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Federação Brasileira de Gastroenterologia Belo Horizonte • MG • 2016 Temas de Atualização do Curso Pré-Congresso da FBG XV Semana Brasileira do Aparelho Digestivo (SBAD) GASTRO GERAIS POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA IMA GEM EM BAI XA RES OLU ÇÃO Referências bibliográficas: 1) Poole RM. Vedolizumab: first global approval. Drugs. 2014;74(11):1293-303. 2) Hanauer S, et al. Vedolizumab Maintenance Therapy for Crohn’s Disease: results of GEMINI II, a randomized, placebo-controlled, double-blind, multi-centre phase 3 trial. Am J Gastroenterol. 2012;107 (Suppl 1):A1542. 3) Feagan B, et al. Vedolizumab Maintenance Therapy for Ulcerative Colitis: Results of GEMINI I, a Randomized, Placebo-Controlled, Double-Blind, Multicenter Phase 3 Trial. Am J Gastroenterol. 2012;107(S1):S609–S610. Abstract 1522 4) Colombel JF, et al. The safety of vedolizumab for ulcerative colitis and Crohn’s disease. Gut. 2016 Feb 18. 5) Feagan BG, et al. Vedolizumab as induction and maintenance therapy for ulcerative colitis. N Engl J Med. 2013;369(8):699-710. 6) Sandborn WJ, et al. Vedolizumab as induction and maintenance therapy for Crohn’s disease. N Engl J Med. 2013 Aug 22;369(8):711-21. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. Takeda Pharma Ltda. Rua do Estilo Barroco, 721 – 04709-011 – São Paulo – SP. Mais informações poderão ser obtidas diretamente com o nosso Departamento de assuntos cientí�cos ou por meio de nossos representantes. O PRIMEIRO E ÚNICO BIOLÓGICO COM AÇÃO SELETIVA NO TRATO GASTROINTESTINAL APROVADO PARA TRATAMENTO DA DOENÇA DE CROHN (DC) E RETOCOLITE ULCERATIVA (RCU).¹ Material produzido em agosto/2016. TRATAMENTO COM PRECISÃO 1 Mecanismo de ação que permite atuação seletiva no local da inflamação intestinal, diferente das terapias anti-TNFα.1 Remissão duradoura em 51,5% dos pacientes virgens de tratamento anti-TNFα com DC e 45,8% dos pacientes virgens de tratamento anti-TNFα com RCU em 52 semanas vs. placebo.2,3 2830 pacientes avaliados em estudo de segurança.4 Taxas de infecções graves similares ao placebo.5,6 Contraindicação: Entyvio* é contraindicado para pacientes com hipersensibilidade ao vedolizumabe ou a qualquer um dos excipientes do produto. Interação medicamentosa: não foram conduzidos estudos de interação. Entyvio* - vedolizumabe. USO INTRAVENOSO USO ADULTO. Indicações: Entyvio* é indicado para o tratamento de pacientes adultos com: -Colite ulcerativa moderada a grave na fase ativa que apresentaram uma resposta inadequada, perda de resposta ou são intolerantes ao tratamento convencional ou a um antagonista de fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). - Doença de Crohn moderada a grave na fase ativa que apresentaram uma resposta inadequada, perda de resposta ou são intolerantes ao tratamento convencional ou a um antagonista de fator de necrose tumoral alfa (TNF-α). Contraindicações: Entyvio* é contraindicado para pacientes com hipersensibilidade ao vedolizumabe ou a qualquer um dos excipientes do produto. Entyvio* é contraindicado na presença de infecções ativas graves, tais como tuberculose, septicemia, citomegalovírus, listerioses e infecções oportunistas, como leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP). Cuidados e advertências: Em estudos clínicos foram relatadas reações relacionadas à infusão e reações de hipersensibilidade, sendo a maioria delas de gravidade leve a moderada. Infecções: O tratamento com Entyvio* não deve ser iniciado em pacientes com infecções ativas graves até que as infecções sejam controladas, e os médicos devem considerar a suspensão do tratamento em pacientes que desenvolvem uma infecção grave durante o tratamento crônico com Entyvio*. Entyvio* é contraindicado em pacientes com tuberculose ativa. Alguns antagonistas de integrina e alguns agentes imunossupressores sistêmicos foram associados com leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP). Nenhum caso de LMP foi relatado em estudos clínicos com vedolizumabe. Uso anterior e concomitante de produtos biológicos:Não há dados disponíveis de estudos clínicos do vedolizumabe para pacientes previamente tratados com natalizumabe ou rituximabe. Uso durante a gravidez e a lactação - Categoria B de Risco na Gravidez - Este medicamento não deve ser utilizado por mulheres grávidas sem orientação médica ou do cirurgião dentista. As mulheres em idade fértil devem usar métodos contraceptivos adequados para evitar a gravidez e o seu uso deve ser mantido durante pelo menos 18 semanas após o último tratamento com Entyvio*. Lactação: Não se sabe se o vedolizumabe é excretado no leite humano ou absorvido sistemicamente após a ingestão. Interações medicamentosas: Não foram conduzidos estudos de interação. O vedolizumabe foi estudado em pacientes adultos com colite ulcerativa e doença de Crohn com administração concomitante de corticosteroides, imunomoduladores (azatioprina, 6-mercaptopurina e metotrexato) e aminosalicilatos. As análises da farmacocinética da população sugerem que a administração concomitante de tais agentes não teve efeito clinicamente significativo na farmacocinética do vedolizumabe. O efeito do vedolizumabe na farmacocinética dos medicamentos comumente coadministrados não foi estudado. Vacinações: As vacinas vivas, em particular vacinas vivas orais, devem ser usadas com cautela durante o tratamento com Entyvio*. Reações adversas: A proporção de pacientes que descontinuaram o tratamento devido a eventos adversos foi de 9% para os pacientes tratados com vedolizumabe e 10% para os pacientes tratados com placebo. Nos estudos combinados do GEMINI I e II, as reações adversas que ocorreram em ≥5% dos pacientes foram náusea, nasofaringite, infecção do trato respiratório superior, artralgia, febre, fadiga, cefaleia, tosse. Reações relacionadas à infusão foram relatadas em 4% dos pacientes que estavam recebendo vedolizumabe. Atenção: este produto é um medicamento novo e, embora as pesquisas tenham indicado eficácia e segurança aceitáveis, mesmo que indicado e utilizado corretamente, podem ocorrer eventos adversos imprevisíveis ou desconhecidos. Nesse caso, notifique os eventos adversos pelo Sistema de Notificações em Vigilância Sanitária - NOTIVISA, disponível em www.anvisa.gov.br/hotsite/notivisa/index.htm ou para a Vigilância Sanitária Estadual ou Municipal. Posologia: - Colite ulcerativa A dose recomendada é 300 mg de Entyvio*, administrada por infusão intravenosa nas Semanas 0, 2 e 6 e depois a cada oito semanas. Em pacientes que responderem ao tratamento com Entyvio*, o uso de corticosteroides pode ser reduzido e/ou interrompido – à critério médico. - Doença de Crohn A dose recomendada é 300 mg de Entyvio*, administrada por infusão intravenosa nas Semanas 0, 2 e 6 e depois a cada oito semanas. Os pacientes com doença de Crohn que não apresentarem resposta podem se beneficiar de uma dose de Entyvio* na Semana 10 (veja ADVERTÊNCIAS E PRECAUÇÕES). Nos pacientes que responderem, continuar o tratamento a cada oito semanas a partir da Semana 14. MS – 1.0639.0271 SE PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO. MEDICAMENTO SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. *Marca depositada por Millennium Pharmaceuticals. ENT_1014_0715_VPS. Material produzido em setembro/2016. Editores Dra. Maria do Carmo Friche Passos (MG) Dra. Luciana Dias Moretzsohn (MG) Dr. Ângelo Alves de Mattos (RS) Dr. Sérgio Pessoa (CE) São Paulo • 2016 GASTRO GERAIS POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA Copyright@ 2016 Federação Brasileira de Gastroenterologia - FBG ISBN 978-85-87181-43-5 Todos os direitos reservados à FBG Av. Brigadeiro Faria Lima, 2391 - 10º andar CEP 01452-000 - São Paulo - SP Tel.: (11) 3813-1610 - Fax 11 3032-1460 E-mail: comunicacao@fbg.org.br Coordenação editorial e recepção de artigos da FBG Fátima Lombardi Coordenadora Editorial Edição e Produção Office Editora & Publicidade Ltda • Rua Cel. Meireles, 406, Sala 1 CEP 03612-000 - São Paulo - SP • Tels.: (11) 3901-6931/2684-6197 São Paulo - SP - Brasil • www.officeditora.com.br Proibida a reproduçãototal ou parcial deste livro, por qualquer meio ou sistema, sem prévia autorização da FBG. A responsabilidade do conteúdo dos artigos é exclusivamente dos autores. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Gastroenterologia : Medicina 616.33 Gastro gerais : Pot-Pourri em gastroenterologia / editores Maria do Carmo Friche Passos... [et al.]. -- São Paulo : Office Editora e Publicidade, 2016. Outros autores: Luciana Dias Moretzsohn, Ângelo Alves de Mattos, Sérgio Pessoa “Temas de atualização do Curso Pré-Congresso da FBG. XV Semana Brasileira do Aparelho Digestivo (SBAD) - Belo Horizonte - MG - 2016”. ISBN 978-85-87181-43-5 1. Clínica médica 2. Gastroenterologia 3. Gastroenterologia - Diagnóstico 4. Gastroenterologia - Tratamento I. Passos, Maria do Carmo Friche. II. Moretzsohn, Luciana Dias. III. Mattos, Ângelo Alves de. IV. Pessoa, Sérgio. 16-07717 CDD-616.33 NLM-WI 100 Federação Brasileira de Gastroenterologia Editores Dra. Maria do Carmo Friche Passos (MG) Dra. Luciana Dias Moretzsohn (MG) Dr. Ângelo Alves de Mattos (RS) Dr. Sérgio Pessoa (CE) Temas de Atualização do Curso Pré-Congresso da FBG XV Semana Brasileira do Aparelho Digestivo (SBAD) Belo Horizonte • MG • 2016 GASTRO GERAIS POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA Material destinado exclusivamente à classe médica com distribuição gratuita. Este conteúdo é oferecido pela Takeda como um serviço à comunidade médica. Os pontos de vista aqui expressos refletem exclusivamente a experiência e as opiniões dos autores. A Takeda declara que a presença da logomarca da sociedade neste material não constitui uma garantia ou endosso da qualidade ou valor das marcas aqui anunciadas. GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 5 Dra. Maria do Carmo Friche Passos (MG) Presidente Dr. James Ramalho Marinho (AL) Vice-Presidente Dr. Ricardo Correa Barbuti (SP) Secretário-Geral Dra. Eponina M. O. Lemme (RJ) 1ª Secretária Dr. Celso Mirra de Paula e Silva (MG) Diretor Financeiro Dra. Luciana Dias Moretzsohn (MG) Coordenadora do FAPEGE Dr. Flávio Antonio Quilici (SP) Presidente Eleito - Gestão 2017-2018 DIRETORIA DA FBG Gestão 2015-2016 Federação Brasileira de Gastroenterologia6 COMISSÕES PERMANENTES/PROVISÓRIAS DA FBG COMISSÕES PERMANENTES FAPEGE Fundo de Aperfeiçoamento e Pesquisa em Gastroenterologia Dra. Luciana Dias Moretzsohn (MG) - Coordenadora Dr. Ângelo Alves de Mattos (RS) Dr. Sérgio Pessoa (CE) Título de Especialista Dr. Joffre Rezende Filho (GO) - Presidente Dra. Esther Buzaglo Dantas Correa (SC) Dr. Marco Antônio Zerôncio (RN) Dr. Octávio Augusto B. Gomes de Souza Júnior (PA) Dr. Robério Mota (CE) Dra. Andrea Vieira (SP) Comissão de Ética Médica Dr. Sender J. Miszputen (SP) - Presidente Dr. Columbano Junqueira Neto (DF) Dr. Nestor Barbosa Andrade (MG) Conferencista Nacional 2015 Dr. Sender J. Miszputen (SP) Defesa Profissional Dr. Rubens Basile (RJ) - Presidente Dr. Justiniano Barbosa Vavas (MS) Dr. Wilson Haig Santos (ES) Conselho Fiscal Dr. Adávio de Oliveira e Silva (SP) - Presidente Dr. Fábio Gomes Teixeira (MA) Dr. Uyapuran Torres Medeiros (PE) Dra. Joceli Oliveira dos Santos (PI) Dr. José Cristiano Resplande (GO) Dr. José de Laurentys Medeiros Júnior (MG) Diretoria da FBG GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 7 COMISSÕES TEMPORÁRIAS • 2015/2016 Diretor de Comunicação e Eventos Dr. Jaime Natan Eisig (SP) In Memoriam Dr. Décio Chinzon Comissão de Apoio e Atenção às Federadas Dra. Ana Flávia Passos Ramos (MG) Dr. Décio Chinzon (SP) Comissão de Assuntos Digitais Dr. José Miguel Parente (PI) - Presidente Dr. Américo de Oliveira Silvério (GO) Dr. Daniel Fernando Soares e Silva (SC) Dr. Eduardo Nobuyuki Usuy Jr. (SC) Dr. Gerson Ricardo de S. Domingues (RJ) Dr. Luiz Eduardo Góes (BA) Dra. Marta Mitiko Deguti (SP) Comissão Jovem Gastro Dra. Ana Botler Wilheim (PE) - Coordenadora Dr. Ângelo Zambam de Mattos (RS) Dr. Frederico Passos Marinho (MG) Dra. Luciana Lofêgo Gonçalves (ES) Dr. Raul Carlos Wahle (SP) Dra. Thais Cavalcanti de Almeida (PE) Comissão das Ligas Acadêmicas Dra. Adélia Carmem Silva de Jesus (DF) - Coordenadora Dr. José do Carmo Júnior (MG) Dra. Liliana Sampaio Costa Mendes (DF) Dr. Ricardo Cerqueira Alvariz (RJ) Dr. Rimon Sobhi Azzam (SP) Comissão de Ensino Dra. Maria da Penha Zago Gomes (ES) - Coordenadora Dr. Carlos Kupski (RS) Dr. Guilherme Santiago Mendes (MG) Dra. Maria de Lourdes de Abreu Ferrari (MG) Dra. Nelma Pereira de Santana (BA) Dr. Paulo Pimentel Assumpção (PA) Diretoria da FBG Federação Brasileira de Gastroenterologia8 Comissão de Pesquisa Dr. Luiz Gonzaga Vaz Coelho (MG) - Coordenador Dr. José Murilo Robilotta Zeitune (SP) In Memoriam Dr. José Pedrazzoli Junior (SP) Dra. Lúcia Libanez Bessa Campelo Braga (CE) Dra. Themis Reverbel da Silveira (RS) Comissão de Relações Internacionais Dr. Flávio Steinwurz (SP) - Coordenador Dr. Carlos Fernando de Magalhães Francesconi (RS) Dr. Eduardo Antônio André (SP) Dr. Mario Reis Álvares-da-Silva (RS) Comissão de Relações Governamentais Dr. Ismael Maguilnik (RS) - Coordenador Dr. Edgar Valente de Lima Neto (AL) Dr. Gaspar de Jesus Lopes Filho (SP) Dr. José Nonato Fernandes Spinelli (PB) Comissão de Acervo Histórico Dr. Laércio Tenório Ribeiro (AL) - Coordenador Dr. Fernando Tarcisio Miranda Cordeiro (PE) Dr. Heitor Rosa (GO) Dr. Luiz João Abrahão (RJ) Dr. Schlioma Zaterka (SP) Dr. Ulysses Garzela Meneghelli (SP) Dr. Rogério Antunes Pereira Filho (SP) Dr. Mauro Bafutto (GO) Comissão de Gastropediatria Dra. Cristina Targa Ferreira (RS) - Coordenadora Dra. Elisa de Carvalho (DF) Dra. Gilda Porta (SP) Dra. Irene Kazue Miura (SP) Dra. Luciana Rodrigues Silva (BA) Dr. Mauro Batista de Morais (SP) Comissão de Representação na ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária Dr. Odery Ramos Júnior (PR) - Coordenador Dr. José Mauro Messias Franco (MG) Dr. Orlando J. M. Torres (MA) Dr. Roberto Luiz Silva Oliveira (RN) Dr. Wilson Roberto Catapani (SP) Diretoria da FBG GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 9 Comissão de editores da FBG na revista da AMB Dr. Antônio Carlos da Silva Moraes (RJ) - Coordenador Dr. André Castro Lyra (BA) Dr. João Galizzi Filho (MG) Dra. Raquel Canzi Almada de Souza (PR) Comissão de Representação na AMB Dr. Carlos Enéas Soares Ricca (CE) Dr. Rogério Toledo Júnior (SP) Representante no CFM da Comissão de Cirurgia Bariátrica e Síndrome Metabólica Dr. Alexandre Buzaid Neto (SP) Representante na Comissão Nacional de Acreditação (CNA) Dra. Dulce Reis Guarita (SP) Editor da GED - Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva Dr. José Galvão-Alves (RJ) Editora da Revista Arquivos de Gastroenterologia Dra. Dulce Reis Guarita (SP) Editor da Revista FBG Dr. Antonio Frederico Novaes Magalhães (SP) Comissão Administrativa de Assessoria à SBAD Dr. Áureo de Almeida Delgado (MG) Dra. Lorete Maria da Silva Kotze (PR) Comissão Científica de Assessoria à SBAD Dr. Adérson Omar Mourão Cintra Damião (SP) Dr. Joaquim Prado Pinto Moraes-Filho (SP) Dr. José Galvão-Alves (RJ) Dr. Luiz Gonzaga Vaz Coelho (MG) COMISSÃO DE CREDENCIAMENTO DE CURSOS Coordenadores Dr. José Alves de Freitas (SP) Dr. Júlio Maria Fonseca Chebli (MG) Dra. Marta Brenner Machado (RS) Dr. Paulo Lisboa Bittencourt (BA) Diretoria da FBG Federação Brasileira de Gastroenterologia10 REGIÃO CENTRO-OESTE Dra. Daniela Mariano Carvalho Louro (DF) Dr. Ênio Chaves de Oliveira (GO) Dra. Liliana Sampaio Costa Mendes (DF) Dr. Marcelo Cury (MS) Dr. Marcos de Vasconcelos Carneiro (DF) Dr. Rodrigo Sebba Aires (GO) REGIÃO NORTE/NORDESTE Dra. Adalgisa de Sousa Paiva Ferreira (MA) Dr. Eduardo Góis Cardoso (SE) Dr. Fábio Gomes Teixeira (MA) Dra. Genoile Oliveira Santana (BA) Dr. Geraldo Ishak (PA) Dr. Gláucio Nóbrega de Souza (PB) Dr. José Eymard Moraes de Medeiros Filho (PB) Dr.Paulo Lisboa Bittencourt (BA) Dr. Sérgio Murilo Fontes de Oliveira (SE) REGIÃO SUDESTE Dr. Ary Nasi (SP) Dra. Cyrla Zaltman (RJ) Dr. Eduardo Garcia Vilela (MG) Dra. Eliza Maria de Brito (MG) Dr. José Alves de Freitas (SP) Dr. Júlio Maria Fonseca Chebli (MG) Dr. Luiz Sérgio Emery Ferreira (ES) REGIÃO SUL Dra. Dvora Joveleviths (RS) Dra. Eloá Marussi Morsoletto (PR) Dra. Heda Maria Barska dos Santos Amarante (PR) Dra. Janaína Luz Narciso Schiavon (SC) Dr. Juliano Coelho Ludvig (SC) Dra. Marta Brenner Machado (RS) GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 11 SOCIEDADE ALAGOANA DE GASTROENTEROLOGIA Presidente: Dr. Laércio Tenório Ribeiro SOCIEDADE DE GASTROENTEROLOGIA DO AMAZONAS Presidente: Dr. Ricardo Paes Barreto Ferreira SOCIEDADE DE GASTROENTEROLOGIA DA BAHIA Presidente: Dr. Jorge Carvalho Guedes SOCIEDADE CEARENSE DE GASTROENTEROLOGIA Presidente: Dr. Marcellus H. L. Ponte de Souza SOCIEDADE DE GASTROENTROLOGIA DE BRASÍLIA Presidente: Dr. Francisco Machado da Silva SOCIEDADE DE GASTROENTEROLOGIA DO ESPÍRITO SANTO Presidente: Dra. Ana Teresa Ramos Parpaiola de Mendonca SOCIEDADE GOIANA DE GASTROENTEROLOGIA Presidente: Dr. Oswaldo Martins C. Neto SOCIEDADE MARANHENSE DE GASTROENTEROLOGIA Presidente: Dra. Livia Ronise Garcia Arraes SOCIEDADE DE GASTROENTEROLOGIA E NUTRIÇÃO DE MINAS GERAIS Presidente: Dr. Humberto Oliva Galizzi SOCIEDADE SUL-MATO-GROSSENSE DE GASTROENTEROLOGIA Presidente: Dr. Justiniano Barbosa Vavas SOCIEDADES FEDERADAS 2016 Federação Brasileira de Gastroenterologia12 SOCIEDADE MATO-GROSSENSE DE GASTROENTEROLOGIA E NUTRIÇÃO Presidente: Dra. Elaine Moreira Ferreira SOCIEDADE PARAENSE DE GASTROENTEROLOGIA Presidente: Dra. Betânia da Costa Cavalcanti SOCIEDADE DE GASTROENTEROLOGIA E NUTRIÇÃO DA PARAÍBA Presidente: Dr. Heraldo Arcela de Carvalho Rocha SOCIEDADE PERNAMBUCANA DE GASTROENTEROLOGIA Presidente: Dr. Roberto Magalhães Melo Filho SOCIEDADE DE GASTROENTEROLOGIA DO PIAUÍ Presidente: Dr. Jozelda Lemos Duarte SOCIEDADE PARANAENSE DE GASTROENTEROLOGIA E NUTRIÇÃO Presidente: Dra. Lorete Maria da Silva Kotze ASSOCIAÇÃO DE GASTROENTEROLOGIA DO RIO DE JANEIRO Presidente: Dr. Luiz João Abrahão Junior SOCIEDADE DE GASTROENTEROLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE Presidente: Dr. Silvio José de Lucena Dantas SOCIEDADE GAÚCHA DE GASTROENTEROLOGIA Presidente: Dra. Gabriela Perdomo Coral SOCIEDADE CATARINENSE DE GASTROENTEROLOGIA Presidente: Dr. Hoiti Okamoto SOCIEDADE DE GASTROENTEROLOGIA DE SERGIPE Presidente: Dra. Simone Déda Lima Barreto SOCIEDADE DE GASTROENTEROLOGIA DE SÃO PAULO Presidente: Dr. Tomás Navarro Rodriguez SOCIEDADE DE GASTROENTEROLOGIA DO TOCANTINS Presidente: Dr. Jonio Arruda Luz Sociedades Federadas GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 13 Adérson Omar Mourão Cintra Damião Professor Assistente-Doutor do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Membro do Grupo de Doenças Intestinais da Divisão de Gastroenterologia e Hepatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP. Membro Titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). Presidente do Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal do Brasil (GEDIIB). CRM-SP 39.270. Andrea Benevides Leite Docente da Universidade de Fortaleza. Preceptora da Residência em Gastroenterologia do Hospital Geral de Fortaleza. Mestrado em Hepatologia pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. CRM-CE 7.919. Angelo Alves de Mattos Professor Titular da Disciplina de Gastroenterologia e do Curso de Pós-Graduação em Hepatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). CRM-RS 7.089. Ângelo Zambam de Mattos Mestre e Doutor pelo Curso de Pós-Graduação em Hepatologia da UFCSPA. Professor Adjunto de Gastroenterologia do Departamento de Medicina Interna da Pontifício Universidade Católica de Porto Alegre. Médico Gastroenterologista do Serviço de Gastroenterologia Clínica e Cirúrgica da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. CRM-RS 30.106. Carlos Fernando Francesconi Médico Gastroenterologista. Doutor, Professor Titular do Departamento de Medicina Interna da UFRGS e Chefe do Serviço de Gastroenterologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. CRM-RS 4.579. AUTORES Federação Brasileira de Gastroenterologia14 Célio Geraldo de Oliveira Gomes Médico Nível I do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. CRM-MG 48.722. Claudia Pinto Marques Souza de Oliveira Professora Associada da Disciplina de Gastroenterologia da Universidade de São Paulo. CRM-SP 75.499. Décio Chinzon Professor Assistente Doutor e Professor de Pós-Graduação da Disciplina de Gastroenterologia da Universidade de São Paulo. CRM-SP 49.552. Dulce Reis Guarita Professora Livre em Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Membro da American Gastroenterological Association. CRM-SP 21.137. Edison Roberto Parise Professor Associado da Disciplina de Gastroenterologia do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Presidente do Instituto Brasileiro de Fígado da Sociedade Brasileira de Hepatologia. CRM-SP 27.606. Eduardo Garcia Vilela Professor Adjunto-Doutor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG. Médico nível VIII do Hospital das Clínicas da UFMG. Assistente Efetivo do Serviço de Gastroenterologia e Hepatologia do Hospital Felício Rocho. CRM-MG 27.078. Eponina Maria de Oliveira Lemme Professora Associada do Departamento de Clínica médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Chefe da Unidade de Esôfago do Serviço de Gastroenterologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho - Universidade Federal do Rio de Janeiro. CRM-RJ 52. 12884-6. Fernando Assed Gonçalves Graduando da Universidade Estácio de Sá. Autores GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 15 Flávio Antônio Quilici Professor Titular de Gastroenterologia e Cirurgia Digestiva da Faculdade de Medicina da PUC Campinas. Presidente Eleito da Federação Brasileira de Gastroenterologia (2017-2018). Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva. Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Ex-Presidente da Sociedade de Gastroenterologia de São Paulo. Cirurgião Emérito do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. CRM-SP 17.015. Francisco Sérgio R. P. Pessoa Preceptor da Residência em Gastroenterologia do Hospital Geral de Fortaleza. Membro do FAPEGE. CRM-CE 4.848. Guilherme Eduardo Gonçalves Felga Gastroenterologista e Hepatologista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. CRM-SP 122.055. Joaquim Prado P. Moraes-Filho Professor Livre-Docente de Gatroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. CRM-SP 13.432. Joffre Rezende Filho Professor Adjunto-Doutor do Departamento de Clinica Medica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. Chefe do Serviço de Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva do Hospital das Clínicas da UFG. Fellow da American Gastroenterological Association. CRM-GO 3478-5. Jorge Carvalho Guedes Professor Associado do Departamento de Medicina Interna da Faculdade de Medicina da Bahia. Coordenador do Internato I em Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Bahia – Universidade Federal da Bahia e das Residências Médicas em Gastroenterologia da Universidade Federal da Bahia e de Clínica Médica do Hospital Ana Neri. CRM-BA 6.741. José Eymard Moraes de Medeiros Filho Professor Adjunto na Universidade Federal da Paraíba. CRM-PB 4.375. Federação Brasileira de Gastroenterologia16 José Galvão-Alves Chefe da 18ª Enfermaria do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Professor Titular de Clínica Médica da Universidade Gama Filho e da Faculdade de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques. Professor dePós-Graduação em Gastroenterologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Membro Titular da Academia Nacional de Medicina. Presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia. Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. CRM-RJ 52. 26254-8. Júlia Faria Campos Especialista em Clínica Médica pelo Hospital Municipal Odilon Behrens e em Gastroenterologia pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Médica Gastroenterologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Especialista em Endoscopia Digestiva pela SOBED. Mestranda do Programa Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. CRM-MG 50.858. Lisandra Carolina M. Quilici Cirurgiã Digestiva do Hospital da PUC Campinas e da Unigastro Campinas. Especialista em Coloproctologia e Endoscopia Digestiva. CRM-SP 113.466. Lorete Maria da Silva Kotze Professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e da Universidade Federal do Paraná. Luciana Dias Moretzsohn Professora Associada do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais. CRM-MG 18.575. Luiz Gonzaga Vaz Coelho Professor Titular do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Coordenador do Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Presidente do Núcleo Brasileiro para Estudo do Helicobacter pylori e Microbiota. CRM-MG 6.666. Maria Clara de Freitas Coelho Assistente da Enfermaria de Gastroenterologia da Santa Casa de Belo Horizonte. Gastroenterologia pela Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). Mestranda do Programa de Ciências Aplicadas à Saúde do Adulto - Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. CRM-MG 49.015 GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 17 Maria da Penha Zago-Gomes Doutorado em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Unidade do Aparelho Digestivo do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo. CRM-ES 2.724. Maria de Lourdes de Abreu Ferrari Professora Associada do Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Coordenadora do Ambulatório de Intestino do Instituto Alfa de Gastroenterologia, Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. CRM-MG 18.732. Maria do Carmo Friche Passos Professora Adjunta do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Doutora em Gastroenterologia. Coordenadora Científica do Fundo de Pesquisa e Aperfeiçoamento (FAPEGE) e do Site da Federação Brasileira de Gastroenterologia. CRM-MG 18.599. Maria Helena Itaqui Lopes Médica Gastroenterologista. Doutora em Clínica Médica. Professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Caxias do Sul. CRM-RS 8.668. Matheus Freitas Cardoso de Azevedo Médico Assistente do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. CRM-SP 13.006. Miriam Chinzon Graduanda da Faculdade de Ciências Médicas de Santos. Rodrigo Vieira Costa Lima Preceptor da Divisão de Gastroenterologia e Hepatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). CRM-SP 136-190. Ricardo C. Barbuti Médico Assistente Doutor do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. CRM-SP 66.103. Federação Brasileira de Gastroenterologia18 Tomas Navarro Rodriguez Livre Docente em Gastroenterologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. CRM-SP 50.149. GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 19 O Curso Pré-Congresso, que abre anualmente a Semana Brasileira do Aparelho Digestivo (SBAD), é uma das atribuições do Fundo de Aperfeiçoamento e Pesquisa em Gastroenterologia (FAPEGE) que tem como objetivo principal a promoção do ensino e atualização constante de seus associados. À exemplo do que acontece nos grandes congressos internacionais da nossa especialidade, o Curso Pré-Congresso pretende promover uma ampla revisão dos principais temas da gastroenterologia moderna. Este ano, o nosso curso intitula-se “Gastro Gerais” em alusão à diversidade de temas e à abrangência de nossa especialidade, trazendo magníficas revisões de assuntos do cotidiano de nossa prática profissional. A Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), em nome de sua presidente Maria do Carmo Friche Passos e do grupo FAPEGE (Luciana Dias Moretzsohn, Angelo Mattos e Sérgio Pessoa), agradece aos professores convidados que elaboraram com primor os capítulos dessa obra. Agradecemos, também, ao Laboratório Takeda, que mais uma vez nos patrocina o livro do Pré-Congresso, contribuindo diretamente com a FBG/ FAPEGE em sua missão de promover a educação médica continuada para a gastroenterologia brasileira. PREFÁCIO Luciana Dias Moretzshon Coordenadora do FAPEGE Maria do Carmo Friche Passos Presidente da FBG Federação Brasileira de Gastroenterologia20 GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 21 CAPÍTULO 1 Como e quando utilizar biológicos na doença inflamatória intestinal? ............... 25 Adérson Omar Mourão Cintra Damião CAPÍTULO 2 Complicações da hipertensão portal: manuseio da ascite e da peritonite bacteriana espontânea .................................................. 37 Angelo Alves de Mattos Ângelo Zambam de Mattos CAPÍTULO 3 Síndrome do Intestino Irritável: abordagem e tratamento de acordo com Roma IV ................................................................................ 47 Carlos Fernando Francesconi Maria Helena Itaqui Lopes CAPÍTULO 4 Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA): tratamento ....................... 55 Rodrigo Vieira Costa Lima Claudia Pinto Marques Souza de Oliveira CAPÍTULO 5 Anti-inflamatórios em longo prazo: proteção gástrica sempre? ......................... 63 Décio Chinzon Miriam Chinzon CAPÍTULO 6 Pancreatite aguda ........................................................................................ 69 Dulce Reis Guarita Guilherme Eduardo Gonçalves Felga SUMÁRIO Federação Brasileira de Gastroenterologia22 Sumário CAPÍTULO 7 Tratamento da hepatite C - atualização terapêutica ......................................... 79 Edison Roberto Parise CAPÍTULO 8 Doença diverticular dos cólons - Tratamento em 2016 ..................................... 87 Eduardo Garcia Vilela Célio Geraldo de Oliveira Gomes CAPÍTULO 9 Acalásia: diagnóstico e tratamento ................................................................ 95 Eponina Maria de Oliveira Lemme CAPÍTULO 10 Rastreamento do câncer colorretal .............................................................. 111 Flávio Antônio Quilici Lisandra Carolina M. Quilici CAPÍTULO 11 Prebióticos, probióticos e simbióticos: atualização ........................................ 117 Joaquim Prado P. Moraes-Filho CAPÍTULO 12 Dispepsia: abordagem e tratamento de acordo com Roma IV .......................... 123 Joffre Rezende Filho CAPÍTULO 13 Manejo das lesões neoplásicas císticas do pâncreas (NCP) ............................ 139 Jorge Carvalho Guedes CAPÍTULO 14 Nódulos hepáticos: como abordar? .............................................................. 147 José Eymard Moraes de Medeiros Filho CAPÍTULO 15 Pancreatite Crônica - 2016 .......................................................................... 159 José Galvão-Alves GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 23 Sumário CAPÍTULO 16 Intolerâncias alimentares: o que há de novo? ............................................... 183 Lorete Maria da Silva Kotze CAPÍTULO 17 Manifestações extraesofágicasda DRGE ...................................................... 193 Luciana Dias Moretzsohn CAPÍTULO 18 Uso de inibidores de bomba protônica (IBP) em longo prazo. É seguro? .......................................................................... 201 Luiz Gonzaga Vaz Coelho Maria Clara de Freitas Coelho CAPÍTULO 19 Conduta nas lesões sólidas de pâncreas ...................................................... 215 Maria da Penha Zago-Gomes CAPÍTULO 20 Manifestações extraintestinais: o perfil sistêmico da doença de Crohn .......................................................... 223 Júlia Faria Campos Maria de Lourdes de Abreu Ferrari CAPÍTULO 21 Consenso de Roma IV e doenças funcionais: o que mudou? ........................... 237 Maria do Carmo Friche Passos CAPÍTULO 22 Constipação intestinal refratária ................................................................. 251 Dr. Ricardo C. Barbuti Dr. Matheus Freitas Cardoso de Azevedo CAPÍTULO 23 Doenças gastroenterológicas e gravidez ...................................................... 261 Andrea Benevides Leite Francisco Sérgio R. P. Pessoa Federação Brasileira de Gastroenterologia24 CAPÍTULO 24 Esofagite eosinofílica: atualização ............................................................... 269 Tomas Navarro Rodriguez GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 25 Como e quando utilizar biológicos na doença inflamatória intestinal? DOI: 10.22288/978858718143500001 Introdução N os últimos anos temos presenciado mudanças no tratamento da doença inflamatória intestinal (DII) e nos objetivos terapêuticos. Sem dúvida, o arsenal terapêutico na DII aumentou consideravelmente (tabela 1). Hoje entendemos melhor a respeito dos mecanismos de ação de drogas tradicionalmente utilizadas na DII, como os derivados salicílicos, corticosteroides e imunossupressores. Paralelamente, a introdução da terapia biológica trouxe novos conceitos, como a remissão endoscópica, hoje incorporada aos objetivos terapêuticos, remissão esta capaz de impactar a história natural da doença (tabela 2).(1-4) Como e quando utilizar biológicos na doença inflamatória intestinal? Adérson Omar Mourão Cintra Damião Capítulo 1 TABELA 1. Arsenal terapêutico utilizado na doença inflamatória intestinal Derivados salicílicos (sulfassalazina, mesalazina) Corticosteroides Prednisona Hidrocortisona Budesonida Antibióticos (ex., metronidazol, ciprofloxacina) Imunossupressores (ex., azatioprina, 6-mercaptopurina, metotrexato, ciclosporina, tacrolimus) Terapêutica biológica Anti-TNFs (TNF= Fator de Necrose Tumoral) - ex., infliximabe, adalimumabe, certolizumabe Anti-integrinas - ex., vedolizumabe CAPÍTULO 1 - COMO E QUANDO UTILIZAR BIOLÓGICOS NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL? Federação Brasileira de Gastroenterologia26 Um dos maiores desafios que enfrentamos é o racional e sábio uso do ar- senal terapêutico de que dispomos, no sentido de oferecer aos pacientes com DII a melhor opção terapêutica.(5) Para tanto, vários fatores precisam ser con- siderados, entre eles, a gravidade e extensão da doença, fatores preditivos de mau prognóstico, preferências do paciente, história pregressa, idade, sexo (pa- cientes jovens, do sexo masculino, têm risco maior de linfoma hepatoesplêni- co com o uso de terapia combinada envolvendo um anti-TNF e um imunos- supressor como azatioprina ou 6-mercaptopurina), vigência de gravidez e o custo-benefício.(6,7) No presente capítulo, analisaremos as várias estratégias de tratamento da DII, com ênfase nos trabalhos mais recentes que as avaliaram. Estratégias de tratamento da DII Retocolite ulcerativa (RCU) “Step-up convencional” - A estratégia denominada “step-up convencio- nal” corresponde ao uso inicial dos derivados salicílicos (oral e/ou tópico), que constituem a base da pirâmide (fig. 1). É a estratégia habitualmente re- comendada pelos consensos e diretrizes de tratamento.(8-13) Pacientes não res- ponsivos ou que requeiram de início tratamento mais intensivo seguem para o tratamento com corticosteroide (ex., prednisona). Caso não respondam ao tra- tamento ou se tornem dependentes do corticosteroide, têm indicação de imu- nossupressores (ex., azatioprina, 6-mercaptopurina) ou biológicos, a depender da gravidade. Ciclosporina pode ser uma opção nas formas graves de RCU, não responsivas ao corticosteroide intravenoso (terapia de resgate). TABELA 2. Objetivos do tratamento clínico da doença inflamatória intestinal Indução da remissão clínica Remissão clínica sem corticosteroide Manutenção da remissão clínica sem corticosteroide (remissão sustentada) Remissão endoscópica/histológica Evitar internações, cirurgia Incrementar a qualidade de vida Adérson Omar Mourão Cintra Damião GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 27 Doença de Crohn (DC) 1. “Step-up convencional” - na DC, ao contrário da RCU, os deriva- dos salicílicos carecem de eficácia, exceto no caso da sulfassalazina, que pode ter algum efeito em casos leves da doença com comprome- timento colônico.(14) Pacientes com DC leve/moderada envolvendo a região ileocecal e/ou ascendente podem se beneficiar com o uso de budesonida oral, um corticosteroide de ação local rapidamente me- tabolizado na primeira passagem pelo fígado.(9,15,16) Os demais casos (moderados/graves) podem ser tratados inicialmente com prednisona. Os efeitos sistêmicos com a budesonida são menos frequentes e me- nos intensos do que os observados com a prednisona. Pacientes não responsivos à corticoterapia, que se tornam dependentes de corticos- teroide ou que necessitam de manutenção, podem se beneficiar com o emprego dos imunossupressores como a azatioprina ou 6-mercaptopu- rina ou metotrexato. Caso não haja resposta, a terapia biológica está in- dicada. Vale ressaltar que, tanto no caso da RCU como da DC, deve-se aguardar o tempo suficiente para ação das medicações em cada etapa FIGURA 1. Abordagens convencionais no tratamento da doença inflamatória intestinal (“step-up”) SSZ = sulfassalazina; 5-ASA = 5-aminossalicilatos; AZA = azatioprina; 6-MP = 6-mercaptopurina; Ciclo = ciclosporina; Budes = budesonida; MTX = metotrexato; TN = terapia nutricional TN, Biológica Aza,6-MP,MTX Corticoides SSZ, 5-ASA, Budes Grave Leve RCU Crohn Ciclo,Biológica Aza, 6-MP Corticoides SSZ, 5-ASA CAPÍTULO 1 - COMO E QUANDO UTILIZAR BIOLÓGICOS NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL? Federação Brasileira de Gastroenterologia28 de tratamento, por exemplo, cerca de 2-4 semanas com o tratamen- to com a prednisona, 3-4 meses com o uso de azatioprina/6-mercap- topurina, 12 semanas com anti-TNF. Tal procedimento evita que os pacientes permaneçam num tipo de tratamento ineficaz ou que sejam considerados refratários precocemente, além de alertar para a mudança de patamar de tratamento (fig. 1).(7,9,15,16) 2. “Step-up convencional acelerado” - Nesta estratégia, permite-se que, em certas condições, uma determinada etapa possa ser pulada a depen- der da gravidade do caso. Por exemplo, um paciente não responsivo ao corticosteroide, após tempo adequado de uso, poderia migrar para o tratamento combinado envolvendo um anti-TNF (ex. adalimumabe, infliximabe) e um imunossupressor (azatioprina - AZA, 6-mercapto- purina - 6-MP ou metotrexato - MTX). Isto porque um paciente refra- tário ao corticosteroide, bastante sintomático, não suporta o tempo de 3-4 meses para a ação de um imunossupressor como azatioprina ou 6-mercaptopurina. Ademais, complicações da DC ou da corticoterapia podem ocorrer nesse tempo de espera da ação do imunossupressor.(7) 3. Recentemente, na DC, a estratégia convencional foi comparada à es- tratégia convencional acelerada, em que a terapia combinada com um imunossupressor (AZA, 6-MP ou MTX) mais um anti-TNF (adalimu- mabe ou infliximabe) foi oferecida àqueles pacientes não responsivos, do ponto de vista clínico, à corticoterapia (budesonida ou prednisona, a depender da gravidade e localização da doença, por 4-12 semanas). O estudo, denominado REACT1 (Randomised Evaluation of an Al- gorithm for Crohn’s Treatment), envolveu 39 centros de tratamento da DII no Canadá e na Bélgica (34 no Canadá e 5 na Bélgica).(17) Os centros foram então randomizados e não os pacientes (randomização em “cluster”). Assim, o estudo REACT 1 introduz novas modalidades de estudo na DII: a comparação de estratégias de tratamento e a ran- domização em “cluster”, em que os centros são randomizados e não os pacientes. Outro exemplo de estudo comparativo de estratégias de abordagem da DC é o estudo POCER, em que se comparou a avalia- ção com ileocolonoscopia após 6 meses da cirurgia e o devido ajuste Adérson Omar Mourão Cintra Damião GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 29 do tratamento clínico de acordo com a gravidade dos achados endos- cópicos (classificação de Rutgeerts) com o acompanhamento clínico pós-operatório e ajuste terapêutico a depender da evolução clínica.(18) A estratégia de acompanhamento e ajuste terapêutico com base nos acha- dos endoscópicos foi superior ao acompanhamento clínico exclusivo. Tal resultado serve de respaldo para a conduta recomendada atualmen- te de realização de ileocolonoscopia cerca de 6 meses após ressecção ileocólica e aplicação da classificação de Rutgeerts (atividade endos- cópica no íleo terminal). Pacientes com índice de Rutgeerts ≥ 2 (i2, i3 ou i4) vão merecer tratamento ou otimização de tratamento já vigente. 4. No estudo REACT 1, 21 centros (1.084 pacientes) foram randomi- zados para a estratégia de algoritmo de terapia combinada precoce e 18 centros (898 pacientes) para o tratamento convencional (“step-up convencional”). De acordo com o algoritmo, pacientes submetidos ao tratamento com corticosteroides (budesonida ou prednisona, a depen- der da gravidade e localização) e sem resposta adequada (índice de Harvey & Bradshaw - HBI ≤ 4) após 4-12 semanas receberam terapia combinada (anti-TNF + azatioprina/6-MP ou MTX). Após 12 semanas de tratamento, no caso de falta de resposta (HB I≥ 7), o anti-TNF era otimizado. Mais 12 semanas de acompanhamento e, na falta de respos- ta clínica com o tratamento combinado, o imunossupressor era muda- do. Em caso de falta de resposta após outras 12 semanas, o anti-TNF era mudado e, finalmente, após mais 12 semanas de acompanhamento, no caso de falta de resposta clínica, o tratamento cirúrgico era discuti- do (ressecção). Centros randomizados para o tratamento convencional não tiveram acesso ao algoritmo. O objetivo primário do trabalho foi a remissão clínica (HBI ≤ 4) em 12 meses. Os resultados em relação ao objetivo primário foram não significantes (61,9% no grupo convencio- nal versus 66% no grupo terapia combinada precoce, P = 0,5169). Em 24 meses, apesar da vantagem numérica da terapia combinada preco- ce, também não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos (65,1% no grupo convencional versus 73,1% no grupo terapia combinada precoce, P = 0,0829). Quando somente os pacientes em CAPÍTULO 1 - COMO E QUANDO UTILIZAR BIOLÓGICOS NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL? Federação Brasileira de Gastroenterologia30 uso de corticosteroides de base foram analisados, a taxa de remissão clínica em 24 meses foi maior no grupo que recebeu terapia combinada precoce, sugerindo que pacientes com doença mais grave poderiam se beneficiar mais com este tipo de estratégia terapêutica. Os resulta- dos referentes às taxas de complicações (abscesso, nova fístula, mani- festações extraintestinais e eventos adversos sérios [P = 0,0005]), de cirurgia (P = 0,0314) e de hospitalização ou cirurgia ou complicação (0,0003), em 24 meses, foram menores no grupo terapia combinada precoce versus terapia convencional. Em suma, a terapia combinada precoce (“step-up convencional acelerado”) parece ser útil em pacien- tes com DC mais grave, com impacto na história da doença (desfechos clínicos e cirúrgicos) observado mais tardiamente (2 anos).(17) 5. “Step-up acelerado propriamente dito” - Diferentemente da abor- dagem “step-up convencional acelerado”, em que o paciente recebe inicialmente o corticosteroide e depois, diante de refratariedade, a terapia combinada (ver acima), no “step-up acelerado propriamente dito”, como inicialmente preconizado, o paciente recebe concomitan- temente o corticosteroide mais o imunossupressor (ex. AZA/6-MP). Dois trabalhos (AZTEC e RAPID)(19,20) avaliaram a terapia precoce com imunossupressor (AZA). Em ambos, os pacientes apresenta- vam DC de curta duração (menos de 8 semanas de diagnóstico no AZTEC e menos de 6 meses no RAPID). A maioria dos pacientes recebeu corticosteroide concomitantemente (cerca de 70% no es- tudo AZTEC e praticamente todos no RAPID [96-97%]). No estu- do espanhol AZTEC (AZathioprine for treatment of Early Crohns disease in adults),(19) a introdução precoce de AZA não foi melhor que o placebo. A taxa de remissão clínica sem corticosteroide em 18 meses (objetivo primário) foi de 44,1% no grupo AZA versus 36,5% no placebo (P=0,48). Entretanto, a proporção de pacientes com índice de atividade da DC (CDAI) maior ou igual a 220 a partir da semana 12 foi menor no grupo AZA (11,8%) versus o placebo (30,2%), sugerindo que pacientes com doença mais moderada po- deriam se beneficiar com essa estratégia. No estudo francês RAPID Adérson Omar Mourão Cintra Damião GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 31 (Rèsultat de l’Adjonction Précoce d’ImmunoDépresseurs),(20) a proporção de pacientes em remissão clínica sem corticosteroide e sem anti-TNF por trimestre ao longo de 3 anos não foi estatistica- mente diferente do grupo submetido à terapia convencional.(20) No entanto, houve menor ocorrência de lesões perianais ativas e menor taxa de cirurgia perianal no grupo com AZA precoce. Portanto, pa- cientes com fístula perianal simples poderiam se beneficiar com o uso de AZA precoce.(20) 6. “Top-down propriamente dito” - Em 2008, D’Haens et al. publicaram um trabalho em que pacientes com DC recentemente diagnosticada, moderada/grave, receberam de forma randomizada a associação de imunossupressor oral (AZA) e anti-TNF (infliximabe), inicialmente versus o tratamento convencional.(21) Na época, os autores optaram por não manter o anti-TNF periodicamente como fazemos atualmente e, assim, os pacientes responsivos não receberam tratamento de manu- tenção. O anti-TNF foi utilizado de forma episódica após a indução, de acordo com a necessidade. A terapia “top down” caracteriza-se pela não utilização da terapia com corticosteroides no início. Em dois anos de acompanhamento, a frequência de remissão endoscópica foi de cer- ca de 70% no grupo “top-down” versus 20% no grupo com terapia convencional (“step-up convencional”).(21) 7. “Top-down modificado” - A modificação aqui nada mais é do que man- ter a terapia biológica (anti-TNF) após a indução em vez da utilização episódica como no trabalho original acima descrito. No estudo REACT 2, a terapia convencional será comparada a um algoritmo semelhante ao do REACT 1, exceto que no REACT 2 os pacientes com DC em atividade (clínica e endoscópica) receberão de início a terapia combi- nada (anti-TNF + AZA/6-MP ou MTX) e corticosteroide a depender do critério médico. Em seguida, os pacientes serão acompanhados a cada 16 semanas por ileocolonoscopia de controle, além da avaliação clínica. Em caso de falta de resposta (resposta = HBI ≤ 4, sem úlceras profundas e grandes à endoscopia, sem corticosteroide), os pacientes seguirão a otimização estabelecida no REACT 1. O estudo ainda está CAPÍTULO 1 - COMO E QUANDO UTILIZAR BIOLÓGICOS NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL? Federação Brasileira de Gastroenterologia32 em andamento (ClinicalTrials.gov NCT01698307) e deverá fornecer importantes informações sobre o uso da ileocolonoscopia como ins- trumento de acompanhamento e os efeitos da indução e manutenção da terapia combinada precoce versus terapia convencional. Obviamen- te, um grande obstáculo para o recrutamento de pacientes é o fato dopaciente aceitar a realização de ileocolonoscopia a cada 4 meses. O trabalho está em andamento. Quando se fala em estratégia “top-down”, a pergunta inevitável que emerge é: quais pacientes merecem esta alternativa mais “agressiva” de tra- tamento já no início da doença? Para tanto, torna-se necessário destacar os fatores preditivos de doença mais grave ou “incapacitante”.(22-26) Na tabela 3, estão listados os fatores preditivos de evolução para DC complicada. Fatores clínicos, endoscópicos, histológicos, sorológicos e genéticos têm sido des- critos. Na prática, consideramos os pacientes mais jovens (doença mais gra- ve, em geral), doença perianal grave (ex. fístulas complexas), necessidade de corticosteroide sistêmico no diagnóstico e úlceras extensas e profundas à ileocolonoscopia.(22-26) TABELA 3. Fatores preditivos de evolução para doença de Crohn (DC) complicada/incapacitante Pacientes jovens (< 40 anos no diagnóstico) Doença perianal Necessidade de corticosteroide no diagnóstico Úlceras extensas e profundas à colonoscopia Doença estenosante, penetrante Envolvimento do trato gastrointestinal superior, delgado proximal, DC ileal extensa, DC retal Falta de remissão endoscópica após remissão clínica Doença agressiva, com muitas recaídas/ano Emagrecimento importante no diagnóstico Presença de granulomas Obesidade, tabagismo Altos títulos de ASCA, anti-OmpC e anti-CBir1 Mutações nos genes NOD2/CARD15, ATG16L1, MDR1 Adérson Omar Mourão Cintra Damião GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 33 Diante dos avanços na compreensão dos processos envolvidos na trans- migração de leucócitos (diapedese) para os tecidos, não causa surpresa o fato de investigadores desenvolverem biológicos com o fim de reduzir o extrava- samento de leucócitos e, com isso, minimizar a inflamação.(27-31) Várias formas de interferir nos mecanismos de recrutamento leucocitário têm sido desenvolvidas tanto para a DII como para outras enfermidades. Ve- dolizumabe, recentemente aprovado no Brasil, é um anticorpo monoclonal hu- manizado do tipo IgG1 que reconhece seletivamente a integrina α4 β7, portan- to tem seletividade para o trato gastrointestinal (TGI), bloqueando a interação entre integrina α4 β7 e seu ligante no endotélio, também específico do TGI, MAdCAM-1.(27-31) Sua eficácia na indução e manutenção da remissão clínica na DC e na RCU foi constatada nos estudos GEMINI(29-32) com perfil de segu- rança satisfatório.(33) Na tabela 4, resumimos os principais agentes dentro deste grupo de drogas que agem reduzindo a migração de leucócitos. TABELA 4. Drogas que interferem no recrutamento de leucócitos. DC = doença de Crohn; RCU = retocolite ulcerativa Droga Descrição Empresa Alvo Indicações Observações Natalizumabe (Tysabri®) Anticorpo monoclonal (mAb) humanizado (IgG4) Biogen Idec (Cambridge, MA) Integrinas α4β1 e α4β7 Esclerose múltipla e DC Aprovado pelo FDA mas não na Europa (EMA) e Brasil Vedolizumabe (Entyvio®) mAb humanizado (IgG1) Takeda Pharmaceuticals (Deerfield, IL) Integrina α4β7 DC, RCU Aprovado FDA, EMA, Brasil AMG-181 (anti-integrina α4β7) mAb humano (IgG2) AstraZeneca (London, UK)Amgen (Thousand Oaks, CA) Integrina α4β7 DC, RCU Fase 2 Etrolizumabe (anti-integrina β7, rhuMAb β7, RG7413) mAb humanizado (IgG1) Genentech (South San Francisco, CA) Integrinas α4β7 e αEβ7 RCU Fase 2 Anti-MAdCAM-1 (PF-00547659) mAb humano (IgG2) Pfizer (New York, NY, USA) MAdCAM-1 DC, RCU Fase 2 AJM300 Pequena molécula oral Ajinomoto Pharmaceuticals (Tokyo, Japan) Integrina α4 DC, RCU Fase 2 Vercirnon (anti-CCR9, CCX282-B, GSK1605786A) Pequena molécula oral ChemoCentryx (Mountain View, CA) GSK (Brentwood, Middlesex, UK) CCR9 DC Fase 3 CAPÍTULO 1 - COMO E QUANDO UTILIZAR BIOLÓGICOS NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL? Federação Brasileira de Gastroenterologia34 Conclusões O desafio que enfrentamos no tratamento da DII é a utilização ade- quada de todo o arsenal terapêutico de que dispomos para o tratamen- to dos pacientes com DII. Enquanto na RCU a estratégia tradicional de tratamento (“step-up convencional”) é a que predomina, na DC temos várias estratégias de tratamento a depender da atividade da doença, per- fil dos pacientes e localização/comportamento da doença, entre outros elementos. Fatores preditivos de gravidade da DC são úteis na seleção de pacientes que merecerão tratamento via estratégia “top-down”. Na tabela 5, sugerimos as situações na DC em que cada estratégia pode ser preferencialmente empregada. Sem dúvida, os biológicos configuram um grande avanço no tratamento da DII. Além dos anti-TNFs já em uso no Brasil, um novo grupo de bioló- gicos relacionados com a inibição da migração de leucócitos para a mucosa intestinal (anti-integrinas) (tabela 4) surge, incrementando ainda mais a lista de medicamentos para o tratamento da DII. Destes, o vedolizimabe foi re- centemente aprovado no Brasil. Tem eficácia tanto na RCU quanto na DC, além de perfil de segurança satisfatório. TABELA 5. Estratégias de tratamento da doença de Crohn e sugestões de indicações Estratégias de tratamento Estudos Sugestão de indicação Step-up convencional pp dito REACT 1 Casos leves Step-up convencional acelerado (terapia combinada precoce) REACT 1 Casos moderados/graves Step-up acelerado pp dito AZTEC/RAPID Casos moderados e fístulas simples Top-down pp dito TOP-DOWN Casos graves Top-down modificado REACT 2 Casos graves Adérson Omar Mourão Cintra Damião GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 35 Referências 1. Damião AOMC, Rodrigues M, Damião EBC, et al. 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GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 37 DOI: 10.22288/978858718143500002 A tualmente, a doença hepática pode ser rotulada como sendo a oitava causa de óbito em nosso país, sendo a cirrose a principal causa dentre as doenças hepáticas.(1) A ascite é uma complicação frequente no paciente com cirrose, sendo que em um período de 10 anos é esperado que metade dos pacientes apresentem esta complicação.(2) Quando avaliamos uma coorte de 581 pacientes com cir- rose em nível ambulatorial, observamos que a complicação mais frequente na apresentação desses doentes era a presença de ascite, com uma prevalên- cia de 32%.(3) O seu aparecimento já traduz um mau prognóstico, com mortalidade ao redor de 50% em três anos. Deve ser ressaltado que sua presença também aumenta a morbidade dessa população de doentes, uma vez que há um risco adicional de outras complicações, como a peritonite bacteriana espontânea (PBE).(2) Em geral, os pacientes com ascite necessitam de hospitalização, embora aqueles com derrame peritoneal de pequeno volume possam ser manejados em nível ambulatorial.(4) É fundamental que seja identificada, afastada ou tratada, quando possí- vel, a causa da hepatopatia. Assim, por exemplo, em um paciente com he- patopatia decorrente do alcoolismo, é importante que o uso de álcool seja suspenso.(2) A dieta com restrição de sódio é um passo importante do tratamento, sendo preconizado o uso de 2 gramas de sal ao dia. Em regra, é orientado Complicações da hipertensão portal: manuseio da ascite e da peritonite bacteriana espontânea Angelo Alves de Mattos Ângelo Zambam de Mattos Capítulo 2 CAPÍTULO 2 - COMPLICAÇÕES DA HIPERTENSÃO PORTAL: MANUSEIO DA ASCITE E DA PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA Federação Brasileira de Gastroenterologia38 somente que os pacientes não coloquem sal em sua dieta e que evitem ali- mentos, sabidamente, com maior conteúdo de sódio.(5-7) Quando do tratamento da ascite, é importante que o clínico esteja atento para evitar a utilização de medicamentos que prejudiquem a função renal, tais como os anti-inflamatórios não esteroides, inibidores da enzima conver- sora de angiotensina, antagonistas dos receptores da angiotensina e mesmo drogas nefrotóxicas como os aminoglicosídeos. É também importante aten- tar para o uso de contrastes radiológicos endovenosos, uma vez que podem induzir a uma insuficiência renal aguda.(2) Como a resposta à dieta com restrição de sódio é pobre, o uso de diuré- ticos deve ser considerado desde o início do tratamento. Tendo em vista a presença de edema periférico concomitante proteger o paciente quanto ao desenvolvimento de hipovolemia, em decorrência de sua mobilização pre- ferencial e ilimitada, fica sugerido que o tratamento possa resultar em uma perda média de 1 kg/dia naqueles pacientes com ascite e edema periférico e de 500 g/dia naqueles só com ascite (reabsorção limitada).(8) No início do tratamento são utilizados diuréticos poupadores de potássio, preferencialmente a espironolactona, em decorrência do hiperaldosteronis- mo existente no paciente com cirrose. A dose inicial é de 100 mg/dia, poden- do ser aumentada a cada 3-5 dias, até um máximo de 400 mg/dia. O intervalo de dias utilizados para a modificação da dose é baseado no fato de que o pico de ação da droga é entre o 3º e 5º dia de seu uso. Esse regime resulta em uma natriurese adequada em 75% dos pacientes. Como os principais metabólitos da espironolactona, sua porção ativa, têm uma meia vida plasmática longa, está justificada sua administração uma vez ao dia.(9,10) Sendo o sítio de ação da espironolactona ao nível do néfron distal, a re- tenção proximal de sódio e de água explica a falha terapêutica em alguns pacientes. Nesses casos, associa-se um diurético de alça. A droga habitual- mente utilizada é o furosemida, variando a dose de 40 a 120-160 mg/dia.(11) Nos guidelines da European Association for the Study of the Liver (EASL),(4) é sugerido que pacientes com um primeiro episódio de ascite podem ter seu tratamento iniciado primeiramente com espironolactona de forma isolada (as doses podem ser aumentadas e, de acordo com a resposta, Angelo Alves de Mattos • Ângelo Zambam de Mattos GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 39 deve ser acrescida a furosemida), mas pacientes com ascite recorrente de- vem ser tratados desde o início com terapia combinada, ou seja, espironolac- tona e furosemida em doses crescentes na dependência da resposta. Nos pacientes com derrame peritoneal volumoso (ascite tensa), a proposta terapêutica a ser avaliada é a paracentese com reposição de albumina. A terapêutica através da paracentese com infusão endovenosa de 8 g de albumina por litro de ascite drenado mostrou-se mais efetiva, acarretando menos complicações e diminuindo o tempo de internação dos pacientes, quando comparada com o tratamento à base de diuréticos. Ressaltamos que a reposição com albumina tende a minorar adisfunção circulatória que pode ocorrer após a paracentese (disfunção circulatória pós-paracentese). Recente metanálise avaliando trials prospectivos, controlados e randomizados em pacientes com ascite volumosa e que realizaram paracentese e reposição com albumina, ou com outros expansores, demonstrou que a albumina diminui a incidência de síndrome pós-paracentese, de hiponatremia e de mortalidade.(12) Ressalte-se que, em artigo de revisão, Solà et al. recomendam reposição volumétrica com albumina, independente do volume drenado, inclusive enaltecendo uma saudável relação custo-benefício quando assim procedido.(¹³) Embora a paracentese terapêutica com reposição volêmica seja o trata- mento de eleição para os pacientes com ascite volumosa, ela não corrige a retenção renal de sódio existente, e esses pacientes devem utilizar diuréticos após a remoção do líquido de ascite. É importante enfatizar que o transplante hepático é a forma de terapia definitiva à ser ofertada aos pacientes com ascite, principalmente quando ela for considerada refratária.(14) Tendo em vista a PBE ser uma complicação frequente nos pacientes com ascite, é fundamental que a paracentese diagnóstica seja realizada em todo paciente com ascite de início recente, de volume moderado ou grande, ou naqueles pacientes hospitalizados com piora da ascite ou com complicação da hepatopatia.(4,5) A PBE e suas variantes constituem uma complicação que se desenvolve com frequência em cirróticos com ascite, principalmente quando de etiologia alcoólica. Sua incidência oscila entre 4 e 27%. Tem prognóstico reservado, CAPÍTULO 2 - COMPLICAÇÕES DA HIPERTENSÃO PORTAL: MANUSEIO DA ASCITE E DA PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA Federação Brasileira de Gastroenterologia40 com mortalidade variando de 20 a 30%.(15) Em estudo realizado no nosso meio, entre 1.030 internações hospitalares de pacientes com cirrose e ascite, foram documentados 114 episódios de PBE, o que correspondeu a uma prevalência de 11,1%. A mortalidade associada foi de 21,9%.(16) A PBE é uma infecção caracteristicamente monomicrobiana. As bactérias mais frequentemente isoladas são bactérias gram-negativas (E. coli) e cocos gram-positivos (estreptococos e enterococos). Os germes mais comuns na PBE de origem comunitária são bacilos gram-negativos (isolados em aproxi- madamente 65% dos casos), entretanto, cocos gram-positivos desempenham importante papel nas infecções nosocomiais (atualmente estão presentes em aproximadamente metade dos casos de PBE hospitalar).(17) Embora o diagnóstico seja dado pelo exame bacteriológico, em decor- rência dos resultados falso-negativos e da demora para obter seu resultado, o grande parâmetro prático no diagnóstico da infecção do líquido peritoneal parece ser o exame citológico do fluido de ascite, por meio da contagem dos polimorfonucleares (PMN). Assim, quando o número de PMN é igual ou superior à 250 células/mm3, estamos autorizados a pensar em PBE e iniciar um tratamento.(4,5) Classicamente, era recomendada a utilização de uma cefalosporinas de terceira geração, mais especificamente a cefotaxima.(4,5) Após 48 horas do início do tratamento, era realizada uma paracentese diagnóstica de controle, na qual se deve observar uma redução de pelo menos 25% no número de PMN quando o tratamento for efetivo. Caso contrário, deverá ser considerada a possibilidade de infecção por germe resistente à terapia inicial ou de peritonite bacteriana secundária.(18) A despeito do uso até então “rotineiro” da cefotaxima quando da suspeita de PBE, hoje em dia é fundamental que se avalie o papel das bactérias multirresistentes (BMR) em pacientes com cirrose. Entre as bactérias multirresistentes, as enterobactérias produtoras de ESBL (β-lactamase de espectro estendido) são as mais frequentes em pacientes com cirrose e infecção. Essas bactérias são isoladas em mais de 30% dos casos de PBE e a mortalidade é significativamente maior do que quando outros germes estão envolvidos.(19) Angelo Alves de Mattos • Ângelo Zambam de Mattos GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 41 Fernández et al.(17) publicaram estudo com 223 pacientes e 507 episódios de infecção, 18% dos quais com BMR (esta foi mais frequente nas infecções nosocomiais). Nestas infecções, é óbvia a baixa eficácia da antibioticoterapia empírica tradicional. Em metanálise demonstraram que a origem nosocomial de uma infecção, a infecção recente por BMR, a profilaxia com norfloxino e o uso recente de β-lactâmicos são fatores independentes que favorecem a infecção por BMR. Há autores que também sugerem como fator de risco uma história recente de hospitalização (principalmente se tiver ocorrido nos últimos três meses e se o paciente esteve em unidade de tratamento intensivo).(20) O local de aquisição da infecção também está relacionado ao risco de infecção por bactérias multirresistentes.(17,21,22,23) Dessa forma, tem sido su- gerida uma nova classificação epidemiológica em relação ao local de aquisi- ção das infecções: comunitárias, nosocomiais e associadas aos cuidados de saúde. As infecções comunitárias são aquelas diagnosticadas nas primeiras 48 horas de internação, enquanto as infecções nosocomiais são aquelas diag- nosticadas após esse período. As infecções associadas aos cuidados de saúde são aquelas diagnostica- das nas primeiras 48 horas de hospitalização de um paciente que apresen- tou contato recente com o sistema de saúde. Bactérias multirresistentes são causadoras de aproximadamente 4% das infecções comunitárias, 14% das infecções associadas aos cuidados de saúde e 35% das infecções nosoco- miais em pacientes com cirrose. O tratamento empírico com cefalosporinas de terceira geração é eficaz em 83% das infecções comunitárias, em 73% das infecções associadas aos cuidados de saúde e em somente 40% das infecções hospitalares.(17) Uma mortalidade hospitalar de até 37% foi evidenciada nas infecções nosocomiais.(17,22) Em nosso meio, recentemente, realizamos um estudo onde avaliamos a suscetibilidade bacteriana de 5.839 isolados de pacientes, com ou sem cirrose, admitidos em um hospital terciário. Observamos multirresistência bacteriana em 37,5% e 44,1% dos pacientes com e sem cirrose, respectivamente. A E. coli foi a bactéria multirresistente mais frequente em ambos os grupos. Aproximadamente 20% dos isolados de E. coli e Klebsiella sp eram produtoras ESBL e 44% dos isolados dos S. aureus eram resistentes à meticilina nos CAPÍTULO 2 - COMPLICAÇÕES DA HIPERTENSÃO PORTAL: MANUSEIO DA ASCITE E DA PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA Federação Brasileira de Gastroenterologia42 pacientes com cirrose. Nos isolados dos pacientes com cirrose, 36,2% eram resistentes à cefalosporina de terceira geração.(24) A escolha da terapia empírica deve ser baseada no tipo, na gravidade, na origem da infecção e nos dados epidemiológicos sobre resistência bacteriana local.(18) Em geral, as cefalosporinas de terceira geração continuam sendo a terapia preconizada para as infecções comunitárias.(5,18,25) Entretanto, o tratamento empírico de infecções associadas aos cuidados de saúde e nosocomiais deve ser guiado de acordo com os padrões epidemiológicos de resistência bacteriana observada.(18,26) Devido à atual alta frequência de germes multirresistentes, um grupo es- panhol de estudiosos implementou em sua prática clínica um novo protocolo de tratamento empírico das infecções nos pacientes com cirrose, que con- sistiu fundamentalmente no uso de carbapenêmicos associados ou não a um glicopeptídeo nas infecções nosocomiais. Novas e semelhantes recomenda- ções também começaram a ser feitas para o tratamento das infecções asso- ciadas aos cuidados à saúde em decorrência das evidências de semelhanças entre seus perfis microbiológicos.(26) A Conferência Especial sobre Infecções Bacterianas da EASL(18) sedi- mentou as novas orientações para o tratamento empírico das infecções nos pacientes com cirrose. Nos pacientes com PBE adquiridana comunida- de, seguem sendo recomendadas as cefalosporinas de terceira geração ou amoxicilina-clavulanato. No caso dessas infecções serem de origem hos- pitalar, recomenda-se o tratamento empírico com meropenem, associa- do ou não a um glicopeptídeo ou piperacilina-tazobactam. Quando essas infecções forem associadas aos cuidados de saúde, devem ser tratadas de acordo com a gravidade da infecção (se sepse severa, utilizar o esquema preconizado para as infecções nosocomiais) e com a prevalência local de bactérias multirresistentes. Um outro aspecto a ser considerado nos pacientes com PBE é a avaliação da função renal. Insuficiência renal ocorre em aproximadamente um terço dos pacientes com diagnóstico de PBE e é um forte preditor de mortalidade durante a hospitalização. Em estudo realizado no nosso meio, no qual foram Angelo Alves de Mattos • Ângelo Zambam de Mattos GASTRO GERAIS - POT-POURRI EM GASTROENTEROLOGIA 43 avaliados 114 episódios de PBE, houve perda de função renal em 24% dos casos. A mortalidade associada aos pacientes com e sem insuficiência renal foi de 36,1% e 6,3%, respectivamente.(27) Sort et al.,(28) com base no fato da PBE poder estar associada com um déficit da função renal e ao partirem da premissa de que a expansão do vo- lume plasmático preveniria essa disfunção, realizaram estudo multicêntrico, prospectivo e randomizado, com infusão de albumina endovenosa (1,5 g/ kg de peso no primeiro dia e 1 g/kg de peso no terceiro dia) na profila- xia nestes doentes. Constataram menor presença de hipovolemia e de défi- cit da função renal, bem como queda na taxa de mortalidade no grupo que usou albumina, quando comparado ao grupo-controle, com o qual só foram utilizados antibióticos. No consenso de Síndrome Hepatorrenal do Clube Internacional de Asci- te,(29) por se tratar de população de maior risco, foi sugerido que a albumina estaria indicada, fundamentalmente, nos pacientes com bilirrubina > 4 mg/ dL ou creatinina > 1 mg/dL. Entretanto, em recente revisão sistemática e metanálise, em que foi avaliado o papel da albumina na PBE,(30) os autores concluem ser incerto se a albumina deve ser utilizada só em pacientes de maior risco, sendo indicada em todos os pacientes com PBE. No que tange ao tratamento, é importante salientar que a sobrevida ob- servada nos pacientes com PBE é substancialmente mais curta do que a re- latada em pacientes com cirrose submetidos à transplante hepático. Assim, o transplante hepático deve sempre ser considerado para os pacientes que sobrevivam a um episódio de PBE. Pacientes que sobrevivem a um episódio de PBE apresentam elevado risco de recorrência (70% em um ano) e reduzida sobrevida (30 a 50% em um ano). Dessa forma, pacientes cirróticos que se recuperaram do primeiro episódio de PBE são candidatos a terapia profilática.(4,5,15) É consenso que a profilaxia deve ser sempre realizada nos pacientes cir- róticos com hemorragia digestiva e naqueles que já tiveram um episódio de PBE. A droga de escolha elencada para a profilaxia foi o norfloxacino. No entanto, em pacientes com cirrose avançada e hemorragia digestiva, a cef- triaxona parece ser a droga mais indicada.(31) CAPÍTULO 2 - COMPLICAÇÕES DA HIPERTENSÃO PORTAL: MANUSEIO DA ASCITE E DA PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA Federação Brasileira de Gastroenterologia44 Nos pacientes com proteínas baixas no líquido de ascite (inferior à 1 g/dL), não havia consenso sobre realizar ou não a profilaxia. O uso de antibióticos, de forma rotineira, nesses casos, poderia favorecer o surgimento de resistência bacteriana. Quando foi avaliada a profilaxia com norfloxacino em pacientes com níveis baixos de proteínas no líquido de as- cite e hepatopatia grave (Child > 9; bilirrubinas > 3 mg/dL; creatinina ≥ 1,2 mg/dL; Na+ sérico ≤ 130 mEq/L), foi demonstrado uma menor incidência de PBE, de síndrome hepatorrenal e uma maior sobrevida.(32) Metanálise de três trials controlados e randomizados avaliou o papel da profilaxia nestes casos e demonstrou uma menor chance de PBE e uma menor mortalidade nesta população de doentes.(33) Tanto o guideline da Associação Americana para o Estudo das Doenças do Fígado (AASLD)(5) quanto o da Associação Europeia para o Estudo do Fígado (EASL)(4) suportam a profilaxia nestas populações de pacientes. Do que aqui foi exposto, entende-se ser fundamental um adequado trata- mento dos pacientes com ascite, bem como daqueles com PBE, enaltecendo aqui o papel das novas estratégias de antibioticoterapia, jamais negligen- ciando a função renal destes pacientes.(34) Referências 1. 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