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Arquitetura colonial

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Arquitetura colonial
 Entende-se como arquitetura colonial aquela concretizada no território brasileiro datada desde o ano do descobrimento pelos portugueses, em 1500 até a Independência, em 1822.
 Neste os colonizadores importaram as correntes estilísticas da Europa para a colônia, adaptando-as às condições materiais e socioeconômicas locais. É fácil perceber, ao nos deparar no Brasil, belos edifícios coloniais com traços arquitetônicos renascentistas, maneiristas, barrocos, rococós e neoclássicos, em uma transição clara, porém gradativa entre os estilos ao longo dos séculos e esta classificação dos períodos e estilos artísticos do Brasil colonial é motivo de debate entre os especialistas.
 Reconhecendo a importância histórica e arquitetônica deste legado a UNESCO declarou o conjuntos e monumentos desta origem Patrimônio Mundial, dada a necessidade de se manter vivas o legado nelas presentes. Podemos destacar as cidades de Ouro Preto, Olinda, Salvador, São Luís do Maranhão, Diamantina, Goiás Velho, as ruínas das Missões Jesuíticas Guarani em São Miguel das Missões, o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas e a Praça São Francisco em São Cristóvão.
 A cidade sobre a qual traçamos a pesquisa, Paracatu, no ano de 2012 obteve o tombamento de seu centro histórico pelo Iphan, nele se encontram 230 imóveis que compõem o patrimônio protegido. Sua importância está diretamente ligada à exploração do ouro, o grande propulsor do processo de ocupação do interior do Brasil. A área onde surgiu a povoação possui uma localização estratégica e era ponto de convergência dos diversos caminhos entre o litoral e os sertões. 
 Paracatu deu importante contribuição à formação e integração da região Centro-Oeste, no final do período de exploração do ouro. Da mesma forma que outros municípios mineiros, o povoamento em torno das minas levou ao surgimento de centros econômicos integrados para abastecer as áreas de mineração.
Como ocorreram os Povoamentos coloniais e urbanismo
Mapa de Olinda e Recife (c. 1582-1585) por Luís Teixeira. Olinda era então a urbe mais rica do Brasil Colônia, posto que manteve até a Invasão Holandesa, quando foi devastada. 
 Mapa de Salvador em 1631 por Teixeira Albernaz I.
 A atividade arquitetônica no Brasil colonial inicia-se a partir da década de 1530, quando a colonização ganha impulso com a criação das Capitanias Hereditárias (1534) e a fundação das primeiras vilas, como Igarassu e Olinda, fundadas por Duarte Coelho cerca de 1535, e São Vicente fundada por Martim Afonso de Sousa em 1532. Mais tarde, em 1549, é fundada a cidade de Salvador por Tomé de Sousa como sede do Governo-Geral. O arquiteto trazido por Tomé de Sousa, Luís Dias, desenha então a capital da colônia, incluindo o palácio do governador, igrejas e as primeiras ruas, largos e casas, além da indispensável fortificação ao redor do povoamento. 
 Na cidade de Salvador, a parte mais nobre da cidade de que incluía construções em taipa como o palácio do governador, residências e a maioria das igrejas e conventos, foi edificada sobre um terreno elevado, a 70 metros sobre o nível da praia, enquanto junto à baía foram construídas as infraestruturas dedicadas às atividades comerciais. Outras cidades fundadas no século XVI, como Olinda (1535) e o Rio de Janeiro (1565), caracterizam-se por terem sido fundadas perto do mar, mas sobre elevações do terreno, dividindo-se o povoamento em uma cidade alta e uma cidade baixa. De maneira geral a cidade alta abrigava as habitações e administração e a parte baixa zonas de comercio e portuária, a exemplo da organização das principais cidades portuguesas, Lisboa, Porto e Coimbra, que tiveram como origem a Antiguidade e época medieval. Essa disposição obedeceu a considerações de defesa, uma vez que nos primeiros tempos os assentamentos coloniais corriam constante risco de ataques de indígenas e europeus de outras nações. Uma das marcas registradas aos povoados fundados pelos portugueses, eram os muros, paliçadas, baluartes e portas que controlavam o acesso ao interior. 
 No Brasil o urbanismo colonial se caracterizou em especial pela adequação do traçado das ruas, largos e muralhas ao relevo do terreno e posição de edifícios importantes, como conventos e igrejas. Apesar de não seguirem o rígido padrão de tabuleiro de xadrez das fundações espanholas no Novo Mundo, atualmente se considera que muitas cidades coloniais, começando por Olinda e Salvador, tiveram suas ruas traçadas com relativa regularidade. Durante o período da União Ibérica (1580-1640), as cidades fundadas no Brasil tiveram maior regularidade, como é o caso de Felipeia da Paraíba (atual João Pessoa), fundada em 1585, e São Luís do Maranhão, traçada em 1615 por Francisco Frias de Mesquita, sendo que a tendência à regularidade dos traçados de centros urbanos aumentou ao longo do século XVII. Destacam-se também as grandes obras urbanísticas realizadas no Recife durante o governo do Conde João Maurício de Nassau (1637-1643), que com o aterramento e construção de pontes, canais e fortes transformou o antigo porto de Olinda em cidade.
 Um aspecto determinante no urbanismo colonial era a implantação de igrejas e conventos. Frequentemente a construção de edifícios religiosos era acompanhada pela criação de um adro ou uma praça junto ao edifício, assim como uma malha de ruas de acesso, organizando o espaço urbano. Em Salvador, por exemplo, a construção do Colégio dos Jesuítas no século XVI, fora dos muros da cidade, deu origem a uma praça - o Terreiro de Jesus - e fez da área um pólo de expansão da cidade. Outro exemplo notável de espaço urbano colonial é o Pátio de São Pedro, surgido a partir da construção da Concatedral de São Pedro dos Clérigos do Recife (depois de 1728). No Rio de Janeiro, a principal rua colonial, a Rua Direita (atual Rua Primeiro de Março), surgiu como ligação entre o Morro do Castelo, onde havia sido fundada a cidade, e o Mosteiro de São bento, localizado sobre o morro de mesmo nome. 
 Outro aspecto importante foi a implantação de monumentos religiosos em lugares altos, às vezes precedidos por escadarias, o que criava paisagens cenográficas de forte caráter barroco. No Rio, por exemplo, muitos mosteiros e igrejas foram construídos sobre morros, com suas fachadas voltadas para o mar, oferecendo um magnífico cenário para os viajantes que adentravam a Baía da Guanabara. A relação privilegiada entre topografia e igrejas também é marcante nas cidades mineiras, especialmente Ouro Preto e no Santuário de Congonhas. Nesta última a igreja de peregrinação se encontra no alto de um morro, precedido por um conjunto de capelas com a via sacra e uma escadaria decorada com estátuas de profetas.
 No século XVIII, reformas realizadas pelo governo do Marquês de Pombal, ligadas em parte à necessidade de ocupar os limites com a América espanhola, levaram a uma maior presença de engenheiros militares na colônia e à fundação de várias vilas planejadas, nas quais estavam previstos os lugares para os edifícios administrativos, igrejas e símbolos do poder público. Assim, ao longo do século XVIII, muitas vilas foram criadas com urbanismo planificado nos atuais estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Goiás, Roraima, Amazonas e outros. Além disso, em alguns lugares se adotaram padrões comuns de fachadas para edifícios com o objetivo de criar um conjunto urbano harmônico, como se observa na cidade baixa de Salvador em meados do século XVIII. 
 Em Minas Gerais, onde o Ciclo do Ouro favoreceu o rápido crescimento de vilas em terrenos acidentados sem nenhum planejamento, também houve algumas importantes intervenções urbanísticas. O traçado da cidade de Mariana, localizada em um terreno relativamente plano, foi reformada com regularidade em 1745 por José Fernandes Pinto Alpoim. Na mesma época, várias casas foram demolidas no centro de Ouro Preto para a criação de uma monumental praça, a atual Praça Tiradentes, onde foram implantadosa Casa da Câmara e o Palácio dos Governadores. Melhoramentos urbanísticos foram mais frequentes à medida que avançou a colonização. Em Salvador, grandes aterros no século XVIII permitiram o desenvolvimento da cidade baixa, antes restrita a uma estreita faixa de terra. No Rio de Janeiro, lagoas e pântanos foram aterrados para permitir a expansão e melhorar a salubridade da cidade.
Entrada do Passeio Público do Rio em pintura anônima do final do século XVIII.
 Também no Rio foi construída talvez a maior obra de infraestrutura realizada no Brasil colonial: o Aqueduto da Carioca, inaugurado definitivamente em 1750. O aqueduto trazia água do rio de mesmo nome ao centro da cidade, alimentando vários chafarizes, alguns dos quais ainda existem. Um deles se localizava no Largo do Paço (atual Praça XV), urbanizado no início dos anos 1740 por José Fernandes Pinto Alpoim à imagem da Praça da Ribeira de Lisboa. O cais do largo ganharia mais tarde um monumental chafariz, projetado por Mestre Valentim e terminado em 1789.
 O Rio de Janeiro, capital da colônia desde 1767, foi o principal foco de intervenções urbanísticas entre os séculos XVIII e XIX. A mais importante foi a criação do Passeio Público entre 1789 e 1793. O desenho do parque, realizado segundo um projeto de Mestre Valentim, incluiu alamedas geométricas arborizadas, fontes e estátuas. Para construir o parque foi necessária uma grande intervenção urbanística, com a destruição de um morro e o aterro de uma lagoa. Mais tarde, com a chegada da Família Real Portuguesa em 1808, o Rio ganhou ainda o Jardim Botânico, o primeiro no Brasil colônia.
Referências
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3. ↑ Bueno, Eduardo. Coleção Terra Brasilis Volume 4 - A Coroa, a Cruz e a Espada. Ed. Objetiva. Rio de Janeiro, 2006.
4. ↑ «Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré (Ouro Preto, MG)». Portal IPHAN. Consultado em 20 de setembro de 2017
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8. ↑ da Silva Telles, AC. Atlas dos monumentos históricos e artísticos do Brasil. MEC/SEAC/FENAME. 1980
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12. ↑ Ir para:a b c d e f g h i j k l m n o p q r Colin, Sílvio (2010). Técnicas construtivas do período colonial (I - Vedações e Divisórias; II - Coberturas e forros; III - Esquadrias; IV - Pisos e pavimentos, Pinturas, Alicerces); e Tipos e padrões da arquitetura civil colonial I e II. In: Coisas da Arquitetura; CEAP, link Arquivado em 17 de abril de 2016, no Wayback Machine.; Imphic, link.
13. ↑ Neves, Célia; Faria, Obede Borges (2011). Técnicas de construção com terra. São Paulo: Proterra. pp. 46;50
14. ↑ Bazin, Germain (1956). Arquitetura Religiosa Barroca no Brasill. Rio de Janeiro: Record
15. ↑ Ir para:a b Vasconcellos, Sylvio (1979). Arquitetura no Brasil: Sistemas Construtivos. Belo Horizonte: Rona

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