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HISTÓRIA-DA-EDUCAÇÃO-FISICA-APOSTILA-1

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Prévia do material em texto

Complementação Pedagógica 
 
Coordenação Pedagógica – IBRA 
 
 
 
 
DISCIPLINA 
 
 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 
FÍSICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 03 
 
1 – HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA........................................................... 05 
 
2 – POR UMA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ....................................... 12 
 
3 – A HISTORIOGRAFIA E A NOVA HISTÓRIA FRENTE AOS 
 
PERÍODOS HISTÓRICOS DA EDUCACÃO FÍSICA NO BRASIL ................... 18 
 
4 – ASPECTOS DO ESTUDO DO: 
 
DESENVOLVIMENTISMO, HIGIENISMO E EUGENISMO E DAS 
 
TEORIAS DA CULTURA CORPORAL............................................................. 25 
 
REFERÊNCIAS UTILIZADAS E CONSULTADAS ........................................... 42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"
3 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
 
Bem-vindos ao Curso de Ensino de Educação Física Escolar elaborado pelo 
IBRA. Este curso foi organizado de maneira a proporcionar um diálogo com 
algumas especificidades da área, possibilitando uma formação mais ampla do 
docente no sentido de tornar o conhecimento mais ativo e relevante para ele e, 
consequentemente, para o aluno. 
 
Salientamos que o material contido nas apostilas é bastante atualizado, e 
condizente com o magistério em Educação Física Escolar. Salientamos ainda que 
foram também consideradas a leitura e utilização de autores e livros avaliados como 
clássicos, que são sempre base para novas discussões e novas pesquisas. Também 
é fato que não há nenhuma pretensão de esgotar os assuntos, apenas lançar as 
discussões e deixar uma extensa bibliografia ao final de cada caderno da apostila 
que possibilitará novas pesquisas e esclarecimentos de dúvidas que poderão surgir. 
 
Este curso tem objetivos claros e específicos no sentido capacitar mais e 
melhor o graduado para o exercício da docência no ensino de Educação Física 
Escolar, no entanto, colocamo-nos à disposição para eventuais críticas e opiniões 
que certamente poderão aperfeiçoar mais e melhor os nossos trabalhos. 
 
Tratando-se de um curso EAD – Ensino à distância os alunos que ingressam 
neste curso podem escolher a melhor forma para estudar e se preparar. O que 
gostaríamos de colocar é que quanto mais capacitado estiver o professor, 
melhor poderá desempenhar as suas funções e, também, mais preparado estará 
para enfrentar o mercado de trabalho na área da educação. 
 
Este curso é composto por quatro apostilas sendo que esta primeira apostila 
contempla assuntos que julgamos iniciais para desenvolver uma melhor capacitação 
do professor. Trazemos questões sobre a história da Educação Física, possibilitando 
um amplo conhecimento a respeito da matéria. Tratamos da Educação Física e a 
Filosofia, que permite uma visão mais ampla e mais aprofundada, propiciando que o 
professor possa levantar novas questões acerca do ensinar Educação Física. 
Elaboramos um conteúdo sobre a historiografia com aspectos da Nova História 
frente aos períodos históricos da Educação Física e tratamos de questões acerca do 
 
 
"
4 
 
 
 
 
higienismo, o eugenismo e o desenvolvimentismo tanto no âmbito da disciplina 
Educação Física, quanto à disciplina dos corpos, bem como as teorias da cultura 
corporal no desenvolvimento da história. 
 
A segunda apostila aborda os assuntos sobre a recreação, conceituando-a, 
caracterizando-a, inserindo-a na Educação Física como momento importante para o 
alunado. Trazemos a historicidade da recreação, na sociedade moderna e nos 
espaços públicos das cidades. Trabalhamos com o lazer e a recreação, seus 
benefícios para a sociedade, bem como a função do recreacionista e a sua 
aplicação na escola de educação básica. 
 
Na terceira apostila tratamos da Educação Física nas séries iniciais da escola, 
trabalhando com a ludicidade, o jogo, a dança, o esporte, a luta, a ginástica, o 
conhecimento do corpo, a recreação e as relações entre as crianças, os adultos e o 
brincar, pensando na importância de todos esses fatores para o desenvolvimento 
harmonioso da vida das crianças. Trabalhamos ainda com a didática para a 
elaboração das aulas e a capacitação do professor para o melhor desempenho de 
suas funções em sala de aula. 
 
Na quarta apostila trouxemos as abordagens e as tendências mais atuais 
para a Educação Física Escolar, bem como os objetivos, alguns conteúdos e como 
avaliar o alunado. Trabalhamos ainda com os temas da inclusão e da integração de 
alunos portadores de necessidades especiais e a importância de o professor estar 
habilitado e preparado para lidar com as diferenças. 
 
Nós lhes desejamos uma boa leitura e bons estudos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"
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1. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA 
 
 
 
 
Segundo Moraes (2009, s/p) tudo começou quando o homem primitivo sentiu 
a necessidade de lutar, fugir ou caçar para sobreviver. Assim o homem à luz da 
ciência executa os seus movimentos corporais mais básicos e naturais desde que se 
colocou de pé: corre, salta, arremessa, empurra, puxa, etc. Na China como 
Educação Física as origens mais remotas da história falam de 3000 a. C. Um certo 
imperador guerreiro, Hoang Ti, pensando no progresso do seu povo pregava os 
exercícios físicos com finalidades higiênicas e terapêuticas além do caráter 
guerreiro. Na Índia no começo do primeiro milênio, os exercícios físicos eram tidos 
como uma doutrina por causa das leis de Manu, uma espécie de código civil, 
político, social e religioso. Eram indispensáveis às necessidades militares além do 
caráter fisiológico. Buda atribuía aos exercícios o caminho da energia física, pureza 
dos sentimentos, bondade e conhecimento das ciências para a suprema felicidade 
do Nirvana, (no budismo, estado de ausência total de sofrimento). O Yoga tem suas 
origens na mesma época retratando os exercícios ginásticos no livro Yajur Veda que 
além de um aprofundamento da medicina, ensinava manobras massoterápicas e 
técnicas de respirar. 
 
No Japão a história do desenvolvimento das civilizações sempre esbarra na 
importância dada à Educação Física, quase sempre ligados aos fundamentos 
médicos-higiênicos, fisiológicos, morais, religiosos e guerreiros. Os japoneses 
também tem sua história ligada ao mar devido à posição geográfica além das 
práticas guerreiras feudais dos samurais. No Egito dentre os costumes egípcios 
estavam os exercícios Gímnicos revelados nas pinturas das paredes das tumbas. A 
ginástica egípcia já valorizava o que se conhece hoje como qualidades físicas tais 
como: equilíbrio, força, flexibilidade e resistência. Já usavam, embora rudimentares, 
materiais de apoio tais como tronco de árvores, pesos e lanças. (MORAES, 2009, 
s/p) 
Segundo Moraes (2009, s/p) sem dúvida nenhuma a civilização que marcou e 
desenvolveu a Educação Física foi a grega através da sua cultura. Nomes como 
Sócrates, Platão, Aristóteles, e Hipócrates contribuíram e muito para a Educação 
Física e a Pedagogia atribuindo conceitos até hoje aceitos na ligação corpo e alma 
 
"
6 
 
 
 
 
através das atividades corporais e da música. “Na música a simplicidade torna a 
alma sábia; na ginástica dá saúde ao corpo” Sócrates. É de Platão o conceito de 
equilíbrio entre corpo e espírito ou mente. Os sistemas metodizados e em grupo, 
assim como os termos halteres, atleta, ginástica, pentatlo entre outros, são uma 
herança grega. As atividades sociais e físicas eram uma prática até a velhice lotando 
os estádios destinados a isso. A derrota militar da Grécia para Roma, não impediu a 
invasão cultural grega nos romanos que combatiam a nudez da ginástica. Sendo 
assim, a atividade física era destinada às práticas militares. A célebre frase “Mens 
Sana in Corpore Sano” deJuvenal vem desse período romano. (MORAES, 2009, 
s/p) 
 
Para Capinussú (2005, p. 53) conhecida como um período de estagnação e 
obscurantismo, considerada uma etapa da história capaz de impedir o 
desenvolvimento, a Idade Média teve a virtude de despertar no ser humano a 
necessidade de modificar um estado letárgico então existente, dando origem, 
posteriormente, ao Renascimento. Por outro lado, as manifestações de caráter 
físico, como a prática esportiva e o culto ao corpo, tão celebrados pelos gregos e, 
até determinado período, pelos romanos, não encontraram o mesmo estímulo na 
Idade Média. Entretanto, uma gama de respeitáveis historiadores considera a época 
medieval uma verdadeira fonte de riquezas e benefícios para a civilização ocidental, 
onde se enquadra a figura do cavaleiro, física e espiritualmente muito bem 
preparado, galanteador e romântico, exímio no ato de montar e, principalmente, no 
uso da espada, atividades que, mais tarde, dariam origem a modalidades esportivas 
de caráter olímpico, como o hipismo e a esgrima. Na Idade Média, não havia, 
portanto, uma educação física que os gregos procuraram, por meio de certo 
primitivismo, estimular, mas uma atividade física que, deixando de lado a violência, 
revela bravura e lealdade da parte de seus praticantes. 
 
Ainda segundo Capinussú (2005, p. 54) quando, em 395 d. C, o imperador 
Teodósio aboliu os Jogos Olímpicos, a civilização romana já se encontrava em 
estado de completa deterioração. Um pouco antes, Teodósio declarou o 
Cristianismo como religião oficial do Império Romano, marginalizando os outros 
credos religiosos e provocando a divisão do Império Romano (395) em Império do 
Oriente e do Ocidente, que veio a cair em 476, com a deposição de Rômulo 
Augusto, último imperador do Ocidente. 
"
7 
 
 
 
 
Perante esta situação, a Idade Média caracterizou-se por disputas entre três 
poderes que objetivavam o controle da Europa: o poder militar, representado pela 
força dos bárbaros; o poder civil, representado pelas organizações municipais e 
provinciais estabelecidas pelo Direito Romano, costumes e famílias; e o paganismo, 
substituído pelo Cristianismo, que, cultuado de forma exacerbada, preconizava total 
importância à salvação da alma e à conquista de uma vida celestial. Resulta deste 
abstracionismo, o desprezo pelo culto ao corpo, tornando a atividade física 
inexpressiva, passando a ser somente utilizada para a preparação militar. Os 
cavaleiros deveriam ser treinados para as grandes Cruzadas e as Guerras Santas, 
organizadas pela Igreja, em substituição às antigas festas populares, às vezes 
atingindo até as raias do absurdo, como ocorreu com a instituição da Santa 
Inquisição. (...) (CAPINUSSÚ, 2005, p. 54) 
 
Concluindo Capinussú (2005, p. 56) aponta que em sã consciência, não se 
pode afirmar a existência de uma Educação Física na Idade Média, pois a 
predominância de jogos e brincadeiras, envolvendo crianças e adultos, não 
representava maiores comprometimentos com o corpo, mas apenas uma forma 
recreativa de passar o tempo. Entretanto, havia uma atividade física voltada à 
preparação militar do homem em defesa dos domínios do seu Senhor; bem como a 
preparação militar do homem, objetivando integrar-se às Cruzadas, movimento 
utilizado pela Igreja para libertar os lugares santos (situados na Palestina) ocupados 
pelos turcos otomanos. A prática dos Jogos Equestres, representados 
primordialmente pelos Torneios e as Justas, onde a bravura, a lealdade e o espírito 
cavalheiresco dos participantes eram uma constante, provocou, séculos mais tarde, 
uma entusiástica manifestação do Barão de Coubertin: “A Idade Média conheceu um 
espírito desportivo de intensidade e brilho, provavelmente superior àquilo que 
conheceu a própria antiguidade grega”. (CAPINUSSÚ, 2005, p. 56) 
 
De acordo com Foggi (2006, p. 1) durante a Renascença, a Educação Física 
torna-se uma filosofia do autoconhecimento com o homem sendo o centro de tudo. 
Aqui surge com grande força, questões sobre a formação do corpo e como sentir 
este corpo através dele mesmo, usando os sentidos naturais para aprender a 
enxergá-lo. Porém tudo devia ser apoiado pela razão, já que o homem é concebido 
neste momento sobre a ótica de Descartes como sendo razão e corpo. Este corpo 
natural e, fonte de conhecimento passa a ser no renascimento subordinado então a 
"
8 
 
 
 
 
razão humana guia dos procedimentos deste conhecer. Durante o renascimento “o 
foco sai do mundo ideal para o mundo da diversidade, da eternidade para a 
temporalidade, da universalidade para a individualidade.” (SOUZA NETO, 1996, p. 
23, apud FOGGI, 2006, p. 1). 
 
Para Lúcio (s/d, s/p) a tomada de Constantinopla pelos Turcos , em 1453, 
marca simbolicamente o inicio dos tempos modernos. No final da Idade Média 
começou a aparecer uma civilização distinta, marcando, paulatinamente, a fusão da 
civilização Greco-romana com o Cristianismo. Nasce o Humanismo, que reconcilia a 
educação intelectual, moral e física. O Humanismo significa a cultura voltada para o 
homem, “a medida de todas as coisas”, segundo a sabedoria grega. Com a adoção 
das ideias clássicas, no Ocidente, manifesta-se o interesse pela vida natural e os 
exercícios são empregados como agentes da educação, embora de maneira teórica 
e empírica. Não tendo sido criado um corpo de doutrina, não foi solucionado, 
objetivamente, o problema do exercício físico. Porém, os novos dados pedagógicos, 
fisiológicos e técnicos preconizados, lançando luzes para a questão, serviram de 
base, mais adiante, para o apuro e a sistematização da ginástica racional. Em 
virtude da ligação entre exercício natural e cultura, pouco a pouco, começou a 
marcha progressista da Educação Física. 
 
Na França quatro educadores merecem destaque especial: Rabelais (1494- 
 
1553) com sua obra Gargântua e Pantagruel, Montaigne (1533-1592) que 
escreveu Ensaio, Fénelon (1615-1715) que escreveu Educação dos Jovens, 
Rousseau (1712-1778) autor de Emilio ou da Educação. Todos preconizaram a 
renovação da educação e levantaram problemas no campo do exercício físico. Eles 
influíram muito nas reflexões dos criadores dos métodos clássicos da educação 
física. No século XVI, Rabelais, nas suas obras Gargântua e Pantagruel pregou a 
necessidade dos exercícios naturais. Segundo Ramos (1982) era amigo da 
natureza, rebelou-se contra o ensino escolástico e defendeu, de maneira tenaz, o 
direito de o homem viver ao ar livre e desenvolver ao máximo, suas qualidades 
físicas e espirituais. Montaigne expressou o valor do exercício: “não é bastante 
endurecer a alma, é preciso também enrijecer os músculos”. Imaginou o 
entrelaçamento do espírito e do corpo. François Fénelon considerava a prática do 
espírito como “dever de cada individuo para com a Pátria e das nações para o bem- 
estar da república universal”, palavras que Conde Baillet Latour, sucessor de 
"
9 
 
 
 
 
Coubertin no Comitê Olímpico Internacional (COI), aplicou na exaltação dos Jogos 
 
Olímpicos Contemporâneos. (LÚCIO, s/d, s/p) 
 
Para Jean Jacques Rousseau, segundo Lúcio (s/d, s/p) “a natureza é boa, a 
civilização é má”, conceito que condensa, em última análise, a filosofia de 
Rousseau. Até Goethe, conservador por excelência, reconheceu o caráter 
revolucionário e as consequências sociais do novo modo de vida imaginado por 
esse grande pensador na sua obra Emilio ou da Educação. 
 
Rousseau baseia seu método educacional nestes quatro princípios: 
 O menino deve ser educado pela e para a liberdade. 
 A infância na criança deve ser amadurecida. 
 
 A Educação do sentimento deve preceder a educação da inteligência. 
 O saber importa menos que o exercício do juízo. 
Pelo primeiro principio Rousseau assevera que a liberdade é um direito 
 
inerente aohomem e o único que permite adaptar a educação à Natureza. O menino 
necessita não apenas de liberdade física, isto é, de movimentos, mas, sobretudo, de 
liberdade em seus atos. Ele, no entanto, ressalta: “É preciso não confundir 
licenciosidade com liberdade, nem o menino a quem se faz feliz com o menino a 
quem se mima”. Ele esclarece que os exercícios do corpo, não perturbam as 
operações do espírito, mas, muito ao contrário, servem para facilitá-las. 
 
Na Inglaterra citamos Francis Bacon (1561-1626) com sua obra Investigação 
Científica, onde afirma que somente se pode tirar conclusões em fatos recolhidos e 
estudados. Afirmava que a atividade física podia corrigir qualquer tendência ao mal 
e ao enfraquecimento e propunha, consequentemente, todos aqueles exercícios 
físicos que favoreciam a conservação da saúde e o prolongamento da vida humana. 
 
John Locke (1632-1704) foi influenciado por Montaigne e inspirado em 
Rousseau. Em seu Pensamento sobre a educação dedicou longas páginas sobre o 
problema da saúde, da higiene pessoal, do vestuário, do sustento, e da educação 
física da juventude. Ele estava convencido das estreitas relações entre educação 
física e psíquica. Os jovens, segundo ele, devem observar, escrupulosamente, a 
higiene, uma alimentação simples e sadia, ter livre iniciativa no trabalho e no jogo, 
observar as normas higiênicas e treinando os músculos para os esforços, o corpo 
"
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enrobustece e torna-se resistente à dor e às fadigas. Thomas Morus (1478-1592) 
com a obra Utopia pregou a vida na natureza, criticando o sistema educacional 
vigente, enfatizou a importância dos exercícios que mantêm e cultivam “a beleza, o 
vigor e a agilidade do corpo, os dons mais agradáveis da natureza”. Na Alemanha 
encontramos Hoffmann (1660-1742) com o Movimento Artificial e as Sete Regras da 
Saúde. Outros alemães que merecem serem citados são Basedow e Guts Muths 
pelo caráter pedagógico dos seus exercícios. (LÚCIO, s/d, s/p) 
 
Segundo Moraes (s/d, s/p) a educação física voltada para a nossa ginástica 
localizada começa a se desenvolver na Idade Contemporânea e quatro grandes 
escolas foram as responsáveis por isso: a alemã, a nórdica, a francesa, e a inglesa. 
 
A alemã, influenciada por Rousseau e Pestalozzi, teve como destaque 
Johann Christoph Friedrich Guts Muths (1759-1839) considerado pai da ginástica 
pedagógica moderna. Entretanto, a derrota dos alemães para Napoleão deu origem 
a outra ginástica. A turnkunst, criada por Friedrich Ludwig Jahn (1788-1825) cujo 
fundamento era a força. “Vive quem é forte”, era seu lema e nada tinha a ver com a 
escola. Foi ele quem inventou a barra fixa, as barras paralelas e o cavalo, dando 
origem à Ginástica Olímpica. A escola voltou a ter seu defensor com Adolph Spiess 
(1810-1858) introduzindo definitivamente a Educação Física nas escolas alemãs, 
sendo inclusive um dos primeiros defensores da ginástica feminina. (MORAES, s/d, 
s/p) 
 
A escola nórdica escreve a sua história através de Nachtegall (1777-1847) 
que fundou seu próprio instituto de ginástica (1799) e o Instituto Civil de Ginástica 
para formação de professores de Educação Física (1808). Por mais que um 
profissional de Educação Física seja desligado da história, pelo menos algum dia já 
ouviu falar em ginástica sueca, um grande trampolim para o que se conhece hoje. 
Per Henrik Ling (1766-1839) foi o responsável por isso levando para a Suécia as 
ideias de Guts Muths após contato com o instituto de Nachtegall. Ling dividiu sua 
ginástica em quatro partes: a pedagógica - voltada para a saúde evitando vícios 
posturais e doenças, a militar - incluindo o tiro e a esgrima, a médica - baseada na 
pedagógica evitando também as doenças e a estética - preocupada com a graça do 
corpo. Alguns fundamentos ideológicos de Ling valem até hoje tais como o 
desenvolvimento harmônico e racional, a progressão pedagógica da ginástica e o 
 
 
"
11 
 
 
 
 
estado de alegria que deve imperar uma aula. Claro, isso depende do astral e o 
carisma do profissional. Um dos seguidores de Ling, o major Josef G. Thulin introduz 
novamente o ritmo musical à ginástica e cria os testes individuais e coletivos para 
verificação das performances. (MORAES, s/d, s/p) 
 
Continuando Moraes (s/d, s/p) aponta que a escola francesa teve como 
elemento principal o espanhol naturalizado Francisco Amorós Y Ondeano (1770- 
1848). Inspirado em Rabelais, Guts, Jahn e Pestalozzi, dividiram sua ginástica em: 
Civil e Industrial, Militar, Médica e Cênica. Outro nome francês importante foi G. 
Dêmey (1850-1917) que organizou congressos, cursos (inclusive o Superior de 
Educação Física), redigiu o Manual do Exército e também era adepto à ginástica 
lenta, gradual, progressiva, pedagógica, interessante e motivadora. O método 
natural foi defendido por Georges Herbert (1875-1957): correr, nadar, saltar, 
empurrar, puxar e etc. A escola inglesa baseava-se nos jogos e nos esportes, tendo 
como principal defensor Thomas Arnold (1795-1842) embora não fosse o criador. 
Essa escola também ainda teve a influência de Phoktion Heinrich Clias (1782-1854) 
no treinamento militar. 
 
A nossa Educação Física, a brasileira teve grande influência na Ginástica 
Calistenia criada em 1829 na França por Clias. A Calistenia é por assim dizer, o 
verdadeiro marco do desenvolvimento da ginástica moderna com fundamentos 
específicos e abrangentes destinada aos obesos, às crianças, os sedentários, os 
idosos e também às mulheres. Calistenia, segundo Marinho (1980) citado por 
Marcelo Costa, vem do grego Kallós (belo), Sthenos (força) e mais o sufixo “ia”. Com 
origem na ginástica sueca apresenta uma divisão de oito grupos de exercícios 
localizados associando música ao ritmo dos exercícios que são feitos à mão livre 
usando pequenos acessórios. Os responsáveis pela fixação da Calistenia foram o 
Dr. Dio Lewis e a (A. C. M.) Associação Cristã de Moços com proposta inicial de 
melhorar a forma física dos americanos comuns. Por isso, deveria ser simples, 
fundamentada na ciência e cativante. O Dr. Lewis era contra os métodos militares 
sob a alegação que os mesmos desenvolviam somente a parte superior do corpo e 
os esportes atléticos não proporcionavam harmonia muscular. Em 1860 a Calistenia 
foi introduzida nas escolas americanas. (MORAES, s/d, s/p) 
 
 
 
 
 
"
12 
 
 
 
 
2. POR UMA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA 
 
 
 
 
De acordo com Schreiber, et al (2005, s/p) considerando o crescimento, a 
qualidade da literatura na área da Educação Física (Oliveira 1983, Bracht 1985, 
Santin 1987, Kunz 1991, Tubino 1992, Freire 2003), entre tantos, percebe-se a 
evolução contínua da área, conforme Freire (2001, p. 19) comenta “(...) a Educação 
Física não é. Ela está sendo construída a cada instante, e ainda bem”. 
Questionamentos referentes ao seu papel na sociedade, qual seu objeto de 
estudo? O que é Educação Física e para quê? Tem servido como temas para 
discussões em debates, estudos, enfim, local onde haja pessoas interessadas no 
desenvolvimento da disciplina. Assim como na educação em geral percebemos que 
o foco de ensino deixou de ser somente o desenvolvimento do raciocínio lógico ou a 
memorização de fórmulas e informações, na Educação Física as mudanças de 
ponto de vista também acontecem, comprovando a dinâmica da área. Citamos como 
exemplo o fato de vários profissionais refletirem sobre os aspectos negativos da 
supervalorização do esporte competitivo (TUBINO, 1992, apud SCHREIBER, ET AL, 
2005, s/p) 
 
Relegada a um segundo plano, a Educação Física praticada nas escolas 
carece de uma reflexão mais aprofundada. O professor tem geralmente sua atuação 
restrita a desenvolver a aptidão física dos alunos e a ensinar os fundamentos técnico 
e tático dos esportes. (OLIVEIRA, 1986). É indiscutível o fato de tais atividades 
serem de responsabilidadedo professor de Educação Física, entretanto, este 
profissional em sua ação pedagógica precisa encontrar caminhos que apontem a 
descoberta de valores mais amplos para serem inseridos no planejamento dos 
objetivos da Educação Física escolar. As contradições existentes no sistema 
educacional resultam em grande parte, devido ao distanciamento que há entre a 
teoria e a prática. (SCHREIBER, ET AL, 2005, s/p) 
 
Para Schreiber, et al (2005, s/p) conforme Medina (1989), os professores 
apresentam dificuldade em perceber a importância da relação do processo de 
reflexão em comunhão com as nossas ações. Segundo Betti (1991) não há 
neutralidade no conteúdo da Educação Física, assim como de qualquer outra área. 
Ele é instrumento para a formação de um homem, com uma visão antecipada de 
 
"
13 
 
 
 
 
qual homem se deseja formar. O conhecimento reflexivo e global sobre o saber 
prático do homem é encontrado na visão da Filosofia, pois a mesma busca a visão 
de totalidade. Freire (2003), em seu livro Educação como Prática Corporal aponta 
diversos pontos que por meio da reflexão quanto à metodologia na Educação Física, 
acabam por se tornarem mais claros e objetivos para o professor e o aluno. Os 
autores relatam uma abordagem filosófica reflexiva que orienta o educador para uma 
prática consciente: “(...) levar a criança a aprender a ser cidadã de um novo mundo, 
em que o coletivo não seja sobrepujado pelo individual (...)” (FREIRE, SCAGLIA, 
2003, p. 32, apud SCHREIBER, ET AL, 2005, s/p). 
 
Afirma Santin (1987, p. 28, apud Schreiber, et al, 2005, s/p) que: (...) a 
Educação Física terá maior identidade e maior autonomia quando se aproximar mais 
do homem e menos das antropologias; quando deixar de ser instrumento ou função 
para ser arte; quando se afastar da técnica e da mecânica e se desenvolver 
criticamente. A Educação Física deve ser gesto criador. Por intermédio de um maior 
comprometimento com a Filosofia, o professor em suas reflexões poderá reformular 
conceitos que podem orientar a conduta do seu aluno e interpretar melhor o que ele 
faz do seu corpo, de seus movimentos e das suas relações com o mundo (SANTIN, 
1987). Consciente da importância da valorização do ser como um todo, respeitando 
os seus limites o professor poderá tornar a sua ação pedagógica mais humanizada e 
assumir a postura de quem está ciente do seu verdadeiro papel e função na 
sociedade. 
 
De acordo com Schreiber, et al (2005, s/p) (...) é provável que por meio desta 
conscientização, o professor possa transformar sua ação pedagógica, buscando a 
valorização do ser, bem como conscientizar sobre a necessidade de acrescentar à 
sua formação disciplinas de conhecimento pedagógico-filosófico. (...) A variedade de 
abordagens sobre a Educação Física depõe contra o estabelecimento dos seus 
objetivos. O que a distingue das demais disciplinas é o movimento humano, 
característica essencial da Educação Física. “Enquanto processo individual a 
Educação Física desenvolve potencialidades humanas. Enquanto fenômeno social 
ajuda este homem a estabelecer relações com o grupo a que pertence” (OLIVEIRA, 
1986, p.105). Segundo este mesmo autor “(...) a colocação da disciplina nos centros 
 
de saúde subverteu os seus objetivos. Educação Física é educação, portanto seu 
 
 
 
"
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espaço é nos Centros de Ciências Humanas e Sociais das universidades a que 
pertencem”. 
 
Para Oliveira (1994, p. 105), “a Educação Física no Brasil foi durante muito 
tempo considerada uma prática neutra, sem conotação ideológica. Restringia-se a 
uma atividade física cujo movimento era apreendido pela pedagogia do consenso 
em seus aspectos eminentemente biomecânicos”. Não se pode esquecer que o 
corpo humano não se move, age; não se pode confundir, pois, pedagogia do 
movimento humano com pedagogia do deslocamento humano. (FERREIRA, 1990) 
Segundo Oliveira (1994, p. 105), “o panorama educacional brasileiro dos anos 1980 
parece que desmistificou esse estereótipo. Apesar de educação e política terem 
suas especificidades, todo ato político pressupõe uma dimensão pedagógica, da 
mesma forma que toda pedagogia deixa transparecer uma dimensão política”. 
 
Os benefícios que a prática de exercícios físicos podem trazer à saúde foram 
considerados argumentos suficientes e decisivos para a inclusão da Educação 
Física na escola do século XIX. Considerando as ideologias as quais a Educação 
Física tem servido, pensamos nos benefícios que a Filosofia da Educação Física nos 
aponta, entre eles: “(...) a sabedoria filosófica não está apenas em conservar e 
utilizar o que nos foi deixado, está na transformação da realidade através do 
desenvolvimento da razão e da emoção formadora da condição humana (...)” 
(TOMELIN, 2003, p. 63, apud SCHREIBER, ET AL, 2005, s/p). 
 
Ainda de acordo com Schreiber, et al (2005, s/p) na constante busca por uma 
identificação e servindo as ideologias dominantes, a Educação Física já assumiu 
diversos papéis na sociedade. Considerada como cultura do físico, como parte da 
medicina, como criadora de sofisticadas técnicas esportivas dentre outras 
atribuições, esta área acabou por possuir diversos papéis que geraram conflitos 
quanto à sua identificação. Apesar da falta de reflexão teórica e de atitude científica 
que caracterizou a Educação Física como um todo até poucos anos, houve avanços 
consideráveis na área de influência biomédica e na área técnico-desportiva, mas os 
avanços neste campo tendem a apresentar o professor como um formador de 
atletas, com tendências elitistas. Deve-se considerar que precisamos evoluir de 
forma mais conjunta, sendo capazes de formar mentes críticas e conscientes 
(OLIVEIRA, 1986). Neste sentido, estaremos nos direcionando a conquista quanto a 
 
 
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capacidade de comprometimento e entendimento de conhecimentos filosóficos. O 
pensamento pedagógico até o presente momento teve um real significado, pois 
possibilitou um aprimoramento da prática docente, bem como uma evolução 
constante na forma de pensar a Educação Física Escolar brasileira. Ao nos 
interarmos desse pensamento, novas concepções de ensinar, foram internalizadas, 
propiciando um distanciamento de abordagens de ensino mecânico, pautado nos 
métodos ginásticos, que objetivam trabalhar o corpo, fragmentando assim o 
direcionamento da Educação Física Escolar, que não pode preterir a influência da 
mente sobre os comandos corporais. (SCHREIBER, ET AL, 2005, s/p) 
 
Percebe-se nesta prática, que muitos profissionais que não possuem acesso 
a esse pensamento acadêmico, e quanto tem não o vê como possibilidade de 
mudanças em suas práticas docentes e, no entanto, desenvolvem o seu trabalho de 
forma dinâmica, criativa, atingindo objetivos formadores reais, atendendo 
plenamente o trabalho que a sociedade espera da Educação Física na escola. De 
acordo com Pereira (1998, p. 170) “aos olhos dos professores, a teoria não é um 
problema, mas a relação teoria-prática é que se constitui um problema prático”. Esta 
citação explica a preocupação do estreito relacionamento entre a teoria e a prática 
da Educação Física Escolar, porém o que temos percebido é o distanciamento e o 
caminhar independente da teoria e da prática. (...) É fato comum observarmos na 
prática a deficiência apresentada por diversos representantes da Educação Física 
ao serem questionados em relação às ideias e objetivos mais concretos com relação 
à disciplina em evidência. O mesmo desacerto se faz presente ao perceber que 
existe um grande distanciamento entre as disciplinas curriculares oferecidas na 
graduação e o que realmente necessitamos para um bom desenvolvimento do 
trabalho pedagógico. Grande parte dos currículos atuais encontra-se fragmentado e 
desarticulado das ideias sócio político-pedagógico. Nas faculdades de Educação 
Física o currículo deveria darsubsídios básicos ao futuro professor, tornando-o 
capaz de acompanhar as transformações da sociedade e do conhecimento científico 
pedagógico (OLIVEIRA, 1986, apud SCHREIBER, ET AL, 2005, s/p). 
 
Neste âmbito segundo Schreiber, et al (2005, s/p) para Ghiraldelli Júnior 
(1992, p. 23), as finalidades da Educação Física como componente curricular 
destaca o seguinte: a Educação Física pode contribuir para a autodisciplina, 
fortalecer a saúde, desenvolver os valores estéticos, os valores cooperativos, o 
"
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raciocínio e a presteza mental, sem esquecer que a ela cabe também o estudo da 
fisiologia, a anatomia, das técnicas, da história, etc. Enfim, ela compõe o conjunto 
das disciplinas escolares e cumprirá o seu papel quanto mais conseguir tornar-se 
Educação Física Escolar. Segundo Escobar (apud Tavares, Morais 1997, p. 36), as 
avaliações do atual o currículo de formação evidencia um processo de ensino- 
aprendizagem desarticulado sequencialmente e incoerente, o qual não solicita que o 
aluno utilize as informações recebidas ou retidas e proceda a análises, trabalhe com 
opiniões pessoais e se posicione criticamente. Parte desta defasagem se dá em 
função dos desencontrados currículos oferecidos na grade curricular do curso de 
Educação Física. A valorização de disciplinas técnicas e a insignificância ou até 
mesmo nenhuma importância voltada às disciplinas de caráter reflexivo/filosófico 
resultam em desarticulação com a realidade. Por não haver neutralidade no ato 
educativo, o próprio currículo traz explicitamente o aspecto político, demonstrando o 
comprometimento com o interesse de outra classe social (MORAIS, TAVARES, 
1997, p. 32, apud SCHREIBER, ET AL, 2005, s/p). 
 
Parte da fragmentação de acordo com Schreiber, et al (2005, s/p) existente no 
currículo da área acontece pela preocupação demasiada em atender o mercado de 
trabalho, fato que contribui para a desqualificação do profissional de Educação 
Física (MORAIS, TAVARES, 1997). 
 
Nesta sociedade, competitiva, mecanizada é preciso conhecimento para não 
se deixar manipular. “A formação do professor é um processo contínuo e 
permanente, mas a criação de uma predisposição do professor para esta exigência 
de sua profissão tem de começar a ser construída na formação inicial”. (MATOS 
apud MORAIS, TAVARES, 1997, p. 33). 
 
Ao vivenciar durante o curso de graduação a excessiva valorização do 
movimento técnico, onde a avaliação pode comprometer a sua aptidão para a 
regulamentação da habilitação e somado às cobranças de trabalhos teóricos que 
jamais são socializados ou discutidos, são fortes argumentos para dificultar o ideal 
de “educador”; “(...) o pior acontece quando, já matriculados, aquele desempenho 
físico continua sendo fundamental no processo de avaliação acadêmica. A 
preocupação dos cursos de graduação em Educação Física deveria ser, 
 
 
 
 
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essencialmente, ensinar a ensinar” (OLIVEIRA, 1986, p. 102, apud SCHREIBER, ET 
AL, 2005, s/p). 
 
O amadurecimento e a percepção do vazio costumam acontecer mais tarde, 
quando em sua atuação percebem que existem situações questionadoras as quais 
não encontram respostas convincentes, orientações que lhe foram passadas não 
apresentam o resultado esperado. Então, é hora de entrar em crise e buscar 
argumentos que o conduzam a uma caminhada mais consciente, sem tantos 
desagrados. Nesta sociedade competitiva e mecanizada é preciso conhecimento 
para não se deixar manipular. “A formação do professor é um processo contínuo e 
permanente, mas a criação de uma predisposição do professor para esta exigência 
de sua profissão tem de começar a ser construída na formação inicial”. (MATOS 
apud MORAIS, TAVARES, 1997, p. 33). A formação de professores de Educação 
Física ainda tem sido centrada numa tradição cultural que preconiza a transmissão e 
aquisição de conhecimentos, que privilegia conteúdos esportivos, com ênfase em 
aspectos biológicos e neuro-comportamentais. (SCHREIBER, ET AL, 2005, s/p) 
 
Ainda conforme Schreiber, et al (2005, s/p) para Sonoo, et al (2002, p. 18): 
com o passar dos anos, a partir da evolução das necessidades da sociedade e do 
próprio conhecimento veiculado na área, o espaço de intervenção deste profissional 
é ampliado. De fato, os profissionais desempenham suas funções formulando e 
implementando programas de intervenção que, tendo como base a atividade 
corporal, são altamente diferenciados em termos dos objetivos, clientela e meios. 
Cabe aos profissionais manifestar opinião com relação às urgentes mudanças 
que se fazem necessárias com relação ao currículo de Educação Física. Buscar 
uma formação pautada em qualidade, mais embasada filosoficamente visando atuar 
de forma mais reflexiva, capaz de acompanhar e sugerir mudanças que venham ao 
encontro ao crescimento de toda uma sociedade, evidenciando assim a valorização 
de toda a classe. (SCHREIBER, ET AL, 2005, s/p) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3. A HISTORIOGRAFIA E A NOVA HISTÓRIA FRENTE AOS PERÍODOS 
HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL 
 
 
 
Segundo Gancz (2006, p. 1979) em seu livro A Escrita da História, Peter 
Burke (2001) mostra que o movimento que é associado à Escola de Annales, o 
surgimento da Nova História, muda o paradigma tradicional da historiografia, 
trazendo novas contribuições, como por exemplo: a análise das estruturas e dos 
movimentos sociais em oposição da narração dos grandes fatos na visão tradicional, 
a utilização das micronarrativas e de análises documentais das mais plurais e 
heterogêneas, em oposição aos documentos oficiais e dos “vencedores”, a utilização 
de uma perspectiva temporal não linear, em detrimento da tradicional visão linear de 
tempo. Tais contribuições servem para colocar a historiografia em um patamar mais 
elevado. Porém, ainda que em franca oposição metodológica, trabalhamos sem 
esquecer nem anular a essência das contribuições de Leopold von Ranke, que 
podem ser resumidas da seguinte forma: “A função da história é contar as coisas 
como efetivamente se passaram quer essa reconstituição possa levar a uma 
interpretação, a uma compreensão de conjunto, quer, ao contrário, a narrativa dos 
fatos, justamente por ser exata, só leve a problemas e contradições”. (CARVALHO, 
2002, p. 12-13). 
 
Assim, o movimento da Nova História tem obtido avanços qualitativos, não só 
dentro da perspectiva historiográfica, bem como na evolução do próprio 
conhecimento. Certamente essa revolução causada pela Nova História ainda está 
em curso e, continuamente, podemos verificar seus reflexos nas mais distintas 
visões da história. 
 
Dentre os reflexos ocorridos nos diferentes campos, um que merece uma 
abordagem especial é o da Educação Física. Neste curso, durante muito tempo, 
prevaleceu seu caráter prático, tendendo a afastar-se de problemáticas mais 
teóricas. Nas últimas décadas, este processo começou a ser mudado, ainda que, 
nos dias de hoje, esteja engatinhando quando confrontado com cursos de maior 
tradição. Temos sempre que lembrar que para qualquer área do conhecimento que 
se estude, a história possui importância ímpar por inúmeras razões. A ideia mais 
comum é aquela de lembrar o passado, de preservar, como uma espécie de museu 
 
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que, em geral, é abandonado, só lembrado como mero acidente temporal. Somos 
obrigados a dizer que a importância da história está muito além desse mero 
colecionismo. Através da história podemos ter contato com mentes, pensamentos, 
ações que muitas vezes nos passam pela cabeça; podemos reviver o tempo através 
de um mergulho dedicado dos acontecimentos, ações e pensamentos e, 
principalmente, podemos utilizar esses mesmos dados para nos julgar, para fazer 
com que compreendamos nossas próprias ações e pensamentos. (GANCZ, 2006, p. 
1979)Essa via de mão dupla, conforme Gancz (2006, p. 1980) já ensaiada desde 
Aristóteles (1952) ao propor que não somente é necessário chegar até o plano das 
ideias, mas, retornar ao sensível, é de expressiva utilidade para todo estudioso de 
qualquer área do conhecimento. Sendo assim, é muito importante que o ensino da 
história possa ser feito de forma a contribuir com a maior quantidade de ferramentas 
possíveis para o estudante. Então, quando pensamos dentro do âmbito da educação 
física, inevitavelmente surge uma questão: Como vem sendo trabalhado o ensino da 
história da educação física? (...) Nessa perspectiva resolvemos buscar os livros que 
abordem o assunto do desenvolvimento histórico da educação física. O critério para 
a escolha dos livros deveu-se seja por suas contínuas aparições nas bibliografias 
dos concursos, seja pela sua leitura ainda recomendada pelos professores. Temos 
consciência que esta lista não é totalmente inclusiva, nem mesmo sendo o nosso 
objetivo. Queremos apenas, com essa análise, verificar através de uma amostra 
significativa como a perspectiva do desenvolvimento histórico da educação física é 
trabalhada. Podemos perceber que na maioria da literatura pesquisada existe uma 
visão essencial sobre o desenvolvimento da história da educação física. (MAZZEI, 
TEIXEIRA, 1967, GHIRALDELLI JÚNIOR, 1989, entre outros) 
 
Visões que, com algumas nuances de nomenclatura, podem ser resumidas da 
seguinte forma: 
 
 Educação Física Higienista (1889-1930): propunha uma ênfase na saúde, 
cabendo no papel da educação física a formação de indivíduos fortes, 
saudáveis e propensos à aderência a atividades boas em detrimento de maus 
hábitos. Tinha por finalidade “(...) proporcionar aos alunos o desenvolvimento 
 
 
 
 
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harmonioso do corpo e do espírito, formando o homem física e moralmente 
 
sadio alegre e resoluto”. (MARINHO, 1953, p. 177.) 
 
 Educação Física Militarista (1930-1945): de forte influência dos militares, foi 
decretado no país o “Regulamento n. 7”, tornando de caráter oficial a 
utilização do “Método do Exército Francês”. Tinha por objetivo o 
“desenvolvimento harmônico do corpo. Desenvolvimento da personalidade. 
Aperfeiçoamento da destreza. Emprego da força e espírito de solidariedade”. 
(MAZZEI, TEIXEIRA, 1967, v. IV p. 143) 
 
 Educação Física Pedagogicista (1945-1964): com uma visão que pode ser 
traçada ao liberalismo, a vertente pedagogicista propunha a educação física 
como um meio de formação do indivíduo. “A educação física, acima das 
“querelas políticas”, é capaz de cumprir o velho anseio da educação liberal: 
formar o cidadão.” (GHIRALDELLI JÚNIOR, 1989, p.29) 
 
 Educação Física Competitivista (1964-1985): marcada pelo forte apelo aos 
esportes de competição oficiais, por um “culto do atleta-herói”, essa visão foi a 
predominante no regime militar. Foi o período que houve o maior investimento 
na educação física como um todo. O professor deveria preparar esses futuros 
atletas. “Quer-se dar ao professor de educação física a convicção de que ele, 
por força da profissão é condutor de jovens, um líder e não pode aceitar ser 
conduzido por minorias ativas que intimidam, que ameaçam e, às vezes, 
conseguem, pelo constrangimento, conduzir a maioria acomodada, pacífica e 
ordeira.” (FERREIRA, 1969 apud GHIRALDELLI JÚNIOR, 1989, p.31) 
 
 Educação Física Popular (1985-): movimento de cunho ideológico que 
pretende mudar o paradigma da educação física, saindo do competitivismo 
para uma visão em direção a “(...) ludicidade, a solidariedade e a organização 
e mobilização dos trabalhadores na tarefa de construção de uma sociedade 
efetivamente democrática”. (GHIRALDELLI JÚNIOR, 1989, p. 34). 
 
Outro exemplo que mostra o viés ideológico é o do Coletivo de Autores que 
fala que “(...) o aluno sistematiza o conhecimento sobre os saltos e os conceitos que 
explicam o conteúdo e a estrutura do objeto salto, desde as leis físicas e 
características no nível cinésio/fisiológico, até às explicações político-filosóficas da 
 
 
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existência de modelos de salto”. (COLETIVO DE AUTORES, 1993, p.65, apud 
 
GANCZ, 2006, p. 1986) 
 
É preciso realçar conforme Gancz (2006, p. 1986) que não partilhamos, 
necessariamente, a visão desta divisão histórica, mas, sim, ela, até o presente 
momento, é a visão hegemônica de como a educação física se desenvolveu. 
Facilmente podemos observar os seguintes pontos, no tocante a essa classificação, 
que, quando pensamos a partir da perspectiva burkeana, percebemos que a história 
da educação física não poderia ser apresentada de forma linear, simplista e 
tendenciosa. Existem vários pontos conflitantes nessa versão que, ainda que 
mereçam um tratamento em estudos mais aprofundados, são necessários seus 
apontamentos. São eles: 
 
1. A visão exposta é claramente linear. Ao pensarmos dentro do paradigma da Nova 
História iremos perceber que a linearidade, de certo modo uma herança hegeliana, 
acaba por muitas vezes tornar-se uma tendência a criar uma unidade forçada, 
muitas vezes atropelando nuances factuais que, quando tomadas no conjunto, 
podem levar para caminhos diferentes. Assim, a visão linear torna-se uma 
simplicidade e, por fim, um reducionismo. Os próximos exemplos irão elucidar essa 
questão. 
 
2. Não foram todos os lugares que sofreram impactos e, nem mesmo, os impactos 
foram iguais. Muitas vezes, os reflexos só começam a aparecer anos depois da 
mudança no âmbito da conduta. Por exemplo, aqueles que ingressaram no ensino 
básico no estado do Rio de Janeiro no final da década de 1980, início da de 1990, 
provavelmente tiveram uma educação física de caráter mais competitivista. 
 
3. Esses movimentos não foram homogêneos entre si. Por exemplo, apesar de 
promessas e até mesmo de investimentos na área do desporto durante o período de 
1964 até 1985, nunca houve uma política real de preparação ou de seleção de 
talentos. 
 
4. Partes das análises que geraram as classificações foram feitas impregnadas de 
questões ideológicas que, às vezes, obscurecem a capacidade de um raciocinar 
mais límpido, livre de preconceitos, ou, para utilizar o pensamento bachelardiano, de 
rompimento com o obstáculo epistemológico, porque, “o primeiro obstáculo é a 
experiência primeira, a experiência colocada antes e acima da crítica – crítica esta 
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que é, necessariamente, elemento integrante do espírito científico”. (BACHELARD, 
 
2005, p. 29) 
 
5. Existe uma proliferação de teorias e pensamentos que procuram utilizar a 
educação física como meio político-ideológico, como, por exemplo, a proposta do 
Coletivo de Autores (1993, p. 50) que diz: “Perguntar o que é educação física só faz 
sentido, quando a preocupação é compreender essa prática para transformá-la”, 
trazendo o prejuízo de uma visão analítica puramente centrada em pré-conceitos 
ideológicos que distorcem a maneira de entender os fatos. 
 
6. Como pode ser observado na Coleção Educação Física Escolar (1976) e no livro 
Educação Física (1982), editado pelo Ministério da Educação e Cultura, existia uma 
ênfase maior em atividades que estimulam mais a “inteligência cinestésico- 
corpórea”, na acepção dada por Howard Gardner (1993), do que propriamente um 
competitivismo. Isso corrobora com o que falou uma professora, já aposentada, que 
dava aula no período: (...) “Realmente tinham muitos professores que davam ênfase 
ao esporte. Mas não eram todos. Até porque em muitos colégios nem se tinha 
condições materiais de fazer times de competição. Muitos de nós (professores) 
dávamos aulas com objetivo de trabalhar a coordenação, os movimentos, essas 
coisas, sabe? O mais engraçado era dentro das universidades. Alguns professores 
realmente nos exigiam um desempenho atlético. Muitos alunos questionavam até 
que ponto tudo isso eranecessário. Embora que também tivessem professores que 
trabalhavam de maneira diferente (...)” (GANCZ, 2006, p. 1983) 
 
Mais uma vez Gancz (2006, p. 1983) lembra que não pretendemos que esses 
pontos sejam a totalidade das discrepâncias no tocante à história da educação 
física, mas, sim, serem meros exemplos que podem encorajar estudos de maior 
profundidade, além de corroborar com a hipótese do nosso trabalho. (...) Devemos, 
em primeiro lugar, situarmos a importância da história da educação física. Faremos 
isso a analisando como disciplina e, de acordo com a pentadialéctica e a 
decadialéctica, como nos mostra Ferreira dos Santos. 
Como unidade, a história da Educação Física é uma disciplina que busca 
trabalhar o processo histórico do desenvolvimento da educação física. Como 
totalidade, é uma disciplina, dentro da grade curricular que visa trazer aos alunos um 
entendimento de como surgiu e evoluiu a educação física, juntamente com suas 
 
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relações e tensões intrínsecas, para que o aluno possa utilizar esse conhecimento 
de forma reflexiva, ponderando e relacionando seus atos. Como série, faz parte do 
currículo de formação do aluno de educação física. Assim, esta disciplina deve ser 
um componente ativo da formação do novo educador, servindo não só ao propósito 
único de ensinar fatos, estabelecer relações e o que mais esteja na ementa, mas 
estar articulada com todo o currículo de modo que ela seja, em ato, mais do que a 
mera soma de diferentes partes – disciplinas -, atuando sinergisticamente com o 
restante do currículo. Como sistema, ela faz parte do movimento historiográfico e, 
por isso, sujeita as mesmas situações que a própria historiografia também se sujeita. 
Então, quando aparecem visões ou correntes que nos fazem enxergar novas 
possibilidades ou caminhos, verificaremos uma adaptação por esta influência tão 
sólida, ainda que esta mudança ocorra de forma lenta e/ou gradual. (GANCZ, 2006, 
p. 1994) 
 
Por fim, aponta Gancz (2006, 1994) como universo, ela está contida nas 
ciências do conhecimento – pensando ciência em lato sensu -, estando, ipso facto, 
ligadas a própria noção de conhecimento. Por isso, podemos perceber hoje que 
diversas reinterpretações filosóficas, como, por exemplo, a própria ideia pós- 
moderna, têm, muitas vezes, criado distintas e profundas alterações no modo de 
pensar. (...) A função da universidade é uma função única e exclusiva. Não se trata, 
somente, de conservar a experiência humana. O livro também os conserva. Não se 
trata, somente, de preparar práticos ou profissionais, de ofícios ou artes. A 
aprendizagem direta os prepara, ou, em último caso, escolas muito mais singelas do 
que as universidades. Trata-se de manter uma atmosfera de saber pelo saber para 
se preparar o homem que o serve e o desenvolve. Trata-se de conservar o saber 
vivo e não morto, nos livros ou no empirismo das práticas não intelectualizadas. 
Trata-se de formular intelectualmente a experiência humana, sempre renovada, para 
que a mesma se torne consciente e progressiva. (TEIXEIRA, 1988, p.17-18) 
 
Quando refletimos sobre o que Anísio nos fala, verificamos o quão longe, 
neste caso, estamos. Vemos os apelos dos docentes perante a calamitosa situação. 
Vemos uma grande quantidade de alunos desejando através de suas ações um 
curso cada vez menos focado no saber. Vemos muitos alunos que sequer gostam 
de ler. É imprescindível perguntarmos o porquê. Certamente queremos mudar este 
panorama. Só poderemos fazê-lo quando compreendermos a situação atual. Faz-se 
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necessário um estudo de maior fôlego para uma maior compreensão deste 
 
problema. (GANCZ, 2006, p. 1995) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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4. ASPECTOS DO ESTUDO DO: HIGIENISMO, EUGENISMO, 
DESENVOLVIMENTISMO E TEORIAS DA CULTURA CORPORAL 
 
 
 
- Higienismo: Conforme Moura (2007, s/p) (...) pensando num processo de deixar a 
população mais saudável, se recorre à higiene, acentuando sua importância na 
escola. Se higiene e educação caminhassem juntas poderiam transformar a face do 
país, promovendo o seu desenvolvimento e viabilizando o seu progresso. Partindo 
desta ideia, a higiene e a educação eram encaradas como os melhores remédios 
para a cura das doenças tanto do povo quanto do país. Segundo conclusão de Silva 
(2002): “a educação imprime no corpo as exigências de uma dada sociedade. 
Chegamos a essa conclusão analisando as primeiras sistematizações pedagógicas 
para a Educação Física, no século XIX. Neste contexto, a instrução foi eleita como a 
única capaz de afirmar um Estado Republicano, esculpir uma conduta social 
capitalista e disciplinar um corpo desregrado. Então, para moldar esse corpo “mole”, 
a Educação Física, disciplina de moderna sistematização programática, com 
respaldo médico higienista, foi escolhida como aquela responsável em educar os 
homens através de suas faculdades físicas. Os exercícios, jogos e esportes haviam 
de submeter os instintos insubordinados à ordem normativa imposta, era o ideal 
pedagógico dessa disciplina. Os hábitos corporais deviam refletir a organização 
social”. Nota-se a estreita relação existente entre os discursos pedagógicos e os 
discursos médico-higienistas, já que a proposta pedagógica da Educação Física 
escolar privilegiava a base anátomo-fisiológica. 
 
O higienismo surgiu no Brasil no século XIX, mas é no início do século XX 
que este movimento ganha força e é sistematizado, exercendo influência direta na 
educação moral, intelectual e física do povo brasileiro. Torna-se importante para o 
país no sentido de combater grandes surtos epidêmicos e doenças, que significavam 
graves riscos à população. E em prol da conquista desta saúde pela população é 
que este movimento consegue também se aliar aos desejos e interesses das forças 
governamentais. Segundo Souza (1907) citado por Soares (1994), o discurso dos 
médicos com relação à prática dos exercícios físicos contribuiu em muito para o 
engrandecimento da Pátria, fazendo a seguinte afirmação: “(...) acentuar, com todo o 
vigor da mais profunda convicção, que é uma necessidade que se impõem e se 
 
 
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ressalta à evidência, palpitante e inadiável, a aplicação de uma reforma, no sentido 
de promover o melhoramento physico de nossa raça pela graduação regulada dos 
exercícios corporaes com a supervigilância incessante por parte do médico. Em 
nenhum país – forçoso é confessá-lo – a educação physica é mais necessária do 
que em nosso, pois talvez em nenhum outro povo se notem signaes tão manifestos 
de uma precoce degeneração physica, que o vai amesquinhando e que já tem 
afetado, sem dúvida sua virilidade civil e política, tornando-o acessível ao fatalismo 
absorvente que domina as consciências, à devastadora e pertinaz invasão do 
ceticismo político, que vai atrofiando as energias e entibiando o sentimento 
nacional”. (MOURA, 2007, s/p) 
 
Toda esta influência, de acordo com Moura (2007, s/p) dos médicos na 
sociedade já podia ser notada há muito tempo e pode ser percebida pela afirmação 
de Foucault (1985) citado por Castellani Filho (1988) “(...) a política médica que se 
delineia no século XVIII em todos os países da Europa tem como reflexo a 
organização da família (...)” e Foucault (1985) segue em sua linha de pensamento 
também citada por Castellani Filho (1988) “(...) é a sua função de higienista, mais 
que seus prestígios de terapeuta, que lhe assegura esta posição politicamente 
privilegiada no século XVIII, antes de sê-la econômica e socialmente no século XIX 
(...)”. 
 
Procurando a constituição de uma sociedade com mais vigor, aumentando a 
sua reprodução e longevidade com um corpo saudável, ao contrário do tipo de 
indivíduo encontrado no período colonial,os médicos higienistas elegeram a 
Educação Física como meio para se alcançar tais objetivos. A sociedade deveria 
ser formada por um corpo saudável, que fosse útil e produtivo. Foi pela influência 
destes médicos que se introduziu a Ginástica nos Colégios a princípio para os 
homens, em seguida também para as mulheres, com alguma resistência. Os 
benefícios que se podiam atribuir à ginástica eram inúmeros e foram definitivos não 
só para a educação do físico do povo brasileiro, mas também para a sua educação 
moral e intelectual. Pelo Decreto n. 7247 de 19 de abril de 1879, assinado por 
Carlos Leôncio de Carvalho o ensino da Ginástica ganha espaço obrigatório na 
grade curricular das escolas primárias e secundárias do município da corte. Os 
meninos deveriam reafirmar seu espírito de luta, autonomia e liderança, 
recomendava-se então a corrida e a equitação, já para as meninas que deveriam 
"
27 
 
 
 
 
manter a sua docilidade deveriam executar movimentos relacionados à dança, canto 
e poesia. A elite colonial da época era bastante resistente quanto à prática da 
Educação Física por aliá-la ao trabalho braçal e consequentemente aos escravos, 
uma vez que esta elite prestigiava o trabalho intelectual, não conseguindo se 
imaginar realizando atividades físicas, pois viviam de renda ou eram proprietários de 
terras que dependiam do trabalho escravo, comerciantes ou burocratas da 
administração pública. (MOURA, 2007, s/p) 
 
Ainda para Moura (2007, s/p) seguindo o exemplo de Rui Barbosa, Fernando 
de Azevedo se tornou outro defensor da implantação da Educação Física 
defendendo o método higiênico e não eugênico da raça. Neste sentido Azevedo 
(1958) faz a seguinte afirmação: “se, nesse processo em que intervêm forças 
biológicas, se não obscuras, certamente incontroláveis, não devemos superestimar o 
papel da educação física, não é possível deixar de reconhecê-lo em toda a sua 
importância histórica e cientificamente comprovada. É certo que a Educação Física 
e, de modo geral, a educação, opera sobre o indivíduo, tal como a natureza o fez, 
com seu equipamento hereditário ou o conjunto de suas aptidões inatas; mas não é 
menos exato que ela pode influir e influi poderosamente não só no sentido de apurar 
e desenvolver as qualidades físicas e mentais de cada um, como também em 
orientá-las em direções determinadas. Aquelas constituem os limites da ação 
educativa; estes, - a saber, o seu poder de sondagem, de aperfeiçoamento e de 
direção, - todo o segredo de sua força. Num país como o nosso cuja população 
resulta de uma grande mistura de raças e que abrange etnias diversas, a educação 
assume importância capital”. 
 
É importante salientar que Azevedo (1958) se utilizava do termo Eugenia e a 
definia como “(...) a ciência ou disciplina que tem por objetivo o estudo das medidas 
sociais, econômicas, sanitárias e educacionais que influenciam física e mentalmente 
o desenvolvimento das qualidades hereditárias dos indivíduos e, portanto, das 
gerações (...)” foi possível encontrar como definição etimológica de Eugenia a “(...) 
ciência que se ocupa com o estudo e cultivo de condições que tendem a melhorar as 
qualidades físicas e morais de gerações futuras, especialmente pelo controle social 
dos matrimônios (...)”, notando-se, portanto, uma diferença entre as duas 
definições, levando-se em conta também que não havia um controle social dos 
matrimônios. 
"
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Acredita-se então que era necessária para a construção da Pátria uma 
sociedade saudável e isto seria possível se as mulheres, futuras mães, fossem 
fortes e robustas, justificando-se então a necessidade de implantação da Educação 
Física para os homens e mulheres, sendo que no segundo caso, deveria se ter o 
cuidado de manter na mulher as suas formas feminis e as exigências para a 
maternidade futura, pois era a mulher que geraria os filhos da Pátria, o bom soldado 
e o elegante e civilizado cidadão, sendo a Educação Física da mulher integral, 
higiênica, plástica, contendo trabalhos manuais e jogos infantis, esportes e ginástica 
educativa. Somente no século XX as mulheres começam a conquistar seu espaço 
com a marcante presença de Maria Lenk na natação brasileira, muito influenciada 
pelo higienismo enfocando a saúde, a beleza, a graça e feminilidade. (MOURA, 
2007, s/p) 
 
Dessa forma segundo Moura (2007, s/p) em 1881, a Escola Normal adota a 
Educação Física para as crianças oriundas da classe trabalhadora, onde é possível 
perceber que a educação do povo através da educação do físico além de aparecer 
como antídoto para todos os males, previne e cura doenças, construindo um corpo 
robusto e saudável. Com a abertura do Colégio São Pedro em 1882, apresentam-se 
as cadeiras de: Ginástica de salão e terreiro, salto, carreira, esgrima e jogo de 
forças, natação, equitação, dança e teatro. Com a Proclamação da República em 
1889, surge o Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos em abril de 
 
1890. Ainda neste ano é criado o Pedagogium, um centro que nas exposições 
escolares apresentava aparelhos de ginástica apropriados à escola brasileira. No 
mesmo ano, é redigida a Reforma do ensino primário e secundário, implantada em 
1891. De acordo com esta Reforma a prática da atividade física se daria da seguinte 
forma: Para as crianças entre 4 e 7 anos a programação de ginástica continha jogos 
infantis e exercícios físicos graduados acompanhados de canto. Para as crianças 
entre 7 e 9 anos de idade, o programa de ginástica e exercícios militares era o 
seguinte, conforme cita Cantarino Filho (1982): “(...) Ginástica – Movimentos 
preliminares, alinhamento por altura, numerar-se, tomar distância, cerrar fileiras, 
descanso, firmes, meia-volta, à direita e à esquerda, marcha em várias direções. 
Exercícios graduados de ginástica: movimentos, flexões de braços, pernas, tronco e 
cabeça. Corridas e saltos apropriados à idade. Jogos infantis (...).” 
 
 
 
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Nas séries seguintes continuavam a fazer parte os exercícios ginásticos e as 
evoluções militares. Já para os adolescentes com idade entre 11 e 13 anos de 
idade acrescentou-se equilíbrio, carreira, salto, evoluções militares, jogos e manejo 
de armas de fogo apropriadas. Dando continuidade ao programa a ginástica 
aparece com aparelhos, esgrima de espada e florete, baioneta e tiro ao alvo, tendo 
uma carga horária semanal entre duas e três horas. No curso secundário a disciplina 
Ginástica, evoluções militares e esgrima eram lecionadas em caráter obrigatório em 
todas as séries com carga horária semanal entre uma e duas horas de duração. 
Nos internatos a saída dos alunos para casa era dividida em duas turmas que se 
alternavam quinzenalmente, a turma que permanecia no internato saia aos 
domingos para passeios realizando jogos ao ar livre, caso não fosse possível a 
realização do passeio, os mesmos eram realizados no próprio internato com a 
execução de exercícios de tiro ao alvo, de besta e de flecha, exercícios ginásticos 
livres, salto e jogo de volante. 
 
Nessa época os jogos e os desportos ainda não tinham grande aceitação nos 
estabelecimentos de ensino, somente entre 1898 e 1902 é que a Escola Americana 
situada em São Paulo introduziu o futebol, dando origem aos clubes colegiais de 
futebol desta escola. Antes disto existiam apenas os clubes de remo e natação e os 
de esportes atléticos. A partir do Decreto n. º 1.652, de 15 de janeiro de 1894 é 
aprovado o Regulamento para o Internato do Ginásio Nacional determinando a 
criação do Batalhão do Exército e sua responsabilidade sobre a educação militar, 
evidenciando a relação extremamente próxima entre a Educação Física e o Exército, 
citado na Dissertação de Mestrado de Cantarino Filho (1982): “(...) as evoluções 
militares que faziam parte da Ginástica, passaram a ser componentesda 
educação militar, com a criação do “Batalhão do Exército”, constituído de alunos e 
orientado por militares do Exército, “no intuito de proporcionar à mocidade 
brasileira a educação necessária para o desempenho do dever de defender a 
pátria (...).” Além disto, serviria para a melhoria do regime disciplinar nos 
estabelecimentos e para o desenvolvimento do patriotismo. No “Batalhão Escolar”, 
os alunos eram graduados nos diversos postos, por merecimento, desde cabo de 
esquadra até o de comandante, assim como no Exército. Em 1884, surge no Brasil 
a primeira escola primária de cunho positivista com o nome de Escola da 
Neutralidade. Em 1894, Charles Miller realiza em São Paulo a primeira partida de 
 
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futebol entre funcionários de duas empresas, e em 1902 é realizado o primeiro 
 
Campeonato de Futebol do país. (MOURA, 2207, s/p) 
 
Com a Proclamação da República, aponta Moura (2007, s/p) pelo Decreto n. 
 
1 de 15 de novembro de 1889, e a ida de D. Pedro II e sua família para a Europa 
começa a ocorrer timidamente algumas mudanças com relação à prática da 
Educação Física. Em 1891 é promulgada a primeira Constituição da República e a 
constituinte elege o Marechal Deodoro da Fonseca como Presidente e o Marechal 
Floriano Peixoto como seu Vice-Presidente. Segundo Marinho (1971): “em 1892, o 
Regulamento do Ginásio Nacional, na parte referente à disciplina escolar, estatuía: 
o diretor e o vice-diretor do Ginásio procurarão desenvolver em seus alunos o gosto 
pelos exercícios de tiro ao alvo, de besta, de tiro de flechas, exercícios ginásticos 
livres, saltos, jogo de volante, etc., e farão todos os domingos um passeio para fora 
do centro da cidade. Organizarão para esse fim turmas de alunos, de forma que, 
pelo menos uma vez por mês, cada uma delas tenha um dia completamente 
destinado á Educação Física. (...) São permitidos como jogos escolares: a barra, a 
amarela, o futebol, a peteca, o jogo da bola, o cricket, o lawn-tennis, o crochê, 
corridas, saltos e outros que a juízo do diretor, concorram para desenvolver a força e 
destreza dos alunos.” 
 
Benjamim Constant Botelho de Magalhães torna-se Ministro da Instrução 
Pública no Governo Provisório do Marechal Deodoro da Fonseca e promove uma 
reforma educacional que primava pela liberdade e laicidade do ensino, bem como a 
gratuidade da escola primária com o objetivo de formar os alunos para os cursos 
superiores e substituir a predominância literária pela científica. Nas primeiras 
décadas do século XX surgiram as Academias e Institutos de Cultura Física com 
seus professores de cultura física que tinham por objetivo desenvolver os grandes 
grupos musculares evidenciando o conceito anatômico da Educação Física. Fato 
curioso foi a premiação por parte do Comitê Olímpico Internacional a Santos 
Dumont, com o Diploma Olímpico de Mérito, por considerar seu feito um serviço 
amplo e desinteressado à causa do desporto. 
Em 21 de dezembro de 1905, o Deputado amazonense Jorge de Moraes, 
defensor do Método Sueco, entendendo que o objetivo da Educação Física era 
tornar o homem robusto propõe ao Congresso Nacional a criação de duas Escolas 
 
 
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de Educação Física, uma civil e outra militar, propõe também que sejam indicadas 
pessoas para estudar o assunto no estrangeiro e trazer este conhecimento para ser 
implantado no Brasil e a aquisição de áreas para que os universitários pudessem 
praticar jogos ao ar livre e a ginástica sueca, mas seu projeto não foi aprovado. 
Percebe-se uma forte influência francesa, na justificativa feita pelo deputado 
amazonense no Congresso Nacional, citando como exemplo a França. Segundo 
mostra Marinho (1941) citado por Lima (1980) Jorge de Moraes faz a seguinte 
afirmação: “(...) é incontestável que ao futuro da Nação Brasileira se prende aquilo 
que diz respeito ao desenvolvimento de sua raça e, no entanto, é triste confessar 
que a educação física tem sido lamentavelmente descurada nos programas gerais 
de ensino, quando a sua inclusão submetida à orientação científica moderna, seria 
de absoluta necessidade (...).” 
 
Finalizando Moura (2007, s/p) afirma que (...) depois deste período higienista, 
dominado pelos médicos a Educação Física no Brasil passa a ser de 
responsabilidade dos militares brasileiros. Com a predominância dos militares a 
influência médica diminui mantendo seu domínio principalmente nas questões 
ligadas à fisiologia. “Nota-se também que os militares foram os primeiros 
profissionais com alguma forma de especialização a ministrar aulas de exercícios 
físicos sistematizados”. (MELO, 1996, apud MOURA, 2007, s/p) 
 
- Eugenismo: Para Moreira, Silva (2010, s/p) o termo eugenia foi assumido, 
cientificamente, por Francis Galton, em 1883, no livro Inqueires into human 
faculty. Influenciado por obras do seu primo, Charles Darwin, Galton defendeu que a 
capacidade humana está mais associada à hereditariedade que à educação, e a 
eugenia foi, então, descrita como “ciência” que lida com todas as influências que 
melhoram as qualidades natas de uma raça. Nas escolas brasileiras as heranças e 
concepções de Francis Galton sobre eugenia e higienia foram mais largamente 
difundidas nas décadas de 30 e 40, quando os princípios eugênicos colaboraram 
para orientar as políticas estruturais de saúde e educação. Esclarecemos que essa 
análise de tempo procura situar o recorte metodologicamente traçado: a Educação 
Física e a eugenia. Diante disso, necessário se faz considerar os fatos históricos 
como elementos não voláteis. Embora o recorte seja das décadas de 20 até 40, por 
vezes, recorremos a fatos anteriores e posteriores que se ligam em termos 
contextuais. 
"
32 
 
 
 
 
Considerados profícuos para a educação brasileira, os anos 30 e 40 são 
refletidos na contemporaneidade como marcos da educação pública no país. Os 
pilares sobre os quais foram construídos os pensamentos educacionais da época 
validam essa perspectiva. Ideologicamente o Estado Novo se justificou na visão 
macro de realidade a partir da economia, da política e do social, elevando 
sentimentos de antiliberalismo, antitotalitarismo e o nacionalismo, bases de 
contraposição do “sufrágio internacional”, principalmente nas questões relacionadas 
à Itália, Alemanha e Rússia e seus regimes totalitários cujos modelos não se 
encaixavam a realidade brasileira. De modo geral, o pensamento educativo do 
Estado Novo ambicionava um sentido amplo de função educativa, formatado não 
apenas nas bases pedagógicas, mas, sobretudo, em elementos coletivos como 
consciência cívica e moral, cujo centro era a valorização das elites intelectuais e 
seus papéis. Os traços e ranços da ideologia eugênica se prevaleceram nas 
políticas públicas e na produção de recursos pedagógicos nas décadas de 50 e 60, 
principalmente livros e vídeos. 
 
No ano de 1923 ocorreu a fundação da Liga Brasileira de Higiene Mental por 
Gustavo Riedel com fortes influências no sistema educacional brasileiro. O objetivo 
desta liga era “(...) erradicar a identidade cultural daqueles que frequentavam as 
macumbas e os centros de feitiçaria”, gente considerada pelos higienistas, como 
“grupos sociais atrasados em cultura”. (SANTANA, 2006, p. 43, apud MOREIRA, 
SILVA, 2010, s/p) 
 
Para Moreira, Silva (2010, s/p) educadores influentes, a exemplo do professor 
Fernando de Azevedo (1918), defendiam uma ligação simbiótica entre cultura 
atlética ou Educação Física e a eugenia. Membro da Sociedade Eugênica de São 
Paulo, Azevedo pregava a regeneração da raça brasileira por meio de um controle 
corporal, segundo Soares, (2004, p. 120-121): “Fernando de Azevedo entendia a 
eugenia como uma ciência capaz de intervir no meio ambiente físico, valendo-se dos 
avanços conseguidos pela engenharia sanitária, para exercer uma açãohigiênica, 
educacional e sexual”. 
Outro exemplo marcante da afirmação eugênica na educação brasileira foi 
dado no período entre 1933-1938, quando da criação do Instituto de Pesquisas 
Educacionais (IPE). A base científica do IPE se apoiava na realização de testes de 
 
 
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inteligência, físicos e psicológicos, que serviam para apartar alunos por turmas, 
determinando conceitos de “fracos, fortes, brancos, negros”. A reforma Francisco 
Campos (1931) pode ser considerada um marco na elitização do ensino secundário. 
Estruturando o ensino em duas etapas: cinco anos para o fundamental e outros dois 
anos preparatórios para o ensino superior, com rigidez avaliativa, a reforma tinha 
forte impacto na “formação identitária do país”. Por meio da disciplina História, 
Campos evidenciava a unidade nacional, destacando a questão étnica e racial e a 
busca às origens do povo brasileiro. No contexto exigido pela reforma, o negro era o 
“dominado pelo colonizador”, conforme afirma Abud: ele sempre era tratado como 
mercadoria, produtor de outras mercadorias. Enquanto ao índio se conferia o 
estatuto de contribuição racial, os livros didáticos salientavam a importância do 
africano para a vida econômica do país, mas procuravam mostrar que a negritude 
estava sendo diluída pela miscigenação. (ABUD, 1998, p. 3) 
 
No período do Estado Novo, 1937-1945, as práticas elitistas na educação 
foram ampliadas por meio da reforma Gustavo Capanema que demarcou os tipos de 
educação e cultura no país a partir das representatividades de classes, cultas e 
subcultas, pobres e ricos. Um dos marcos da reforma Capanema foi a instituição de 
educação intelectualizada e educação profissionalizante. O Brasil foi o primeiro país 
sul-americano a ter um movimento eugenista organizado, a partir da criação da 
Sociedade Eugênica de São Paulo (1918), responsável pelos primeiros trabalhos 
sistematizados na área. Nome central dessa sociedade é do médico Renato Ferraz 
Kehl. Entre 1917 e 1937, Kehl foi ativo no movimento, publicou livros e fez palestras 
em todo o país. Em seu livro de 1923, intitulado “Por que sou eugenista”, Kehl 
afirmou ser necessário “instruir, eugenizar e sanear”. O movimento eugênico atuou 
junto à saúde pública e ao saneamento, bem como, à psiquiatria e à “higiene 
mental”, ao longo das décadas de 1920 e 1930. (MOREIRA, SILVA, 2010, s/p) 
 
Sobre a eugenia, no referido período apontam Moreira, Silva (2010, s/p) que é 
preciso dimensionar seus efeitos na contemporaneidade: segundo D’Avila (2006, p. 
93), “A Ciência da eugenia forneceu uma ponte entre a ideologia racial e a cultura 
popular, definindo uma cultura de pobreza”. Reitero o elo da diretriz eugênica nos 
anos de declínio da era Vargas, considerada “(...) tão forte que resistiu por mais 
tempo do que o apoio oficial à ciência que a orientou”. O autor conclui que, “(...) 
embora a eugenia tivesse perdido a legitimação, após o fim da Segunda Guerra 
"
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Mundial, as instituições, práticas e pressuposições que ela criou persistiram”. 
 
(D’ÁVILA, 2006, p. 93, apud MOREIRA, SILVA, 2010, s/p) 
 
Ainda de acordo com Moreira, Silva (2010, s/p) a Educação Física brasileira 
tem sua origem ligada às instituições militares e à classe médica e essa relação se 
assumiu como simbiótica, também, na pedagogia. Pregando a educação do corpo e 
tendo como modelo de perfeição um físico saudável e equilibrado, organicamente, a 
origem da Educação Física associa-se a médicos higienistas que buscavam 
modificar os métodos de higiene da população. Essas diretrizes assumiram 
importância vital na construção da matriz racista e na ideologia racial brasileira, 
formulada e difundida no século XIX. Sobre esse aspecto, Oliveira (2004), deixa 
entender que as passagens históricas mais importantes da Educação Física no 
Brasil revelam a estreita relação entre Educação Física, adaptação e pensamento 
dominante. Diz-nos este autor que: um dos exemplos mais enfáticos é o da 
formação de associações civis destinadas a “prestar culto à pátria”. Soam bem 
significativos os modelos do tipo “Juventude Hitlerista”, “Juventude Brasileira”, 
“Mocidade Portuguesa”, “Juventude Comunista”, etc., criados na primeira metade do 
século. Estas instituições tinham, oficialmente, a finalidade de proporcionar 
educação cívica, moral e física aos cidadãos. (OLIVEIRA, 2004, p. 98). 
 
Faz-se oportuno pontuar que a eugenia no Brasil considerou a Educação 
Física como estratégica na difusão e organização de suas práticas. Posso sintetizar 
o pensamento eugênico descrevendo, brevemente, a realização no Rio de Janeiro, 
em 1929, do I Congresso Brasileiro de Eugenia onde se firmou a ideia de que a 
Educação Física ajudaria a “regeneração e o revigoramento da raça brasileira”: 
Apresentando o tema “Da educação physica com o fator eugênico e sua orientação 
no Brasil”, o Dr. Jorge de Moraes registra as seguintes conclusões: 1º - A bem da 
saúde e desenvolvimento da raça, o 1º Congresso Brasileiro de Eugenia appella 
para a classe médica a fim de aprofundar a cultura nacional no que diz respeito às 
bases e orientações scientíficas da Educação Physica a começar pela escolha do 
methodo apropriado aos brasileiros e seu clima. (SOARES, 2004, p.119, apud 
MOREIRA, SILVA, 2010, s/p) 
 
Segundo Moreira, Silva (2010, s/p) as bases da construção histórica da 
 
Educação Física favoreceram aos interesses eugenistas. Afora o processo 
 
 
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pedagógico, atentamos para o fato de que os métodos francês e sueco de ginástica, 
largamente difundidos no Brasil, foram eficazes para os ideais de corpo mecânico e 
disciplinado. A esportivização, por sua vez, abraçava a ideia de superioridade 
branca, apoiada na imagem helênica corporal mitologicamente ambicionada. “Deste 
modo, a história da disciplina Educação Física aponta para um distanciamento do 
corpo negro, na medida em que o corpo idealizado pela Educação Física partiu da 
imagem corporal dos gregos, portanto de um corpo branco”. (MATTOS, 2007, p. 11, 
apud MOREIRA, SILVA, 2010, s/p) 
 
- Desenvolvimentismo: De acordo com Darido (s/d, s/p) em oposição à vertente 
mais tecnicista, esportivista e biologista surgem novos movimentos na Educação 
Física escolar a partir, especialmente, do final da década de 70, inspirados no novo 
momento histórico social porque passou o país, a Educação de uma maneira geral e 
a Educação Física especificamente. 
 
Atualmente coexistem na área da Educação Física várias concepções, todas 
elas tendo em comum a tentativa de romper com o modelo mecanicista, fruto de 
uma etapa recente da Educação Física. São elas; abordagem desenvolvimentista, 
interacionista-construtivista, crítico-superadora e sistêmica. Estas são, 
provavelmente, as mais representativas (...), embora outras abordagens transitem 
pelos meios acadêmicos e profissionais, como por exemplo, a psicomotricidade 
proposta por Le Bouch (1983), a Educação Física fenomenológica proposta por 
Moreira (1991) e a Educação Física cultural proposta por Daólio (1995). 
 
O modelo desenvolvimentista é explicitado, no Brasil, principalmente nos 
trabalhos de Tani, et al (1988) e Manoel (1994). A obra mais representativa desta 
abordagem é Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem 
desenvolvimentista (Tani, et al, 1988). Vários autores são citados no trabalho 
exposto, mas dois parecem ser fundamentais: D. Gallahue e J. Connoly. Para Tani, 
et al (1988, p. 2) a proposta explicitada por eles é uma abordagem dentre várias 
possíveis, é dirigida especificamente para crianças de quatro a quartoze anos, e 
busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentação para 
a Educação Física escolar. Segundo eles é uma tentativa de caracterizar a 
progressão normal do crescimento físico,

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