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Curso e Turma: Bacharelado em Direito Noturno Disciplina: DIREITO PENAL IV Professor: Arkeley Souza Data da Aplicação: 15/JUNHO/2021 Avaliação da Unidade: AV2 Nota: Visto do Professor: Matrícula: 202102595681 Nome: Érika Souza da Silva Questões Objetivas 01. Rafael (22) e outros dois amigos, João (23) e Caio (24), são parte do Movimento Social por Moradia da Cidade de São Paulo (SP). Em 13 de maio de 2018 (domingo), às 15h, aproximadamente, os três se dirigiram à Praça da Sé, onde se juntaram a uma multidão de 100 mil pessoas, todas protestando contra a utilização de violência policial em reintegrações de posse – devido a um confronto recente que havia vitimado ao menos cinco ocupantes de um prédio abandonado, e recém reintegrado, no Centro da cidade. Durante os protestos, um policial se aproximou de Rafael, ordenando que este abrisse a sua mochila para revista pessoal. Rafael se recusou a fazê-lo, argumentando não ter feito nada que ensejasse a ordem. Ao mesmo tempo, outro policial se aproximou de João, requisitando, aos gritos, que este também abrisse sua própria mochila. Amedrontado, João aquiesceu. Foram encontrados em sua mochila três cigarros, presumidos pelos policiais como cigarros de maconha. Neste instante, os policiais seguraram Rafael e João, violentamente, ao que ambos tentaram veementemente se soltar. Caio, assustado diante da situação que acometeu seus amigos, tentou apartá-los dos policiais, aos berros de “canalhas”, “canalhas”. Após o confronto, ao qual se juntaram outros dois policiais, os três amigos, Rafael, João e Caio, foram levados à delegacia, presos em flagrante pela suposta prática de crimes. Marque a alternativa que contempla os supostos crimes praticados por RAFAEL: a) tráfico de drogas (art. 33, caput, Lei 11.343/06), associação criminosa (art. 288, CP) e resistência (art. 329, CP), X b) tráfico de drogas (art. 33, caput, Lei 11.343/06), associação criminosa (art. 288, CP) e desacato (art. 331, CP), c) tráfico de drogas (art. 33, caput, Lei 11.343/06), associação criminosa (art. 288, CP), desobediência (art. 330, CP) e resistência (art. 329, CP), d) tráfico de drogas (art. 33, caput, Lei 11.343/06); organização criminosa (Lei 12.850/13) e resistência (art. 329, CP) 02. Durante uma operação em favela do Rio de Janeiro, policiais militares conseguem deter um jovem da comunidade portando um rádio transmissor. Acreditando ser o mesmo integrante do tráfico da comunidade, mediante violência física, os policiais exigem que ele indique o local onde as drogas e as armas estavam guardadas. Em razão das lesões sofridas, o jovem vem a falecer. O fato foi descoberto e os policiais disseram que ocorreu um acidente, porquanto não queriam a morte do rapaz por eles detido, apesar de confirmarem que davam choques elétricos em seu corpo molhado com o fim de descobrir o esconderijo das drogas. Diante desse quadro, que restou integralmente provado, os policiais deverão responder pelo crime de: a) lesão corporal seguida de morte. b) tortura qualificada pela morte com causa de aumento. X c) homicídio qualificado pela tortura. d) abuso de autoridade. 03. Considerando os crimes contra a Paz Pública, marque a alternativa correta: a) No julgamento da ADPF 187, o STF, por unanimidade, decidiu ser legal e legítima a reunião de pessoas para manifestarem publicamente sua posição em favor da legalização das drogas (marcha da maconha). X b) O delito de apologia de crime ou de criminoso só se configura se praticado publicamente, não abrangendo o fato contravencional ou imoral, mas o fato culposo. c) O crime de associação criminosa caracteriza-se pela união de duas ou mais pessoas com o fim específico de cometer crimes d) Se 15 pessoas se juntam apenas para cometer um determinado roubo a uma empresa e depois cada um depois segue o seu caminho, sem mais se encontrarem, caracterizou o delito de associação criminosa 04. Marque a alternativa correta: a) Comete peculato culposo, o policial que deixa uma viatura com as portas aberta em via pública e dela se afasta sem necessidade, deixando-a sem vigilância, possibilitando o furto do radiotransmissor. X b) Tico Tico, ajustado anteriormente com Teco Teco, subtrai dinheiro de entidade paraestatal, valendo-se da facilidade que lhe proporciona o cargo. Circunstância que Teco Teco não conhecia. Mais tarde, em um ambiente seguro, partilham o produto do crime, quando chega a Polícia e são presos, inclusive sendo apreendido o valor subtraído. Neste caso, Tico Tico e Teco Teco cometeram o furto consumado. c) O parágrafo terceiro do artigo 312 do Código Penal não prevê que, no caso de peculato culposo, a reparação do dano, se ocorre antes da sentença irrecorrível, extingue a punibilidade. d) Valter, imputável, ao ter sido abordado em fiscalização de trânsito, agrediu verbalmente os policiais, chamando-os de palhaços, motivo pelo qual lhe foi dada voz de prisão. Exaltado, Valter agarrou-se a um poste de iluminação pública, negando-se a entrar na viatura policial. Os policiais conseguiram imobilizá-lo e o conduziram até a autoridade policial. Em nenhum momento Valter ameaçou os policiais ou utilizou violência física contra eles. Nessa situação hipotética, segundo o Código Penal e a jurisprudência do STJ, Valter não praticou nenhuma conduta tipificada penalmente. 05. Marque a alternativa correta: a) A esposa de um preso, contando com a conivência do Diretor do Presídio, ingressa na unidade prisional, no dia de visitas, com um aparelho celular e o entrega ao marido, que está preso, cumprindo pena em razão de condenação definitiva. O Diretor do Presídio cometeu o crime de prevaricação imprópria (CP, art. 319-A) e a esposa do preso cometeu o delito de favorecimento real impróprio (CP, art. 349-A). Se ficar demonstrado que o preso induziu a esposa a levar o celular, também responderá pelo crime de favorecimento real impróprio (CP, art. 349-A). b) configura o crime de desobediência (art. 330 do CP) a conduta de Defensor Público Geral que deixa de atender à requisição judicial de nomeação de defensor público para atuar em determinada ação penal. c) Bartolomeu, funcionário público, exigiu tributo que sabe ou deveria saber indevido. Neste caso, a conduta de Bartolomeu configura o delito de excesso de exação. X d) Um fiscal flagra um desconhecido cometendo irregularidade e deixa de autuá-lo em razão de insistentes pedidos deste, há o delito de prevaricação. 06. Marque a alternativa CORRETA: a) Determinado policial militar efetuou a prisão em flagrante de Luciano e o conduziu a delegacia de polícia, com o objetivo de fazer Luciano confessar a prática dos atos que ensejaram sua prisão, o policial responsável por seu interrogatório cobriu sua cabeça com um saco plástico e amarrou-o no seu pescoço, asfixiando-o. Como Luciano não confessou, o policial deixou-o trancado na sala de interrogatório durante várias horas, pendurado de cabeça para baixo, no escuro, período em que lhe dizia que, se ele não confessasse, seria morto. O delegado de polícia, ciente do que ocorria na sala de interrogatório, manteve-se inerte. Em depoimento posterior, Luciano afirmou que a conduta do policial lhe provocara intenso sofrimento físico e mental. Neste caso, o delegado não pode ser considerado coautor ou partícipe da conduta do policial, pois o crime de tortura somente pode ser praticado de forma comissiva. b) A Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher da violência doméstica e familiar que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico, e dano moral ou patrimonial, desde que o crime seja cometido no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto. Diante deste quadro, após agredir sua antiga companheira, porque ela não quis retomar o relacionamento encerrado, causando-lhe lesões leves, Jorge o (a) procura para saber se sua conduta fará incidiras regras da Lei nº 11.340/06. Considerando o que foi destacado, você, como advogado (a) irá esclarecê-lo de que o crime em tese praticado ostenta a natureza de infração de menor potencial ofensivo c) Caio, funcionário público, Antônio, empresário, Ricardo, comerciante, e Vitor, adolescente, de forma recorrente se reúnem, de maneira estruturalmente ordenada e com clara divisão de tarefas, inclusive Antônio figurando como líder, com o objetivo de organizarem a prática de diversos delitos de falsidade ideológica de documento particular (Art. 299 do CP: pena: 01 a 03 anos de reclusão e multa). Apesar de o objetivo ser a falsificação de documentos particulares, Caio utilizava-se da sua função pública para obter as informações a serem inseridas de forma falsa na documentação. Descobertos os fatos, Caio, Ricardo e Antônio foram denunciados, devidamente processados e condenados como incursos nas sanções do Art. 2º da Lei nº 12.850/13 (constituir organização criminosa), sendo reconhecidas as causas de aumento em razão do envolvimento de funcionário público e em razão do envolvimento de adolescente. A Antônio foi, ainda, agravada a pena diante da posição de liderança. Neste caso narrado, constituído nos autos apenas para defesa dos interesses de Antônio, o advogado, em sede de recurso, sob o ponto de vista técnico, de acordo com as previsões legais, deverá requerer o afastamento da causa de aumento em razão da presença de funcionário público, tendo em vista que Antônio não é funcionário público e nem equiparado, devendo a majorante ser restrita a Caio. d) Matheus, José e Pedro, irmãos, foram condenados pela prática dos crimes de homicídio simples contra inimigo, roubo majorado pelo concurso de agentes e estupro simples, respectivamente. Após cumprirem parte das penas privativas de liberdade aplicadas, a mãe dos condenados procura o advogado da família para esclarecimentos sobre a possibilidade de serem beneficiados por decreto de indulto. Com base apenas nas informações narradas, o advogado deverá esclarecer que, em tese, que Matheus e José poderão ser beneficiados, pois os crimes praticados por eles não são classificados como hediondos, diferentemente do que ocorre com o crime imputado a Pedro. X 07. Tico tico, servidor público municipal, negou-se, após sua função ter sido alterada, a devolver um notebook do município que lhe fora cedido em razão de seu cargo para realização de serviços que não mais faria para a prefeitura. Na delegacia, Tico tico informou falsamente à autoridade policial que o aparelho havia sido furtado por alguém desconhecido. Durante a investigação policial, verificou-se que o notebook era utilizado, na realidade, pela filha do servidor, para fins particulares. Considerando-se essa situação hipotética, a legislação penal vigente e o entendimento sumulado do STJ, é correto afirmar que Tico tico responderá por: a) Favorecimento real e fraude processual b) Peculato mediante erro de outrem e denunciação caluniosa c) Peculato-desvio e falsa comunicação de crime X d) Peculato-furto e denunciação caluniosa. 08. Marque a alternativa CORRETA: a) Mariano, condutor inabilitado, durante a condução de um veículo automotor na via W3Sul em Brasília-DF, atropelou e matou um transeunte sobre a faixa de pedestres. Além de cometer infração de natureza gravíssima prevista no CTB, Mariano responderá pelo homicídio culposo na direção de veículo automotor com duas causas de aumento de pena, devido a ser inabilitado e por ter praticado o fato sobre faixa de pedestres, podendo a pena ser aumentada de 1/3 à metade. X b) No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 à metade, se o agente não possuir Permissão para Dirigir ou CNH ou deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente, ou ainda, estiver sob a influência de álcool. c) Determinado produto perecível, fabricado e comercializado pelo fornecedor X, não continha nenhuma informação sobre seus componentes e sua durabilidade, o que acarretou prejuízos a vários consumidores. Por sua conduta, o fornecedor X cometeu infração penal punível com detenção e multa. A empresa Y havia patrocinado a oferta desse produto. Com referência a essa situação hipotética e considerando o disposto no CDC, é correto afirmar que Y incorrerá em pena de multa apenas. d) A conduta de exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente configura crime contra a Administração da Justiça. QUESTÃO (GABARITO) ALTERNATIVA CORRETA 01 A 02 B 03 A 04 A 05 C 06 D 07 C 08 A Questões Discursivas QUESTÃO 01: No dia 22 de maio de 2019, por volta das 16h00, Ptolomeu dirigiu-se até o Fórum da Comarca de Estrelar-PX, a fim de consultar o andamento do processo judicial em que figurava como demandado. Cansado da espera, levantou-se e se dirigiu ao balcão de atendimento do cartório, passando a insultar todos os seis funcionários públicos presentes, chamando-os de vagabundos, idiotas, incompetentes e corruptos. Por conta de sua conduta, foi preso em flagrante pela prática de seis desacatos, conduzido à unidade de polícia judiciária e liberado, com o pagamento de fiança. O Ministério Público ofereceu denúncia em desfavor de Ptolomeu pela prática de seis crimes de desacato, em concurso formal imperfeito. Recebida a denúncia, o acusado foi citado e apresentou defesa preliminar. Rejeitada esta, foi ratificado o recebimento da denúncia. Em audiência de instrução, debates e julgamento, foram ouvidas oito testemunhas e o réu foi interrogado. Encerrada a instrução do feito, foi concedido às partes prazo para a apresentação de memoriais. Responda de forma fundamentada e argumentativa: a) Sob a ótica do conceito de bem jurídico penal, existe legitimidade para a tutela penal do prestígio da Administração Pública, considerando o valor protegido pelo tipo de desacato? Ou seja, é constitucional o crime de desacato? RESPOSTA: Segundo o STF, ao atuar no exercício de sua função, o agente público representa a administração pública, situação que lhe sujeita a um regime jurídico diferenciado de deveres e prerrogativas. Se de um lado está sujeito a sanções próprias e mais rigorosas por eventuais desvios, é razoável que se prevejam tipos protetivos de sua situação. b) Quais as diferenças entre os crimes: desacato – resistência e desobediência? RESPOSTA: Desacato: Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Resistência: Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio. Pena - detenção, de dois meses a dois anos. Desobediência: Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público. Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. QUESTÃO 02: Leia a matéria abaixo: “A 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal negou, por unanimidade, Habeas Corpus para um médico de Santa Catarina condenado pelo crime de concussão. Ele tentava no STF suspender a condenação por ter cobrado R$ 100 de um paciente pela consulta num hospital conveniado ao Sistema Único de Saúde. A pena de dois anos e um mês de restritiva de liberdade foi substituída por duas penas restritivas de direitos. A defesa do médico recorreu ao Supremo afirmando que ele não era funcionário público e, por isso, não poderia ter sido condenado por concussão. Baseou-se no artigo 327 da Código Penal, que considera funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, empregoou função pública”. Com base nos estudos doutrinários e jurisprudenciais, decida a questão: O médico que atende pelo SUS deve ser considerado funcionário público para fins penais, nos termos do art. 327 do CP? RESPOSTA: De acordo com a Lei 9.983/2000, que introduziu dispositivo ao artigo 327, CP, passa-se a considerar funcionário público também quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. O médico que trabalha em um hospital prestador de serviços ao SUS, é considerado funcionário público para fins penais.