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Controle de Qualidade em Bioquímica Clínica Introdução A busca da qualidade é um movimento que adquiriu dimensão mundial. Cada vez mais produtos de bens e serviços percebem que a qualidade é o componente mais importante capaz de satisfazer as necessidades dos usuários. Toda análise laboratorial visa a obtenção de resultados compatíveis com a metodologia empregada. No entanto, fatores que muitas vezes fogem ao nosso controle, provocam a obtenção de valores diferentes para uma determinada análise laboratorial de um mesmo material biológico. Histórico ● Controle na indústria (1931) - Shewart; ● Controle laboratorial - EUA Belk e Sunderman; ● Controle em química clínica (1977) - Grannis. Controle de qualidade - Definição Prática que inclui todos os esforços, procedimentos, formatos e atividades dirigidas para assegurar que uma atividade ou produto ou serviço especializado seja alcançado e mantido. Toda análise laboratorial visa a obtenção de resultados compatíveis com a metodologia empregada. Organograma funcional O controle de qualidade engloba todos os setores e áreas da farmácia, dessa forma é de extrema importância. Visa obter resultados e procedimentos com qualidade e que esses sejam mantidos, com o intuito de diminuir a possibilidade de risco para o paciente. Fases do Controle de Qualidade ● Pré-analítica → Equipe de trabalho → Pedido do exame, obtenção da amostra, processamento e armazenamento da amostra. Fase com mais erros (71%) ● Analítica → Equipamentos e Procedimentos de análise → Controle interno e externo da qualidade (erros 18%) ● Pós-analítica → Resultado → Processamento de dados e liberação de laudos (erros 11%) O controle de qualidade é um sistema dinâmico e complexo que visa detectar, corrigir e eliminar erros laboratoriais. Finalidades do Controle de Qualidade ● Garantir a confiabilidade dos resultados; ● Auxiliar na seleção de métodos, reagentes, pessoal técnico, equipamentos; ● Promover inspeção constante de todas as atividades laboratoriais; ● Mecanismo de solução de problemas. Organizações ● ISO - TC212 (International standardization organization); ● BPLC - Boas Práticas de Laboratórios Clínicos; ● SBAC - Sociedade Brasileira de Análises Clínicas; ● SBPC - Sociedade Brasileira de Patologia Clínica. Conceitos Básicos 1. Exatidão: é a proximidade de concordância entre o resultado obtido na medição e o valor real da concentração da amostra. Capacidade do método analítico de fornecer resultados analíticos próximos ao seu valor real na amostra. 2. Precisão: é a concordância entre as medidas repetidas. Proximidade de concordância entre os resultados independentes medidos sob a mesmas condições em um mesmo método analítico; 3. Sensibilidade: é a capacidade de um método analítico de medir/avaliar pequenas variações na concentração do analito; 4. Especificidade: é a habilidade de um ensaio de determinar a concentração de um analito-alvo na presença de interferentes (ex. hiperlipidemia, bilirrubina, hemólise, anticoagulantes, anticorpos, produtos de degradação). 5. Erro aleatório: são erros analíticos positivos ou negativos que não são detectáveis com segurança. Esses erros estão presentes em todos os processos analíticos, que surgem de imprecisões de medição. O erro aleatório pode ser minimizado através da otimização das atividades laboratoriais, mas não podem ser totalmente eliminados. Está relacionado com a precisão do método. Podem ser presença de bolhas, reagentes mal homogeneizados, ponteiras mal adaptadas, pipetas entupidas, coágulo no pipetador, flutuação de energia elétrica, pipetagem errada. 6. Erro sistemático: são erros analíticos positivos ou negativos que são detectáveis e podem ser eliminados através da implementação de métodos otimizados. Os erros sistemáticos surgem de um erro de calibração ou inespecificidade do ensaio. Está relacionada com a exatidão do método. Podem ser problemas nos equipamentos, mudança de lote de reagentes, pipetas descalibradas. Diferença entre padrão, calibradores e controles ● Padrões calibradores: são produzidos a partir de substâncias puras e dissolvidos em água, mas podem ser produzidos em matrizes proteicas, sendo classificados com base na sua composição. São usados para transferir exatidão ao sistema analítico, ou seja, ajustar a medição dos parâmetros. São amostras com quantidades conhecidas do analito e essa quantidade é informada ao equipamento para que ele a use como referência. Ao calibrar um equipamento com este material, ele faz uma relação entre a quantidade informada previamente e a medição que ele obteve da amostra. Esses padrões são utilizados em equipamentos manuais ou semiautomáticos. Por serem de viscosidade diferente do soro não são utilizados aparelhos automatizados; ● Calibradores protéicos: são calibradores produzidos a partir de uma matriz proteica e os valores dos analitos são estabelecidos utilizando métodos de referência ou métodos definitivos calibrados com padrões calibradores de grau C ou superiores. Os calibradores de matriz proteica são os mais utilizados nos equipamentos automatizados por serem de viscosidades semelhantes às amostras biológicas humanas (como soro), entretanto apresentam sua exatidão comprometida. ● Controle: são usados exclusivamente para o controle de qualidade e não devem ser utilizados em procedimentos de calibração. São usados na avaliação e monitorização da confiabilidade referindo a precisão e exatidão dos métodos, proporcionando maior segurança, eficiência e qualidade para os exames. Controle de Qualidade Externo (não se conhece os parâmetros) O soro controle é recebido de algum laboratório (sociedade/associação). Não pode ser produzido. É um soro liofilizado que é hidratado (3 mL de água) por 30 minutos, homogeneizado periodicamente. Esse soro não apresenta uma quantidade conhecida dos analitos. Todos os laboratórios da empresa recebem o mesmo soro, sem saber sobre a concentração dos analitos. Devem realizar as análises levando em consideração o tipo de reagente utilizado. É necessário informar os reagentes, métodos e equipamentos utilizados. Coloca-se o resultado da análise e encaminha para o laboratório Central (este laboratório central faz o tratamento matemático com as mesmas condições de equipamentos e reagentes). Com isso, o laboratório central (SBAC ou SBPC) fornece uma nota para os seus valores e o desvio padrão que o seu laboratório apresentou. Essa avaliação é realizada mensalmente, anual ou trimestral ● Média de 1º desvio padrão: nota excelente; ● Média de 2º desvio padrão: nota boa e aceitável ● Abaixo do 2º DP: laboratório insuficiente, precisa melhorar a metodologia. Permite avaliar o desempenho (exatidão) dos exames laboratoriais por comparações interlaboratoriais. Programas: PNCQ/SBAC, PELM/SBPC, CAP. A cada 3 meses o laboratório central fornece uma nota, acertos no exames: ● 81 - 100% → Excelente ● 76 - 80% → Bom ● 65 - 75% → Regular ● Abaixo de 65% → Insuficiente (não alcançou os 2 DP, deve-se procurar o erro). No caso, cada laboratório não precisa realizar o mapa de Levey ou curva Gaussiana, somente o laboratório central faz isso. Análise de erros detectados pelo controle de qualidade: deve ser feito a revisão e coleta de dados (cadastramento dos dados, valor de referência, equipamento utilizado, marca do reagente) e Classificação dos problemas: ● Erros administrativos ● Problemas metodológicos ● Problemas técnicos ● Problemas com amostras-controle (maior água contaminada e problema de pipetação) ● Problemas com avaliação dos resultados ● Problemas com o processamento de dados. Esses problemas interferem na avaliação dos resultados dos pacientes e necessitam de ações corretivas urgentes. Custos do Controle de Qualidade ● Planejamento; ● Gasto com contratação do controle e materiais; ● Formulários, relatórios e gráficos de controle; ● Treinamento de pessoal; ● Tempo gasto nas análises dos resultados do controle. Controle de Qualidade Interno (conhece os parâmetros) Garante a reprodutibilidade (precisão) e a uniformidadedos resultados (pré ao pós analítico). Verifica o status de calibração dos sistemas analíticos (ações preventivas e corretivas) e avalia quando o desempenho dos sistemas analíticos sai dos limites de tolerância. O controle de qualidade interno pode ser contratado o produto (soro controle) de uma das sociedades/empresas ou pode ser comprado dessas sociedade/empresas ou pode ser produzido pelo próprio responsável técnico (trabalhoso). O controle de qualidade interno é um soro de valor conhecido para todos os analitos. Tem-se uma tratamento matemático (média, desvio padrão e coeficiente de variação) que foi realizado durante a produção desse material. Se esse material já é comprado, já se tem o fornecimento de todos esses dados (conhece as quantidades de cada analito). Diariamente, pega-se o soro controle e hidrata, homogeneizar por 30 minutos e todas as análises que forem realizadas no laboratório deve-se incluir esse soro conhecido, para obter os resultados e analisar se estão em conformidade com as análises. Essas análises são aceitas quando o resultado está entre o valor máximo e mínimo (entre 2 desvios padrões). Tipos de Material biológico: ● Soluções com concentração conhecida; ● Mistura de líquidos biológicos Requisitos do Controle de Qualidade Interno: ● Manual do controle de qualidade (calculados realizados como média, desvio padrão, CV); ● Recursos humanos → Pessoal técnico treinado; ● Recursos Materiais, instalações, equipamentos e reagente de boa qualidade (pipetas calibradas e água de boa qualidade); ● Processos pré e pós analíticos adequados e bem padronizados; ● Boas condições de trabalho. Caso esse controle de qualidade interno for produzido pelo responsável do laboratório, este deve preparar o material. Para preparar o material pode-se utilizar o que sobrou do soro de determinação (soro com qualidade, não pode estar hemolisado, não pode ter resultados discrepantes e não é lipêmico), para isso armazena-se na refrigeração. Esse soro pode ser armazenado em qualquer recipiente, mas deve ser congelado diariamente. Quando se tem 1L, faz alíquota do soro, centrífuga novamente (para retirar fibrina, coágulos, hemácias). Usa-se novamente o sobrenadante desse material, homogêneo-se e centrífuga novamente, depois faz alíquota e ao fim, armazena-se (geralmente 1 mL da para o dia). Não se sabe a quantidade de analitos nesse material, por isso, em 1 mês precisa fazer a determinação de todos eles (triglicerídeos, glicose, colesterol, enzimas, eletrólitos, é assim por diante). Esses resultados serão armazenados no banco de dados. Depois de 30 dias trabalhados com esses materiais, faz-se o tratamento matemático (realiza-se média dos exames, média dos TG, desvio padrão, coeficiente de variação). Logo, a partir dos cálculos consigo estratificar um resultado que esteja dentro de um valor aceitável. Para fazer a estratificação utiliza-se o Mapa de Levey Jennings. O gráfico/mapa de Levey Jennings promove avaliar se os valores estão dentro ou fora do permitido. Seria uma curva de Gauss, faz-se a rotação de 90° e coloca-se a média e o desvio padrão (4 desvios padrões inferiores e 4 superiores). Dois desvios padrões discriminam próximo a 5% dos valores incorretos, por isso é utilizado só 2 DP. Média: é a somatória de todos os eventos diminuído pelos números de eventos. Desvio Padrão e Coeficiente de variação (desvio padrão em porcentagem): CV = (DP/Xm) x 100 Consequências: ● O CV mede a precisão do método; ● Quanto menor, maior será a precisão; ● Admite-se um valor máximo de 5% para o CV (se for acima extrapola 2 desvios padrões, que é inaceitável); ● Para esse CV, o DP deverá ser de 2s (para CV menor que 5% significa que o desvio padrão é menor que 2) No gráfico de controle adiciona-se a média, valor máximo e mínimo. Quanto mais próximo da média, melhor é o resultado. Ex: curva do colesterol, DP é 4 e o valor máximo 208 e mínimo 192, sendo a média 200. Logo, valores entre 192 e 208 podem ser liberados e quanto mais próximo da média, melhor o resultado. Dessa forma, o controle de qualidade é a busca ativa do erro para resolvê-los. Resumindo, para preparar o Mapa de Levey-Jennings: 1. Prepara-se o controle ou comprar 2. Analisa no mínimo 20 dias cada analito, fazer durante o mês; 3. Calcula-se a média, DP e CV após esses dias; 4. Para cada analito faz-se um gráfico; 5. Analisar e anotar diariamente esses dados e ainda analisar todo dia cada gráfico. Verificar quando foi realizado as manutenções e desligamento dos equipamentos, pois nesses dias podem ocorrer alterações nos resultados; 6. Resultados dentro dos limites - liberar; 7. Resultados fora dos limites - fazer a busca ativa (procurar os problemas). Se o resultado do CQ interno estiver dentro de 2 desvios padrões (pode ser superior ou inferior) libera-se o resultado. Caso não esteja, recusa-se toda a análise e repete-se tudo novamente. Mapa de Levey Jenning - Vantagens: ● Simples, barato e confiável; ● Informações rápidas; ● Detecta qualquer problema nos equipamentos e aparelhos (uma vez que é anotado no mapa as manutenções e desligamentos dos equipamentos); ● Observa a tendência de Deterioração de aparelhos e reagentes. Mapa de Levey Jennings - Desvantagens: ● Limites muito amplos (fica mais amplo quando trabalha-se com enzimas, pois pode acontecer um desvio padrão de até 40% e eletrólitos de até 25%); ● Muita oscilação; ● Predispõe o analista (pode ocorrer de refazer as análises e buscar problemas); ● Instabilidade de enzimas e eletrólitos. Definindo os limites aceitáveis: toda análise deve ser criada condições (como comprar reagentes de boa qualidade e como ele é estocado) para que fiquem dentro de limites aceitáveis, e sua monitorização deve ser uma constante; a fim de que os resultados obtidos sejam úteis para o diagnóstico e o tratamento. Deve ser feito nos equipamentos as manutenções preventivas e corretivas e as monitorizações devem ser constantes, ocorrer diariamente. Para que assim detectamos em qual das etapas estão ocorrendo os problemas e em qual fase ele está situado. Como utilizar o controle de qualidade? Fazer o uso de pelo menos dois controles (uso de 2 controles). Materiais liofilizados devem ser reconstituídos por pipetas calibradas (pois se usar uma pipeta descalibrada essa análise não serve pra nada, pois pode ter o erro no controle. A água deve ser de boa qualidade. (água de péssima qualidade, tem problema na análise). Checa a fase pré-analítica até pos-analitica. Como proceder com o soro controle? ● Os materiais de controle devem ser ensaiados pelo menos na corrida analítica. ● Iniciar as medidas dos controles no primeiro dia do mês. ● Antes de introduzir um novo lote deve-se realizar os cálculos ● O soro controle introduzido deve ser suficiente para o 1 ano. (por isso o volume é de 800 a 1000 mL e tem as perdas, por isso deve ser esse volume, para o preparo do soro para controle. ● Todo novo lote deve ser verificado antes de ser colocado na rotina (tratamento matemático) ● Criação de POP que estabeleça normas de armazenamento, preparação e utilização. ● Programa de manutenção de aparelhos. Manutenção preventiva, sempre calibrando o equipamento. O equipamento automatizado tem que ser feito contrato com a empresa para que ela venha realizar essa manutenção. Registro dos Resultados e das Ocorrências Observadas ● Quando realizar a lavagem e manutenção dos aparelhos (sempre ocorre alteração); ● Calibrações executadas; ● Mudanças na metodologia e mudar o protocolo; ● Falsas rejeições e falsas aceitações. Verificar diariamente o controle de qualidade. Equipamentos: ● Controle de todos os instrumentos, desde a calibração de uma pipeta até observar o comprimento de onda do espectrofotômetro; ● Manutenção preventiva e corretiva; ● CQ estático ● E acompanhamento da eficácia clínica. ● Finalidade do Controle de Qualidade ● Criar sinais de alertas para erros; ● Controlar todos os métodos analíticos; ● Detectar erros na fase pré-analíticas; ● Maximizar procedimentos; ● Aperfeiçoar a escolhade padrões; ● Incentivar o treinamento e capacitação; ● Fazer relação; ● Controle sobre o laboratório; ● Estabilidade emocional do operador; ● Usar ferramentas estatísticas; ● Rejeitar análises fora do controle, identificar o erro, eliminar sua causa e repetir análise com controle. Benefícios do controle de qualidade ✔ Redução de repetições frequente das análises ✔ Aumento da qualidade dos testes analíticos começa liberar resultados condizentes com a condição clínica do paciente ✔ Consequentemente o prestígio do serviço ✔ Obs; A falta do controle de qualidade aumentarão os custos e a queda do prestígio do laboratório.
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