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1 Beatriz Machado de Almeida Ortopedia – Aula 5 - Lombalgia Epidemiologia Somente 5 a 10% das patologias que envolvem a lombalgia estão associadas a patologias graves, que necessitam de um tratamento mais específico e um acompanhamento. Na grande maioria das vezes não, trata-se da lombalgia é possível dar um seguimento, uma melhora da qualidade de vida desse paciente sem precisar de uma intervenção maior. A lombalgia encontra-se no top 10 dos sintomas que levam o doente ao pronto socorro, então o médico vai se deparar com alguns casos de lombalgia ao longo de sua vida. • 90% dos adultos têm pelo menos 1 episódio durante a sua vida; • 90 a 95% das lombalgias agudas são situações banais; • 85% são idiopáticas e autolimitadas em 4 a 6 semanas. Etiologia 1 - Mecânicas; 2 - Inflamatórias; 3 - Infecciosas; 4 - Metabólicas; 5 - Tumorais; 6 - Dor visceral referida na coluna lombar. Pacientes com uma litíase renal, cálculo na bexiga, cólica menstrual, aneurisma de aorta, podem referir uma dor muito parecida com a lombalgia. Então, é importante excluir as suspeitas diagnósticas. Dores viscerais podem ser confundidas com lombalgia e não é fácil identificar, mas a experiência ao longo do tempo vai fazer com que você consiga diferenciar as causas banais das que necessitam da solicitação de exames complementares. Etiologia mecânica ANOMALIAS CONGÊNITAS: ❖ Espinha bífida; ❖ Sacralização/lombarização (L5 junto com S1); ❖ Espondilólise/listese (uma vértebra sobre a outra); ❖ Estenose espinhal. DEGENERATIVAS: ❖ Espondilartroses (artrose na região da coluna); ❖ Estenose espinhal; SÍNDROMES DISCOGÊNICAS ❖ Protusão discal; ❖ Hérnias de disco. É uma coisa muito comum (todo mundo que faz uma ressonância pode achar hérnia de disco). O fato de ter não significa nada. O problema é quando essa hérnia comprime a raiz, a medula. TRAUMATISMOS Traumas que envolvem a região da coluna, podendo levar à uma fratura na região lombar. Etiologia inflamatória Patologias que cursam com inflamação a nível lombar, dorsal e cervical: • Espondilite anquilosante (a coluna se funde; “coluna em bambu” – radiografia ao lado); • Artrite reumatoide: pode atingir qualquer uma das articulações; geralmente é tratada em conjunto com o reumatologista (acompanhamento). Se necessitar de algum tratamento cirúrgico ou de uma coisa mais invasiva, o reumato reencaminha para o ortopedista. • Dor miosfacial (fibromialgia): muito vista hoje em dia. É preciso muito cuidado, já que não tem nenhum exame complementar. Etiologia infecciosa • Estafilococcos; • BK. Pode ter tanto uma discite (contaminação do disco intervertebral), quanto a infecção do próprio corpo vertebral. Pode ter qualquer bactéria infectando a região da coluna. Lombalgia 2 Beatriz Machado de Almeida Ortopedia – Aula 5 - Lombalgia A discite está relacionada ao disco intervertebral, enquanto a tuberculose óssea está relacionada a uma lesão no corpo vertebral – Mal de Pott. O Mal de Pott é a tuberculose óssea na região da coluna com déficit neurológico. Então tem que ser: tuberculose confirmada + acometimento da coluna vertebral + déficit neurológico. O tratamento antibiótico por longo período (+ ou - 12 meses). A questão infecciosa está muito relacionada também a pacientes que usam medicações venosas por longos períodos (ex. quimioterápicos) e pacientes com insuficiência renal (diálise) e usuários de drogas intravenosas de forma crônica (pode estar associado a bacteremia e levar a um processo infeccioso no corpo vertebral ou disco). Se tem infecção óssea na coluna vertebral, é chamado de osteomielite. Pode ocorrer em qualquer osso, dentre eles, o osso da coluna vertebral. Etiologia metabólica • Osteoporose: mais comum. • Osteomalácia: muito envolvida com a questão de desnutrição ou raquitismo; • Doença de Paget: alteração do turnover ósseo, ou seja, irregularidade entre a formação e a reabsorção óssea. Termina ou reabsorvendo mais osso ou formando demais; não se sabe o porquê. • Hiperparatireoidismo: “tumor marrom”. Imagem: fratura clássica de osteoporose. Corpo vertebral achatado quando comparado com outro corpo vertebral. Característica de fraturas por insuficiência ou fratura por osteoporose. Uma das possibilidades de tratamento é a injeção dentro do corpo vertebral com cimento ósseo. Lembrar que o tratamento cirúrgico é exclusão! Biomecânica Na região toracolombar temos: • Força de compressão: Elementos anteriores - região do corpo vertebral e disco. • Força de distração: Elementos posteriores - Ligamentos e musculatura paravertebral (faz a função de suportar essa distração). Então, para manter esse equilíbrio, é importante manter a musculatura paravertebral bem fortalecida. Sedentarismo, falta de atividade física e a falta de alongamento (→ encurtamento), faz com que haja uma falha nessa balança. Ex. Paciente com lombalgia crônica. Não se deve mandar ficar em repouso/sedentário sentado no sofá ou deitado na cama. Na verdade, pra melhorar, ele precisa fortalecer o CORE (musculatura paravertebral, abdominal, oblíquos e abdutores do quadril). É feito na academia ou na fisioterapia. Caracterização da lombalgia • Local: onde dói? • Duração dos sintomas: passa logo? • Irradiação: vai pra algum lugar? Saber se fica só nas costas ou se vai para as pernas, braços. • Características: pontada, aperto, queimação. • Intensidade: 0 (nenhuma dor) a 10 (pior dor). Escala de EVA (escala visual analógica) • Frequência: contínua, intermitente? • Modo de início: fez trauma, algo fora do comum? • Tempo do início: 1 dia, 1 semana, 1 ano? • Fatores de agravamento: sentar, levantar? • Fatores de alívio: posição melhora? • Sintomas associados: perda de peso, febre, sudorese noturna. Anamnese básica, buscando identificar fatores de alarme, que possam ascender uma ¨luzinha¨. Trauma normalmente é coisa aguda (ex. paciente caiu há 2 dias), mas se por acaso, o paciente relatar que caiu há 2 anos e ainda sente dor, é um trauma que precisa ser levado em consideração. 3 Beatriz Machado de Almeida Ortopedia – Aula 5 - Lombalgia Exame físico • Marcha: se é antálgica, por exemplo, em que o paciente chega todo encurvado por conta da dor. • Identificar a zona álgica: onde é a dor? • Perceber a irradiação: lembrar dos dermátomos (parte da sensibilidade neurológica). • Desvios e assimetrias: pensar em acidentes vasculares isquêmicos. • Dor à palpação e percussão: alodinia (mudança no sentido da dor, da qualidade de uma sensação). • Provas de lesão radicular: Lasègue: prova de lesão radicular para o nervo ciático. Ao elevar o membro inferior, o paciente refere dor irradiada na face posterior da coxa indo até a perna); Braggard) • Provas motoras: classificar a força de 0 (força ausente) a 5 (força completamente normal); • Reflexos: Lembrar de avaliar os reflexos dos membros inferiores, principalmente o patelar e o aquileu. • Sensibilidade através dos dermátomos, buscando identificar qual a área da lesão. Síndrome da Cauda Equina • Compressão de diversas raízes da cauda equina; • Dor lombar e perianal; • Aumento da frequência urinária; • Perda do tônus do esfíncter anal; • Anestesia em sela – região genital/perianal. Essa patologia não é simples de tratar, pois a síndrome da cauda equina é considerada uma patologia de emergência ortopédica. É um paciente que se apresenta com uma dor lombar pregressa e passa para uma anestesia em sela. É uma situação muito rara em que há a compressão neurológica das raízes baixas, ou seja, das raízes que formam a cauda equina que é formada abaixo de L4 (não tem mais medula, apenas raízes). Uma hérnia de disco, uma estenose lombar, um hematoma ou um tumor podem causaruma síndrome da cauda equina, ou seja, qualquer coisa que comprima a medula e faça a compressão dessas raízes pode gerar uma síndrome da cauda equina. O paciente se apresenta com dor nas costas mas com toda região genital e perianal dormente, com aumento da frequência e/ou incontinência urinária, podendo até surgir com incontinência fecal. Na síndrome da cauda equina deve-se tomar uma conduta de emergência, pois se demorar para tratar, o paciente pode apresentar lesões definitivas. Então, das lombalgias, é a única que exige um encaminhamento para especialista de coluna o mais rápido possível, sendo submetido ao tratamento cirúrgico de forma urgente. Exames complementares • RX: solicitado quando há histórico de trauma ou suspeita de deformidades como escolioses ou desvios. • TC: solicitada quando há histórico de trauma; • RMN se: ❖ Lesão neurológica; ❖ Suspeita de patologia subjacente: tumoral, infecciosa. ❖ Sintomatologia arrastada; ❖ Tratamento ineficaz; ❖ Exames laboratoriais (hemograma, PCR): solicitados quando há suspeita infecciosa ou tumoral, já que em uma lesão mecânica não haverá alteração nenhuma. Não é necessário que em toda lombalgia se solicite um exame complementar. Se não houver nenhum sinal de alarme deve-se apenas medicar o paciente e orientar repouso por 48 horas, avaliando ao 4 Beatriz Machado de Almeida Ortopedia – Aula 5 - Lombalgia retorno se houve melhora ou não do quadro de lombalgia. • A tomografia é associada à cintilografia óssea quando há suspeita tumoral, sendo muito bem eficiente no diagnóstico. Tratamento não farmacológico Se o paciente chegar com lombalgia e nenhum sinal de alarme, deve-se orientar: • Repouso relativo (48 horas), que consiste em não realizar esforços extra habituais, ou seja, não vai varrer a casa, trabalhar carregando um saco de cimento. • Exercício: alongamento de amplitude articular, flexibilidade e recuperação do potencial muscular da região abdominal e paravertebral, dos abdutores do quadril. • Agentes físicos: TENS (Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation); ultrassom, compressa de água morna (ajuda a relaxar a musculatura); um paciente que está com lombalgia secundária a dor miosfacial, que é o mais comum, ele apresenta uma contratura muscular da região paravertebral → água morna ajuda. • Acupuntura: relaxamento muscular e analgesia. Tratamento farmacológico CASOS AGUDOS • Analgésicos: mais comum. Paracetamol de 500mg ou 750mg de 6/6horas ou dipirona de 500mg ou 1g de 6/6 horas.; • AINES: celocoxibe de 200 mg de 12/12 horas ou diclofenaco de 50 mg de 8/8 horas; • Opioides: apenas quando necessário, se a dor estiver muito intensa. codeína/tramadol; • Analgesia local: implantes de lidocaína – uso tópico – alívio; compressas de água morna. • Relaxante muscular: se estiver pensando em contratura muscular paravertebral. Ciclobenzaprida (miosan, musculare) → sono; CASOS CRÔNICOS (acima de 2-3 semanas) • Antidepressivos: tricíclicos → amitriptilina ou inibidores da recaptação de serotonina → duoloxetina 30mg/dia até 60 mg/dia ou fluoxetina. Aliviam o ciclo vicioso da dor. • Antiepiléticos: pregabalina ou gabapentina; • Corticoides: betametasona ou predinisona. Exemplo: lombalgia simples, sem sinal de alarme, paciente jovem que apareceu com dor nas costas depois de um exercício diferente do habitual, sem sinal de alarme→ dipirona 1g de 6/6h, diclofenaco de 8/8h e ciclobenzaprida (miosan) de 12/12h. Faz esse esquema por 5 dias e observa. Se houve melhora → tratado, não precisa encaminhar para ortopedista e especialista de coluna. Se a dor apresentar recidiva, não melhora → solicita exame complementar, raio x, procurar deformidade, alteração. O tratamento da lombalgia simples é com analgésico, AINE e relaxante muscular. Se a dor está muito intensa e não melhorou com as medicações antes prescritas, associa opióide, que pode ser o tramadol de 12/12h ou codeína, o tylex de 8/8h ou de 12/12h. É importante saber a dose tóxica! Exemplo: o tramadol é até 400mg/dia. Faz de horário o analgésico, o AINE e o relaxante muscular. Opioide, se necessário. Se for uma dor crônica, pode entrar ou com antiepiléticos, antidepressivos ou os dois. Sinais de alarme História • < 20 ou > 50 anos; • Dorsalgia: dor mais alta, na região torácica. • > 6 semanas: não melhora com nada. • História trauma; • Febre/arrepios/ suores noturnos; • Perda de peso: associada à lombalgia. • Agrava com repouso: a lombalgia secundária a uma dor miosfacial, dor nas costas por contratura muscular, lombalgia mecânica deve melhorar com o repouso. • Agrava à noite: ex. a dor piora na hora de dormir/fazer o repouso. • Terapêutica analgésica ineficaz: quando não melhora com tramadol, corticoide. • História de neoplasia; Imunossupressão; • Procedimentos – bacteremia: dentário ou médico. Paciente em tratamento de câncer (uso do portocath). • Drogas ilícitas. 5 Beatriz Machado de Almeida Ortopedia – Aula 5 - Lombalgia Exame físico • Febre; • Hipotensão; • Hipertensão extrema; • Palidez; • Retenção urinária aguda; • Massa abdominal pulsátil: pensar em aneurisma de aorta. • Sinais neurológicos focais: déficit neurológico. Ex. perda de força no braço direito, na perna esquerda. Paciente com reflexo aquileu ou patelar diminuído. • Retenção urinária aguda: pensar em alterações de esfíncter, na síndrome da cauda equina. Se tiver algum desses sinais de alarme, é importantíssimo realizar, pelo menos, a avaliação secundária. Solicitar uma ressonância magnética, avaliação precoce de um ortopedista, ou até encaminhar para internação para investigação caso a suspeita diagnóstica seja a síndrome da cauda equina. Logo, se apresentar qualquer desses sinais de alarme, é preciso sempre ficar alerta, pois possivelmente não é um caso simples. Obs.1: a dor nas costas após carga mecânica, provavelmente é lesão muscular. A lesão nervosa, quando deixa o ortopedista preocupado não é dor nas costas, é a dor irradiada, ou seja, quando o paciente relata que não sente dor nas costas, mas que a perna fica dormente. Obs.2: contratura muscular é quando ocorre a contração muscular de uma hora para outra. Distensão muscular é quando se supera o máximo que consegue de alongamento. Normalmente quando pega um peso que travou as costas, o que ocorre é uma contratura muscular muito vigorosa que causa dor. Obs.3: lesão nervosa não dói local. Lesão nervosa dói irradiado. Então, quando o paciente relata que o braço ficou todo dormente, a perna ficou dormente, ou que perdeu a força da perna esquerda ... esses sinais sugerem que não é apenas uma contratura muscular. Logo, o que preocupa o ortopedista não é a dor nas costas, o problema é quando ocorre déficit de força distal. Tratamento cirúrgico • Paciente refratário ao tratamento conservador; Paciente com hérnia de disco gigante → trata com medicação analgésica, relaxante muscular → corticoide (injetável ou oral - melhorar processo inflamatório). A única hérnia que não é pra tratar de forma conservadora é aquela que tiver sinais de síndrome da cauda equina. Geralmente usa o AINE de 5-10 dias (evita o uso prolongado devido ao risco de lesão estomacal, hepática e renal) e o analgésico contínuo. Lembrar que o tratamento não é apenas medicamentoso, envolve mudança do estilo de vida, exercício físico, controle postural, alongamento. • Sinais de Síndrome da cauda equina: tratamento cirúrgico direto. Pula todas as outras etapas (analgésico, relaxante muscular, AINE. Opioide e corticoide, se precisar). • Déficit neurológico progressivo: focal, de sensibilidade ou de força, → sinal de alarme. Lombalgia + parestesia de membros inferiores → sinal de alarme. Resumo: o tratamento cirúrgico vai ser necessárioquando houver falha do tratamento conservador, sinais de cauda equina ou déficit neurológico progressivo. Normalmente o tratamento cirúrgico é feito aberto ou de forma endoscópica. Aberto geralmente vai ser feito por via posterior ou anterior, onde é feita a descompressão e a artrodese usando instrumental. De forma endoscópica, consegue fazer a descompressão mais a ressecção da hérnia de disco, se for o caso. 6 Beatriz Machado de Almeida Ortopedia – Aula 5 - Lombalgia Tudo que é necessário saber está nesse slide. • Paciente com lombalgia que nunca teve na vida → aguda e não traumática → tratamento sintomático. • Paciente com lombalgia e é traumática, caiu de uma laje → realiza raio x. Se no raio x está duvidoso ou tem a confirmação de que está quebrado → solicita uma tomografia. • Paciente com lombalgia subaguda ou crônica (mais de 4 semanas), com sinal de alarme (red flags) → exames complementares: raio x, tomografia, ressonância, exames laboratoriais. Depende da suspeita. Se o red flags estiver positivo, vai definir qual exame complementar e o tratamento que vai ser adotado. Quem trata dor nas costas é o clínico. Se tiver sinal de alarme: ortopedista. Primeiro solicitar o exame mais apurado possível (pode ser raio x, TC, ressonância magnética) e encaminhar para o ortopedista. Material baseado na aula de Dr. Davi Veiga – Medicina UniFTC – 7º semestre
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