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21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777_… 1/31 CIÊNCIA POLÍTICA E DO ESTADO CAPÍTULO 4 - HÁ ALGO MELHOR QUE A DEMOCRACIA? Marcelo Doval Mendes INICIAR 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777_… 2/31 Introdução À medida que se avança no estudo da ciência política, podemos não apenas conhecer seus conceitos fundamentais, mas, também, refletir criticamente sobre o modo como eles operam em nossas realidades políticas, no que diferem dos conceitos teóricos e qual o papel das ideologias política e econômica nessa concretização. Assim é que, conhecendo a doutrina da receita política de Montesquieu e o contexto sócio-histórico-político no qual foi gestada, os Estados lhes foram atribuindo novas leituras e imprimindo-as em suas Constituições. Da mesma forma, reconhecendo as ideologias político-econômicas disputadas pela sociedade pluralista, podemos considerar as diversas e distintas inclinações do Estado. Por fim, com esses aspectos em mente podemos, na prática concreta para a escolha de nossos representantes, considerarmos os critérios e regras a serem utilizados para decidir quais os interesses serão buscados pela sociedade a cada momento. Diante deste cenário, neste capítulo buscamos responder: como os poderes se relacionam no exercício prático de suas funções? Quais os mecanismos para que não se paralise a tomada de decisão política? Como a intersecção entre economia e política afeta os fins do Estado e a vida dos cidadãos? Por que vale a pena insistir na democracia? E quais devem ser os critérios de acesso das pessoas ao poder estatal? Esperamos que os conceitos abordados neste capítulo proporcionem os elementos necessários para essas reflexões. Bom estudo! 4.1 Separação de poderes e seu mecanismo de funcionamento A separação de poderes estava atrelada a um conjunto de ideias liberais dos séculos XVII e XVIII, e no centro da teoria política vencedora das revoluções liberais, de tal modo que não mais deixou o pensamento político ocidental, assim 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777_… 3/31 como a ideia de Constituição escrita, na qual a separação de poderes deve estar expressamente garantida. Em seu estudo, portanto, cumpre identificar as lições dessa doutrina para a organização do poder político. Como os poderes são separados? Como essa separação busca garantir direitos? Como funciona a separação e o equilíbrio dos poderes na prática dos Estados? As questões serão respondidas a seguir. 4.1.1 Sistema de freios e contrapesos A separação de poderes era um dos instrumentos da doutrina liberal do período, e tinha um objetivo: proteger os indivíduos contra o abuso de poder do monarca, até então absoluto. Para tanto, foram estabelecidos mecanismos imaginados como capazes de fazer com que o próprio poder freasse o poder. Assim, as três principais lições políticas da doutrina da separação de poderes são: primeiro, a distinção de funções e respectivos poderes; segundo, o valor da separação de poderes como meio de limitar o poder e garantir a liberdade, e, terceiro, a ideia de equilíbrio entre os poderes (FERREIRA FILHO, 2012). A separação das funções estatais (executar, legislar e julgar) em diferentes órgãos (poder executivo, poder legislativo e poder judiciário, respectivamente) é o que garante a liberdade política, pois, levando-se em conta a experiência histórica de que a concentração do poder leva a seu abuso, “[...] é preciso que, pela disposição das coisas, o poder limite o poder” (MONTESQUIEU, 1996, p. 166). Contudo, considerando que a natureza do poder político é una, a separação dos poderes pode levar a um conflito entre eles, de modo que eles devem agir em equilíbrio – sem a prevalência de nenhum deles sobre outros –, na expressão do próprio Montesquieu: “[...] de concerto” (FERREIRA FILHO, 2012). Este é o ponto que vamos passar a explorar: como atingir esta atuação concertada, ou, em outras palavras, como promover a limitação de um poder por outro poder, quando todos os poderes devem estar em equilíbrio? A resposta é direta: isso deve se dar por meio de um sistema de freios e contrapesos, uma ideia da mecânica que expressa, justamente, a noção de equilíbrio. Um poder deve tocar o outro poder para contrabalançar o poder exercido pelo outro. Ou seja, mais do que, propriamente, uma segregação pura e estanque, a doutrina da separação de poderes diz respeito ao estabelecimento de mecanismos de equilíbrio entre eles (WEFFORT, 2006). 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777_… 4/31 Trata-se, então, de estabelecer mecanismos nas constituições que sejam capazes de neutralizar os arroubos de cada um dos poderes, contrabalanceando o peso que tenderia ao abuso. Nessa linha, em primeiro lugar, o poder executivo e o poder de legislar neutralizariam um ao outro, pela comunhão de algumas funções entre eles. A mera aplicação da lei pelo executivo, sem a faculdade de estatuir, isto é, de atuar ativamente no processo legislativo, neutraliza o poder de executar. Dentro do próprio poder legislativo, a existência de duas câmaras, igualmente dotadas das faculdades de estatuir e de impedir, neutralizam-se reciprocamente e, mesmo quando suas vontades de criar leis coincidam, a participação do executivo no processo legislativo, com a faculdade de impedir a entrada em vigor de uma norma legal, compensaria a tendência de abuso do poder de legislar (AMARAL JÚNIOR, 2008). Em outras palavras, a iniciativa de propor, debater, votar e aprovar ou rejeitar propostas de lei, pelo legislativo, e o veto, pelo executivo, exigem uma ação ordenada para criar as leis que serão aplicadas pelo executivo. Como destaca Amaral Júnior (2008, p. 61): [...] [s]omente pela exata coincidência de vontades entre câmara alta e câmara baixa é que o poder legislativo estatui. Do contrário, uma câmara neutraliza a outra. Trata-se, portanto, de um bicameralismo igual, em que a câmara alta tem papel moderador, servindo de contrapeso à câmara baixa. E ainda que ambas as câmaras concordem, e o legislativo, como um todo, faça prevalecer a sua vontade, a lei somente será efetivamente criada se o executivo não rejeitar a decisão parlamentar, neutralizando a vontade legislativa. A inexistência de faculdade de estatuir, isto é, a iniciativa de iniciar o processo legislativo, pelo poder executivo, completa o quadro de neutralizações no que diz respeito às funções de legislar e executar. 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777_… 5/31 Resta, pois, a função de julgar. A preocupação principal é retirar o poder de julgar do executivo e do legislativo, pois se estivesse unido ao executivo, “o juiz poderia ter a força de um opressor”; “se estivesse unido ao poder legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário” (MONTESQUIEU, 1996, p. 168), pois o juiz não aplicaria a lei existente, mas decidiria, conforme sua vontade, qual o castigo a aplicar e qual a solução dos litígios. Depois de retirado da esfera dos demais poderes, o poder de julgar seria neutralizado em si mesmo, especialmente em decorrência do próprio modo de tomada de decisões pelos juízes, que apenas aplicariam a lei aos casos concretos, isto é, seriam apenas a “boca da lei”, o que neutralizaria o poder de julgar por ser “invisível e nulo” (MONTESQUIEU, 1996, p. 168). Assim, a separação das funções, com sua atribuição a órgãos distintos, promove o efetivo controle do poder não ao se manter rígida e estanque, mas ao estabelecer mecanismos de freiose contrapesos pela comunhão de algumas de suas faculdades, de modo a neutralizar a tendência ao abuso. O controle do poder e a garantia da liberdade são realizados, portanto, por um equilíbrio de poderes. Figura 1 - Na separação de poderes, o poder de legislar é atribuído ao Poder Legislativo, mas compartilhado com o Executivo. Fonte: alexskopje, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777_… 6/31 Os constituintes dos Estados Unidos da América valeram-se das ideias de Montesquieu e inscreveram a separação de poderes em sua Constituição, por meio do estabelecimento das relações entre os poderes executivo, legislativo e judiciário, isto é, sua específica compreensão dos freios e contrapesos necessários para a instalação de um governo limitado. A Constituição dos Estados Unidos da América, de 1787, ao organizar o poder político e seu exercício no novo Estado que se formava, instaurou uma república presidencialista. Preocupada com o controle do poder político, a Constituição adotou a doutrina da separação de poderes de Montesquieu, estabelecendo três poderes distintos e independentes – executivo, legislativo e judiciário –, os quais se equilibram por mecanismos de freios e contrapesos. A versão original, em inglês, pode ser consultada, no endereço eletrônico do Senado estadunidense: <https://www.senate.gov/civics/constitution_item/constitution.htm (https://www.senate.gov/civics/constitution_item/constitution.htm)>. A influência de Montesquieu e a compreensão da separação de poderes dos constituintes norte-americanos podem ser consideradas com base no artigo 78, de “O Federalista”, de autoria de Hamilton, Madison e Jay (1984), sobre a defesa dos juízes como guardiães da Constituição. Assim é que, segundo esses autores, o poder judiciário sempre será o menos perigoso porque a própria natureza de suas funções torna difícil a violação de direitos políticos da Constituição: enquanto o executivo, além das honrarias, possui a espada, e o legislativo, além do poder de fazer leis, possui a bolsa, o judiciário, sem bolsa e sem espada, limita-se apenas a julgar, com base nas leis e necessitando do auxílio do poder executivo (HAMILTON; MADISON; JAY, 1984, p. 576). VOCÊ QUER LER? https://www.senate.gov/civics/constitution_item/constitution.htm 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777_… 7/31 Embora, pois, temporal e teoricamente próximos do ideário de Montesquieu, os Estados Unidos avançaram no desenho da separação de poderes que julgaram adequado para sua realidade política. Aproveitando a receita de Montesquieu e no mesmo espírito dela, procuraram incrementar as relações de controles recíprocos entre os poderes e incluíram o poder judiciário na comunhão de funções, atribuindo-lhe também uma faculdade de impedir o abuso das demais: a invalidação de leis com base na declaração de inconstitucionalidade (AMARAL JÚNIOR, 2008). Para entender melhor os conceitos abordados, observe o exemplo descrito no caso a seguir. CASO Figura 2 - O impeachment é um dos institutos nos quais se materializa o sistema de freios e contrapesos. Fonte: Samuel Acosta, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777_… 8/31 O processo legislativo ordinário da Constituição brasileira de 1988 é um exemplo da separação de poderes com mecanismos de freios e contrapesos. A primeira fase, da iniciativa, é compartilhada entre parlamentares, presidente da República, Supremo Tribunal Federal, Tribunais Superiores, procurador-geral da República e, inclusive os cidadãos, que podem propor projetos de lei de iniciativa popular. A segunda fase, constitutiva, inicia-se com o poder legislativo, por se tratar do cerne da função de legislar, com a análise, a deliberação e a votação. Exerce-se, aí, o controle recíproco entre as duas casas do Congresso Nacional, o Senado, composto de representantes dos estados-membros, e a Câmara dos Deputados, composta de representantes do povo. Como última etapa da fase constitutiva, o chefe do Poder Executivo pode sancionar ou vetar, no todo ou em parte, o projeto de lei aprovado pelo Poder Legislativo. No caso de veto, o projeto deve ser devolvido ao Congresso Nacional que, em sessão conjunta da Câmara e do Senado, pode manter ou derrubar o veto presidencial. Sancionado o projeto pelo presidente da República, ou rejeitado o veto pelo Congresso Nacional, passa-se à terceira fase, a complementar, para promulgação e publicação da lei. Neste momento, integrando o ordenamento jurídico, o Poder Judiciário, se acionado, ingressa nesta relação entre os poderes, por meio do controle de constitucionalidade, por meio do qual pode julgar inconstitucional a lei aprovada pelo Poder Legislativo e sancionada pelo Poder Executivo, retirando-a do ordenamento. Como se vê, há uma separação entre as funções dos poderes legislativo, executivo e judiciário, mas não de forma estanque e, sim, interdependente, por meio de 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777_… 9/31 mecanismos de freios e contrapesos que levam um poder a controlar eventuais abusos dos outros (BRASIL, 1988). Dessa forma, cada um dos três poderes vai exercer funções que, a rigor, seriam típicos de outros poderes. Esses mecanismos de freios e contrapesos que conformam a relação entre os poderes objetivam evitar a concentração do poder (inclusive do legislativo, que pode desaguar em uma tirania da maioria). Um poder vigia e controla o outro e, com isso, garante-se a liberdade. Menos preocupada com o absolutismo de Montesquieu, essa visão da separação dos poderes foi mais capaz de se espalhar, adequando-se a distintas realidades, com necessidade de cooperação entre os poderes ou, ao menos, de interdependência. 4.2 Estado de Direito Os mecanismos de freios e contrapesos buscam promover uma independência orgânica e harmônica entre os poderes para garantir um equilíbrio capaz de proteger os governados contra abusos do governante. No entanto, apenas isso não basta. É necessário contar também com um parâmetro para avaliar a adequação dos atos dos governantes. A conveniência de um governo de leis em vez de um governo de homens já era uma preocupação na Antiguidade (BOBBIO, 2001) e foi uma das lições que o constitucionalismo antigo legou para o constitucionalismo moderno, permitindo conceber o Estado de Direito e a proteção do povo, como elemento do Estado, contra os arbítrios do governante (FERREIRA FILHO, 2012). Ainda de acordo com Ferreira Filho (2012), nessa fórmula de um governo de leis e não de homens está consubstanciada a ideia-chave de Estado de Direito e seus dois principais valores, justiça (como decorrência natural da razão impressa na lei) e segurança (como proibição ao arbítrio do governante imposta justamente pelo anteparo da lei, que o limita e que não pode ser simplesmente ignorada porque oriunda de uma vontade superior). 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 10/31 Estes valores são alcançados por três princípios que caracterizam o Estado de Direito: o princípio da legalidade (que, de um lado, reflete a liberdade, ao permitir que os indivíduos façam tudo que a lei não proíba, e, de outro, a segurança, ao criar uma esfera de proteção a qual não pode ser adentrada nem mesmo pelo Estado); o princípio da igualdade (que garante um tratamento equânime da lei decorrente de sua generalidade) e o princípio da justicialidade (que garante a possibilidade deimposição judicial da lei no Estado de Direito). Como fruto das reivindicações liberais do Estado Moderno, o Estado de Direito está ligado ao Estado Moderno e ao liberalismo político, aspectos que devem ser também considerados para sua melhor compreensão, ao lado das demais expressões do Estado de Direito que seguiram, como Estado social de Direito e Estado democrático de Direito. 4.2.1 Estado Moderno Na Idade Média (476-1453), vigiam condições propícias para uma relação de mando direta entre governante e governados, e não para uma relação que pudesse ser intermediada pela lei e com garantias contra o abuso. Assim, a aspiração à criação de um império pelo cristianismo, a fragmentação política decorrente das invasões bárbaras e uma organização econômica pautada pela propriedade da terra e pelas relações sócias-estratificadas, por influência do feudalismo, de um lado, caracterizam o que se pode chamar de Estado Medieval, e, de outro, levaram a deficiências na organização política que explicam o surgimento e as características do Estado Moderno (DALLARI, 2013). Nessa perspectiva, o Estado Moderno pode ser considerado como o início da luta por ascensão e afirmação de uma como nova classe social (BITTAR, 2016), demandando unidade, ordem e autoridade, de modo a propiciar o desenvolvimento do novo modelo de vida econômica e social (DALLARI, 2013). A ideia de unidade levou à afirmação de um poder soberano sobre um determinado território, formando as monarquias nacionais, cuja organização política estava centrada na ideia de nação, como homogeneidade do grupo social, e de soberania, como hegemonia do poder do Estado, neste momento, identificado com o monarca absoluto. Diferentemente do Estado Medieval, no qual Estado e sociedade se confundiam e se equilibravam em força, no Estado Moderno, o Estado assume o poder absoluto, toda a soberania atribuída ao 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 11/31 monarca por uma legitimidade divina, com unidade e autoridade capazes de permitir a intervenção nos domínios econômicos e sociais, na medida em que se fizesse necessário (MORAES, 2018). Assim, o surgimento do Estado Moderno foi a primeira fase de um processo de ascensão da burguesia e a implantação de uma nova ordem econômica e social que criou o conjunto de condições necessárias para a mudança política e o estabelecimento de um governo que atendesse às ideias liberais então vigentes. 4.2.2 Estado liberal de Direito A partir do desenvolvimento do comércio e da franca ascensão da burguesia como nova classe social detentora do poder econômico, surgiram também as ideias do liberalismo econômico e político, centradas na liberdade e no individualismo e não condizentes com o poder absoluto do Estado. O Estado Moderno, então, passa a se adequar a esta nova realidade, e o Estado de Direito está diretamente ligado às reivindicações do liberalismo político do século XVIII, assim como com as revoluções liberais. Isso quer dizer que, em seu surgimento histórico, a expressão Estado de Direito equivaleria ao que hoje se denomina Estado liberal de Direito: um Estado com as típicas características liberais, centrado no império da lei, na separação de poderes e na proteção dos direitos individuais (SILVA, 2005), pontos necessários à garantia dos anseios políticos e econômicos da burguesia ascendente. Benjamin Constant (1767-1830) foi um pensador liberal francês. Em 1819 proferiu o discurso “Da liberdade dos antigos comparada à dos modernos”, que se tornou famoso, e no qual procurou demonstrar que os modelos políticos então vigentes eram anacrônicos quando consideradas as sociedades comerciais. Assim, Constant observa que, na liberdade dos antigos, o foco estava no exercício coletivo, na dimensão pública, enquanto que a liberdade dos modernos está focada no indivíduo, na dimensão privada. Dessa forma, o perigo da liberdade dos antigos reside no risco de opressão do indivíduo; e o perigo da liberdade dos modernos é a não- VOCÊ QUER LER? 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 12/31 participação política. Para conferir o texto integral do discurso, acesse o endereço: <http://www.fafich.ufmg.br/~luarnaut/Constant_liberdade.pdf (http://www.fafich.ufmg.br/~luarnaut/Constant_liberdade.pdf)>. Ocorre que, desejando dar um passo a mais em direção à eliminação de outras injustiças, as sociais, mas sem querer abandonar as conquistas liberais de proteção dos direitos individuais e liberdade, por meio da garantia da lei, foi necessário, primeiramente, ressignificar o Estado de Direito e, depois, considerar um específico qualificativo. Quanto ao primeiro movimento de ressignificação, descolou-se do Estado de Direito a perspectiva meramente individualista e abstencionista, herdada do liberalismo econômico, mantendo, contudo, a ideia de um governo de leis, com valores ideais de justiça e segurança, contorno considerado na explicação acima. Quanto ao segundo movimento de qualificação, incluiu-se a expressão social. O Estado social de Direito, agora, pode se contrapor ao Estado liberal de Direito (SILVA, 2005). Ou seja, o Estado liberal de Direito atendeu à filosofia política do momento em que foi implantando, protegendo os indivíduos contra o abuso do poder por meio da instalação de um governo de leis. Mas novas transformações sociais e econômicas tornaram essa resposta estatal insuficiente para a nova configuração da sociedade. 4.2.3 Estado social de Direito Assim, o Estado social de Direito surge como o Estado pautado na lei, mas que não se contenta com a neutralidade e a abstenção do Estado, assim como as injustiças sociais dela decorrentes, buscando, então, atribuir novas funções ao Estado de Direito. Não bastando a expressão do Estado de Direito como garantidor de uma igualdade meramente formal, o Estado social de Direito almeja a igualdade material das pessoas em situações de desigualdade. Busca, em uma palavra, não apenas garantir justiça formal, mas realizar justiça social, por meio da satisfação de direitos sociais (SILVA, 2005). http://www.fafich.ufmg.br/~luarnaut/Constant_liberdade.pdf 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 13/31 No filme Eu, Daniel Blake (I, Daniel Blake, 2016), depois de um ataque cardíaco e sem poder trabalhar, Daniel Blake busca receber uma espécie de auxílio-doença concedido pelo governo, mas esbarra em problemas da burocracia governamental. Nesse contexto, a obra dirigida por Ken Loach discute o Estado social de Direito e a efetivação de justiça social e material por meio de direitos, com suas vantagens e problemas. A qualificação social “sinaliza o propósito de corrigir/superar o individualismo clássico de caráter liberal pela afirmação dos direitos sociais, com a consequente realização da justiça social” (MENDES; COELHO; BRANCO, 2010, p. 202-203). Assim, o Estado social de Direito é aquele que busca alcançar a justiça social não a qualquer custo, mas por meio do Direito, por meio da inscrição de direitos sociais, econômicos e culturais, nas Constituições escritas (que, antes, serviam apenas como documento político contra o poder absoluto) e, consequentemente, pela expansão da aplicabilidade desses direitos e, até mesmo, da sua justicialidade, isto é, da possibilidade de buscar sua concretização judicial por meio de decisões do Poder Judiciário. VOCÊ QUER VER? 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 14/31 No Estado social de Direito, a doutrina da “questão social” é levada ao patamar constitucional, com a imposição de obrigações jurídicas ao Estado. O Estado deve zelar pelo bem-estar do povo, pormeio de medidas econômicas e sociais, as quais são tomadas por meio de lei, como instrumento de política. Enfim, o Estado passa a buscar a realização material da justiça, mas não abandona o Direito, ao contrário, vale-se dele para a sua nova função. 4.2.4 Estado democrático de Direito Na trilha do problema enfrentado pelo Estado social de Direito, no sentido da materialização da justiça social, surgiu uma outra qualificação: o Estado democrático de Direito. Segundo Bittar (2016, p. 52), a ideia é “reunir em si as qualidades que se podem extrair como positivas seja do modelo de Estado Liberal, seja do modelo de Estado Social, sem recair nem se confundir com eles”, promovendo “um aprimoramento crítico do Estado de Bem-Estar Social”. Figura 3 - O Estado social de Direito visa à realização de justiça social por meio das leis. Fonte: De Visu, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 15/31 Não se trataria, pois, de uma mera entrega de direitos sociais pelo Estado, de cima para baixo, mas de busca de emancipação social via produção de “[...] um grau de cidadania capaz de guindar o desenvolvimento comunicativo social como forma de mobilização e ativismo da esfera pública participativa e cidadã” (BITTAR, 2016, p. 58). São esses fatores que, somados, se tornam elementos determinantes para a emancipação social, guiada por uma forma aprimorada de Estado social. Silva (2005, p. 118) entendeu se tratar de uma perspectiva socializante (ainda que não em rumo direto ao socialismo), com um [...] Estado de legitimidade justa (ou Estado de Justiça material), fundante de uma sociedade democrática, qual seja a que instaure um processo de efetiva incorporação de todo o povo nos mecanismos do controle das decisões, e de sua real participação nos rendimentos da produção [grifos do autor]. Ferreira Filho (2012), por sua vez, destaca que também no Estado democrático de direito, o qualificativo democrático se aplica ao Estado.). Isto quer dizer que é o princípio democrático que deve reger esse Estado, comungado da ideia de um regime político particular – a democracia – que deva informar todas as esferas de atuação do Estado, bem como toda as ações de seus agentes. Figura 4 - O Estado democrático de Direito busca não apenas a efetiva participação do povo, mas sua plena realização. Fonte: Nelosa, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 16/31 4.3 Fundamentos da democracia Na Antiguidade, democracia era uma das formas de governo que levava em consideração o governo dos muitos, o governo do povo, ora considerada uma forma boa, ora uma forma má de governar, com base no modo de exercer o poder. Na modernidade, especialmente no embate da doutrina política liberal contra a monarquia absoluta, compreendendo-se a forma de governo como o modo de instituição do poder político e da relação entre governantes e governados (SILVA, 2005), o termo democracia passou a ser compreendido, em linhas gerais, sob outra perspectiva: a da participação dos destinatários das decisões políticas na formação da vontade estatal, como princípio informativo de todas as demais searas da vida política. VOCÊ SABIA? Os Estados Unidos da América adotam como forma de governo a república e como sistema de governo o presidencialismo, de modo que, periodicamente, elegem seu presidente. Quanto ao regime de governo, são uma democracia. Mas, diferentemente do que ocorre no Brasil, a eleição presidencial norte-americana é indireta, de modo que, não necessariamente, o candidato com mais votos populares será o vencedor da eleição. Para saber mais, acesse: <http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37902090 (http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37902090)>. Ocorre que muitas são as definições e as classificações tipológicas, parecendo pouco útil apenas resumir um inventário delas. Diante disso e, considerando que, apesar de variantes (democracia participativa, democracia deliberativa etc.), a democracia representativa ainda é (ao menos, nos Estados democráticos ocidentais) o meio efetivo básico de realização do princípio democrático – isto é, de possibilitar que os cidadãos sejam ouvidos e façam parte do processo de tomada das decisões políticas fundamentais da comunidade –, parece ser um bom recorte metodológico para seguir em nosso estudo. http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37902090 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 17/31 É imprescindível, pois, dedicar maior reflexão sobre o papel da representação política na democracia, buscando perquirir se ainda é capaz, na complexa sociedade contemporânea, de atender a formulação de Abraham Lincoln (apud CAGGIANO, 1995, p. 35), no discurso de Gettysburg, de 19 de novembro de 1863: “[...] um governo do povo, pelo povo e para o povo.” A seguir, abordaremos a representação política no Estado democrático. Acompanhe! 4.3.1 Democracia e representação política Democracia é comumente compreendida como o governo do povo, mas isso pode se dar de várias formas e se afigura imprescindível entender qual o alcance dessa expressão, ou seja, qual o nível de participação política do povo nas decisões estatais para caracterizar um governo democrático. Kelsen (2000, p. 140) anota que “[o] significado original do termo ‘democracia’, cunhado pela teoria política da Grécia Antiga, era o de ‘governo do povo’ (demos = povo, kratein = governo)”, cuja essência “era a participação dos governados no governo, o princípio de liberdade no sentido de autodeterminação política”, significado com o qual foi incorporado pela moderna civilização ocidental, a partir das revoluções americana e francesa do século XVIII. Ressalta o jusfilósofo que a ideia de um governo do povo, tanto na antiguidade clássica quanto na civilização moderna, é desejada porque, supostamente, seria um governo para o povo. Todavia, este aspecto não é suficiente para caracterizar a democracia, porquanto [...] um governo pode autoconsiderar-se um governo para o povo – e, na verdade, é o que se dá com todos os governos – ainda que possa não ser, absolutamente, um governo do povo”. Assim, a característica essencial da democracia é “a participação no governo, ou seja, na criação e aplicação das normas gerais e individuais da ordem social que constitui a comunidade (KELSEN, 2000, p. 140-141). VOCÊ O CONHECE? 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 18/31 Hans Kelsen (1881-1973) foi um jurista austríaco com importantes contribuições para a teoria geral do direito, a teoria do estado, a filosofia do direito e o direito constitucional. Sua “Teoria Pura do Direito” (1999) é considerada a primeira grande sistematização do conhecimento jurídico e objetivava uma compreensão científica do direito, fora da política e da axiologia (BARACHO, 1979). No campo político-constitucional, participou dos trabalhos preparatórios da Constituição austríaca e desenvolveu um modelo de controle de constitucionalidade que, até os dias atuais, é referido como kelseniano e utilizado em muitos países. Para saber mais, acesse: <https://www.direito.ufmg.br/revista/index.php/revista/article/view/823 (https://www.direito.ufmg.br/revista/index.php/revista/article/view/823)>. No entanto, democracia, sobretudo em sua concepção atual, não pode ser considerada um termo unívoco. Ao contrário, consoante ressalva Caggiano (1987, p. 14): [...] democracia configura, na realidade, uma categoria histórico-social, ajustando-se, nas suas variadas nuanças, à condição de cada povo, às peculiaridades de cadauma das sociedades, donde a extrema dificuldade de uma conceituação precisa. Daí, também, a pluralidade de conceitos diferentes sobre o que se deva entender por democracia. Nessa mesma perspectiva, Ferreira Filho (2003, p. 80) observa que a doutrina distingue vários tipos de democracia, isto é, “vários são os sistemas pelos quais se procura realizar o ideal de fazer coincidir, no máximo possível, os governantes e os governados. Isto para que todo ser humano continue livre no Estado, sujeitando- se a um poder de que também participe”. https://www.direito.ufmg.br/revista/index.php/revista/article/view/823 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 19/31 Partindo desta ideia, pois, da multiplicidade de tipos, Ferreira Filho (2003) identifica dois tipos puros – a democracia direta e a democracia indireta – e um tipo misto – a democracia semidireta –, ressalvando-se quanto a esta que pode ser compreendida como uma modalidade de democracia indireta. Embora a democracia direta seja tida quase como um fato histórico, de acordo com Ferreira Filho (2003, p. 81), o aspecto diferenciador entre os tipos puros de democracia é a tomada das decisões fundamentais diretamente “[...] pelos cidadãos em assembléia [..]” (democracia direta) ou “[...] por meio de ‘representante’ ou ‘representantes’ que, escolhidos pelo povo, atuam em seu nome e presumidamente no seu interesse” (democracia indireta). Assim, o modelo clássico de democracia indireta é a democracia representativa. A necessidade de representação decorre “[...] da inviabilidade prática de aplicação do governo direto – teoricamente a expressão mais pura do princípio democrático” (CAGGIANO, 1987, p. 14, grifo do autor) nos tempos modernos, fenômeno já observado por Montesquieu (1996), ao destacar que a democracia direta Figura 5 - Na democracia, a formação da vontade política é estruturada de baixo para cima, a partir do povo. Fonte: M-SUR, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 20/31 corresponde ao governo dos homens livres, sendo impossível, porém, exercê-la nos grandes Estados – assim como é inconveniente nos pequenos –, o que justifica a representação. Até mesmo Rousseau, o pai da democracia moderna (BOBBIO, 2000) e que rejeita a ideia de representação, reconhece essa dificuldade ao destacar que, considerando o termo com rigor, nunca houve democracia, seja porque há uma contrariedade à ordem natural (no sentido de que as minorias não querem apenas ser governadas), seja porque as pessoas não podem dedicar todo seu tempo a cuidar dos negócios públicos. E afirma, defendendo a democracia: “Se houvesse um povo de deuses, haveria de governar-se democraticamente. Um governo tão perfeito não convém aos homens” (ROUSSEAU, 1999, p. 83-84). Cumpre ressaltar, no entanto, que, apesar disso, o teórico da soberania popular não admite a possibilidade de representação nos negócios públicos, porque, sendo a soberania inalienável, uma vez que consiste na vontade geral, é também irrepresentável. E conclui, de maneira veemente: Os deputados do povo não são, pois, nem podem ser os seus representantes; são simples comissários, e nada podem concluir definitivamente. Toda lei que o povo não tenha ratificado diretamente é nula, não é uma lei. O povo inglês pensa ser livre, mas está redondamente enganado, pois só o é durante a eleição dos membros do Parlamento; assim que estes são eleitos, ele é escravo, não é nada. Nos breves momentos de sua liberdade, pelo uso que faz dela bem merece perdê-la (ROUSSEAU, 1999, p. 114). Sem embargo do posicionamento de Rousseau, vê-se, por um lado, que a democracia ainda é a melhor forma de tomada das decisões políticas fundamentais na complexa sociedade moderna e, por outro, que, em decorrência de dificuldades há muito identificadas, “[...] a participação dos cidadãos na realização dos objetivos globais, pelo Estado, se opera através da mecânica da representação” (CAGGIANO, 1987, p. 15), sem que, com isso, a chamada democracia representativa desnature o princípio democrático em si. Mas, embora a democracia representativa ainda seja a principal forma de tomada de decisões, ao menos nas sociedades ocidentais contemporâneas, continuamos buscando novas e mais efetivas formas de implementação do ideal democrático. 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 21/31 Assim, a busca da implementação da democracia, não apenas como um ideal político ou uma garantia formal de voto, mas como um fim perseguido pelo Estado de Direito de efetiva participação política dos cidadãos nas decisões estatais, é o principal desafio da democracia representativa, em “[...] um novo modelo de consensualidade e subsidiariedade do Estado, em desdobramento do pluralismo social, intervenção no domínio econômico e participação na vida política”, convertendo a organização política em “instrumento a ser conduzido e controlado pela sociedade (MORAES, 2018, p. 12). Nessa trilha é que o Estado democrático de Direito busca orientar uma leitura da representação política, da legalidade e da igualdade à luz do princípio democrático. E as Constituições têm sido o principal instrumento nesta tarefa, especialmente no que diz respeito às regras de acesso ao poder político. 4.4 Fundamentos de direito eleitoral Por fim, nesse movimento de concretizaçãocumpre tratar dos fundamentos do direito eleitoral brasileiro, analisando os institutos do direito aplicáveis, bem como, especificamente, as normas constitucionais que norteiam nosso sistema. Com isso, já tendo, anteriormente, estudado a democracia como regime político, cujos princípios se irradiam por todas as demais esferas jurídicas e políticas estatais, poderemos, agora, identificar os mecanismos de funcionamento de nossa democracia na prática político-eleitoral. Nessa trilha, cabe-nos avaliar os direitos políticos como garantia fundamental, o estatuto constitucional dos partidos políticos e os sistemas eleitorais utilizados para a escolha dos governantes. Iniciemos pelos direitos políticos, pois são a base de um regime de governo democrático, já que materializam a soberania popular, englobando a participação em todo o processo político, desde sua forma principal, via sufrágio, com direito a voto periódico, livre, direto e secreto, até a participação no processo legislativo (plebiscito, referendo e iniciativa popular), passando pela autonomia partidária (MENDES; COELHO; BRANCO, 2010). 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 22/31 Conforme destaca Moraes (2017, p. 429): “[...] o direito ao sufrágio é a essência do direito político, expressando-se pela capacidade de eleger e de ser eleito [...]”, podendo ser universal ou restrito. As formas restritas de sufrágio são a capacitária (exigência de uma específica qualificação do eleitor) ou censitária (exigência de uma certa condição econômica para o exercício do voto). No Brasil, o sufrágio é universal desde 1985 (Emenda Constitucional n. 25/1985), quando foi afastada a proibição de voto do analfabeto, o qual, atualmente, sob a égide da Constituição de 1988, é facultativo. Assim, alistáveis são as pessoas que possuem capacidade eleitoral ativa para votar e eleger seus mandatários. No Brasil, são alistáveis os cidadãos com mais de 16 anos de idade, mas apenas para os maiores de 18 anos o alistamento eleitoral (apresentação e qualificação junto à Justiça Eleitoral para verificação dos requisitos necessários) e o voto são obrigatórios, sendo facultativos para os que têm entre 16 e 18 anos, os maiores de 70 anos e os analfabetos. Não podem votar osestrangeiros e aqueles que estejam exercendo o serviço militar obrigatório (os conscritos). Figura 6 - O sufrágio é a principal forma de participação do povo no processo político. Fonte: Lightspring, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 23/31 Quanto ao voto em si, trata-se de um direito público subjetivo, exercido por meio da escolha direta do representante (voto direto), caracterizado pela personalidade (somente a própria pessoa pode votar); pela obrigatoriedade (como regra); pelo sigilo (nem o eleitor nem terceiros, incluindo o Estado, devem revelar o voto do primeiro); pela periodicidade (tratando-se o Brasil de uma república presidencialista, todos os cargos eletivos possuem mandato temporário). VOCÊ SABIA? O art. 224 do Código Eleitoral brasileiro prevê a necessidade de nova eleição quando se verificar a nulidade de mais da metade dos votos em determinada eleição. Ocorre que nulidade do voto diz respeito à constatação de fraude nas eleições (como compra de votos, por exemplo) e não ao voto anulado pelo próprio eleitor na urna. A única consequência para os votos nulos (assim como para os brancos) é sua exclusão da contagem dos votos válidos, não influindo na escolha do mandatário. Para conferir, visite o sítio eletrônico do Tribunal Superior Eleitoral: <http://www.tse.jus.br/o-tse/escola- judiciaria-eleitoral/publicacoes/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-4- ano-3/voto-nulo-e-novas-eleicoes (http://www.tse.jus.br/o-tse/escola-judiciaria- eleitoral/publicacoes/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-4-ano- 3/voto-nulo-e-novas-eleicoes)>. No que tange à capacidade eleitoral passiva, isto é, à elegibilidade, deve o cidadão que pretende ser candidato atender, concomitantemente, a um conjunto de condições para que lhe seja permitido pelo ordenamento aceder à disputa. Assim, a participação em um pleito eleitoral depende do preenchimento de requisitos gerais (as condições de elegibilidade) e a não incidência de uma das hipóteses de inelegibilidade. No Brasil, as condições positivas de elegibilidade são: nacionalidade brasileira (como regra, nato ou naturalizado, à exceção dos cargos do art. 12, § 3º, da Constituição); pleno exercício dos direitos políticos (que não podem ter sido perdidos ou suspensos); alistamento eleitoral (apresentação e qualificação junto à Justiça Eleitoral); domicílio eleitoral na circunscrição em que o candidato http://www.tse.jus.br/o-tse/escola-judiciaria-eleitoral/publicacoes/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-4-ano-3/voto-nulo-e-novas-eleicoes 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 24/31 concorrerá e filiação a um partido político (não se admitindo, no Brasil, a candidatura independente). Há, ainda, limites de idade (verificadas, como regra, até a data da posse) que, igualmente, condicionam a elegibilidade com base nos respectivos cargos almejados: 35 anos para presidente, vice-presidente da República e senador; 30 anos para governador e vice-governador de Estado e do Distrito Federal; 21 anos para deputado federal, deputado estadual ou distrital, prefeito e vice-prefeito; e 18 anos para vereador. As inelegibilidades, tendentes a proteger a normalidade e a legitimidade das eleições, podem ser classificadas em absolutas ou relativas. As absolutas decorrem do impedimento para a disputa de qualquer cargo eletivo em virtude de uma determinada condição que detenha o postulante, abrangendo, em nosso sistema político-eleitoral, os inalistáveis (estrangeiros e conscritos) e os analfabetos. As inelegibilidades relativas dizem respeito a certas restrições em relação a pleitos ou mandatos em decorrência de alguma situação especial. No Brasil, as inelegibilidades relativas podem se dar por motivos funcionais (a ocupação de alguns cargos impede a disputa eleitoral, gerando a impossibilidade total de disputa, caso da segunda reeleição para o mesmo cargo do Executivo, ou a necessidade de desincompatibilização, isto é, a saída do cargo em período de tempo hábil antes do pleito); por motivos de casamento, união estável ou parentesco ou inelegibilidade reflexa (os cargos de chefia do Executivo federal, estadual e municipal impedem que cônjuge, companheiro e parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, sejam eleitos nos territórios das circunscrições dos titulares, salvo se candidatos à reeleição); pela condição de militar (os militares não podem exercer mandato eletivo concomitantemente com sua atividade militar) e por previsões legais outras – atualmente, constantes da Lei Complementar n. 64/1990, merecendo especial menção suas alterações promovidas pela Lei da Ficha-Limpa, Lei Complementar n. 135/2010, que introduziu novos casos de inelegibilidades com vistas a proteger a probidade administrativa e a moralidade (MORAES, 2017). Os partidos políticos estão no centro do sistema político-eleitoral, desenvolvendo um conjunto de atividades, dentre as quais uma das mais importantes é canalizar demandas da sociedade, de modo a formar identidades com os eleitores para conseguir a vitória eleitoral de seus candidatos. A filiação partidária, mencionada 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 25/31 anteriormente, como condição de elegibilidade no Brasil, dá o tom da importância atribuída aos partidos políticos, como instrumentos de consecução dos fins do Estado democrático de direito. Embora sejam frequentemente criticados em muitos países, Sartori (1982, p. 46- 47) defende os partidos baseado em três premissas: os partidos não são facções; um partido é parte de um todo; e, por fim, partidos são canais de expressão. Assim, em primeiro lugar, diferentemente das facções, os partidos não são um mal. Enquanto facções dizem respeito a conflitos pessoais egoístas, os partidos buscam vantagens coletivas – e não exclusivamente privadas –, mesmo quando as motivações de seus líderes sejam mesquinhas. Os partidos são instrumentos funcionais que desempenham papéis no sistema e ligam o povo a um governo, ainda que, eventualmente, possam ser disfuncionais e desvirtuados. Em segundo lugar, se a sociedade é plural (e o pluralismo político é, inclusive, um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, conforme art. 1º, V, da Constituição de 1988), para formar um todo, deve ser composta de várias partes. Os partidos podem representar essas múltiplas partes e, por não serem facções, podem ainda governar visando ao interesse geral. Finalmente, em terceiro lugar, o principal papel dos partidos é funcionar como instrumentos de representação do povo e de expressão de suas reivindicações, organizando a vontade pública por meio da canalização dos interesses coletivos (SARTORI, 1982). No Brasil, além da filiação partidária como condição de elegibilidade, o caráter nacional dos partidos políticos, sua autonomia e a fidelidade partidária também demonstram sua importância. A autonomia partidária (para definir sua estrutura, organização e funcionamento) dá-lhes liberdade para perseguirem os diversos interesses plurais da sociedade. O caráter nacional (apoio de eleitores correspondentes a, ao menos, 0,5% dos votos válidos da eleição anterior para a Câmara dos Deputados, distribuídos em um terço ou mais dos Estados) e a fidelidade partidária (reconhecimento de que os mandatos pertencem aos partidos, com o direito de retomá-los em caso de transferência de partido ou cancelamento da filiação partidária fora do prazo ou sem justa causa) apontam para a sua função de canalizadores das vontades coletivas parciais, mas, necessariamente, ligados ao todo, ao interesse geral quando no governo. 21/06/2021 Ciência Política e doEstado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 26/31 Finalizando o breve estudo sobre os fundamentos constitucionais do direito eleitoral, vale apresentar os sistemas eleitorais, conjunto de princípios e procedimentos para organizar as eleições e atribuir os mandatos aos representantes eleitos (ESMERALDO, 2013). Embora encontremos variações, dados os ajustes e desenhos que se podem promover, basicamente, os sistemas eleitorais contemplam dois tipos, o sistema majoritário e o sistema proporcional. O sistema majoritário considera vencedor das eleições o candidato que obtiver maioria dos votos, a qual pode ser absoluta (mais da metade dos votos) ou relativa (maior número de votos dentre os postulantes ao cargo). No Brasil, nas eleições para senadores (e suplentes) e para prefeitos (e vice-prefeitos) de cidades com menos de duzentos mil eleitores, utilizamos o sistema majoritário de maioria simples (ou relativa), ao passo que, para prefeitos (e vice-prefeitos) de cidades com mais de duzentos mil eleitores, governadores (e vice-governadores) e presidente da República (e vice-presidente), adotamos o sistema majoritário de maioria absoluta, razão pela qual se faz necessário realizar um segundo turno apenas entre os dois candidatos mais votados quando nenhum alcança a maioria absoluta no primeiro turno. O sistema proporcional, por outro lado, busca obter não apenas os candidatos mais votados, mas, sim, uma representação proporcional à distribuição dos votos para os partidos políticos e coligações. Assim, com base no cálculo do quociente eleitoral (número total de votos válidos dividido pelo número de cadeiras disputadas), tem-se a quantidade de votos mínima para que um partido ocupe uma vaga, e com base no quociente partidário (divisão do total dos votos válidos de cada partido ou coligação pelo quociente eleitoral), tem-se o número total de Figura 7 - Os partidos políticos são instituições centrais da democracia que canalizam anseios coletivos. Fonte: Joseph Sohm, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 27/31 cadeiras que cada partido ou coligação alcançou. Se o sistema for de lista aberta, estas vagas são preenchidas pelos candidatos mais votados dentro do partido ou da coligação até se esgotarem as cadeiras que lhe são atribuídas. Se o sistema for de lista fechada, as cadeiras obtidas são ocupadas pelos candidatos previamente indicados em uma lista ordenada pelos partidos. No Brasil, utilizamos o sistema eleitoral proporcional de lista aberta para as eleições legislativas (à exceção do Senado Federal), abrangendo a Câmara dos Deputados, as Assembleias Legislativas estaduais e as Câmaras de Vereadores municipais. Síntese Concluímos o estudo pelo qual foi possível analisar os mecanismos de freios e contrapesos; comparar os tipos de Estado de Direito; debruçar-se sobre a ideia de democracia representativa e conhecer os principais fundamentos do direito eleitoral. Além de adquirir esses conhecimentos, neste capítulo você teve a oportunidade de: Neste capítulo, você teve a oportunidade de: conhecer os mecanismos de freios e contrapesos que tornam a separação de poderes um meio efetivo de controle do poder pelo compartilhamento de funções; comparar Estado liberal de Direito e Estado social de Direito, o primeiro buscando uma proteção às liberdades individuais, e o segundo o estabelecimento de justiça material; reconhecer a democracia representativa como a forma de tomada das decisões políticas fundamentais na complexa sociedade moderna; identificar os direitos políticos, incluindo o voto e as capacidades eleitorais ativa e passiva, os partidos políticos e os sistemas eleitorais majoritário e proporcional. 21/06/2021 Ciência Política e do Estado https://anhembi.blackboard.com/webapps/late-course_content_soap-BBLEARN/Controller?ACTION=OPEN_PLAYER&COURSE_ID=_665777… 28/31 Bibliografia AMARAL JÚNIOR, J. L. do. 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