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TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 fonte: Cap. 20 (Bogliolo), Cap. 23 (Robbins), Cap. 197, 226 (Cecil) TEMA: NEOPLASIAS MAMÁRIAS E DE TIREOIDE 1-SOBRE OS CARCINOMAS DE MAMA DEFINIR: ● CLASSIFICAÇÃO: Quase todas as neoplasias malignas da mama são adenocarcinomas e, com base na expressão de receptores de estrogênio e HER2, podem ser divididas em três subgrupos biológicos principais: receptores de estrogênio (RE)-positivos, HER2-negativos (50% a 65% dos tumores); HER2-positivos (10% a 20% dos tumores, que podem ser tanto RE-positivos quanto RE-negativos), e RE-negativos, HER2-negativos (10% a 20% dos tumores). → Carcinomas RE-positivos e HER2-negativos: Constituem 50% a 65% dos casos, herdaram mutações de linhagem germinativa no BRCA2, mesmas alterações genéticas são geralmente encontradas na atipia epitelial plana e na hiperplasia ductal atípica. São denominados “luminais”, já que são semelhantes às células luminais mamárias normais em termos de padrão de expressão mRNA, que é dominada por genes que são regulados pelo estrogênio. → Carcinomas HER2-positivos: 20% dos cânceres de mama e podem ser tanto RE-positivos quanto RE-negativos, são mutações germinativas no TP53. Um terço ou mais desses carcinomas responde completamente a anticorpos que se ligam e bloqueiam a atividade do HER2. Trastuzumab (Herceptin), um anticorpo monoclonal humanizado que se une especificamente ao HER2 e o inibe, melhore de maneira notável o prognóstico de pacientes com superexpressão de HER2, nem todos os carcinomas HER2-positivos respondem ao tratamento, alguns até se tornam resistentes a ele. → Carcinomas RE-negativos e HER2-negativos: Aproximadamente 15%, é independente das alterações mediadas pelos receptores de estrogênio. São os tipos de tumores mais comuns em pacientes com mutações germinativas no BRCA1, os tumores esporádicos desse tipo geralmente têm mutações que acarretam perda de função no TP53. Tipo basal. Mais comuns em mulheres jovens, antes da menopausa, e também em afro-americanas e hispânicas. Esses carcinomas podem metastatizar mesmo quando ainda são pequenos, devido à alta proliferação e ao rápido crescimento. Muitas vezes são detectados como massa palpável nos intervalos mamográficos. TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 - Carcinoma in situ: É definido como proliferação epitelial maligna restrita aos ductos ou dúctulos mamários sem ter invasão estromal. Graças ao uso da mamografia como método de rastreamento, a frequência do carcinoma in situ hoje chega a 25% de todos os cânceres da mama. Esses têm alta correlação com carcinoma ductal in situ, como microcalcificações agrupadas e pleomórficas, com distribuição segmentar. → Ductal in situ: é uma proliferação clonal de células epiteliais malignas, limitadas aos ductos e lóbulos pela membrana basal. O termo “ductal” foi utilizado para descrever essa lesão porque quando envolve os lóbulos, o ácino expandido assume uma aparência que lembra pequenos ductos. As células mioepiteliais estão presentes em lóbulos e ductos, apesar de poderem estar em menor número. O CDIS pode se disseminar pelo sistema ductal e produzir lesões extensas envolvendo um setor inteiro da mama. Com base no padrão arquitetural da neoplasia, a lesão pode ser classificada nos seguintes tipos: comedocarcinoma, cribriforme, micropapilar, papilar e sólido. Existem pouca definição dos padrões arquiteturais, coexistência de vários padrões na mesma lesão. Somente os tipos comedocarcinoma e micropapilar apresentam relevância clínica, o primeiro por se associar mais a focos de invasão e o segundo pela tendência à multicentricidade. Comedocarcinoma (ou carcinoma ductal in situ com comedonecrose) refere-se a tumor de alto grau nuclear associado à área de necrose extensa que ocupa o interior do ducto. A classificação em graus histológicos baseia-se sobretudo no grau nuclear e na presença ou ausência de necrose. O grau nuclear é determinado de acordo com o pleomorfismo nuclear, o tamanho do núcleo e a presença de nucléolo. Necrose só é considerada quando se visualizam pequenas ou grandes áreas de necrose do tipo comedo; necrose de células isoladas não é considerada para a classificação. Além de recidivar com maior frequência, o carcinoma in situ de alto grau tem maior tendência a desenvolver focos de invasão do estroma. CDIS: obs.: O carcinoma ductal in situ surgindo do sistema ductal da mama pode ascender até os ductos galactíferos e para a pele do mamilo sem romper a membrana basal. As células neoplásicas rompem a barreira normalmente estreita entre as células epiteliais escamosas, permitindo o extravasamento de fluido extracelular, formando uma crosta escamosa exsudativa. Doença de Paget do mamilo é uma manifestação rara do câncer de mama (1% a 4% dos casos) que se apresenta como uma erupção eritematosa unilateral com uma crosta escamosa. Prurido é comum, e a lesão pode ser confundida com eczema. As células de Paget são facilmente detectadas pela biópsia do mamilo ou em preparados citológicos do exsudato. TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 → Lobular in situ: é uma proliferação clonal de células dentro de ductos e lóbulos que crescem de uma maneira não coesa, geralmente devido à perda da proteína de adesão tumoral E-caderina. O termo “lobular” foi usado para descrever essa lesão porque a célula se dissemina mas não altera os espaços envolvidos, e, portanto, a arquitetura lobular subjacente é preservada. O CLIS é sempre um achado incidental de biópsia, já que não está associado a calcificações ou reações estromáticas que produzem densidades mamográficas. Representa 10 a 30% dos carcinomas in situ e quase sempre apresenta-se como lesão não palpável encontrada como achado incidental em mulheres na pré-menopausa. O risco de uma mulher com CLIS removido cirurgicamente desenvolver carcinoma invasor aumenta cerca de 1% ao ano. O aumento do risco vale para ambas as mamas, podendo o carcinoma que surge ser ductal ou lobular invasor. O CLIS apresenta alterações morfológicas e genéticas semelhantes às encontradas no carcinoma lobular invasor. O CLIS é um fator de risco para carcinomas invasivos. - Carcinomas invasivos: TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 → Ductal invasivo: O carcinoma ductal invasor (sem outra especificação, SOE), que é o tipo mais frequente de câncer da mama, representa um grupo heterogêneo de lesões que se caracterizam pela ausência de achados morfológicos que permitam enquadrá-las em um dos subtipos especiais. Entre os carcinomas ductais, pode-se encontrar todos os subtipos classificados de acordo com o padrão de expressão gênica (luminais, HER2/neu, basais e outros). O tumor apresenta-se como massa palpável, endurecida, em média com 2 a 3 cm de diâmetro. A lesão é bem visualizada na mamografia e manifesta-se por densidade irregular e microcalcificações frequentes. Macroscopicamente, trata-se de massa relativamente bem individualizada, de forma variável, com superfície de corte amarelada e consistência firme, contendo trabéculas que se irradiam a partir do centro da lesão. Esse aspecto macroscópico, semelhante a um caranguejo, foi uma das razões para a origem da palavra câncer. Estrias esbranquiçadas semelhantes a riscos de giz, às vezes observadas na superfície de corte, são decorrentes da elastose periductal e não da necrose, como era anteriormente interpretado. Quando o estroma é exuberante, o tumor é brancacento, muito duro e chamado carcinoma cirroso. → Lobular invasivo: O carcinoma lobular representa 10% dos carcinomas invasores da mama e tem bom prognóstico, com sobrevida de 10 anos em 80 a 90% das pacientes. Apesar desse aspecto favorável, o tumor tem maior tendência à bilateralidade e taxa elevada de recidiva sistêmica tardia, com metástases em diferentes locais. As variantes mostram perda de expressão de E-caderina, o que pode ser útil no diagnóstico diferencial com carcinoma ductal. Macroscopicamente, algumas lesões são firmes e estreladas, outras aparecem como “espessamento” difusoda mama. Ao microscópio, as células são relativamente pequenas, homogêneas, com padrão de crescimento difuso, infiltrando-se no estroma em forma de fila indiana, em que as células se dispõem entre as fibras colágenas, às vezes com padrão em alvo. Clinicamente, o carcinoma lobular invasor apresenta-se como massa palpável ou lesão difusa que produz pouca alteração na textura da mama, não sendo por isso detectada pela mamografia. A maioria dos carcinomas lobulares é do tipo luminal A; a variante pleomórfica pode ser luminal B ou do tipo HER2/neu. - Doença de Paget: É uma entidade clinicopatológica caracterizada por lesão eczematosa no mamilo causada por disseminação intraepidérmica de células malignas de carcinoma intraductal ou invasor subjacente. A doença de Paget pode ser sinal tanto de neoplasia localizada e curável como a primeira manifestação de carcinomas de mau prognóstico. Em 50% dos casos, a lesão subjacente é um carcinoma invasor ou intraductal extenso; em apenas 10% das pacientes, o tumor não é palpável e está confinado aos ductos logo abaixo do mamilo. O principal diagnóstico diferencial é com melanoma, que tem aspecto histológico semelhante. Em praticamente todos os casos da doença de Paget, suas células são positivas para a proteína codificada pelo gene HER2/neu, uma proteína de motilidade das células neoplásicas, por isso a expressão do HER2/neu parece relacionar-se com a capacidade de deslocamento das células no interior do sistema ductal. TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 - Carcinoma inflamatório: Carcinoma inflamatório refere-se a uma forma de apresentação clínica do carcinoma mamário e não a um subtipo histológico. O tumor tem grande importância clínica por produzir sinais semelhantes aos de uma inflamação aguda, como edema, vermelhidão e calor, podendo simular condições benignas (p. ex., abscessos, necrose gordurosa). Na maioria das vezes, trata-se de carcinoma pouco diferenciado e com péssimo prognóstico. - Carcinoma mamário masculino: Representa apenas 1% de todos os carcinomas mamários. História familiar, alterações hormonais, idade superior a 50 anos, exposição a radiações e obesidade são fatores de risco. Cerca de 4 a 14% dos casos estão relacionados com mutação no gene BRCA 2, e 3 a 8%, à síndrome de Klinefelter (homens com cópia extra do cromossomo X). Descarga mamilar e doença de Paget são formas relativamente comuns de apresentação clínica. O carcinoma da mama masculina é positivo para receptores de estrógeno. Carcinomas da próstata podem metastatizar na mama masculina e simular tumores primários. ● FISIOPATOLOGIA: Como em outras neoplasias, o câncer de mama é uma proliferação clonal que se origina de células com várias mutações genéticas, que são adquiridas por influência de exposições hormonais ou genes suscetíveis herdados. Em termos etiopatogenéticos, os carcinomas da mama podem ser divididos em dois grandes grupos: (a) carcinomas hereditários; (b) carcinomas não hereditários ou esporádicos. Os carcinomas hereditários representam 5 a 10% dos carcinomas da mama. Aproximadamente 12% dos casos de câncer de mama ocorrem devido à hereditariedade de um gene ou genes suscetíveis. A probabilidade de uma etiologia hereditária aumenta quando existem parentes de primeiro grau afetados, idade precoce, múltiplos cânceres ou membros da família com outros cânceres específicos. Os carcinomas associados a mutações no BRCA1 caracterizam-se por mostrarem-se, em geral, pouco diferenciados e, possuírem margens de crescimento expansivas, terem infiltrado linfocitário e serem negativos para receptores de estrógeno e HER2/neu. Carcinomas associados ao BRCA1 exibem expressão dos marcadores ceratina 5, P-caderina, p63 e EGRF. Apesar de anormalidades nos genes BRCA1 e BRCA2 serem responsáveis por cerca de 90% dos casos de câncer da mama hereditário, mutações germinativas em outros genes, como o TP53 (síndrome de Li-Fraumeni), PTEN (síndrome de Cowden), ATM e CHEK2, também estão associadas ao carcinoma mamário hereditário. Embora grande parte dos carcinomas não hereditários ou esporádicos esteja relacionada com estimulação estrogênica prolongada e tenha uma via carcinogênica que passa por lesões proliferativas (hiperplasias ductais e lobulares, carcinoma in situ e carcinoma invasivo). A maioria desses genes tem papéis complexos e correlacionados na conservação da integridade genômica. Depois que uma célula sofre uma mutação em seu DNA, o ciclo celular deve ser interrompido para que ocorra um reparo no DNA ou então a morte celular por apoptose. O gene ATM detecta as mutações no DNA e com o p53 e CHEK2 induz a interrupção do ciclo celular. O BRCA1, BRCA2 e CHEK2 têm funções importantes no reparo da cadeia dupla de DNA. Se qualquer uma dessas funções TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 estiverem prejudicadas, a probabilidade de que as células com mutações no DNA irão sobreviver é maior e a mutação será propagada. A exposição hormonal estimula o crescimento da mama durante a puberdade, ciclos menstruais e gravidez, aumentando assim o número de células com potencial para originar o câncer. A proliferação do epitélio mamário durante o ciclo menstrual também propicia um acúmulo de lesões no DNA, e o intervalo temporário na divisão celular que ocorre durante a última parte do ciclo menstrual permite que ocorram reparos no DNA alterado e que as mutações sejam excluídas do genoma. A repetição desse processo durante cada ciclo pode estar por trás da associação entre o número cumulativo de ciclos menstruais de uma mulher e seu risco de desenvolvimento de um câncer de mama. Uma vez que células pré-malignas ou malignas estejam presentes, os hormônios podem estimular seu crescimento, assim como o crescimento de células estromáticas normais que podem ajudar e favorecer o desenvolvimento do tumor. ● FATORES DE RISCO: A idade tem nítida influência. O tumor é muito raro antes de 25 anos; a incidência aumenta a partir de 30 anos, com pico entre 50 e 60 anos. Dados epidemiológicos mostram clara associação, em países ocidentais, entre incidência do câncer da mama e alguns comportamentos, como etilismo, dieta hipercalórica, rica em lipídeos e gordura animal e falta de exercício físico. História familiar é fator de risco bem estabelecido para o câncer da mama. Cerca de ⅓ das mulheres com carcinoma mamário tem história familiar de um ou mais parentes de primeiro grau com a mesma neoplasia, embora somente pequena fração desses casos (5 a 10%) seja de carcinoma hereditário. Esse aumento de risco se deve, provavelmente, à associação de genes que aumentam a suscetibilidade de baixo risco e a participação de fatores ambientais. São identificados dois genes (BRCA1 e BRCA2) que, quando mutados, associam-se a aumento de suscetibilidade ao câncer da mama. TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 Estímulo estrogênico por longo tempo (menarca precoce, menopausa tardia, primeira gestação tardia – após os 35 anos) aumenta consideravelmente o risco de desenvolvimento de carcinoma mamário. Isso porque o epitélio mamário possui receptores para estrógenos e responde aos estímulos destes. Embora em relação aos estrógenos endógenos não existam dúvidas quanto ao seu papel na carcinogênese mamária, há controvérsias acerca da associação entre uso de hormônios esteroides exógenos e aumento do risco de câncer da mama. Até o momento, não existem dados convincentes de que a contracepção hormonal aumenta o risco de câncer mamário. A menarca com idade inferior aos 11 anos aumenta o risco em 20% quando comparadas às mulheres com menarca após os 14 anos. A menopausa tardia também aumenta o risco. Em mulheres nulíparas ou mulheres que têm mais de 35 anos quando deram à luz pela primeira vez. Uma biópsia mamária anterior revelando hiperplasia atípica ou alterações proliferativas aumenta o risco de carcinoma invasivo. A TH da menopausa aumenta o risco de câncer de mama, particularmente quando estrogênio e progesterona são administrados em conjunto por anos. A maioriados casos é de carcinomas pequenos com RE-positivos. Ao contrário, os contraceptivos orais não parecem aumentar o risco de câncer de mama. A redução do estrogênio endógeno pela ooforectomia (remoção cirúrgica dos ovários) diminui o risco de desenvolvimento de câncer de mama em até 75%. Fármacos que bloqueiam os efeitos estrogênicos (p. ex., tamoxifeno) ou a formação do estrogênio (p. ex., inibidores de aromatases) também diminuem o risco de tumores RE-positivos. O câncer se origina em áreas de maior densidade mamográfica, sugerindo que o aumento da concentração de estroma fibroso é um marcador de risco e é biologicamente importante para a oncogênese. A radiação torácica, secundária a tratamentos de câncer, resulta em maior incidência de câncer de mama. O risco é maior com a exposição na idade jovem e com altas doses de radiação. O consumo alto ou moderado de álcool aumenta o risco. Os poluentes ambientais, como os pesticidas organoclorados, têm efeitos estrogênicos em humanos. Quanto mais tempo a mulher amamentar, maior a redução do risco. A lactação suprime a ovulação e pode desencadear diferenciações terminais das células luminais. TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 ● EPIDEMIOLOGIA: O carcinoma da mama é a neoplasia maligna extracutânea mais comum em mulheres, perdendo apenas para o câncer de pulmão como causa de mortes por câncer. O câncer de mama é raro em mulheres com idade inferior a 25 anos, mas a incidência aumenta rapidamente depois dos 30 anos. O câncer de mama é a principal causa de óbito por câncer nas mulheres em todo o mundo. No Brasil, o câncer da mama é o mais incidente na população feminina. A idade média no diagnóstico é de 61 anos para mulheres brancas, 56 anos para mulheres hispânicas e 46 anos para mulheres afro-americanas. A incidência dos casos de tumores RE-negativos e HER2-positivos é relativamente constante em todos os grupos étnicos, mas o número de tumores RE-positivos é menor em mulheres não caucasianas. A mortalidade dos casos diagnosticados de câncer de mama se manteve constante por muitos anos, mas desde 1994 diminuiu gradualmente de 30% para aproximadamente 20%. Essa queda foi atribuída ao rastreamento mamográfico, assim como a tratamentos mais eficazes. Entretanto, o declínio das taxas de mortalidade tem sido menos expressivo nas mulheres afro-americanas, que mostram a maior taxa de mortalidade. A incidência do câncer de mama é quatro a sete vezes maior nos Estados Unidos e na Europa do que em outros países. Essa alteração na incidência provavelmente acontece por causa da adoção do estilo de vida ocidental, porque as mulheres engravidam mais tarde e menos vezes, diminuindo a amamentação. ● PREVENÇÃO E RASTREAMENTO: Para prevenção: - Mastectomia profilática e retirada dos ovários: A mastectomia profilática parece reduzir o risco de desenvolvimento de câncer de mama em cerca de 90% em indivíduos que estão em alto risco por causa de forte histórico familiar ou de portadores de uma mutação de linhagem germinativa BRCA1 ou BRCA2. A ooforectomia profilática em portadores da mutação BRCA tem mostrado redução da incidência de câncer de mama em cerca de 50%, presumivelmente por causa da redução nos esteróides ovarianos. É importante que as mulheres que optam por mastectomia profilática sejam aconselhadas sobre a possibilidade de que o câncer pode se desenvolver em remanescentes do tecido mamário que permanecem após a mastectomia profiláctica. - Quimioprevenção: A observação de que a terapia endócrina adjuvante com o tamoxifeno também reduziu o câncer de mama contralateral levou à avaliação do tamoxifeno como quimiopreventivo para as mulheres que apresentam alto risco de câncer de mama. A metanálise de quatro estudos randomizados de tamoxifeno versus placebo para mulheres de alto risco confirmou uma redução de 38% no câncer de mama invasivo com o tamoxifeno. O maior estudo clínico, o NSABP P01, selecionou aleatoriamente 13.388 mulheres de alto risco para o tamoxifeno ou placebo por 5 anos. Esse estudo mostrou diminuição de 50% no diagnóstico de câncer de mama em todos os grupos etários, com custo de maior risco de câncer de endométrio e eventos tromboembólicos em mulheres com mais de 50 anos. Tais dados levaram à aprovação do tamoxifeno para reduzir a incidência de câncer de mama nas mulheres com alto risco, conforme definido pelos critérios de elegibilidade para essa experiência de prevenção. TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 Outros MSREs (moduladores seletivos de receptores estrogênicos) foram estudados como agentes quimiopreventivos. Dois estudos demonstraram a utilidade de raloxifeno como estratégia de redução de risco de câncer de mama. Em um ensaio clínico, a administração de raloxifeno reduziu a incidência de câncer de mama em mulheres na pós-menopausa com risco médio de câncer de mama e risco cardiovascular elevado. Um segundo estudo mostrou que o raloxifeno foi menos eficaz do que o tamoxifeno na prevenção de câncer invasivo de mama em mulheres na pós-menopausa com alto risco de câncer de mama. O uso de raloxifeno foi associado a menos cânceres uterinos do que o tamoxifeno, mas tem o mesmo risco de eventos tromboembólicos. É aprovado pela FDA para a redução de risco em mulheres na pós-menopausa de alto risco. Dois grandes estudos de um inibidor de aromatase (anastrozol ou exemestano) mostram que qualquer um desses fármacos reduz a incidência de câncer de mama em mulheres pós-menopáusicas de risco moderado a alto, em aproximadamente 50%. Um derivado da vitamina A, a fenretinida, mostrou algum impacto como um agente quimiopreventivo para a prevenção secundária de sobreviventes de câncer de mama na pré-menopausa, mas não encontrou lugar na prática de rotina. Finalmente, grandes estudos epidemiológicos têm levantado a possibilidade de que o ácido acetilsalicílico ou algumas estatinas também possam diminuir o risco de câncer de mama, mas esses agentes não foram testados de forma prospectiva. - Modificação do estilo de vida: Estratégias de prevenção que envolvem as alterações do estilo de vida foram sugeridas. A Women’s Health Initiative não mostrou um papel claro para uma dieta com baixo teor de gordura como meio de prevenção do câncer de mama. Os exercícios regulares, especialmente durante a adolescência, podem ser associados ao risco reduzido de câncer de mama. Por meio da extrapolação de estudos epidemiológicos mencionados anteriormente, a abstinência de álcool pode ligeiramente reduzir o risco de câncer de mama. Para rastreamento: - Mamografia + USG; - RM: tem sido promovida como uma ferramenta de triagem útil para as mulheres de alto risco em virtude da mutação BRCA; de fato, a American Cancer Society recomendou a consideração da triagem com RM para mulheres cujo risco previsto para câncer de mama seja maior que 20%. ● DIAGNÓSTICO: Em 30 a 50% dos carcinomas da mama, no momento do diagnóstico existem metástases em linfonodos axilares. Em geral, metástases em linfonodos indicam o potencial metastático a distância e, de forma quantitativa, quanto maior o número de linfonodos envolvidos, maior a probabilidade de já haver metástases sistêmicas. De maneira geral, as metástases linfáticas ocorrem inicialmente nos linfonodos do nível TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 inferior da axila, depois no médio e no superior. Metástases sistêmicas ocorrem mais nos pulmões, ossos, fígado, suprarrenais, ovários e SNC. Cerca de 30% das pacientes sem metástases axilares desenvolvem posteriormente metástases sistêmicas, o que indica que parte dos carcinomas da mama são doenças sistêmicas no momento do diagnóstico. A abordagem axilar no carcinoma mamário tem duas finalidades: uma terapêutica, para tratar locorregionalmente a doença, e outra de estadiamento, para se avaliar o estado dos linfonodos axilares. Metástases axilares são o principal fator prognóstico no câncer da mama. Por outro lado, esvaziamento axilar completo associa-se a alta morbidade, que inclui linfedema, dor, parestesia, hipoestesiae seroma. Destaca-se a biópsia do linfonodo-sentinela que consiste na remoção do primeiro linfonodo que recebe a drenagem linfática proveniente da mama e que, por isso, é referido como linfonodo-sentinela. Quando este é acometido por metástases, há maior probabilidade de acometimento de outros linfonodos da cadeia axilar. Quanto maior o tumor, maior é o número de células malignas e maior a probabilidade de surgirem clones com capacidade metastática. Cerca de 70 a 80% dos tumores positivos para receptores de estrógeno (RE) ou de progesterona (RP) respondem bem ao tratamento hormonal. Na prática casos RE-positivos e RP-positivos mostram melhor resposta ao tamoxifeno, especialmente em recidivas; casos RE-positivos e RP-negativos mais comumente desenvolvem resistência ao tamoxifeno. Amplificação e/ou hiperexpressão do HER2/neu ocorre em 20 a 30% dos carcinomas invasores e está associada a tumores de comportamento biológico agressivo. Hiperexpressão do HER2/neu pode ser determinada por imuno-histoquímica e deve ser quantificada. Casos com índice proliferativo > 10% mostram melhor resposta a inibidores da aromatase e podem ser elegíveis para quimioterapia. ● TRATAMENTO: É feito de maneira individualizada, avaliando todos os critérios diagnósticos, a situação de saúde e a expectativa da paciente. Para tratamento do carcinoma in situ a mastectomia total, a terapia tradicional, tem alta probabilidade de cura, mas estudos sugerem que a conservação de mama é apropriada para mulheres portadoras de CDIS. Diversos modelos têm sugerido que tamanho e grau de lesão e o estado da margem cirúrgica são determinantes importantes da evolução. A excisão para obter margens livres de tumores é fundamental. Além disso, o uso de tamoxifeno por 5 anos pode reduzir a recorrência do diagnóstico de câncer de mama ipsolateral e contralateral de câncer de mama em cerca de 50%. As mulheres com CLIS (carcinoma lobular in situ) geralmente são tratadas por meio da observação regular com exame da mama e mamografia. A mastectomia total bilateral às vezes é considerada para mulheres com CLIS com outros fatores de risco ou ansiedade extrema. Finalmente, essas mulheres são candidatas ao tamoxifeno ou ao raloxifeno ou a um inibidor de aromatase como estratégia de redução de risco com base nos resultados de vários grandes ensaios de quimioprevenção do câncer de mama. - Cirurgia: Embora a mastectomia radical (remoção da mama, conteúdos axilares e musculatura torácica subjacente) tenha sido a base para o tratamento do câncer de mama por muitos anos, ela raramente é realizada nos dias de hoje. A terapia de conservação da mama (TCM) com lumpectomia mais radioterapia proporciona taxas de sobrevida idênticas às da mastectomia radical modificada (remoção da mama e linfonodos) para TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 mulheres com câncer de mama em estágios I e II. As contraindicações médicas para TCM incluem doença multifocal, radioterapia prévia, gravidez em curso que impede o uso oportuno da radioterapia, cosmética ruim e preferência da paciente. Em razão de a probabilidade de disseminação micrometastática distante ser altamente correlacionada com o número de linfonodos axilares patologicamente envolvidos, a dissecção axilar tem sido tradicionalmente utilizada para fornecer informações relativas sobre o prognóstico. O desenvolvimento de técnicas como do linfonodo sentinela ajudou na detecção de metástases. Se o linfonodo sentinela está livre de tumor, os demais linfonodos provavelmente estão livres também, e assim a cirurgia axilar não é mais necessária. - Radioterapia adjuvante: A radioterapia tem sido a pedra angular na terapia de conservação da mama, porque as mulheres que passam por uma lumpectomia isolada têm taxa de recorrência de câncer de mama de até 40%, enquanto a taxa de recorrência é de menos de 10% com radioterapia completa da mama. O papel da radioterapia pós-mastectomia continua sendo uma questão de debate. Oncologistas especialistas em radioterapia recomendam radiação pós-mastectomia para mulheres com mais de três linfonodos e discutem seu uso para aquelas com envolvimento de um a três linfonodos, nas quais um benefício menor foi visto. - Quimioterapia: O benefício varia de acordo com a idade e o estado linfonodal. A terapia de combinação parece ser mais eficaz do que a quimioterapia com agente único. O uso cuidadoso dos agentes estimuladores de colônias pode minimizar as complicações da neutropenia, mas as evidências atuais discutem contra o uso de agentes estimulantes de eritrócitos no caso de anemia induzida pela quimioterapia. A indução da menopausa é uma preocupação comum para mulheres na pré-menopausa. Sua incidência está relacionada com o tipo e a duração da quimioterapia e a idade da paciente; a maioria das mulheres com mais de 40 anos de idade vai sofrer de menopausa induzida por medicamentos. É mais indicada em situações que apresentam classicamente maior taxa de recidiva: tumor > 5cm, acometimento de > ou maior 4 linfonodos, invasão vascular peritumoral presente, receptores negativos e alta taxa de proliferação celular. - Terapia sistêmica adjuvante (CA inicial): O tratamento adjuvante se define pelo uso da quimioterapia, da hormonioterapia, da radioterapia ou da imunoterapia ou de uma associação dessas antes, durante ou depois de um tratamento definitivo do câncer primário de mama. Seu objetivo é suprimir ou erradicar as micrometástases clinicamente ocultas. As recomendações para o tratamento sistêmico adjuvante baseiam-se no estado de menopausa, no estado dos linfonodos, no tamanho do tumor e na extensão da expressão das proteínas RE, RP e HER2 nas células de câncer de mama. O tamoxifeno (20 mg/dia) tem sido a terapia endócrina mais amplamente empregada. Ele melhora os resultados em mulheres de todas as idades com câncer de mama RE ou RP-positivo. Seu perfil de efeito colateral inclui risco aumentado de eventos tromboembólicos e câncer uterino, especialmente em mulheres na pós-menopausa, em razão de suas propriedades agonistas do estrogênio. Os benefícios potenciais incluem promoção da densidade óssea e diminuição do colesterol. O efeito sobre o resultado da atividade alterada da enzima metabolizadora do tamoxifeno, CYP2D6, TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 por administração de inibidores farmacológicos ou variantes do polimorfismo de nucleotídeo único no gene CYP2D6, é uma área ativa de pesquisa. Em mulheres na pós-menopausa, a fonte primária de estrogênio é a conversão de andrógenos sintetizados pelas glândulas suprarrenais para o estrogênio através da atividade de CYP19 ou aromatase nos tecidos periféricos, tais como os tecidos adiposos e mamários. Os inibidores da aromatase (letrozol, anastrozol e examestano) inibem especificamente essa conversão, levando a uma privação de estrogênios ainda maior em mulheres mais velhas. Diversas experiências têm comparado a monoterapia com o inibidor de tamoxifeno ou de aromatase ou a terapia sequencial; em conjunto, eles sugerem que o uso de um inibidor de aromatase em algum ponto deve ser considerado para a maioria das mulheres na pós-menopausa com câncer de mama invasivo positivo ao receptor hormonal. Os efeitos colaterais incluem sintomas da pós-menopausa, osteoporose e fraturas, além de artralgias. Os inibidores de aromatase não são úteis para o câncer de mama negativo ao receptor, nem devem ser utilizados como monoterapia em mulheres na pré-menopausa. A proteína transmembrana HER2/neu é superexpressa em cerca de 20% dos cânceres de mama, geralmente por causa de amplificação genética. A eficácia e a segurança do anticorpo monoclonal, o trastuzumabe, no tratamento das mulheres com câncer de mama metastático superexpressor de HER2, criaram a base para vários estudos de adjuvância que, em geral, mostraram que a adição de 1 ano de trastuzumabe à quimioterapia reduziu o risco de recorrência de cerca de 50% em mulheres com câncer de mama precoce, de alto risco, HER2-positivo. A duração da terapia hormonal parece sermuito importante. Evidências diretas sugerem que pelo menos 5 anos de terapia endócrina adjuvante está associado a melhores resultados do que períodos mais curtos. TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 2- SOBRE OS CARCINOMAS DE TIREÓIDE DEFINIR: A tireoide é uma glândula endócrina ímpar e simétrica, situada na linha média do pescoço, acessível à palpação, sobretudo quando sofre hiperplasia ou contém nódulos. A semiologia das doenças da tireoide envolve uma sistemática que inclui história clínica, exame físico com inspeção, palpação e ausculta e exames complementares, incluindo dosagens bioquímicas e hormonais, estudos por imagens e avaliação morfológica (cito e histopatológica). A regulação da síntese de T3 e T4 envolve dois mecanismos. Em um, atua o clássico sistema de retroalimentação, por meio do TSH (hormônio estimulante da tireoide), secretado pela adeno-hipófise. O TSH promove hipertrofia e hiperplasia da tireoide e estimula a síntese de seus hormônios. O TRH, hipotalâmico, regula a síntese e a liberação do TSH; o T3 e o T4 , por sua vez, inibem a secreção e antagonizam a ação do TSH. A secreção dos hormônios tireoidianos depende do iodo circulante sob a forma de iodeto, o qual é captado no polo basal dos tireócitos, que fica em contato com os capilares. O iodo penetra nas células junto com o sódio (bomba de sódio) graças ao simportador NIS (transporte ativo), dirige-se ao polo apical do tireócito e atravessa a membrana celular em direção à luz do folículo mediante ação de um outro transportador, a pendrina. Na luz folicular, o iodo é incorporado à tireoglobulina, também secretada pelos tireócitos, que forma o coloide. O TSH atua na tireoide por três mecanismos: (a) estimula a proliferação de tireócitos; (b) ativa a biossíntese dos hormônios tireoidianos; (c) favorece a liberação destes. A síntese hipofisária de TSH fica sob controle negativo dos hormônios tireoidianos (retrocontrole) e positivo de TRH de origem hipotalâmica. A produção de TSH depende também de feedback negativo dos hormônios tireoidianos e de vários neurotransmissores (adrenalina, VIP), fatores de crescimento (TGF, insulina) e citocinas. Carência ou ingestão excessiva de iodo causa múltiplas tireopatias, sobretudo o bócio, ainda frequente em pessoas que vivem em áreas com carência de iodo na alimentação. Ao contrário, populações que ingerem quantidade maior de iodo desenvolvem nódulos tireoidianos de modo mais frequente. A secreção da calcitonina (feita pelas células C) independe de fatores de regulação. Sua síntese está ligada ao metabolismo ósseo, ao paratormônio produzido pelas paratireoides e à homeostasia do cálcio. Níveis séricos elevados de calcitonina constituem-se em marcador diagnóstico e prognóstico no carcinoma medular da tireoide. obs.: Em altas concentrações, a hCG pode induzir tireotoxicose clínica, o que ocorre transitoriamente em cerca de 2 a 3% das gestações; tal quadro ocorre no primeiro trimestre de gestação, mais precisamente entre a 8 a a 14 a semanas, correspondendo ao período de pico de hCG. Nódulos tireoidianos podem apresentar-se em quase todas as doenças da tireoide. A ultrassonografia permite a identificação de lesões da ordem de milímetro, permite uma classificação para os nódulos, que podem ser únicos ou múltiplos, em três grupos: (a) sólidos; (b) císticos; (c) mistos (sólidos/císticos). Orientada pela ultrassonografia, a punção de nódulos tireoidianos é hoje procedimento menos arriscado e com maior sensibilidade, perdendo seu caráter cego. O estudo do parênquima não tumoral tornou-se acurado graças à capacidade da ultrassonografia de alta resolução de reconhecer lesões pequenas, de visualizar calcificações e de detectar modificações na ecogenicidade, para mais ou para menos. TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 Anticorpos antirreceptor de TSH influenciam a função e o crescimento glandulares, tendo importante papel na patogênese das doenças tireoidianas autoimunes. Tais anticorpos podem atuar em diferentes situações, como estimuladores ou como bloqueadores da síntese dos hormônios tireoidianos, levando a hipertireoidismo ou a hipotireoidismo, respectivamente. - Tireoidite de Hashimoto: É a causa mais comum de hipotireoidismo primário nas regiões em que os níveis de iodo na dieta são adequados. A doença é mais comum em mulheres (10:1), entre 45 e 65 anos. Clinicamente, manifesta-se por falência gradual da função tireoidiana por destruição autoimunitária da glândula. A evolução natural é perda progressiva da função tireoidiana, embora possa haver inicialmente hipertireoidismo transitório. A carência de hormônios tireoidianos provoca lesões morfológicas mais graves: (1) na composição dos tecidos conjuntivos, porque a síntese de glicosaminoglicanos, é regulada em parte pelo TSH, cuja produção depende da atividade tireoidiana; (2) no sistema esquelético, cujos crescimento e remodelagem dependem, entre outros fatores, da síntese de matriz óssea e da interação dos hormônios tireoidianos com o hormônio do crescimento e os hormônios sexuais, bem como de suas ações sobre a cartilagem epifisária, núcleos de ossificação etc.; (3) no sistema nervoso, porque o crescimento e a diferenciação de neurônios e a mielinização dependem, também, de hormônios da tireoide. Alterações da ossificação, especialmente da endocondral, levam ao nanismo tireoidiano e à disgenesia epifisária, em que os centros epifisários mostram-se fragmentados. Tais alterações no esqueleto surgem quando o hipotireoidismo já existe no período pré-natal ou antes da puberdade. Por esse motivo, acompanha-se de hipodesenvolvimento sexual. No hipotireoidismo alteram-se, também, todas as demais atividades que dependem dos hormônios tireoidianos, sobretudo as funções metabólicas (redução do metabolismo basal e da temperatura etc.), cardiovasculares (bradicardia), gastrointestinais (retardamento do trânsito e constipação intestinal) etc. TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 Acredita-se que a autoimunidade seja iniciada por defeitos em linfócitos T reguladores (Treg), além do aparecimento de linfócitos TCD4+ associados a antígenos tireoidianos. Função inadequada de linfócitos T reguladores permite o surgimento de linfócitos TCD8+ contra células foliculares, além de estimular a síntese de anticorpos antitireoides. Na doença formam-se anticorpos antitireoglobulina, antiperoxidasetireoidiana, antitransportador de iodetos e antireceptor de TSH. Anticorpos antireceptores de TSH bloqueiam a ação do TSH no parênquima, resultando em hipotireoidismo. Anticorpos antitransportadores de iodeto impedem a progressão do iodo para o interior do folículo, também contribuindo para síntese deficiente dos hormônios. Macroscopicamente, a tireoide encontra-se simetricamente aumentada de volume, tem aspecto lobulado e consistência firme-elástica e pode estar aderida às estruturas vizinhas. Clinicamente, a doença manifesta-se por aumento de volume da tireoide, que apresenta consistência firme, superfície geralmente lobulada e menor mobilidade. Às vezes, são palpados nódulos. Ocasionalmente, os pacientes se queixam de “sensação de bolo na garganta”, disfagia ou sufocação. No início da doença, a função tireoidiana pode permanecer normal, mas em geral surge hipotireoidismo progressivo. - Bócio: Em sentido amplo, bócio significa aumento volumétrico da tireoide (incluindo-se tireoidites e neoplasias). Em sentido estrito, o termo corresponde a aumento da glândula causado por hiperplasia do parênquima, que pode ser seguida de alterações regressivas. A profilaxia do bócio no Brasil é determinada por legislação federal de 1956, quando se criou a suplementação dietética de iodo no sal de cozinha, beneficiando populações interioranas. Apesar disso, deficiência do micronutriente ainda existe nas regiões Centro-Oeste (principalmente Goiás e Mato Grosso do Sul), oeste da Bahia, nordeste de Minas Gerais, interior do Maranhão e Tocantins. TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 ● CLASSIFICAÇÃO: A incidênciade nódulos tireoidianos aumenta ao longo da vida. Do ponto de vista clínico, a principal preocupação em pessoas que apresentam nódulos na tireoide é a possibilidade de neoplasia maligna. Felizmente, a maioria dos nódulos solitários da tireoide se mostra como lesões não neoplásicas localizadas. Diversos critérios clínicos fornecem pistas sobre a natureza de um nódulo tireoidiano: • Nódulos solitários, em geral, são mais suscetíveis à neoplasia que nódulos múltiplos. • Nódulos em pacientes jovens são mais suscetíveis à neoplasia que os encontrados em pacientes mais velhos. • Nódulos em homens são mais suscetíveis à neoplasia que os de mulheres. • Um histórico de tratamento por radiação da cabeça e do pescoço está associado a uma incidência aumentada de malignidade tireoidiana. • Nódulos funcionantes que captam iodo radioativo nos estudos de imagem (nódulos quentes) são muito mais suscetíveis de benignidade que de malignidade. Os adenomas da tireoide são tipicamente massas solitárias, discretas, derivadas do epitélio folicular, razão pela qual são conhecidos como adenomas foliculares. Além disso, são encapsulados, bem demarcado do parênquima tireoidiano circundante por uma cápsula bem definida, completa e íntegra. Clinicamente, pode ser difícil distinguir os adenomas foliculares dos nódulos dominantes da hiperplasia folicular ou dos carcinomas foliculares, que são menos comuns. Em geral, os adenomas foliculares não são precursores dos carcinomas. Os adenomas foliculares têm, em média, cerca de 3cm de diâmetro, embora alguns sejam muito maiores (≥ 10cm em diâmetro). Muitos adenomas foliculares se apresentam como massas indolores unilaterais, que são descobertas durante um exame físico de rotina. Os adenomas não funcionantes captam menos iodo radioativo do que o parênquima tireoidiano normal. Devido à necessidade de se avaliar a integridade capsular, o diagnóstico definitivo do adenoma somente pode ser feito após um exame histológico cuidadoso da amostra ressecada. Os supostos adenomas da tireoide são, portanto, cirurgicamente removidos para excluir malignidade. Embora, em sua maioria, os adenomas sejam não funcionantes, um pequeno subconjunto produz hormônios tireoidianos e causa tireotoxicose clinicamente aparente. As mutações de ganho de função em um dos dois componentes desse sistema de sinalização – mais frequentemente, o próprio gene codificador do receptor de TSH (TSHR) ou na subunidade-α de Gs (GNAS) – fazem com que as células foliculares TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 secretem o hormônio tireoidiano independentemente da estimulação de TSH (“autonomia tireoidiana”). Isso leva a sintomas de hipertireoidismo e produz um nódulo tireoidiano “quente” na imagem. Os carcinomas têm incidência incomum, sendo responsáveis por cerca de 1,5% de todos os cânceres. Tem-se observado predominância feminina entre os pacientes que desenvolveram carcinoma tireoidiano no início ou no meio da vida adulta. Os principais subtipos de carcinoma tireoidiano e suas frequências relativas são: • Carcinoma papilífero (> 85% dos casos); • Carcinoma folicular (5% a 15% dos casos); • Carcinoma anaplásico (indiferenciado) (< 5% dos casos); • Carcinoma medular (5% dos casos); O carcinoma papilífero é a neoplasia maligna mais comum da tireoide, correspondendo a mais de 60% dos carcinomas tireoidianos; entre os cânceres relacionados com radiação, chega a 90% dos casos. No Brasil, em 2012 foram diagnosticados cerca de 10.500 novos casos de câncer da tireoide em mulheres, sendo o quarto tumor maligno mais comum no gênero feminino. O tumor manifesta-se em qualquer idade, com predominância entre a 3ª e 4ª décadas, quando é três vezes mais frequente em mulheres do que em homens. Em crianças, não há preferência por gênero. O carcinoma papilífero pode ser oculto ou manifesto. Segundo a OMS, carcinoma oculto é o que mede até 1,0 cm na maior dimensão. Pode ser único ou múltiplo, com ou sem cápsula; muitas vezes, é encontrado por acaso em tireóides removidas cirurgicamente por outras doenças ou à necrópsia. Os microadenomas papilares são um achado patológico comum em 5% das glândulas tireóides excisadas por outros motivos. No entanto, os carcinomas papilares de tireoide podem ser mais agressivos, com extensão para tecidos adjacentes, envolvimento nodal extensivo e disseminação metastática a distância, mais comumente para os pulmões. Em geral, esse comportamento agressivo é mais comum em pacientes mais idosos. Os carcinomas foliculares se apresentam como nódulos indolores que aumentam lentamente. Com mais frequência, são nódulos frios nas cintilografias, embora raras lesões mais bem diferenciadas possam ser hiperfuncionantes, captar iodo radioativo e parecer quentes nas cintilografias. Os carcinomas foliculares têm uma pequena propensão para invadir os linfáticos; os linfonodos regionais estão raramente envolvidos, mas a disseminação vascular (hematogênica) é comum. O carcinoma anaplásico de tireoide é uma neoplasia maligna, histologicamente rara, indiferenciada e clinicamente agressiva que surge normalmente em mais velhos, um quarto dos quais apresenta evidências de um câncer tireoidiano de tipo diferenciado precedente. Os pacientes afetados apresentam uma massa de crescimento rápido no pescoço anterior ou lateral associada à dor, sensibilidade e sintomas compressivos, incluindo disfagia, disfonia e dispneia estridorosa. Os raros pacientes com doença limitada ao pescoço podem ter sobrevida aumentada, mas quase todos os pacientes recidivam em uns poucos meses e sucumbem à sua doença, com taxas médias de sobrevida variando de três a sete meses. *Mais associado com a tireoidite de Hashimoto! Os carcinomas medulares da tireoide consistem em neoplasias neuroendócrinas derivadas de células parafoliculares, ou células C, da tireóide, e são responsáveis por aproximadamente 5% das neoplasias tireoidianas. Os carcinomas medulares, similares às TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 células C normais, secretam calcitonina, cuja medição desempenha importante papel no diagnóstico e no acompanhamento pós-operatório dos pacientes. Os carcinomas medulares esporádicos, assim como os familiares, são lesões da fase adulta, com pico de incidência aos 40 ou 50 anos. Os casos esporádicos de carcinoma medular chamam a atenção médica mais frequentemente como uma massa no pescoço, algumas vezes associada a disfagia ou rouquidão. Além da calcitonina circulante, a secreção do antígeno carcinoembrionário pelas células neoplásicas é um biomarcador, especialmente para avaliação pré-cirúrgica da carga tumoral e em tumores negativos para a calcitonina. ● FISIOPATOLOGIA: O principal fator é irradiação de estruturas da cabeça ou do pescoço, como ocorria no passado, especialmente na infância, no tratamento de hiperplasia ou tumoração de amígdalas e adenoides, de hipertrofia tímica ou de afecções cutâneas como acne. Tem frequência muito mais elevada desses tumores em pessoas expostas a acidentes nucleares. O excesso de TSH como indutor de tumores tireoidianos parece dever-se à estimulação prolongada da atividade mitogênica das células foliculares. Quando em baixas doses, radiações ionizantes causam disfunção tireoidiana, elevando a taxa de TSH no soro. Níveis altos de TSH associados a alterações celulares promovidas por radioisótopos aumentam a incidência de neoplasias da tireoide. Anormalidades em oncogenes e genes supressores de tumor conferem às células vantagens de proliferação e sobrevivência. Os genes que controlam o tempo de vida e a morte celular, como genes de apoptose, telomerase e reparo do DNA, também intervêm diretamente no processo de tumorigênese. Os oncogenes mais envolvidos na tumorigênese tireoidiana são RAS, RET, BRAF e PAX8-PPAR-γ. Mutações em RET/PTC, RAS ou BRAF são encontradas em cerca de dois terços dos carcinomas papilíferos. A mutação mais frequente no carcinoma papilífero ocorre no gene BRAF, que codifica proteínas da família das RAF serina/treonina cinases, cuja ativação é desencadeadapela ligação com proteínas RAS. ● FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO: O maior fator de risco predisponente para o câncer tireoidiano é a exposição à radiação ionizante, particularmente durante as primeiras duas décadas de vida. Nesse sentido, há aumento significativo na incidência de carcinomas papilíferos entre crianças expostas a radiação ionizante após o desastre nuclear de Chernobyl, em 1986. A deficiência de iodo na alimentação (e, por extensão, sua associação com o bócio) está ligada à alta frequência de carcinomas foliculares. ● EPIDEMIOLOGIA: O carcinoma da tireoide é a neoplasia maligna endócrina mais comum. Nos EUA, o câncer da tireoide tem incidência de 25 a 37/1.000.000 de habitantes/ano; constitui 1,2% de todas as lesões malignas, mas representa cerca de apenas 0,4% das mortes por câncer. O câncer tireoidiano é uma das neoplasias que menos levam os pacientes ao óbito: somente 6 em 1 milhão de pessoas morrem em decorrência da neoplasia. No Brasil e em outros países a taxa de mortalidade por câncer tireoidiano vem caindo. O acesso à ultrassonografia e à PAAF para estudo citopatológico seguramente tem contribuído para diagnóstico mais precoce. O carcinoma papilífero ocorre ao longo de toda a vida, embora tenham incidência maior na faixa etária de 25 a 50 anos, sendo responsáveis pela maior parte dos carcinomas associados à exposição prévia à radiação ionizante. TUTORIA 6 - UC 11 Karolina Cabral Machado - P4 2021.1 ● TRATAMENTO: O tratamento do câncer epitelial de tireoide exige cirurgia, seguida, muitas vezes, pela ablação com radioiodo do tecido tireoidiano remanescente. A tireoidectomia total ou quase total com ressecção seletiva dos linfonodos do compartimento central geralmente é o procedimento cirúrgico inicial apropriado. A cirurgia de tireoide pode ser complicada pelo hipoparatireoidismo ou pela lesão do nervo laríngeo recorrente, que provoca rouquidão, se unilateral, e obstrução das vias respiratórias, se bilateral. A justificativa para cirurgia bilateral é a presença de doença bilateral no câncer papilar de tireoide e um risco mais baixo de recidiva após a remoção bilateral da glândula. Existe uma maior precisão na detecção de doença residual após a erradicação de todo o tecido tireoidiano normal remanescente. A maioria dos carcinomas foliculares é tratada com tireoidectomia total seguida pela administração de iodo radioativo, que pode ser usado para identificar metástases e remover as lesões. No pós-operatório, a administração de I¹³¹ após estimulação com TSH pode ser utilizada para a ablação da pequena quantidade de tecido tireoidiano normal, que geralmente permanece após a cirurgia. Este tecido, se não for destruído, deixa os pacientes com tireoglobulina circulante e tecido concentrado em iodo no escaneamento de todo o corpo, diminuindo a acurácia desses testes para identificar a doença residual. O radioiodo tem sido associado a uma menor taxa de recorrência tumoral em pacientes com doença avançada (estágios 3 e 4) na apresentação, mas não há benefício clínico demonstrado da terapia adjuvante com radioiodo para pacientes com estágios mais baixos da doença. A estimulação com TSH do tecido tireoidiano residual, que é essencial para uma terapia eficaz com radioiodo, pode ser conseguida através da suspensão temporária da terapia com hormônio tireoidiano para promover a produção endógena de TSH ou através da administração de tireotropina recombinante evitando a morbidade do hipotireoidismo. A terapia com tiroxina é apropriada para todos os pacientes tratados para câncer tireoidiano independentemente da extensão da cirurgia e se eles receberam terapia ablativa com radioiodo. Além de fornecer a reposição do hormônio tireoidiano, a tiroxina pode ser ajustada para suprimir o nível de TSH circulante do paciente para um nível baixo ou normal-baixo, reduzindo a probabilidade de recorrência de tumor. Na determinação do grau de supressão do nível de TSH, o risco de recidiva do câncer do paciente deve ser ponderado contra as potenciais complicações tireotóxicas, como a perda mineral óssea nas mulheres na pós-menopausa e a fibrilação atrial nos pacientes mais idosos.
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