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Focus-Concursos-Noções de Criminologia __ Teorias Sociológicas da Criminalidade _ Parte II

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Criminologia|Teorias sociológicas da criminalidade II 
Prof. Ivan Marques | fb.com/ivanluismarques
TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE 
A cultura em uma sociedade é o que permite a formação de uma pessoa. Mesmo os talentos inatos só se 
constituirão em algo real se os fatores culturais contribuírem para que tal ocorra. Seria como imaginar que na 
sociedade brasileira nasça uma pessoa com capacidade inata de ser um brilhante jogador de futebol americano e, 
tendo em conta a realidade cultural brasileira, essa aptidão jamais terá oportunidades efetivas de se manifestar. 
Ademais, dentro da mesma sociedade não há uniformidade cultural, mas o convívio permanente de várias culturas, 
em outras palavras, não porque exista a cultura típica brasileira da bossa-nova, que não haja pessoas que repudiem 
este estilo musical e sejam, hipoteticamente, adoradoras do funk. 
A teoria das subculturas parte da ideia de que justamente a importância que a cultura tem na própria forma de ser 
de cada pessoa, somada à verificação da não uniformidade cultural na sociedade, faz com que possa a diferença 
cultural ser causa de conflitos. Assim, existe sempre uma cultura que é a oficial e dominante e outras, que ainda que 
não se rivalizem com ela, não correspondem exatamente aos seus marcos e disciplina, ao que se nominou como 
subculturas, ou seja, culturas outras que não a dominante, mas que com ela convivem em uma sociedade. 
O que a teoria em análise afirma é que em algumas hipóteses, em especial junto aos jovens de camadas menos 
favorecidas da sociedade, a subcultura pode ter o caráter de reação contra a cultura dominante, que os submete à 
miséria e a não poder ascender aos seus objetivos, com isso legitimando-se a própria ação criminal, pois o agente 
atua não guiado por um sentimento dogmático de ofensa a bens jurídicos, mas como uma forma de manifestar 
reação à cultura dominante, que lhe oprime. 
Foi Alberto Cohen quem mais profundamente tratou da questão das subculturas e a defendeu como explicação para 
o fenômeno criminal, destacando, essencialmente, o sentido de normalidade que a conduta delitiva passa a ter para
o agente, pois, ao passo que ele pratica um ato reprovável sob o ponto de vista da cultura oficial, o ato é aceito
dentro da subcultura que ele integra, como forma de reação.
Também não se deve esquecer que as teorias da anomia não propugnam por transformações sociais, apenas 
retratam o funcionamento da sociedade (funcionalismo), base de conhecimento que contamina os dogmatas do 
funcionalismo penal, que então passam a ignorar as necessidades de modificação da sociedade e desenvolvem seus 
racionamentos objetivando aportar mecanismos que submetam a todos à estrutura normativa, uma vez que desvios 
irão ocorrer a partir das demonstrações de Durkhein, Merton, Parsons, entre outros. 
O personagem Vito Corleone, O poderoso chefão, de Mario Puzzo, justifica ter se tornado líder da máfia justamente 
como uma reação sua à cultura dominante, que lhe impunha que fosse ''otário'' e , assim ao passo que pratica 
crimes em relação à cultura oficial, naquela em se acha inserido, pois o que faz é reagir contra uma realidade que 
não lhe permite outra coisa senão a miséria e, assim, não só comete um delito, como ainda age dentro de uma pauta 
valorativa, que pode até obter elogios dos que aceitam a mesma subcultura como verdade. 
TEORIA DA ANOMIA 
A teoria criminológica da anomia surge em decorrência do desenvolvimento por Emile Durkheim, da corrente 
sociológica denominada funcionalista, que apregoou que a realidade social pode ser analisada independentemente 
do indivíduo, tendo em conta as funções da sociedade e as normas que a regem. 
A obra inaugural desse pensamento foi o ensaio que o Durkheim escreveu sobre o suicídio (O suicídio) em que 
sustenta que por vezes gera - se um campo de vazio normativo ( a/ nomos: sem norma) quando a sociedade, no 
cumprimento de suas funções, estabelece as metas ideais a serem atingidas pela pessoas porém não gera 
facilitadores para que elas atinjam dentro da observância à estrutura normativa existente, o que faz presente uma 
pulsão entre a necessidade de atingir os objetivos e a impossibilidade de lográ-los, se observadas as normas em 
vigor. 
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A questão, portanto, é que passa a existi uma contradição entre os meios e norma existentes, no que refere ao 
atingimento das metas sociais. A contradição acima destacada abre ao indivíduo algumas opções como excluir-se da 
sociedade, o que representaria a opção suicida, ou a busca do atingimento das metas sociais, mas com o abandonar 
das barreiras normativas existentes, o que gera justamente um quadro em que o agente atua sem considerar as 
normas vigentes (anomia). 
A teoria da anomia rapidamente ganhou imenso prestígio, que ainda hoje desfruta, por conseguir, em sua explicação 
inserir sob o ponto de vista sociológico, todo o universo de pessoas, não se limitando a verificar o que conduz um 
jovem ao crime ou que fato impulsiona uma pessoa de uma ou outra classe social, pois a contradição entre as metas 
sociais e os meios para atingi-las, dentro do quadro de respeito normativo, pode afetar qualquer pessoa, de 
qualquer grupo, dado que a questão, ressalte - se , não é o indivíduo, a proposta teórica não é explicativa de 
nenhum agente especificamente, mas das relações sociais em sua amplitude maior. 
Variação fundamental da teoria da anomia é a desenvolvida por Robert Merton, que relacionou a teoria da anomia 
com as teorias sobre o autor. Merton estabelece uma distinção entre '' estrutura social'' e '' estrutura cultural'', 
sendo as últimas as metas, fins consolidados em uma sociedade a serem atingidos por todos, como o bem - estar 
financeiro nas sociedades capitalistas. A estrutura social se constitui no conjunto de mecanismos disponíveis para 
que sejam atingidas as metas assentadas na estrutura cultural. 
Sob o ponto de vista idealista, a estrutura cultural deve corresponder à estrutura social, o u seja, as metas e fins a 
serem atingidos em uma sociedade; devem corresponder à disposição de meios para atingi - los , o que na maioria 
das vezes não ocorre, em especial nas sociedades dotadas de diferenças sociais muito profundas, o que faz com que 
inexistam meios legítimos disponíveis para alcançar as metas socais. Por essa razão, Merton observa que fazem 
parte da estrutura social tanto métodos legítimos e quanto ilegítimos para atingir a estrutura cultural, e a 
inexistência de perfeita sintonia entre as estruturas social e cultural faz com que a utilização dos meios legítimos 
pela pessoa lhe estabeleça a certeza da frustração quanto ao atingimento das finalidades e metas sociais. 
A grande questão da teoria da anomia, em especial nos incrementos realizados por Merton às concepções de 
Durkheim, é que a explicação do fenômeno criminal se desloca do indivíduo para a estrutura social, pois seria ela 
quem determinaria desvios e assim verdadeiramente estabeleceria o delito como um caminho. Na medida em que 
os meios sociais garantem para alguns a possibilidade de sucesso certo no atingimento das metas sociais, geram a 
certeza do fracasso inexorável de outros tantos, o que faz que somente a atuação em margens ilegítimas lhes 
possibilitem o atingimento das metas e finalidade sociais 
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