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0 DISCIPLINA: FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO I - II DOCENTE: Prof. Me. Maxuel Batista de Araújo FILSOFIA DA EDUCAÇÃO (Coletânea de Textos) NATAL - RN 2021.1 1 FILOSOFIA & FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO A filosofia é uma ciência que trata da essência, das propriedades, das causas e dos efeitos dos seres naturais. A palavra filosofia deriva da união de dois vocábulos gregos: philos (amor) e sophia (pensamento, conhecimento e sabedoria), portanto, a filosofia é o amor pelo conhecimento ou pela sabedoria. A filosofia significa a análise racional do sentido de existência do homem, tanto no plano individual como no coletivo e baseado sempre na compreensão do ser. Por outro lado, a educação é um conjunto de processos e procedimentos que permitem o acesso de qualquer ser humano à cultura, o que distingue certamente do resto dos animais. Entretanto, a filosofia da educação é um dos ramos da filosofia que trata exclusivamente do tema educação. A educação por si só apresenta um problema filosófico, portanto, os maiores filósofos de todos os tempos desde a antiguidade, trataram de abordar a educação em diferentes situações e diversos níveis. Embora o conteúdo da educação seja muito complexo e apresente grandes variações de uma cultura para outra, o mesmo encontra unidade justamente no homem, pois de todos os animais, o homem é o único capaz de ser educado. Se um ser humano não fosse educado, teria de humano unicamente o aspecto físico, no entanto, o que distingue do animal são as técnicas, a língua e os costumes. Então, é precisamente esta relação estabelecida com a humanidade que faz com que a educação seja mais do que um simples treinamento ou maturação. A principal tarefa assumida pelo filósofo da educação será de questionar sobre os propósitos da educação, prevalecendo o porquê de qualquer aspecto ou circunstância. Como poderíamos conceituar filosofia? Esta é uma tarefa difícil, mas vamos pensar sobre a etimologia da palavra filosofia. Composta pelos termos gregos philos, gostar de algo, sentir atração, nutrir amizade ou amor por alguma coisa, e sophia, sabedoria; filosofia significa amor à sabedoria, amizade pela sabedoria, gosto pela sabedoria. A partir da origem da palavra filosofia, considera-se que ela se volta ao estudo de questões fundamentais relacionadas à existência humana, à verdade, ao conhecimento, aos valores, constituindo-se enquanto uma atitude do homem voltada à compreensão de seu próprio ser e do universo, não tendo um objeto de estudo específico. Para Luckesi (1994), a filosofia é entendida como um corpo de conhecimento que se constitui pela busca do ser humano em compreender e dar sentido ao seu mundo, à realidade. O entendimento do mundo expresso pelo conhecimento filosófico permite ao ser humano compreender sua existência e direcionar sua ação em variadas dimensões. O autor considera ainda que: Todos têm uma forma de compreender o mundo, especialistas e não-especialistas, escolarizados e não-escolarizados, analfabetos e alfabetizados. Esta é uma necessidade "natural" do ser humano, pois que ninguém pode agir no "escuro", sem saber para onde vai e por que vai. Só se pode agir a partir de um esclarecimento do mundo e da realidade (luckesi, 1994, p. 23, grifos do autor). https://queconceito.com.br/conhecimento https://queconceito.com.br/educacao https://queconceito.com.br/ser-humano https://queconceito.com.br/circunstancia 2 Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) a invenção da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos (Chauí, 2000, p.19). 4 sobretudo pela filosofia. Tratava-se de uma história persuasiva, por um lado, e teoreticista, por outro, sempre muito distante dos processos educativos reais, referentes às diversas sociedades, diferenciados por classes sociais, sexo e idade; distante das instituições em que se desenvolviam (a família, a escola, a oficina artesanal e, em seguida, a fábrica, mas também o seminário ou o exército etc.); distante das práticas de educação ou de instrução, das contribuições das ciências, sobretudo humanas, para o conhecimento dos processos formativos. E quanto à relação entre filosofia e Educação? Entendendo que a filosofia não se ocupa de um objeto específico, considera-se que a Educação é apresentada à filosofia como um dos problemas da realidade. Nesse âmbito, a reflexão sobre a Educação a partir da filosofia, deve atentar para o que aponta Saviani (2000, p. 23), “[...] que a filosofia da educação só será mesmo indispensável à formação do educador, se ela for encarada, tal como estamos propondo, como uma reflexão (radical, rigorosa e de conjunto) sobre os problemas que a realidade educacional apresenta”. Com isso, compreende-se que a filosofia da Educação contribui para que as problemáticas educacionais sejam analisadas a partir de uma reflexão que se apresenta como filosófica, de modo que sejam buscadas possibilidades e não ideias prontas, fixas, dadas por antecedência. Torna-se ainda interessante refletir que “cabe à filosofia, entre outras coisas, examinar a concepção de homem que orienta a ação pedagógica, para que não se eduque a partir da noção abstrata de ‘criança em si’, de ‘homem em si’” (aranha, 1996, p. 108). Em suma, a filosofia é uma das ciências mais antigas e relevantes da história da humanidade. A palavra, proveniente do grego Φιλοσοφία, que pode significar tanto amigo da sabedoria quanto amor pelo saber, dizem respeito às reflexões sobre temas fundamentais à existência humana, como a linguagem, os valores morais e estéticos, a verdade, o conhecimento, a mente, etc. Diferente do que muitos pensam, a filosofia não é uma disciplina sem nenhum rigor científico. Muitos acreditam que assim seja, pois ela não faz uso de métodos empíricos como a grande maioria das ciências – isto é, não se vale da observação de experiências concretas para chegar a resultados. Ao invés disto, a filosofia vale-se de métodos como experiências do pensamento, lógica, análise conceptual, dentre outras. Por ser tão antiga quanto o homem, é necessário fazer uma complexa sistematização para o estudo da sucessão de ideias deste campo do saber, e esta sistematização cabe à História da Filosofia. Estudiosos consideram que a história da filosofia abarca duas grandes linhas de estudos: a história de determinada “corrente” (ou linha de pensamento) filosófica, como a lógica; e a divisão do pensamento filosófico através do tempo, como é feito na história geral. Esta última corrente é muito polêmica e é sobre ela que nos debruçaremos. 3 Por tradição, a maioria dos estudos das disciplinas divide a história da filosofia de acordo com a divisão de épocas que tanto conhecemos. Assim, há quatro principais eras na filosofia ocidental, a saber: # FILOSOFIA ANTIGA: período que se estende do século VI a.C. até o século V d.C. Toma-se Sócrates como referência – períodos pré e pós-socráticos – mas não se limita somente a Grécia, já que filósofos itálicos e alexandrinos também desempenharam papéis importantes dentro do período. O foco dos filósofos desta era recaia sobre a compreensão da racionalidade humana em sua totalidade. Não bastavam explicações míticas, era preciso porquês bem fundamentados e concretos; # FILOSOFIA MEDIEVAL: se estende do século V até a Renascença, em meados do século XV. Não é necessário dizer que se tratava de uma filosofia escolástica, subordinada à Igreja. É importante dizer que esta era fundamentou-se nas ideias dos gregos para legitimar seus pensamentos. Apesar de ocorrer na “idade das trevas”, os pensadores desta era foram fundamentais para o progresso da disciplina. Os maioresexpoentes são Santo Agostinho e São Tomás de Aquino; # FILOSOFIA MODERNA: período que toma lugar até o século XIX, marcado por profundas transformações, principalmente de cunho tecnológico. Costuma-se dividi-lo em Filosofia da Renascença e Filosofia Moderna. O primeiro é marcado pelas descobertas de obras inéditas de Platão e Aristóteles, e tem como expoentes Maquiavel e Giordano Bruno. O segundo é marcado pela invenção de máquinas e tem como maiores pensadores Descartes e Espinosa; -Filosofia contemporânea: por fim, chegamos a era em que a filosofia se encontra atualmente. Por ainda estarmos presenciando o contemporâneo, é muito difícil classificar o período, apesar de já haver estudos que versam sobre. Polêmicas Apesar da classificação da história da filosofia acima ser a mais aceita e utilizada, há várias polêmicas que a cerca. Alguns estudiosos afirmam que esta classificação é incipiente, a exemplo de Mario Ariel González Porta, filósofo e professor da PUC/SP, que propõe outra periodização para a história da filosofia. Segundo González Porta, a divisão temporal deve considerar não somente a diferença essencial entre os períodos, mas também o princípio interno da mudança de um período para outro, levando em conta aspectos propriamente filosóficos e intrassistêmicos. De acordo com o pesquisador, seriam então três os períodos filosóficos: -Período metafísico: abarca a idade antiga, medieval e início da moderna. Tem na metafísica a disciplina-chave e gira em torno do conceito “ser”; -Período epistemológico: ocorre na era moderna e baseia-se majoritariamente na epistemologia e na teoria transcendental. Os conceitos principais são verdade, objetividade e validez; -Período semântico-hermenêutico: corresponde a era contemporânea e se baseia principalmente na linguagem, sendo que alguns de seus expoentes são linguistas. Os valores centrais são o significado e a análise lógica da linguagem (semântica). Apesar de todas essas polêmicas em torno da classificação temporal, é necessário conhecermos minimamente a história da filosofia, pois através dela compreendemos não só o mundo, mas também a nós mesmos e, como diria Friedrich Nietzsche, “torna-te aquilo que és” 4 PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO O pensamento filosófico do homem sofreu, ao longo de muito tempo, várias mudanças, devido às condições no processo de desenvolvimento social, histórico, cultural e econômico, pressupondo a forma de enxergar o mundo, e através do estudo de diferentes concepções como: antropológicas, epistemológicas e axiológicas, e, suas vertentes, podemos refletir cada momento dessas diferentes temáticas. Antropologia filosófica A antropologia filosófica estuda a estrutura essencial do homem, é o ser humano por ele mesmo e como ele se vê, é uma antropologia da essência do que constitui a natureza de um ser, o que há de fundamental, e não das características humanas. Antropologia é o estudo da história natural do homem, pois todas nossas concepções de mundo partem de uma ideia de humanidade e ela se divide em duas partes: Antropologia cientifica que pode ser física ou cultural e antropologia filosófica que estuda o homem como ser moral. Antropologia cientifica na visão física estuda a evolução humana e na visão cultural estuda as diferentes culturas em diferentes aspectos, sendo as relações familiares, costumes, tradições e linguagem. Antropologia filosófica é o conceito que o ser humano faz de si próprio, de suas habilidades e ações que os orientam o que é ser humano. _ A antropologia se divide em três concepções: essencialista, naturalista e histórico-social. Na concepção essencialista, a humanidade é compreendida a partir de uma natureza que não pode ser mudada, mas em algumas teorias pedagógicas dessa concepção existiria uma essência humana, um modelo a ser atingido por meio da educação. Sócrates dizia que os jovens passavam a pensar melhor com o método de pergunta e resposta, o primeiro momento é o “perguntar” o segundo momento, a maiêutica (do grego “parto”), assim, o indivíduo aprende novas ideias a partir do memento que surge a duvida. Platão afirmava que a educação baseia-se no processo de recordações, onde o indivíduo supera sua existência ao se lembrar do que sua alma já conhecera. Aristóteles afirma que a educação pode levar o homem ao mais alto ideal de vida, harmonizando qualidades morais, quais sejam a natureza, o hábito e a razão. Tomás de Alquino afirmava que a educação deveria formar o individuo para a fé e a vida após a morte. A concepção naturalista ficou conhecida com a revolução cientifica, onde se buscava compreender o que é o ser humano e o que marcam seu comportamento. Segundo Descartes o ser humano é constituído por uma substancia pensante, de natureza espiritual e pela substancia extensa, de natureza material. Sua teoria chama-se dualismo psicológico, que traça uma nova visão do corpo. O behaviorismo ressalta métodos de programação de passos para se adquirir o conhecimento. Skinner, o principal representante dessa tendência, inventou a máquina de ensinar que pretendia substituir o professor nas etapas de aprendizagem. A concepção histórico-social se expressa em inúmeras tendências e vários autores, como Rousseau, Marx, Hegel, Sartre, etc., que se fundamentam na compreensão da pessoa pela interação entre sujeito e sociedade. 5 EPISTEMOLOGIA A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento. A epistemologia também é conhecida como teoria do conhecimento e suas conclusões são alcançadas da natureza do conhecimento científico, Pode-se dizer que a epistemologia se origina com Platão que opõe a crença ou opinião ao conhecimento. A crença é um determinado ponto de vista subjetivo. O conhecimento é crença verdadeira e justificada. A epistemologia se se divide em duas tendências: a primeira é o racionalismo, que são idéias verdadeiras e que vem da razão, das quais podemos conhecer todo o resto, a segunda tendencia é o empirismo que significa experiencia e que se baseia de que o conhecimento só começa após a experiência. Na concepção racionalista, temos Descartes que usava a razão para provar a própria existência, e considera a experiência ocasião do conhecimento. Augusto Conte segue a tendência empirista, diz que os fatos só se reduzem aos termos reais por meio da observação e da experiência. Axiologia Axiologia é o estudo de valores do ser humano na educação, valor no sentido moral, político, estético, entre outros predominantes em uma determinada sociedade. Na educação definimos moral como um conjunto de regras de conduta adotado pelos indivíduos para a interação na sociedade com a finalidade de organização de relações seguindo os valores do bem e do mal, atuando tanto no campo pessoal como no campo social. A educação política é um conjunto de relações onde um grupo de pessoas interfere na atividade de outras pessoas, das quais foram investido poderes numa ação bilateral no exercício da cidadania. A sensibilidade na educação estética é a valorização humana, é a arte da compreensão pelos sentidos, uma forma de conhecimento do sentimento, da intuição e da imaginação que nos ajuda a compreender a realidade equilibrando nossas faculdades intelectuais e emocionais, a atividade estética na educação busca a sensibilidade como modo de conhecimento da alegria, humor equilibrando inteligência e sentimento. BIBLIOGRAFIA ARANHA, Maria Lúcia Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 2012. 6 O HOMEM E SUAS RELAÇÕES Regina Rodriguez Bôtto Targino O homem, por sua natureza, é um ser social. Como tal, desde o seu nascimento ele entra em relações com o mundo, com outros homens, com os objetos e a natureza. Inicia-se o processo de comunicação, auditiva, sensitiva, oral etc.. Ele cria, elabora e constróiformas de expressar seus sentimentos e emoções ao mundo que o rodeia. Neste processo edifica a sua linguagem e constrói o discurso para demonstrar sua vontade, o que quer, o que sente e como atuar frente a realidade. Todas suas ações são o reflexo do pensamento construído e elaborado nestas relações. Com este processo social interativo contínuo, o homem constrói sua imagem e o conhecimento de todas as coisas que entram e tiveram em seu contato. Daí resulta a própria natureza dinâmica e não acabada do conhecimento. È o elaborar e construir do conhecimento sobre a vida, a realidade e as relações dela decorrentes. Diante desta condição, que torna o homem um ser eminentemente social, o meio onde nasce, vive e convive, determina e condiciona a maneira de sentir e agir sobre sua realidade. Quando o homem fala, pensa e reflete sobre os fatos, objeto e coisas, este pensamento é reflexo e resultante da formação e informação adquirida ao longo da vida e das relações que ocorreram durante sua existência. Representa os gestos e a linguagem a história de sua classe social e das relações estabelecidas na sociedade, onde se insere. O homem educado é resultante de uma sociedade educada. Esta educação, é a consciência formada, que foi construída pelo homem durante toda a sua existência. Neste processo, foram criados e incorporados hábitos, atitudes comportamentais que o fazem o homem interativo com a sociedade que pertence, A consciência do homem, também é, resultado de suas relações sociais. Esta o faz assumir posições, que o tornará capaz de transformar e interferir sobre sua realidade. Com esta postura, torna-se sujeito e partícipe de sua história, como também, apto de influenciar a história da sociedade que pertence. Ao engajar-se no modo de produção, o homem constrói as relações com o trabalho que dependendo do tipo de atividade a desempenhar, traça o seu perfil como profissional. Cada profissão possuem atividades específicas que lhe são próprias e não podem ser exercidas por outro profissional, que não seja da mesma área, do mesmo ramo, de conhecimento. Estes conhecimentos devem assegurar habilidades e atitudes que dão estrutura de competência do fazer à que se propõe. Ser o melhor, que possa, naquilo que faz. È qualidade total. Se eu não sou o maior posso ser o melhor naquilo que me proponho a fazer. Portanto, ao longo da vida, o homem, enquanto cidadão, estabelece várias relações em diversos níveis e profundidade. Estas relações vão desde as relações familiares, que envolve o sentimento afetivo às relações comercias, de trabalho, de amizades, de conhecimentos vários etc... È neste processo dinâmico, que o homem faz sua história, calcado na realidade vivida e contextualizada de tempo e espaço, ao mesmo momento, que também é feito por ela. È o ser social integrado a sociedade. Fruto este homem desta mesma sociedade que o condicionou e determinou seu processo de relações sociais pelas oportunidades, que lhes foram oferecidas. A sociedade, que foi responsável pela formação do homem, é também, partícipe de suas ações e de seus pensamentos. È o homem ideologizado o ser social. Se o processo educativo se constrói segundo uma proposta de diálogo, não é fora do diálogo que irá se encontrar o conteúdo desta educação. O educador que simplesmente elabora e organiza o conteúdo do trabalho pedagógico a partir de seu entendimento de mundo, de sua visão de realidade e através disso disserte, deposite ideias suas nos educandos, os quais passam a reproduzir elementos que não fazem parte de seu contexto, e sim do educador, acaba somente perpetuando um ato de imposição ideológica já constante na sociedade. “Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma imposição, um 7 conjunto de ideias a ser depositado nos educandos, mas a devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada” (FREIRE, 2005). As impressões de mundo que se representam em ideias construídas pelo homem em seu ato de pensar o mundo não são ideias somente de uns a serem transferidas a outros. A condição material em que estão os homens é o que define o seu modo de pensar, de viver e de representar o seu modo de vida, e não a condição idealizada por alguns como sendo a melhor, como um modelo de vida e a ser seguido, que em nada faz ligação com a situação existencial presente na vida da maioria dos homens. “Quem atua sobre os homens para, doutrinando-os, adaptá-los cada vez mas à realidade que deve permanecer intocada, são os dominadores” É fato que todo homem está ligado naturalmente ao mundo que o cerca e que o trás anseios, duvidas e esperanças, e é , portanto, sobre estes anseios, duvidas e esperanças referidos à realidade, que se encontra o conteúdo da educação autêntica, dialógica. A busca para construção e organização do conteúdo programático deve ser a partir da situação presente, existencial e concreta, somada à uma reflexão do conjunto das cosmovisões da população. O conteúdo programático deve assumir um papel de ação política, levantando as contradições, estas sempre referenciadas materialmente, por meio da problematização da situação existencial, o que possibilita uma reflexão da realidade que é desafiadora e exige uma resposta tanto no nível intelectual como no da ação. Dessa maneira o conteúdo programático deve expor o educando aos temores de uma consciência oprimida (FREIRE, 2005). A construção e organização do conteúdo programático devem desde o seu inicio, definir-se, exclusivamente, por meio do diálogo, sendo que este processo dialógico também se torna alvo da reflexão, dessa maneira evitando a construção do diálogo sob um discurso alienado e alienante. “A linguagem tanto do educador como do educando não existem sem um pensar e ambos, linguagem e pensar, não existem sem uma realidade material o qual estão sempre referidos. O educador deve, portanto ser capaz de reconhecer as condições materiais em que a linguagem e o pensar do educando se constituem dialeticamente” (FREIRE, 2005). Dessa maneira a busca do conteúdo programático da educação se constitui em um processo investigativo, e é a partir dele que se inicia o diálogo entre educador e educando. Esta investigação ao mesmo tempo deve ser igualmente definida com uma metodologia dialógica constituindo um universo temático que por sua vez reúne um conjunto de temas geradores, onde o que se pretende investigar não são os homens anatomicamente estáticos, mas sim o pensamento-linguagem materialmente referidos bem como os níveis de percepção constituídos pelo conjunto de cosmovisões. Um tema gerador não é uma criação arbitrária, ou uma hipótese de trabalho que deva ser comprovada. Antes de buscar apreendê-lo é necessário pensar sua objetividade, considerando uma constituição e momentos históricos desenvolvidos com uma reflexão crítica sobre as relações homens-mundo e homens-homens (FREIE 2005). 8 A ARTICULAÇÃO DAS REFLEXÕES FILOSÓFICAS COM OS AVANÇOS CIENTÍFICOS NAS ÁREAS QUE SÃO OBJETO DE ESTUDO DO CURSO. Para cada ciência, os recursos utilizados são determinados por sua própria natureza. No entanto, sua apresentação deve seguir uma padronização. Dessa maneira procura-se aqui proporcionar critérios de organização e sistematização que envolve a produção científica, caracterizando a importância das principais etapas de um projeto de pesquisa, de uma pesquisa científica, de artigos científicos, ensaios e resenhas críticas, bem como relatório técnico-científico. Etimologicamente, o termo ciência provém do verbo em latim Scire, que significa aprender, conhecer. Essa definição etimológica, entretanto, não é suficiente para diferenciar ciência de outras atividades também envolvidas com o aprendizado e o conhecimento. Segundo Trujillo FERRARI (1974), ciência é todo um conjuntode atitudes e de atividades racionais, dirigida ao sistemático conhecimento com objetivo limitado, capaz de ser submetido à verificação. LAKATOS E MARCONI (2007, p. 80) acrescentam que, além der ser “uma sistematização de conhecimentos”, ciência é “um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar.” Por existir mais de uma forma de conhecimento, é conveniente destacar o que vem a ser conhecimento científico em oposição ao chamado conhecimento popular, vulgar ou de senso comum. Não deixa de ser conhecimento aquele que foi observado ou passado de geração em geração através da educação informal ou baseado em imitação ou experiência pessoal. Esse tipo de conhecimento, dito popular, diferencia-se do conhecimento científico por lhe faltar o embasamento teórico necessário à ciência. Conhecimento Científico Conhecimento Popular real – lida com fatos. valorativo – baseado nos valores de quem promove o estudo. contingente – sua veracidade ou falsidade é conhecida através da experiência. reflexivo - não pode ser reduzido a uma formulação geral. sistemático – forma um sistema de ideias e não conhecimentos dispersos e desconexos. assistemático – baseia-se na organização de quem promove o estudo, não possui uma sistematização das ideias que explique os fenômenos. verificável ou demonstrável – o que não pode ser verificado ou demonstrado não é incorporado ao âmbito da ciência. verificável – porém limitado ao âmbito do cotidiano do pesquisador ou observador. falível e aproximadamente exato – por não ser definitivo, absoluto ou final. Novas técnicas e proposições podem reformular ou corrigir uma teoria já existente. falível e inexato – conforma-se com a aparência e com o que ouvimos dizer a respeito do objeto ou fenômeno. Não permite a formulação de hipóteses sobre a existência de fenômenos situados além das percepções objetivas. Fonte: adaptado de Lakatos e Marconi (2007, p. 77) A ciência tem como objetivo fundamental chegar à veracidade dos fatos. De acordo com Gil (2008, p. 8), “neste sentido não se distingue de outras formas de conhecimento. O que torna, porém, o conhecimento científico distinto dos demais é que tem como característica fundamental a sua verificabilidade.”, em outras palavras, determinar o método que possibilitou chegar a esse conhecimento. 9 Podemos definir método como caminho para chegarmos a determinado fim. E método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para atingirmos o conhecimento. A investigação científica depende de um “conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos” (GIL, 2008, p. 8), para que seus objetivos sejam atingidos: os métodos científicos. Método científico é o conjunto de processos ou operações mentais que devemos empregar na investigação. É a linha de raciocínio adotada no processo de pesquisa. Os métodos que fornecem as bases lógicas à investigação são: dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico. ATOS DE EDUCAR, ENSINAR E APREENDER EM RELAÇÃO ÀS SITUAÇÕES DE TRANSFORMAÇÃO CULTURAL DA SOCIEDADE. Um dos grandes papéis da educação na atualidade é de efetivar-se enquanto instrumento fundamental de transformação da sociedade; isto é, a educação, por meio de suas ações, pode possibilitar a mudança das pessoas, dos grupos, das instituições em que está inserida. Dessa forma, não podemos conceber a educação como uma ação imobilizadora, muito pelo contrário, deve ser entendida em sua plena função mobilizadora, dinâmica, construtora de uma sociedade mais cidadã, em uma perspectiva de democratização de seus espaços. A prática pedagógica é uma prática social, uma prática política, pois não se pode conceber a educação sem um vínculo sócio histórico. Segundo Aranha (1996), a educação não pode ser compreendida fora de um contexto histórico-social concreto, sendo a prática social o ponto de partida e o ponto de chegada da ação pedagógica. A educação é uma prática humana direcionada por uma determinada concepção teórica. A prática pedagógica está articulada com urna pedagogia, que nada mais é que uma concepção filosófica da educação. Tal concepção ordena os elementos que direcionam a prática educacional (LUCKESI, 1994, p. 21). A aprendizagem é um dos principais objetivos de toda prática pedagógica, e a compreensão ampla do que se entende por aprender é fundamental na construção de uma proposta de educação, também mais aberta e dinâmica, definindo, por consequência, práticas pedagógicas transformadoras. Dessa forma, é fundamental pensar que: À medida que a sociedade se torna cada vez mais dependente do conhecimento, é necessário questionar e mudar certos pressupostos que fundamentam a educação atual. (...) A aprendizagem é uma atividade contínua, iniciando-se nos primeiros minutos da vida e estendendo-se ao longo dela. Isso significa expandir o conceito de aprendizagem: ele não deve estar restrito ao período escolar e pode ocorrer tanto na infância quanto na vida adulta. A escola será um - entre muitos outros - dos ambientes em que será possível adquirir conhecimento. Para tanto, ela terá que incorporar os mais recentes resultados das pesquisas sobre aprendizagem e assumir a função de propiciar oportunidades para o aluno gerar e não somente consumir conhecimento, desenvolvendo, assim, competências e habilidades para poder continuar a aprender ao longo da vida (VALENTE, 2000). 10 O ato de aprender a aprender é, sem dúvida alguma, uma das principais funções do ato de ensinar, ou melhor, do ato de educar. A construção de uma pessoa mais autônoma, no processo de aprender, torna-a mais autônoma no processo de viver - de definir os rumos de sua vida. Mas, para que isso não se transforme em uma ação individualista, é fundamental tornar a prática pedagógica em uma prática ética, comprometida, coerente, ao mesmo tempo, consciente e competente. A ação educativa - evidenciada a partir de suas práticas - permite aos alunos darem saltos na aprendizagem e no desenvolvimento, é a ação sobre o que o aluno consegue fazer, com a ajuda do outro, para que consiga fazê-lo sozinho. Entretanto, é princípio de toda instituição de ensino (principalmente da escola) garantir a aprendizagem a todos, visto que todos são capazes de aprender. Nas relações entre filosofia e educação somente existem, realmente, duas opções: ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e, assim, se realiza uma ação educativa consciente, ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca, existente na cultura vivida do dia a dia - e, assim, se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência (LUCKESI, 1994, p. 32). O educador tem também função importante nesse processo, pois as práticas pedagógicas devem permitir aos alunos não somente acessarem o conhecimento, mas também transformá-los, inová-los. O educador tem a função de mediador entre o conhecimento historicamente acumulado e o aluno. Ser mediador, no entanto, implica também ter apropriado esse conhecimento. Portanto, devemos pensar: Num novo professor, mediador do conhecimento, sensível e crítico, aprendiz permanente e organizador do trabalho na escola, um orientador, um cooperador, curioso e, sobretudo, um construtor de sentido. Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção (...). É preciso que, pelo contrário, desde o começo do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado (...) Não há docência sem discência, as duas explicam-se e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro. Quem ensina aprende aoensinar e quem aprende ensina ao aprender. (FREIRE, apud. GADOTTI, 2000, p. 45). Podemos, assim, entender que não mais cabe uma educação na qual somente se pensa em uma onipotência do educador e da escola, mas é sempre preciso estar colocando em questão as práticas pedagógicas desenvolvidas por estes agentes da educação. A educação deve buscar novos parâmetros, novas perspectivas, e permitir-se inovar, transformar. Dessa maneira, Gadotti (2000) propõe: ...na era do conhecimento, a pedagogia tornou-se a ciência mais importante porque ela objetiva justamente promover a aprendizagem. A era do conhecimento é também a era da sociedade 'aprendente': todos se tornaram aprendizes. A pedagogia não está mais centrada na didática, em como ensinar, mas na ética e na filosofia, que se pergunta como devemos ser para aprender e o que precisamos saber para aprender e ensinar. E muda a relação ensino-aprendizagem. Humberto Maturana (1989) em sua Oração do estudante, diz: 'Por que me impôs o que sabes se eu quero aprender o desconhecido e ser fonte em minha própria descoberta?' Ambos, em sessões de trabalho, aprendem e ensinam com o que juntos descobrem (GADOTTI, 2000, p. 45-46). 11 A escola, por sua vez, passa a ter uma nova função - ser espaço de otimização dos processos de aprendizagem e dos processos de construção de cidadãos. Do contrário, ela está fadada a continuar reproduzindo os papéis definidos pelo sistema, cabendo somente a função de disciplinadora. Nessa perspectiva, Foucault afirma que "cada sistema de educação é um meio político para manter ou para modificar a apropriação do discurso (...). O que é um sistema educacional, afinal, senão a ritualização da palavra, a qualificação de alguns papéis fixos para interlocutores e a distribuição e a apropriação do discurso, com todas as suas aprendizagens e poderes?" Pode-se concluir que a educação produz suas práticas em virtude do projeto de sociedade a que está vinculada. Portanto, para que as práticas pedagógicas garantam o desenvolvimento de pessoas capazes de aprender, cidadãs, solidárias, produtoras de conhecimento, a educação deverá ser um instrumento importante de uma sociedade que acredite nessas características. O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: A Construção de uma Prática da Práxis Social Eliane Marques Daher Chedier A educação sempre foi um assunto presente na vida das pessoas. Para nós, educadores, pensar sobre educação é, sem sombra de dúvida, uma questão sine qua non. Devemos sempre nos questionar como a educação praticada no espaço acadêmico pode se desenvolver tão distante da vida social, comum e cotidiana das pessoas. A discussão entre o distanciamento da educação praticada no espaço escolar e a educação vivida fora dele, deu margem a pensar sobre qual o papel que a educação desempenha na sociedade atualmente. Indagamos se, na atualidade, o papel desempenhado pela educação, leva realmente, as pessoas a acreditarem que, por meio dela, possa haver a melhoria da qualidade de vida, ou se por ela, de algum modo, possa haver crescimento pessoal e desenvolvimento social. Também podemos nos indagar se há um compromisso da atuação educativa com o contexto social. Começamos, então, a pensar na sociedade contemporânea, entendida como “projeto pós- moderno”, como salienta Pedro Goergen, em seu texto Pós-modernidade, ética e educação. Ele pressupõe que a história, como um relato além do propriamente dito, e o desenvolvimento do homem e da sociedade, foi finalizada e destituída de importância significativa. Para ele, nesse projeto, a busca deve ser a construção de uma sociedade melhor, “mais justa e humana” (2005, p. 52), defendida por uma lógica não apenas racional, mas por uma que parta de uma relação intersubjetiva, onde ações, comportamentos e atitudes possam ser legitimados em decorrência de um “agir comunicativo”1. As normas éticas e os valores morais tão aclamados pelo “projeto moderno” (Ibid, p. 8) a favor de um mundo melhor, baseado na razão instrumental, que traria uma boa-venturança a todos, saiu de cena. Agora temos uma nova proposta: “construir um mundo social mais humano e responsável” (Ibid, p. 12), com um investimento no saber e na educação, privilegiando um espaço de troca, e legitimando saberes e ações importantes à comunidade. O investimento deve ser tanto na escola quanto nas famílias e comunidades. Nenhuma mudança no cenário educativo se faz sem a garantia de investimento também nas famílias e nas comunidades. _________ 1 HABERMAS, 1989 apud GOERGEN, 2005, p. 1002. 12 Pensando no mundo a partir de uma visão pós-moderna, voltamo-nos para a questão de considerar os elementos deste mundo, na sua maioria, ou totalidade, como efêmero, obsoleto e descartável, e seu modo de produção organizado para que o produto seja trocado simultaneamente. Sendo assim, não pensamos numa forma de produção permanente e perene. Ao contrário, o valor atribuído a ela é relativo e transitório. Apresenta-nos, assim, outra questão ligada à primeira, a relação entre a educação, que também se tornaria um produto de mercado, e as leis deste, as quais imporiam à política educacional a busca por melhores resultados. É notório lembrar que obter bons resultados é o que devemos buscar sempre. A questão não deve ser apenas pensar em escalonar bons ou maus resultados. Deve-se ter em mente o resultado que, pautado por uma política de melhoria da educação, indique, porventura, mudanças substanciais à prática educativa. Mas, de acordo com a política do mercado apresentada anteriormente, teríamos apenas o produto final, o resultado, ter ou não bons resultados, sem pensar no processo de crescimento e criação da pessoa humana, e sem considerar o desenvolvimento social. Encontra-se, desse jeito, uma política educacional articulada com um modo de produção, que se baseia em processos de trabalho ligados à conquista de amplos resultados de produtividade. Identificada apenas com o produto acabado. Voltando a pensar mediante uma visão pós-modernista, se se define, mediante padrões tradicionalistas, a educação “como um agente de mudança social e basicamente mecanismo de transmissão cultural, perpetuando representações e valores” (AZEVEDO, 2010, p. 108) o papel da educação na sociedade contemporânea não deve mais restringir-se somente a tarefa de ensinar o passado no presente com a intenção de melhorar o futuro. Aliás, se pensássemos na filosofia da educação tradicionalista, como John Dewey afirma no texto Educação tradicional versus Educação progressista, teríamos um esquema impositivo de baixo para cima e de fora para dentro, onde “matérias de estudo e métodos desenvolvidos por adultos abririam um abismo perante a capacidade dos mais jovens aprenderem” (2011, p.21). Relacionando a realidade descrita pelo “projeto moderno”, que tinha um caráter fixo, pré- determinado e concepções bem estruturadas em termos de ensinar e aprender, com a de hoje, que conta com uma realidade em constante mudança e em busca de melhores resultados, a fim de garantir uma educação de qualidade, vislumbramos outro modo de pensar e agir em educação. Podemos pensar que a adaptação sempre inacabada do homem e da realidade nos leva intermitentemente em busca do novo, de novas formas de conceber o mundo e o outro, logo uma nova forma de fazer que, em última instância, traz a baila uma nova forma de ensinar, uma reflexão constante da prática educativa e um novo jeito de aprender, cujo aprendizado deva versar pela autonomia, responsabilidade social e crescimento pessoal, pensado mais sobre o processo a ser desenvolvido do que no produto final. Os ideais do mundo pós-moderno garantiriam uma maior “responsabilidade para com uma educação cidadã comprometida com [a proposta] democrática” (GOERGEN, 2005, p. 1006). A partir das questões levantadas anteriormente, o que se pretende desenvolver nesse trabalho tem, por um aspecto,a questão do papel da educação na sociedade contemporânea, que pode vir a ser desempenhado por meio do desenvolvimento de uma práxis social. Algo que deva ser buscado no processo de construção de uma prática que se pretende dialógica. Como afirma Goergen, a “educação é compreendida como um modo de práxis social que, mediante a comunicação, promova à assunção de convicções e práticas comprometidas com a superação da desumanidade e barbárie2, que marcam a sociedade contemporânea” (Ibid., 2005, p. 1001). Já, na visão de Dewey, ao rejeitarmos ou negarmos a educação tradicionalista, devemos observar que o desenvolvimento construtivo e positivo dos princípios que poderão nortear e orientar uma nova prática educativa se apresenta como condição necessária ao seu fundamento. No caso de Dewey, ele apresenta a ideia de uma educação baseada na experiência. 13 O outro aspecto a ser abordado nesse trabalho, vai tentar pensar a influência da sociedade contemporânea nos dias atuais sobre o modo como a educação é praticada, que traz no seu processo de formação histórica uma tendência a pensar a escola sobre o prisma da desvalorização da importância da educação. Esta escola estaria esvaziada de sentido justamente por ter sofrido um desgaste abundante na forma como a educação foi concebida e transmitida durante séculos pela manutenção do Estado. Pela ideia de concepção social de educação, buscaremos entender a influência da sociedade contemporânea, construindo um saber que esteja vinculado a uma nova ideia de fazer a prática, logo a um projeto de educação, que busque timidamente “pequenas utopias”, Como nos fala Antônio NÓVOA (1994, p. 14). Podemos pensar, então, que a participação das pessoas no papel que a educação desempenha é fundamental. Pois, a escola só tem valor se o papel da educação perpetue às crianças e aos jovens uma nova oportunidade de serem nesse mundo atual. Já que inúmeras vezes somos portadores do discurso dessas crianças e jovens que nos falam que não gostam de estudar, que não sabem para que estudar, etc. Buscaremos entender, do ponto de vista da educação, como uma prática educativa pode vir a contribuir para a melhoria do ensino e da educação, sendo a escola um ponto de apoio, de uma possível, mudança da social. Podemos, de fato, afirmar que as ações que, atualmente, são conduzidas na prática escolar nos remetem verdadeiramente à práxis social na educação. E, se esta afirmação for positiva, que atuação temos tido para que tal práxis aconteça. Estas são algumas questões que vamos desenvolver neste trabalho. O papel da educação na sociedade contemporânea A educação, desde tempos mais remotos, sempre foi concebida como um fazer que partisse de uma prática. Podemos usar o exemplo de Platão, que nos mostra e defende a figura de Sócrates, como o ideal de educador. Para ele a educação, sobretudo a moral e o ensinamento da virtude, não podia ser ensinada. Para que a moral e a virtude fossem conhecidas, alguém, o mestre, deveria estimular o discípulo até que ele partejasse a ideia referente a elas. Os socráticos acreditavam que, por meio da reflexão autônoma, a pessoa devia tomar decisões de ordens práticas e assim ser um verdadeiro cidadão da Pólis. Nesta mesma época, Platão nos apresenta os Sofistas, que também tinham uma concepção sobre como ensinar a moral e a virtude, pois eles acreditavam que os princípios norteadores da conduta humana podiam ser ensinados, através do convencimento e da manipulação de conceitos. Se os Sofistas manipulam o saber da virtude e o vende aos jovens, Platão usa a figura de Sócrates para incorporar os ensinamentos e o ideal de educador. Vê-se com Platão uma reverência pelo conhecimento prático que orienta o agir da relação entre educador e educando, tornando assim a educação um efetivo fenômeno social e democrático. Muitos outros filósofos também acreditavam na ideia da prática educativa e da sua função em transformar o ser humano pelo conhecimento. Não existe educação sem teoria assim como não podemos falar de uma prática sem teoria. As duas estão em constante ligação e devem pautar o saber-fazer da educação. Em Paulo Freire, encontramos a seguinte afirmação, “os homens se fazem na ação [prática]-reflexão” (2005, p. 90). Podemos então pensar em duas vertentes para o pensamento teórico prático da educação. Uma vertente que se refere a questões individuais, que se compromete com a ideia de liberdade, levando o educando na busca de autonomia, senso crítico e responsabilidade pelos seus atos, que estaria mais relacionada, por exemplo, ao partejamento da ideia como defendia Platão. E outra vertente, que se refere ao contexto social, e defende a ideia do ser humano ser educado para ação, porque ele busca a satisfação de suas necessidades, instintos e desejos, necessitando da inter- relação para atingir a satisfação. 14 Podemos, assim, pensar na ideia de que a educação transpassa todas as ações humanas e tende a fornecer ao ser humano uma melhor maneira, talvez mais econômica, de satisfazer suas necessidades, seja em aspectos individuais, seja em aspectos sociais. Para Vera Werneck, em Educação e Sensibilidade, ao conceituar educação, diz: “a educação procura sempre tornar mais pessoa o homem incompleto” (1996, p. 14). É pela falta que o homem toma responsabilidade e encara uma possível resposta a educar-se. E esta resposta preencheria uma lacuna não só no modo de pensar e sentir como também no modo de agir. No entanto, pensar a educação a partir destas vertentes, é uma tarefa árdua. Tanto a vertente individualista como a social visariam completar o espaço das necessidades do homem no intuito de satisfazê-las. Em uma visão reducionista, preencher a lacuna existente entre o homem e sua incompletude, talvez possa ser uma possibilidade do homem se tornar melhor enquanto pessoa e como ser social. Pois o homem se completa a partir da relação que mantém com o outro, o qual, por meio de uma leitura de suas necessidades, interpreta às que precisam ser satisfeitas e mediadas. E a educação seria o viés a costurar esta relação intersubjetiva: homem-ambiente; homem- necessidade; eu-homem-outro-homem. Enfim, uma relação dialética, na qual aconteceria a verdadeira educação. Quando pensamos em uma concepção de educação, como interpretação das necessidades e imposição ao ser humano dos valores e normas vigentes na sociedade, afirmamos também que o papel desempenhado pela educação, na perspectiva de uma práxis social, não estaria buscando mediar nenhuma relação entre sujeito e objeto; ou educador e educando, e nem preocupado com algo a ser estimulado e retirado do sujeito a fim de torná-lo autor de sua própria história. Na visão de Durkheim, essa concepção nos revela que a educação traz como princípio a autoridade, defendendo-a apenas como transmissão conhecimento e de “valores fixos” (DURKHEIM, 2003 apud GOERGEN, 2005, p. 995), sendo a sociedade o único sujeito a direcionar a ação educativa. Nesse contexto, o papel desempenhado pela educação visaria apenas instruir o sujeito, permitindo apenas o aprimoramento das ideias e o desenvolvimento das capacidades cognitivas. E a razão é que decidiria que valores seriam ajustados às necessidades das pessoas (Ibid.,p. 11). Hoje, ao pensarmos na educação em relação à proposta de Durkheim, não perceberíamos uma diferenciação tão evidente assim entre interpretação e imposição ou mediação e estimulação. Muitas das vezes, apesar de tentarmos defender um modelo de educação que busque uma prática social, que se ligue aos interesses da comunidade e um fazer comprometido com desenvolvimento psicoafetivo dos alunos, tentando satisfazer suas necessidades, sem que a negação ou rejeição pelo tradicional seja apenas um modismo, o que vemos são verdadeiros grilhões de autoridade e disciplina, mascarados, verdadeiramente, por um agir em conformidade às regras externas. O papel da educação sob este enfoque parte da submissãodo educando, que deve respeitar as normas e as regras, e tem o educador apenas como modelo de conduta, aquele que somente ensina e exige disciplina. A discussão que nos é pertinente fazer, mediante as considerações anteriores, mostra que temos desenvolvido apenas uma concepção de educação que objetiva o desenvolvimento de organizações psíquicas e cognitivas, e privilegia somente o conhecimento lógico racional. Pensamos que, de algum modo, a configuração da organização escolar fundamentada sobre este plano, sistematizada por um saber previamente estabelecido, e praticada por meio de conteúdos pré- determinados e dispostos em livros didáticos estaria opostamente relacionada ao “projeto pós- moderno”. E, evidentemente, sem considerar a prática social da educação como foco de atenção e atuação. 15 Desempenhar o papel de prática social leva à educação o compromisso além da aquisição de conhecimentos e informações, e desenvolvimento de habilidades. Visa uma dimensão mais ampla de sujeito, adaptada as condições necessárias “ao meio que [ele] deve viver” (Ibid., 2005, p. 1006). Pensa-se numa adaptação relativa e otimizante, cuja realidade possa vir a se transformar mediante a atividade crítica, autônoma e reflexiva. A concepção da educação com objetivo de desempenhar este papel garantiria a ela um compromisso com a cidadania, a democracia e a descentralização de poder. Além de garantir ao ser humano um desenvolvimento pleno de suas necessidades físicas, psíquicas, afetivas e sociais, levando-o à educação como um valor a ser desenvolvido. Na discussão do papel que a educação desempenha na sociedade atual, podemos apontar que, a fugacidade inerente ao “projeto pós-moderno”, só teria outro sentido se conseguíssemos, de fato, desenvolver um espaço educativo que levasse a sério a proposta definida acima. Quando propomos um fazer, como descreveu BAUMAN, em uma entrevista a Revista ISTO É, “capaz de fazer o que o conhecimento nos diz ser necessário fazer” (s/d), percebemos que, o que nos falta, não é o conhecimento, e sim o agente capaz de fazer do conhecimento algo digno de prática. Imediatamente, pensamos na prática diária da educação, ao observarmos crianças, jovens e adultos, sentados diante do quadro e do conteúdo a ser estudado, o quanto eles, provavelmente, esperam um fazer que se revele na prática de vida diária deles. No entanto, esse dever-ser de um saber-fazer constitui-se um desafio e, provavelmente, uma possibilidade quando, idealizado, nos impulsiona a perceber o contexto social inerente a cada realidade presente em sala de aula e nos leva a pensar na parcela de responsabilidade que cada um de nós tem a cumprir. A mudança social que devemos favorecer na e para sociedade, transitória ou permanente, não importa, é a possibilidade de fazer da educação um diferencial na vida das pessoas, onde necessidades possam ser suplantadas, amenizadas ou redirecionadas e, acima de tudo, pessoas possam crescer com dignidade e fortalecidas em si mesmas. Só assim poderemos garantir o direito de uma educação de qualidade a todos. Pensarmos a influência, de um modo geral, da sociedade sobre a educação é pensar a relação estabelecida entre elas, pelo menos, durante o século XX. Durante este século, a educação esteve sob a égide do Estado. No texto de Fernando Azevedo, um grande pensador da educação no Brasil no século XX, encontramos a importância dada “ao sistema educacional brasileiro [que pretendia] uniformizar, [e] homogeneizar o saber, imposta pelo Estado e pelas classes dominantes”. (1987, p. XIV). Para ele a escola somente seria um fator de mudança social se mantivesse uma inter-relação com a sociedade onde pudesse apreender dela os elementos de transmissão. A escola, na ideia de Azevedo, seria receptora e a sociedade emissora, cabendo ao Estado estabelecer a “gramática do ensino” (Nóvoa, 1994, p. 3). A sociedade, nesta época, pensava o ensino estruturado por uma via única de fazer escola. A “gramática do ensino”, como definida por Nóvoa, pretende garantir um sistema de ensino centrado em alunos agrupados de forma homogênea, professores generalistas, ação educativa focada somente na sala de aula, horários rígidos e tempo determinado e saberes disciplinares (Id., 1994, p. 3). Podemos pensar que a força deste modelo ainda pode ser vista, mesmo que tênue, na concepção de educação articuladas nas escolas atuais. A racionalização do saber defendida desde o século XVIII até meados do século XX foi o princípio primordial de fundamentação das escolas e das sociedades modernas. Para garantir o controle social, pensou-se nas escolas das massas, pois garantiriam, por meio da razão e da tecnologia, o progresso nos diversos setores sociais. Daí sua força ser tão impregnante! No entanto, este tipo de escola subserviente à ordem estatal, apenas criou injustiças sociais e a reprodução de desigualdades sociais. Não que hoje não temos injustiças e desigualdades. 16 Dependendo de como a escola é dirigida, continuamos no mesmo processo de uma escola mantenedora de fracassos e insucessos. O que nos leva a pensar unilateralmente, mediante a ideia de uma escola organizada e construída somente pela ordem do estado, é a ideia de uma política educacional centrada apenas na defesa da objetividade do ensino. O ensino estava vinculado, única e exclusivamente, pela ideia de unificação, homogeneização e reprodução da ordem social vigente. O progresso da sociedade era medido apenas pela relação de causa e efeito: quem sabe progride e quem não sabe é excluído. O controle externo da educação, centrado na racionalização do ensino e objetivado por técnicas e práticas administrativas, exclui da educação sua capacidade de desempenhar um papel reflexivo sobre a sua própria prática. E, de certo modo, levava à educação a desempenhar o papel de reprodução da hegemonia social, cuja exclusão dos menos favorecidos economicamente mantinha a escola somente como uma máquina reprodutora do saber e mantenedora do fracasso social. A educação-moral-estatal de uma sociedade levou à educação a um desgaste e crise generalizados. Além da desvalorização do seu papel como proposta de desempenho e crescimento e transformação social. O saber-fazer da educação não deve ser determinado unicamente por uma ordem externa. Apesar da lei do sistema educacional garantir o cumprimento do direito à educação e legitimar as diretrizes fundamentais de estruturação, organização e execução, não deve ser entendida como um fim em si mesmo. A legislação, sozinha, não pode e nem deve garantir a moralização da educação e da sociedade. A garantia de sucesso nesta relação deve partir de um projeto que busque repensar a ação educativa de forma a contribuir para diminuir, de algum modo, as desigualdades sociais. Segundo Antônio Nóvoa, atualmente: “é impossível imaginar qualquer projeto de inovação e de mudança que não passe pelo investimento positivo dos poderes das famílias e das comunidades, por uma democratização de sucesso (e não apenas de acesso a escola), por uma participação efetiva de todos os atores sociais na vida das escolas.” (1994, p. 12). Pensar a escola (considerando também os espaços destinados, de um modo geral, à educação), desempenhando o papel da práxis social em educação, é ter em mente uma nova forma de atuação dos atores educacionais envolvidos. É um novo saber-fazer também da escola. O acesso à escola garantido por lei não significa realmente democratização e participação de todos no projeto educativo. O que vai legitimar a discussão e a participação de todos os envolvidos no processo educativo são seus planos de ação (plano institucional e de formação) e o projeto político pedagógico. Estes dois planos deverão articular-se e se desenvolver numa ação conjunta de equipe gestora, professores, alunos, famílias e comunidades. Após o era do Estado, estamos agora a ver uma nova forma de configuração da educação, cuja ideia de participação,nos leva a “pensar em novos moldes [de] relações entre [educação] e a sociedade” (Ibid., p. 13). As sociedades atuais, configuradas pela velocidade na comunicação e pelo avanço tecnológico, e definidas como “projeto pós-moderno”, são retratadas pelo modo como o processo na produção leva ao aumento dos resultados. Esse enfoque tem propiciado às escolas uma forma de pensar a educação também pelo aumento na obtenção dos resultados. Devemos prestar atenção, mais uma vez, aos modismos que a sociedade de hoje nos força a consumir e que nos administra docilmente. Talvez, o Estado trouxesse, com sua força bruta e impositiva, uma maneira mais evidente de irmos contra seu poder. Atualmente, as novidades chegam sutilmente ao campo educativo, e pela facilidade com que elas nos seduzem, nos tornamos presas fáceis. Pacotes curriculares pré-desenhados, avaliações institucionais3, objetivos a serem alcançados, ensino reflexivo e crítico, recursos audiovisuais, computadores são exemplos de como podemos continuar a reproduzir os elementos da sociedade contemporânea, do mesmo modo como eram reproduzidos e determinados pelo Estado no início do século XX. 17 Sem que façamos uma reflexão sobre o que eles vêm determinar e ajudar a melhorar o processo educativo e a prática, temos uma tendência em educação, apesar da vontade de querermos mudar, de fazermos o novo para que tudo acabe na mesma. A virtude seria o caminho a ser seguido para que a escola de compromisso social fosse desenvolvida, mas foi à lembrança de uma escola que desvaloriza a educação, que se torna medíocre na sua relação de como se ensina e se faz aprender, que nos levou a enfrentar e a defender uma prática como mediadora de uma práxis social da educação. E pensar a influência da sociedade pelo prisma da democratização, participação e compromisso social tornou-se então uma tarefa essencial. A princípio, devemos pensar como esse diálogo tem acontecido nas escolas e nos espaços destinados à educação. Quando estamos na prática educativa, docente, estamos em diálogo com os alunos, professores, pais, responsáveis e comunidade. Esse diálogo versa sempre sobre algum saber. Esse saber pode ser inerente à prática da disciplina a ser ministrada em sala de aula ou pode estar relacionado à prática diária do próprio fazer como, por exemplo, quando fazemos grupos de formação, ou reuniões de professores e pais, ou quando recebemos pais e responsáveis para uma conversa individual. Em qualquer situação, o diálogo está presente nas relações dos pares da ação educativa e é parte fundamental do fazer em educação. Sem diálogo não se tem educação. Ademais, a práxis social da educação só se faz pelo diálogo. Aliás, os elementos que formam o diálogo são ação e reflexão que se encerram na práxis da palavra cuja essência está na educação como prática de liberdade. O saber que advém dessa inter-relação deve ser considerado como fundamental no fazer prático, e sustentaria a práxis social em educação. Nele a inter-relação não só legitima a ação da práxis como faz ecoar uma palavra que conjuga ação e reflexão (FREIRE, 2005, p. 89). Sendo o diálogo uma ação e reflexão da prática em educação, temos que nos convencer que o diálogo só é válido se tiver o propósito de mudança social ao fornecer elementos de crítica sobre o conhecimento em questão. O que se torna uma tarefa de extrema complexidade já que somos frutos de uma concepção de educação que silencia a crítica e o pensamento reflexivo. A busca deve ser entender os anseios, os interesses e as necessidades das pessoas para que possamos perceber como dialogar com elas, estabelecendo consensos e, a partir destes, fazendo-as comprometidas como o processo educativo. As implicações do fazer prático, segundo Habermas, seriam: “existência de participantes dotados de autoridade epistêmica [e] sujeitos que procurassem acordos racionais aceitáveis” (apud GOERGEN, 2005, p. 1003). Equacionar participação e compromisso social simplifica, pelo menos em parte, o problema do distanciamento das realidades marginalizadas pela hegemonia social, que considera apenas o saber científico como verdadeiro e absoluto. Como, também, implica pensar em novos modelos de atuação em educação, cuja influência do contexto social é, sem sombra de dúvida, primordial. _________ 3 As avaliações institucionais são importantes aos sistemas de ensino. Seu objetivo é avaliar o como as instituições de ensino, escolas, estão minimamente ensinando. No entanto, o que queremos ressaltar neste trabalho é uma avaliação institucional usada apenas para escalonar resultados, sem que estes sejam considerados em seu contexto. A melhoria da qualidade do ensino só acontece pelo agenciamento da interpretação dos resultados obtidos nas avaliações e no redirecionamento da prática educativa. Caso contrário, é mais uma inovação sem sentido. A legitimidade dos novos modelos de atuação acontece através dos projetos, que são desenvolvidos e articulados nos espaços destinados à educação. Chamamos de espaços destinados à educação, as escolas de educação básica e os centros de educação infantil. Estes espaços têm como plano geral de organização da instituição a gestão de projetos. Como já falamos anteriormente, os projetos podem ser institucional, de formação ou político pedagógico. Também tem os projetos didáticos. Cada projeto tem uma função específica e objetivos próprios de ação. O que queremos encaminhar nesse trabalho, com base a novos modelos de atuação em educação, é 18 o compromisso da equipe gestora com a elaboração dos projetos que trariam em seu bojo a intencionalidade das ações. Se o contexto social propícia e influencia um novo fazer em educação, cabe agora a participação e o compromisso de todos os envolvidos no processo educativo, como forma de reconfiguração do campo educativo, por meio desses projetos. A discussão que podemos fazer em relação à nova configuração do campo educativo elucida, mais uma vez, a reflexão sobre que concepção de educação queremos desenvolver, que alunos queremos formar e que prática queremos desempenhar. Novamente, nos deparamos com a práxis social da educação porque não alcançaremos nenhuma destas intenções se concebermos como teoria e prática de educação uma que aja de maneira dogmática e arbitrária. Devemos nos interrogar quais seriam os princípios fundamentais que garantem a realização desse novo modelo de atuação, que deve acontecer pelas ações construídas pelo coletivo da escola. Podemos pensar estes princípios da seguinte maneira: (a) participação de todos os envolvidos no processo educativo; (b) diálogo permanente e constante, sendo retroalimentado pela reflexão das ações, focado na discussão dos interesses da coletividade, levando em consideração algo que seja importante para todos; (c) e registro das ações que são possíveis de serem postas em jogo – registrar a elaboração dos projetos. ***** Referências Bibliográficas: DEWEY, John. Educação tradicional versus educação progressiva. In: DEWEY, John. Experiência e educação. 2ed. Petrópolis: Vozes, 2011. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. GOERGEN, Pedro. Educação e valores do mundo contemporâneo. In: Educ. Soc.,Campinas, vol. 26, nº 92, p. 983-1011, Especial – Out. 2005. MARQUES, Mário Osório. Escola, Aprendizagem e docência: imaginário social e intencionalidade política. In: VEIGA, Ilma P. Alencastro (Org.). Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. Campinas: Papirus, 1995. NÓVOA, Antônio. Relação Escola/Sociedade: novas respostas para um velho problema. III Congresso Estadual Paulista sobre a Formação de Educadores, 1994. In: www.unesp.gov.br PENNA, Maria Luiza. Educação e transformação. In: Fernando de Azevedo: Educação e transformação. São Paulo: Editora Perspectiva, 1987. SAVIANI, Dermeval.. Educação e questões da atualidade In: SAVIANI, Dermeval. Educação e Pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1991. WERNECK, Vera Rudge. O conceito de educação. In: Educação e sensibilidade: um estudo sobre a teoria dos valores. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1996. 19 FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO ENTRE A TEORIA CRÍTICA E A FILOSOFIA DA DIFERENÇA* Profa. Dra. Cristiane Marinho1 FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO A educação sempre foi objeto de reflexão da Filosofia. Umas vezes de forma central, outras vezes de forma tangencial. Desde o início a filosofia se preocupa com a educação enquanto formação do homem, ideia que vai se modificando historicamente e se reveste de várias denominações que expressam as respectivas épocas e as reflexões filosóficas aí constituídas: a Paidéia grega, a humanitas renascentista, a Bildung iluminista e um novo conceito contemporâneo ainda indefinido, mas questionador da ideia central de formação humana presente nos outros conceitos. Apesar de, ao longo da História da Filosofia, diversos filósofos terem refletido conceitualmente em diversas obras sobre formação humana, por muito tempo a Filosofia da Educação não foi tida como uma reflexão sistemática e autônoma. Na França, até o final do século XIX e durante o século XX, até a década de 1970, a expressão Pedagogia Geral era utilizada como sinônimo de Filosofia da Educação. (Tomazetti, 2003, p. 21). A Filosofia da Educação era uma pedagogia teórica chamada de pedagogia Filosófica, continuidade da tradição filosófico-pedagógica do final do século XVIII e início do século XIX, a partir das reflexões de filósofos como Kant, Fichte, Scheling, Schleiermacher, Herbart, Nietzsche, Schopenhauer e Dilthey. Assim, a pedagogia, enquanto filosofia da educação, tomava da filosofia geral os fundamentos últimos da vida, do homem, do conhecimento e do saber e procurava realizá- los na prática educativa (Ibid., p. 23). Dessa forma, Foi a importância que teve os fundamentos da Filosofia para a constituição da Pedagogia que aproximou estes dois universos teóricos e deixou para a Filosofia da Educação o legado de um conjunto de saberes relacionados à prática educativa. Somente quando a Pedagogia deixa de se sustentar nos fundamentos filosóficos, em uma busca de totalidade científica, é que a Filosofia da Educação se torna autônoma como pensamento mais sistematizado (MARINHO, 2012). Ou seja, foi o abandono do discurso filosófico como fundamento principal do saber pedagógico que possibilitou a constituição das ciências da educação e fez com que a Filosofia da Educação se sistematizasse com um discurso próprio, porém inferior. Essa hierarquia predomina no século XX com o Positivismo inaugurando a distinção entre “um discurso científico sobre a educação, representado pela Pedagogia (científica), e um discurso generalista/totalizante sobre a educação: o discurso filosófico sobre a educação” (Tomazetti, 2003, pp. 25, 28). A partir daí, a reflexão filosófica começava a ser classificada como menos importante que uma reflexão científica sobre a educação. __________ *Artigo publicado na REVISTA DIALECTUS - Ano 2 n.5 Agosto – Dezembro 2014 p. 126 - 139 1 Graduada em Filosofia (FAFIFOR); Mestra em Filosofia (UFPB); Doutora em Educação (UFC); Pós-doutora em Filosofia da Educação (UNICAMP); Professora de Filosofia da UECE - Curso de Filosofia e Mestrado Acadêmico de Serviço Social (MASS); Coordenadora do Grupo de Estudos Foucaultianos (GEF) e do Laboratório de Estudos Foucaultianos (LAPEF) da UECE. 20 Resultou daí a separação entre o discurso pedagógico e o discurso filosófico, bem como o rebaixamento deste último a discurso pré-científico, lugar inferior para quem já tinha sido fundamento do primeiro. Durkheim foi, em grande parte, o responsável pela cientificização sociológica do discurso da educação e do rebaixamento do conhecimento filosófico ao retirar da Filosofia a condição de saber-fundamento da educação, pois era especulativa e sem objetividade. Diversamente, a Sociologia é que era a ciência legítima para a análise da educação, com a Psicologia e a História como ciências auxiliares. Nesse âmbito, [...] a Filosofia foi excluída do discurso educacional ou considerada saber de menor importância. As temáticas da educação, a partir de então, seriam objetos das diferentes ciências da educação e a Filosofia, com a perda de sua hegemonia, passaria a disputar espaço para proferir o seu discurso sobre a educação (Ibid., p. 30). Segundo Tomazetti, a revalorização da Filosofia da Educação, juntamente com a Psicologia, a Sociologia e a História da Educação, ocorreu na década de 1960, na Inglaterra, onde professores, premidos pela sobrecarga do ensino de todo o conteúdo dessas disciplinas desde o início do século XX, se articularam na defesa de um ensino mais específico de cada uma dessas matérias. Dessa luta resultou um enorme desenvolvimento da Filosofia e da Sociologia da Educação no campo da Filosofia Analítica, o qual foi criticado posteriormente por ter se distanciado da prática educativa e docente. Dessa nova realidade, resultou um movimento que reivindicava uma volta às questões mais ligadas à prática educativa. Por um lado, a Pedagogia científica criticava na Pedagogia tradicional a falta de fundamentação científica, a ausência de atividades práticas, a erudição supérflua e o enciclopedismo inútil. Por outro lado, a Filosofia da Educação tornou-se um saber independente com a consolidação das ciências da educação, deixando de se identificar com a Pedagogia teórica ou Pedagogia filosófica, mas trazendo como herança algumas de suas principais características, tais como a preocupação com a história das ideias da educação dos grandes filósofos e suas concepções de homem, de conhecimento e de valor. Assim, caberia, então, à Filosofia da Educação a reflexão sobre os fins e os valores da educação, a partir de uma determinada teoria filosófico-pedagógica. Permaneceria sua caracterização como um saber teórico e especulativo, de menor importância em relação ao saber científico da educação (Ibid., p. 41). No contexto do avanço das ciências da educação, o interesse da Filosofia da Educação era as ideias sobre educação dos filósofos como, por exemplo, Platão, Locke, Rousseau, Kant, e o conhecimento dos principais sistemas filosóficos, dos quais se deduziam os conceitos de educação, de homem, de escola etc. Já o objetivo principal da disciplina Filosofia da Educação, nesse contexto, passou a ser “a definição dos fins que deveriam ser alcançados pelo processo educativo e os valores que deveriam ser transmitidos aos alunos” (Ibid., p. 191). Dessa forma, conforme Tomazetti, a disciplina se transformou em uma reflexão abrangente sobre educação, indo muito além da instrução das teorias psicológicas e da moralização social proposta pela Sociologia. Quanto ao ensino da Filosofia da Educação na tradição, é possível afirmar que transcorreu, prioritariamente, a partir do estudo das ideias sobre educação de importantes filósofos no contexto da história da Filosofia. O professor, partindo de seus conhecimentos em História e em Filosofia, aproximava as duas áreas e definia os conteúdos a serem ensinados a partir de uma dimensão histórica da Filosofia que, por sua vez, era complementada pelo estudo de pensadores clássicos e das principais correntes filosóficas. Assim, a Filosofia da Educação era a apresentação do pensamento dos filósofos e suas ideias acerca da educação e ensinar Filosofia da Educação era descrever a história desse pensamento educacional/filosófico, extraindo daí as temáticas 21 características do saber filosófico da educação (a ética, a estética, o homem, o conhecimento, os valores e os fins) e sua relação com a educação. Assim, assevera Tomazetti: [...] conceitos clássicos de educação, educação e ciência, natureza do ato pedagógico, fins e valores da educação, possibilidades da educação e correntes da Filosofia da Educação, entreoutros, marcaram, em grande medida, a tradição dos estudos de Filosofia da Educação (Ibid., p. 249). Ainda conforme Tomazetti, o perfil que foi se delineando na constituição da cadeira de História e Filosofia da Educação mostrou que saber filosófico e saber histórico eram indissociáveis na compreensão das questões educacionais e da concepção de educação como formação geral do homem e da cultura, mas não dos métodos e técnicas para a eficiência do ensino. A Filosofia da Educação, por sua vez, era um estudo sobre as ideias dos grandes filósofos da educação, situadas na História da Educação e na Pedagogia, demonstrando que os limites entre um saber e outro eram muito tênues. Atualmente há um redimensionamento desses estudos, ficando mais demarcados os limites entre História da Educação e Filosofia da Educação, apesar de continuarem tidos como complementares. Essa complementariedade de saberes filosófico e histórico da educação é justificada pela compreensão de que a ideia de Formação (Bildung) era a espinha dorsal da educação, sendo também da competência da disciplina Filosofia da Educação auxiliar nessa Formação nos moldes da Paideia grega ou da Bildung alemã expondo a história da cultura, história dos grandes ideais da formação humana e as grandes ideias dos filósofos da educação, bem como suas principais obras. O pensamento pós-moderno é uma reação à “monotonia” do mundo moderno caracterizado pelo positivismo, tecnocentrismo, racionalismo, crença no progresso linear e nas verdades absolutas, infalibilidade do planejamento racional e padronização do conhecimento e da produção. O pensamento pós-moderno, ao contrário, acredita na força libertadora da heterogeneidade, da diferença, da fragmentação, da indeterminação, descrê nos discursos universais e ‘totalizantes’, enfatiza a descontinuidade e o conceito de Diferença na história (MARINHO, 2009). A Filosofia pós-moderna também proclama a morte das metanarrativas (Lyotard) que sustentavam uma pretensa história universal. No lugar de uma razão manipuladora e do fetiche da totalidade, típicas da Modernidade, fala-se agora de pluralismos, de heterogeneidade de jogos linguísticos. A ciência e a filosofia devem renunciar às suas pretensiosas explicações metafísicas e se reconhecerem como narrativas comuns entre tantas outras. Contudo, efetivamente o que distingue o pensamento pós-moderno é a noção de différence [diferença], que vários pensadores (Deleuze, Lyotard, Vattimo, Derrida, dentre outros) utilizam, desenvolvem e aplicam de formas variadas e que tem sua origem em Nietzsche, em Saussure e em Heidegger. Deleuze, o filósofo que norteará a presente reflexão, desenvolve todo um pensamento pautado na diferença. Assim, em 1962, no livro Nietzsche e a filosofia, “interpreta a filosofia de Nietzsche como uma crítica à dialética hegeliana, uma crítica que está baseada precisamente no conceito de ‘diferença’” (Peters, 2000, p. 43). Esse livro, segundo Peters, foi fundamental para a emergência de uma filosofia da diferença. Inclusive a própria Filosofia da Educação e o Ensino de Filosofia devem ter novos olhos para o universo educacional. Ou seja, devem conduzir seus agenciamentos a partir da diferença. Em primeiro lugar, isso significa que a Filosofia da Educação não pode ser a disciplina empobrecedora e pobre que tem sido até agora, quando se propõe a ser simplesmente reflexão sobre a educação e fundamento da educação. Uma filosofia da educação, baseada na Filosofia da Diferença, há de ser criação de conceitos. Ou seja, não pode ser somente um agente passivo diante 22 da realidade e ficar em um exercício de reconhecimento e recognição dessa realidade, muitas vezes conduzindo interesses de poderes conservadores e reacionários. Em segundo lugar, nessa Filosofia da Educação há que se fortalecer a educação menor mediante a educação maior. Há que se proceder a uma desterritorialização dos componentes da educação maior para a educação menor. A oficialidade, o planejamento, as políticas públicas, máquina de controle e de subjetivação etc., que caracterizam a educação maior, devem ser combatido pela educação menor, em um movimento de uma máquina de guerra, de resistência, de produção de singularidades, de possibilidade do surgimento do inusitado na aprendizagem. Essa educação menor deve, por sua vez, se ramificar e buscar o coletivo, mas não no sentido tradicional da macro política, pois, do contrário, haveria uma reterrritorialização. Trata-se de ser uma coletivização rizomática, sem preocupação com a totalidade e o universal. Interferir rizomaticamente, ou seja, no meio, no entre, nas conexões. É aí que entra a figura do professor- militante, que atua nas brechas, nos intervalos das pequenas coisas cotidianas, pois não há mais espaço para a figura do professor-profeta, aquele que traz grandes salvações para grandes problemas e para grandes multidões e que visa a emancipação. É necessário ainda levar em consideração os subsídios extremamente positivos da reflexão pós-moderna, por possibilitarem uma ampliação de reflexões a partir da quebra do universo monolítico da Modernidade. Fica descartado aí, então, duas das grandes bandeiras do projeto emancipatório iluminista presente na Teoria Crítica: a educação como emancipação e o professor como responsável pela transmissão do saber que emanciparia. E, nesse âmbito, a crença na grande política também vai de roldão. Da mesma forma que as grandes narrativas foram desacreditadas pela pós-modernidade, as macros políticas que as acompanham também foram postas em xeque. A importância é dada agora às micro políticas. Afinal, se fazemos filosofia (ou pretendemos) temos que fazer o que os filósofos faziam, ou seja, filosofia como criação de conceitos, pois “eles criavam seus conceitos e não se contentavam em limpar, em raspar os ossos, como o crítico ou o historiador de nossa época” (Deleuze e Guattari, 1992, p. 109). * * * * * * * * REFERENCIAS: DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Tradução Luiz Orlandi, Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1988. DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Tradução de Bento Prado Jr. E Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992. (Coleção TRANS). GALLO, Silvio. Deleuze & a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. GHIRALDELLI JÚNIOR, Paulo. (Org.). Estilos em educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: o que é “esclarecimento”? (Aufklärung). In: Textos Seletos / Introdução de Emmanuel Carneiro Leão. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2005. LINS, Daniel. Mangue’s school ou por uma pedagogia rizomática. In: Revista Educação e Sociedade, Campinas, vol. 26, n. 93, p. 1229-1256, Set./Dez. 2005. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br 23 MARINHO, Cristiane M. A Filosofia da Diferença de Gilles Deleuze na Filosofia da Educação no Brasil. 2012. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000851942 MARINHO, Cristiane M. Pensamento pós-moderno e educação na crise estrutural do capital. Fortaleza, EDUECE, 2009. 355 p. MARINHO, Cristiane. Filosofia e Educação no Brasil. 1ª Edição. São Paulo: Edições Loyola, 2014. 254 p. MARINHO, C. M.; FURTADO, E.; MOURA, E. M.; COELHO, M. H. M.; Filosofia da educação: pressupostos e perspectivas. In: Filosofia da educação. Licenciatura em Pedagogia. Fortaleza: RDS, 2009. PETERS, Michael. Pós-estruturalismo e filosofia da diferença. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. (Coleção Estudos Culturais, 6). TOMAZETTI, Elisete M. Filosofia da educação: um estudo sobre a história da disciplina no Brasil. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003. Coleção fronteiras da educação. * * * * * * * * * * * * * * Esta apostila é uma compilação de textos e artigos publicados na web sobre a temática. Sem fins lucrativos. Puramente organizados para
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