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1 Carlos Mota NULIDADES – PROCESSO DO TRABALHO Atualmente, prevalece o sistema instrumental do processo, que privilegia o resultado sobre a forma, ou seja, as formas seriam um simples meio para se alcançar resultado almejado no processo. Assim, de acordo com esta nova concepção, somente em casos especiais é que o respeito às formalidades legais seria essencial a validade do ato processual. A inobservância da forma causar a ineficácia do ato processual, tornando o mesmo nulo. No entanto, como já citado, o ato processual não é um fim em si mesmo e sim uma forma para se chegar à proteção do direito em questão. Deste modo, alguns atos que atinjam a finalidade pretendida, mesmo que desrespeitando a forma exigida não sofrerão a nulidade (princípio da instrumentalidade das formas). Para se falar em nulidade, o ato em questão ao desrespeitar a forma deve trazer prejuízo à jurisdição (nulidade absoluta) ou à parte contrária (nulidade relativa), uma vez que aquele que praticou o ato não pode, posteriormente, pleitear o reconhecimento da nulidade do ato a fim de buscar benefícios próprios. A grande maioria dos autores opera a distinção entre nulidade absoluta e nulidade relativa, ou então, entre nulidade e anulabilidade. No processo três são as espécies de nulidades. No magistério de Galeno Lacerda, coloca-se entre essas duas nulidades citadas uma terceira, que é um tipo médio entre as ambas. Trata-se a nulidade relativa, por ele assim determinada. Então teremos, no plano substancial, nulidades absolutas, nulidades relativas e anulabilidades. As anulabilidades são muito semelhantes às nulidades relativas do direito material. Eis, que entre as duas, como que um meio termo, surge uma entidade média que é justamente o conceito de nulidade relativa como aparece em Carnelutti. No plano material as expressões nulidade relativa e anulabilidade são, freqüentemente, tomadas como sinônimos, ao passo que aqui o modo de pensar deve ser diferente. A maioria da doutrina é assente no sentido dessa classificação tríplice das nulidades processuais: 1) nulidades absolutas, defeitos severos; 2) nulidades relativas, esse meio termo, em parte semelhantes às nulidades absolutas, parte semelhantes às anulabilidades, mas que com elas não se confundem; e, 3) anulabilidades, caso de defeito menos grave nos atos processuais. Quanto ao desrespeito das formalidades legais, vale ressaltar que estas podem ocasionar invalidades ou meras irregularidades. Bezerra Leite chama o vício de irregularidade: 2 Carlos Mota 1) Irregularidade sem consequência: pequenos erros materiais que podem ser sanados. Um equívoco na contestação, que não gere muita consequência. 2) Irregularidades que geram sanção extraprocessual: Exemplo: advogado retirar o processo no fórum, permanecendo com o mesmo por mais tempo do que o permitido. É o chamado “embargo de gaveta”. Visando enrolar o processo, protelar o tempo, ele fica com o processo até ser intimado para devolver os autos, mediante busca e apreensão. Se ele não devolve ou o juiz percebe que ele está protelando o feito maliciosamente, o juiz pode tomar providência extraprocessual, que é oficiar a OAB para que sejam tomadas providências administrativas contra o advogado. Gera sanção extraprocessual. Outro exemplo que pode ser dado é quando o juiz demora a proferir sentença. Pode-se buscar auxilio à Corregedoria de Justiça. Ambos os exemplos apresentados geram efeitos para fora do processo: punição para o advogado e punição para o juiz. 3) Irregularidade que gera ato inexistente: não gera efeito. Exemplo: contestação sem assinar. Sentença sem assinatura do juiz, recurso sem assinatura. 4) Irregularidade que gera nulidade: é o vício com a deformidade grande, sendo necessária interveniência da norma, para que a nulidade seja sanada. Dependendo da nulidade, só pode ser suscitada pela parte, e dependendo da extensão dela, pode ser até declarada de oficio. Isso vai depender da natureza da nulidade. Nulidade relativa só a prova pode fazer. Já a absoluta, o juiz pode declarar de oficio. Quanto ao saneamento dos vícios dependendo da extensão, o vício pode ser sanado destas formas: Sendo ignorado; gerando sanção extraprocessual; sendo objeto de correção ou invalidado. A tentativa mais eficaz de construção de uma moderna teoria das nulidades, capaz de superar a doutrina clássica a respeito desse assunto e de dar explicações convincentes a muitas hipóteses não amparadas de soluções pelos clássicos, encontra-se em Eugene Gaudemet. Do ponto de vista do eminente jurista, dever-se-ia abandonar a concepção de nulidade tal como uma qualidade ou carência do ato jurídico, para tê-la simplesmente como sanção contra a violação de uma determinada norma legal, cuja consequência seria a faculdade que a lei outorga a alguém de impugnar o ato praticado em contravenção à norma. Dessa forma o critério para classificar-se as nulidades não estaria no ato defeituoso, e sim, na natureza da norma e no interesse nela protegido. Seria o critério objetivo para a teoria das nulidades. Segundo a concepção moderna de nulidade que vem se formando a partir das idéias de que sempre que o ato jurídico, qualquer que seja a gravidade de seu defeito, haja feito nascer alguma aparência, ou produzido alguma conseqüência no mundo social, deve ser desconstituido por sentença judicial, mesmo que se considere nulo de pleno direito. 3 Carlos Mota A principal contribuição dessa teoria foi maneira como a ciência jurídica passou a tratar os atos jurídicos em geral no campo do direito privado. Nessa nova perspectiva, passou-se a considerar as nulidades segundo a natureza jurídica das normas porventura violadas pelo ato jurídico, ao invés de manter os olhos fixos em suas possíveis deficiências. A Consolidação das Leis do Trabalho disciplina as nulidades processuais, em seus arts. 794 a 798, dispõe sobre regras e princípios que devem ser observados, para a efetiva garantia das partes em face de eventuais abusos, bem como para o correto encadeamento dos atos processuais até a sentença. Alguns princípios são de extrema importância e regem o sistema de nulidades processuais: Princípio da instrumentalidade das formas ou da finalidade – como já foi citado anteriormente, a forma é apenas um instrumento para se alcançar a finalidade do processo, não sendo, essencial para a validade do ato, pelo que se depreende que, se a lei prescrever que o ato tenha determinada forma, sem cominar nulidade, o juiz deverá considerar válido o ato se realizado de outra forma, alcançar a finalidade. Tal princípio está inserido nos arts. 154 e 244 do CPC (art. 188 e art. 277 do NCPC). Princípio do prejuízo ou da transcendência – Este princípio está previsto no art. 794 da CLT, ao dispor que nos processos sujeitos à apreciação da Justiça do Trabalho somente haverá nulidade quando resultar dos atos inquinados manifesto prejuízo processual aos litigantes. O art. 249, § 1.º, do CPC (art. 282, § 1.º, NCPC) também alberga tal princípio. Por exemplo, se o reclamado é notificado por edital e, posteriormente, comparece de forma espontânea à audiência, apresentando sua defesa, não poderá, no futuro, alegar nulidade em função da ausência de notificação via postal, uma vez que a nulidade apontada não lhe causou prejuízo. Princípio da convalidação ou da preclusão – está explícito no art. 795 da CLT, segundo o qual as nulidades não serão declaradas senão mediante provocação das partes, as quais deverão argui-las na primeira vez em que tiverem de falar em audiência ou nos autos. É comum, no âmbito laboral, a utilização, pelas partes, do chamado “protesto nos autos”, em que o litigante já registra na ata de audiência a nulidade, objetivando evitar a convalidação do ato. No entanto, caso o juiz, no desenrolar da audiência, não conceder a palavra para consignação dos protestos, deverá a parte, em razões finais, arguir a nulidade.Tal princípio somente é aplicável às nulidades relativas (que dependem de provocação do interessado), não se aplicando às nulidades absolutas (que devem ser declaradas de ofício pelo magistrado). O art. 795, § 1.º, da CLT estabelece que deverá ser declarada ex officio a nulidade fundada em incompetência de foro, sendo considerados em tal caso nulos os atos decisórios. No entanto, a redação do artigo mencionado é frágil, sendo desprovida da 4 Carlos Mota boa técnica legislativa. Com efeito, quando o art. 795, § 1.º, consolidado, menciona a “incompetência de foro”, em verdade referiu-se à incompetência absoluta (seja em razão da matéria ou da pessoa), a qual pode ser declarada de ofício, e não à incompetência territorial (foro), que é relativa, dependendo de provocação do interessado. O CPC, no art. 245, também adotou o princípio da convalidação ou preclusão. Assim também o fez no NCPC, em seu art. 278. Princípio da Economia Processual (artigo 796, alínea “a” CLT): A nulidade não será pronunciada quando for possível suprimir-se a falta ou repetir- se o ato. Exemplo: o sujeito é citado no endereço errado, mas fica sabendo da ação movida contra ele, comparece à audiência na data e hora marcadas, e apresenta sua defesa. Se ele compareceu à audiência, não há que se falar em nulidade. Princípio do Interesse (artigo 796. Alínea “b” CLT): A nulidade não será pronunciada quando arguida por quem lhe tiver dado causa. Ou seja, eu não posso usar a meu favor uma irregularidade, uma prática, que eu provoquei. Não posso arguir a meu favor, nulidade que eu dei causa. Princípio da Utilidade (artigo 798 CLT): a nulidade do ato não prejudicará os posteriores que dele dependam, ou sejam, consequências. O artigo 797 da CLT é uma complementação do artigo 798 da CLT, assim, trata do Princípio da Utilidade: O juiz ou tribunal que pronunciar a nulidade declara os atos a que ele se estende, para que vai servir aquela nulidade, preservando aquilo que foi feito de forma correta. No processo do trabalho, o prazo para interpor recurso e/ou contrarrazões, é de oito dias. É preciso observar que as nulidades e sua decretação se inserem dentro do processo, enquanto não transitada em julgado a sentença. Após a coisa julgada, não é mais possível discutir a respeito de nulidades processuais. Tanto que é costume dizer que a coisa julgada sana todas a nulidades, mas na verdade, não se trata de sanação, e sim de um impedimento à alegação e discussão do tema, porque com ela se esgota a atividade jurisdicional sobre determinado pedido, entre as mesmas partes e sobre a mesma causa de pedir. Os atos inexistentes, por sua vez, não podem convalescer, pelo simples motivo que não têm absolutamente condição de produzir efeito algum. Por fim, deve-se mais uma vez ressaltar que a correção das nulidades passíveis de sanação, ocorridas no caminho percorrido até a efetiva prestação jurisdicional, repetindo-se os atos estritamente necessários, quando a prática defeituosa não puder ser sanada pela finalidade sem prejuízo, é o que se pode chamar de saneamento processual. Cabe ao juiz, no exercício dessa atividade saneadora, aproveitar os atos independentes e desligados, portanto, do ato inquinado de nulidade. 5 Carlos Mota Com base no neste trabalho de pesquisa, podemos chegar a algumas conclusões no sentido de que a forma dos atos processuais é de fundamental importância para que se estabeleça a segurança processual para as partes, garantindo dessa forma seu direito de atuação e defesa dentro do processo. Não se pode negar tal importância, contudo o direito processual moderno, está mais relacionado com o interesse coletivo do que meramente com o interesse individual das partes. Com esse pensamento, é deixado de lado as formalidades excessivas, que são facilmente sanáveis, com pequenos ajustes, sem que haja prejuízo para as partes, buscando assim, a celeridade e economia processual, aplicando-se amplamente ao processo o princípio da instrumentalidade das formas, bem como todos os demais relacionados às nulidades processuais.
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