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Silva CMC, Valente GSC, Saboia VM et al. O exame físico e o processo de enfermagem... Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(supl. 1):2281-6, jul., 2014 2281 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.5927-50900-1-SM.0807supl201412 O EXAME FÍSICO E O PROCESSO DE ENFERMAGEM: PARA ALÉM DO DUALISMO ENTRE TEORIA E PRÁTICA THE PHYSICAL EXAMINATION AND THE NURSING PROCESS: BEYOND DUALISM BETWEEN THEORY AND PRACTICE El EXAMEN FÍSICO Y EL PROCESO DE ENFERMERÍA: MÁS ALLÁ DEL DUALISMO ENTRE LA TEORÍA Y LA PRÁCTICA Carlos Magno Carvalho Silva1, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente2, Vera Maria Saboia3, Enéas Rangel Teixeira4 RESUMO Objetivo: descrever a articulação entre o exame físico e o Processo de Enfermagem segundo Horta, na visão de graduandos de enfermagem. Método: estudo exploratório-descritivo, de abordagem qualitativa, com uma turma de graduandos de enfermagem do 4o período, composta por jovens de ambos os sexos. Para a coleta de dados, foi realizada uma entrevista semiestruturada. A pesquisa teve o projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, Parecer n0 01260258000-07. Resultados: os dados foram agrupados em categorias temáticas: O exame físico e as etapas do Processo de Enfermagem segundo Wanda Horta; e As técnicas e tecnologias relacionadas ao exame físico e ao Processo de enfermagem. Conclusão: os depoimentos dos graduandos possibilitaram observar a relação entre o exame físico, as etapas do processo de enfermagem, segundo Horta, assim como a instrumentalização necessária ao seu desenvolvimento: a técnica e a tecnologia. Descritores: Processos de Enfermagem; Exame Físico; Educação em Enfermagem. ABSTRACT Objective: to describe the articulation between the physical examination and the Nursing Process according to Horta, in the view of nursing graduates. Method: exploratory-descriptive study, with a qualitative approach, with a group of nursing students in 4th period, composed of young people of both sexes. For data collection, a semi-structured interview was performed. The research project was approved by the Research Ethics Committee, Opinion nº 01260258000-07. Results: data were grouped into thematic categories: The physical examination and steps of the Nursing Process according Wanda Horta; and techniques and technologies related to physical examination and to the nursing Process. Conclusion: the testimony of the students allowed to observe the relationship between the physical examination, the steps of the nursing process, according to Horta, as well as the instrumentation required for its development: the technique and technology. Descriptors: Nursing Process; Physical Examination; Nursing Education. RESUMEN Objetivo: describir la relación entre el examen físico y el Proceso de Enfermería según Horta, en la visión de los graduados de enfermería. Método: estudio exploratorio-descriptivo, con enfoque cualitativo, con un grupo de estudiantes de enfermería del cuarto periodo, compuesto por jóvenes de ambos sexos. Para la recopilación de los datos, se realizó una entrevista semi-estructurada. La investigación tuvo el proyecto aprobado por el Comité de Ética de la Investigación, Opinión nº 01260258000-07. Resultados: los datos fueron agrupados en categorías temáticas: El examen físico y las etapas del Proceso de Enfermería según Wanda Horta; y Las técnicas y tecnologías relacionadas al examen físico y al Proceso de enfermería. Conclusión: los testimonios de los alumnos permiten observar la relación entre el examen físico, las etapas del proceso de enfermería, según Horta, así como la instrumentación necesaria para su desarrollo: la técnica y la tecnología. Descriptores: Proceso de Enfermería; Examen Físico; Educación en Enfermería. 1Enfermeiro, Professor Mestre em Enfermagem, Universidade Estácio de Sá. Rio de Janeiro (RJ), Brasil. E-mail: mcarvalho27@yahoo.com.br; 2Enfermeira, Professora Doutora em Enfermagem, Departamento de Fundamentos de Enfermagem e Administração, Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa - Universidade Federal Fluminense/EEAC/UFF. Niteroi (RJ), Brasil. E-mail: geilsavalente@yahoo.com.br; 3Enfermeira, Professora Titular, Doutora em Enfermagem, Departamento de Fundamentos de Enfermagem e Administração, Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa - Universidade Federal Fluminense/EEAC/UFF. E-mail: verasaboia@uol.com.br; 4Enfermeiro e Psicólogo, Doutor em Enfermagem, Coordenador do Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde, Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, Universidade Federal Fluminense /EEAC/UFF. Niteroi (RJ), Brasil. E-mail: eneaspsi@hotmail.com ARTIGO ORIGINAL mailto:mcarvalho27@yahoo.com.br mailto:geilsavalente@yahoo.com.br mailto:verasaboia@uol.com.br mailto:eneaspsi@hotmail.com Silva CMC, Valente GSC, Saboia VM et al. O exame físico e o processo de enfermagem... Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(supl. 1):2281-6, jul., 2014 2282 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.5927-50900-1-SM.0807supl201412 O exame físico realizado pelo enfermeiro tem o intuito de evidenciar informações úteis ao delineamento dos problemas de enfermagem e, por conseguinte, direcionar a assistência prestada ao cliente.1 Destarte, deve se constituir no primeiro passo de uma assistência sistematizada. Seu aprimoramento se torna cada vez mais necessário no conteúdo de ensino a ser ministrado nos diferentes níveis de formação, sobretudo na graduação, a fim de que sejam desenvolvidas as habilidades para a sua execução, num nível compatível com a segurança dos clientes.2 A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é empregada na prática pelos enfermeiros através de um método científico ou método de resolução de problemas que auxilia no planejamento do cuidado. Esta metodologia é conhecida como o Processo de Enfermagem.3 Wanda de Aguiar Horta, importante enfermeira teorista brasileira, buscou ao longo de sua trajetória profissional, criar e transmitir um conceito de enfermagem que englobasse os aspectos, muitas vezes conflitantes, de arte humanitária, ciência e profissão.4 O Processo de Enfermagem, segundo Horta, é ainda hoje, uma ferramenta para execução, organização e gerenciamento do trabalho de enfermagem.5 Na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), em 1959, Horta começou a desenvolver o núcleo central de seu trabalho que constitui na elaboração de vasta fundamentação teórica para a enfermagem, culminando com a elaboração da Teoria das Necessidades Humanas Básicas. Essa teoria é considerada o ponto alto de seu trabalho e a síntese da todas as suas pesquisas.6 A Teoria das Necessidades Humanas básicas de Horta foi estruturada a partir do trabalho do psicólogo Abraham Maslow.7 Ambos os estudiosos postularam que todos os seres humanos compartilham de necessidades humanas básicas. Para Maslow, as necessidades existem para todos os seres humanos, entretanto, ele as ordena de forma hierárquica. As necessidades de nível inferior seriam aquelas ligadas à sobrevivência, estas precisam ser atendidas para que a vida e a espécie humana continuem. As necessidades de nível mais alto começam com as de segurança e proteção, e continuam até valores mais elevados. A pirâmide das necessidades de Maslow tornou-se uma figura conhecida entre os profissionais de saúde e, embora algumas das necessidades sejam situadas em níveis superiores, elas, ainda assim, são básicas a cada ser humano. Baseada nesta pirâmide, Horta dividiu as necessidades em três esferas: a esfera das Necessidades psicobiológicas; as Necessidades psicossociais; e as Necessidades psicoespirituais. O Processo de Enfermagem organizado por Horta, com base na Teoria das Necessidades Básicas Humanas, tem exatamente, entre outras qualidades e funções,o fato de tornar palpável, ao profissional de enfermagem, a organização e o dinamismo da consulta, uma vez que esta metodologia é a dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas, visando à assistência ao ser humano e caracteriza-se pelo inter-relacionamento e dinamismo de suas fases ou passos.8:35 As fases deste processo compreendem o Histórico de Enfermagem, Diagnóstico, Plano de Cuidados, Evolução e Prognóstico. O exame físico integra a primeira fase,8 tomando a forma de um quebra-cabeça: a partir dele, são coletados os dados (as peças) que servirão para a montagem do todo (a assistência de enfermagem). O processo de enfermagem é uma atividade desenvolvida quase que exclusivamente por acadêmicos de enfermagem, que a fazem de forma mecânica, despersonalizada e desarticulada com os profissionais dos serviços, cumprindo tão somente uma tarefa ou atividade do curso, com fins de obter um ritual de avaliação. Tal evento desestimula os enfermeiros na prática, pois passam a desacreditar e refletir o processo como algo trabalhoso, enfadonho e, ainda, sem vislumbrar caminhos para sua implementação nos serviços.2,3 Baseada nesta problemática, este estudo tem como objetivos: ● Descrever a articulação entre o exame físico e o Processo de Enfermagem segundo Horta, na visão de graduandos de enfermagem; ● Discutir esta relação, destacando sua relevância no ensino de graduação em enfermagem e sua aplicabilidade à prática profissional. Estudo exploratório-descritivo, de abordagem qualitativa9,10, com uma turma de graduandos de enfermagem do 4o período, de ambos os sexos, na faixa etária entre os 20 aos 27 anos. Como critério de inclusão para sujeitos da pesquisa, era necessário que o graduando estivesse participando da consulta de enfermagem desenvolvida com clientes diabéticos, no Grupo de Diabéticos do MÉTODO INTRODUÇÃO Silva CMC, Valente GSC, Saboia VM et al. O exame físico e o processo de enfermagem... Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(supl. 1):2281-6, jul., 2014 2283 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.5927-50900-1-SM.0807supl201412 Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), vinculado à Universidade Federal Fluminense (UFF). O ambulatório deste hospital, campo da pesquisa, atende a população da cidade de Niterói (RJ) e municípios vizinhos. O perfil da clientela do Grupo dos Diabéticos do HUAP/UFF é, em suma, adulto-idoso, classe média baixa, escolaridade fundamental,11 que frequentam o serviço periodicamente participando das consultas com médicos e enfermeiros, e DE atividades de educação em saúde, coordenadas por professores, graduandos e residentes da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC/UFF). Foram selecionados, por amostragem aleatória, 20 sujeitos, quatro do sexo masculino e 16 do feminino, pertencentes à mesma turma do Curso de graduação em enfermagem, que cursaram a disciplina de Fundamentos de Enfermagem durante o 2º semestre, de 2007, e concordaram em participar da pesquisa assinando do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. No estudo, foram identificados pela inicial G (graduando). Assim, onde estiver expresso, por exemplo, G1, lê-se graduando 1, cujas falas foram registradas nos resultados em itálico. Para a coleta de dados, dispôs-se de 48 horas de observação participante e de entrevistas individuais com duração de aproximadamente 25 minutos cada. A entrevista semiestruturada consistiu-se num roteiro previamente elaborado que serviu de eixo orientador ao seu desenvolvimento favorecendo as respostas dos participantes às questões, sem ordem rígida, mantendo um grau de flexibilidade, adaptando-se ao entrevistado e permitindo, assim, o aprofundamento da temática estudada.12 Questionou-se a respeito da realização do exame físico pelos graduandos, sua relação com a metodologia do Processo de Enfermagem e os artifícios necessários ao seu pleno desenvolvimento. Os depoimentos foram gravados em aparelho de tecnologia Mp3 e transcritos na íntegra pelos pesquisadores em um hipertexto. A leitura exaustiva deste produto possibilitou o agrupamento dos resultados em categorias temáticas, pela Análise de Conteúdo, técnica analítica das comunicações que se baseia em procedimentos sistemáticos para descrição do conteúdo das mensagens.13 O projeto de pesquisa teve o parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina (HUAP/UFF), emitido em 09/11/07, com o nº 01260258000-07 e obedece aos preceitos da Resolução Nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde,14 que regulamenta a pesquisa envolvendo seres humanos. ● Categoria Temática 1: O exame físico e as etapas do Processo de Enfermagem segundo Wanda Horta Nesta primeira categoria temática, os graduandos destacaram o aspecto encadeado e organizacional do Processo de Enfermagem, relacionando o exame físico a este como ponto inicial para uma assistência direcionada: O Exame físico, que faz parte do histórico, é uma das etapas mais importantes, portanto a realização de um exame físico adequado leva à detecção de um diagnóstico de enfermagem que poderá ser devidamente tratado. (G10) Temos que avaliar as condições físicas do paciente, observar anormalidades, buscar sinais e sintomas, para chegar a um possível diagnóstico de enfermagem. (G9) As falas dos depoentes exaltaram o aspecto investigativo do exame físico, bem como a interpretação dos achados na formulação de diagnósticos de enfermagem. A linguagem diagnóstica obedece a uma padronização que visa o entendimento entre enfermeiros de todo o mundo: os sistemas de Classificação de Diagnósticos de Enfermagem (North American Nursing Diagnosis Association - NANDA), Classificação das Intervenções de enfermagem (Nursing Interventions Classification - NIC) e Classificação dos Resultados de Enfermagem (Nursing Outcomes Classification – NOC). Logo, para a utilização destes sistemas corretamente, é necessária a realização acurada do exame físico. A articulação das etapas do processo de enfermagem, segundo Wanda Horta, se dá exatamente pela influência da execução associada à interpretação, o julgamento crítico, que proporcionará o norte à assistência tendo em vista a coerência das conclusões alcançadas em cada etapa durante todo o processo. Através destas conclusões, o Plano Assistencial determinará globalmente a assistência de enfermagem que o ser humano deve receber diante do diagnóstico estabelecido.8 Por conseguinte, a implementação do plano assistencial ou do plano de cuidados, se caracterizará pelo roteiro diário ou período aprazado, que coordena a ação da equipe de enfermagem na execução dos cuidados adequados ao atendimento das necessidades básicas específicas do ser humano.8:36 RESULTADOS E DISCUSSÃO Silva CMC, Valente GSC, Saboia VM et al. O exame físico e o processo de enfermagem... Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(supl. 1):2281-6, jul., 2014 2284 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.5927-50900-1-SM.0807supl201412 O plano de cuidados é avaliado sempre fornecendo os dados necessários para o quinto passo ou fase denominada evolução de enfermagem que consiste no relato diário das mudanças sucessivas do cliente. Finalmente, o prognóstico trará a estimativa do ser humano em atender às suas necessidades básicas alteradas após a implementação do plano assistencial e à luz dos dados fornecidos pela evolução de enfermagem. As observações dos graduandos acerca da utilidade do Processo inerente à consulta, principalmente em relação ao exame físico, permitiu perceber que eles compreendem a utilidade da consulta organizada, reconhecem como fundamental este processode trabalho e são capazes de estabelecer a relação julgamento-intervenção-avaliação intrínseca ao desenvolvimento assistencial: Com o exame, viso captar informações capazes de traduzir possíveis problemas, me levar às intervenções, ao cuidado e à avaliação. (G11) O exame ajuda a conhecer a história natural da doença, estimula o desejo do conhecimento da anatomia através dos exames realizados; ajuda na prescrição e assistência de enfermagem; valoriza as ações de enfermagem. (G8) Dadas as características do Processo de Enfermagem, Horta8:37 afirma que é possível corrigir erros em qualquer uma das fases e também a previsão simultânea de todas as fases. Durante o ensino e a aprendizagem do exame físico aplicado ao Processo, os graduandos têm a oportunidade estabelecer esta relação, perceber que o Processo tem uma ordem, no entanto, não apresenta uma rigidez em sua execução, permitindo a todo tempo, a possibilidade de crítica e reflexão em relação às decisões tomadas: Depois de examinar e fazer o plano de cuidados, se o paciente não responder bem ao tratamento, é possível, numa próxima consulta, rever as ações, examinar e interpretar de novo, perceber onde houve alguma falha. (G5) Nas etapas do processo que vêm depois, a gente vê o reflexo do que fizemos antes, então dá pra ver que ações a gente toma dali pra frente, ou o que a gente deve mudar naquilo que já fez. (G7) Os depoimentos evidenciaram, assim como em outros estudos,15-6 que a utilização do Processo de Enfermagem com raciocínio crítico requer conhecimento. A realização do exame físico implica a utilização de conteúdos aprendidos pelo graduando durante as aulas de anatomia, fisiologia, farmacologia, semiologia, necessitando também vincular ensinamentos das ciências sociais como a sociologia e antropologia; o entendimento sobre a cultura, vistos os aspectos relacional, comunicativo e ético emergidos durante o contato entre enfermeiro e cliente.1 O desenvolvimento do Processo de Enfermagem incita à uma base substancial, o que demonstra, nesta perspectiva, sua ampla dimensão. ● Categoria Temática 2: As técnicas e tecnologias relacionadas ao exame fisico e ao Processo de enfermagem Ao relacionar as fases e perceber a funcionalidade de cada uma, os graduandos destacaram que, intrínsecos a esta trajetória, há instrumentos facilitadores que permitem não somente a descoberta e interpretação dos achados durante o exame físico, como também o desenvolvimento do Processo de Enfermagem. Ajuda se o ambiente tiver boa iluminação, silêncio, privacidade e conforto ao paciente. (G11) Tem que ter embasamento científico, domínio da técnica, segurança, empatia, observação, comunicação. (G1) Horta teoriza que o enfermeiro disponibiliza de instrumentos indispensáveis para que possa prestar assistência com a qualidade que se espera de um profissional. Estes, conhecidos como instrumentos básicos, são as habilidades, conhecimentos e atitudes indispensáveis para a execução de uma atividade. Os instrumentos não possuem uma hierarquia quanto à importância, pois todos tem um valor fundamental no Processo, seja observação, comunicação, aplicação do método científico, aplicação dos princípios científicos, destreza manual, planejamento, avaliação, criatividade, trabalho em equipe, utilização dos recursos da comunidade.8 Os graduandos valorizaram, dentre estes instrumentos, a destreza manual relacionada às técnicas semiológicas e os princípios científicos que argumentam sobre estas técnicas: Domínio de conteúdo, destreza, segurança, apoio dos professores. (G15) Observação e comunicação, principalmente. (G4) Aplicação das técnicas e tecnologias, conhecimento científico, segurança ao lidar com o paciente. (G5) Tal comportamento exalta o caráter técnico e tecnológico do exame físico. Hiller define a técnica como o esforço do homem de empregar as faculdades mentais para dominar e tornar utilizáveis a matéria e suas forças, ou seja, o que se encontra na natureza.17:12 Neste sentido, a técnica é uma habilidade, uma arte que ultrapassa o campo das ideias do agir produtivo17:14, requerida pelas atividades, Silva CMC, Valente GSC, Saboia VM et al. O exame físico e o processo de enfermagem... Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(supl. 1):2281-6, jul., 2014 2285 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.5927-50900-1-SM.0807supl201412 como por exemplo, a técnica da pintura, técnica respiratória e técnica do trabalho intelectual. A técnica – composta da tecnologia – participa do processo artístico, demanda uma habilidade especial para executar ou fazer algo específico de determinada profissão, assim como a técnica do exame físico, baseada numa tecnologia específica compõem o exercício não somente da enfermagem, como outras carreiras da área da saúde.18 A tecnologia corresponde ao conhecimento científico no exercício da técnica, envolvendo aparelhos e/ou métodos. Utiliza-se dos princípios científicos da biofisioanatomia, da sociopsicoantropologia, de aparelhos e máquinas de diversas complexidades que auxiliam no diagnóstico da situação instalada.18 Tal associação é descrita pelos graduandos: Misturar o conhecimento teórico e a prática é usar tecnologia e técnica. Por exemplo, fazer o teste do mono filamento. Se o resultado não for satisfatório, o paciente pode ter neuropatia. Fico sabendo disso porque estudei que o Diabetes interfere na função neurogênica. Mas também preciso saber como se faz o exame corretamente, ou seja, a técnica. (G7) Para manusear a técnica tenho que empregar a tecnologia adequada. (G2) A inspeção, palpação, percussão e ausculta são definidos como habilidades básicas para realização do exame físico.19-20 As técnicas empregadas para uso destes instrumentos resultaram de experimentos que se baseiam em conhecimentos científicos. O uso de equipamentos especiais como estetoscópio, oftalmoscóprio, monofilamento, complementam estes instrumentos, permitindo definição de detalhes. Compreende-se, nesta linha de pensamento, que a realização do exame físico implica na associação de técnicas e tecnologias peculiares a ele. Ao se realizar a técnica da ausculta cardíaca, por exemplo, é preciso conhecer a localização das bulhas cardíacas (anatomia), a função de cada uma delas (fisiologia), os valores de frequência cardíaca considerados normais, a influência de doenças pregressas do indivíduo sobre o débito cardíaco, uso de medicamentos como digitálicos, diuréticos, reguladores de pressão arterial (farmacologia) etc. O cuidado com o cliente é a maior tecnologia que a enfermagem detém. Ao preparar um ambiente silencioso, restrito, limpo e com iluminação adequada para realização do exame, se proporciona ao cliente tranquilidade, privacidade e confiança. O ambiente silencioso ajudará não somente na percepção correta dos batimentos do coração, como também possibilitará que o paciente perceba a maneira como o profissional o atendeu. As tecnologias, portanto, passeiam tanto pelos domínios da ciência operacional quanto pelo espaço da relação entre enfermeiro e cliente. Através dos depoimentos dos graduandos, foi possível observar a relação existente entre o exame físico, as etapas do processo de enfermagem, segundo Wanda Horta, assim como a instrumentalização necessária ao seu desenvolvimento: a técnica e a tecnologia. Os estudantes reconheceram a utilidade deste processo e o elo central dele: o cliente. Compreenderam sua utilidade no bem estar do deste, conjugando corretamente técnica e tecnologia e aplicando às diversas etapas do Processo. Para os graduandos, o Processo de Enfermagem melhora a qualidade, a interatividade e a multidimensionalidadeda assistência no contexto da saúde, além de proporcionar direcionamento para a organização do sistema de cuidados e atribuir autonomia ao profissional, o que pode também ser confirmado em pesquisas já realizadas. O ensino do conteúdo sobre exame físico e processo de enfermagem deve ser desenvolvido buscando a relação com a prática profissional do enfermeiro. Os graduandos que participaram da pesquisa tiveram a oportunidade de realizar as consultas, aplicar o processo e julgar os resultados da assistência através do planejamento que os próprios construíram. Há um fortalecimento da concepção do exame físico, enquanto aspecto fundamental no processo de enfermagem, pois se constitui num outro modo de se construir a complexa relação enfermeiro-cliente. Ficou claro que o ensino do exame físico e do processo de enfermagem não são considerados, pelos estudantes, como simples formalidade acadêmica com fins avaliativos, nem como processo de submissão da clientela, para que esta simplesmente aceite as intervenções que lhes são impostas, sem qualquer questionamento, discussão ou negociação. Para estes estudantes, a realização do exame físico de forma mecânica, despersonalizada e desarticulada dos serviços, cumprindo apenas uma tarefa academica, com fins de obter um ritual de avaliação não contribui nem para mudanças na qualidade de vida dos indivíduos CONSIDERAÇÕES FINAIS Silva CMC, Valente GSC, Saboia VM et al. O exame físico e o processo de enfermagem... Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(supl. 1):2281-6, jul., 2014 2286 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.5927-50900-1-SM.0807supl201412 e nem para reorientação das práticas de saúde. Cabe ainda registrar que o ensino de graduação em enfermagem ainda sofre forte influência do modelo tradicional. O dualismo existente entre a teoria e prática é comumente um dos fatores destacados como obstáculos na construção de conhecimentos específicos e de uma visão crítica. A ótica desarticulada dos currículos de enfermagem faz com que alguns conteúdos tratados nas universidades apenas tangenciem o ensino das técnicas e tecnologias que produzam e transformem as práticas de saúde. 1. Silva CMC, Sabóia VM, Teixeira ER. O ensino do exame físico em suas dimensões técnicas e subjetivas. Texto contexto-enferm [Internet]. 2009 Sept [cited 2013 Jan 15];18(3):458-65. Available from:. http://www.scielo.br/pdf/tce/v18n3/a08v18n3 2. Kimura M. Ensino e aprendizagem do exame físico ministrado pela área de Fundamentos de Enfermagem. In: Ciclo de Debates sobre a Sistematização do Exame Físico pelo Enfermeiro, 1, São Paulo, 1990, Anais São Paulo, EPM; 1990, p. 9-16. 3. Fuly PSC, Leite JL, Lima SBS. Correntes de pensamento nacionais sobre sistematização da assistência de enfermagem. Rev bras enferm [Internet]. 2008 Dec [cited 2013 Jan 15];61(6):883-887. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v61n6/a15v61n6. pdf 4. 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