Buscar

3ª aula - O acesso á Justiça como fundamento dos métodos adequados de resolução de conflitos (1) - Copiar

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O ACESSO À JUSTIÇA COMO FUNDAMENTO DOS MÉTODOS ADEQUADOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS 
Introdução
Desde a criação do órgão administrativo do Poder Judiciário, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Judiciário passa a se engajar no fomento de programas nacionais voltados para solução de litígios e, com o passar do tempo, passa também a implementar políticas públicas nacionais no mesmo sentido.
Pensar sobre resolução de conflitos como tema de uma política pública é concretizar direitos fundamentais como o direito do acesso à Justiça e consolidar de forma permanente uma cultura nova tendente às práticas autocompositivas para que, paulatinamente, a tradição brasileira do litígio seja substituída por uma cultura dialógica e colaborativa.
Em que pese o programa nacional de conciliação de 2006 ser o percursor de uma ação nacional voltada para o assunto, é a Resolução nº 125/2010 do CNJ que institui uma política pública judiciária nacional relativa para o tratamento adequado dos conflitos de interesse. Após nove anos dessa política, o tema continua em processo de consolidação, com reforço das inovações e alterações trazidas pela Lei nº 13.105/2015, que institui o novo Código de Processo Civil (CPC) e pela Lei nº 13.140/2015, que institui a Mediação (Lei de Mediação).
A crítica central sobre a participação do Judiciário na criação de políticas públicas recai sobre sua falta de legitimidade para tanto e na sua interferência em políticas criadas por ações governamentais, pois “a criação, a implementação e a avaliação das políticas públicas unilateralmente pelo Poder Judiciário ferem o princípio democrático, pois a tomada de decisão política não reflete a vontade da maioria.” (SALDANHA, 2017, p. 96).
Contudo, ainda que existam críticas e discussões, certo é que o Poder Judiciário se configura claramente na formulação de políticas públicas. 
Segundo Ernesto Stein et al (2007), o Judiciário pode exercer quatro papeis diferentes nesse processo: i) ator com poder de veto, quando veta legislações por questões constitucionais; ii) ator com poder de decisão, quando há novas interpretações para legislação; iii) árbitro imparcial, quando intervém para garantir a efetividade das políticas públicas, e; iv) representante da sociedade, quando aplicam mecanismos constitucionais para garantia de proteção dos direitos civis e sociais ainda que as minorias não consigam participar da formulação de políticas públicas.
Assim, não restam dúvidas da legitimidade do Judiciário – como ator decisório e representante da sociedade – para formulação de política pública em seu âmbito de atuação. No caso, uma política pública que vise garantir o acesso à justiça de forma efetiva, estruturando administrativamente, em nível nacional, mecanismos alternativos para solução de conflitos. E, dessa forma, a concretização dos direitos fundamentais como acesso à justiça, cidadania e direitos humanos.
Se por um lado há um extenso e profundo debate sobre a judicialização das políticas públicas ou até mesmo a politização do Judiciário, por outro lado há o serviço público (OLIVEIRA, 2017) oferecido para a sociedade: a prestação jurisdicional.
Uma das primeiras e ainda hoje uma das principais ações institucionais do CNJ é o movimento pela conciliação, cujo slogan mais famoso “conciliar é legal” representa um marco Judiciário para o fortalecimento da cultura do diálogo, visando a minimização dos problemas com mutirões de audiências de conciliação, palestras e debates sobre o tema.
O programa nacional teve seu início em 2006 e resultou em um dia com a quantidade de 83.397 audiências conciliatórias realizadas e um índice de 55,36% de acordo, envolvendo tribunais federais, estaduais e trabalhistas. 
O programa se desenvolveu ao longo do tempo sofrendo acréscimos relevantes e, em 2016, durante a agora semana de conciliação, foram realizadas 274.183 audiências conciliatórias com um índice de 47,42% de acordo. Com onze anos de vigência, o programa “conciliar é legal” pode ser considerado a primeira política pública consolidada do Judiciário com resultados públicos expressivos.
O CNJ seguiu seu primeiro planejamento estratégico (2009-2014) trazendo como missão do Judiciário a realização de justiça e apresentando como seus valores o instrumento efetivo de justiça, equidade e paz social, valores que se repetem no planejamento vigente (2015-2020), sendo a efetividade também conhecida como concretização dos direitos e um dos princípios ideológicos basilares do CPC.
A partir dos planejamentos estratégicos surgem os atos normativos e as políticas públicas tendo como próprio fundamento a Estratégia Nacional do Judiciário. Nesse cenário se encontra a Resolução nº 125/2010 do CNJ.
O ciclo da política pública sobre tratamento adequado dos conflitos de interesse
As políticas públicas envolvem soluções de problemas, discussão de ideias e interesses, análise de governos, instituições e suas interações. A definição da cientista política brasileira Celina Souza para políticas públicas é “o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, ‘colocar o governo em ação’ e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável dependente)”, e de acordo com essa definição, a avaliação deve ser uma constante (SOUZA, 2006, p. 20-45).
Em apertada síntese, o tratamento de conflitos entra na agenda pública a partir do crescente e quase permanente congestionamento de processos no Judiciário, algo que remete a morosidade e ineficiência desse Poder.   
Por mais que o congestionamento não expresse diretamente a eficiência de um Tribunal, tanto seu aumento estrutural quanto os recursos humanos e materiais não foram suficientes para sentenciar e baixar processos na mesma proporção em que novas ações e recursos foram recebidos. Esse fato, como expressão da era da judicialização dos conflitos, mantém a crise judiciária latente e, quiçá, mais grave que outrora.
            
A formulação de alternativas para atender esse tema passa a ser gerenciado pelo CNJ e algumas propostas foram implementadas visando à minoração dos problemas: em 2006 com o programa movimento pela conciliação; em 2008 com a estruturação da gestão e instituição de metas estratégicas do Poder Judiciário, elaboradas com a observação das informações levantadas pelo relatório justiça em números, consolidando o Conselho como órgão de controle (CNJ, 2018).
           
Diante de um contexto histórico e de opções que vêm sendo implantadas ao longo do tempo, é factível dizer que a opção escolhida surge ao mesmo tempo em que a agenda, resultado de uma decisão racional-incrementalista, terceira etapa do ciclo da política pública conhecida como tomada de decisão. 
Essa decisão é incrementalista à medida que incentivar métodos não-adversariais já era uma opção do Judiciário brasileiro, conforme os programas nacionais de conciliação. Constituindo-se também como racional pelo planejamento estruturado de programas autocompositivos através de diretrizes centrais nacionais a se irradiarem por todas as áreas do Judiciário brasileiro.
            
Watanabe reforça a ideia de decisão através do incrementalismo ao afirmar que a Resolução de nº 125/2010 é fruto da somatória de esforços individuais e coletivos, de tribunais, juízes e demais operadores do direito, ao longo da história do Brasil (2011).
            
A implementação da política pública é o estágio de colocar a política pública em prática, alocando fundos, pessoas e regras de estruturação gerenciadas por servidores públicos e com a participação de outros atores da sociedade civil. Na implementação, o desafio de quem implementa a política é demonstrar capacidade de “enfrentar os problemas específicos e a complexidade do subsistema com o qual ele tem que lidar” (HOWLETT; RAMESH; PERL, 2013, p.195), no caso, o CNJ e os tribunais brasileiros.
            
Com seus 19 artigos, a resolução dá início a uma plataforma de sistemas multiportas para resoluções de conflitos de interesse, em especial os consensuais.Isso quer dizer que haverá opções a serem utilizadas como método de soluções de controvérsias e, dependendo da natureza e peculiaridade do conflito, uma determinada opção irá se mostrar mais adequada.
O texto original da Resolução prevê a criação de uma estrutura judiciária a ser implementada em cada um dos tribunais brasileiros, composta basicamente por um órgão gestor e responsável pelo desenvolvimento da política em cada tribunal, chamado Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos – NUPEMEC - e por espaços coordenados pelo NUPEMEC, local onde serão realizadas todas as práticas voltadas para a implementação da política, chamados Centros Judiciários de Solução de conflitos e Cidadania - CEJUSCs.
Para alcance da mudança cultural pretendida, destacam-se entre as principais iniciativas a cooperação entre instituições públicas (universidades, agências reguladoras, etc) e privadas (universidades, empresas), inclusive para criação de disciplinas voltadas para solução pacífica de conflitos; gerar interlocução entre OAB, Defensorias e Ministério Público para prevenção de litígios; implementar programas autocompositivos e acompanhamento de resultados.
O NUPEMEC tem como algumas de suas atribuições: a instalação dos CEJUSCs, o incentivo e promoção de conciliadores, mediadores e demais profissionais que atuem com mecanismos de resolução de conflitos, o regulamento sobre a remuneração de conciliadores e mediadores e o estímulo de programas de mediação comunitária. 
As atribuições do CEJUSC compreendem: a gestão e realização de audiências autocompositivas (conciliação e mediação); triagem e encaminhamento de casos pré-processuais e atendimento e orientação ao cidadão. Com o advento do CPC, passa a ser de responsabilidade dos NUPEMECs: optar por quadro de mediadores e conciliadores mediante concurso público, em caso excepcional, se houver insuficiência de profissionais; aplicar regras de impedimento e suspeição do juiz aos facilitadores de mecanismos consensuais bem como proibir assessoria ou patrocínio de uma das partes no período de um ano.      
Pelo que se pode perceber da estrutura administrativa criada para gestão dos métodos consensuais, a implementação da política pública seguiu o modelo de cima para baixo (top-down), uma visão funcionalista decidida pela esfera administrativa do Judiciário (CNJ) e executada pelos Tribunais, observados o princípio da autonomia inerente ao Poder Judiciário.
A implementação está relacionada à execução da política pública e, para tal fim, investe-se em instrumentos da política pública, ferramentas que irão transformar em ato o plano de ação. São alguns instrumentos utilizados para implementação: i) a regulamentação, no caso a Resolução nº 125/2010 que institui a política judiciaria nacional com as diretrizes centrais sobre tratamento adequado de conflitos; ii) desregulamentação ou legalização, podendo ser citado como exemplo o CPC que consolida os termos da Resolução, endossando a observação de métodos consensuais de conflitos; iii) sanções, ainda que não seja estipulada na Resolução, há sanção previstas no CPC nomeadas de ato atentatório à dignidade da justiça.
Também são conhecidos como instrumentos de implementação da política pública (SECCHI, 2013, p. 58-59): iv) ampliação da prestação direta de serviço público, os centros judiciários de solução de conflitos e cidadanias (CEJUSC’s) preveem demandas pré-processuais, de caráter célere e informal; v) informação ao público por fóruns e conselhos, como o fórum nacional de mediação e conciliação (FONAMEC) e o conselho nacional das instituições de mediação e arbitragem (CONIMA); vi) campanhas de mobilização, como o “movimento pela conciliação” amplamente divulgado pelas mídias sociais dos tribunais e da televisão aberta; vii) prêmios e concursos, como o prêmio “conciliar é legal” que homenageia boas práticas voltadas para autocomposição bem como o prêmio Innovare no Judiciário e no serviço público; viii) certificados e selos, como o selo “justiça em números” dado pelo CNJ aos Tribunais com boa gestão e transparência de informações.
É inquestionável que os Tribunais empenharam todos seus esforços para melhorar a prestação jurisdicional, inserindo novos métodos de resolução de conflitos a serviço do cidadão e investindo em ações integradas para aperfeiçoamento do aparelho judiciário por meio da tecnologia, dentro dos limites orçamentários da realidade de cada Estado.
Contudo, como afirmam Holmes e Sunstein, a administração da justiça com suas relações de autoridade e proteção dos direitos nunca é gratuita (1999, p. 77). No Brasil, o custo do Poder Judiciário (estoque de processos, recursos humanos, novas políticas) em 2017 foi de R$90,8 bilhões, equivalente a 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (CNJ, 2018, p. 56).
            
O alto custo do aparelho Judiciário se deve a responsabilidade de sustentar a arraigada cultura litigiosa brasileira motivada pela falta de ação governamental, dentre outros fatores. De acordo com Holmes e Sunstein, todos deveriam conhecer seus direitos e esclarecer suas dúvidas com o Poder Público. Depois, caso necessário, exigir seu cumprimento (1999, p. 50).
            
O caminho para solução dos problemas que envolvem excesso de litigância e morosidade processual está além do Judiciário. Como visto, o acesso à Justiça não se restringe a acesso ao Judiciário. Para uma mudança cultural dialógica são necessárias a participação efetiva dos demais Poderes em atuação conjunta – esferas locais, regionais e nacional – para prevenção de litígios e garantia da qualidade dos serviços públicos.
          
A integração da sociedade civil na prática efetiva das resoluções consensuais de conflitos fora dos Tribunais - como o programa de mediação nas escolas – é ponto central por fortalecer os espaços públicos e desenvolver a cidadania na medida em que métodos consensuais legitimam interesses, sentimentos, valores e, principalmente, decisões bem informadas.
PRINCIPAIS FUNDAMENTOS PARA A ADOÇÃO DE MEIOS ALTERNATIVOS DE COMPOSIÇÃO DE CONFLITOS
A adoção de mecanismos alternativos de composição de conflitos, em um primeiro momento, parece ter como grande motor a dificuldade na obtenção de uma sentença de mérito ante a crise na prestação jurisdicional pelo Poder Judiciário.
Ainda, porém, que este seja um fundamento pragmático de inegável relevância para muitos, ele não deve ser o primordial condutor para tal adoção. Embora efetivamente o uso de mecanismos extrajudiciais possa gerar alívio no volume de trabalho dos órgãos estatais, a adoção deve se pautar pela intenção de prover uma abordagem adequada dos conflitos em prol de sua proveitosa composição. 
Além disso, em atendimento aos comandos constitucionais, revela-se importante possibilitar a disseminação, no tecido
social, da cultura de paz; por tal razão, justifica-se a adoção de meios que propiciem a solução harmônica e pacífica de controvérsias no contexto da justiça coexistencial.
Para cada tipo de conflito deve ser adotada a via adequada à sua abordagem a partir da consideração de fatores como as intenções das partes, o perfil da controvérsia e as possibilidades inerentes a cada mecanismo.
A crise na prestação jurisdicional estatal surge como fator pragmático último; embora ela possa ser considerada, não deve ser tida como o fator determinante para adoção dos meios ditos “alternativos”.
Caso se revele ser a solução judicial a mais adequada, ela haverá de ser adotada, não se justificando a realização de um acordo apenas por questões estruturais de dificuldade na prestação jurisdicional.
Solução pacífica de conflitos
Nas precisas palavras de Cândido Rangel Dinamarco, pacificar com justiça é “o mais elevado escopo social das atividades jurídicas do Estado”; este positiva seu poder ao tratar as insatisfações verificadas no tecido social e, definindo a respectiva situação concreta, imuniza-a contra os ataques dos contrariados.
A Constituição Federal, em seu preâmbulo, menciona a justiça, a harmonia social e a soluçãopacífica de conflitos como diretrizes de nosso sistema. Tal previsão sintetiza, sumariamente, os grandes fins da Constituição, funcionando como fonte interpretativa e rumo para a atividade política governamental.
Nesse diapasão, merece especial destaque a previsão dos juizados de paz, cujas atribuições estão previstas expressamente em diversos dispositivos constitucionais.
Segundo Leonardo Greco, em áreas nas quais não há população suficiente para justificar a presença permanente de juiz togado deveria haver um juízo de paz ou outro tipo de órgão com poder de julgar causas de menor complexidade e de conceder medidas provisórias urgentes – mas a Constituição Federal, no art. 98, II, proíbe a outorga ao juiz de paz de qualquer poder decisório.
Falta regulamentação de tal atividade por lei federal, o que é exigido pela Constituição e descumprido pelo Congresso Nacional. Segundo Cândido Rangel Dinamarco, a restauração dos juizados de paz é um ditame constitucional, até agora não cumprido, que visa à conciliação extraprocessual; sua prática anterior se verificou nos juizados informais de conciliação e fora identificada desde a pioneira experiência gaúcha dos conselhos de conciliação e arbitragem.
Ante a ausência da instalação de adicionais espaços aptos a realizar atividades autocompositivas, incumbe ao Poder Judiciário empreender os melhores esforços para pacificar com justiça. Os meios “alternativos” podem colaborar decisivamente para tal mister ao proporcionar uma abordagem célere e eficiente das controvérsias instaladas no tecido social.
Adequação do método ao tipo de conflito
A tarefa da ordem jurídica é gerar a harmonia das relações intersubjetivas com o intuito de promover a máxima realização dos valores humanos com o mínimo de sacrifício e desgaste.
O gestor de conflitos deve ter conhecimento sobre todos os canais existentes para a sua abordagem, considerando vantagens, desvantagens e analisando sua pertinência no caso concreto. Nesse diapasão, revela-se importante a conscientização sobre as múltiplas possibilidades ensejadas pelas técnicas diferenciadas.
Para Ada Pellegrini Grinover, são as pretensões de Direito material que devem balizar a técnica processual na busca da solução adequada a cada uma delas. Warren Burger, ex-presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos, afirmava, já nos idos de 1982, que a obrigação do operador do Direito é (ou pelo menos deveria ser) gerar lenitivos aos conflitos humanos; para cumprir essa tradicional obrigação, devem ser providenciados mecanismos aptos a produzir um resultado aceitável no menor tempo possível, com o mínimo de desgaste e tensão dos participantes.
Merece destaque a interessante classificação da abordagem de controvérsias, proposta por Morton Deutsch, em processos destrutivos ou construtivos. Nos processos destrutivos, a forma de condução da disputa gera o enfraquecimento ou o rompimento da relação preexistente ao conflito; este tende a se expandir ou a se tornar ainda mais acentuado, assumindo as partes posições altamente competitivas para “vencer”. 
Já nos processos construtivos há o fortalecimento da relação social anterior à disputa; eles se caracterizam:
i) pela capacidade de estimular as partes a desenvolverem soluções criativas que permitam a compatibilização dos interesses aparentemente contrapostos; ii) pela capacidade das partes ou do condutor do processo (e.g., magistrado ou
mediador) a motivar todos os envolvidos para que prospectivamente resolvam as questões sem atribuição culpa; iii) pelo desenvolvimento de condições que permitam a reformulação das questões diante de eventuais impasses; e iv) pela disposição das partes ou do condutor do processo a abordar, além das questões juridicamente tuteladas, todas e quaisquer questões que estejam influenciando a relação (social) das partes.
A escolha da via de solução da disputa não é arbitrária nem ocorre por acaso: ela guarda relação com o grau de legitimidade das instituições e com o grau de consciência dos direitos; assim, além de conhecer as opções existentes, deve-se atentar para o nível de conhecimento dos direitos e para o grau de confiança nas instituições (e nos indivíduos nomeados para administrar o conflito).
O ordenamento jurídico processual, nos tempos atuais, oferece grandes oportunidades de melhoria; há concretas demonstrações (decorrentes de iniciativas já em curso) de que processos construtivos são não apenas viáveis, como também determinantes para a efetividade do sistema processual.
Com base em tais premissas, a Resolução n. 125/2010 do CNJ instituiu “a Política Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos de interesses tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade”. Na mesma linha, a Resolução 398/2016 do Conselho da Justiça Federal trata da composição consensual de controvérsias no âmbito de tal justiça especializada.
Em regra, a solução da disputa é mais eficiente se o mecanismo tiver enfoque primário nos interesses das partes. Assim, nada menos custoso e mais eficiente do que os próprios envolvidos conseguirem resolver a disputa pela negociação direta que: 
a) possibilite a criação de opções vantajosas para ambas as partes; b) distribua valores com base em critérios objetivos acordados pelas partes. Quando o enfoque nos interesses não
for suficiente para resolver a disputa sem a intervenção de um terceiro, deve-se ponderar qual método é mais adequado.
Frank Sander e Stephen Goldberg estabelecem critérios para adequar o método à espécie de conflito que se busca resolver. O primeiro critério para entender qual meio é mais adequado são os objetivos das partes com a resolução da disputa. Segundo Sander e Goldberg, os objetivos a serem perseguidos com a resolução de disputas são normalmente os seguintes:
i)minimizar custos; (ii) celeridade; (iii) privacidade/confidencialidade; (iv) manter/aprimorar o relacionamento; (v) revanche; (vi) necessidade de obter uma opinião neutra; (vii) precedente; (viii) maximizar/minimizar recuperação.
Infrutífera a negociação, a mediação como escolha subsequente, por exemplo, satisfaz melhor os itens i, ii, iii e iv citados, mas não é o melhor mecanismo para os demais anseios. A arbitragem, por seu turno, atende melhor à necessidade de obter uma opinião neutra de terceiro e a maximizar/minimizar recuperação (itens vi e viii).
O segundo critério para avaliar qual é o melhor mecanismo diz respeito aos impedimentos ao acordo e aos meios de ultrapassá-los. Os autores enumeram os seguintes impedimentos comuns: (i) comunicação falha; (ii) necessidade de expressar emoções; (iii) diferentes visões dos fatos; (iv) diferentes visões do direito; (v) questões de princípio; (vi) pressões de constituintes; (vii) ligações com outras disputas; (viii) existência de múltiplas partes; (ix) conflitos de agência e (x) “jackpot syndrome”, ou a síndrome de preferir arriscar para atingir o benefício máximo.
Sander e Goldberg recomendam que a análise sobre a escolha do método adequado à disputa faça distinção entre o interesse público e o interesse privado das partes. Como exemplo, há casos em que uma parte prefere a revanche ou vingança, ainda que precise se valer de um método mais custoso. Todavia, não é aderente ao interesse público gastar tantos recursos com a solução de tal disputa, sendo mais interessante, pela perspectiva do interesse público, que as pessoas busquem superar consensualmente suas diferenças.
Destacam os autores que em alguns casos os métodos facilitativos (como os consensuais) podem ser menos benéficos ao interesse público do que a adjudicação; eis exemplos: (i) definição de precedente que traga segurança e previsibilidade a uma série de outras disputas semelhantes; (ii) má-fé ou fraude, para ajudar a estancar violações recorrentes; (iii) necessidade de sanção ou coerção estatal; (iv) desequilíbrio excessivo de poder e habilidades porque uma das partes é incapaz de negociar efetivamente.
Crise no Poder Judiciário
A adoção de caminhos extrajudiciaispara a condução dos conflitos é justificada, em grande medida, pela intensa dificuldade do Poder Judiciário de administrar o sistema de
justiça, que conta com um número cada vez maior de causas em trâmite.
Como pondera Ada Pellegrini Grinover, fatores como burocratização na gestão dos processos, mentalidade do juiz (que nem sempre lança mão dos poderes que os códigos lhe atribuem) e falta de informação dos detentores de interesses em conflito tendem a levar “à obstrução das vias de acesso à justiça e ao distanciamento entre o Judiciário e seus usuários”; isso acarreta não só o descrédito na magistratura e nos demais operadores do Direito, “mas tem como preocupante consequência a de incentivar a litigiosidade latente, que frequentemente explode em conflitos sociais, ou de buscar vias alternativas violentas ou de qualquer modo inadequadas (desde a justiça de mão própria passando por intermediações arbitrárias e de prepotência, para chegar até os “justiceiros”).
Embora a Constituição Federal de 1988 tenha buscado ampliar o acesso à justiça, tal iniciativa não foi acompanhada do adequado aumento na estrutura dos órgãos prestadores de jurisdição.
Para Maria Teresa Sadek, o crescimento nos índices de procura por justiça oferecida pelo Estado está altamente relacionado às taxas de industrialização e ao processo de urbanização; o incremento desses indicadores gera aumento no número e no tipo de conflitos, tornando-se maior a probabilidade de que litígios se convertam em demanda judicial. 
Tal potencial conversão de litígios em demanda por serviços judiciais exige que as partes tenham consciência de seus direitos e acreditem na máquina judicia.
Destaca ainda tal autora que, apesar de todas as críticas, os números referentes à atuação do Poder Judiciário são grandiosos; o fato de haver milhares de processos entrados e apreciados demonstra que a demanda pela solução judicial de conflitos vem se revelando extraordinária e crescente.
Dados do Conselho Nacional de Justiça indicavam que em 2004 havia 57 milhões de demandas em curso nas várias esferas do
Poder Judiciário. Eis a atordoadora progressão geométrica: o volume de processos no país em 2013, segundo o Relatório “Justiça em Números”, alcançou 95,14 milhões. 
O relatório de 2014 apontou o impressionante número de 99,7 milhões de processos, e, em setembro de 2015, outra ferramenta indicou o volume de 105 milhões de processos no Poder Judiciário brasileiro.
Embora o incremento numérico soe invencível, muitas tentativas vêm sendo empreendidas para buscar sanar (ou pelo menos amenizar) a crise enfrentada pelo Poder Judiciário. Em termos legislativos, vêm sendo realizadas reformas que incluem desde a diminuição do número de recursos e instâncias processuais até a aceleração de julgamentos e a adoção de procedimentos urgentes.
Também o Poder Judiciário vem sendo alvo de mudanças estruturais. Tal instituição, que sempre teve um perfil arraigado na tradição, nela se apoiava como garantia segura
contra inovações; todavia, reformas alteraram a identidade e o perfil desse importante poder.
Uma das mais fortes razões pelo grande interesse na adoção de mecanismos ditos “alternativos” de composição de controvérsias é a lentidão do Poder Judiciário. O tempo é um grande inimigo da efetividade da função pacificadora, porque a permanência de situações conflituosas indefinidas é fator de angústia e infelicidade pessoal.
Há de considerar, todavia, que a adoção de mecanismos diferenciados não deve ser pautada por uma lógica economicista e de maximização da eficiência pela prestação de serviços de segunda classe, como se a justiça togada só estivesse disponível a quem pudesse arcar com seus custos.
Os meios “alternativos” devem ser complementares em relação à prestação jurisdicional estatal, e não substitutivos em relação a ela. Como bem aponta Joel Dias Figueira Júnior,
[…] faz-se mister a realização da difícil tarefa de canalização de múltiplos fatores internos e externos em direção a um único quadro de superação da crise jurídica e jurisdicional que temos vivido nos últimos tempos, na busca de resultados diversificados que se materializem na efetividade e efetivação do processo civil por meio da rápida e eficiente solução dos conflitos intersubjetivos, coletivos ou difusos dos jurisdicionados.
A realidade atual demonstra que Estados e sociedades estão construindo um novo sistema de resolução de litígios; nele devem ser reorganizadas as funções do Estado e da sociedade civil, sendo desenvolvidas parcerias entre o público, a comunidade e, eventualmente, o mercado.
Há quem preconize que, dada a grave crise na prestação jurisdicional, as formas alternativas passaram a ser não mais uma opção propriamente dita, mas sim uma necessidade inadiável para evitar o colapso do Poder Judiciário. Pode-se concluir, a partir de tal perspectiva, que […] o novo sistema integrado de resolução de litígios deve ter como consequência a promoção, pelo Estado, duma política pública de justiça, que inclui os tribunais judiciais e que reconhece, também, aos meios não judiciais legitimidade para dirimir litígios. A informalização da justiça e a desjudicialização, incluindo todo o movimento ADR, constituem, assim, caminhos da reforma da administração da justiça, desde que defendam a igualdade das partes e que promovam o acesso ao direito, dado que só esta multiplicidade de processos pode tornar a justiça mais democrática
ATUAÇÃO DO ESTADO NO FOMENTO AOS “MEIOS ALTERNATIVOS
DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS”
A “distribuição de justiça” comporta inegável relevância pública, sendo essencial contar com a atuação do Estado de forma marcante e eficiente em todos os sentidos.
Como exposto, a amplitude da garantia de inafastabilidade é apta a ensejar a necessária coexistência de diversos órgãos para realizar a distribuição de justiça e a aplicação de normas jurídicas. Nesse contexto, pode-se conceber a presença de uma jurisdição comum ao lado de outras possíveis jurisdições especiais a serem organizadas para auxiliar em tal missão. Segundo Kazuo Watanabe, incumbe ao Estado organizar os “meios alternativos”, ao lado dos mecanismos tradicionais e formais já em funcionamento.
Obviamente não se intenciona a eliminação da atividade jurisdicional clássica nem sua substituição pelos meios ditos alternativos. Pretende-se a coexistência de métodos acessíveis para integrar um sistema pluriprocessual eficiente e adequado para a composição de controvérsias. A relação entre as diversas formas de composição de conflitos, portanto, é de complementaridade.
Como destaca Carlos Alberto de Salles, os meios alternativos de solução de controvérsias não constituem formas de exclusão ou limitação da jurisdição estatal, mas instrumentos auxiliares desta última para atingir o objetivo de prestar universalmente serviços de solução de controvérsias: “vistos dessa forma, os mecanismos alternativos não concorrem com a jurisdição estatal, mas a ela se somam, propiciando novos canais para dar efetividade à garantia de prestação do serviço judiciário”.
O Estado não deve se imiscuir da tarefa constitucional de promoção da solução pacífica dos conflitos, dado que esta é uma de suas missões constitucionais. Nesse diapasão, merece destaque uma particularidade prática no tocante aos programas ditos alternativos em trâmite no Brasil. Como ocorre em outros países, em sua grande maioria, o investimento para a instalação das instituições responsáveis por essa distribuição de justiça dita “alternativa” é feito pelo Estado, direta ou indiretamente.
Como se percebe, à luz da realidade brasileira a adoção de meios diferenciados de composição de controvérsias no contexto da atividade jurisdicional do Estado é plenamente admissível e já opera no plano concreto. A pluralidade de iniciativas é interessante, já que a missão constitucional de promover a solução pacífica de conflitos e a harmonia social demanda esforços multifacetados.
Aos que entendem ser jurisdicional apenas e tão somente a atuação do Poder Judiciário ao pronunciar-se sobre o méritode uma demanda, a consideração de tais mecanismos pelo menos como equivalentes jurisdicionais revela-se adequada, inclusive no tocante à sua valorização como partes integrantes de um sistema maior de distribuição de justiça.
Como apontado, é importante contar com um sistema pluriprocessual de abordagem de controvérsias, cabendo ao Estado multiplicar formas e táticas para lidar com disputas.
Situação-problema: Nathaly Campitelli Roque destaca que quando se estuda o acesso à justiça, está sendo investigada a efetividade social do Direito, se suas prescrições são de fato implementadas e observadas pelos destinatários das normas jurídicas, se os destinatários identificam seu entendimento de justa decisão como a decisão jurídica e se é possível efetivar o que foi prometido nas diversas Declarações de Direitos e por quais meios (ROQUE, N. C. O que quer dizer acesso à justiça? Disponível em http://genjuridico.com.br/2018/06/15/o-que-quer-dizer- acesso-justica/ Acesso em 16 jan. 2021.). Hodiernamente, compreende-se, inclusive, que esses meios não se restringem ao Poder Judiciário. Nesse contexto, indaga-se: como os métodos adequados de solução de conflitos contribuem para aprimorar o acesso à justiça na contemporaneidade? 
Estudo de caso: A arbitragem é um dos métodos adequados de solução de conflitos. No julgamento da Sentença Estrangeira (SE) nº 5.206 os ministros do Supremo Tribunal Federal decidiram na quarta-feira (12/12) que os mecanismos previstos pela Lei da Arbitragem (9.307/96) são constitucionais. Identifique as razões que levaram os ministros do Supremo Tribunal Federal, por maioria, a definir o entendimento de que a lei da arbitragem (Lei nº 9.307/1996) não violaria o acesso à justiça.
Bibliografia
LOPES, Juliana, A política pública judiciária nacional sobre resolução de conflitos de interesse. Artigo publicado no site: empório do direito.com.br em 23/08/2019
MIRANDA, Maria Bernadete E.outro. Curso Teórico e Prático de Mediação, Conciliação e Arbitragem. 1ª Edição, Rio de Janeiro: GZ Editora, 2013. 
TARTUCE, F. Mediação nos conflitos civis. 5ª Edição, São Paulo: Método, 2019.
2

Continue navegando