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Anna Beatriz de Moraes - MED 104 FISIOLOGIA DOS DISTÚRBIOS GASTROINTESTINAIS Distúrbios da mastigação ➔ Paralisia do mecanismo da deglutição ◆ Lesão nervosa - 5° (trigêmeo), 9° (glossofaríngeo) e/ou 10° (vago), assim como doenças musculares, da placa motora (miastenia), esclerose múltipla. Doenças neurológicas que comprometem nervos com funções motoras, Distúrbios da deglutição e do esôfago ➔ Acalasia: é um distúrbio de motilidade esofágica (lesão da rede neural do plexo mioentérico nos ⅔ inferiores do esôfago). O peristaltismo esofágico �ica defeituoso e ocorre falta de relaxamento do es�íncter esofágico inferior durante a deglutição, logo, o alimento não passa e �ica acumulado no esôfago, deixando-o cada vez mais dilatado. ➔ Megaesôfago: caracterizado pelo aumento difuso do esôfago, associado a uma disfunção da sua musculatura. Pode ser consequência da acalasia. ACALASIA MEGAESÔFAGO Distúrbios do estômago ➔ Gastrite: pode ser aguda ou crônica, leve, moderada ou grave. ◆ Em longa data, pode causar: ulcerações super�iciais ou completas, dor epigástrica, atro�ia da mucosa gástrica ◆ Causas: infecção por H. pylori, hiperprodução de HCl, irritativas por álcool e AINES ◆ Ocorre aumento da permeabilidade da barreira gástrica, provocando lesão celular/tecidual por íon H+ ◆ Gastrite crônica: lesão permanente da mucosa gástrica, atro�ia da mucosa, perda da capacidade das glândulas de secretarem muco e HCl. ● Irá ocorrer autodigestão das células do estômago pela pepsina. ● Isso tudo irá gerar acloridria, pois as células parietais �icarão lesadas e não conseguirao mais produzir HCl em quantidades su�icientes. Anna Beatriz de Moraes - MED 104 ● A acloridria prejudica intensamente a digestão das proteínas, tendo em vista que o pepsinogênio precisa do meio ácido para se transformar em pepsina, enzima que digere as proteínas. ● Pode ocorrer por exposição prolongada ao álcool e outras substâncias irritativas ● Também pode ser relacionada a processos autoimunes: algum fator causa resposta imunológica no organismo, produzindo anticorpos/citocinas que agridem as células do estômago. Por exemplo, o anticorpo anti-célula parietal, que destrói as células parietais. ● Pode levar à anemia perniciosa: atro�ia da mucosa (células e glândulas); perda da capacidade de produção de fator intrínseco; de�iciência na absorção de vitamina B12 (apenas 1/50 é absorvido). Essa anemia também é chamada de megaloblástica, porque as hemácias precisam de B12 para maturar, e as hemácias imaturas possuem tamanho maior. CLÍNICA: primeiro dosamos a B12 para ver se está baixa, tentamos repor oralmente se resposta positiva, caso os níveis subam, signi�ica que estava com baixa ingesta, caso contrário, signi�ica que está com de�iciência do fator intrínseco. ➔ Úlcera péptica: ocorre quando há perda do equilíbrio entre a intensidade da secreção de suco gástrico e o grau de proteção dado: ◆ Pela barreira da mucosa gastroduodenal; ◆ Pela neutralização do ácido gástrico pelos sucos duodenais (secretina que estimula a produção de bicarbonato) ◆ Causas: ● Conteúdo ácido e péptico alto: excesso de secreção de ácido e de pepsina pela mucosa gástrica (pode ser por infecção, distúrbios psíquicos, excesso de estresse produz muita acetilcolina e HCl) ● Irritação ● Baixo suprimento sanguíneo: pode ser causada por uma anemia (sangue com pouca hemácia, logo as células têm baixa oferta de O2) ou placas de colesterol nas artérias que irrigam o estômago ● Pouca secreção de muco, diminui a barreira mucosa, facilitando o acesso de microrganismos ● Infecção por Helicobacter pylori ○ Microrganismo Gram Negativo, espiralado e �lagelado (os �lagelos ajudam no deslocamento dessa bactéria no estômago) ○ Mais da metade da população mundial está infectada ○ A urease produzida pela bactéria transforma a uréia em amônia e bicarbonato, aumentando o pH local, o que protege a bactéria. Anna Beatriz de Moraes - MED 104 ○ Ela adere às células epiteliais da mucosa e vai quebrando essa barreira, com isso, o H+ e a pepsina começam a agir naquelas células, causando sua destruição ○ Teste da urease: durante o exame de endoscopia, um pequeno pedaço da parede do estômago é retirado e colocado em um frasco contendo uréia e um indicador de pH. Se após alguns minutos o meio mudar de cor, é dito que o teste é urease positiva, con�irmando a infecção pela H. pylori. Nesse caso, a bactéria irá degradar a uréia, aumentando o pH. ◆ Mecanismos de controle por feedback asseguram que a neutralização do suco gástrico seja completa: ● Quando o excesso de ácido entra no duodeno, isso, re�lexamente, inibe a secreção gástrica e o peristaltismo no estômago, seja por re�lexos nervosos ou por feedback hormonal, diminuindo assim o esvaziamento gástrico (para dar tempo de neutralizar o excesso de quimo ácido ali o duodeno) ● A presença de ácido no intestino delgado libera secretina pela mucosa intestinal para o sangue, e essa estimula o pâncreas a secretar suco pancreático com concentração alta de bicarbonato de sódio ➔ O estômago possui células muito grudadas umas nas outras, recobertas por células mucosas resistentes que secretam um muco aderente e viscoso. Há junções entre as células epiteliais de baixa permeabilidade, tudo isso formando a barreira gástrica Distúrbios do intestino delgado/pâncreas ➔ Digestão anormal do alimento no intestino delgado → normalmente ocorre por insu�iciência pancreática ◆ Em pessoas com pancreatite ◆ Quando o ducto pancreático é bloqueado por cálculo na papila de Vater ◆ Depois de remoção da cabeça do pâncreas, devido à doença maligna (porque retira-se parênquima pancreático, e reduz a produção das enzimas ➔ Insu�iciência pancreática ◆ Perda de tripsina, quimotripsina, carboxipolipeptidase, amilase pancreática, lipase pancreática ◆ Sem essas enzimas, até 60% da gordura que entra no intestino delgado pode não ser absorvida ◆ 30 a 50% das proteínas e carboidratos não serão absorvidos, as mais atingidas são as gorduras ◆ Primeiro sintoma observado pelos pacientes é a esteatorréia ◆ Causas: ● Pancreatite alcoólica (álcool gera in�lamação crônica, que pode evoluir para destruição das células pancreáticas) Anna Beatriz de Moraes - MED 104 ● Obstrução do ducto pancreático (presença de cálculos de repetição), tumor obstruindo canalículos ● Remoção da cabeça do pâncreas devido à neoplasia maligna ➔ ESPRU não tropical - má absorção pela mucosa do intestino delgado ◆ Normalmente, causada por uma infecção bacteriana mais crônica na mucosa intestinal ◆ Carência nutricional pode ser por uma baixa produção de enzimas pelo pâncreas (sua absorção é boa, mas ela não tem as enzimas para realizar as quebras) ou se o problema é na mucosa do intestino delgado. ◆ No início do espru, a absorção intestinal de gorduras é mais comprometida que a de outros nutrientes. Nos casos muito graves de espru, além da disabsorção de gorduras, também ocorre comprometimento da absorção de proteínas, carboidratos, cálcio, vitamina K, ácido fólico e vitamina B12 ◆ O paciente pode apresentar caquexia (desnutrição), osteomalácia (carência de vitamina D), coagulação sanguínea inadequada (pela de�iciência de cálcio e vit K) e anemia macrocítica (células não maturam e �icam com tamanho adequado) ◆ Espru tropical ● Ocorre frequentemente nos trópicos, sendo decorrente da in�lamação da mucosa do intestino delgado provocada por agentes infecciosos ● É uma doença diarreica ● Pode ser tratado com agentes antibacterianos ◆ Espru não tropical ou doença celíaca ● Má absorção pela mucosa do intestino delgado ● Decorre de efeitos tóxicos do glúten presente em certos tipos de grãos, especialmente no trigo e centeio ● Di�iculdade para metabolizar o glúten, acumulando-o e gerando respostas celulares com produção de citocinas e anticorpos que causam lesão da mucosa. Com o tempo, essas citocinas vão agredindo a mucosa, provocando um achatamento dessas células e reduzindo sua capacidade absortiva ● Primeiro sintoma é náusea, diarréia ● Pode gerar emagrecimento ● Síndrome disabsortivacausando de�iciência de vitaminas (A, D, E, K, B12) e osteoporose DISTÚRBIOS DO INTESTINO GROSSO ➔ Constipação signi�ica movimento lento das fezes pelo intestino grosso ◆ Frequentemente, está associada à grande quantidade de fezes ressecadas e endurecidas no cólon descendente ◆ Causas: ● Reabsorção excessiva de água/líquidos no geral ● Ingesta insu�iciente de líquidos ● Dieta pobre em �ibras, pois elas fazem com que a água se desloque mais para o lúmen intestinal Anna Beatriz de Moraes - MED 104 ● Obstrução por tumores, aderência (por ex, quando paciente faz uma cirurgia e tempos depois o ponto evolui para uma �ibrose cicatricial, que repuxa e faz uma aderência). Paciente com vômito que você suspeita de obstrução intestinal, deve-se perguntar para ele se recentemente ele realizou cirurgia na região da barriga. ➔ Megacólon (Doença de Hirschsprung): falta ou de�iciência de células ganglionares, no plexo mioentérico na região do sigmóide. O cólon não consegue contrair nem dilatar adequadamente, formando uma estenose na região sigmóide, e todo o percurso para cima irá sofrer dilatação por acúmulo de bolo fecal, conferindo-lhe aspecto de megacólon. ➔ Diarreia: resulta do movimento rápido de material fecal pelo intestino grosso ➔ Diarréia psicogênica: quando estamos muito nervosos, produzimos muita acetilcolina que irá estimular excessivamente o parassimpático, aumentando a motilidade intestinal. ➔ Enterite: in�lamação do trato intestinal, na qual ocorre aumento da secreção e da motilidade (diarreia). Possíveis causas: ◆ Vírus ◆ Bactéria ◆ Helmintos ◆ Protozoários ◆ Autoimunidade ◆ Cólera: um exemplo de enterite, a toxina do cólera estimula diretamente a secreção excessiva de eletrólitos e líquido pelas criptas de Lieberkühn no íleo distal e no cólon. A quantidade pode ser de 10 a 12 litros por dia. Sem tratamento, a mortalidade é em torno de 50%. Necessita de soro para reidratar e antibiótico para combater a bactéria. ➔ Doença de Crohn e retocolite ulcerativa: são doenças autoimunes que provocam lesão na parede intestinal. No geral, são tratadas com imunossupressores, para reduzir essa resposta imunológica do corpo. Anna Beatriz de Moraes - MED 104 ➔ Vômito: ocorre quando há irritação do trato gastrointestinal excessiva ou hiperdistensão, causando um antiperistaltismo. Causas de náuseas e vômitos: ◆ Impulsos que venham do trato gastrointestinal, causados por irritação ◆ Impulsos que se originem no mesencéfalo, associados à cinetose (estímulo de quimiorreceptores, que estimulam centro do vômito, às vezes em barco, brinquedos que rodam demais, etc) ◆ Impulsos no córtex cerebral ◆ Área de obstrução no trato gastrointestinal ➔ Obstrução gastrointestinal: pode ser causado por ◆ Câncer ◆ Constrição �ibrótica decorrente de ulceração ou por aderências peritoneais ◆ Espasmo de segmento do intestino: o segmento �ica espástico e não consegue se mover adequadamente ◆ Paralisia de segmento do intestino: por exemplo, por problemas no plexo mientérico, por exemplo. ◆ Quando a obstrução é no piloro: o conteúdo do vômito será ácido, devido ao pH gástrico ◆ Quando a obstrução é depois do duodeno: pH do vômito será neutro/básico ◆ Obstruções mais baixas normalmente não cursam com vômito, mas se sim, esse conteúdo pode ser fecalóide. Ocorre mais constipação do que vômitos. DISTÚRBIOS GERAIS DO TRATO GASTROINTESTINAL ➔ Gases no trato gastrointestinal: os chamados �latos, podem ocorrer por ◆ Ar deglutido ◆ Gases formados no intestino pela ação bacteriana: maior produção de gases no intestino grosso ◆ Gases que se difundem do sangue para o trato gastrointestinal ◆ Alimentos: feijão, repolho, cebola, couve-�lor, milho Anna Beatriz de Moraes - MED 104 ● O feijão contém carboidrato não digerível que entra no cólon e é substrato para as bactérias colônicas ◆ A maior parte dos gases produzidos no intestino se difunde através da parede intestinal → entra no sangue → eliminação pulmonar FÍGADO: ASPECTOS FISIOLÓGICOS DAS PATOLOGIAS HEPÁTICAS ➔ Fígado como um reservatório de sangue: ele consegue acumular grande quantidade de sangue devido à alta complacência de suas células ◆ Normalmente possui 450 ml de sangue dentro dele: cerca de 10% do volume corporal ◆ Em determinadas situações (como na pressão sanguínea retrógrada do átrio, devido ao seu mau funcionamento): pode se expandir e armazenar de 500ml a 1 litro de sangue extra. O sangue vai se acumulando em todo o sistema anterior: veia cava inferior → veia porta → �ígado ◆ Pacientes com insu�iciência cardíaca possuem além de turgência jugular, �ígado palpável, devido ao aumento do sangue no hepático. Pode ocorrer também congestão pulmonar. ◆ Conclusão: o �ígado é um grande órgão venoso expansível, capaz de atuar como reservatório de sangue nos momentos de excesso e apto a fornecer sangue nos momentos de volume sanguíneo diminuído ➔ Funções metabólicas do �ígado ◆ Carboidratos: ● É capaz de armazenar grandes quantidades de glicogênio, realizar glicogênese (glicose → glicogênio) ● Realizar glicogenólise (glicogênio → glicólise, em casos de hipoglicemia), ● Realiza gliconeogênese, ● Formação de muitos compostos químicos, a partir de produtos intermediários do metabolismo dos carboidratos ● Em pessoas com função hepática precária, a glicemia após uma refeição rica em carboidratos pode aumentar de 2 a 3x a mais do que ocorre em uma pessoa com função hepática normal, tendo em vista que o �ígado não conseguirá realizar glicogênese adequada. ◆ Proteínas ● Desaminação de aminoácidos ● Formação de uréia para remoção da amônia dos líquidos corporais: tendo em vista que a amônia é muito tóxica para os neurônios, no �ígado ocorre sua transformação para uréia, que é facilmente eliminada na urina. Pessoas com problema hepático podem ter acúmulo de amônia, lesando o sistema nervoso e podendo ter encefalopatia hepática. Nesses casos, o paciente pode �icar lento devido ao comprometimento neural. ● Formação das proteínas plasmáticas - principalmente a albumina (Exceto imunoglobulinas) ● Na doença hepática crônica, os níveis de albumina podem �icar muito baixos reduzindo a pressão oncótica e causando extravasamento de líquido dos vasos, o que gera edema generalizado. ● Interconversões entre os diversos aminoácidos e síntese de outros compostos a partir dele Anna Beatriz de Moraes - MED 104 ◆ Lipídeos ● Síntese de grandes quantidades de colesterol, fosfolipídeos e da maior parte das lipoproteínas ● Síntese de gordura, a partir das proteínas e carboidratos ◆ Armazenador de vitaminas e ferro ● Vitaminas A, D, E, K ● Ferro armazenado sob a forma de ferritina ◆ Outras funções hepáticas ● Sintetiza substâncias utilizadas na coagulação sanguínea: �ibrinogênio, protrombina, fator VII...alguns destes processos exigem a vitamina K, especialmente a protrombina e os fatores VII, IX e X ● Remove ou excreta fármacos, hormônios e outras substâncias: antibióticos, barbitúricos, hormônios esteróides e cálcio ● Produção da bile: a icterícia pode ser direta (decorrente da bilirrubina já conjugada, causada normalmente por ruptura de canalículos biliares, e seu vazamento para o sangue) ou indireta (causada pela bilirrubina não conjugada, normalmente causada pelo baço que começa a fazer hemólise excessiva, e o �ígado não dá conta de conjugar esse tanto de bilirrubina). Quando há obstrução, por exemplo, na Papila de Vater, os canalículos irão se romper, vazando a bilirrubina direta/conjugada. ◆ Causas de cirrose hepática ● Hepatites virais (principalmente B e C) ● Esteato-hepatite não alcoólica: acumula gordura nas células hepáticas, podendo gerar in�lamação crônica, comum em pessoas obesas ● Hepatite alcoólica ● Fisiopatologia da cirrose ○ A resistência ao �luxo sanguíneo nos sinusóides hepáticos é muito baixa (1,3L de sangue por minuto) Anna Beatriz de Moraes - MED 104 ○ Células parenquimatosas (hepatócitos) destruídos - células de Ito se tornam ativadas - mio�ibroblastos - produzem �ibras colágenas - forma-se um tecido cicatricial �ibroso (conjuntivo denso)○ Esse conjuntivo denso se contrai em torno dos sinusóides, e o tecido hepático que era muito complacente acaba �icando enrijecido, provocando aumento da pressão nas veias: hipertensão porta ○ O aumento da pressão porta (aliado à baixa pressão oncótica) pode resultar em ascite: acúmulo de líquido na região abdominal ● Sinais e sintomas da cirrose hepática ○ Encefalopatia ○ Icterícia ○ Varizes esofágicas ○ Derrame pleural ○ Ginecomastia: por hipogonadismo, inibição de LH e FSH, pode ocorrer inibição da testosterona e o estrogênio acaba se sobrepondo ○ Diabetes mellitus: pela hiperglicemia constante ○ Cabeças de Medusa ○ Falência renal ○ Ascite ○ Anasarca/edema Anna Beatriz de Moraes - MED 104
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