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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA- UNEB LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS GICELIA SILVA SANTANA ANALISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DOS POVOADOS CAIÇARA I E II EM RELAÇÃO AO RIO SÃO FRANCISCO, PAULO AFONSO-BA. PAULO AFONSO- BA MARÇO -2020 GICELIA SILVA SANTANA ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DOS POVOADOS CAIÇARA I E II EM RELAÇÃO AO RIO SÃO FRANCISCO, PAULO AFONSO-BA. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentada à Banca examinadora da Universidade do Estado da Bahia – UNEB/Departamento de Educação- DEDC/Campus VIII Paulo Afonso, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Licenciada em Ciências Biológicas. Orientadora: Profa. Msc. Rita de Cássia Matos dos Santos Araújo. PAULO AFONSO- BA MARÇO-2020 FICHA CATALOGRÁFICA Sistema de Bibliotecas da UNEB Dados fornecidos pelo autor S232 Silva Santana, Gicélia ___ ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DOS POVOADOS CAIÇARA I E II EM RELAÇÃO AO RIO SÃO FRANCISCO, PAULO AFONSO-BA. / Gicélia Silva Santana.-- Paulo Afonso, 2020. ___ 33 fls : il. ___ Orientador(a): Rita de Cássia Matos dos S. Araújo. ___ Inclui Referências ___ TCC (Graduação - Ciências Biológicas) - Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. ___ 1.Desmatamaento. 2.Mata ciliar. 3.Agricultura familiar 4.Zona rural. 5.Educação ambiental. CDD: 607 Dedico esta monografia a Deus e Nossa Senhora aparecida, por nortear minha vida. Aos meus pais e meu irmão pelo exemplo, incentivo, amor e carinho. Aos meus amigos pela convivência, apoio e atenção nos momentos alegres e tristes. AGRADECIMENTOS A Deus e a Nossa Senhora Aparecida, por cada vitória ao longo deste percurso e também pelas derrotas, as quais serviram de aprendizados. Sem esse milagroso apoio, eu até poderia ter conseguido, porém, não teria o mesmo sentido. Obrigada pois nos dias de angústia, o amor e o conforto se fizeram presentes, vocês sim, são realmente os maiores responsáveis pela minha conquista. Ao meu pai Gilberto, que por mais que não teve condições de ir a uma escola, sempre incentivou a mim e meu irmão a estudar. A minha mãe Neidivania, por sempre me incentivar e apoiar minhas decisões, sei que como mãe não foram fáceis. A vocês dois agradeço por dedicarem a vida a mim e a meu irmão. A meu irmão Gilberto, por sempre ter me apoiado e também saber que como uma irmã mais velho sou um exemplo para você. Ao meu esposo Gleidson, por seu meu conforto e minha luz, que compartilhou durante toda a minha graduação momentos tristes e alegres, pela paciência por aturar minhas ausências e chatices, pelo apoio moral durante toda a graduação. A minhas amigas da universidade para a vida Naiane, Taine, paloma e Agiley agradeço também aos meus colegas de turma que torceram e acompanharam minha jornada, aos meus colegas de trabalho que nesses últimos meses estiveram ao meu lado me dando total apoio Ana Caroline, Savio, Jaqueline, Mayke e Cicero. Agradeço a minha orientadora Rita de Cassia pela paciência e dedicação e gentilmente me ajudar a concretizar meu sonho, me dando o total suporte necessário. E agradeço também as demais pessoas que sempre torceram pela minha vitória e que de alguma maneira contribuiu para a minha conquista, agradeço também as que de alguma maneira dificultou minha estadia e minha permanência no curso, só tenho uma coisa a dizer (eu consegui, e obrigada), só consegui crescer e amadurecer com cada aprendizado. Muito obrigada! Sou caipira, Pirapora Nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda O trem da minha vida... Romaria – Renato Teixeira SANTANA, Gicélia Silva analise da percepção ambiental dos moradores dos povoados caiçara I e II em relação ao rio são Francisco, (Paulo Afonso-Ba). “Monografia (Licenciatura em Ciências Biológicas). Orientação: Profa. Msc. Rita de Cássia Matos dos Santos Araújo. Universidade do Estado da Bahia – UNEB / Campus VIII - Paulo Afonso, Bahia. 2020. Resumo A educação ambiental é de suma importância da preservação do Meio Ambiente para a nossa vida e todos os seres vivos, afinal vivemos nele e precisamos que todos os seus recursos naturais e que sejam sempre puros. Portanto, torna-se importante realizar um diagnóstico sobre a percepção ambiental de pessoas que residem em áreas banhadas pelo Rio São Francisco, buscando analisar à saúde ambiental do povoado e, assim, utilizar os resultados obtidos em prol de melhorias da própria localidade, com relação ao uso e cuidado com o rio e, a partir daí, futuramente, repassar esses dados para subsidiar projetos com esta finalidade. O presente trabalho tem por objetivo analisar a percepção ambiental dos moradores, dos povoados Caiçara I e II, Paulo Afonso/BA, no que diz respeito à saúde ambiental na comunidade e sua relação com o Rio São Francisco. Escolhidos aletoriamente, foram formados por uma parcela de moradores residentes nos Povoados, estes responderam um questionário com perguntas abertas, No levantamento buscou-se informações com uma parcela de moradores, acerca da percepção ambiental, através de entrevista direta. Os quais foram analisados e, após, foram traduzidos, e aplicados em forma de tabela. Conclui-se, portanto, que é importante compreendermos a percepção ambiental ao nosso redor, pois coisas simples do dia a dia nos passam despercebidas. Na pesquisa foi possível observar como alguns moradores tratam de maneira natural, os desmatamentos da mata ciliar, a poluição dos rios, os esgotos jogados a céu aberto e no leito dos rios, entre outros problemas causados pelos homens na natureza. Palavras chaves: Desmatamento, Mata ciliar, Agricultura familiar, zona rural, Educação ambiental. ABSTRACT Environmental education is of paramount importance for the preservation of the environment for our lives and for all living beings, after all we live in it and we need all its natural resources to be always pure. Therefore, it is important to make a diagnosis about the environmental perception of people who live in areas bathed by the São Francisco River, seeking to analyze the environmental health of the locality and, thus, use the results obtained in favor of improvements in the locality, regarding the use and care of the river and, from there, in the future, transfer this data to subsidize projects with this purpose. The present work aims to analyze the environmental perception of the residents, of the Caiçara I and II villages, Paulo Afonso / BA, with regard to environmental health in the community and its relationship with the São Francisco River. Chosen at random, they were formed by a portion of residents living in the towns, they answered a questionnaire with open questions. In the survey, information with a significant quantity and quality about the environmental perception wassought, through direct interview. These were analyzed and, afterwards, translated, and applied in the form of a table. It is concluded, therefore, that it is important to understand the environmental perception around us, because simple things from day to day go unnoticed. In the research it was possible to observe how some residents treat in a natural way, the deforestation of the riparian forest, the pollution of the rivers, the sewers thrown in the open and in the river beds, among other problems caused by men in nature. Key words: Deforestation, riparian forest, family farming, rural areas, environmental education. SUMÁRIO 1.Introdução...........................................................................................9 2.Fundamentação teórica.....................................................................10 2.1 Importância do rio para comunidades ribeirinhas.............................10 2.2 Rio São Francisco.............................................................................12 2.3 Percepção ambiental.........................................................................15 3. Metodologia da pesquisa.................................................................. 17 3.1 Local da Pesquisa..............................................................................18 4. Resultados e discussões......................................................................19 5. Considerações finais ..........................................................................27 6.Referencias...........................................................................................27 11 1. INTRODUÇÃO Percepção é importante para a construção e a formação de novos valores e condutas no espaço educacional, pois na compreensão da percepção ambiental dos atores sociais é possível conhecer e/ou identificar aspectos relacionados às relações: Homem – Sociedade - Natureza. (SATO, 2002). Segundo Malazo (2005), Estudo da percepção ambiental se torna fundamental para que possamos compreender melhor as inter-relações entre o homem e o ambiente, no qual suas perspectivas vão além do saber que existe permeiam as influencias e a importância de algo que está em nosso cotidiano. Para Faggionato (2005), tornam-se relevantes e pode ser definida como sendo uma tomada de consciência das problemáticas ligadas ao ambiente. Embora tema educação ambiental seja cada vez mais recorrente mesmo com muita formação de ideias estabelecidas, ainda não são suficientes para conter o crescente descaso com o nosso planeta. A tomada de consciência em relação a degradação é essencial. Para Pacheco e Silva (2007) está consciência, é relevante para a compreensão das inter-relações entre o homem, ambiente, suas expectativas, suas satisfações e insatisfações, expectativas, julgamentos e, condutas. Será que as pessoas já pararam para refletir o quão nossas atitudes e hábitos estão afetando e afetarão a qualidade de vida em relação ao ambiente em que moram? Como podemos sensibilizar as pessoas para a necessidades de uma mudança nos hábitos e no consumo desordenado dos recursos naturais, e em especial, no uso das águas e o respeito aos rios? O Rio São Francisco, foco desta pesquisa, está aos poucos sendo assoreado e devastado por pessoas que, mesmo dependo dele para sobrevivência, não cuida do bem maior, que é a água que mata a sede e que alenta a vida. Mas, segundo Thé (2010) o rio São Francisco é também composto de gente, de trabalhadores que escolhem ou já tradicionalmente vivem, reproduzem-se e produzem sua cultura a partir dele: os pescadores, vazanteiros, agricultores familiares, quilombolas, indígenas. 12 Portanto, torna-se importante realizar um diagnóstico sobre a percepção ambiental de pessoas que residem em áreas banhadas pelo Rio São Francisco, buscando analisar à saúde ambiental da localidade e, assim, utilizar os resultados obtidos em prol de melhorias da própria localidade, com relação ao uso e cuidado com o rio e, a partir daí, futuramente, repassar esses dados para subsidiar projetos com esta finalidade. O presente trabalho tem por objetivo analisar a percepção ambiental dos moradores, dos povoados Caiçara I e II, Paulo Afonso/BA, no que diz respeito à saúde ambiental na comunidade e sua relação com o rio são Francisco. O corpo do trabalho cientifico aqui apresentado é constituído de (3) três partes, assim direcionado: O item 1 traz a introdução, o item 2, traz um retrospecto geral sobre a importância do Rio para a comunidade ribeirinha, e um breve histórico sobre o Rio São Francisco; também será possível no item 3, o acesso aos aspectos metodológicos que nortearam a pesquisa em sua coleta de dados; no item 4, serão apresentadas as análises dos resultados sobre a percepção ambiental dos moradores dos Povoados Caiçara I e II em relação ao Rio São Francisco, por fim , no item 5 , as considerações finais. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Importância do rio para comunidades ribeirinhas. A comunidade é diferente da sociedade. O que essencialmente caracteriza a comunidade é a “vida real e orgânica” que liga os seres humanos fazendo- os se afirmarem reciprocamente. As relações que se estabelecem são pautadas pelos graus de parentesco, vizinhança e amizade. “Tudo aquilo que é partilhado, íntimo, vivido exclusivamente em conjunto, será entendido como a vida em comunidade” (1947, p. 35). Segundo Gusfield (1975), ao analisar o conceito de comunidade, distinguiu dois usos principais, os quais podem ser, assim, descritos: a) uso no sentido territorial e b) uso no sentido relacional. O autor focaliza pontos de qualidade ou de caráter dos relacionamentos sociais, sem 13 referência à localização. Chaves (2001) afirma que os ribeirinhos são uma referência de população tradicional na Amazônia, a iniciar pela forma de comunicação, no uso das representações dos lugares e tempos de suas vidas na relação com a natureza, a diversidade e biodiversidade, uma grande fonte de recursos naturais a ser exploradas, o maior problema é a desconstrução dos processos históricos constituídos a partir da territorialização diferentes grupos e por consequência produz a invisibilidade das populações ribeirinhas. De acordo com Coelho (2005), decorrente do processo de ocupação realizado às margens do Velho Chico, formou-se um “verdadeiro colar de agrupamentos humanos” que deu origem às cidades ribeirinhas existentes até hoje. Essa característica é fundamentalmente específica desse rio, pois esse fenômeno não ocorreu ao longo de outros rios brasileiros, como os da bacia do rio Amazonas e do rio Prata. Ao longo do seu percurso, as águas do rio São Francisco são captadas com o objetivo de atender aos interesses do capital. Suas águas são utilizadas para a geração de energia, através das usinas hidrelétricas, e também para alimentar atividades do agronegócio que usa a água via projetos de irrigação (CRUZ, R., 2010). Outro elemento relevante é o processo de irrigação que é desenvolvido em todo o Vale do São Francisco. Ao mesmo tempo em que se produzem as mais variadas culturas destinadas a suprir necessidades do mercado interno – muitas vezes cultivadas por agricultores familiares, inclusive nas vazantes do rio, e que compõem a alimentação básica da população regional e do país, como por exemplo, milho, feijão, arroz, mandioca, batata doce e cebola – há uma grande produção de frutas voltadas para o mercado externo (CAMELO FILHO, 2005). Chaves (2001) afirma que os ribeirinhos são uma referência de população tradicional na Amazônia, a iniciar pela forma de comunicação, no uso das representaçõesdos lugares e tempos de suas vidas na relação com a natureza. Desde a relação com a água, seus sistemas classificatórios da fauna e flora formam um extenso patrimônio cultural. Para a autora, os agentes sociais identificados como ribeirinhos. [...] vivem em agrupamentos comunitários com várias famílias, localizados, como o próprio termo sugere, ao longo dos rios e seus tributários (lagos). A localização espacial nas áreas de várzea, nos barrancos, os saberes sócio históricos que determinam o modo de produção singular, o modo de vida no interior das comunidades ribeirinhas, concorrem para a determinação da identidade sociocultural desses atores (CHAVES, 2001, p. 78). 14 Assim, as comunidades tradicionais ribeirinhas são o lócus onde os ribeirinhos estabelecem as relações sociais, em que o rio lhes traduz um significado muito grande, configurando-se como complemento de suas vidas ou, até mesmo, suas próprias vidas, como descreve (Cruz, 1999, p. 04), [...] Rio e ribeirinho são partes de um todo. Se o rio oferece os seus alimentos, fertiliza as suas margens no subir e baixar das águas. O ribeirinho lhe oferece sua proteção, através de suas representações (seus mitos) como a mãe-d`água, a cobra-grande que come os desavisados (que não respeitam a natureza) e tantas outras, que nascem desta humanização da natureza e naturalização do homem. Essas comunidades são detentoras de amplo saber sobre o ambiente amazônico e suas diversas formas de uso e manejo. Assim, compreende-se que as comunidades ribeirinhas se apropriam dos recursos florestais, baseado na reciprocidade com a natureza, percebendo o tempo ecológico dos recursos naturais para organizar o trabalho na heterogeneidade das diversas formas de utilização dos recursos naturais, tais como: agricultura, criações de pequenos animais, extrativismo animal (pesca e caça) e extrativismo vegetal (madeireiro e não-madeireiro) (FRAXE, 2009). Noda (2001), Especialmente sobrea pesca é de grande representatividade, principalmente, porque o peixe é a principal fonte de proteína das famílias ribeirinhas. A prática da pesca é intensa, sendo executada nos lagos, igapós, igarapés e rios, utilizando, como meio de transporte, normalmente, a canoa movida a remo e/ou motor de rabeta. Executada, quando para o consumo, pelos adultos e jovens do sexo masculino e pelas crianças, como mecanismo de liberação dos outros membros da família para outras atividades e como processo educativo sobre o manejo do ambiente aquático. Conforme a autora, a pesca é praticada tanto na cheia, quanto na vazante dos rios, ao passo que a caça é mais importante na composição alimentar das famílias produtoras na época da cheia. 2.2 Rio São Francisco, um pequeno histórico. Durante o período Colonial, o rio São Francisco foi fundamental para a ocupação da região, uma vez que permitiu a penetração para o interior do território, bem como o controle do povoamento pela Coroa Portuguesa e a expansão do seu domínio para além do 15 litoral, desde a foz do rio e se estendendo cerca de 300 km para o interior, onde teve início o desenvolvimento da pecuária extensiva, fundamental para o desenvolvimento da economia açucareira, realizada na costa litorânea (CAMELO FILHO, 2005). Nesse sentido, o rio São Francisco foi fundamental para a ocupação do Brasil pelos colonizadores à medida que foi a porta de entrada para o território das minas e de todo o interior. Foi também a rota para serem atingidos os campos do Piauí e Maranhão, assim como as bacias do Tocantins-Araguaia e do Paraná (COELHO, 2005). O rio São Francisco desempenharia um fundamental papel no que diz respeito à navegação durante a Segunda Guerra Mundial, como via estratégica para assegurar o suprimento de mercadorias no interior do país, em caso de ocupação do litoral. A sua navegação fluvial tinha dois percursos: da sua foz a Piranhas (AL) e de Juazeiro (BA) a Pirapora (MG). Era feita em barcos simples, baseados na navegação indígena e, somente a partir de 1866, é que foram introduzidos os primeiros barcos a vapor (CAMELO FILHO, 2005). Pouco tempo depois, Dom Pedro II também passou a defender a transposição como o meio mais eficaz de lidar com as secas no Nordeste e o Projeto de Transposição do rio São Francisco começou a ser delineado. Por volta de 1850, o engenheiro Henrique Fernando Halfeld foi encarregado pelo Governo Imperial de fazer um estudo sobre o rio, publicado em 1860, sob o título “Atlas de relatório concernente à exploração do rio São Francisco desde a cachoeira da Pirapora até ao Oceano Atlântico” (VILLA, 2004, p. 1). Segundo Cappio (2008) o Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) tem se caracterizado pelo endereçamento das águas para uso econômico, deixando em segundo plano o princípio ético da função essencial para o abastecimento humano e animal. Desde o século XIX, a transposição do rio São Francisco vem sendo defendida como a solução para “os problemas do Nordeste”. A primeira proposta, ainda que muito vaga, tratava da abertura de um canal que levasse água do rio São Francisco ao rio Jaguaribe, idealizada no século XIX, pelo ouvidor José Raimundo dos Passos Barbosa, em 1818 (VILLA, 2004, p. 1). De acordo Rodrigues et al., (2004), a poluição causada pelo inadequado destino final de lixo urbano reflete as fragilidades em tela. Não é difícil concordar que a maioria 16 dos estados e municípios brasileiros não apresentam sistemas de vigilância capazes de monitorar o despejo de resíduos. O rio São Francisco é composto também de gente, de trabalhadores que escolhem ou já tradicionalmente vivem, reproduzem-se e produzem sua cultura a partir dele: os pescadores, vazanteiros, agricultores familiares, quilombolas, indígenas, entre outros (THÉ, 2010). Neste estudo, o Engenheiro Halfeld defendeu a ideia de transpor as águas do rio São Francisco para o rio Jaguaribe, identificando o ponto para a retirada das águas em Cabrobó (PE) (LEITE, 2005, p. 7). Segundo estudos da Codevasf (1993) e Embrapa/Aneel (2001), a maior produção de sedimentos na Bacia do Rio São Francisco (associada à ocupação das margens) ocorre nas regiões Alta e Média, como por exemplo, em Morpará (BA) com 21,5 x 106 t/ano, onde estão localizados os seus maiores tributários. Em 1503, outra expedição alcançou foz do rio São Francisco, comandada por Gonçalo Coelho e também acompanhada por Américo Vespúcio. Desde então, esse rio passou a ser visitado regularmente pelas naus europeias para, mais tarde, se tornar o principal canal que levaria os portugueses a colonizarem os sertões goianos, o que hoje entendemos por Brasil-Central (CODEVASF, 2007). O Rio São Francisco, pode-se dizer, é um milagre da natureza, pois faz o capricho de correr ao contrário e se estende do Sul, mais abaixo, para o Norte, mais alto, devido à falha geológica denominada “depressão sanfranciscana”. Isto o torna muito vulnerável, pois a pequena declividade (em média 7,4 cm por km) na maior parte de sua extensão, justamente a que recebe poucos afluentes, favorece o desbarrancamento e assoreamento (ZELLHUBER; SIQUEIRA, 2007: 9). A luta dos índios ao resistirem à colonização fez com que, somente após duas décadas da chegada dos portugueses à foz do rio São Francisco, fosse fundado o primeiro povoado às suas margens. Isso aconteceu em 1522, quando o primeiro donatário da capitania de Pernambuco, o português Duarte Coelho, funda o povoado que hoje conhecemos como Penedo (AL)18, a histórica cidade Alagoana, atualmente declarada patrimônio histórico brasileiro. Com a autorização da Coroa Portuguesa, no ano de 1543, inicia-se na região a criação de gado, atividade econômica que marca a história do Vale do São Francisco e dá outra forma de chamar esse rio: o Rio dos Currais (CODEVASF, 2007).17 Segundo Camelo Filho (2005), é a partir de um cenário mais contemporâneo que ele passa a ocupar o imaginário da sociedade brasileira como o Rio da Integração Nacional. Tal nome se justifica pelo fato de o rio São Francisco ter servido de canal para o povoamento e controle do interior brasileiro e de ligação entre as regiões Nordeste e Sudeste. 2.3 Percepção ambiental Segundo Sato (2002), a percepção é importante para a construção e a formação de novos valores e condutas no espaço educacional, pois na compreensão da percepção ambiental dos atores sociais é possível conhecer e/ou identificar aspectos relacionados às relações: Homem – Sociedade - Natureza. De acordo com Oliveira (2005) quando enunciamos o conceito de percepção do meio ambiente, queremos dizer como as pessoas percebem ativamente o meio ambiente, mais ainda, como as pessoas conhecem o meio ambiente [...], percebemos somente o que nossa mente atribui significado. A percepção é seletiva, exploratória, antecipadora. Segundo Rodrigues (1998), entende-se por percepção a forma como o indivíduo sente seu ambiente geográfico. Ela resulta de vários fatores, entre eles, o grau de dependência da pessoa frente ao ambiente no qual está inserido. De modo que as características do ambiente, percebidas por uma pessoa como desejáveis ou indesejáveis, dependerão da intensidade do impacto direto do meio geográfico sobre suas atividades e modo de vida. Segundo Piaget (1967) define percepção à medida que a diferencia de inteligência, e também aborda a distância como um de seus condicionantes. A percepção ambiental é a precursora do sistema que estimula a conscientização do sujeito em analogia às realidades ambientais contempladas (Macedo, 2000). De acordo com Davidoff (1993), a percepção implica em interpretação, ou seja, é um processo de organização e interpretação das sensações recebidas para que a consciência do ambiente se desenvolva pelo que nos cerca. Tuan (1983) acrescenta que essa relação com o meio ambiente se manifesta por meio de nossas ações, no entanto, é dispensável 18 generalizar normas, justamente pelas diferenças culturais que influenciam a interpretação de cada sujeito em relação ao meio ambiente. De acordo com o artigo 225 da Constituição Federal: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem como de uso comum do povo e essencial á sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e á coletividade o dever de defendêlo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações”. (BRASIL, 1988). Segundo Ferreira (1997) acrescenta que essa transição aconteceu devido à incorporação de forma adaptada de estudos básicos da psicologia, do estabelecimento de elos com outras áreas de estudos e sua gradual interrelação com o meio ambiente, como ocorreram, por exemplo, com as análises de percepção ambiental. Siqueira (2008), destaca que os problemas ambientais são percebidos e interpretados de diferentes maneiras, uma vez que as pessoas encaram os problemas de acordo com as peculiaridades de suas percepções. Tais peculiaridades influenciam a percepção de determinados aspectos do ambiente em detrimento de outros problemas que, de fato, são ameaças imperceptíveis aos órgãos sensoriais. Segundo Vasco e Zakrzevski (2010) afirmam que estudos focados na percepção ambiental são fundamentais para a compreensão das interrelações entre homem e ambiente, de suas expectativas, satisfações, anseios, julgamentos e condutas (no espaço em que está inserido). Tais estudos fornecem subsídios para a construção de estratégias que minimizem problemas socioambientais e implementem programas de educação e comunicação, de forma a assegurar a participação dos atores envolvidos no processo de gestão ambiental. Segundo Rigotto e Augusto (2007), o adensamento da crise socioambiental em diferentes territórios expressa a apropriação dos recursos naturais e espaços públicos para fins específicos, que geram exclusão e expropriação, sendo produzidas reações por parte de movimentos sociais, grupos e populações atingidas em seus direitos fundamentais como saúde, trabalho, cultura e preservação ambiental. Segundo Macedo, (2000, p. 69) a percepção ambiental é considerada uma precursora do processo que desperta a conscientização do indivíduo em relação às realidades ambientais observadas. O conhecimento é um importante aspecto na compreensão da interação homem-natureza, fazendo-se então necessário o desenvolvimento do aprendizado que envolva elementos de ordem científica, ética e estética, e que essa 19 interação seja explicitada e favoreça a conscientização ambiental, estimulando ações relativas à conservação da natureza. 3. METODOLOGIA DA PESQUISA Dessa forma, consoante a Bluhm et al. (2010), para alguns pesquisadores, a pesquisa qualitativa é considerada como a pesquisa segunda classe, deixando-a de empregá-la na condução das pesquisas. Apesar disso, uma das principais críticas à pesquisa qualitativa é a falta de representatividade, não permitindo generalizações e sendo demasiadamente subjetiva, fruto da proximidade do pesquisador e pesquisado, além da crítica referente ao caráter descritivo e narrativo, diferentemente da abordagem quantitativa, que é a explicativa (OLLAIK; ZILLER, 2012). Essa diversidade de abordagens é uma consequência das diferentes linhas de desenvolvimento na história da pesquisa qualitativa (OLIVEIRA, 2012). Observa-se, portanto, que a metodologia de pesquisa qualitativa possui seus próprios critérios de rigor científico para ratificar a legitimidade dos dados e resultados gerados no estudo. Em geral, a forma de pesquisa Etnográfica e Levantamento. Envolvem o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática, (GIL, 2002). Os participantes da pesquisa, foram escolhidos aletoriamente, formados por uma parcela de moradores com diversas faixa etária de idade, compostos por homens e mulheres alguns ainda a idade escolar residentes nos Povoados. Participaram da pesquisa 50 moradores, estes responderam um questionário contendo 10 (dez) perguntas abertas. As perguntas versaram sobre a percepção ambiental dos entrevistados com relação ao Rio São Francisco e as implicações ambientais a ele relacionados. Os questionários foram aplicados durante o mês Dezembro de 2019. Após aplicação dos questionários, deu-se início a tabulação dos resultados, na qual foram analisadas as respostas sendo apresentados os dados levantados em tabelas. 3.1 Local da Pesquisa 20 A pesquisa foi desenvolvida com moradores dos povoados Caiçara I e II, pertencente ao município de Paulo Afonso na Bahia. Os povoados estão localizados a 14 km do centro de Paulo Afonso (latitude -9,437198, longitude -38.260349) (Fig.1). localidade é banhada por um “braço” do Rio São Francisco. Este rio é de suma importância para o sustento das famílias que se mantêm através da agricultura familiar e da pesca, sendo as águas do rio utilizadas para o consumo em geral, irrigação de plantações e produção de peixes. Os referidos Povoados foram colonizados e habitados por moradores em duas situações: O povoado Caiçara I (Fig. 2) é composto por moradores que nasceram, e continuaram vivendo na localidade, constituindo família, tendo em vista que o povoado é composto por uma base de cinco famílias. O povoado Caiçara II (Fig. 3) foi erguido por moradores originados de outros estados, principalmente Alagoas e Pernambuco, para Os dois povoados possuem cerca de 1.200 habitantes. Dentre outras instituições possuem duas escolas de ensino fundamental I, contendo aproximadamente 60 alunos que residem na localidade, com a faixa etária entre 6 a 12 anos, os jovens com idade superior a faixa citada, se deslocam para estudar na cidade de PauloAfonso. 21 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados obtidos neste estudo, depois de analisados os dados coletados, revelaram a representatividade da comunidade com relação à pesquisa, entre os 50 entrevistados, 32 ( 64%) do sexo feminino 18 ( 36%) do sexo masculino e, a idade variou entre 10 a 60 anos, ressalta-se que a maioria dos entrevistados que responderam às perguntas possuíam idades que variaram entre os 16 aos 20 anos (nove pessoas, 18%), seguidos dos que possuíam 26 a 30 anos (oito pessoas, 16%) e 56 a 60 anos (sete pessoas, 14%), conforme visualizado na Tabela 1. Tabela 1: Percentuais por idade dos moradores da Caiçara I e Caiçara II, Paulo Afonso, BA : IDADE (ANOS) QTD / % 10 - 15 3 /6% 16 - 20 9/18% 22 21 - 25 4/4% 26 - 30 8/16% 31 - 35 5/10% 36 - 40 5/10% 41 - 45 4/8% 46 - 50 4/8% 51 - 55 4/4% 56 - 60 7/14% Fonte: Tabela produzida a partir de dados coletados pela autora. Com relação ao gênero, mais mulheres participaram das entrevistas 32 (64%), muitos homens rejeitaram, participando apenas, 18 (36%). Na literatura analisada observa- se que as mulheres são maioria respondente nas pesquisas com foco em estudos de percepção (PALMA, 2008; ALVES et al., 2018, CAMARA et al., 2019). Já, com relação a idade, os entrevistados com faixa etária entre 16 e 20 anos, 9 pessoas (18%), foram mais representativos, isso pode ser decorrente da ociosidade, já que muitos estão à espera de uma vaga no mercado de trabalho (primeiro emprego) ou, estudam no turno oposto ao da entrevista, poucos destes jovens se dedicam a agricultura familiar. De acordo com Almeida e Kudlavicz (2011), terra é sinônimo de vida e trabalho e, sem dúvida, os agricultores familiares vêm trabalhando arduamente para conquistarem uma vida digna no meio rural. Mediante as culturas por eles cultivadas, buscam diferentes estratégias, como a diversificação, para a geração de renda. O quadro 2 revela as respostas sobre o tempo que os moradores convivem naquela localidade, de acordo os entrevistados, duas pessoas (4%) responderam que já moram no Povoado a aproximadamente 41 a 45 anos, 15 pessoas (30%) responderam que já residem entre 26 a 30 anos e, apenas três pessoas (6 %), residem entre 5 a 10 anos. As respostas indicam que os povoados tiveram uma colonização não muito tardia, tendo seu ápice de colonização trinta anos atrás, havendo uma queda significativa de moradores residentes de 5 a 10 anos e, antes deste período nenhum dos entrevistados foi contemplado. Tabela 2: Perguntado a quanto tempo moravam na localidade: 23 Tempo Qtd / % 1 - 5 0/0% 5 - 10 3/6% 10 - 15 8/16% 16 -20 10/20% 21 - 25 4/8% 26 - 30 15/30% 31 - 35 4/8% 36 - 40 4/8% 41 - 45 2/4% 46 - 50 0/ 0% 51 - 55 0/ 0% 56 - 60 0/ 0% Fonte: Tabela produzida a partir de dados coletados pela autora As pessoas que são moradores dessas comunidades já residem no povoado há aproximadamente 41 a 45 anos; são moradores que nasceram nesse povoado e continuam vivendo nessa localidade, bem como, tem famílias oriundas de fora em busca de trabalho e continuaram morando na comunidade, onde construíram sua prole, tendo como sustento a pesca e a agricultura familiar. Para a Lei 11.326, de 24 de julho de 2006, ao estabelecer as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, tem beneficiado os pescadores que praticam a atividade pesqueira artesanal (praticada por profissional, em regime de economia familiar, com meios de produção próprios ou em regime 106 de parceria) ou de subsistência (com fins de consumo doméstico ou escambo sem fins de lucro). Na prática, geralmente, estes pescadores são agricultores familiares, pois, na agricultura familiar, as atividades de produção não envolvem, apenas, o ambiente ‘terra’. A Tabela 3 evidencia a importância do Rio para a comunidade, percebe-se que todos têm consciência da utilidade da água para o consumo geral, para a pecuária e a agricultura de subsistência. Contudo, percebe-se nos Povoados o descaso e a falta de cuidado com o Rio que alimenta, mata a sede e é fonte de renda familiar. Assim, 24 pessoas (48%) entrevistadas mencionaram que o Rio é importante para as atividades domesticas, 16 (32%) responderam que é importante para o abastecimento da casa, seis (12%) disseram 24 ser importante para a agricultura e, apenas quatro (8%) citaram que é muito importante para o consumo diário. Tabela 3: Qual a importância do rio na localidade? E como é utilizada a agua do rio na localidade? Importância do rio e sua utilidade Qtd / % É importante para as atividades domesticas 24/48% É importante para o abastecimento das casas 16/32% É importante para a agricultura 6/ 12% É importante para o consumo. 4/ 8% Fonte: Tabela produzida a partir de dados coletados pela autora. Conforme tabela 4 os entrevistados revelaram respostas sobre o que é feito nos povoados para a redução do desperdício de água. Muitos dos entrevistados mencionaram que não fazem nada para evitar o desperdício inapropriado de água na comunidade, 16 (17 %) as maiorias responderam que utilizam mangueiras de gotejamento, 43 (45, 7 %) entrevistados relataram o cuidado com a reutilização da água, bem como, o controle do tempo de irrigação e utilizando quantidades adequada de água para o consumo. Tabela 4: O que é feito para reduzir o desperdício de agua? REDUÇÃO QTD/% Utilizar a quantidade necessária 5/ 5,3% Reutilizar quando pode 6/ 6,3% Nada 16/ 17% Mangueira de gotejamento 43/ 45,7% Controlar o tempo de irrigação 6 / 6,3% Aspersor 14/14,8% Valetas 4/4,2% Fonte: Tabela produzida a partir de dados coletados pela autora De acordo com as respostas dos entrevistados, a maioria se preocupa com a minimização do desperdício da água e, optam pelo sistema de gotejamento, ressalta Ribeiro et al., (2010), a irrigação por gotejamento é um dos sistemas mais apropriados e em notável expansão, o qual apresenta 25 vantagens, como a economia de água e energia, possibilidade de automação e fertirrigação das áreas cultivadas. Chamou atenção na pesquisa o fato dos entrevistados não fazerem referências ao uso de bombas de sucção instaladas no leito do rio para puxar e jogar água para atender agricultores locais (Fig. 4), talvez seja pelo fato, de terem a consciência do ato infrator. Esta ação é fortemente condenada para fins privados, fundamentada pela Resolução n°662, de 29 de novembro de 2010, que regulamenta as ações acerca das atividades de fiscalização do uso dos recursos hídricos em corpos d’água de domínio da União, apurando infrações e aplicando penalidades. Na Tabela 5 sobre a proteção natural do Rio: a maioria dos entrevistados mencionaram que não existe mata ciliar para a proteção do leito do rio, 17 (17%) pessoas disseram que foi desmatada, 14 (14%) não responderam à pergunta, 12 (12%) relataram que desapareceu com o passar do tempo e, sete (7%) pessoas, mencionaram que a mata ciliar serviu de pastos para as criações. Tabela 5: Perguntado sobre a proteção do rio através da mata ciliar: 26 Já teve algum dia? O que aconteceu?QTD/% Sim 36 / 36% Sim 12 / 12% Não souberam responder 2 / 2% Foi desmatada 17 / 17% Desapareceu com o tempo 12 / 12% Serviu de pastos para as criações 7 / 7% Não souberam responder 14 / 14% Fonte: Tabela produzida a partir de dados coletados. A mata ciliar desempenha um importante papel na proteção dos rios, tornando fundamental a sua conservação e recuperação. A sua existência é benéfica para a boa qualidade de vida aos seres vivos, tanto animais quanto vegetais. Ela possui funções ambientais e ecológicas importantes tanto para a natureza quanto para a humanidade. (PANIZZA, 2016). Ainda, quando perguntado sobre quais espécies vegetais compunham a mata que banha o rio do Povoado, a maioria respondeu: Percebe-se a falta de conhecimento dos moradores dos povoados com relação as espécies e a importância da mata ciliar para a preservação do rio e das espécies que lá habitam (Fig.5). Segundo Fabricante & Siqueira-filho (2013) os ambientes ciliares formados por algaroba formam maciços populacionais com altas densidades, promovendo a homogeneização da flora, afetando a resiliência dos sítios invadidos, alterando a química e a fertilidade dos solos e, assim, diminuindo a disponibilidade de recursos hídricos. De acordo Franco (2008), a algaroba encontrou condições propícias, nas áreas antropizadas em margens de corpos d´água da caatinga, para se propagar sem nenhum controle, tornando-se é uma invasão biológica e uma ameaça, em potencial, à existência de espécies nativas da região. Já, as plantas aquáticas, como as Taboas encontradas na margem do rio nos povoados estudados, são caracterizadas por Marcondes & Tanaka (1997) como espécies que proliferam nos reservatórios e rios provocando vários inconvenientes, como: acúmulo de lixos e outros sedimentos, incidência de vetores de doenças, dificuldades de navegação, prejuízos ao turismo regional e a pesca, sendo nestes casos, denominadas de daninhas. 27 Figura 5. Visão panorâmica das espécies vegetais nas margens do “braço” do Rio São Francisco” que banha os Povoados de Caiçara I e II. F. Taboa (Typha domingensis Pers); G. Algaroba (Prosopis juliflora L.) que situam à beira do rio visto nas imagens. Na tabela 6, perguntado se gostaria que o rio fosse como antes, 34 (33,3 %) entrevistados mencionaram que este seria o desejo, sete (6,8 %) citaram que a água não serve mais para beber e, 12 (11.7%) sem poluição, e sem baronesas e taboas, Tabela 6: Gostaria que o rio fosse como antes. O que tinha no rio antes que não tem hoje? Tem esgotos sendo despejando no rio? Gostaria que o rio fosse como Antes QTD/% Sim 34/33,3% Sim, sem poluição, baronesas e taboas 12/11,7% Sim, Não serve para beber 7/ 6,8% Sim 34/33,3% Não 4/3,9% Não, é usado fossa séptica 9/8,8% Esgoto a céu aberto 2/1.9% Fonte: Tabela produzida a partir de dados coletados. 28 Percebe-se na fala dos moradores a vontade da busca dos tempos em que o rio era frondoso e desprovido de poluição, com água potável propícia ao uso. Falta, talvez, na comunidade uma liderança que motive e sensibilize os moradores para as questões ambientais e busquem apoio político para sanar a falta de saneamento básico nos Povoados, assim evitaria a grande quantidade de esgotos a céu aberto. Apesar de não mencionado nas entrevistas observou-se esgotos residenciais sedo despejados no leito do rio, demonstrando falta de cuidado e ética com o único meio de obtenção de água na comunidade. A presença no rio, das baronesas (Eichhornia sp.), citadas na pesquisa, indica que o rio do povoado recebe grande quantidade de matéria orgânica propícia ao seu desenvolvimento, segundo Araujo (2015) Refletem, certo grau de eutrofização que vem sendo provocado pelo lançamento de efluentes sanitários e dejetos das residências. As macrófitas, podem ser utilizada como indicadora de qualidade ambiental, principalmente em reservatórios e a análise de sua estrutura permite avaliar alguns efeitos decorrentes da alterações ambientais, (ARAUJO 2015). Na tabela 7 No apurado dos dadas dos entrevistados mencionaram as espécies de animais que habitam o rio, sendo grande parte aquáticos, como o Pato d’ agua (Mergus octosetaceus), Galinha d’agua (Gallinula chloropus), Jacarés (Alligatoridae), Capivaras (Hydrochoerus), esses animais foram mencionados por 28 (56%) entrevistados; 12 (24%) pessoas mencionaram existir no rio vários tipos de peixes Piranha (Pygocentrus ), Pacú ( Metynnis ), Traíra (Hoplias ), Corró (Ciclhasoma ), Tucunaré (Cichla sp), Apanharí (Astronotus ocellatus), Cari (Hypostomus ), Cumatá (Prochilodus ) e, 8 (16%) pessoas apenas ressaltaram ter vários animais, sem denominá-los, outras duas disseram não ter nenhum animal. Tabela 7: Quais espécies de animais habitam o Rio? Resposta QTD/% Nenhuma 2/4% Várias 8/16% Pato d’agua, Galinha d’agua, Peixes, Jacarés e Capivaras 28/56% 29 Piranhas, Pacú, Traíra, Corró, Tucunaré, Apanhari, Cari e cumatá. 12/24% Fonte: Tabela produzida a partir de dados coletados. De acordo com as respostas dos entrevistados evidencia-se que dos animais habitantes do rio, a maioria é aquático, sendo utilizados para o sustento nutricional e garantia da renda familiar, como os vários tipos de peixes, que ainda habitam o referido rio. 5. Considerações finais Conclui-se, portanto, que é importante compreendermos a percepção ambiental ao nosso redor, pois coisas simples do dia a dia nos passam despercebidas. Na pesquisa foi possível observar como alguns moradores tratam de maneira natural, os desmatamentos da mata ciliar, a poluição dos rios, os esgotos jogados a céu aberto e no leito do rio, entre outros problemas causados pelos homens na natureza. Alguns moradores são conscientes em relação aos seus atos, mais não tomam nenhuma atitude, como também uma pequena parcela, geralmente os mais velhos, preocupam-se com o futuro da localidade e tenta fazer o mínimo para preservar o ambiente que mora. 6. Referências ALMEIDA, Rosemeire Aparecida de; KUDLAVICZ, Mieceslau. 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