção) e, assim, conferir proteção à pele. Assim, o protetor solar ideal deve proteger completamente contra as radiações UVA, UVB, infravermelha e luz visível, sendo, ao mesmo tempo, cosmeticamente aceitável e de uso agradável, sem manchar tecidos. Deve ser fotoestável, mantendo suas propriedades quando exposto à luz solar. Deve ter boa a capacidade de aderir à pele e nela permanecer, resistindo ao suor, ao atrito ou à imersão na água. Deve ser não irritante, não sensibilizante e atóxico. A classificação atual dos protetores divide-os em agentes inorgânicos (físicos) e orgânicos (químicos), que diferem entre si pelo mecanismo de ação utilizado para atenuar a radiação incidente. Protetores inorgânicos Os agentes inorgânicos são partículas minerais fotoestabilizadas que protegem a pele primariamente pela reflexão e dispersão de fótons, criando uma barreira física na pele (por isso, também são chamados bloqueadores solares). Em geral, os protetores inorgânicos apresentam maior espectro de ação, atuando tanto sobre a radiação UVA e UVB quanto sobre a luz visível. Os mais amplamente utilizados são o dióxido de titânio (TiO2) e o óxido de zinco (ZnO). O ZnO oferece melhor proteção UVA, e o TiO2 fornece proteção UVB superior, apresentando um tom mais branco em decorrência de seu maior índice de refração. Todavia, por serem moléculas originalmente grandes (200 a 500 nm), apresentam aspecto esbranquiçado, opaco, que aumenta conforme a concentração do agente. Protetores orgânicos Os agentes orgânicos, por sua vez, são moléculas que absorvem fótons da radiação UV e, por reação fotoquímica, dissipam a energia UV incidente na forma de energia térmica, promovendo, assim, a fotoproteção. Desse modo, os protetores orgânicos correspondem, na verdade, aos filtros solares, embora o termo seja indistintamente utilizado para se referir também aos protetores inorgânicos. Inúmeros ativos compõem a lista de agentes orgânicos, com diferentes espectros de ação: UVA, UVB ou ambos. São exemplos os derivados do ácido para-aminobenzoico, os cinamatos, os salicilatos e outros. Nas formulações comercialmente disponíveis muitos agentes estão associados, sejam orgânicos ou inorgânicos, com o intuito de proporcionar maior Beatriz Tavares – MD2 efeito fotoprotetor, cosmética aceitável e baixo índice de efeitos adversos. Fotoproteção e vestuário O grau de proteção oferecido pelas roupas é função de diversas características intrínsecas ao material e de modelagem do mesmo e pode ser acessado pelo índice denominado fator de proteção ultravioleta (FPU), que mede a porcentagem de radiação UV filtrada pelo tecido. Este índice é calculado in vitro pela alteração na quantidade de radiação detectada quando o tecido é colocado entre o detector e uma fonte de UV com espectro conhecido. Por exemplo: FPU 50 significa que 1 em cada 50 raios atinge a pele, ou seja, 2% da radiação total, portanto, 98% foram bloqueados. São exemplos o microfilamento de poliamida contendo TiO2 ; poliamida com elastano (ideal para natação); poliéster (favorece a absorção do suor e suas microfibrilas facilitam o transporte deste para o exterior); e algodão tratado com Tinofast®, capaz de absorver a radiação UV. Ao recomendar o uso de chapéus como estratégia de fotoproteção, deve-se ressaltar que eles precisam proteger a cabeça, as orelhas e o pescoço, e ser confeccionadosem tecidos não transparentes à radiação UV. O tamanho da aba é um fator importante, devendo ser de, no mínimo, 7 cm em todo o perímetro cefálico. Fica claro, portanto, que o uso de bonés não confere fotoproteção adequada. Quando adequados, os chapéus conferem FPS em torno de 5 para a face. Fotoproteção sistêmica Consiste na utilização de agentes orais capazes de conferir proteção da pele contra a radiação UV. O betacaroteno é um constituinte natural e não tóxico de muitos. De mecanismo de ação desconhecido, o betacaroteno atua melhorando reações de fotossensibilidade causadas pela radiação visível (400 a 760 nm) em pacientes com protoporfiria eritropoiética por exemplo. Trata-se, portanto, de um fotoprotetor sistêmico atóxico que, em geral, tem indicação em doenças importantes (síndrome de Bloom) e, mesmo assim, deve ser acompanhado da aplicação de protetor solar potente, bem como da adoção de outras medidas. FPS e PPD Embora o FPS seja um padrão mundialmente aceito, ele mede, na prática, apenas a proteção contra a radiação UVB. O FPS é obtido pela razão entre a dose eritematosa mínima (DEM) na pele protegida por um protetor solar e a DEM na mesma pele quando desprotegida, e independe do fototipo do indivíduo em que foi testado. Em termos práticos, o FPS representa o número de vezes em que o fotoprotetor intensifica a proteção natural do indivíduo em relação à radiação UVB. Por exemplo, um indivíduo que normalmente ficaria discretamente eritematoso após uma exposição ao sol durante 30 min, sem fotoprotetor, ao usar um protetor solar com um FPS 10, só apresentará eritema após 300 min de exposição ao sol. No entanto, como o critério analisado é o eritema, não se pode utilizá-lo para aferir a proteção contra radiação UVA, que produz pouco eritema. Até o momento, não há consenso sobre qual o melhor método para aferição da capacidade de proteção contra UVA. Muitos países utilizam como padrão o grau de PPD (pigmented persistent darkening), que é o índice de pigmentação persistente. No Japão, por exemplo, avalia-se este índice observando-se a pigmentação persistente induzida na pele protegida com protetor solar em comparação com a pele não protegida, após 2 a 24 h da exposição à radiação UVA. A razão entre esses índices produz o fator de proteção UVA (FPUVA). No Brasil, a Anvisa estabelece que o nível mínimo de FPUVA deve corresponder a, no mínimo, um terço do FPS. Dore eritematosa mínima: é a menor dose de radiação UVB capaz de provocar eritema cuttâneo quando medido 24h após a irradiação. Beatriz Tavares – MD2 Em relação à capacidade de resistência à água, os protetores solares com essa finalidade são classificados em “resistente à água” (capaz de manter o FPS no local da aplicação após duas imersões de 20 min) ou “muito resistente à água” (capaz de manter o FPS no local da aplicação após quatro imersões de 20 min) Orientação quanto ao uso correto do protetor solar Pelo uso inadequado (pequena quantidade ou reaplicação infrequente), muitos não obtêm um grau adequado de fotoproteção. Assim, é fundamental a orientação correta de cada paciente sobre como utilizá-lo, recomendando-se sua aplicação, pelo menos, 20 min antes da exposição solar, e reaplicação a cada 2 h. A quantidade de protetor solar aplicada é outro fator importantíssimo para a efetiva fotoproteção. Para que o fator de proteção indicado no rótulo seja alçando, a quantidade de fotoprotetor empregada deve ser de 2 mg/cm² (mesma quantidade utilizada no cálculo da DEM). Na prática, as pessoas aplicam cerca de um terço da quantidade preconizada, em torno de 0,5 a 1 mg/cm², diminuindo consideravelmente o FPS do rótulo. O momento ideal para aplicação do fotoprotetor é pelo menos 15 a 30 min antes de expor-se ao sol. Fotoenvelhecimento refere-se às alterações clínicas, histológicas e funcionais características da pele cronicamente exposta à irradiação solar. Existem dois processos que levam às alterações cutâneas associadas ao envelhecimento. O primeiro é o do envelhecimento intrínseco ou cronológico, determinado fundamentalmente pela genética. Nele estão presentes os efeitos naturais da gravidade ao longo dos anos, as linhas de expressão etc. O segundo componente do processo de envelhecimento é o denominado envelhecimento extrínseco. A exposição solar é o principal fator contribuinte desse envelhecimento ocasionando ceratoses, aspereza da pele, telangiectasias; A pele fotoenvelhecida caracteriza-se pela aspereza, por rugas mais proeminentes, pigmentação irregular e difusa, telangiectasias, tom amarelado da pele e uma variedade de lesões benignas, pré-malignas e neoplásicas. A maioria dessas alterações é causada por mudanças ocorridas na derme. Na histopatologia do envelhecimento intrínseco da pele, observa-se afinamento da epiderme com achatamento da junção dermoepidérmica. Na pele cronicamente exposta ao sol, ocorre o oposto: a epiderme torna-se espessada. Somente no estágio final de fotoenvelhecimento é que ocorre a atrofia da epiderme. Os melanócitos estão aumentados em número e tamanho, enquanto as células de Langerhans estão diminuídas e com sua função comprometida. Na pele fotoenvelhecida encontra-se maior número de fibroblastos, na maioria das vezes hiperplasiados. Mastócitos são abundantes e o número de histiócitos e de outras células mononucleares está bastante aumentado, caracterizando o processo inflamatório denominado heliodermatite. A característica histológica mais proeminente do fotoenvelhecimento é a elastose, que geralmente se inicia na junção da derme papilar e reticular e não é observada na pele cronologicamente Beatriz Tavares – MD2 envelhecida. Ocorre substituição de fibras colágenas maduras por colágeno com aparência basofílica. Foi demonstrado que a irradiação UV induz à síntese de metaloproteinases de matriz (MMP) na pele humana in vivo. As MMP desempenham papel de destaque na patogênese do fotoenvelhecimento, apresentando atividade proteolítica para degradar proteínas da matriz. Seu surgimento pode ser induzido tanto por UVB como por UVA, e cada MMP degrada componentes diferentes das proteínas da matriz dérmica. A MMP-1, por exemplo, é responsável pela degradação do colágeno tipos I, II e III. A ativação dos fatores de transcrição, desencadeada pela exposição solar, parece ser responsável pela indução das MMP, que resulta na degradação das proteínas da matriz dérmica. O câncer da pele responde por 33% de todos os diagnósticos desta doença no Brasil. O tipo mais comum, o câncer da pele não melanoma, tem letalidade baixa, porém seus números são muito altos. A doença é provocada pelo crescimento anormal e descontrolado das células que compõem a pele. Essas células se dispõem formando camadas e, de acordo com as que forem afetadas, são definidos os diferentes tipos de câncer. Os mais comuns são os carcinomas basocelulares e os espinocelulares. Mais raro e letal que os carcinomas, o melanoma é o tipo mais agressivo de câncer da pele. Mecanismos desencadeadores da carcinogênese A RUV é o principal carcinógeno para a pele e age de duas maneiras: a primeira gerando dímeros de timina (iniciação) e a segunda estaria relacionada com a imunodepressão que causa ao depletar células de Langerhans da epiderme e estimular o aparecimento de clones de linfócitos supressores (promoção), facilitando o crescimento tumoral. O efeito cancerígeno da radiação solar sobre a pele é cumulativo, isto é, vai-se processando progressivamente com o tempo, de modo que o fato justifica, pelo menos em parte, a maior frequência de carcinomas nas últimas décadas da vida. Tipos Carcinoma basocelular (carcinoma tricoblástico, basalioma ou epiteliomabasocelular). Trata-se de um tumor constituído de células morfologicamente semelhantes às células basais da epiderme, de crescimento muito lento, com capacidade invasiva localizada, embora destrutiva, sem, no entanto, provocar metástases; é, portanto, a neoplasia maligna de melhor prognóstico. Histopatologia Trata-se de proliferação celular com as características basocelular, que se dispõem em paliçada na periferia das massas tumorais. Em geral, os núcleos são grandes, uniformes, pouco anaplásicos e com raras mitoses; as células não apresentam pontes intercelulares. Clínica A lesão mais característica do CBC é a lesão “perolada”, ou seja, lesão papulosa translúcida e brilhante de coloração amarelo-palha, que é frequente em quase todas as suas manifestações clínicas. Carcinoma espinocelular (carcinoma epidermoide, espinalioma) Trata-se de uma neoplasia maligna, isto é, com capacidade de invasão local e de metastatizar. Manifesta-se nas células escamosas, que Iniciação: é o primeiro estágio da indução ao câncer. Ocorre quando determinado agente é capaz de gerar alterações permanentes no genoma da célula e de sua progênie. Promoção: deve ocorrer após a iniciação e o agente deve ser aplicado repetidas vezes, causando alterações reversíveis como inflamação, irritação, hiperplasia. Beatriz Tavares – MD2 constituem a maior parte das camadas superiores da pele. Pode se desenvolver em todas as partes do corpo, embora seja mais comum nas áreas expostas ao sol, como orelhas, rosto, couro cabeludo, pescoço A pele nessas regiões, normalmente, apresenta sinais de dano solar, como enrugamento, mudanças na pigmentação e perda de elasticidade. Normalmente, os CECs têm coloração avermelhada e se apresentam na forma de machucados ou feridas espessos e descamativos, que não cicatrizam e sangram ocasionalmente. Eles podem ter aparência similar à das verrugas. Melanoma Tipo menos frequente dentre todos os cânceres da pele, o melanoma tem o pior prognóstico e o mais alto índice de mortalidade. Ele, em geral, tem a aparência de uma pinta ou de um sinal na pele, em tons acastanhados ou enegrecidos. Porém, a “pinta” ou o “sinal”, em geral, mudam de cor, de formato ou de tamanho, e podem causar sangramento. Pessoas de pele clara e que se queimam com facilidade quando se expõem ao sol, com fototipos I e II, têm mais risco de desenvolver a doença. O melanoma tem origem nos melanócitos. Normalmente, surge nas áreas do corpo mais expostas à radiação solar. Em estágios iniciais, o melanoma se desenvolve apenas na camada mais superficial da pele, o que facilita a remoção cirúrgica e a cura do tumor. Nos estágios mais avançados, a lesão é mais profunda e espessa, o que aumenta a chance de se espalhar para outros órgãos (metástase) e diminui as possibilidades de cura. Acredita-se que a transformação maligna do melanócito ocorra por acúmulo sequencial de alterações genéticas e moleculares, algumas vezes induzidas pelo UV. De todas as alterações genéticas envolvidas na gênese do melanoma, as mais frequentes estão no locus CDKN2A e no RAS. O locus CDKN2A tem dois genes de supressão tumoral, o p16 e o p14ARF, além da proteína p53 (que com a mutação dela, o ciclo celular sai do controle). Já a via RAS está intimamente ligada ao BRAF, que, por sua vez, participa na via de ativação da MAPK (proteinoquinase mitógeno-ativada). Esta é a proteinoquinase mais frequentemente mutada em neoplasias humanas, sendo detectada em até 66% dos melanomas. Quando ocorrem mutações no BRAF a proteína passa a um estado permanentemente ativado, independente da estimulação pelo RAS e, dessa maneira, induz à proliferação celular e à oncogênese, como também à perda de controle da apoptose. Regra do ABCDE Metodologia indicada por dermatologistas para reconhecer as manifestações dos três tipos de câncer da pele: carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e melanoma. Assimetria Assimétrico: maligno; Simétrico: benigno Borda Borda irregular: maligno; Borda regular: benigno Cor Dois tons ou mais: maligno; Tom único: benigno Dimensão Superior a 6 mm: provavelmente maligno; Inferior a 6 mm: provavelmente benigno Evolução Cresce e muda de cor: provavelmente maligno; Não cresce nem muda de cor: provavelmente benigno. Beatriz Tavares – MD2 Podemos definir as queimaduras como uma lesão tecidual decorrente de trauma térmico, elétrico, químico, radioativo ou mesmo alguns animais e plantas (como larvas, água-viva, urtiga, que destrói parcialmente ou totalmente a pele e seus anexos, podendo alcançar camadas mais profundas como o tecido celular subcutâneo, músculos, tendões e ossos. Histologicamente, a lesão da queimadura é uma necrose de coagulação da epiderme e em profundidade variável da derme e de tecidos subjacentes. Tipos de queimaduras: – Queimaduras térmicas: são provocadas por fontes de calor como o fogo, líquidos ferventes, vapores, objetos quentes e excesso de exposição ao sol (por radiação); – Queimaduras químicas: são provocadas por substância química em contato com a pele ou mesmo através das roupas; – Queimaduras por eletricidade: são provocadas por descargas elétricas. Classificação das queimaduras Quanto à profundidade, as queimaduras podem ser classificadas como: – 1º grau: atingem as camadas superficiais da pele, a epiderme. A lesão é eritematosa, quente e dolorosa (p. ex., queimadura solar); não causam flictemas. – 2º grau: queimaduras de espessura parcial envolvem a epiderme e porções da derme. podem ser diferenciadas em superficial e profunda. Superficial: É também chamada de queimadura de espessura parcial superficial, por acometer toda a epiderme e parte da derme, conservando razoável quantidade de folículos pilosos e glândulas sudoríparas. Clinicamente, caracteriza- se por bolhas, eritema, exsudação e dor intensa. . Quando se rompem, as bolhas deixam à mostra uma superfície rósea e úmida de erosão ou ulceração. Há reconstituição total da pele em 14 a 21 dias, com mínima formação de cicatrizes (p. ex., queimadura por líquido superaquecido). Profunda: É também denominada queimadura de espessura parcial profunda. Destrói quase toda a derme, comprometendo os anexos. Tem coloração mais pálida, é menos dolorosa e acarreta maior repercussão sistêmica. Embora possa evoluir com restauração após 3 semanas, o epitélio neoformado é muito friável, apresentando, por isso, ulceração recorrente e forte tendência à cicatrização hipertrófica e à formação de contraturas. O tratamento usual das áreas de 2 o grau profundo pode exigir excisão tangencial e enxertia de pele (p. ex., lesão por líquido superaquecido, por imersão ou por chama direta). Beatriz Tavares – MD2 – 3º grau: atingem todas as camadas da pele e podem chegar aos ossos. Apresentam pouca ou nenhuma dor e a pele branca ou carbonizada. Clinicamente a lesão é seca, branca nacarada, havendo redução da elasticidade tecidual, tornando-se rígida. Pode apresentar vasos sanguíneos trombosados visíveis, causando deformidades. É tão profunda que destrói as terminações nervosas, sendo indolor. Em alguns casos, como nas lesões elétricas, acomete o tecido celular subcutâneo, tendões, ligamentos e músculos, podendo chegar aos ossos. As lesões elétricas podem levar a mutilações, principalmente de membros superiores, sendo classificadas por alguns autores como lesão de “4 o grau” assim como também as áreas carbonizadas. Classificação quanto a extensão: Além da profundidade da queimadura, também é importante a extensão da lesão. Todo paciente com lesões de 2º ou 3º grau devem ser avaliados em relação ao percentual da área corporal atingida, de acordo com o diagrama exposto ao lado. Queimadura leve Menosde 10% da superfície corporal de um adulto com queimaduras de 2º grau. Menos de 5% da superfície corporal de uma criança ou idoso com queimaduras de 2º grau. Menos de 2% da superfície corporal com queimaduras de 3º grau. Queimadura moderada 10 a 20% da superfície corporal de um adulto com queimaduras de 2º grau. 5 to 10% da superfície corporal de uma criança ou idoso com queimaduras de 2º grau. 2 to 5% da superfície corporal com queimaduras de 3º grau. Queimadura grave Mais de 20% da superfície corporal de um adulto com queimaduras de 2º grau. Mais de 10% da superfície corporal de uma criança ou idoso com queimaduras de 2º grau. Mais de 5% da superfície corporal com queimaduras de 3º grau. Cálculo da extensão das queimaduras Para efeito de cálculo da extensão da área queimada são consideradas apenas as queimaduras de 2 o e 3 o graus. “Regra dos nove” A clássica “regra dos nove” de Wallace constitui o método mais rápido para avaliação da extensão da queimadura. Consiste na divisão do corpo em múltiplos de nove. A cabeça equivale a 9%; cada membro superior, a 9%; a parte anterior do tronco, a 18%; Beatriz Tavares – MD2 a parte posterior do tronco, a 18%; cada membro inferior, a 18%; e o períneo, a 1%. Como as superfícies corporais parciais de crianças são proporcionalmente diferentes das dos adultos, utiliza-se nelas a “regra dos nove modificada para crianças”. A partir da puberdade considera-se a superfície corporal da criança semelhante à do adulto. Estimativa das queimaduras dispersas A superfície da região palmar do paciente corresponde aproximadamente a 1% de sua superfície corporal total. Pode-se, portanto, usar a superfície palmar como parâmetro na estimativa da extensão de queimaduras irregularmente distribuídas. Esquema de Lund-Browder É o método mais apurado para cálculo da área corporal porque leva em consideração as proporções do corpo de acordo com a idade. Cicatrização: Pacientes que apresentem queimadura de primeiro grau irão apenas precisar de hidratação da pele, já que a lesão se restringe a epiderme, se caracterizando uma inflamação local. No caso de pacientes com queimaduras de segundo grau superficial, onde existe um acometimento até a derme papilar, é preferível a realização de enxertos de pele parciais após o desbridamento de toda a região acometida, assim, o paciente irá apresentar uma menor contratura e alterações estéticas da região acometida. Quando existe acometimento da derme total, chegando ao subcutâneo, o organismo não será mais capaz de realizar uma cicatrização eficiente, já que os anexos dérmicos e sua reserva epitelial estão destruídos. Nessas situações, é preferível a utilização de retalhos cutâneos para prevenir o surgimento de contraturas e deformidades na pele do paciente. Beatriz Tavares – MD2 Primeiros socorros: Colocar a parte queimada debaixo da água corrente fria, com jato suave, por, aproximadamente, dez minutos. Compressas úmidas e frias também são indicadas. Se houver poeira ou insetos no local, mantenha a queimadura coberta com pano limpo e úmido. No caso de queimaduras em grandes extensões do corpo, por substâncias químicas ou eletricidade, a vítima necessita de cuidados médicos urgentes. – nunca toque a queimadura com as mãos; – nunca fure bolhas; – nunca tente descolar tecidos grudados na pele queimada; – nunca retire corpos estranhos ou graxa do local queimado; – nunca coloque manteiga, pó de café, creme dental ou qualquer outra substância sobre a queimadura – somente o médico sabe o que deve ser aplicado sobre o local afetado. Pele de tilápia e queimadura A pele de tilápia age como um curativo para queimaduras de 2º e 3º grau e o seu uso acelera o processo de cicatrização além de diminuir a dor do paciente. Os estudos histológicos confirmaram que a pele da tilápia apresenta boa quantidade de colágeno Tipo I, boa resistência à traçao e boa umidade, semelhantes à pele humana. Ela tem efeito de cicatrização mais rápido e não necessita de tantas trocas, já que o colágeno interage com a ferida da queimadura facilitando o processo de cicatrização. E, como a pele da tilápia adere completamente à área queimada, isso evita a contaminação externa e a perda de líquido e proteína, que desidrata o paciente. Após as etapas de esterilização da pele da tilápia e irradiação complementar, demonstrou-se ausência de germes gram (+), gram (-) e fungos, sem alterações histológicas na estrutura da derme e seus elementos.
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