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Prévia do material em texto

História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
Maringá
2010
editora da universidade estadual de maringÁ
	 Reitor	 Prof. Dr. Décio Sperandio
	 Vice-Reitor	 Prof. Dr. Mário Luiz Neves de Azevedo
	 Diretor	da	Eduem	 Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado
	 Editor-Chefe	da	Eduem	 Prof. Dr. Alessandro de Lucca e Braccini
ConselHo editorial
	 Presidente	 Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado
	 Editor	Associado	 Prof. Dr. Ulysses Cecato
	 Vice-Editor	Associado	 Prof. Dr. Luiz Antonio de Souza
	 Editores	Científicos	 Prof. Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima
 Profa. Dra. Ana Lúcia Rodrigues
 Profa. Dra. Analete Regina Schelbauer
 Prof. Dr. Antonio Ozai da Silva
 Prof. Dr. Clóves Cabreira Jobim
 Profa. Dra. Eliane Aparecida Sanches Tonolli
 Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik
 Prof. Dr. Eliezer Rodrigues de Souto
 Prof. Dr. Evaristo Atêncio Paredes
 Profa. Dra. Ismara Eliane Vidal de Souza Tasso 
 Prof. Dr. João Fábio Bertonha
 Profa. Dra. Larissa Michelle Lara
 Profa. Dra. Luzia Marta Bellini
 Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado
 Profa. Dra. Maria Suely Pagliarini
 Prof. Dr. Manoel Messias Alves da Silva
 Prof. Dr. Oswaldo Curty da Motta Lima
 Prof. Dr. Raymundo de Lima
 Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias
 Prof. Dr. Ronald José Barth Pinto
 Profa. Dra. Rosilda das Neves Alves
 Profa. Dra. Terezinha Oliveira
 Prof. Dr. Valdeni Soliani Franco
 Profa. Dra. Valéria Soares de Assis
equipe téCniCa
	 Projeto	Gráfico	e	Design	 Marcos Kazuyoshi Sassaka
 Fluxo	Editorial Edneire Franciscon Jacob
 Mônica Tanamati Hundzinski
 Vania Cristina Scomparin
 Edilson Damasio
 Artes	Gráficas Luciano Wilian da Silva
 Marcos Roberto Andreussi
 Marketing Marcos Cipriano da Silva
 Comercialização Norberto Pereira da Silva
 Paulo Bento da Silva 
 Solange Marly Oshima
Maringá
2010
História e conHecimento
História medieval i: 
das invasões bárbaras 
ao feudalismo
José Carlos Gimenez
Jaime Estevão dos Reis
(Organizadores)
4
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
História medieval I: das invasões bárbaras ao feudalismo / José Carlos Gimenez, 
 Jaime Estevão dos Reis, organizadores.-- Maringá : Eduem, 2010. 
 126p. 21cm. (História e Conhecimento; n.4). 
 
 ISBN 978-85-7628-249-5
 1. História medieval – Estudo e ensino. 2. Idade média – Estudo e ensino. 3. 
Cruzadas. 4. Feudalismo. I. Gimenez, José Carlos, org. II. Reis, Jaime Estevão, org.
CDD 21. ed. 909.07
H673
História e ConHeCimento
 Apoio técnico: Rosane Gomes Carpanese
 Normalização e catalogação: Ivani Baptista CRB - 9/331
 Revisão Gramatical: Jeanette Cnop
 Edição, Produção Editorial e Capa: Carlos Alexandre Venancio
 Júnior Bianchi
 Eliane Arruda
Copyright © 2010 para o autor
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo 
mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos 
reservados desta edição 2010 para Eduem.
Endereço para correspondência:
eduem - editora da universidade estadual de maringá
Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitário
87020-900 - Maringá - Paraná
fone: (0xx44) 3011-4103 / fax: (0xx44) 3011-1392
http://www.eduem.uem.br / eduem@uem.br
3
Sobre os autores
Apresentação da coleção
Apresentação do livro
CapÍtulo 1
Introdução ao estudo da história medieval 
Jaime Estevão dos Reis
CapÍtulo 2
Alta idade média: as invasões bárbaras 
e a organização dos reinos germânicos
Verônica Ascênsio Ipólito
CapÍtulo 3
Os francos: merovíngios e carolíngios
Silvia Maria Amâncio
CapÍtulo 4
O ocidente na idade média central: as cruzadas
José Carlos Gimenez
CapÍtulo 5
O feudalismo
Jaime Estevão dos Reis
> 5
> 7
> 9
> 11
> 31
> 47
> 63
> 95
umárioS
5
JAIME ESTEVÃO DOS REIS
Professor de História Medieval da Universidade Estadual de Maringá 
(UEM). Mestre e Doutor em História e Sociedade pela Universidade 
Estadual Paulista (UNESP/Assis). Integra o Laboratório de Estudos Antigos e 
Medievais – LEAM, do Departamento de História da UEM.
JOSÉ CARLOS GIMENEZ
Professor de História Medieval da Universidade Estadual de Maringá 
(UEM). Mestre em História e Sociedade pela Universidade Estadual Paulista 
(UNESP/Assis), Doutor em História, Cultura e Sociedade pela Universidade 
Federal do Paraná (UFPR), coordenador do Laboratório de Estudos Antigos 
e Medievais – LEAM/UEM.
SILVIA MARIA AMÂNCIO
Graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). 
Mestre em História Política e Movimentos Sociais (UEM). Integrante do 
Laboratório de Pesquisa em Política e Movimentos Sociais (UEM).
VERÔNICA KARINA IPÓLITO
Graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). 
Mestre em História Política e Movimentos Sociais (UEM). Integrante do 
Laboratório de Pesquisa em Política e Movimentos Sociais (UEM).
obre os autoresS
7
A	coleção	História	 e	Conhecimento	é	 composta	de	42	 títulos,	que	 serão	utiliza-
dos	como	material	didático	pelos	alunos	matriculados	no	Curso	de	Licenciatura	em	
História,	Modalidade	 a	Distância,	 da	Universidade	 Estadual	 de	Maringá,	 no	 âmbito	
do	sistema	da	Universidade	Aberta	do	Brasil	(UAB),	que	está	sob	a	responsabilidade	
da	Diretoria	de	Educação	a	Distância	(DED)	da	Coordenação	de	Aperfeiçoamento	de	
Pessoal	do	Ensino	Superior	(CAPES).	
A	utilização	desta	coleção	pode	se	estender	às	demais	instituições	de	Ensino	Su-
perior	que	integram	a	UAB,	fato	que	tornará	ainda	mais	relevante	o	seu	papel	na	for-
mação	de	docentes	e	pesquisadores,	não	só	em	História	mas	também	em	outras	áreas	
na	Educação	a	Distância,	em	todo	o	território	nacional.	A	produção	dos	42	livros,	a	
qual	ficou	sob	a	responsabilidade	da	Universidade	Estadual	de	Maringá,	teve	38	títulos	
a	cargo	do	Departamento	de	História	(DHI);	2	do	Departamento	de	Teoria	e	Prática	
da	Educação	(DTP);	1	do	Departamento	de	Fundamentos	da	Educação	(DFE);	e	1	do	
Departamento	de	Letras	(DLE).
O	início	do	ano	de	2009	marcou	o	começo	do	processo	de	organização,	produção	
e	publicação	desta	coleção,	cuja	conclusão	está	prevista	para	2012,	seguindo	o	cro-
nograma	de	recursos	e	os	trâmites	gerais	do	Fundo	Nacional	de	Desenvolvimento	da	
Educação	(FNDE).	Num	primeiro	momento,	serão	impressos	294	exemplares	de	cada	
livro	para	atender	à	demanda	de	material	didático	dos	que	ingressaram	no	Curso	de	
Graduação	em	História	a	Distância,	da	UEM,	no	âmbito	da	UAB.	
O	traço	teórico	geral	que	perpassa	cada	um	dos	livros	desta	coleção	é	o	compro-
misso	com	uma	reconstrução	aberta,	despreconceituosa	e	responsável	do	passado.	A	
diversidade	e	a	riqueza	dos	acontecimentos	da	História	fazem	com	que	essa	reconstru-
ção	não	seja	capaz	de	legar	previsões	e	regras	fixas	e	absolutas	para	o	futuro.	
No	entanto,	durante	a	recriação	do	passado,	ao	historiador	é	dado	muitas	vezes	
descobrir	avisos,	intuições	e	conselhos	valorosos	para	que	não	se	repitam	os	erros	de	
outrora.
No	transcorrer	da	leitura	desta	coleção	percebemos	que	os	livros	refletem	várias	
matrizes	interpretativas	da	História,	oportunizando	ao	aluno	o	contato	com	um	ines-
timável	 universo	 teórico,	 extremamente	 valioso	 para	 a	 formação	 da	 sua	 identidade	
intelectual.	A	qualidade	e	 a	 seriedade	da	 construção	do	universo	de	 conhecimento	
desta	coleção	pode	ser	tributada	ao	empenho	mais	direto	por	parte	de	cerca	de	30	
organizadores	e	autores,	que	se	dedicaram	em	pesquisas	institucionais	ou	até	mesmo	
presentação da ColeçãoA
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
8
em	dissertações	de	mestrado	ou	em	teses	de	doutorado	nas	áreas	específicas	dos	livros	
que	se	propuseram	a	produzir.
Esta	coleção	traz	um	conhecimento	que	certamente	marcará	positivamente	a	for-
mação	de	novos	professores	de	História,	historiadores	e	cientistas	em	geral,	por	meio	
da	Educação	a	Distância,	o	qual	foi	fruto	do	empenho	de	pesquisadores	que	viveram	
circunstâncias,	recursos,	oportunidades	e	concepções	diferentes,	temporal	e	espacial-
mente.	
Como	corolário	disso,	seria	justo	iniciaros	agradecimentos	citando	todos	aqueles	
que	não	poderiam	ser	nominados	nos	limites	de	uma	apresentação	como	esta.	Roga-
mos	que	se	sintam	agradecidos	todos	aqueles	que	direta,	indireta	ou	mesmo	longin-
quamente,	quiçá	os	mais	distantes	ainda,	contribuíram	para	a	elaboração	deste	rico	rol	
de	livros.
Além	do	agradecimento,	registramos	também	o	reconhecimento	pelo	papel	da	Rei-
toria	da	UEM	e	de	suas	Pró-Reitorias,	que	têm	contribuído	não	apenas	para	o	êxito	
desta	coleção	mas	também	para	o	de	toda	a	estrutura	da	Educação	a	Distância	da	qual	
ela	faz	parte.
Agradecemos	especialmente	aos	professores	do	Departamento	de	História	do	Cen-
tro	de	Ciências	Humanas	da	UEM	pelo	zelo,	pela	presteza	e	pela	atenção	com	que	
têm	se	dedicado,	inclusive	modificando	suas	rotinas	de	trabalho	para	tornar	possível	a	
maioria	dos	livros	desta	coleção.
Agradecemos	à	Diretoria	de	Educação	a	Distância	(DED)	da	Coordenação	de	Aper-
feiçoamento	 de	 Pessoal	 do	 Ensino	 Superior	 (CAPES),	 e	 ao	Ministério	 da	 Educação	
(MEC)	como	um	todo,	especialmente	pela	gestão	dos	recursos	e	pelo	empenho	nas	
tramitações	para	a	realização	deste	trabalho.
Outrossim,	agradecemos	particularmente	à	Equipe	do	NEAD-UEM:	Pró-Reitoria	de	
Ensino,	Coordenação	Pedagógica	e	equipe	técnica.
Despedimo-nos	atenciosamente,	desejando	a	todos	uma	boa	e	prazerosa	leitura.
Moacir	José	da	Silva
Organizador da coleção
9
O	presente	livro	pertence	à	coleção	dos	livros	de	História	para	a	coleção	História	e	
Conhecimento,	a	qual	será	utilizada	inicialmente	pelos	alunos	matriculados	em	cursos	
superiores	a	distância	ofertados	no	âmbito	do	Sistema	Universidade	Aberta	do	Brasil	
(UAB)	e	pelo	Departamento	de	História	da	Universidade	Estadual	de	Maringá	(UEM).
No	primeiro	capítulo,	Introdução ao estudo da História Medieval, Jaime	Estevão	
dos	Reis	faz	uma	revisão	bibliográfica	acerca	do	conceito	de	Idade	Média	e	da	forma	
como	os	intelectuais	do	Renascimento,	da	Reforma,	do	Iluminismo,	do	Romantismo	
e	 das	 novas	 correntes	 historiográficas	 contemporâneas	 entendem	 esse	 importante	
período	da	História	Ocidental.	Na	sequência,	o	professor	discute	sobre	a	periodização	
da	Idade	Média.	Trata-se	um	tema	que	também	suscita	controvérsias,	uma	vez	que	as	
datas	que	determinam	o	início	e	fim	daquele	período	estão,	muitas	vezes,	relacionadas	
à	 própria	 postura	 teórica	 que	 os	 historiadores	 adotam	 para	 explicá-la,	 ou	 seja,	 os	
acontecimentos	 econômicos,	 políticos,	 religiosos	 e	 culturais.	 O	 capítulo	 apresenta	
também	indicações	de	fontes	referentes	aos	três	períodos	da	historia	medieval:	Alta	
Idade	Média,	Idade	Média	Central	e	Baixa	Idade	Média.
No	 segundo	 capítulo,	Alta Idade Média: as	 invasões	 bárbaras	 e	 a	 organização	
dos	reinos	germânicos, Verônica	Ascênsio	Ipólito	apresenta	uma	discussão	em	torno	
do	conceito	de	bárbaro,	as	características	das	invasões	e	dos	povos	germânicos,	bem	
como	as	relações	entre	romanos	e	germânicos.	
No	terceiro	capítulo,	Os francos: merovíngios	e	carolíngios, Silvia	Maria	Amâncio	
discute	 a	 singularidade	 do	 reino	 franco	 em	 relação	 a	 outros	 povos	 germânicos,	 a	
construção	do	reino	merovíngio	e	a	sua	decadência	diante	do	reino	carolíngio.	Por	
fim,	o	capitulo	oferece	uma	discussão	sobre	a	elevação	do	reino	carolíngio	à	condição	
de	império,	cujo	ápice	se	deu	com	a	figura	de	Carlos	Magno,	e	a	decadência,	com	a	
divisão	do	território	entre	os	seus	descendentes.
No	quarto	capítulo,	O Ocidente na Idade Media Central: as	cruzadas,	José	Carlos	
Gimenez	 apresenta,	 numa	perspectiva	 cronológica,	 a	 origem,	 o	 desenvolvimento	 e	
a	decadência	das	 cruzadas.	Trata-se	de	um	 tema	 tradicional	e	de	 suma	 importância	
para	 o	 conhecimento	 sobre	 a	 Idade	 Média.	 Por	 meio	 de	 seu	 estudo	 e	 das	 fontes	
selecionadas	 podemos	 entender	 as	 diferentes	motivações	 que	 levaram	 às	 cruzadas,	
pois	elas	fazem	parte	das	grandes	transformações	na	economia,	na	política,	na	religião	
e	na	mentalidade	pelas	quais	a	sociedade	medieval	estava	passando.
presentação do livroA
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
10
No	quinto	capítulo,	O feudalismo,	 também	escrito	por	 Jaime	Estevão	dos	Reis,	
propõe-se	uma	discussão	sobre	o	conceito	e	o	debate	historiográfico	em	torno	daquele	
regime,	que	se	confunde	com	a	própria	Idade	Média;	todavia,	refere-se	especificamente	
à	realidade	política,	social,	econômica	e	cultural	entre	os	séculos	XI	e	XIII.	Além	do	
debate	sobre	o	conceito	de	feudalismo,	o	capítulo	também	discute	a	importância	do	
feudo	e	seus	múltiplos	empregos	como	base	material	que	intercede	nas	relações	de	
suserania-vassalagem	 (nobreza)	 e	 senhorio-servidão	 (senhores	 e	 camponeses).	 E,	
por	fim,	o	capitulo	realiza	uma	discussão	sobre	as	estruturas	e	o	funcionamento	do	
feudalismo.
No	final	de	cada	capitulo	os	autores	apresentam	extratos	de	fontes	que	permitem	
ao	aluno	 realizar	uma	discussão	mais	 reflexiva	 a	 respeito	do	contexto	histórico	em	
questão,	 bem	 como	 obter	 um	 maior	 entendimento	 da	 sociedade	 da	 época,	 seus	
valores	culturais,	sua	organização	econômica	e	política.	Para	isso,	é	preciso	questionar	
sobre	 a	 especificidade	 (natureza)	dos	documentos,	 as	 circunstâncias	 em	que	 foram	
produzidos,	 seu	 autor,	 a	 finalidade	 de	 sua	 existência,	 entre	 outras	 indagações,	 de	
maneira	que	se	possa	“fazer	falar”	tais	documentos.
Jaime	Estevão	dos	Reis
José	Carlos	Gimenez
Organizadores
11
Jaime Estevão dos Reis
o ConCeito de idade média
A	historiadora	francesa	Regine	Pernoud,	em	seu	livro	Pour en finir avec le	Moyen-
Age1,	publicado	no	final	da	década	de	1970,	ao	refletir	sobre	o	conceito	de	Idade	Média	
o	faz	iniciando	por	narrar	um	acontecimento	inusitado.	Ao	acompanhar	seu	sobrinho	
de	7	ou	8	anos	à	escola,	e	ao	assistir,	juntamente	com	ele,	à	lição	de	História,	relata	o	
seguinte	diálogo	entre	a	professora	e	os	alunos:
“Professora:	Como	se	chamavam	os	camponeses,	na	Idade	Média?
Classe (em	coro):	Chamavam-se	servos.
Professora:	E	que	é	que	eles	faziam?	Que	é	que	eles	tinham?
Classe:	Tinham	doenças.
Professora:	Que	doenças,	Jerônimo?
Jerônimo	(sério):	Peste.
Professora:	Que	mais,	Emanuel?
Emanuel	(entusiasmado):	Cólera!
Professora:	Vocês	sabem	muito	bem	a	lição	de	História.	Passemos	à	Geografia”	
(PERNOUD,	1978,	p.	6).
Mais	de	30	anos	se	passaram	desde	que	a	conceituada	medievalista	relatou	o	ocorri-
do,	e	apesar	dos	progressos	das	pesquisas	e	publicações	na	área	de	História	Medieval,	
não	 é	 raro	nos	 depararmos	 com	expressões	 que	 reproduzem	 tal	 desconhecimento	
acerca	da	 Idade	Média.	Expressões	do	 tipo:	 “Esta	é	uma	mentalidade	medieval”	ou	
“Não	estamos	mais	na	Idade	Média”	são	comuns	na	linguagem	popular	e	às	vezes	apa-
recem	no	cenário	acadêmico,	especialmente	entre	os	não	historiadores.	
Alain	Minc,	ao	analisar	as	transformações	ocorridas	na	Europa	oriental	após	a	que-
da	do	muro	de	Berlim	e	as	rivalidades	regionais	decorrentes	da	implosão	do	comunis-
1	Literalmente,	Para pôr fim à Idade Média.	Existem	duas	edições	em	português	desta	obra,	ambas	
com	títulos	completamente	diferentes:	PERNOUD,	R.	O mito da Idade Média.	Lisboa:	Europa-América,	
1978;	e	PERNOUD,	R.	Idade Média:	o	que	não	nos	ensinaram.	Rio	de	Janeiro:	Agir,	1994.
Introdução ao estudo da 
história medieval
1
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
12
mo,	afirma	que	a	Europa	estaria	iniciando	uma	“Nova	Idade	Média”	(MINC,	1994)2.	O	
consultor	de	planejamento	e	marketing	Roberto	Antonio	Pitella	publicou	um	pequeno	
livro	que	é	digno	de	nota,	A empresa medieval: o	fracasso	ao	alcance	de	todos	nós	
(1995).	Nessa	obra,	em	forma	de	sátira	o	experiente	profissional	dá	conselhos	(in)úteis	
para	quem	quiser	falir	sua	empresa	em	pouco	tempo.	Bastaria	agir	“à	maneira	medie-
val”,	sobretudo	no	tocante	ao	atendimento	aos	clientes.	O	termo	medieval	assume	aí	
uma	conotação	pejorativa,	na	medida	em	que	se	torna	sinônimo	de	atraso,	displicên-
cia,	obscurantismo,	faltade	criatividade,	etc.
Qual	a	origem	dessa	visão	negativa	em	relação	à	 Idade	Média?	Na	verdade,	esse	
“conceito”,	ou	melhor,	esse	preconceito	tem	raízes	históricas.	Ele	nasceu	já	no	fim	do	
período	medieval.	Foram	os	renascentistas	os	primeiros	a	esboçarem	uma	visão	dis-
torcida	em	relação	ao	medievo.	O	humanista	italiano	Francesco	Petrarca	(1304-1374),	
admirador	da	Antiguidade	Clássica,	referia-se	ao	período	transcorrido	entre	o	fim	do	
Império	Romano	e	a	sua	época	como	tenebrae.	Petrarca	manifestava	certo	desprezo	
inclusive	pela	cultura	de	seu	 tempo.	Recusou	um	exemplar	da	Divina	Comédia,	de	
Dante	Alighieri,	enviada	a	ele	por	Boccaccio	(1313-1375).	Admirava	especialmente	os	
escritores	latinos,	como	Cícero,	Virgílio,	Tito	Lívio,	Sêneca	e	Horácio.	Quanto	mais	se	
aprofundava	na	cultura	clássica	maior	era	o	inconformismo	com	o	saber	de	seu	tempo:	
Vivo,	mas	indignado,	porque	o	destino	me	reservou	os	séculos	mais	tristes	e	os	
piores	anos.	Deveria	ter	nascido	antes	ou	muito	tempo	depois,	pois	houve	e	
haverá,	depois,	um	tempo	mais	feliz;	o	que	existe	no	meio	é	sórdido.	Em	nosso	
tempo	só	se	vê	confluir	a	torpeza;	uma	sentina	de	males	nos	torna	enfermos;	o	
talento,	a	virtude	e	a	glória	têm	abandonado	o	mundo,	e,	em	seu	lugar,	reinam	
a	fortuna,	a	volúpia	e	a	desonra	(PETRARCA	apud	RUIZ	GÓMEZ,	1998,	p.	47).
Portanto,	o	que	existia	“no	meio”,	ou	seja,	no	intervalo	de	tempo	entre	a	Antiguida-
de	e	um	futuro	“feliz”	era	a	Idade	Média,	obscura	e	tenebrosa.
A	idéia	de	“tempo	médio”	presente	em	Petrarca	foi	claramente	definida	por	Giovan-
ni	Andréa	dei	Bussi	(1417-1475),	bispo	de	Aleria.	Em	1469,	ao	refletir	sobre	as	comple-
xidades	de	sua	época,	o	religioso	utilizou	a	expressão	media tempestas.
Em	meados	do	século	XVI,	Georgio	Vasari	(1511-1574),	pintor	e	arquiteto	italiano,	
conhecido	por	suas	biografias	de	artistas	da	época,	popularizou	o	termo	Renascimen-
to.	O	que	“renascia”	no	século	XVI	eram	as	artes	e	as	letras	clássicas.	Na	mentalidade	da	
época,	entre	as	luzes	da	Antiguidade	Clássica	e	as	do	Renascimento	teria	existido	um	
período	de	obscuridade,	um	intermédio.	Daí	o	surgimento	de	termos	como:	media 
2	Aqui	 indicamos	apenas	um	dos	aspectos	apontados	pelo	autor.	O	livro	é	um	apanhado	de	aconte-
cimentos	considerados	como	“catastróficos”	ocorridos	ao	longo	do	século	XX,	e	que	levam	o	autor	a	
identificá-los	como	“A	nova	Idade	Média”.
13
introdução ao estudo da 
história medieval
aetas;	media antiquitas	e	intermedia aetas,	para	se	referir	àquele	período.
Estas	expressões	tinham	um	caráter	nitidamente	filológico.	O	século	XVI,	que	bus-
cava	o	uso	do	latim	clássico,	recusava	o	latim	utilizado	no	período	anterior,	conside-
rado	“bárbaro”.	Da	mesma	forma	era	vista	a	arte	medieval,	considerada	como	“grotes-
ca”,	inclusive	pelo	pintor	Rafael	Sanzio	(1483-1520)	e	pelo	escritor	François	Rabelais	
(1483-1553).	O	primeiro	chamou	a	arte	medieval	de	“gótica”,	certamente	por	fugir	aos	
padrões	clássicos.	O	termo	“gótico”,	atribuído	pelo	grande	pintor	italiano,	tinha	sinô-
nimo	de	“bárbaro”.	O	segundo	referia-se	ao	período	intermediário	como	uma	densa	
noite	gótica	(FRANCO	JUNIOR,	2001,	p.	11).
Todavia,	 foi	no	século	XVII	que	o	 termo	medium aevum	 se	difundiu.	O	erudito	
francês	Charles	de	Fresne	Du	Cange,	em	seu	conhecido	Glossarium,	publicado	em	
1678,	referiu-se	à	mediae	et	infimae	latinitatis.	Contribuíram	para	sua	definitiva	afirma-
ção	os	alemães	Georg	Horn	(1620-1670),	em	latim	Hornius,	e	Christoph	Keller	(1638-
1707),	cujo	nome	foi	latinizado	para	Cellarius.	
Hornius	escreveu	uma	série	de	compêndios,	dentre	os	quais	se	destaca	História 
Eclesiástica e Política	(1647).	Nesse	tratado,	o	período	compreendido	entre	a	queda	
do	Império	Romano	do	Ocidente	(476)	e	a	do	Império	Romano	do	Oriente	(1453)	
estaria	situado	entre	uma	“história	antiga”	e	uma	“história	nova”,	e	foi	denominado	de	
Imperia et regna medii aevi.	
Cellarius	publicou,	em	1688,	um	manual	intitulado	História da Idade Média desde 
o tempo de Constantino o Grande até à tomada de Constantinopla pelos Turcos.	Ou	
seja,	definia	como	“Medievo”	o	período	situado	entre	o	século	IV	e	o	século	XV.	
Com	esses	manuais,	de	grande	difusão	na	época,	a	subdivisão	da	História	em	An-
tiguidade,	Idade	Média	e	Idade	Moderna	tornou-se	uso	corrente,	sobretudo	devido	a	
Cellarius,	que	havia	escrito	dois	outros	tratados,	um	dedicado	à	“Idade	Antiga”	e	outro	
à	“Idade	Moderna”3.
Todavia,	essa	delimitação	dos	tempos	da	história	não	eliminou	a	visão	negativa	em	
relação	à	Idade	Média.	O	sentido	mantinha-se	renascentista,	isto	é,	a	Idade	Média	era	
vista	como	um	período	de	interrupção	do	progresso	humano	iniciado	pelos	gregos,	
continuado	pelos	 romanos	 e	 retomado	–	 após	mil	 anos	de	obscurantismo	–	pelos	
homens	da	Renascença.
No	século	XVII,	as	 teses	que	Martinho	Lutero	havia	proposto	no	século	anterior	
ganharam	muito	mais	força.	O	reformista	alemão	havia	defendido,	entre	outras	coisas,	
3	A	definição	de	 “História	Contemporânea”	 foi	 introduzida	na	França	 em	1902,	nos	programas	dos	
liceus.	Desde	então,	as	denominações	“História	Antiga”,	“História	Medieval”,	“História	Moderna”	e	“His-
tória	Contemporânea”	passaram	a	fazer	parte	dos	currículos	escolares	e	universitários.	Na	mesma	época	
foi	estabelecido	que	o	“período	moderno”	se	estenderia	do	século	XVI	ao	XVIII.
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
14
a	necessidade	de	retomar	o	cristianismo	primitivo	e	eliminar	as	lembranças	daquele	
predomínio	tirânico,	que,	do	seu	ponto	de	vista,	fora	imposto	pelos	papas,	bispos	e	
abades	ao	longo	de	toda	a	Idade	Média.	
Segundo	Julio	Valdeón	Baruque,	esta	nova	perspectiva	que	se	difundiu	amplamen-
te	em	todos	os	setores	do	continente	europeu	que	se	mostraram	seguidores	da	Refor-
ma	Protestante	contribuiu	para	desacreditar	a	imagem	da	Idade	Média,	época	a	qual	
se	acreditava	plena	de	ignorância,	de	barbárie,	de	mediocridade,	de	atraso	e	arcaísmo	
(2004,	p.	215).
Os	políticos	ligados	às	novas	monarquias	absolutistas	criticavam	as	interferências	da	
Igreja	medieval	nos	destinos	dos	reinos	e	no	governo	dos	príncipes.	Manifestavam	um	
desprezo	por	aquele	período,	de	reis	fracos	e	de	fragmentação	política.	Os	intelectuais	
racionalistas	deploravam	a	cultura	medieval,	plena	de	valores	morais	e	espirituais.	A	
burguesia,	em	plena	afirmação,	ridicularizava	aqueles	séculos	de	comércio	limitado	e	
de	economia	enrijecida	pelas	proibições	às	oportunidades	de	ganho	e	à	lucratividade4.
Todavia,	foi,	sem	dúvida,	no	século	XVIII	que	as	críticas	à	Idade	Média	tornaram-se	
mais	destrutivas.	Os	iluministas,	adeptos	da	“Filosofia	da	Razão”,	atribuíram	à	Igreja	
e,	portanto,	à	 religião,	uma	 influência	nefasta	no	desenvolvimento	da	humanidade.	
Denis	Diderot	 (1713-1784)	 e	Marie	 Jean	 Antoine	Nicolas	 de	Caritat,	 o	marquês	 de	
Condorcet	 (1743-1794),	 lamentaram	 a	 “cegueira”	 imposta	 pelo	 cristianismo	 ao	 ho-
mem	medieval,	 limitando	 suas	 ações	 em	direção	 ao	progresso.	Condorcet,	 em	 sua	
obra	Esboço de um quadro histórico dos progressos do espírito humano,	identifica	o	
período	medieval	como	época	“desastrosa”,	de	“anarquia	tumultuosa”	e	de	“fantasias	
teológicas”	(SAITTA,	1996,	p.	18).
Mas	foi	Voltaire	(1694-1778),	que	professava	ideais	de	tolerância,	de	paz	e	de	des-
potismo	ilustrado,	quem	manifestou	maior	desprezo	em	relação	ao	período	medieval.	
Segundo	Giorgio	Falco,	no	entendimento	de	Voltaire,	em	relação	às	invasões	bárbaras	
no	século	XVI,	a	Europa	inteira	se	estagna	em	um	desonroso	envelhecimento,	do	qual	
só	sairá	através	de	terríveis	convulsões.	A	formosa	língua	latina	é	derrotada	por	dialetos	
bárbaros,	os	magníficos	edifícios	se	transformam	em	casarios	de	teto	de	palha,	as	longas	
estradas	são	tomadas	por	águas	estancadas;	as	mentes	se	embrutecem	na	ignorância	e	
na	superstição;	cúmulo	da	vergonha:	os	monges	se	convertem	em	príncipes	e	senhores,	
e	seus	escravos	nem	sequer	ousam	lamentar-se	(FALCO	apud	SAITTA,	1996,	p.	15).
Para	Voltaire,os	papas	eram	símbolos	do	fanatismo	e	do	atraso	característico	da	
Idade	Média.	Sua	posição	em	relação	àquele	período	histórico	pode	ser	 sintetizada	
4	Principalmente	a	condenação	à	usura.	A	esse	respeito,	veja-se:	LE	GOFF,	Jacques.	A	bolsa	e	a	vida:	a	
usura	na	Idade	Média.	São	Paulo:	Brasiliense,	1989.
15
pela	maneira	como	se	referia	à	Igreja:	“a	infame”	(VOLTAIRE	apud	FRANCO	JÚNIOR,	
2001,	p.	12).
O	mesmo	sentimento	de	desprezo	em	relação	à	Idade	Média	observado	por	Giorgio	
Falco	na	obra	de	Voltaire	é	retratado	na	obra	de	outro	iluminista,	William	Robertson.	
Em	seu	livro	História do Reino do Emperador Carlo V,	publicado	em	1769,	Robertson	
ressalta	as	mudanças	provocadas	pelos	bárbaros	e	culpa-os	pela	“destruição”	do	mun-
do	romano.	“Por	todas	as	partes	foram	introduzidas	novas	formas	de	governo,	novas	
leis,	novos	costumes,	novas	formas	de	vestir,	novas	línguas	e	novos	nomes	de	homens	
e	lugares”	(ROBERTSON	apud	SAITTA,	1996,	p.	17).
Essas	mudanças	eram,	na	concepção	de	Robertson,	resultado	da	“violência	exter-
minadora”	imposta	pelos	bárbaros,	e	prova	muito	mais	contundente	do	que	os	relatos	
de	contemporâneos,	como	Amiano	Marcelino,	Santo	Anselmo	ou	Jordanes,	que	teste-
munharam	ou	escreveram	sobre	os	acontecimentos	da	época.	Recusando-se	a	atribuir	
qualquer	valor	histórico	e	cultural	aos	reinos	oriundos	das	invasões	bárbaras,	o	autor	
afirma,	contraditoriamente:	“Na	obscuridade	do	caos	provocado	por	esse	desastre	uni-
versal,	devemos	buscar	os	germes	da	ordem	e	descobrir	os	primeiros	rudimentos	das	
formas	políticas	e	das	leis	vigentes	hoje	na	Europa”	(ROBERTSON	apud	SAITTA,	1996,	
p.	18).	
Nem	mesmo	um	dos	mais	proeminentes	historiadores	da	ilustração	deixou	de	ma-
nifestar	um	sentimento	negativo	em	relação	à	Idade	Média.	Em	Declínio e queda do	
Império Romano,	ao	referir-se	às	“Ruínas	de	Roma	no	século	XV”,	na	conclusão	de	sua	
longa	obra5	Edward	Gibbon	se	reporta	às	lamurias	de	dois	servidores	do	papa	Eugênio	
IV	(1431-1447),	que,	do	alto	da	colina	capitolina,	observavam	as	ruínas	de	colunas	e	
templos	de	Roma.	E	foi	observando	aquelas	ruínas	que	Gibbon	sentiu-se	inspirado	a	
escrever	sua	obra: 
“Foi	entre	as	ruínas	do	Capitólio	que	pela	primeira	vez	concebi	a	idéia	de	uma	
obra	que	distraiu	e	ocupou	perto	de	vinte	anos	de	minha	vida	e	que,	por	mais	
longe	que	esteja	da	medida	dos	meus	desejos,	entrego	finalmente	à	curiosidade	
e	à	imparcialidade	do	público”	(1989,	p.	490).
Nessa	obra,	Gibbon,	de	acordo	com	os	ideais	iluministas,	caracteriza	a	Idade	Média	
como	um	período	de	estagnação,	de	terrível	e	interminável	decadência.
Todavia,	 já	no	final	do	século	XVIII	o	negativismo	em	relação	à	 Idade	Média	co-
meçou	a	ser	posto	de	lado.	Contemporâneo	de	Gibbon,	o	filósofo	e	escritor	alemão	
5	Existe	uma	edição	completa	da	obra	de	Edward	Gibbon,	em	quatro	volumes	publicados	recentemente	
pela	editora	espanhola	Turner	(2006/2007).	Aqui	utilizamos	a	edição	abreviada	publicada	no	Brasil	pela	
Companhia	das	Letras	em	1989,	e	reeditada	em	2005.
introdução ao estudo da 
história medieval
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
16
Johann	Gottfried	von	Herder	(1744	-1803),	cujas	obras	exerceram	forte	influência	no	
Romantismo	alemão,	conclamou	os	literatos	alemães	a	buscarem	inspiração	nas	ori-
gens	germânicas	e	atacou	a	tirania	da	estética	clássica	e	da	imitação	dos	antigos.
Em	sua	obra	intitulada	Também uma filosofia da	história para a formação da hu-
manidade	(1774),	Herder	afirma	que,	na	época	das	invasões	dos	povos	germânicos,	o	
mundo	romano	estava	debilitado,	desfeito	e	habitado	por	“criaturas	sem	fibra	que	se	
afundavam	na	opulência,	no	vício,	na	desordem,	na	licença	e	num	orgulho	guerreiro	
selvagem”	(1995,	p.	48).	Para	o	autor,	as	 leis	e	os	conhecimentos	dos	romanos	não	
podiam	mais	suprir	as	energias	perdidas	nem	fortalecer	aquele	espírito	vital	capaz	de	
impulsionar	a	humanidade.
Diferentemente	do	que	haviam	afirmado	os	renascentistas,	assim	como	os	iluminis-
tas	de	sua	época	Herder	não	culpa	os	invasores	bárbaros	pela	destruição	do	mundo	
romano.	Ao	contrário,	diz:	
E	eis	que	do	Norte	tinha	nascido	um	novo	homem!	Sob	um	céu	mais	frio,	numa	
paisagem	deserta	 e	 selvagem,	onde	ninguém	suspeitaria,	 amadurecia	 já	uma	
onda	primaveril	de	ervas	robustas	e	cheias,	que,	quando	transplantadas	para	as	
terras	mais	belas	do	Sul	–	por	ora	transformadas	em	terreno	desolado	–,	haviam	
de	 tomar	uma	nova	natureza	 e	oferecer	 ao	destino	do	mundo	uma	enorme	
colheita!	Godos,	vândalos,	burgúndios,	anglos,	hunos,	hérulos,	francos	e	búlga-
ros,	eslavos	e	lombardos	chegaram,	estabeleceram-se,	e	o	mundo	moderno,	do	
Mediterrâneo	ao	Mar	Negro,	do	Atlântico	ao	Mar	do	Norte,	é	obra	sua,	geração	
sua,	constituição	política	sua.	E	não	trouxeram	apenas	forças	para	serem	aplica-
das.	Que	leis	e	que	instituições	trouxeram	também	para	o	grande	palco	onde	se	
processa	a	construção	do	mundo!	(HERDER,	1995,	p.	48).
Um	 contemporâneo	 de	Herder,	 o	 poeta	 e	 dramaturgo	Gotthold	 Lessing	 (1729-
1781),	expressou	tal	admiração	em	relação	à	Idade	Média	que	nos	permite	qualificá-lo	
de	verdadeiro	precursor	do	 idealismo	Romântico:	“Noite	da	 Idade	Média,	que	seja!	
Mas	era	uma	noite	resplandecente	de	estrelas”	(LESSING	apud	VALDEÓN	BARUQUE,	
2004,	p.	219).
Mas	foi	no	século	XIX	que	o	conceito	de	Idade	Média	adquiriu	novos	matizes.	A	
imagem	que	os	românticos	difundiram	acerca	do	período	medieval	contrastava	total-
mente	com	o	que	os	iluministas	haviam	escrito.	A	motivação	principal	foi	a	questão	
da	identidade	nacional,	que	ganhou	força	ante	as	ameaças	das	conquistas	de	Napo-
leão.	O	imperador	francês	pretendia	unificar	a	Europa	e	mantê-la	sob	seu	controle.	
Essa	atitude	provocou	em	cada	região	dominada	ou	ameaçada	uma	valorização	de	sua	
cultura	e	de	sua	história.	As	teses	iluministas	e	o	racionalismo	pretendido	pelos	seus	
representantes	não	foram	capazes	de	impedir	que,	no	início	do	século	XIX,	a	Europa	
se	encontrasse	mergulhada	em	conflitos	políticos,	guerras	e	revoluções.
Nesse	quadro,	a	Idade	Média	passou	a	ser	referência	como	época	de	fé,	tradição	e	
17
autoridade.	Ela	oferecia	um	alento	à	insegurança	e	aos	problemas	decorrentes	do	culto	
exagerado	ao	cientificismo	dos	defensores	da	“razão”.
Mesmo	na	Alemanha,	cuja	unificação	só	ocorreria	no	final	do	século	XIX,	as	ideias	
de	Herder	e	Lessing	ganharam	adeptos.	Os	historiadores	Heinrich	Luden	(1778-1847)	
e	Johann	Friedrich	Bohmer	(1795-1863)	foram	os	principais	defensores	da	Idade	Mé-
dia.	Em	1818,	Bohmer,	após	admirar	a	arquitetura	da	cidade	de	Estrasburgo,	afirmou:	
“Jamais	alguém	me	convencerá	de	que	a	 Idade	Média,	que	criou	 todas	essas	obras,	
foi	uma	época	de	barbárie.”	(BOHMER	apud	VALDEÓN	BARUQUE,	2004,	p.	219).	E	
Luden,	autor	de	História do povo alemão	(1825),	escreveu:	“Há	uma	geração,	a	Idade	
Média	parecia	uma	noite	escura,	agora	o	encanto	do	que	descobrirmos	tem	fortalecido	
o	desejo	de	seguir	investigando.”	(LUDEN	apud	VALDEÓN	BARUQUE,	2004,	p.	219).
A	literatura	e	a	arte	alemãs	não	ficaram	incólumes	à	tendência	de	valorização	ou	
supervalorização	do	período	medieval.	Temáticas	medievais	aparecem	em	obras	como	
Fausto	 (1806/1832),	de	Goethe,	e	em	composições	 líricas	como	as	óperas	Tristão	e	
Isolda	(1859)	e	Parsifal	(1882),	de	Richard	Wagner.
Também	na	França,	 como	na	 Inglaterra,	 a	nostalgia	 romântica	em	relação	à	 Ida-
de	Média	resultou	em	obras	de	grande	aceitação,	como	O corcunda de Notre Dame	
(1831),	de	Victor	Hugo	(1802-1885),	e	o	romance	de	cavalaria	Ivanhoé	(1819),	de	Sir	
Walter	Scott	(1771-1832).	Historiadores	como	o	francês	Jules	Michelet	(1798-1874)	e	
o	escocês	Thomas	Carlyle	(1795-1881)	também	se	dedicaram	a	resgatar	a	Idade	Média.	
Michelet	reservou	seis	volumes	de	sua	História da França	(1833/1844)	à	Idade	Média.	
Carlyle,	em	sua	obra	On heroes and hero-worship and the heroic in history	(1841)	
dedicou-se	ao	estudo	de	personagens	heróicos,	da	Idade	Média	aos	tempos	modernos.
Mas	 os	 escritores	 do	 Romantismoexageraram	 em	 relação	 à	 Idade	Média,	 tanto	
quanto	os	renascentistas	e	iluministas.	Se,	para	os	primeiros,	essa	teria	sido	uma	época	
de	 trevas,	 a	 ser	 riscada	da	história,	para	os	 românticos	ela	 foi	um	período	magnífi-
co,	uma	época	que	deveria	ser	imitada.	Assim	como	Lessing	viu	a	Idade	Média	como	
uma	noite	“resplandecente	de	estrelas”,	Michelet	a	definiu	como	“aquilo	que	amamos,	
aquilo	que	nos	amamentou	quando	pequenos,	aquilo	que	foi	nosso	pai	e	nossa	mãe,	
aquilo	que	nos	cantava	tão	docemente	no	berço”	(MICHELET	apud	FRANCO	JÚNIOR,	
2001,	p.	13),	e	Carlyle,	como	“a	coisa	mais	elevada”	(CARLYLE	apud	FRANCO	JÚNIOR,	
2001,	p.	13)	produzida	pela	Europa.
Não	obstante,	 o	 século	XIX	desempenhou	um	papel	 importante	 no	desenvolvi-
mento	das	pesquisas	em	relação	à	Idade	Média.	Várias	coleções	documentais	 foram	
organizadas	e	catalogadas.	Uma	das	mais	significativas	foi	a	Monumenta	Germaniae 
Historica,	iniciada	em	1826,	na	Alemanha,	sob	a	direção	de	Georg	Heinrich	Pertz.	Essa	
coleção	abrange	o	período	compreendido	entre	os	anos	500	e	1500,	e	seu	objetivo	é	
introdução ao estudo da 
história medieval
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
18
recolher	as	fontes	medievais	mais	importantes	dos	diversos	povos	germânicos.	Parale-
lamente	vieram	à	luz	outras	coleções,	como	as	inglesas	Rerum britannicorum medii	
aevi scriptores;	Patent Rolls e	Close Rolls,	e	as	francesas	Collection de documents rela-
tifs à l’histoire de	France	e	Patrologiae Latina.	Na	Espanha,	destacam-se	a	Colección	
de	documentos inéditos para la historia de España	(1841);	as	Atas de	las Cortes de 
los antiguos reinos de Castilla y de León	(1861-1882);	o	Memorial histórico español	
(1861)	e	as	Crónicas de los reyes de Castilla desde	Alfonso el Sabio hasta los reyes 
Católicos.	Em	Portugal,	a	principal	coleção	documental	foi	a	Portugalia Monumenta	
Historica,	organizada	por	Alexandre	Herculano	em	1867.
Do	que	expusemos	até	o	momento,	a	que	conclusão	deve	chegar	o	historiador	do	
século	XXI	em	relação	à	Idade	Média?	Devemos	aderir	à	lenda	negra	difundida	pelos	
renascentistas	e	iluministas	ou	à	lenda	dourada	criada	pelos	românticos?	–	Nem	uma	
coisa,	nem	outra.	Devemos	analisá-la	com	senso	crítico,	respeitando	seus	progressos	e	
suas	contradições.	“A	função	do	historiador	é	compreender,	não	a	de	julgar	o	passado.”	
(FRANCO	JÚNIOR,	2001,	p.	13).
Sem	dúvida,	na	Idade	Média,	lançada	aos	infernos	por	alguns	e	aos	céus	por	ou-
tros,	foram	criadas	as	bases	do	mundo	contemporâneo.	Conforme	esclarece	Jacques	
Le	Goff,	ela	“criou	a	cidade,	a	nação,	o	Estado,	a	universidade,	o	moinho,	a	máquina,	a	
hora	e	o	relógio,	o	livro,	o	garfo,	o	vestuário,	a	pessoa,	a	consciência...	e	a	revolução”	
(1993,	p.	12).	A	lista	poderia	ser	enorme:	poderíamos	acrescentar	o	patrimônio	lin-
güístico	ocidental	–	o	inglês,	o	francês,	o	alemão,	o	italiano,	o	espanhol	e	o	português	
nasceram	na	Idade	Média	–,	o	patrimônio	dos	valores	sociais,	da	cultura	material,	das	
práticas	econômicas,	e	o	científico6.
a periodização da História medieval
A	 discussão	 elaborada	 no	 tópico	 anterior	 nos	 possibilita	 definir	 a	 Idade	 Média	
como	um	período	da	história	da	Europa	que	se	estende	do	fim	do	Mundo	Antigo	ao	
Renascimento,	quando	se	inicia	o	chamado	“período	moderno”.	Entretanto,	não	existe	
unanimidade	entre	os	historiadores	com	relação	às	balizas	cronológicas	que	determi-
nariam	o	seu	início	e	o	seu	fim,	e	qualquer	afirmação	concreta	seria	passível	de	críticas	
e	discussões.
De	modo	geral,	tem-se	estabelecido	como	início	da	Idade	Média	o	ano	de	476,	data	
em	que	o	 Imperador	do	Ocidente,	 Rômulo	Augústulo,	 foi	 deposto	pelo	ostrogodo	
6	A	historiografia	sobre	as	contribuições	do	período	medieval	ao	mundo	contemporâneo	é	relativamen-
te	ampla.	Como	síntese,	indicamos	as	seguintes	referências:	WHITE,	L.	Tecnología	medieval	y	cambio	
social.	Barcelona:	Paidós,	1990;	FRUGONI,	C.	Invenções	da	Idade	Média:	óculos,	livros,	bancos,	botões	
e	outras	inovações	geniais.	Rio	de	Janeiro:	Jorge	Zahar,	2007.
19
Odoacro7.	 Entretanto,	 dependendo	 do	 critério	 analítico	 que	 se	 adota,	 outras	 datas	
ganham	importância.	Entre	elas,	o	ano	de	313,	em	que	o	Imperador	Constantino	de-
cretou	o	Edito	de	Milão,	que	garantia	a	liberdade	de	culto	aos	cristãos;	o	ano	de	392,	
quando	Teodósio	I	proclamou	o	cristianismo	como	religião	oficial	do	Império	Roma-
no;	o	ano	de	378,	em	que	o	Imperador	Valente	foi	morto	pelos	godos	na	Batalha	de	
Adrianópolis;	o	ano	de	410,	em	que	a	cidade	de	Roma	foi	saqueada	pelos	godos	e	a	
corte	imperial	romana	foi	transferida	para	Ravena;	e	698,	data	que	marca	a	conquista	
muçulmana	de	Cartago.	
Com	relação	ao	fim	da	Idade	Média,	geralmente	os	historiadores	adotam	o	ano	de	
1453,	quando	a	cidade	de	Constantinopla,	capital	do	Império	Romano	do	Oriente,	foi	
conquistada	pelo	sultão	turco	Mehmed	II.	Esta	data	marca	também	o	fim	da	Guerra	
dos	Cem	Anos,	outro	acontecimento	que	poria	fim	à	Idade	Média.	Outros	fatos	e	datas	
são	mencionados:	o	descobrimento	da	América	por	Cristóvão	Colombo,	em	1492,	e	o	
ano	de	1517,	quando	Martinho	Lutero	publicou	suas	95	teses,	o	que	marca	o	início	da	
Reforma	Protestante.	
Apesar	da	importância	desses	acontecimentos,	todas	as	datas	são	aleatórias,	uma	
vez	que,	sendo	a	História	um	processo,	deve-se	renunciar	à	busca	de	um	fato	específico	
que	teria	inaugurado	ou	posto	fim	à	Idade	Média.	Como	observa	Régine	Pernoud,	não	
existe	tratado	algum	que	determine	a	mudança	de	uma	época	histórica	(1978,	p.	5).
Portanto,	entende-se	que	a	Idade	Média	abrange	um	período	de	cerca	de	mil	anos,	
que	se	estende	do	século	V	ao	século	XV,	período	bastante	longo,	em	que	as	estruturas	
básicas	não	permaneceram	 inalteradas.	Em	razão	disso	os	historiadores	passaram	a	
dividir	a	história	medieval	em	períodos	que	apresentaram	certa	unidade	interna.	Tais	
períodos	 são	 comumente	denominados:	Alta Idade Média,	 Idade Média	Central	 e	
Baixa Idade Média.	
Vejamos	os	limites	temporais	atribuídos	a	cada	um	deles,	bem	como	os	aspectos	
econômicos,	sociais,	políticos	e	culturais	que	os	caracterizam.
A	Alta Idade Média	é	o	período	mais	longo,	que	se	estenderia	do	século	V	ao	X,	
mas	geralmente	aparece	na	historiografia	dividido	em	Antiguidade Tardia	ou	Primei-
ra Idade	Média,	e	Alta Idade	Média	propriamente	dita.
As	razões	que	levaram	alguns	historiadores	a	adotarem	Antiguidade Tardia,	e	ou-
tros,	Primeira Idade Média,	para	se	referirem	aos	séculos	ditos	de	“transição”	são	me-
ramente	interpretativas.	Os	defensores	da	ideia	de	Antiguidade Tardia	utilizam	esse	
termo	para	identificar	o	período	compreendido	entre	os	séculos	IV	e	VIII	como	uma	
7	Não	há	um	consenso	em	relação	à	origem	de	Odoacro.	De	acordo	com	algumas	fontes	da	época,	era	
rei	dos	hérulos	antes	de	esse	povo	ter	sido	anexado	pelos	godos.
introdução ao estudo da 
história medieval
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
20
“outra	antiguidade”,	diferente	da	“Antiguidade	Clássica”8.	Para	os	partidários	da	ideia	
de	Primeira Idade Média,	esse	período	apresenta	uma	imagem	própria,	diferente	da	
“antiga”,	mas	ainda	não	claramente	“medieval”9.
Adotando-se	um	ou	outro	critério,	caberia	teoricamente	ao	período	que	se	estende	
dos	decênios	finais	do	século	VIII	ao	X	a	denominação	de	Alta Idade Média,	o	que	
permite,	grosso modo,	identificá-la	como	período	de	consolidação	e	desagregação	do	
Império	Carolíngio10.
Antiguidade Tardia	ou	Primeira Idade Média	e	Alta Idade Média11,	qualquer	que	
seja	a	denominação	que	se	adote	para	o	período	compreendido	entre	a	queda	do	Im-
pério	Romano12	e	o	século	X,	pode	ser	considerado	historicamente	como	o	da	gênese	
do	feudalismo.
No	que	se	refere	ao	aspecto	político,	observa-se	a	permanência	de	estruturas	de	po-
der	e	de	administração	romanas	nas	monarquias	germânicas,	que	evoluíram	para	certa	
unidade	 política	 com	os	 carolíngios.	No	 econômico,	 uma	debilidade,	 que	 se	 inicia	
com	as	invasões	bárbaras	e	permanecepelo	menos	até	meados	do	século	VIII,	quan-
do	se	inicia	uma	recuperação.	Em	termos	sociais,	observa-se	um	relativo	crescimento	
demográfico,	sobretudo	nos	séculos	IX	e	X,	assim	como	a	afirmação	das	relações	de	
dependência	que	caracterizariam	o	feudalismo;	e	no	aspecto	cultural,	uma	fusão	de	
valores	 da	 cultura	 romana	 com	 a	 germânica,	 que	 adquiriram	 forma	própria	 com	o	
Renascimento	carolíngio,	além	da	afirmação	do	cristianismo	e	de	sua	expansão	para	
regiões	pagãs,	graças,	sobretudo,	à	aliança	entre	a	Igreja	e	o	Estado	carolíngio.
8	Veja-se:	FRIGHETTO,	Renan.	Estruturas	sociais	na	Antiguidade	Tardia	Ocidental	(séculos	IV/VIII).	In:	
SILVA,	G.	V.;	MENDES,	N.B.	(org.).	Repensando	o	Império	Romano:	perspectiva	socioeconômica,	políti-
ca	e	cultural.	Rio	de	Janeiro:	Mauad;	Vitória:	Edufes,	2006,	p.	223-240.
9	Veja-se:	ANDRADE	FILHO,	R.	O.	Antiguidade	Tardia	ou	Primeira	Idade	Média?	In:	ANDRADE	FILHO	
(org.).	Relações	de	poder,	 educação	e	 cultura	na	Antiguidade	e	 Idade	Média.	 Santana	de	Paranaíba:	
Solis,	2005,	p.	233-242;	FRANCO	JÚNIOR,	H.	A	Idade	Média,	nascimento	do	Ocidente.	São	Paulo:	Bra-
siliense,	2001,	p.	15.
10	As	subdivisões	podem	variar	segundo	os	critérios	adotados	pelos	historiadores.	Hilário	Franco	Júnior	
define	como	Alta Idade Média o	período	que	se	estende	de	meados	do	século	VIII	a	fins	do	século	X.
11	Conforme	observamos,	 essas	 subdivisões	 são	 de	 natureza	meramente	 interpretativa.	 Poderíamos	
rechaçar	tanto	a	denominação	de	Antiguidade	Tardia	quanto	a	de	Primeira	Idade	Média,	e	adotarmos	
unicamente	a	de	Alta	 Idade	Média.	Note-se	que,	para	 Jacques	Le	Goff,	a	 Idade	Média	se	estende	do	
século	IV	ao	final	do	século	XVIII;	portanto,	uma	“longa”	Idade	Média.	Veja-se,	entre	outras	referências	
desse	autor,	a	obra	recentemente	publicada:	LE	GOFF,	J.	A	Idade	Média	explicada	aos	meus	filhos.	Rio	
de	Janeiro:	Agir,	2007,	p.	13-16.
12	Não	cabe	aqui	entrarmos	na	polêmica	em	relação	ao	significado	do	ano	de	476.	Essa	data	marcaria	
“o	fim	do	Império	Romano	do	Ocidente”	ou	“o	fim	do	Império	Romano	no	Ocidente”?	Esse	questio-
namento	tem	levado	os	historiadores	à	discussão	sobre	“rupturas”	e	“continuidades”,	ao	abordarem	o	
período	que	se	estende	da	crise	do	Império	Romano	à	formação	dos	reinos	germânicos	até	o	advento	
dos	carolíngios.
21
A	Idade Média Central,	que	abrange	o	período	que	se	estende	do	século	XI	ao	XIII,	
é	considerada	a	época	do	feudalismo.	No	plano	político,	a	principal	característica	é	
a	fragmentação	do	poder,	com	a	distribuição	das	prerrogativas	reais	entre	a	nobreza	
terratenente.	No	econômico,	verifica-se	um	crescimento	generalizado	da	produção	e	
do	comércio,	além	de	uma	expansão	territorial,	da	qual	as	cruzadas	e	a	Reconquista	
Ibérica	 são	 os	 exemplos.	 Socialmente,	 observa-se	 um	 crescimento	 da	 população	 e,	
consequentemente,	da	mão	de	obra	disponível,	tanto	no	campo	quanto	nas	cidades.	
No	âmbito	das	relações	sociais,	evidenciam-se	as	relações	“horizontais”	(suserania	e	
vassalagem)	e	“verticais”	(senhorio	e	servidão).	Culturalmente,	considera-se	o	período	
mais	rico	da	Idade	Média:	época	do	surgimento	das	universidades,	da	escolástica,	e	das	
artes	românica	e	gótica.	
A	Baixa Idade Média	(séculos	XIV	e	XV)	é	o	período	de	transição	para	o	mundo	
Moderno.	Observa-se	uma	crise	generalizada,	iniciada	em	meados	do	século	XIV	e	que	
põe	fim	à	expansão	dos	séculos	XI	a	XIII.	No	plano	econômico,	assiste-se	a	um	declínio	
da	produção	e	do	comércio,	de	modo	geral.	No	social,	um	acentuado	decréscimo	da	
população,	em	decorrência	de	epidemias	como	a	peste	negra,	o	que	contribui	para	a	
desestruturação	do	esquema	tripartido	–	oratores,	bellatores	e	laboratores	–	carac-
terístico	do	feudalismo.	Politicamente,	verifica-se	uma	tendência	ao	fortalecimento	do	
poder	 real,	 a	 chamada	 centralização	monárquica,	 base	do	 absolutismo	dos	Estados	
Modernos.	Culturalmente,	as	cidades	e	o	ambiente	cortês,	assim	como	as	mudanças	
na	estrutura	do	ensino	universitário	possibilitaram	uma	secularização	dos	costumes.	
O	pensamento	e	a	produção	intelectual	deixam	de	ser	monopólio	da	Igreja.	As	línguas	
vernáculas	tornam-se	línguas	oficiais	dos	estados	em	substituição	ao	latim,	o	que	pos-
sibilitou	uma	maior	difusão	da	cultura.
panorama de fontes para o estudo da idade média
Os	historiadores	da	Idade	Média	e	os	estudantes	interessados	em	pesquisar	sobre	
esse	período	histórico	contam	hoje	com	um	volume	significativo	de	 fontes	para	re-
alizar	 suas	pesquisas.	Essa	multiplicidade	 implica	a	necessidade	de	classificação	das	
fontes	medievais	de	acordo	com	sua	tipologia	e	o	uso	que	se	faz	dela	na	investigação.	
Francisco	Ruiz	Gómez	 (1998)	estabeleceu	a	 seguinte	 classificação	para	as	 fontes	
históricas:	fontes orais,	fontes escritas	e	fontes	arqueológicas.
As	fontes orais	inexistem	para	a	Idade	Média.	Os	historiadores	dispõem	apenas	de	
referências	a	elas,	em	alguns	textos	escritos.
As	 fontes escritas	 são	 as	mais	 abundantes	 e	 as	mais	utilizadas	pelos	medievalis-
tas.	 Sua	 tipologia	é	 igualmente	 variada:	biografias,	 crônicas,	hagiografias,	obras	his-
tóricas,	 literárias,	 filosóficas,	morais	 e	didáticas,	 códigos	 jurídicos,	 regras	monacais,	
introdução ao estudo da 
história medieval
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
22
documentos	oficiais	(estatutos,	atas,	censos,	contratos,	editos,	diplomas,	regulamen-
tos,	 etc.)	 e	 privados	 (registros	 nobiliários,	 regulamentos	 corporativos	 e	 comunais,	
etc.),	além	de	muitas	outras	possíveis	de	serem	mencionadas.
As	fontes arqueológicas	ou	materiais	compreendem	monumentos	arquitetônicos	
(catedrais,	castelos,	palácios,	monastérios,	casas,	pontes),	preservados	ou	em	ruínas,	
objetos	da	vida	cotidiana	(utensílios,	ferramentas,	vestimentas,	joias,	tecidos,	tapetes,	
móveis,	etc.),	obras	de	arte	(iconografias,	pinturas,	esculturas,	cerâmicas),	armas,	mo-
edas	e	demais	vestígios	arqueológicos,	as	quais	permitem	ao	historiador	obter	uma	
imagem	complementar	dos	fundamentos	da	sociedade,	da	economia	e	da	cultura	da	
Idade	Média.
Excetuando-se	as	 fontes orais	–	pela	 razão	aduzida	acima	–	permanecem	como	
fontes	reais	para	os	medievalistas	as	fontes escritas	e	as	arqueológicas	ou	materiais.	
Por	 estarem	mais	 próximas	 das	 possibilidades	 de	 pesquisa	 dos	 historiadores	 e	 dos	
estudantes	brasileiros,	vamos	privilegiar,	neste	item,	as	fontes escritas	publicadas	rela-
tivas	aos	três	períodos	da	História	Medieval:	Alta Idade Média,	Idade Média Central	
e	Baixa Idade	Média.	
As	fontes	escritas	referentes	à	Alta Idade Média	são	relativamente	escassas	se	com-
pararmos	com	a	documentação	produzida	na	Idade Média Central	e	na	Baixa Idade 
Média,	pelo	menos	até	o	período	carolíngio.	
Vejamos	alguns	exemplos	de	 fontes	escritas:	obras	 teológico-filosóficas,	como	as	
de	Santo	Agostinho	(A cidade de Deus, Confissões, Da Doutrina Cristã);	Boécio	(A 
consolação da filosofia);	Cassiodoro	(Instituições);	Martinho	de	Braga	(Formula vitae 
honestae/Fórmula de vida	honesta	 e	De correctione rusticorum/Sobre a instrução 
dos rústicos).	Regras	monásticas	(Regra de Santo Agostinho;	Regra de São Bento).	Ha-
giografias	(La vita de	San Fructuoso de Braga;	Vida de los Santos Padres de Mérida;	
Historias de los monjes	de Siria,	de	Teodoreto	de	Ciro).	Obras	históricas	(Origen y 
gestas de los godos,	de	Jordanes;	as	Crónicas Asturianas;	Ecclesistical History of the 
english	people,	de	Beda;	The history of the franks,	de	Gregório	de	Tours;	Historia de 
los Godos,	de	Isidoro	de	Sevilha;	o	anônimo	Poema de Fernán Gozález e	os	Anales 
Nortumbricenses,	sobre	a	região	da	Northumbria	anglo-saxã).	Códigos	jurídicos	(Li-
ber Iudiciorum,	dos	visigodos).	Obras	científicas,	como	as	Etimologias,	de	Isidoro	de	
Sevilha.
No	período	do	chamado	“Renascimento	Carolíngio”	a	elaboração	de	fontes	escritas	
foi	mais	efetiva.	Destacam-se	textos	políticos,	como	o	De institutione regia,	de	Jonas	
de	Orleans;	De ordini palatii,	de	Hincmar	de	Reims.Obras	históricas	oficiais,	como	
a	Crónica de Región de Prum;	os	Anales del Imperio Carolingio.	Relatos	de	historia	
regional	redigidos	em	monastérios	ou	catedrais,	como	os	Anales de	São Bertín	e	os	
23
da	Abadia	de	Fulda.	Biografias,	como	a	Vida de Carlos Magno,	de	Engihardo,	além	de	
textos	de	Alcuino	e	Abbon	de	Fleury.	Textos	legislativos,	como	a	Capitular de Villis,	
importante	coleção	de	textos	agrupados	em	capítulos,	aprovados	pela	Assembléia	Ge-
ral	Carolíngia.	Destacam-se,	também,	os	Polípticos,	inventários	de	bens	e	rendas	refe-
rentes	a	distintos	territórios,	como	o	realizado	pelo	abade	de	Irminón	do	Monastério	
de	San	Germain	des	Prés,	fontes	importantes	para	o	estudo	da	economia	na	Alta	Idade	
Média.
Existem,	ainda,	obras	escritas	tardiamente,	ou	seja,	na	Idade Média Central,	mas	
que	se	referem	à	Alta Idade Média,	como	a	gesta	Canção de Rolando,	os	épicos	Beo-
wulf	e	Nibelungos,	e	as	sagas	Viland	e	Islandesas,	todas	elas	obras	anônimas.
As	fontes	referentes	à	Idade Média Central	são	bastante	abundantes,	de	modo	que,	
assim	como	indicamos	para	a	Alta Idade Média,	vamos	mencionar	alguns	exemplos	
de	acordo	com	a	tipologia	das	fontes,	e,	em	especial,	as	relativas	à	Península	Ibérica.
Existe	um	número	significativo	de	fontes	relativas	às	monarquias	feudais	da	França	
e	da	Inglaterra,	e	também	referentes	aos	reinos	ibéricos,	entre	os	séculos	XI	e	XIII.	Ci-
temos,	para	o	caso	inglês,	o	Domesday Book,	levantamento	fiscal	e	estatístico	elabora-
do	por	ordem	de	Guilherme,	o	Conquistador,	em	1086;	a	Historia Regina Britanniae,	
de	Geoffrey	de	Monmouth,	do	século	XII;	e	a	obra	iconográfica	The Bayeux Tapestry,	
que	relata	a	conquista	da	Inglaterra	por	Guilherme,	o	Conquistador,	em	1066.	Para	os	
reinos	de	Castela	e	Leão,	a	Chronica Adefonsi Imperatoris,	referente	ao	reinado	de	
Alfonso	VII;	a	Crónica Latina de los Reyes de Castilla;	as	“Obras	Jurídicas”	de	Alfonso	
X,	o	Sábio	(Fuero Real; Espéculo e Las Siete Partidas);	a	Colección diplomatica del 
reinado de Sancho IV,	de	Castela,	e,	para	Portugal,	as	Crónicas dos sete primeiros reis 
de Portugal,	O	Livro das leis e	Posturas	e	as	Ordenações Afonsinas13.
A	documentação	eclesiástica	é	igualmente	abundante,	graças	à	organização	de	ar-
quivos	de	igrejas	e	monastérios.	Bispos	e	abades	produziram	uma	farta	documenta-
ção	diplomática	e	administrativa,	agrupada	em	cartulários	e	coleções	diplomáticas	das	
mais	importantes	instituições	eclesiásticas.	Uma	grande	quantidade	de	textos	doutri-
nais,	como	sermões,	relatos	hagiográficos,	obras	teológicas	e	filosóficas,	além	de	uma	
vasta	documentação	pontifícia	inclui-se	no	leque	da	documentação	religiosa	da	Idade	
Média	Central.
Basta	lembrar	algumas	obras	mestras,	como	o	Decreto de Graciano;	a	Suma Teoló-
gica,	de	Santo	Tomás	de	Aquino;	a	Legenda Áurea: vida dos	santos,	de	Jacopo	de	Va-
razze;	os	Escritos de	São	Francisco	de	Assis;	as	várias	Crônicas Franciscanas;	as	obras	
13	O	Livro	das	Leis	e	Posturas	é	provavelmente	do	fim	do	século	XIV	ou	início	do	século	XV,	e	as	Orde-
nações	Alfonsinas,	de	1446,	mas	ambas	as	fontes	recolhem	informações	do	século	XIII.
introdução ao estudo da 
história medieval
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
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de	Santo	Anselmo	(Da gramática	e	Da verdade;	Monológio	e	Proslógio);	os	diversos	
Tratados,	Sermões,	Sentenças	e	Parábolas,	de	São	Bernardo	de	Claraval;	o	Codex Ca-
lixtinus,	o	mais	famoso	guia	de	peregrinos	da	Idade	Média,	entre	muitas	outras	que	
poderiam	ser	mencionadas.
Há	uma	 farta	documentação	 relacionada	ao	desenvolvimento	urbano,	 iniciado	a	
partir	do	século	XI.	A	administração	pública	das	cidades	medievais	e	as	 instituições	
citadinas,	 como	 guildas	 e	 corporações	 artesanais	 produziu	 uma	 documentação	 de	
cunho	político,	econômico	e	jurídico.	A	título	de	exemplo,	citemos	os	foros	munici-
pais	das	cidades	dos	reinos	de	Castela	(Libro de los Fueros de Castilla	e	o	Fuero Viejo 
de	Castilla)	e	Leão	(Fuero de León);	documentos	relativos	às	guildas	e	corporações	
de	ofícios	(Ordenanzas y otros documentos complementários relativos a las corpo-
raciones	de oficio en el reino de Aragón en la Edad Media);	contratos	comerciais	(23 
contratos	comerciales escritos por los judíos de Toledo en los siglos XIII-XIV)	e	a	Lei 
de	Almotaçaria	portuguesa	do	século	XIII.
A	 literatura	da	 Idade	Média	Central	é	 rica	e	de	 tipologia	muito	variada,	o	que	a	
torna	um	manancial	inesgotável	para	a	realização	de	pesquisas	acadêmicas.	Além	das	
obras	 já	mencionadas,	poderíamos	acrescentar	 como	exemplos	os	 livros	de	 viagem	
medievais	(Livro das Maravilhas,	de	Marco	Polo;	as	Crônicas de viagem	dos	monges	
franciscanos;	Chronicles of the Crusades,	de	 Joinville	e	Villehardouim;	a	Cidade de 
Luz,	de	 Jacob	d’	Ancona	e	o	Felix ou Livro de Maravilhas,	de	Ramon	Llull).	Obras	
de	caráter	político-filosófico	(Policraticus,	de	Juan	de	Salisbrury;	Da Monarquia,	de	
Dante	Alighieri;	A Monarquia,	de	Santo	Tomás	de	Aquino;	o	Setenario,	de	Alfonso	X,	o	
Sábio;	Sobre o poder eclesiástico,	de	Egídio	Romano).	Obras	poéticas,	como	A divina 
comédia,	de	Dante	Alighieri;	Líricas,	como	as	Cantigas de Santa Maria,	de	Alfonso	X,	
o	Sábio	e	as	Cantigas d’escárnio e de	mal dizer,	dos	cancioneiros	medievais	galego-
portugueses.	Obras	sobre	o	amor	cortês:	Tratado do amor cortês,	de	André	Capelão	e	
o	Roman de la rose,	de	Jean	de	Meung.	Fábulas	medievais	(Fabliaux)	anônimas.	Livros	
de	cavalaria:	O livro da ordem de cavalaria,	de	Ramon	Llull.	Livros	de	caça,	como	o	
De arte venandi cum avibus,	do	imperador	Frederico	II	de	Hohenstaufen	e	o	Libro de 
la caza,	de	Dom	Juam	Manuel.	Documentos	apócrifos,	como	A carta de Preste João,	
além	de	muitas	outras	fontes	que	seriam	dignas	de	nota.
Instituições	 importantes,	 como	 as	 ordens	monástico-militares,	 produziram	 uma	
documentação	significativa.	Citemos	como	exemplo	as	diversas	“regras”	relativas	a	es-
sas	instituições:	La	Règle	du	Temple,	dos	cavaleiros	templários;	Les	Statuts	de	L’Ordre	
de	Saint-Jean	de	Jérusalem,	da	Ordem	dos	Hospitalários;	a	Regla de la Orden	Militar 
de Santiago del Espada;	a	Regla de la Orden Militar de Calatrava.	Existe	 também	
uma	importante	documentação	relativa	à	estrutura	e	ao	funcionamento	dessas	ordens	
25
militares,	assim	como	às	suas	propriedades.	Vejamos:	Colección Diplomática Medie-
val de la Orden de Alcántara;	Libro de	privilégios de la Orden de San Juan de Je-
rusalém en Castilla y León.	Ainda	em	relação	às	ordens	militares,	cabe	mencionar	o	
opúsculo	Liber ad milites Templi de laude novae	militiae/Em louvor da nova milícia 
templária,	de	São	Bernardo	de	Claraval.
Em	relação	à	Baixa	Idade	Média	(séculos	XIV	e	XV),	o	volume	de	fontes	escritas	
elaboradas	e	conservadas	é	ainda	muito	maior.	A	utilização	do	papel	em	substituição	
ao	pergaminho,	ao	longo	do	século	XIV,	e	a	afirmação	das	línguas	vernáculas	possibili-
taram	a	difusão	e	a	utilização	de	documentos	escritos	em	todos	os	níveis	da	sociedade.	
As	instituições	públicas	(reinos,	principados,	municipalidades,	etc.),	as	eclesiásticas	e	
os	senhorios	intensificaram	a	produção	de	documentos	como	forma	de	controle	sobre	
o	território	e	sobre	a	população	a	eles	pertencentes.
As	instituições	econômicas	citadinas,	hansas,	guildas	e	corporações	de	ofícios	esta-
beleceram	uma	série	de	registros	de	suas	atividades,	como	o	de	compra	e	de	venda,	de	
fiscalização,	de	sentenças	e	julgamentos,	de	execuções,	de	documentos	alfandegários	
e	de	taxas	de	câmbio,	o	que	permite	o	estudo	da	história	econômica	da	época.	Cite-
mos,	como	exemplo,	as	coleções:	Documentos relativos a los oficios artesanales en 
la Baja	Edad Media	e	Documentos relativos a las corporaciones de oficio en el reino 
de	Aragón en la Edad Media.
As	fontes	jurídicas,	históricas,	literárias	e	os	tratados	teológicos,	filosóficos,	políti-
cos	e	científicos	são	igualmente	abundantes,	e	permitem	um	conhecimento	aprofun-
dado	da	Baixa	Idade	Média.
Vejamos	alguns	exemplos:
No	campo	jurídico,	os	jámencionados	Livros das Leis e Posturas	e	as	Ordenações 
Afonsinas,	portugueses,	e	o Ordenamiento de Alcalá,	castelhano,	de	1348.	No	campo	
filosófico-político,	 as	obras:	Sobre El poder del imperio y del papa,	 de	Marsilio	de	
Padua;	o	Brevilóquio sobre o principado tirânico	e	Oito questões sobre o	poder do 
papa,	de	Guilherme	de	Ockham;	e	Sobre o poder régio e papal,	de	João	de	Qudiort.	
De	cunho	religioso	e	moral,	o	Libro de las confessiones,	de	Martín	Pérez.	Obras	cien-
tíficas,	como	o	Códice Zabálburu de Medicina Medieval	e	o	valenciano	Regiment Pre-
servatiu e curatiu de la pestilência,	do	século	XIV.	
As	fontes	de	natureza	puramente	literária	são	dignas	de	nota.	Entre	elas	podemos	
destacar	os	livros	de	viagem	medievais,	como	As viagens de Sir John de Mandeville;	
o	anônimo	Libro del conoscimiento de todos los reinos,	e	os	Diários de viagem,	de	
Cristóvão	Colombo.	Obras	mestras	da	literatura	medieval,	como	o	Decamerão,	de	Boc-
caccio;	Os Contos de Canterbury,	de	Geoffrey	Chaucer	e	o	Libro de buen amor,	de	
Juan	Ruiz	Arcipreste	de	Hita.	Obras	poético-trovadorescas,	como	as	Cantigas de amigo	
introdução ao estudo da 
história medieval
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
26
e	Cantigas de Amor,	do	rei	Dom	Dinis,	de	Portugal.	Obras	que	formam	o	gênero	cha-
mado	“Dance	Macabré”	(Dança	da	morte),	como	a	Danza General	e	a	Farsa llamada 
danza de la	muerte,	espanholas,	e	The dance of death,	de	Hans	Holbein,	publicada	já	
no	início	do	século	XVI,	além	de	vários	dramas	litúrgicos	medievais.
Cabe	mencionar,	também,	algumas	outras	fontes	de	tipologia	variada,	como	o	li-
vro	de	cavalaria	Tirant lo Blanch,	de	Joanot	Martorell;	o	Libro de la Caza,	de	Gaston	
Phoebus	e	o	Libro de la Monteria,	de	Alfonso	XI,	rei	de	Castela.	Bestiários,	como	o	
Livro das Aves,	de	Hugo	de	Folieto,	e	o	Livro das Bestas,	de	Ramón	Llull.	Manuais	de	
inquisição,	Malleus Maleficarum/Martelo das Feiticeiras,	escrito	em	1446	pelos	inqui-
sidores	Heinrich	Kramer	e	James	Sprenger,	e	o	Manual dos Inquisidores,	escrito	em	
1376	por	Nicolau	Eymerich.	Os	chamados	livros	de	horas,	como	Les Trè Riches Heures 
Du Duc	de Berry,	iluminados	pelos	irmãos	Limbourg,	em	1413,	o	Libro de horas de 
Carlos V,	de	1516.	Saltérios,	como	o	The Luttrel Psalter,	de	1330.
Os	pesquisadores	e	estudantes	da	História	Medieval	contam	ainda	com	coleções	
documentais	 –	 além	das	 grandes	 coleções	 publicadas	 no	 século	XIX,	mencionadas	
inicialmente	–	organizadas	por	medievalistas	europeus	e	publicadas	em	português.	
Indicamos	 a	obra	de	Fernanda	Espinosa,	 “Antologia	de	 textos	históricos	medievais”	
(1981)	e	a	de	Maria	Guadalupe	Pedrero-Sánchez,	“História	da	Idade	Média:	textos	e	
testemunhas”	(2000).
eXtratos de doCumentos para aprofundamento temÁtiCo
UMA noVA ConCEpção dA IdAdE MédIA EM fInS do SéCUlo xVIII
Documento 01: Ao refletir sobre as invasões germânicas do século V, o filóso-
fo Johan Gottfried Herder (1774-1803) rompe com o negativismo renascentista 
e iluminista em relação ao período medieval.
E	não	trouxeram	[os	bárbaros]	apenas	forças	para	serem	aplicadas.	Que	leis	
e	que	 instituições	 trouxeram	 também	para	o	grande	palco	onde	 se	processa	
a	 construção	 do	mundo!	 É	 certo	 que	 desprezavam	 as	 artes	 e	 as	 ciências,	 a	
opulência	e	os	refinamentos...	que	afinal	tinham	devastado	a	humanidade.	Mas,	
se	em	vez	de	artes	traziam	consigo	a	natureza,	em	vez	das	ciências	a	saúde	do	
seu	nórdico	 entendimento,	 em	vez	de	 refinamentos	 costumes	 fortes	 e	bons,	
ainda	que	selvagens,	se	tudo	isto	estava	agora	em	condições	de	fermentar	em	
conjunto	 [...]	 Que	 grande	 acontecimento!	 Vede	 as	 suas	 leis,	 como	 respiram	
coragem	viril,	 sentimento	de	honra,	confiança	no	entendimento,	na	 lealdade	
e	 no	 respeito	 pelos	 deuses!	 Vede	 a	 sua	 organização	 feudal,	 como	 enterrou	
o	 tumulto	 das	 cidades	 populosas	 e	 opulentas	 para	 cultivar	 os	 campos	 e	 dar	
27
trabalho	aos	homens,	criando	pessoas	saudáveis	e,	por	isso	mesmo,	satisfeitas!	
Mais	tarde,	resolvidas	as	necessidades,	desenvolveram	um	ideal	orientado	para	a	
castidade	e	a	honra	que	enobreceu	o	que	de	melhor	podia	haver	nas	inclinações	
humanas.	Um	ideal	fixado	em	romance,	é	certo,	mas	romance	de	elevação:	flor	
verdadeiramente	nova	da	alma	humana	(HERDER,	1995,	p.	48-49).
A VISão RoMÂnTICA SoBRE A IdAdE MédIA
Documento 02: Início do Romance Ivanhoe, de Sir Walter Scott (1771-1832).
Naquela	região	agradável	da	alegre	Inglaterra	que	é	banhada	pelo	rio	Don,	
estendia-se,	 em	 época	 remota,	 uma	 grande	 floresta,	 cobrindo	 a	maior	 parte	
das	belas	colinas	e	vales	que	jazem	entre	Sheffield	e	a	aprazível	localidade	de	
Doncaster.	Os	restos	dessa	extensa	floresta	podem	ainda	ser	vistos	nas	nobres	
paragens	de	Wentworth,	em	Warncliffe	Park,	e	ao	derredor	de	Rotherdam.	Lá	
aparecia,	antigamente,	o	fabuloso	Dragão	de	Wanthley;	lá	se	travavam	muitas	
das	 mais	 desesperadas	 batalhas,	 durante	 a	 Guerra	 das	 Rosas.	 E	 lá	 também	
floresceram,	em	tempos	distantes,	aqueles	bandos	de	poscritos	galantes,	cujas	
façanhas	se	tornaram	tão	populares	nas	canções	inglesas.
É	esse	o	nosso	cenário	principal.	Quanto	à	data	da	nossa	história,	refere-se	a	
um	período	de	cerca	do	fim	do	reinado	de	Ricardo	I,	quando	o	seu	regresso	do	
longo	cativeiro	se	tornou	um	acontecimento	que	os	seus	desesperados	súditos	
–	sujeitos,	entrementes,	a	toda	espécie	de	opressões	decorrentes	do	seu	estado	
–	mais	desejavam	que	esperavam	(SCOTT,	1972,	p.	9).
introdução ao estudo da 
história medieval
ANDRADE	FILHO,	R.	O.	Antiguidade	tardia	ou	Primeira	Idade	Média?	In:	ANDRADE	
FILHO,	R.	O.	(Org.).	Relações de poder, Educação e cultura na Antiguidade e 
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FRANCO	JÚNIOR,	H.	A Idade Média:	nascimento	do	Ocidente.	São	Paulo:	
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Referências
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
28
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Edufes,	2006.	p.	223-240.	
FRUGONI,	C.	Invenções da Idade Média:	óculos,	livros,	bancos,	botões	e	outras	
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GIBBON,	E.	Declínio e queda do Império romano.	São	Paulo:	Companhia	das	
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PERNOUD,	R.	Idade Média:	o	que	não	nos	ensinaram.	Rio	de	Janeiro:	Agir,	1994.
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SCOTT,	W.	Ivanhoe.	São	Paulo:	Abril	Cultural,	1972.
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VALDEÓN	BARUQUE,	J.	El	concepto	de	la	Edad	Media:	del	infierno	a	la	gloria.	In:	
BENITO	RUANO,	E.	(Coord.).	Topicos y realidades de la Edad Media (III).	Madrid:	
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WHITE,	L.	Tecnología medieval y cambio social.	Barcelona:	Paidós,	1990.
introdução ao estudo da 
história medieval
Anotações
1)	 Faça	um	breve	comentário	comparando	a	visão	renascentista	e	a	 iluminista	com	a	visão	
romântica	em	relação	à	Idade	Média.	Utilize	os	documentos	como	base	para	a	discussão.
2)	 Destaque	as	principais	características	dos	períodos	chamados	de	Alta	Idade	Média,	Idade	
Média	Central	e	Baixa	Idade	Média.
3)	 Faça	uma	reflexão	acerca	das	contribuições	da	Idade	Média	ao	mundo	contemporâneo.
Fontes e referenciais parao aprofundamento temático
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
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Anotações
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o signifiCado do termo BÁrBaro e as CaraCterÍstiCas das 
invasões
Denominam-se	bárbaros	os	diferentes	povos	que	se	deslocaram	rumo	ao	ocidente	
europeu,	entre	os	séculos	IV	e	X.	O	termo	bárbaro	já	era	utilizado	pelos	gregos	num	
sentido	negativo,	uma	vez	que	se	referia	aos	povos	que	não	compartilhavam	suas	tra-
dições	políticas,	econômicas,	sociais,	religiosas	e	culturais,	ou	seja,	os	estrangeiros	ou	
os	não	gregos.	Esse	termo	também	foi	apropriado	e	utilizado	de	forma	pejorativa	pelos	
romanos,	pois	era	empregado	para	caracterizar	povos	que	não	participavam	da	cultura	
ou	que	não	falavam	a	mesma	língua	dos	romanos.
É	importante	destacar	que,	embora	ainda	hoje	se	utilize	o	termo	bárbaro,	ele	não	
pode	 ser	 concebido	 na	 perspectiva	 grega	 ou	 romana,	 pois,	 como	 veremos,	 aque-
les	povos	contribuíram	de	forma	positiva	para	 formar	o	que	hoje	conhecemos	por	
Europa.	Portanto,	as	 referências	aos	bárbaros	utilizadas	neste	 texto	não	devem	ser	
entendidas	como	sinônimo	de	barbárie,	mas	sim	como	menção	aos	diferentes	povos	
ou	tribos	que	adentraram	as	fronteiras	do	Império	Romano,	de	forma	efetiva,	a	partir	
do	século	V.
A	expressão	 Invasão Bárbara também	deve	ser	ponderada	com	cuidado,	 já	que	
muitas	vezes	ela	é	empregada	para	marcar	somente	os	aspectos	da	violência	cometida	
por	diferentes	povos	na	destruição	do	Império	Romano.	Nesse	sentido,	devemos	en-
tender	que	o	contato	entre	os	diferentes	povos	bárbaros	e	a	civilização	romana	se	deu	
de	diversas	maneiras,	pois,	mais	que	um	assalto	repentino	e	impetuoso,	é	necessário	
Alta idade média: 
as invasões bárbaras 
e a organização 
dos reinos germânicos
2
Verônica Ascênsio Ipólito
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
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entender	que	o	contato	entre	eles	já	existia	desde	longa	data,	por	meio	de	infiltrações	
e	migrações;	porém,	como	dissemos,	acentuaram-se	a	partir	do	século	V.	Segundo	Ja-
cques	Le	Goff,	esse	contato	se	deu	hora	ao	ritmo	de	lentas	infiltrações	e	de	avançadas	
mais	ou	menos	pacíficas	ora	ao	ritmo	de	bruscas	arremetidas	acompanhadas	de	lutas	
e	morticínios,	a	invasão	dos	Bárbaros	modificou	profundamente,	entre	o	início	do	sé-
culo	V	e	o	fim	do	século	VII,	o	mapa	político	do	Ocidente,	que	estava	sob	a	autoridade	
nominal	do	imperador	bizantino	(LE	GOFF,	1983,	p.	42).
Esses	povos,	que	direta	ou	indiretamente	estão	associados	ao	declínio	do	mundo	
romano	e	que	contribuíram	para	a	formação	da	Idade	Média,	dividem-se	em	diferentes	
ascendências,	quais	sejam:	germânicos,	celtas,	eslavos,	tártaro-mongóis	e	escandina-
vos.	Embora	seja	possível	estabelecer	os	diferentes	grupos	étnicos,	é	quase	que	impos-
sível	traçar	com	clareza	os	limites	territoriais	dessas	tribos	em	contato	com	o	mundo	
romano,	 uma	 vez	 que,	 no	 contínuo	processo	 de	 caminhada	 rumo	 ao	 território	 do	
Império,	muitos	se	fundiram	ou	foram	eliminados	por	tribos	mais	poderosas.	O	que	
lhes	dava	certa	unidade	era	o	fato	de	respeitarem	o	mesmo	rei,	ou,	dependendo	das	
circunstancias,	pertencerem	a	um	mesmo	exército.
invasões bárbaras 
fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/file:invasions_of_the_roman_empire_1.png
Outra	dificuldade	para	se	conhecer	com	exatidão	a	história	desses	povos	é	o	fato	
de	que	muitos	não	possuíam	registros	escritos,	o	que	leva	o	pesquisador	a	basear-se	
em	restos	arqueológicos	e,	principalmente,	nos	relatos	de	escritores	gregos	(Piteas,	
33
Estrabão,	Posidonius,	entre	outros),	 latinos	(Amiano	Marcelino,	Tácito,	Plínio,	entre	
outros)	e	cristãos	(Santo	Agostinho,	Salviano,	Santo	Ambrosio,	entre	outros).	Portanto,	
numa	leitura	sobre	os	povos	bárbaros	deve-se	sempre	considerar	a	origem	das	fontes,	
as	 quais,	 na	maioria	 das	 vezes,	 descrevem	esses	 povos	 como	 ignorantes,	 violentos,	
desumanos,	desprovidos	de	alma	e	de	fé	cristã.
Se	nos	ativermos	apenas	aos	aspectos	bélicos	travados	entre	bárbaros	e	romanos,	
verificaremos	que	eles	se	estenderam	por	séculos,	e	revelam	como	o	mapa	político	
do	Império	Romano	foi	se	alterando	nesse	processo.	A	primeira	grande	confrontação	
entre	 o	 império	 e	 os	 bárbaros	de	 que	 se	 tem	noticia	 remonta	 ao	 tempo	de	Marco	
Aurélio,	aproximadamente	entre	161	e	180	d.C.	Apesar	da	vitória	deste,	a	pressão	das	
tribos	germânicas	ao	longo	das	fronteiras	dos	rios	Reno	e	Danúbio	cresceu	sem	cessar.	
Portanto,	desde	o	século	II	os	germânicos	orientais,	formados	pelos	godos,	vândalos,	
burgúndios	e	lombardos	abandonaram	suas	terras	próximas	ao	mar	Báltico	e	puseram-
se	em	direção	ao	sul	do	continente	europeu.	No	século	III	os	godos	invadiram	a	Dácia,	
atual	Romênia	e	Moldávia,	e	a	Macedônia.	Já	os	francos	e	os	alamanos	devastaram	a	
Gália,	a	Espanha	e	o	norte	da	Itália.
O	historiador	Bendriss	(2007,	p.	16)	afirma	que	as	incursões	do	século	III	se	multipli-
caram,	e	com	elas	se	deu	o	verdadeiro	começo	das	invasões	germânicas.	Elas	ocorreram	
em	375,	quando	os	godos,	pressionados	pelos	hunos,	dilataram	seus	 territórios	para	
além	das	fronteiras	do	Mar	Negro.	Os	visigodos	atravessaram	o	rio	Danúbio	em	376	e,	
após	derrotarem	o	imperador	Valente,	junto	a	Adrianópolis,	no	ano	de	378,	constituíram	
uma	constante	ameaça.	No	ano	de	382	foram	estabelecidos	como	federados	na	província	
de	Mesia,	região	que	hoje	compreende	a	Sérvia	e	a	Bulgária,	pelo	imperador	Teodósio.
Nesse	sentido,	Roma	incorporou	vários	bárbaros	como	tropas	auxiliares,	e	a	partir	
da	segunda	metade	do	século	IV	se	instalaram	grupos	de	origem	bárbara	nas	frontei-
ras,	com	o	objetivo	de	defender	as	regiões	ameaçadas.	Em	contrapartida,	concedeu	a	
esses	grupos	um	pacto	(foedus)	no	qual	eles	ocupariam	terras	imperiais	sem	impostos,	
em	troca	de	certo	número	de	soldados.	
São	esses	os	povos	que,	desde	o	século	II	d.C.,	pressionados	por	outros	povos	
bárbaros	e	facilitados	pelas	próprias	mudanças	estruturais	do	Império	Romano,	co-
meçaram	a	fixar-se	no	ocidente	europeu,	e	nele	manteriam	traços	da	própria	cultura,	
absorveriam	aspectos	da	cultura	romana	e	contribuiriam	para	a	criação	de	uma	nova	
civilização.	Assim,	 a	 época	das	penetrações	dos	povos	bárbaros	 configura-se	 como	
um	período	de	transição	entre	a	Antiguidade	e	a	Idade	Média,	entre	um	império	com	
bases	políticas,	socioeconômicas	e	religiosas	concretas,	mas	em	processo	de	transfor-
mação,	e	as	inovações	peculiares	dos	povos	que	se	assentaram	sobre	o	território,	já	
fora	de	controle	por	parte	das	autoridades	romanas.
alta idade média: 
as invasões bárbaras 
e a organização 
dos reinos germânicos
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
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O	novo	mundo	criado	está	inserido	numa	dialética	entre	a	continuidade	das	es-
truturas	do	passado	e	a	mudança	para	um	novo	sistema.	Nele	há	que	considerar	as	
principais	mudanças	produzidas	ao	longo	do	contato	entre	bárbaros	e	romanos,	e,	
especialmente,	os	aspectos	econômicos,	sociais,	ideológicos	e	militares,	entre	outros	
(SANZ	SERRANO,	1995,	p.	122-123).
CaraCterÍstiCas dos povos germâniCos
Neste	item	discutiremos	os	aspectos	econômicos,	sociais,	políticos	e	culturais	dos	
povos	germânicos,	os	quais	eram	formados	por	uma	coligação	de	povos	de	 língua	
indo-europeia1	originários	da	Europa	setentrional	e	que	habitavam	um	quadrilátero	
compreendido	entre	o	Báltico,	o	Reno,	o	Danúbio	e	o	Oder.	Dentre	os	principais	
povos	germânicos	destacam-se	os	alamanos,	os	anglos,	os	saxões,	os	bávaros,	os	bur-
gúndios,	os	francos	(ripuários,	sálios,	sicambrios),	os	frísios,	os	godos	(ostrogodos,	
visigodos)	os	hérulos	e	os	lombardos,	entre	outros.	Abaixo,	relacionamos	as	formas	
de	organização	política,	social,	econômica,	cultural	e	religiosa	dos	germânicos.
Política:	Os	germânicos	possuíam	uma	organização	 tribal,	 e	uma	vez	que	entre	
eles	não	havia	o	conceito	de	Estado,	as	questões	políticas	eram	resolvidas	no	âmbito	
do	privado.	Eram	dirigidos	por	um	 rei,	 que	possuía	 funções	 guerreira	 e	 religiosa,	
porémnão	governava	sozinho,	uma	vez	que,	nas	assembleias,	contava	com	a	colabo-
ração	de	guerreiros	nas	decisões	políticas	a	serem	tomadas.
Por	ser	uma	coletividade	 fundamentalmente	guerreira,	a	 razão	da	existência	de	
um	germano	estava	voltada	para	esse	fim.	O	reflexo	dessa	vivência	estava	no	refina-
mento	da	fabricação	das	armas,	na	educação	dos	jovens,	nas	estratégias	das	batalhas	
e	na	estrutura	militar.	O	exército	era	formado	por	uma	corte	ou	séquito	(comitatus),	
composto	pelos	principais	chefes	e	auxiliado	por	grupos	de	jovens	que	haviam	pres-
tado	juramento	e	lealdade.	Criava-se,	assim,	um	setor	de	pessoas	dependentes	e	um	
grupo	de	homens	livres	para	o	serviço	de	armas,	na	guerra	e	nas	expedições	de	botim	
(SONSOLES	GUERRAS,	1987,	p.	17).	
Sociedade:	O	alicerce	da	sociedade	germânica	encontrava-se	na	família.	Composta	
por	esposos,	filhos	e	dependentes	(escravos	e	semilivres),	era	regulada	e	protegida	
pela	comunidade	segundo	a	tradição	de	cada	tribo.	A	existência	dos	indivíduos,	nessa	
sociedade,	destacava-se	pela	 linhagem	e	era	assegurada	pela	 tradição.	As	mulheres	
ocupavam	um	lugar	de	destaque	nessa	coletividade,	principalmente	as	esposas,	por	
serem	responsáveis	pela	educação	e	guardiãs	da	pureza	das	filhas.	O	cumprimento	
1	Indo-europeu:	aplica-se	aos	diferentes	povos	da	Europa	e	da	Ásia	Central	que	possuem	um	tronco	
linguístico	comum.
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dessa	obrigação	explica-se	pelo	 fato	de	que	as	filhas,	quando	estavam	aptas	ao	ca-
samento,	por	volta	dos	15	anos,	passavam	para	a	tutela	do	pai	e	transformavam-se	
em	verdadeiros	“objetos”	de	vendas	ou	de	trocas,	aspecto	importante	da	sociedade	
germânica,	uma	vez	que	servia	para	selar	acordos	entre	as	famílias.
Ao	homem	cabia	o	comando	irrestrito,	nessa	sociedade.	Quando	ainda	criança,	vi-
via	sob	a	autoridade	do	pai.	Sua	educação	estava	voltada	para	os	trabalhos	domésticos	
e	agrícolas,	e	principalmente	entre	os	12	e	15	anos,	sob	o	comando	de	um	guerreiro	
para	aprender	a	arte	da	guerra	e	fundar	uma	nova	família.
O	 topo	 da	 hierarquia	 social	 pertencia	 a	 uma	 aristocracia	 formada	 por	 homens	
detentores	de	grande	extensão	de	terra.	Abaixo	deles	encontrava-se	a	maioria	da	po-
pulação,	formada	por	homens	livres	(guerreiros),	e	por	fim	os	prisioneiros	de	guerras	
temporários	e	os	escravos,	que	trabalhavam	para	sustentar	a	todos.	
Economia:	Em	certo	aspecto,	a	economia	era	o	reflexo	da	estrutura	social,	pois	os	
frutos	da	terra	e	os	produtos	obtidos	por	meio	das	guerras	eram	a	base	da	sobrevi-
vência	dos	germânicos.	Embora	existissem	propriedades	privadas,	o	cultivo	do	solo	e	
a	criação	de	animais	eram	realizados	de	forma	coletiva,	conforme	o	solo	e	o	clima	de	
cada	região.	Principalmente	por	serem	nômades	ou	seminômades,	praticavam	uma	
agricultura	adaptada	a	essa	realidade.
Nas	oficinas	os	germânicos	produziam	utensílios	para	satisfazer	as	necessidades	do-
mésticas,	indumentárias	e	jóias	para	o	convívio	social;	porém,	constituíam-se	como	um	
dos	povos	mais	avançados	na	técnica	de	produção	de	armas	e	armamentos	de	guerra.
Cultura:	Originalmente	os	germânicos	não	possuíam	um	sistema	de	escrita	pro-
priamente	dito.	A	memória	era	transmitida	pela	oralidade	ou	pelas	inscrições	rúnicas	
gravadas	em	armamentos,	em	adereços	ou	em	pedras	tumulares,	e	elas	preservavam	
a	tradição	mitológica	de	cada	tribo.	Como	as	runas	possuíam	características	mágico-
religiosas,	apenas	alguns	sacerdotes	conseguiam	decifrá-las.	O	historiador	Georges	
Duby	revela	um	aspecto	importante	dessa	cultura	antes	do	contato	com	os	romanos:
[...]	Essas	populações	dispersas,	seminômades,	de	caçadores,	criadores	de	por-
cos	e	guerreiros	têm	costumes	e	crenças	muito	diferentes.	Também	sua	arte	é	
diferente:	não	é	a	arte	da	pedra,	mas	a	do	metal,	das	contas	de	vidro,	do	borda-
do.	Não	há	monumentos,	apenas	objetos	que	as	pessoas	transportam	consigo,	
armas,	e	essas	 jóias,	esses	amuletos	com	que	os	chefes	se	enfeitam	na	vida	e	
que	são	postos	ao	lado	de	seus	cadáveres	no	túmulo.	Não	há	relevos,	apenas	o	
cinzelado2.	Uma	decoração	abstrata,	símbolos	mágicos	entrelaçados	em	que	às	
vezes	se	inserem	as	formas	estilizadas	do	animal	e	da	figura	humana	[...]	(DUBY:	
1997,	p.	20).
2	Cinzelado	refere-se	à	arte	feita	com	cinzel;	um	instrumento	cortante	que	serve	para	lavrar	ou	gravar	
pedras	e	metais.
alta idade média: 
as invasões bárbaras 
e a organização 
dos reinos germânicos
História medieval i: 
das invasões BÁrBaras 
ao feudalismo
36
Por	serem	povos	de	tradição	guerreira,	a	cultura	das	diferentes	tribos	germânicas	
manifestava	as	lendas	e	as	epopeias	dos	guerreiros,	principalmente	os	heróis	com	po-
deres	sobrenaturais	e	descendentes	de	divindades.
Religião:	Entre	os	germânicos	não	havia	uma	hierarquia	sacerdotal,	uma	vez	que	
cabia	aos	chefes	das	tribos	realizar	as	cerimônias	coletivas,	e	aos	chefes	das	famílias	os	
rituais	domésticos,	embora	entre	alguns	desses	povos	existissem	“profetas”	e	ou	“pro-
fetisas”,	que	tinham	a	função	de	desvendar	os	mistérios	das	runas.
O	nomadismo	e	o	 caráter	 agrário	dessas	 tribos	não	 favoreceram	a	edificação	de	
templos,	como	os	dos	gregos	e	 romanos,	ou	de	 igrejas,	como	as	dos	cristãos.	Suas	
crenças,	 associadas	 à	natureza,	 levavam-nos	 a	 adorar	 as	montanhas,	 os	 bosques,	 as	
fontes,	entre	outros,	assim	como	ante	as	mudanças	das	estações	e	as	forças	da	natureza	
exprimia-se	o	mais	profundo	sentimento	de	religiosidade	desses	povos.
Outra	característica	importante	da	religião	diz	respeito	à	maneira	como	relaciona-
vam	as	crenças	com	a	guerra.	Os	germânicos	acreditavam	que	tudo	o	que	foi	criado	no	
plano	terreno	deveria	terminar.	Ainda	assim,	a	vida	teria	continuidade	após	a	morte.	
Por	 isso,	quando	faleciam	eram	incinerados	ou	enterrados	com	objetos	e	utensílios	
pessoais.	Caso	fossem	mortos	em	batalhas,	os	guerreiros	seriam	recompensados	com	
a	promessa	de	viverem	entre	os	deuses	(Walhalla).	Seriam	levados	por	donzelas	guer-
reiras	(valquírias),	filhas	do	deus	Wotan	(ou	Odin�)3.	Acreditavam	que	a	vida	mundana	
era	marcada	pela	predominância	da	guerra	 e	da	morte.	 Já	 a	 vida	 após	 a	morte	 era	
confortada,	por	meio	da	crença,	com	um	mundo	de	paz,	no	qual	filhos	de	deuses	e	os	
homens	ressuscitariam	após	a	guerra	final.
as relações entre germâniCos e romanos
Os	germânicos	surgiram	em	meio	ao	universo	dos	romanos	e	migraram	em	direção	
ao	Império	Ocidental.	De	acordo	com	Lucien	Musset	(1968),	várias	hipóteses	podem	
ser	enumeradas	para	explicar	essas	migrações,	como	péssimas	condições	climáticas	na	
região	báltica	e	na	Península	Escandinávia,	aventura	e	pilhagem,	em	decorrência	da	
crença	de	que	os	jovens	de	cada	geração	teriam	que	buscar	fortuna	no	exterior	fazendo	
uso	de	armas.
Os	atritos	mais	intensos	se	iniciaram	quando	os	celtas,	povo	bárbaro	que	residia	
próximo	ao	vale	do	Rio	Reno,	sentiram-se	ameaçados	pelos	germânicos	e	pediram	pro-
teção	aos	romanos.	Durante	os	séculos	I	a.	C	e	I	d.	C.	os	romanos	organizaram	campa-
nhas	militares	para	tentar	dominar	os	germânicos,	mas	não	conseguiram	submetê-los.
Também	 os	 marcomanos,	 outro	 povo	 bárbaro	 originário	 dos	 suevos,	 estavam	
3	Deus	protetor	do	comércio,	dos	combates	e	das	tempestades.
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despontando	como	força	poderosa,	dominando	todos	os	povos	próximos	à	região	da	
Boêmia.	Diante	da	ameaça	desse	povo,	os	romanos	e	germânicos	se	uniram,	apesar	das	
rivalidades,	para	conter	seu	avanço.	Essa	aliança	só	foi	possível	porque	os	dois	povos	
tinham	a	necessidade	de	combater	a	força	estrangeira	que	ameaçava	invadir	seus	terri-
tórios.	Mesmo	com	relações	controversas,	podemos	dizer	que	as	migrações	dos	povos	
bárbaros	foram	marcadas	pela	luta	de	romanos	e	bárbaros	contra	bárbaros	e	também	
de	bárbaros	contra	romanos	(LE	GOFF,	1983,	p.	40).
Essa	relação	recíproca	intensificou-se	ainda	mais	com	o	estabelecimento	do	limes 
(limites)	no	Império	Romano,	que	a	partir	do	século	I	ficou	definido	entre	os	rios	Reno	
e	Danúbio.	A	partir	desse	momento,	os	romanos	abandonaram	o	projeto	ofensivo

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