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Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas APRESENTAÇÃO O controle de qualidade nos laboratórios de análises clínicas compreende o conjunto de ações qu e objetivam prevenir, reduzir e minimizar possíveis erros em todos os setores de um laboratório, desde o primeiro atendimento ao cliente até a liberação do laudo. Além disso, resultados confiá veis irão proporcionar um correto diagnóstico e permitir aos médicos adotar uma conduta terapê utica ideal para os pacientes. A manutenção do controle da qualidade nos laboratórios clínicos é uma exigência da Agência N acional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Assim, os laboratórios devem monitorar, padronizar e avaliar todas as etapas do processo analítico, além de estabelecer ações preventivas e corretiva s quando necessário. Nesta Unidade de Aprendizagem, você irá aprender a identificar quais são os parâmetros mais i mportantes para reconhecer a qualidade dos testes laboratoriais e quais são os tipos de erros enc ontrados na rotina do laboratório. Além disso, vai compreender o papel de calibradores e control es, essenciais para o controle de qualidade das análises. Por fim, estudará a importância da quali dade da água na realização dos testes e os tipos de água utilizados no laboratório, além de suas a plicações. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir os tipos de erros e indicadores de qualidade em análises clínicas. • Diferenciar calibradores e controles em exames analíticos.• Relacionar os tipos de água utilizados em análises clínicas com suas aplicações. • INFOGRÁFICO A precisão e a exatidão estão entre os fatores que demonstram o desempenho dos métodos utiliz ados no laboratório e que devem ser observados constantemente para detectar e prevenir erros a nalíticos. Analisando a precisão, é possível observar se os resultados encontrados são reprodutív eis. Já a exatidão nos mostra o quanto um resultado está próximo do valor verdadeiro/esperado. No Infográfico, você vai ver as principais diferenças entre precisão e exatidão e, também, como um parâmetro não é, necessariamente, vinculado ao outro. CONTEÚDO DO LIVRO Os laboratórios de análises clínicas devem manter um controle rigoroso de todas as etapas do pr ocesso analítico para garantir a liberação de resultados seguros e confiáveis. O controle de quali dade é essencial para prevenir e reduzir erros em todas as áreas do laboratório clínico. Todos os funcionários do laboratório devem trabalhar visando a qualidade do processo e a confiabilidade dos resultados. No capítulo Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas, base téorica desta Unidade de Aprendizagem, você irá compreender os indicadores da qualidade de uma análise e conhecer os tipos de erros que ocorrem nos testes realizados do laboratório. Entenderá qual a importância da calibração dos instrumentos e da utilização de amostras-controle. Por fim, conhecerá quais os tipos de água que existem no laboratório e para qual tipo de uso se destina cada um. Boa leitura. CONTROLE DE QUALIDADE E GERENCIAMENTO LABORATORIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Definir os tipos de erros e indicadores de qualidade em análises clínicas. > Diferenciar calibradores e controles em exames analíticos. > Relacionar os tipos de água utilizados em análises clínicas com suas apli- cações. Introdução Conforme Santos e Zanusso Junior (2015), os laboratórios clínicos têm a missão de produzir resultados confiáveis de exames, pois uma análise laboratorial bem realizada contribui para a preservação e/ou a restauração da saúde do paciente e agrega valor à assistência médica, otimizando a qualidade do serviço prestado. Para que seja possível monitorar e controlar fontes de erros, os laboratórios devem realizar o controle absoluto sobre todas as etapas do processo, desde o primeiro contato com o paciente até a emissão do laudo. Portanto, a realização do controle de qualidade é imprescindível na rotina laboratorial. Controle de qualidade são técnicas e atividades operacionais em- pregadas para monitorar a execução dos requisitos da qualidade especificada, de acordo com Santos e Zanusso Junior (2015). Para desenvolver um sistema Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas Karina Pires Reis analítico de qualidade, deve-se conhecer quais são os indicadores de qualidade dos testes analíticos, identificar os erros aleatórios e sistemáticos, realizar a calibração adequada dos equipamentos, definir os materiais de controle e utilizar os reagentes específicos para cada análise. Neste capítulo, você vai conhecer os indicadores de qualidade dos testes labo- ratoriais e os tipos de erros que podem ser encontrados na rotina do laboratório. Além disso, vai estudar as diferenças entre calibradores e controles, essenciais na manutenção da qualidade analítica. Por fim, vai ver os tipos de água, principal reagente usado nas análises clínicas. Indicadores de qualidade e tipos de erros em análises clínicas Indicadores de qualidade Os fatores que demonstram o desempenho das análises realizadas no la- boratório devem ser conhecidos, monitorados e avaliados constantemente. Veja a seguir os quatro principais indicadores utilizados para determinar a confiabilidade de um teste laboratorial. Especificidade — A especificidade diagnóstica de uma análise laboratorial refere-se à probabilidade de que um resultado seja negativo dado que o indivíduo não tem a doença para qual o teste foi aplicado (OLIVEIRA; MEN- DES, 2010). Um teste com alta especificidade indica que há uma quantidade pequena de falsos positivos, ou seja, o teste é bem específico para a doença em questão. Geralmente, a especificidade é expressa como a porcentagem de indivíduos sadios que apresentam testes com resultados negativos (BASQUES, 2016b). A especificidade metodológica refere-se à propriedade do método analítico de medir somente o analito que se propõe a medir (BASQUES, 2016b). Sensibilidade — A sensibilidade diagnóstica de uma análise laboratorial refere-se à probabilidade de que um resultado seja positivo dado que o indivíduo tem a patologia para qual o teste deve ser aplicado (ANDRIOLO et al., 2013). Um teste com alta sensibilidade indica que há uma quantidade pequena de falsos negativos. É geralmente expressa como a porcentagem de indivíduos com uma doença que apresentam testes positivos (BASQUES, 2016b). A sensibilidade química refere-se à capacidade de um sistema de medição em detectar a menor quantidade possível de um analito (BASQUES, 2016b). Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas2 O teste diagnóstico ideal seria aquele com 100% de sensibilidade e de especificidade. Assim, haveria apenas dois resultados: negativo, se a pessoa não está doente, ou positivo, se está. Não haveria o falso negativo ou o falso positivo. Contudo, isso raramente ocorre. A sensibilidade e a especificidade são como pratos em uma balança: se ocorre melhora na sensibilidade de um teste, frequentemente, há a diminuição na especificidade. Em algumas situações, ter uma sensibilidade de 100% é muito importante, como nas triagens sorológicas em bancos de sangue, em que os testes são realizados para a prevenção da transmissão de infecções, conforme a matéria “Sensibilidade e especificidade”, da Fleury Medicina e Saúde. O paciente APB, 24 anos, sexo feminino, natural de Porto Alegre, compareceu, no dia 2 de janeiro de 2021, ao centro médico, logo após ter contato, na festa de fim de ano, com um familiar diagnosticado com covid-19. Para verificar se a paciente estava contaminada pelo novo coronavírus, o médico solicitou a realização do exame RT-PCR. APB, imediatamente após a consulta, foi até um laboratório de análises clínicas e realizou a coleta da amostra da nasofaringe. No dia 5 de janeiro de 2021, APB recebeu o resultado do teste negativo e continuou com suas atividades cotidianas, sem realizaro isolamento social. No dia 10 de janeiro de 2021, APB retornou ao centro médico queixando-se de cefaleia e ausência de olfato há cerca de três dias. Considerando o histórico de contato da paciente com um familiar diagnosticado com covid-19, o médico solicitou um novo teste RT-PCR. APB realizou uma nova coleta e, dessa vez, o resultado do exame foi positivo para a covid-19. Sabendo que o RT-PCR é o teste padrão-ouro no diagnóstico da doença em razão da sua alta sensibilidade e especificidade, por qual razão o primeiro teste foi negativo? Nesse caso, mesmo um teste altamente específico e sensível pode levar a um resultado falso negativo. Isso aconteceu em função do período em que foi realizada a coleta do material biológico. O teste RT-PCR apresenta uma espe- cificidade próxima a 100%, mas a sensibilidade depende da amostra coletada e do período da doença em que o paciente se encontra, variando entre 63 e 92% (SBPT, 2020). Em geral, recomenda-se que a coleta do swab da nasofaringe seja realizada a partir do terceiro dia após o início dos sintomas. Quando o paciente APB realizou o primeiro teste de RT-PCR, ele ainda não apresentava qualquer sintoma, e a sua exposição ao vírus era recente. No entanto, no mo- mento do segundo teste, APB estava com cefaleia e ausência de olfato há três dias. Portanto, mesmo quando um teste possui especificidade e sensibilidade elevadas, deve-se observar outras variáveis capazes de influenciar no resultado. Nesse caso, o período da coleta da amostra foi crucial para a entrega de um resultado confiável. Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas 3 Exatidão (acuidade) — A exatidão descreve o quanto um valor encontrado em uma análise se aproxima do valor verdadeiro do analito (MOTTA; CORRÊA; MOTTA, 2001). Portanto, ela descreve a capacidade do teste em fornecer um resultado correto. Quanto mais próximo do valor real do analito for o resul- tado, mais exata essa análise será considerada. A exatidão pode ser avaliada e mantida por meio da calibração do instrumento (DAGNINO et al., 2019). Precisão (reprodutibilidade) — Descreve a habilidade de um método em produzir resultados próximos entre si quando realizadas determinações repetidas na mesma amostra com as mesmas condições (DAGNINO et al., 2019). Portanto, demonstra o quanto um resultado encontrado é reprodutível, ou seja, o quanto esse resultado se reproduz ao longo de diversas análises independentes com a mesma amostra. Se um mesmo teste laboratorial for repetido várias vezes e os resultados encontrados forem iguais ou próxi- mos uns dos outros, essa medida é considerada precisa. No entanto, se os resultados variarem muito, é considerada imprecisa. A precisão é expressa pelo desvio padrão (DP) ou coeficiente de variação (CV) dos resultados num conjunto de medições replicadas (PNCQ, 2017). Portanto, a precisão pode ser estimada após uma série de medições de um mesmo material, tendo o seu DP ou CV calculados (OLIVEIRA; MENDES, 2010). Quanto maior for o DP, menor é a precisão e vice-versa. Principais tipos de erros Segundo a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, SBPC/ML (2010, p. 10): Erro de laboratório: é a falha de uma ação planejada que não se completou como foi proposta, ou o uso de um plano incorreto para alcançar uma meta, que pode ocorrer em qualquer parte do ciclo de laboratório (desde o pedido da análise até o laudo de resultados e sua interpretação) e a reação aos erros. Erro aleatório — O erro aleatório é aquele que ocorre de forma esporádica em razão da imprecisão do método. Esse erro pode ser mensurado por meio do coeficiente de variação (CV), que é expresso na forma percentual, resultando da razão entre a média dividida pelo desvio padrão multiplicado por 100 Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas4 (ANDRIOLO et al., 2013). Os erros aleatórios não podem ser previstos nem evitados, segundo Xavier, Dora e Barros (2016), pois ocorrem ao acaso e, portanto, não podem ser corrigidos. Em geral, acontecem durante a fase de processamento e manipulação da amostra. A magnitude do erro aleatório, também denominado imprecisão, pode ser caracterizada por meio de medidas sucessivas de uma mesma amostra para um mesmo parâmetro (ANDRIOLO et al., 2013). Erro sistemático — Os erros sistemáticos, ou bias, são aqueles que ocorrem de maneira regular e constante, como efeito da inexatidão (diferença entre o valor medido e o valor verdadeiro) do método. Nesse tipo de erro, os valores dos resultados são deslocados em conjunto e passam a variar em torno de um valor diferente do real. O erro sistemático pode ser praticamente eliminado por meio da utilização de métodos otimizados insensíveis ao efeito da matriz associados ao uso de calibradores aferidos por métodos definitivos ou de referência (BASQUES, 2016b). Veja, no Quadro 1, algumas causas dos erros aleatórios e sistemáticos. Quadro 1. Exemplos de causas de erros aleatórios e sistemáticos Causas de erros aleatórios Causas de erros sistemáticos � Bolhas (em reagentes, tubulações, seringas) � Reagentes mal homogeneizados � Coágulos ou microcoágulos no pipetador ou na amostra � Temperatura instável � Obstruções casuais do equipamento � Engano (erro que não se repete sistematicamente) � Mudança nos lotes dos reagentes e/ou calibradores � Reagentes incorretamente preparados � Armazenagem inadequada � Problemas metodológicos, como efeito matriz � Diluição inadequada de controles � Manutenção ineficiente de equipamentos Fonte: Adaptado de Xavier, Dora e Barros (2016). Erro total — O erro total corresponde à soma do erro aleatório com o erro sistemático. A Figura 1 demonstra graficamente os tipos de erros descritos. Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas 5 Figura 1. Erros encontrados em análises clínicas. À esquerda, está o valor real. A diferença entre a média dos valores encontrados e o valor real reflete a inexatidão (erro sistemático), enquanto a variação dos valores em torno do valor médio reflete a imprecisão (erro aleatório). A soma dos erros sistemático e aleatório resulta no erro total. Fonte: Adaptada de Xavier, Dora e Barros (2016). Calibradores e controles Calibradores Calibradores são soluções com concentrações definidas e conhecidas utili- zadas na calibração dos equipamentos do laboratório. Durante a calibração, o profissional responsável programa o instrumento com a concentração de cada analito, de acordo com as informações fornecidas no folheto do kit fornecido com o calibrador. O equipamento então mede o calibrador e ajusta a leitura para corresponder aos valores fornecidos e passa a utilizá-los como referência (LABNETWORK, 2019). Todos os equipamentos e instrumentos de medição requerem calibração, pois a exatidão pode ser avaliada e mantida por meio da calibração do equipamento (DAGNINO et al., 2019). Podem ser utilizados para realizar a calibração: � padrão primário: produzidos a partir da substância pura e dissolvidos em água, geralmente usado em métodos manuais; � calibrador único: semelhante ao padrão primário, é utilizado para a calibração de um único analito; Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas6 � multicalibradores: usados na calibração de sistemas automatizados, pois são produzidos a partir de uma matriz proteica e apresentam viscosidade muito semelhante às amostras humanas. A partir de um só material, é possível realizar a calibração de vários procedimentos (BASQUES, 2016b). O padrão primário e o calibrador único têm aplicação limitada em sistemas automáticos de análise, pois, em razão das diferenças de viscosidade em relação às amostras de pacientes, introduzem problemas de repetitividade e reprodutibilidade. Eles também não são adequados para transferir exatidão às calibrações dos instrumentos. A calibração deve ser realizada na aquisição de um equipamento, após as manutenções, em mudanças de ambiente físico, quando houvera troca de lotes de reagentes ou conforme a recomendação do manual do fabricante. A matriz é o meio físico-químico no qual o analito está disperso. Pode ser, por exemplo, um meio aquoso ou proteico. Efeito matriz refere-se às interferências causadas pelas substâncias que compõem a matriz da amostra. Controles Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada RDC nº 302 da Anvisa, Brasil (2005, documento on-line), a amostra controle é o “Material usado com a finalidade principal de monitorar a estabilidade e a reprodutibilidade de um sistema analítico nas condições de uso na rotina.” As amostras controle são utilizadas exclusivamente para fins de controle da qualidade e não devem ser usadas na calibração. Elas não têm uma concentração exata como os cali- bradores, e apresentam um valor médio de concentração e faixa de variação permitida. As amostras controle servem para monitorar a precisão por meio da reprodutibilidade das leituras. Também são utilizadas na verificação da integridade da calibração dos equipamentos. Os controles são testados ao mesmo tempo e da mesma forma que as amostras dos pacientes (WHO, 2011). Recomenda-se que a passagem dos con- troles seja periódica, pelo menos uma vez ao dia ou conforme a recomendação do fabricante, a fim de mensurar a precisão e a exatidão dos analisadores. Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas 7 As amostras controle são comercializadas na forma liofilizada e/ou prontas para uso. Os erros durante a sua preparação e armazenamento devem ser minimizados pelo uso de água reagente, pipetas calibradas e armazenamento adequado, para a obtenção dos parâmetros com maior exatidão (LABTEST, 2019). É fundamental que os laboratórios utilizem, no mínimo, dois controles com níveis diferentes de concentração, para que as informações tenham validade na verificação da manutenção dos níveis desejáveis de controle. Essa recomendação é parte das Boas Práticas de Laboratórios Clínicos (BPLC), implementadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) (BASQUES, 2016b). Os controles positivos e negativos também podem ser usados, especialmente nos setores de microbiologia e de imunologia. O controle positivo é uma amostra sabidamente positiva, enquanto o controle negativo é uma amostra sabidamente negativa. As diferenças entre calibradores e controles estão associadas a suas apli- cações, e todos os materiais devem ser apropriados para o método analítico a ser adotado. Veja, no Quadro 2, as principais diferenças entre calibradores e controles. Quadro 2. Diferenças entre calibradores e controles Calibradores Controles Objetivo Calibrar os equipamentos, indicando um valor de referência Verificar a calibração e mensurar a precisão e a exatidão dos analisadores Frequência de utilização Na aquisição dos equipamentos, após manutenções, na troca de lotes de reagentes Em geral, diariamente, no início da rotina Concentração Concentração específica e conhecida Concentração conhecida com um valor médio e desvio padrão Matriz Aquosa em procedimentos manuais e proteica em sistemas automáticos Matriz semelhante à das amostras dos pacientes Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas8 Na aquisição de um equipamento de bioquímica, é necessário realizar a calibração desse aparelho antes de começar a utilizá-lo. Geral- mente, é usado um multicalibrador, ou seja, a partir de um só material, é possível realizar as calibrações de vários analitos, como glicose, ureia, cálcio, colesterol, fosfato, entre outros. Como o calibrador possui um valor de concentração exato e conhecido para cada analito, essa quantidade é informada ao equipamento para que ele a use como referência. O aparelho armazenará na memória essa referência e a utilizará para calcular os resultados das amostras dos pacientes. Durante a rotina de uso do equipamento, utiliza-se uma amostra controle para fins de controle da qualidade, exclusivamente. A amostra controle é ana- lisada, em geral, uma vez ao dia, junto às amostras dos pacientes. O resultado da medição dessa amostra deve ser anotado e monitorado continuamente. Como o controle possui um valor médio conhecido, qualquer alteração fora dos valores esperados servirá como um alerta para que seja verificado o que levou a essa variação. Tipos de água utilizados em análises clínicas e suas aplicações A água é um dos principais reagentes utilizados nos laboratórios de análises clínicas. Ela pode ser usada na reconstituição de reagentes, em diluições, em soluções brancas ou padrões, na preparação de soluções de enxágue e de tampões, na confecção de meios de cultura, na alimentação de analisadores automatizados, na lavagem e na sanitização (MENDES et al., 2011). Entretanto, a água considerada potável não é indicada para esses usos, pois contém contaminantes que podem interferir nas análises, como íons inorgânicos, microrganismos, gases e partículas (BASQUES, 2016a; MENDES et al., 2011). Por exemplo, o cloro utilizado na água servida à população pode introduzir erros na determinação de cloretos, interferindo em vários procedimentos em bacteriologia e enzimologia. Traços de metais aceleram ou inibem várias reações e podem introduzir erros significativos nas medições de atividades enzimáticas ou em procedimentos que utilizam enzimas como reagentes (BASQUES, 2016a). Segundo Mendes et al. (2011), nos laboratórios clínicos do Brasil, os padrões estabelecidos pelo Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI) são os mais comumente empregados para determinar os parâmetros para cada tipo de água. De acordo com a necessidade de cada ensaio, é selecionado o tipo de água que será utilizado. Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas 9 A classificação da água em tipos 1, 2 e 3 está em desuso, embora ainda seja citada em alguns materiais, conforme Maria Elizabete Mendes e outros, no artigo “A importância da qualidade da água reagente no laboratório clínico”, e Caio Pestana Barbosa Lorenzo e outros, no artigo “Métodos de purificação da água para laboratório”. Veja a seguir como era a classificação dos tipos de água. � Tipo 1: indicada para análises em que é exigida maior precisão e exatidão, para o preparo de soluções padrão e tampão e para procedimentos em que a presença de microrganismos seja a menor possível. � Tipo 2: indicada para processos em que a presença de bactérias é tolerada. � Tipo 3: indicada para a limpeza de vidrarias, para a produção de água de maiores graus de pureza e para o preparo de culturas bacteriológicas. A classificação em água reagente tipo 1, 2 e 3 foi ampliada de acordo com a sua utilização. Veja a seguir como é a classificação pelo CLSI atualmente. Água reagente para laboratório clínico (clinical laboratory reagent water, CLRW) — Equivale às águas tipo I e II da antiga classificação. É utilizada em laboratórios de análises clínicas na reconstituição de reagentes, padrões, calibradores, branco de reações, lavagem de cubetas e probes (MILLER et al. 2010). A contagem de unidades formadoras de colônias bacterianas (UFCs/ ml) deve ser inferior a 10. Quanto ao material particulado, o filtro no final da purificação deve remover partículas com diâmetro superior a 0,22 µm. Para o carbono orgânico total, o nível aceito deve ser inferior a 500 g/g (MENDES et al., 2011). Água reagente especial (special reagent water, SRW) — É a água livre de DNA- ses e RNAses. Por isso, é indicada para utilização nas técnicas moleculares. As especificações de pureza da SRW são semelhantes às da CLRW. A contagem de unidades formadoras de colônias bacterianas (UFCs/ml) deve ser inferior a 10. Quanto ao material particulado, o filtro no final da purificação deve remover partículas com diâmetro superior a 0,22 µm. Para o carbono orgânico total, o nível aceito deve ser inferior a 50 ng/g (MENDES et al., 2011). Água para equipamentos (instrumental feed water, IFW) — Água adequada para a alimentaçãodireta de analisadores automatizados, pois eles podem ter especificações de diversos parâmetros, de acordo com o fabricante, para que haja melhor funcionamento com menor número de interferentes (MENDES et al., 2011). Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas10 O CLSI inclui algumas classificações adicionais; veja a seguir. � Água para autoclave e lavagem: a água deve ser purificada e conter baixos níveis de compostos orgânicos, inorgânicos e material par- ticulado, que poderiam contaminar soluções e meios de cultura no processo de autoclavagem. � Água fornecida pelo fabricante do método: como diluente ou como reagente, deve ser empregada apenas com o conjunto diagnóstico e em nenhuma outra aplicação. Esse tipo de água não substitui as águas dos tipos CLRW ou SRW. � Água purificada fornecida envasada comercialmente: o usuário deve tomar cuidado com a degradação da água quando estocada e validar os parâmetros da CLRW ao longo do tempo de utilização dessa água. Cada novo lote de água envasada deve ser validado antes de seu uso. Há diversos processos para a produção da água reagente. O laboratório pode escolher qual método ou combinação de processos de purificação deve ser utilizado, desde que o produto final atenda às especificações requeridas pelas normas internacionais. Veja a seguir os métodos mais utilizados para a purificação da água, de acordo com Mendes et al. (2011). � Filtração: filtros de carvão ativado ou de celulose removem partículas contaminantes da água. Não há eliminação de íons e bactérias. � Destilação: utilizada para separar misturas homogêneas do tipo sólido- -líquido, nas quais os componentes têm pontos de ebulição diferentes. O vapor da água aquecida é condensado, coletado e armazenado, removendo grande parte dos contaminantes. � Desinfecção por sistema ultravioleta (UV): a água circula no reator de esterilização. Em contato com a luz, os microrganismos são inativados pela luz UV. � Deionização: é utilizada para remoção de substâncias inorgânicas, empregando-se colunas com resinas carregadas eletricamente que permitem a troca seletiva de íons por compostos inorgânicos dissol- vidos na água. � Eletrodeionização: processo contínuo em que a água passa por canais. Ela migra para o canal de eletrodo, segue por meio de membranas permeáveis a ânions e cátions (canais de purificação) e, por fim, passa pelo canal de concentração. O campo elétrico criado faz com que os íons Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas 11 removidos transitem por canais, onde ficam concentrados, enquanto o produto transita por outro canal e é estocado. � Microfiltração e ultrafiltração: a membrana, colocada na saída do sistema de purificação, não permite que qualquer partícula acima de 0,22 µm a atravesse, promovendo uma filtração esterilizante, como a microfiltração. Mais recentemente, a ultrafiltração foi proposta como uma forma de eliminar outros contaminantes que a microfiltração não conseguia eliminar. � Osmose reversa: processo de passagem de água através de uma mem- brana semipermeável em um sistema de alta pressão. Esse sistema força a passagem da água pela membrana, retendo partículas, com- postos orgânicos e bactérias. Remove grande porcentagem de todos os tipos de contaminantes. Além dos processos de purificação da água, é necessário que haja atenção ao armazenamento e à distribuição da água no laboratório. Os processos devem garantir que os parâmetros especificados sejam atendidos e manti- dos, a fim de evitar possíveis interferentes (ANDRIOLO et al., 2018). A água reagente não deve ser estocada, mas utilizada quando é produzida, em ra- zão da contaminação por gases do ambiente e do crescimento microbiano (MENDES et al., 2011). Os controles de qualidade da água incluem a determinação da resisti- vidade e condutividade, a determinação de carbono total (TOC), o controle microbiológico e a dosagem de endotoxinas (MENDES et al. 2011). Referências ABNT. AMN ISO/TS 22367: redução do erro através da gestão de riscos e melhoria contínua. Rio de Janeiro: ABNT, 2009. ANDRIOLO, A. et al. (coord.). Diretriz para a gestão e garantia da qualidade de testes laboratoriais remotos (TLR) da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML). Barueri: Minha Editora, 2013. ANDRIOLO, A. et al. (coord.). 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Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas 13 Leituras recomendadas FLEURY. Sensibilidade e especificidade. Fleury Medicina e Saúde, 2020. Disponível em: https://www.fleury.com.br/noticias/precisao-diagnostica. Acesso em: 3 fev. 2021. LORENZO, C. P. B. et al. Métodos de purificação da água para laboratório. Enciclopédia Biosfera, v. 15, n. 28, p. 1077-1092, 2018. Disponível em: http://www.conhecer.org.br/ enciclop/2018B/BIO/metodos2.pdf. Acesso em: 3 fev. 2021. MENEZES, M. E. Diagnóstico laboratorial do coronavírus (SARS-CoV-2) causador da COVID-19. SBAC: Sociedade Brasileira de Análises Clínicas, 2020. Disponível em: https://www.sbac.org.br/blog/2020/03/30/diagnostico-laboratorial-do-coronavirus- -sars-cov-2-causador-da-covid-19/#:~:text=Um%20%C3%BAnico%20resultado%20 n%C3%A3o%20detectado,influenciar%20o%20resultado%20do%20exame. Acesso em: 3 fev. 2021. SANTOS, C. S. S. et al. Controle de qualidade no Laboratório de Análises Clínicas na Fase Analítica: a segurança dos resultados. Brazilian Journal Health Review, v. 3, n. 4, p. 8512-8523, 2020. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BJHR/ article/view/13385/11409. Acesso em: 3 fev. 2021. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Introdução ao controle de qualidade em análises clínicas14 DICA DO PROFESSOR A utilização de amostras-controle na rotina do laboratorial é essencial para garantir a confiabilid ade dos resultados liberados nos exames de análises clínicas. Na Dica do Professor, será detalhada a maneira como essas amostras são processadas na prática laboratorial. Acompanhe! Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. EXERCÍCIOS 1) Em síntese, os quatro principais indicadores utilizados para determinar a confiabilid ade de um teste laboratorial são: exatidão, precisão, especificidade e sensibilidade. Sobre esses parâmetros, analise as afirmativas a seguir: I – Quanto maior a precisão, maior será a exatidão de um método. II – Testes que apresentam baixa sensibilidade são mais propensos a fornecer resulta dos falso-positivos. III - Testes que apresentam baixa especificidade são mais propensos a fornecer result ados falso-positivos. Qual(is) das alternativas estão corretas? A) II e III estão corretas. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/d7764e1959f823d8d217c441e01f1e76 B) Somente II está correta. C) Somente III está correta. D) I e III estão corretas. E) Somente I está correta. 2) Os resultados dos exames de análises clínicas geralmente são decisivos para a exclusã o ou a confirmação de um determinado diagnóstico. Sobre a sensibilidade e a especificidade de um teste, analise as afirmativas a seguir: I – Em geral, a tentativa de melhorar a sensibilidade de um teste frequentemente tem o efeito de diminuir a especificidade. II – Um teste com 95% de sensibilidade detecta como positivo 95 indivíduos em 100 i ndivíduos doentes. III – Quanto mais sensível um teste, menos resultados falso-positivos serão produzido s. Qual(is) das alternativas estão corretas? A) Somente I está correta. B) I e II estão corretas. C) Somente II está correta. D) I e III estão corretas. E) II e III estão corretas. 3) O controle de qualidade é uma ferramenta útil para a identificação e a prevenção de erros analíticos. Em relação aos tipos de erros encontrados nas análises clínicas, assinale a alternativa correta: A) A diluição incorreta dos controles pode levar a um erro aleatório. B) A identificação do tipo de erro se dá pela observação dos valores diários da calibração. C) A identificação do erro se dá pelo estudo das amostras dos pacientes. D) O erro aleatório ocorre ao acaso e leva à imprecisão de um método. E) O erro aleatório pode ser eliminado, desde que a calibração do equipamento tenha sido real izada. 4) Calibradores e controles são essenciais para a gestão da qualidade da fase analítica n os laboratórios de análises clínicas. Sobre esses materiais, assinale a alternativa correta: A) Calibradores produzidos em uma matriz aquosa são ideais para utilização em sistemas auto máticos. B) Amostras-controle devem ser analisadas diariamente ou antes do início de cada corrida ana lítica, e servem para informar um valor de referência ao equipamento. C) Recomenda-se que a calibração dos equipamentos seja realizada no início da rotina para ca da analito que será quantificado. D) As amostras utilizadas no controle interno da qualidade também podem ser utilizadas para realizar a calibração dos equipamentos. E) As amostras-controle são utilizadas para monitorar o sistema, além de auxiliar na detecção de erros aleatórios e sistemáticos. 5) A água é um dos principais reagentes utilizados em análises clínicas. Para evitar inter ferências nas análises, a água deve passar pelo processo de purificação específico par a o uso a que se destina. Sobre os tipos de água utilizados no laboratório, é correto afirmar que: A) A água reagente especial (SRW) pode ser obtida por ultrafiltração. B) A água reagente para laboratório clínico deve ser estocada para reduzir o risco de contamin ação com interferentes. C) A água potável pode ser utilizada em equipamentos como a autoclave. D) A luz ultravioleta remove íons presentes na água. E) Água reagente especial (SRW) é a ideal para a utilização em técnicas moleculares. NA PRÁTICA A escolha correta do tipo de água para cada análise laboratorial é essencial para garantir resultad os confiáveis. Algumas substâncias presentes na água precisam ser eliminadas por processos de purificação para que não acabem interferindo nas análises. Na Pratica, você verá o caso da Suzana, que começou a trabalhar há pouco tempo em um laboratório e precisa escolher o tipo de água ideal para os exames que serão realizados. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professo r: Ensaio de proficiência- controle de qualidade Visite o site da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e conheça como funcionam os progra mas da qualidade e os ensaios de proficiência de laboratório. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Entenda o que é sensibilidade e especificidade Vídeo que apresenta, de forma didática, os conceitos de especificidade e sensibilidade. http://www.sbpc.org.br/programas-da-qualidade/controle-de-qualidade/ Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Biblioteca Digital - Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/ Medicina Laboratorial (SBPC/ML): boas práticas em laboratório clínico Livro digital com as principais recomendações da SBPC para boas práticas no laboratório clínic o. Destaque especial para o capítulo sobre garantia da qualidade. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Boletim controlllab qualifique Entrevista sobre a água reagente utilizada no laboratório. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Controle de qualidade no laboratório de análises clínicas na fase analítica: a segurança dos resultados Artigo de revisão sobre a importância da implantação do controle de qualidade no laboratórioclí nico. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/y7Puf75vK0w http://www.bibliotecasbpc.org.br/?P=4&ID=&C=0.2 https://controllab.com/pdf/qualifique_47.pdf https://www.brazilianjournals.com/index.php/BJHR/article/view/13385
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