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1 Beatriz Machado de Almeida Ortopedia – Aula 7 - Osteoartrose Introdução Muito comum, muito recorrente e com resultados positivos ao tratamento (condutas tanto conservadoras quanto cirúrgicas). Osteoartrose é o nome antigo! Hoje se chama osteoartrite. A preferência do nome osteoartrite se deve ao processo inflamatório associado à doença. • A osteoartrite é uma doença crônica: recorrente aos episódios de dor. O paciente chega com dor de 5-10 a, que vem ocorrendo ao longo do tempo. • Dano a cartilagem e os tecidos circundantes; inclui cápsula articular, tecido sinovial, todo o envoltório prejudicado. Muito paciente confunde a osteoartrite com osteoporose, mas as patologias são completamente diferentes. Osteoporose: perda de densidade de massa óssea; osteoartrite/osteoartrose: dano à cartilagem articular. • Caracteriza-se por dor, rigidez e perda da função: com o passar do tempo, o paciente vai se queixar cada vez mais de dor, mais rigidez, não consegue mais ter o arco de movimento e perda da função daquela articulação. Lembrar que qualquer articulação sinovial pode sofrer com osteoartrose e é consequência do envelhecimento. Todas as pessoas vão ter osteoartrose e catarata - Consequência do envelhecimento humano. Radiografia: observa-se o osteófito; a face lateral, tem espaço, enquanto a face medial do joelho, já não tem espaço nenhum, tem redução do espaço articular. Tem o osteófito (ossinho) sendo formado. Podem ter cistos também. Sinais radiológicos Não é necessário ter a presença dos 4 sinais radiológicos, porém quanto mais sinais, mais fácil de conseguir fechar o diagnóstico. Na radiografia de qualquer articulação com osteoartrose tem os sinais. Quanto mais sinais, maior a gravidade dessa osteoartrose. 1 sinal já pode ser considerado, porém pode causar dúvida. • Redução do espaço articular: observando entre a cabeça do fêmur e a articulação do quadril, praticamente não se vê espaço articular, a cartilagem foi completamente consumida. • CISTOS ou cistos geodésicos: são as bolinhas pretas. O cisto se forma por hiperpressão, não tem nada a ver com câncer. Então, se tem o líquido sinovial dentro, perda de espaço articular, o líquido precisa ir para algum lugar, vai perfurando a cartilagem (¨água mole em pedra dura, tanto bate até que fura¨), tem aumento de pressão nesse espaço e acaba invadindo a cavidade óssea. • Osteófitos: são os ossos irregulares a mais, tem uma formação óssea. Normalmente é um ossinho pontiagudo e um ossinho que não deveria existir. Neoformado. • Esclerose subcondral: osso mais branco na radiografia. Quando faz a comparação percebe que o osso é muito mais marmóreo, mais branco. Ou seja, está sofrendo traumas repetidos porque tem osso tocando contra osso. Existe a lei de Wolff: quanto mais o osso sofre sobrecarga, mais ele vai ficando denso, rígido. Epidemiologia • Idade: quanto maior a idade, maior a tendência a ter osteoartrose; • Sexo feminino; Osteoartrite 2 Beatriz Machado de Almeida Ortopedia – Aula 7 - Osteoartrose • Obesidade; • Ocupação: exemplo trabalhador braçal, de forma mais precoce; • Atividades esportivas de alto rendimento; • Trauma nas articulações: repetidos ou de forma única; • Doenças neuromusculares: onde tem desbalanço muscular; • Predisposição genética; • Deformidades ósseas; • Diabetes mellitus. São alguns dos fatores de risco para o paciente gerar osteoartrose de qualquer uma das articulações. Aqui temos como exemplo uma paciente feminina e idosa. A idade hoje é algo muito relativo: a idade fisiológica do paciente é muito mais considerada do que a idade cronológica. Hoje um paciente de 70 anos é completamente diferente de outro, ou seja, tem paciente de 70 anos esportistas (maratonista, por exemplo) e tem paciente de 70 anos que é o idoso “mesmo”, de marcha lenta. Etiologia • Mecânica: sequela de trauma (ex. fratura), deformidades (genéticas, por exemplo), sequela de processos infecciosos, primária (vem com a idade). • Metabólica – osteoartrose secundária a alterações metabólicas: artrite reumatóide (doença autoimune da sinóvia), espondilite anquilosante. • Combinada: ex. artrite reumatóide + trauma. A tendência de gerar osteoartrose é mais precoce. Muitas doenças acompanhadas pelo reumatologista geram alterações metabólicas na sinóvia e vão levar a osteoartrose de forma mais precoce. Tratamento conservador • Analgesia; • Apoio de marcha; • Fisioterapia; • Mudança de hábitos de vida. Então se sabe que o paciente tem osteoartrose, o paciente chegou no consultório, fez-se a radiografia e foram identificados os 4 sinais: cistos, redução do espaço articular, presença de osteófitos e esclerose subcondral (osso mais esbranquiçado, mais denso, na região logo abaixo da cartilagem). Não é necessária uma ressonância, pois nesse caso o raio-x/radiografia é completamente suficiente para identificar o aspecto de fraturas e o aspecto de osteoartrose e fechar o diagnóstico. Ou seja, não tem necessidade de um exame mais complexo se já fechou o diagnóstico com o mais simples. Basicamente, todos os tipos de osteoartrose serão tratados da mesma forma. Se for uma osteoartrose mecânica eu vou atuar na porção mecânica. Se for uma osteoartrose metabólica será necessário tratar a doença de base (normalmente quem trata a doença de base é o reumatologista, a exemplo da artrite reumatoide, para qual existem diversos medicamentos, inclusive biológicos, medicamentos que conseguem modificar o rumo da doença). Mas sendo puramente mecânica, o tratamento é feito com analgesia, apoio de marcha, fisioterapia e mudança de hábitos de vida. Analgesia • Dipirona 1g – 6/6horas se dor leve (6-12-18-22); • Tramadol 100mg – 12/12 horas se dor forte (8- 20); • Ciclobenzapridas 5mg – 1x ao dia (21); • Celocoxibe 200mg – 12/12 horas – curto período de 7-10 dias; • Possibilidade de associação com antiepilépticos / antidepressivos; • Glucosamina + condroitina / colágeno ??? • Infiltração e bloqueio anestésico. Para analgesia existem diversas ações possíveis. Pode substituir, por exemplo, dipirona por paracetamol, contanto que seja seguida a ordem de analgésico fraco, analgésico forte, opioides. Nesse caso, começar com a dipirona como analgésico leve, de 6 em 6 horas se dor leve, e colocar o horário de sugestão (ex.: 6–12-18-24). Se acordar sem dor, não usa medicação alguma. Se acordar com dor leve, toma uma dipirona, se a dor não ceder com a dipirona, pode usar um TRAMADOL 3 Beatriz Machado de Almeida Ortopedia – Aula 7 - Osteoartrose de 100mg de 12 em 12h se ele tiver dor forte com sugestão de horário 8-20h. Ele pode chegar até 400mg de TRAMADOL por dia. E se for necessário usar um opioide mais forte (Dimorf, morfina), mas não tem necessidade de chegar a esse ponto. E para pacientes que tem dificuldade com o sono, faz-se o uso associado da ciclobenzaprina para ele relaxar a musculatura e conseguir dormir bem à noite (sugestão 21h). E se o paciente for bem instruído, e sabe que consegue utilizar somente por um período, pode associar o anti-inflamatório, já que se sabe que na osteoartrite se tem um processo inflamatório associado, então entrar com o anti-inflamatório faz com que se consiga melhorar o quadro álgico agudo do paciente. Sugestão do Celocoxibe 200mg, de 12 em 12h pelo período de 7 a 10 dias. Celocoxibe é sugestão, mas pode ser usado o cetoprofeno, o diclofenaco etc. Existe a possibilidade de associação com os antiepilépticos como a gabapentina, a pregabalina. Além da associação de antidepressivos, por se tratar de uma dor crônica, de uma patologia crônica, o uso de antidepressivos. Então, tanto os tricíclicos de uso noturno quanto os inibidores da recaptação da serotonina,por exemplo a fluoxetina, a duloxetina, podem ser utilizados durante o dia. E eles tendem, no processo crônico, a aliviar a dor aos pouquinhos, ou seja, ir melhorando e potencializando essa analgesia. Glucosamina com condroitina era uma combinação que se usava bastante, hoje já saíram diversas revisões sistemáticas demonstrando que a glucosamina com condroitina para osteoartrite não tem nenhuma evidência científica que vai ter melhora. Então não se usa mais. E o colágeno hoje em dia, existem várias medicações que são suplementos alimentares que utilizam o colágeno tipo 2 na promessa de melhorar a dor desse paciente com osteoartrose, mas ainda não se tem nenhum estudo grande mostrando que o colágeno vai ter um benefício na osteoartrose; a grande vantagem dele é que quase não tem efeito colateral. Então existe a opção de entrar com o colágeno para avaliar o resultado do uso dessa medicação. O paciente teve uma resposta positiva? Pode continuar usando já que ele não tem nenhum efeito colateral. Se o paciente não tiver nenhuma resposta, ou resposta negativa é melhor interromper o uso, já que ele não tem uma evidência comprovada na osteoartrose. Os estudos que existem são pequenos, e todos mostram somente a questão do quadro álgico, não mostrando nenhuma melhora na parte histológica, da cartilagem em si. Ou seja, muito vendedor vai chegar e falar que “com o colágeno tipo 2 vai nascer cartilagem nova”, mas isso é impossível. O colágeno via oral será digerido no trato gastrointestinal como qualquer proteína. Apesar de muitos acreditarem que por termos parte como unha e cartilagens feitas de colágeno, a ingestão do colágeno seria direcionada para esses locais. Mas o que a indústria farmacêutica tenta mostrar é, na verdade, que isso tem a ver com a resposta imune ao colágeno na cartilagem. Então supostamente se você ingere colágeno tipo 2 você vai ter menos dano ao colágeno da cartilagem por uma questão imunológica. Você faz com que o TGI diminua o número de receptores como se fosse um patógeno, fazendo com que melhore esse “não-dano” a cartilagem que existe lá. Mas isso é teoria, não tem nada comprovado ainda. Então, o uso do colágeno é muito duvidoso, se vale a pena utilizar ou não. • Infiltração e bloqueio anestésico: são ótimos para alívio sintomático da dor. A infiltração pode ser feita com corticoide ou com ácido hialurônico (composto natural da articulação), e eles conseguem trazer um benefício para o paciente por um curto período de tempo. No caso do corticoide, consegue ter uma melhora de 2 até 6 meses, e com o ácido hialurônico, consegue ter uma melhora de 6 meses até 2 anos. O bloqueio anestésico pode ser utilizado também para interromper o ciclo vicioso da dor, para que aquele paciente que tem dor crônica no joelho, faça um bloqueio da inervação periférica e comece, por exemplo, a fazer uma atividade física, comece a ter perda de peso. RESUMO: Podemos usar um analgésico simples, um analgésico mais forte, uma ciclobenzaprida a noite, um anti-inflamatório por curto período, pode associar a antidepressivos, pode fazer o uso de antiepilépticos, pode fazer o uso do colágeno (não é proibitivo, tem que conversar bem com o paciente para saber qual a expectativa dele em relação ao 4 Beatriz Machado de Almeida Ortopedia – Aula 7 - Osteoartrose colágeno, pois tem que afirmar que não vai criar cartilagem nova, pois uma cartilagem lesada não temos como recuperar, mas o uso do colágeno seria de tentar preservar a cartilagem que ainda existe naquele joelho, sendo que ainda não tem comprovação cientifica de que isso é uma verdade). A infiltração e o bloqueio anestésico servem para quebrar o ciclo de dor, fazendo com que o paciente melhore de forma temporária. Hábitos de vida Queremos que o paciente melhore de forma temporária para aí sim entrar nos hábitos de vida, conseguindo modificar o prognóstico da doença. • Perda de peso: o próprio adipócito já é inflamatório, então, só o fato de estar acima do peso já gera um potencial pró inflamatório no organismo; • Evitar tabagismo; • Moderado consumo alcoólico: relacionada também ao ganho de peso; • Atividade física constante: solicitar ao paciente que ele deve iniciar uma atividade física, da preferência dele. Paciente com osteoartrose não vai piorar com atividade física, pelo contrário, ele vai melhorar a mobilidade articular dele. Inicialmente de forma lenta, ex. pilates, academia, exercício bem orientado, bicicleta, atividades dentro da água. Fisioterapia Grande aliado, tanto na parte analgésica quanto para construir o reforço muscular, com a cinesioterapia. Consegue com que esse paciente volte a ganhar movimento e se sinta bem para manter a atividade física constante, com força muscular presente. Indicada em quase todos os casos, em que o paciente tem osteoartrose. • Analgesia; • Cinesioterapia. Apoio de marcha/órtese Pode associar um apoio de marcha ou órtese. No caso por ex. de uma osteoartrose de punho, associar uma órtese de uso noturno, fazendo com que o paciente se sinta mais confortável, diminuindo o processo de dor. No caso de osteoartrose de cotovelo e de ombro, associar de forma temporária uma tipóia, fazendo com que o paciente melhore muito o quadro de dor. Nos membros inferiores, se o paciente tem uma artrose unilateral, pode utilizar uma bengala, lembrando de sempre utilizar no lado contralateral ao membro afetado (se ele tem artrose no membro direito, utilizar a muleta ou bengala do lado esquerdo). No caso de patologias bilaterais ou uma artrose mais grave, utilizar duas muletas. Tratamento cirúrgico • Falha do tratamento conservador: quando já vem acompanhando esse paciente por ex. a 6 meses, 1 ano, 2 anos, 5 anos, e percebemos que esse paciente já não está respondendo tão bem, já foi feita infiltração e ele não melhora a dor; • Perda na qualidade de vida: o que buscamos para o nosso paciente é qualidade de vida, independente dele ter um CA terminal, seja qual for o tempo de vida dele. • Melhor condição psicossocial: na hora de pensar em um tratamento cirúrgico para esse paciente, ele tem que estar na melhor condição psicossocial possível. Se possível, ter auxilio da família; • Ausência de processo infeccioso: investigar para saber se tem algum processo infeccioso ativo. Processo infeccioso não combina com artroplastia. Saúde profissional, saúde física saúde espiritual, saúde social, saúde mental e saúde emocional. Artroplastia 5 Beatriz Machado de Almeida Ortopedia – Aula 7 - Osteoartrose Imagem de cima: artroplastia do joelho; imagem de baixo: artroplastia do ombro – tirou a cabeça do úmero, retirou uma parte da glenóide e substituiu tudo isso por metal. Diferente do que vimos no trauma, isso é uma prótese, ou seja, um segmento do paciente é retirado e é substituído por uma prótese. Diferente de uma placa (usada em casos de fratura), que coloca uma placa para fixar, pois ali não se tira nenhum pedaço do paciente. No caso de próteses, sempre retira um segmento do corpo dele. Essa é a grande diferença entre uma artroplastia, ou seja, uma prótese, de um material de síntese (placa, parafuso). A imagem 1 mostra um recapeamento, onde tira um pouquinho só da cabeça do úmero, e coloca essa prótese. Na imagem 2 mostra uma prótese total anatômica de ombro, onde retira a cabeça inteira e substitui tanto a parte da cabeça do úmero quanto o glenóide. Na imagem 3, é chamada de prótese reversa, que foi ideia de uma francês, que é para o ombro (uma articulação muito instável), trazer a parte redonda para a glenóide, e a parte côncava para o úmero, possibilitando fazer próteses quando o paciente não tem mais o manguito rotador, ou seja, quando ele não tem mais estabilidade do ombro com manguitorotador, utiliza essa prótese, que é chamada de prótese reversa de ombro. A cirurgia do século Esse artigo de 2007 resume o porquê o professor escolheu fazer quadril como especialidade. O LANCET mostrou que prótese de quadril foi considerada a cirurgia do século XX. Programação Antes de fazer uma prótese a gente faz uma programação. Em radiografia de bacia, é possível programar no computador o tamanho do componente que vai ser usado. Em alguns casos em que o paciente tem uma deformidade óssea ou um tumor, pode-se usar a impressão em 3D (foto). Com essa impressão você consegue prever complicações e dificuldades. Então, é útil em casos mais complexos. Cimentação (politilmetacrilato) 1. Digital; 2. Retrógrada + centralizador distal; 3. Preparação a vácuo; 4. Centralizador proximal. Nas próteses de quadril, joelho e ombro a gente ainda utiliza cimentação em alguns casos, que utiliza a polimetilmetacrilato (material bem biológico, mas não completamente). Objetivo - preencher espaços. Antes a gente cimentava com o dedo (fig A e B) e depois surgiram as pistolas, depois a vácuo, que evita que entre ar, o que é mais adequada. Prótese não cimentada A escolha do professor é sempre prótese não cimentada, pois é muito mais biológica, é feita de titânio, muito mais biocompatível. Imagem 1: trabéculas ósseas; Imagem 2: trabéculas de metal. Ou seja, é muito parecido. Então com esse tipo de prótese, a gente consegue que cresça osso dentro da prótese, então a fixação é feita por osteointegração. Artroplastia total do quadril Imagens: exemplos de próteses de quadril, compostos por 4 componentes: um que vai dentro do fêmur, uma cabeça femural, um componente feito de polietileno e o componente que vai no acetábulo. 6 Beatriz Machado de Almeida Ortopedia – Aula 7 - Osteoartrose Não existe prótese de cabeça de fêmur; a prótese é de quadril. Pode fixar a prótese com cimento ósseo, tanto na bacia quando no fêmur, ou pode fixar com a prótese não cimentada. Tribologia Hoje a gente tenta fazer uma prótese para durar o máximo de tempo possível, sendo substituída apenas se houver alguma complicação (soltura, infecção, luxação ...). O que muda muito em relação a durabilidade são os componentes de atrito. Aquela parte da cabeça do fêmur e a parte que vai dentro do acetábulo, ela pode ser feita de metal com plástico, metal com metal, metal com polietileno, ou cerâmica com cerâmica. A preferência tem que ser por cerâmica - atrito menor. Pós-operatório • ANTIBIOTICOPROFILAXIA POR 48 HORAS: para evitar risco de infecção. • Carga total imediata: ou seja, o paciente tem que andar o quanto antes. • Anticoagulação por 30 dias: o risco de trombose é muito alto para os pacientes que não fazem a anticoagulação; • Analgesia: analgesia e fisioterapia para reabilitação. Material baseado na aula de Dr. Davi Veiga – Medicina UniFTC – 7º semestre
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