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OTOHEMATOMA CANINO: SUAS CAUSAS E POSSÍVEIS TRATAMENTOS NAARA CANESCHI ZEFERINO1, MARIELY THAÍS DE SOUZA2 1Discente do curso de Medicina Veterinária – UNIFEOB, São João da Boa Vista/SP. 2Docente do curso de Medicina Veterinária – UNIFEOB, São João da Boa Vista/SP. RESUMO: Inicialmente o otohematoma, caracteriza-se por ser uma afecção comum na clínica de pequenos animais. Essa patologia consiste na formação de uma coleção de sangue entre a cartilagem auricular e a pele, decorrente de contusão de segundo grau, principalmente na face interna do pavilhão auricular. O aparecimento do otohematoma na maioria das vezes está relacionado a traumas decorrentes de prurido e agitação da cabeça em cães acometidos por otite externa. Durante o ato de coçar ocorre fratura cartilaginosa com consequente rompimento de veias e artérias auriculares. Outras causas também podem estar relacionadas com o surgimento do otohematoma como, por exemplo, algumas síndromes sistêmicas, sarnas auriculares e traumas provenientes de brigas entre cães. O diagnóstico é baseado na história clínica e anamnese. Em geral, diferentes procedimentos podem ser realizados como tratamento do otohematoma, o cirúrgico é rotineiramente o mais realizado. PALAVRAS-CHAVE: auricular, drenagem, otite, otohematoma, trauma. INTRODUÇÃO O otohematoma é uma enfermidade comum do aparelho auditivo, caracterizado pelo acúmulo de sangue no pavilhão auricular, proveniente da ruptura de vasos sanguíneos, podendo ser decorrentes de traumatismo, brigas ou pelo próprio animal com o ato de coçar, parasitas, alergias, corpos estranhos, inflamações e doenças que interfiram nos fatores de coagulação (ROSYCHUK e MERCHANT et al., 1994; SCHOSSLER et al., 2007; SANTOS et al., 2008; GRAÇA et al., 2010; LEITE et al., 2010). A hemorragia que provoca o hematoma ocorre entre a placa cartilaginosa auricular ou camadas da cartilagem e a pele, sendo que a fibrina se adere à cartilagem propiciando a formação de um exsudato serosanguinolento (SMEAK et al., 2003; FOSSUM et al., 2005). Geralmente, a etiologia está relacionada a traumas, mas, na maioria das vezes, existe uma condição predisponente que leva a auto- traumatismo. A mais comum é a otite (TANG, YANG, MA e LU, 2019). Os hematomas auriculares podem aparecer na forma de massas ou nódulos de dimensões, tumefações flutuantes e posições variadas (WILSON et al., 1983; GRIFFIN et al., 1994). Eventualmente ocorre em cães das raças com orelhas eretas, sendo mais frequentes em cães das raças com orelhas pendulares (SMEAK et al., 2003; CECHNER et al., 2005). REVISÃO DE LITERATURA O otohematoma apresenta-se em duas fases. A fase aguda consiste na sua formação inicial, caracterizada pela ruptura dos ramos da artéria auricular caudal, localizados na cartilagem auricular, com acúmulo de liquido no pavilhão auricular, sensibilidade e ruborização da pele que recobre a região, gerando desconforto aos animais pelo aumento de peso do ouvido com presença ou ausência de dor (MARIGNAC, 2005). Na fase crônica, ocorre a maturação, a fibrina deposita-se nas paredes do hematoma produzindo um seroma sanguinolento central que em seguida transforma-se em tecido de granulação, resultando em uma orelha espessada e deformada (KRAHWINKEL, 2003; CALZADILLA e LOPÉZ, 2001). O diagnóstico do otohematoma é realizado através do exame físico e histórico do animal. Clinicamente a região auricular apresenta-se intumescida, à palpação percebe-se um conteúdo líquido e flutuante (fase aguda) podendo ser firme e espesso devido à fibrose (fase crônica). O histórico do paciente deve ser considerado para identificação a remoção de fatores predisponentes para a instalação da doença, prevenindo sua reincidência (EVANGELISTA et al, 2012). Diversas técnicas cirúrgicas têm sido descritas para o tratamento do hematoma auricular, com o objetivo de remover o hematoma, evitar a recorrência e manter a aparência natural da orelha, minimizando o espessamento e a formação de cicatriz (FOSSUM et. al, 2002). De acordo com diversos autores, independente da terapêutica utilizada, o tratamento dos otohematomas deve ser realizado o mais precocemente possível após a sua detecção, de modo a prevenir a extensão da lesão ou a deformação da orelha secundária à fibrose (CALZADILLA e LÓPEZ, 2001; KRAHWINKEL, 2003, LANZ e WOOD, 2004). Em se tratando de tratamento clínico, os medicamentos homeopáticos podem ser utilizados sem necessidade concomitante de aspiração do hematoma ou procedimento cirúrgico (JAYAGOPALA, 1992). O tratamento mais indicado para a doença é cirúrgico, apresentando bons resultados. Existem várias técnicas para a correção da afecção, desde drenagem com agulha no primeiro dia de formação do otohematoma (ROSYCHUK e MERCHANT et al., 1994) à colocação de drenos e cânulas para promover uma drenagem contínua (ROSYCHUK e MERCHANT et al., 1994; SCHOSSLER et al., 2007; SANTOS et al., 2008; GRAÇA et al., 2010). A aspiração do hematoma pode ser realizada naqueles de menores dimensões, onde a agulha é inserida diretamente no hematoma para a retirada do seu conteúdo. Porém, nos hematomas extensos, esse método é ineficaz, pois a quantidade de fibrina e a extensão da lesão atrapalham a aderência da pele à cartilagem (ARCHIBALD et al., 1974). A drenagem cirúrgica é o tratamento preferencial para o hematoma auricular, desde que a causa primária, como por exemplo, otite externa ou média, seja resolvida anteriormente, para evitar reincidência (BOJRAB et al., 1993). Segundo Lanz e Wood (2004) os objetivos da terapêutica dirigida à resolução dos otohematomas consistem em 3 passos: identificar e tratar a fonte de prurido e desconforto auricular que leva à agitação da cabeça e ao coçar do ouvido, drenar o conteúdo do otohematoma e manter a aposição adequada entre a cartilagem da orelha e a pele. Segundo estes autores, as recidivas têm poucas probabilidades de ocorrer, se os objetivos da terapêutica forem cumpridos. A drenagem com agulha é a técnica mais simples para correção de um otohematoma (LANZ e WOOD, 2004). Este método consiste na aspiração do seu conteúdo com uma agulha acoplada a uma seringa e deve ser realizado apenas em hematomas com consistência fluida (casos agudos) e, preferencialmente, nos localizados na extremidade distal da orelha (BIRCHARD e SHERDING, 2003). A drenagem com agulha é o procedimento mais rápido para resolução do otohematoma e permite alcançar bons resultados estéticos, no entanto, se verifica o maior número de recidivas e apresenta risco de infecção secundária (FOSSUM, 2002; KRAHWINKEL, 2003; EVANGELISTA et al, 2012). Quando a drenagem com a agulha não obtém êxito, se mostra necessária a utilização de técnica cirúrgica com captons e dreno. A drenagem através da incisão é aplicada no caso de hematomas crônicos e de grandes dimensões. O uso dos pontos permite reduzir o espaço do hematoma. A incisão deve permanecer aberta de modo a permitir a drenagem do hematoma (SANTOS et al., 2008; GRAÇA et al., 2010). Assim como na literatura, a incisão deve ser realizada em “S”, pois é o método indicado para resolução do otohematoma com ótimo prognóstico (BOJRAB et al., 1993; ROSYCHUK e MERCHANT et al., 1994; SCHOSSLER et al., 2007). Muitas técnicas são descritas para a correção de otohematoma com utilização de captons, brincos, botões, fios de sutura e bandagens compressivas isoladamente. O mais utilizados são os captons, pois sua fixação com pontos wolf diminui o espaço ocupado pelo hematoma, o acúmulo de líquido e estimula a aderência das duas camadas, pele e cartilagem (SMEAK et al., 2003; EURIDES et al. 2008; GRAÇA et al., 2010; FOSSUM e CAPLAN et al., 2013), sendo uma técnica que restabeleça a condição fisiológica do pavilhão auricular, sem prejuízo da condição estética. (SCHOSSLER et al., 2007). A sutura mais utilizada é a wolf, em que a literatura refere que a colocação de suturas wolf de forma horizontal, transversalmente às artérias quenutrem a orelha, podem resultar em isquemia e necrose de parte da orelha (HARVEY et al., 2005). No pós-operatório, a literatura preconiza a utilização de bandagem ou colar elizabetano, que protege o ouvido dos traumas infligidos pelo próprio animal, além de manter a aposição dos tecidos e proteger as incisões (BOJRABET al., 1993; ROSYCHUK e MERCHANT et al., 1994; SCHOSSLER et al., 2007; SANTOS et al., 2008; GRAÇA et al., 2010). Quando não tratados, os otohematomas podem levar a severas deformidades e cicatrizes no pavilhão auricular (GRIFFIN et al., 1994; MCCARTHY e MCCARTHY et al., 1994). CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente revisão restou conclusiva no sentido de que o aparecimento de otohematoma na maioria das vezes está relacionado a traumas, tendo uma condição predisponente que leva a auto- traumatismo, mais comum sendo a otite. A correção do otohematoma por meio do uso de punção aspirativa tem boa eficácia, contudo, alguns fatores devem ser levados em consideração, tais como, a extensão do hematoma e a dedicação e persistência do proprietário. Sendo assim, a correção cirúrgica do otohematoma demonstrou ser uma técnica com resolução mais objetiva e com melhor resultado cosmético, recomendado, principalmente, em casos predisponentes à reincidência. Contudo, conclui- se que ambas são técnicas de fácil execução e apresentam boa recuperação. REFERÊNCIAS ARCHIBALD, J. Aural hematoma. Canine surgery, p. 274-276, 1974. BOJRAB, M. J.; GRIFFIN, C. E.; RENEGAR, W. R. The ear. In: BOJRAB, M. J. Disease mechanisms in small surgery. 2ª. ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 1993. p. 120-127. BIRCHARD, S.J.; SHERDING, R.G. Manual saunders: clínica de pequenos animais. 3. ed. São Paulo: Roca, 2003. 1783p. CALZADILLA, C.A., LOPÉZ, J.E. Tratamento médico del hematoma auricular canino: resolución de 20 casos clínicos. Providesa, v. 23, 2001. In: SANTOS, S.I.R. Otohematoma Canino: Epidemiologia e terapêutica. Dissertação de Mestrado. Universidade de Lisboa. Portugal. 2008. 89p. CECHNER P. E. Técnica de sutura para reparo de um otohematoma. In: Bojrab, M. J.; Bichard, S. J.; Tomlinson, J. L. Técnicas atuais em cirurgia de pequenos animais. 3ª ed. Roca: São Paulo, p. 127-130, 2005. EURIDES, D.; SOUZA, L.A.; OLIVEIRA, B.J.; LUIZ, A.F.S. Drenagem de otohematoma em cães. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, v.103, p59-63, 2008. EVANGELISTA, L.S.M. et. al. Estudo retrospective do otohematoma em cães atendidos em um Hospital Veterinário Universitário. Acta Veterinaria Brasilica, V.6, n.l, p.48-51. 2012. FOSSUM, T.W.; CAPLAN, E.R. Surgery of the ear. In: FOSSUN, T.W. Small Animal Surgery. 3 ed. St. Louis: Elsevier, 2013. cap 18, p.325-353. FOSSUM TW. Cirurgia ótica. In: Hedlund CS, Hulse DA, Johnson AL, Seim III HB, Willard MD, Carroll L. Cirurgia de pequenos animais, 2ª Edição. Roca, São Paulo: p. 231-255, 2005. FOSSUM, T.W. Cirurgia de pequenos animais. São Paulo: Roca, 2002. 1335 p. GRAÇA, J. C. L. Otohematoma – Estudo Retrospectivo de 6 anos: Possíveis etiologias. Dissertação de Mestrado. 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