Buscar

11ª aula - Mediação - O procedimento de mediação

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AULA 11
MEDIAÇÃO 
O PROCEDIMENTO DE MEDIAÇÃO – MODELOS DE MEDIAÇÃO
Informações e abertura: A abertura é um momento crucial para o início da conversação. O mediador pode não saber como os litigantes ali chegaram: se foram encaminhados por uma instituição (comunitária ou do sistema de Justiça), se um deles teve a iniciativa e o outro foi convidado a comparecer… pode ser interessante começar a conversa comentando como os participantes chegaram ali.
É importante agradecer a presença, fazer as devidas apresentações e estar pronto para fornecer informações sobre a mediação.
Essa primeira atuação do mediador pode ocorrer em um encontro especial denominado “pré-mediação”. O foco será prestar esclarecimentos sobre a dinâmica para explicar o que é mediação, que o mediador não tem poder decisório232, destacar a relevância da vontade das partes, que a proposta é ouvir e fomentar a comunicação, que o mediador é isento, imparcial, equidistante, que poderão ser realizadas sessões individuais/privadas, que há sigilo.
Informa-se ainda que um dos objetivos da mediação é o estabelecimento (ou restabelecimento) da comunicação, compondo o objeto da mediação “o presente e futuro”.
Como destaca Giselle Groeninga, a mediação pode começar antes do momento cogitado para seu início oficial. Quando uma das pessoas em conflito, por exemplo, telefona para o mediador para se informar sobre o procedimento, pode começar a contar
seu lado da história. Valendo-se de técnica e cuidado, o mediador deve estar preparado para cautelosamente interrompê-lo e dizer ser importante “compartilhar as informações”; dirá então que, para que não se crie diferença, ele terá oportunidade, juntamente com a outra pessoa, “de conversar com o mediador posteriormente”.
O cuidado ao se expressar deve estar sempre presente, já que tanto para interromper como para inserir uma temática é preciso cautela; afinal, o mediador, “embora seja o administrador e organizador da mediação, mostra-se também como o modelo de comunicação para os participantes”.
Recomenda-se ainda que o mediador inicialmente proceda de forma cerimoniosa, abordando as pessoas como senhor/senhora, e então pergunte como elas preferem ser chamadas; algumas pessoas, a depender de sua idade ou de características pessoais, podem preferir uma maneira menos formal.
Em certos modelos de mediação, na apresentação é relevante abordar as regras de comunicação.
O mediador pode iniciar esclarecendo que algumas pautas de conduta são essenciais para que a conversa evolua bem: evitar abordagens desrespeitosas, respeitar a fala do outro (que depois ouvirá por igual tempo), evitar interrupções, buscar falar sempre na primeira pessoa. Uma boa forma de trabalhar essas regras é brevemente expô-las, apontar suas razões e perguntar se há concordância quanto a elas. Havendo resistência, podem ser trabalhados eventuais ajustes propostos pelos participantes; caso haja plena adesão, será possível continuar.
Nessa sessão geralmente não se inicia a abordagem do conflito, mas são organizadas as condições para os encontros seguintes (ajustam-se datas, assinam-se termo de confidencialidade, etc.). Nada impede, porém, que havendo vontade das partes elas já avancem começando a relatar os fatos relevantes.
No modelo transformativo, o mediador inicia a conversa com a declaração clara de ue o objetivo é criar um contexto para permitir e ajudar as partes a: “(a) esclarecerem seus próprios objetivos, recursos, opções, preferências e a tomarem, por conta própria, decisões sobre sua situação; e (b) considerarem e entenderem melhor a perspectiva da outra parte, se decidirem que assim o desejam”.
Nesse modelo a conversa de abertura tem uma estrutura dialógica: o mediador esclarece seu papel e ouve as partes sobre como a conversa pode se estabelecer, respeitando sua vontade e não propondo regras fixas.
Feita a apresentação e providenciada a organização para os próximos encontros, o mediador poderá começar a se valer de ferramentas muito usadas durante a mediação: a escuta ativa, o modo afirmativo e modo interrogativo.
Escuta ativa: Sendo a mediação uma conversação, falas e escutas são essenciais para que a dinâmica evolua. A escuta ativa permite à pessoa perceber que ela é objeto de atenção, mostrando-se o interlocutor interessado em seus pensamentos e em suas opiniões; é também conhecida como “reciprocidade”, já que “as duas pessoas estão comprometidas no processo de ouvir ativamente e trocar informações”.
Pela escuta ativa, o mediador não só ouve, mas considera atentamente as palavras ditas e as mensagens não expressas verbalmente (mas reveladas pelo comportamento de quem se comunica). A demonstração de muitos elementos relevantes pode ser depreendida a partir de sua postura, de sua expressão facial e mesmo do contato visual. 
Como se percebe, a percepção supera a mera consideração das palavras; “escutar é diferente de ouvir”. Falhas, contudo, podem fazer que o “escutar” se torne “ouvir”, passando o mediador a pressupor, a selecionar, a ouvir apenas parte do conteúdo revelado. Por essa razão, é essencial que o mediador não se deixe envolver pela complexa experiência conflituosa
das partes, que podem tentar manipulá-lo.
Como esclarece Fabiana Spengler, “escutar ativamente é, antes de tudo, ouvir sem julgar”. 
Eis algumas técnicas inerentes à escuta ativa: manter postura relaxada, mas atenta; participar ativamente da conversa, mostrando-se receptivo e disponível para escutar; evitar escutar e digitar/escrever ao mesmo tempo; usar incentivos verbais como “Fale mais”, “Verdade?”; reduzir ao máximo gestos que possam distrair o interlocutor (como brincar com uma caneta, estalar os dedos…); manter um contato visual eficiente, procurando evitar desviar o olhar; fugir à tentação de interromper a pessoa no meio de sua fala; fazer perguntas para checar o que foi dito; usar a empatia e ser
compreensivo.
A partir das experiências, o mediador vai aprendendo a “deixar ligados todos os sentidos” e a buscar no outro “sinais de entendimento e de aceitação para que assim sejam resolvidos os problemas”.
É muito importante que o mediador devote atenção à dinâmica da interação entre as partes.
Na abordagem transformativa o mediador permanece estreitamente concentrado no “aqui e agora”, na corrente dos comentários individuais que as partes fazem durante a sessão; ao focar sua atenção na discussão que está acontecendo “no recinto”, ele “evita olhar para a interação de conflito que se está desenrolando com um gabarito de problema/solução porque a estrutura transformativa deixa claro que fazer isso tornaria difícil localizar e aproveitar oportunidades para capacitação e reconhecimento”.
Modo afirmativo: Presente especialmente na primeira fase do procedimento de mediação (em que se abordam as pautas de atuação), as afirmações destinam-se a destacar os objetivos da técnica, clarificar, reafirmar e reformular.
Sob certo prisma podem ser apontadas como técnicas inerentes ao modo afirmativo separar as pessoas dos problemas, compartilhar percepções, usar palavras positivas e focar no futuro.
Uma técnica interessante para buscar separar as pessoas dos problemas é construir, com a participação das partes, a lista de pontos a serem trabalhados: o mediador propõe que os participantes expressem o que gostariam de abordar e os vai anotando em um local visível a todos (por exemplo, um quadro ou um flip-chart). Eleitos os pontos, destaca a impossibilidade de conversarem sobre todos de uma só vez e ressalta o efeito benéfico de elegerem aquele sobre o qual seja possível conversar primeiro a respeito.
Sobre o compartilhamento de percepções e o uso de palavras positivas, o modo afirmativo também pode se revelar importante. Como exemplo, imagine-se que logo nas primeiras falas os mediandos formulem acusações recíprocas; o mediador poderá destacar a regra fundamental da mediação no sentido de que “toda e qualquer coisa que falarem será utilizada em favor deles. Para tanto, se ocorrer qualquer tipo de desqualificação ou agressão, mesmo quenão percebida por eles, a comunicação será interrompida e será eleito outro caminho. As desqualificações podem acontecer sem que percebam, mas os mediadores estarão atentos para promover uma comunicação proveitosa para todos”.
Vale apontar que na mediação transformativa não há tal tipo de reação. Evitar expressões emocionais ou promover o controle rígido delas não se coaduna com os propósitos almejados (de promover fortalecimento e reconhecimento). 
O mediador estimula as partes a expressarem seus sentimentos pedindo-lhes que descrevam o que há por trás deles; as respostas muitas vezes revelam os pontos específicos com os quais as partes estão tendo dificuldades de lidar, tanto para obter controle sobre sua situação quanto para entenderem e serem entendidas pela outra parte. Quando esses pontos são revelados, o mediador ajuda as partes a lidarem com os mesmos da forma que quiserem, de modo direto e claro.
Além disso, o mediador deve checar a compreensão de certas afirmações para seguir evoluindo na comunicação. Ao parafrasear e resumir o que foi dito, o mediador permite que o interlocutor possa escutar e perceber melhor o que expressou. Para tanto, o mediador pode repetir algumas falas e pedir que o mediando verifique se elas correspondem ao que foi dito.
É importante que o mediador tenha cautela ao expor o resumo: “qualquer incoerência ou exposição que não seja neutra pode gerar a perda de percepção de imparcialidade que o mediador começou a adquirir com a declaração de abertura”.
Pode ocorrer que o interlocutor, ao escutar a frase dita pelo mediador, constate algum tipo de falha em sua própria afirmação e reformule o conteúdo expresso anteriormente, admitindo que possa ter havido exagero ou má interpretação. Ou então que se sensibilize: por não tolerar mais a outra parte, ao ouvir o teor a partir do mediador pode se permitir sensibilizar-se.
O modo afirmativo também costuma ser utilizado um pouco antes do término da sessão sob o aspecto clarificador; o mediador resume de forma sintética o que foi expressado pelas partes para pontuar em que ponto as partes se situam.
As técnicas de resumir e parafrasear são importantes porque permitem perceber se o mediador compreendeu o que foi dito e assegura às partes que ele realmente as está escutando.
Também é interessante, no início de cada sessão, recapitular o que houve no ínterim entre os encontros para que possam ser percebidos os efeitos das intervenções.
Modo interrogativo: As perguntas têm várias funções: permitir ao mediando falar por si mesmo diretamente ao outro, revelar sentimentos, dúvidas, emoções, demonstrar a complexidade do conflito e estimular a criação de ideias.
O modo interrogativo é ainda uma expressão importante por ser o melhor meio de preservar a imparcialidade do mediador; afinal, quando perguntamos deixamos de assessorar, aconselhar ou emitir juízos de valor.
Há vários tipos de perguntas. As perguntas exploradoras são úteis para evidenciar o que está omisso; questionar o que, quando, onde, com que, com quem, para que, para onde é importante para que a narrativa aborde todos os pontos e não sejam omitidos dados essenciais.
Ao prover um maior detalhamento de informações sobre situações, as “perguntas sobre as particularidades da situação podem fazer o problema parecer menos complicado e levar as pessoas a pensar as soluções de maneira específica e prática”.
As perguntas também podem ser importantes para evocar memórias da relação entre as partes que permitam uma compreensão mais ampla da situação.
O mediador transformativo busca a discussão sobre o passado para construir bases para trocas de reconhecimento no presente; ele convida e ajuda as partes “de diversas maneiras, mas sempre sem pressioná-las, a reconsiderar e revisar seus pontos de vista em relação ao passado e a ampliar o reconhecimento em relação à outra parte”.
Adverte Giselle Groeninga, porém, que “o mediador não deve se deixar seduzir pela história, pelo passado. Este é utilizado no contexto judicial binário, muito mais como prova de quem tem razão. Os mediandos devem ser trazidos para o presente e convidados a explorar as possibilidades do futuro”.
Como se percebe, a visão sobre perguntas a respeito do passado pode variar muito conforme o enfoque empreendido pelo mediador.
Algumas pessoas podem fixar suas falas em certas frases taxativas e peremptórias. Para abrir possibilidades de pensamento, o mediador pode se valer de perguntas reflexivas para suscitar a meditação sobre as bases dos pressupostos, como: o que o faz pensar que essa pressuposição está certa? Isso é mesmo assim? Você acha que hoje em dia isso se mantém?
Em uma perspectiva negocial, o mediador pode perguntar a cada um dos mediandos, caso este seja o tema em discussão, qual oferta ele julga que poderia ser aceita pela outra parte.
Como se percebe, as opções de perguntas são muitas e o mediador precisará dosar com calma e serenidade o uso dessa útil ferramenta.
O exercício da pergunta deve ser prudente, já que não é interessante abrir espaço para temas que não sejam pertinentes ao conflito específico que vem sendo tratado.
Sob a perspectiva da autodeterminação das partes, perguntar demais pode acabar direcionando-as a caminhos que não escolheram; por essa razão, na mediação transformativa seu uso tende a ser feito com parcimônia.
MESCLA DE DIFERENTES MODOS
Humor e flexibilidade: A verificação dos diferentes modos de atuação por parte dos envolvidos em uma mediação não ocorre de forma linear. Durante as falas e as escutas podem surgir ruídos, avanços e retrocessos, configurando-se a necessidade de retomar os pontos importantes e o compromisso das partes com as regras.
Uma ferramenta que pode ser de extrema valia é o humor. A depender do clima emocional, utilizar certa dose de bom humor pode representar um ótimo recurso para aliviar tensões e criar um clima favorável. Recomenda-se, porém, a adoção de um “humor ingênuo”, não ofensivo às partes e que objetive criar um ambiente mais agradável sem desvirtuar o propósito do encontro.
Vale ainda destacar que o humor não é uma ferramenta obrigatória, mas auxiliar: o mediador deve se sentir confortável para atuar com leveza e serenidade – caso não seja coerente com seu perfil uma intervenção desse tipo, não deve dela se valer.
É importante que o mediador considere sua intuição e aja com flexibilidade. A dupla desses valores traz à memória outra famosa (e valiosa) combinação, razão e sensibilidade.
Embora haja certas pautas de atuação e várias ferramentas indicadas como úteis para a mediação, não há um roteiro fixo e fechado a ser seguido. As técnicas são úteis, valiosas, devem ser utilizadas com preparo e cautela, mas não se pode precisar o certo e o errado em uma lógica reducionista… Por isso, aliás, é comum que no fim de um encontro o mediador se questione: “será que fiz a coisa certa?”.
A pergunta é boa e sua formulação denota comprometimento com o capricho que se espera de um empenhado aplicador. Mas o mediador, tendo garantido a observância dos princípios da mediação, não deve se preocupar; ainda que o resultado não tenha sido bom como esperado, ele deve se lembrar que, como em praticamente todas as vivências, não há gabarito: a interação humana naturalmente demanda coragem e assunção de
riscos. Mesmo valendo-se de técnicas, o mediador precisa escolher. Selecionar implica optar por algo, excluindo outra possibilidade. Qual critério adotar para decidir, naquela fração de segundos, entre ouvir/falar, perguntar/calar? Podem ser cogitados vários parâmetros, na teoria e longe do calor dos acontecimentos; na prática, a intuição acaba sendo
determinante para a atuação do mediador.
Como destaca Ademir Buitoni, além de certas técnicas, “o oficio do mediador exige muito talento e intuição” por tratar-se de “um todo complexo que não pode ser reduzido à forma fixas e predeterminadas”: “é um trabalho artesanal que busca encontrar soluções diferenciadas para cada caso. Não há resposta única na mediação, há sempre várias possibilidades de escolheremvárias respostas”.
A mediação é flexível, sendo este um de seus mais importantes predicados. A consciência sobre as várias possibilidades de atuação e sobre a diversificação das técnicas é de suma relevância para a realização de uma mediação proveitosa. A
sensibilidade também é um ponto essencial a ser desenvolvido pelo mediador.
As respostas e os discursos precisarão ser objeto de uma escuta muito atenta; integrar vários canais de percepção e promover reciprocidade revela-se muito útil na atuação do facilitador da comunicação (especialmente quando ele precisa retomar pontos importantes discutidos anteriormente para seguir adiante).
Como bem pontuou Daniele Ganancia, a mediação, bem mais que uma técnica, […] é uma filosofia, um passo ético: ela coloca o diálogo, restituindo aos interessados seu poder de decisão, como ponto de partida de todas as soluções duradouras. Porque ela vai ao cerne do conflito para tratá-lo, ela constitui um
instrumento privilegiado de pacificação264.
Aplicação das técnicas em sessões conjuntas e privadas
Valendo-se das técnicas apropriadas o mediador deve atuar tendo por base dois pilares: “postura firme e continente ao sofrimento” e “valorização dos recursos das partes.
São condutas apropriadas para fomentar a comunicação eficiente escutar com atenção e contribuir para que sejam esclarecidos aspectos importantes das percepções dos envolvidos.
As atividades de falar, escutar, questionar e responder devem ser apropriadamente praticadas pelo terceiro imparcial para promover o diálogo, identificar os interesses envolvidos na relação interpessoal e colaborar para a retomada de conversações produtivas.
A tarefa de promover e realizar a mediação, como se pode notar, não é fácil. As técnicas deverão ser aplicadas durante toda a mediação, que pode se desenvolver em sessões conjuntas e/ou reuniões individuais (reuniões privadas ou caucus).
É importante que logo no início do procedimento o mediador destaque a possibilidade de haver tal dinâmica interativa:
Deve-se deixar claro que tanto as pessoas envolvidas no conflito devem saber sobre a possibilidade de uma conversa em particular como devem concordar com esse mecanismo. 
Todo e qualquer ato no processo de mediação deve ser voltado
para os interesses das pessoas, por isso elas devem participar ativamente de todas as decisões no decorrer do processo de mediação.
Além de ser informada desde o início a possibilidade de reuniões individuais, os participantes devem ter ciência de que tanto o mediador quanto eles podem solicitá-la caso entenda haver benefícios em sua adoção.
A realização de sessões individuais entre o mediador e uma das partes (e seus advogados, se presentes) é uma técnica usada para a obtenção de informações, novos enquadres e encaminhamentos que não seriam adequados na presença dos demais envolvidos.
A Lei de Mediação reconhece a possibilidade de sua realização ao dispor que, no desempenho de sua função, o mediador pode se reunir com as partes, em conjunto ou separadamente, além de solicitar as informações que entender necessárias para facilitar o entendimento entre elas.
A regra demonstra a fluidez do procedimento e merece ser louvada por permitir, “em última análise, que as partes e o mediador não sejam engessados por uma ortodoxia procedimental contrária à essência da mediação”.
Eis casos em que podem ser vistas como recomendáveis as sessões individuais: 
1. Há um elevado grau de animosidade entre as partes; 
2. Há dificuldade (de uma ou ambas) de se comunicar ou expressar adequadamente quanto a interesses e questões presentes no conflito; 
3. O mediador percebe que há particularidades importantes que só serão obtidas por meio de uma comunicação reservada; 
4. Há necessidade de uma conversa com as partes sobre suas expectativas quanto ao resultado, por exemplo, de eventual sentença judicial.
Também é possível que a mediação ocorra em caucus por requisição dos envolvidos; afinal, as reuniões privadas são especialmente úteis quando se lida com situações extremamente carregadas de tensão e de emoção, uma vez que possibilitam às partes falar abertamente e, ao mediador, fazer perguntas mais diretas, que implicam, por exemplo, rever a própria contribuição para a situação conflituosa.
No espaço privado, o discurso dos litigantes é predominantemente na terceira pessoa do singular, as acusações prevalecem e os mediadores podem ajudar os mediandos a redefinir suas queixas em preocupações, identificando valores morais que estariam sendo violados pelo comportamento do outro, como o respeito e a confiança, entre outros.
O mediador precisará, a partir do cenário delineado diante de si, perceber qual a melhor forma de promover a dinâmica entre os envolvidos.
Eis um exemplo: em certa mediação empresarial, após a troca de duas propostas uma das partes simplesmente parou de se manifestar, mostrando falta de condições para seguir conversando. A mediadora perguntou se a parte queria conversar reservadamente e ouviu situações que a parte não queria admitir à outra. Após tal momento, a parte refletiu sobre certos critérios e se sentiu apta a voltar à sessão conjunta. As partes então evoluíram em suas perspectivas e encontraram pontos comuns a serem trabalhados na negociação.
Como se percebe, para poder se valer da técnica da sessão privada o mediador precisará dispor de uma boa estrutura, contando com pelo menos dois ambientes para o caso de precisar fazer sessões individuais.
Em câmaras e entidades privadas realizadoras de mediação e arbitragem costuma haver espaços para atender a essa necessidade. Também na mediação judicial é preciso haver essa possibilidade para que o mediador, com independência, possa desempenhar sua função da melhor maneira.
O mediador precisará, antes do início da mediação, preparar-se para a possibilidade de haver sessões individuais, decidindo onde elas serão realizadas e o local em que a outra parte ficará esperando. Mostra zelo o mediador que se preocupa quanto a tal espera; há quem sugira ser interessante disponibilizar jogos que trabalhem com a criatividade ou revistas.
Por fim, vale lembrar que o mediador observará a confidencialidade em relação ao teor comunicado na sessão privada, só podendo comunicá-lo à outra parte se houver autorização expressa do mediando.
Ao fazê-lo (após ter conquistado a confiança das partes para que estas exponham informações confidenciais relevantes), ele deverá comunicar os dados colhidos de forma positiva.
ETAPAS DA MEDIAÇÃO
Como se pode perceber, o mediador deve estar apto a, superando resistências pessoais e obstáculos decorrentes do antagonismo de posições, restabelecer a comunicação entre as partes. Seu papel é facilitar o diálogo para que as partes possam voltar a protagonizar a condução de seus rumos.
Para bem compreender o perfil desejável de um mediador, será feita uma breve descrição do procedimento que ele conduzirá.
Antes de apresentar tal quadro, porém, é importante lembrar que, sendo a mediação pautada pela informalidade, não há um procedimento único a ser seguido:
Dependendo da instituição ou dos mediadores que estejam realizando a mediação, ela poderá ser conduzida de forma diferente. O processo pode ser acompanhado por apenas um mediador ou, se for o caso, dois mediadores. Pode haver ou não a pré-mediação ou as reuniões em separado (caucus). O procedimento pode ser reduzido a termo (escrito em um documento) e assinado, ou essa providência pode ser dispensada. Enfim, dependendo da instituição, do mediador e das partes serão definidos procedimentos diferentes. 
Evidentemente que os princípios da mediação e o código de ética devem ser seguidos por esses profissionais e por essas instituições.
Embora certas vertentes defendam um modo mais livre de atuação, pode ser interessante que o mediador conte com uma sequência lógica de iniciativas para abordar as diferenças entre as pessoas na gestão dos conflitos.
A consideração de etapas na mediação serve para fornecer linhas mestras norteadoras do caminho a ser percorrido, não devendoser tidas como “passos inflexíveis que trariam o retorno da linearidade, do raciocínio binário e da rigidez”.
A partir de certo prisma, o procedimento da mediação pode ser dividido em dois grandes principais momentos: a pré-mediação e a mediação propriamente dita.
De modo mais pormenorizado, é viável vislumbrar a divisão do procedimento nas seguintes etapas: pré-mediação; abertura; investigação; agenda; criação de opções; escolha das opções e solução.
A pré-mediação inicia com o encaminhamento dos interessados ao mediador; muitas vezes ela é feita por seus advogados e enseja a reunião dos envolvidos para esclarecer as funções e as atribuições de cada um no processo.
Em alguns casos atuarão dois profissionais: um para realizar a pré-mediação e outro para mediar o conflito; isso geralmente ocorre na mediação institucional. Algumas câmaras de mediação e arbitragem contam com um pré-mediador; após sua atuação, será escolhido um mediador para atuar na gestão da controvérsia.
É possível, por outro lado, que o mediador exerça dupla função, atuando também como pré-mediador; essa hipótese é recorrente na mediação realizada por mediador autônomo e independente.
Na pré-mediação há a explicação do perfil do procedimento. No caso de mediações privadas (institucionais ou autônomas), o mediador faz a proposta de contrato de prestação de serviços; tal etapa pode se dar na presença das partes em conjunto ou individualmente.
São objetivos da pré-mediação eliminar a contenciosidade, informar as partes sobre sua responsabilidade pelo processo, promover cooperação e respeito mútuo, escutar atentamente o que cada um deseja e fomentar a confiança entre os indivíduos.
Como se percebe, a pré-mediação é importante para que as pessoas comecem a vislumbrar oportunidades de trabalhar as controvérsias que as afligem. Na prática, muitas vezes a pessoa se interessa pela mediação extrajudicial e participa de uma sessão de pré-mediação, mas não se sente apta a imediatamente iniciá-la; é comum que se passem semanas ou meses até que ela se decida a participar do procedimento consensual. Sendo isso importante para que ela se engaje no processo quando começa-lo, não há problemas; é melhor que a pessoa decida participar da mediação e o faça com intenção do que simplesmente participar sem vontade genuína.
Iniciando um segundo momento, a mediação propriamente dita, é possível divisar as seguintes etapas: abertura, investigação, agenda, criação de opções, escolha das opções
e solução.
Na mesma linha, pode-se considerar o desenvolvimento do processo de mediação em cinco fases: 
i) declaração de abertura; 
ii) exposição de razões pelas partes; 
iii) identificação de questões, interesses e sentimentos; 
iV) esclarecimento acerca de questões, interesses e sentimentos; e 
v) resolução de questões.
A abertura tem grande importância: logo no início da sessão, após saudar as partes e promover as devidas apresentações, o mediador esclarece o que é a mediação, qual é o seu papel (explicando que não atua como juiz ou conselheiro) e aponta os possíveis resultados que podem advir da conversação.
O mediador abordar junto às partes o que pode advir de uma sessão “bem-sucedida”; em uma perspectiva alinhada ao viés da mediação transformativa, o facilitador esclarece que, além de acordos ou acertos formais, também são resultados possíveis o esclarecimento de escolhas, o alcance de novos insights e a compreensão de outros pontos de vista.
Na abertura também são destacados princípios importantes como a confidencialidade, a autonomia e a isonomia.
Essa fase inicial tem ainda outro objetivo: fazer que as partes adversárias se habituem a sentar, uma ao lado da outra, em um mesmo ambiente.
Como já destacado, há exceções: havendo um histórico grave que comprometa o compartilhamento do ambiente, as partes poderão ser escutadas separadamente; nesses casos, a mediação começa por sessões privadas (por solicitação dos mediandos e/ou por escolha do mediador).
A abertura é importante, em certa perspectiva, para que o mediador firme sua presença como condutor do processo; para tanto, ele deve inspirar confiança e demonstrar imparcialidade, conversando com cada um de forma equilibrada e serena, agindo “como um educador do processo de mediação e como definidor do tom que deverá ser apresentado durante seu desenvolvimento”.
Também pode fazer parte da abertura a combinação sobre o cronograma das reuniões e sua duração; aqui a autonomia das partes é considerável, sendo possível formatar todo tipo de calendário. Uma programação que pode funcionar bem é agendar
reuniões periódicas com a duração desejada pelas partes (por ex., encontros semanais com duração entre uma e três horas).
Por fim, as partes podem perguntar quanto tempo deve demorar a mediação; a resposta não é fechada porque depende de uma série de fatores ligados ao perfil dos mediandos e à evolução da comunicação. 
Sendo interesse das partes, é preciso falar sobre isso; pode-se ajustar tanto um certo número de reuniões como combinar que, a cada uma delas, será combinado se haverá outra.
Na mediação institucional, por exemplo, o mediador pode se comprometer a destinar certo número de horas à mediação (por exemplo, vinte horas). Igualmente, na mediação privada “ad hoc” o mediador pode pactuar sua atuação em um certo número de horas ou ajustar a combinação em cada sessão.
Quantas reuniões serão necessárias? Não há como dizer a priori; pode-se afirmar que: 
a) em geral uma mediação conta com pelo menos quatro sessões e tende a durar até três meses; 
b) realizam-se por volta de cinco sessões – mas não se deve
ultrapassar dez encontros, em princípio – embora cada caso tenha suas peculiaridades que precisarão ser avaliadas. Nada impede, obviamente, que ela dure menos que quatro sessões: basta que as partes combinem um espaçamento menor de sessões e uma duração alongada de cada uma para que possam ter respostas mais expeditas.
Realizada a abertura, será hora de iniciar a exposição das partes (por alguns denominada investigação); nessa etapa elas terão chance de expor, a viva voz, sua percepção do que ocorreu para que chegassem até ali.
Algo interessante que pode ajudar no resgate de responsabilidades e na percepção recíproca é falar na primeira pessoa; o mediador propõe que a pessoa diga o que ela sentiu, de que modo ela percebeu as experiências, e pede que o foco não seja o outro, mas ela mesma. 
Ao expor sua visão com expressões como “eu fiz”, “eu não consegui” e “eu me senti”, o mediando se reconhece como protagonista de sua história e permite ao outro que compreenda seu ponto de vista.
No modelo da mediação transformativa, o mediador não faz esse tipo de proposta: no exercício da autodeterminação, cada pessoa escolhe como quer se manifestar.
O mediador deve escutar com atenção e, se preciso, formular questões para ajudar a clarificar o cenário em que se situam as partes e/ou suas percepções.
A atenção deve ser esmerada; afinal, cada detalhe tem grande importância para que o mediador estabeleça estratégias para a gestão da controvérsia e as adapte quando necessário.
A etapa do relato é importante para que haja a identificação de questões, interesses e sentimentos dos mediandos, assim como o esclarecimento das controvérsias e a elucidação das questões controvertidas.
Pode ocorrer, nessa fase, alguma manifestação de ansiedade por parte dos mediandos no sentido de querer logo ouvir propostas de acordo. Será importante então que compreendam que faz parte da mediação a abordagem dos interesses subjacentes à controvérsia, não sendo o foco a mera discussão sobre números e posições – cuja análise superficial, aliás, tende a ser improdutiva.
É possível mostrar calma ao lidar com o desconforto das partes e com o ímpeto de findar logo o conflito: Ao assim proceder, explorando propostas já nessa etapa, é bem possível que as partes realizem um acordo que não englobe todas as questões relevantes do conflito, como também não abordem seus interesses reais. É melhor, portanto, esperar uma etapa em que omediador e as partes tenham uma visão mais madura de todo o contexto, como também as questões e os interesses presentes.
Ao mesmo tempo, é importante dar às partes um certo tempo para refletirem acerca das informações prestadas e obtidas antes de estarem emocionalmente preparadas para iniciar a fase de resolução de questões.
No modelo transformativo, por sua vez, não há tal direcionamento: se as partes estabelecerem um “vai e volta” caótico, não há problemas – desde que isso atenda à sua autodeterminação, a mediação avança bem; o mediador não deve ser diretivo em relação ao mérito nem ao procedimento.
Como se percebe, a compreensão adequada dos parâmetros da mediação enseja uma considerável mudança de paradigma. Afinal, a intervenção de um terceiro, independente, imparcial e alheio ao conflito, para facilitar o diálogo entre as partes, não dará continuidade ao modelo com o qual a sociedade está acostumada, no sentido de terceirizar a resolução da polêmica. Pelo contrário, tal atuação há de proporcionar momentos de diálogo para que os próprios envolvidos procurem, se quiserem, soluções.
Às partes é oferecida oportunidade para refletir e questionar, tendo por base o paradigma de que todos sairão ganhando com a resolução do conflito.
Durante a negociação, resistências de ordem pessoal podem obstar a evolução das tratativas de forma comprometedora. Assim, embora seja recomendável separar as pessoas do problema, algumas vezes as pessoas são o próprio problema. 
Eis por que os participantes da mediação frequentemente precisam trabalhar os aspectos relacionais e emocionais para pavimentar a estrada para o assentamento dos aspectos
controvertidos.
O mediador deve atuar de modo imparcial, assegurando a todos a oportunidade de expor sua versão dos fatos.
Pode-se ver a atuação do mediador como a de um agente catalisador: na química, há certos corpos que não se atraem, sendo necessário o fenômeno de catálise para que a atração ocorra; o mediador opera exatamente como esse agente.
Após a exposição das partes e a identificação de seus interesses, vem a fase da agenda. Embora costume ser curta, ela configura uma etapa fundamental no sentido de organizar as questões controvertidas.
A proposta é objetivar os pontos que serão trabalhados. Será importante verificar se, além dos pontos aparente es, há outros, latentes. A proposta é que se proceda à listagem dos itens a serem abordados a partir a identificação dos interesses envolvidos na controvérsia. Como exemplo, em um conflito entre locador e locatário que inicialmente chegaram à mesa para debater o reajuste do aluguel podem constar na agenda, além desse item, a má comunicação entabulada entre os contratantes e o conserto do problemático telhado.
Nos modelos em que o mediador opta por dirigir o procedimento com maior diretividade, a escolha do ponto que será abordado primeiro depende, principalmente, da estratégia por ele pensada; ele poderá iniciar pelo que parece mais simples ou pelo que enseja efeitos produtivos sobre outros.
No modelo transformativo, como a autodeterminação é levada muito a sério, as partes é que escolhem o que querem tratar primeiro – muitas vezes naturalmente, sem haver uma escolha deliberada (elas simplesmente seguem falando sobre o assunto).
Na sequência vem, em certos modelos, a etapa da busca de soluções para trabalhar a criação de opções com incentivo à criatividade.
Nessa perspectiva, cabe ao mediador contribuir para diferenciação entre interesses e posições, trabalhando com as partes para cogitar soluções criativas e eficientes; ele
também deve atuar como um agente da realidade, contribuindo para que as partes sejam mais realistas quanto às suas alternativas.
Vale lembrar que o mediador não deve proceder a análises sobre o mérito da demanda, mas provocar, especialmente por questionamentos, reflexões sobre as possibilidades de cada um.
Finalmente vem a fase conclusiva, que pode resultar no agendamento de uma nova reunião, na assunção de algum compromisso (ainda que represente uma solução parcial e provisória), na celebração de um acordo, na suspensão momentânea das reuniões ou no decreto do fim da tentativa consensual. Essa deliberação dependerá das partes, que no exercício de sua autodeterminação escolherão o caminho que desejam trilhar.
QUESTÕES
1) Em relação à atuação do mediador no procedimento da mediação, assinale a alternativa correta:
a) O mediador deve se preocupar em atender a parte mais fragilizada no conflito. 
b) O mediador poderá realizar a mediação de forma virtual, se houver o consentimento das partes. 
c) Em virtude do princípio da publicidade, o mediador não poderá realizar sessões privadas. 
d) O mediador deve realizar em uma única sessão, não podendo ocorrer novas sessões. 
e) O mediador deve iniciar a sessão procurando ofertar propostas de acordo.
2) O modelo circular-narrativo é um dos modelos de mediação identificados na contemporaneidade. Assinale a alternativa que identifica esse modelo:
a) Baseia-se na causalidade linear do conflito, sem levar em conta o contexto no qual esse conflito foi produzido. A comunicação é entendida no sentido linear, centrada no verbal, importando o conteúdo.
b) Parte de uma concepção de causalidade circular do conflito, a qual pode levar a uma retroalimentação do mesmo. Está centrado na relação interpessoal e parte dos novos modelos comunicacionais. Não se estabelece uma relação linear entre causa e efeito do conflito.
c) Não é propriamente considerado um modelo de mediação, sendo apenas uma perspectiva filosófica do conflito.
d) É um modelo que muito se assemelha à atividade jurisdicional, em que o mediador possui o poder decisório caso as partes não consigam construir uma solução para o conflito.
e) O Modelo Circular-Narrativo foca tanto no conflito quanto no acordo, parte da ideia que as pessoas e o conflito, bem como sua história, não podem ser vistos isoladamente, mas como inter-relacionados a um conjunto de relações dentro de um todo maior
Situação-problema: O Grupo Empresarial Álvares Cabral, fabricante de artefatos de papel, continua empenhado no aumento da sua competitividade. Tem reduzido, drasticamente, a sua estrutura piramidal, na perspectiva de uma administração cada vez mais cooperativa e integrada. Resolveu, também, descentralizar para as suas várias Unidades Industriais as atividades administrativas que melhor se prestem a ser ali desenvolvidas. Os diretores afirmam que cada Unidade deve assumir responsabilidades e adotar a atitude que teria se fosse uma empresa independente; devendo ser avaliada consoante critérios objetivos, inclusive mediante a comparação dos seus resultados com os das demais unidades. Ocorre que, em passado recente, o Grupo Industrial era muito centralizado. Quase tudo que não era atividade propriamente industrial se resolvia no Escritório Central. Nos últimos anos os quadros e atividades do Escritório Central foram sendo reduzidos, enquanto as Unidades iam assumindo novas responsabilidades. As pessoas do Escritório Central continuam se comportando como se fora a própria elite da organização. Mas as pessoas das Unidades se veem em vantagem no contato direto com a alta administração. Há um conflito latente nas relações entre os executivos das Unidades e os do Escritório Central. Embora o Departamento Jurídico seja central e, portanto, lotado no Escritório Central, algumas atividades de advogado são exercidas no âmbito da Unidade. É o caso da advocacia trabalhista. Cada Unidade cuida dos seus processos trabalhistas. No entanto, o Departamento Jurídico central é responsável pela orientação técnica. Assim, os advogados trabalhistas lotados na Unidade estão hierarquicamente subordinados à administração da Unidade, mas estão tecnicamente subordinados à orientação do Departamento Jurídico. Eis o conflito que surgiu: em pleno corredor da Justiça do Trabalho, na presença de pessoas do Grupo Concorrente, o advogado Joaquim Nabuco, do Departamento Jurídico do Escritório Central do Grupo, repreendeu, rispidamente, o advogado Chico Veloso,designado pelo Gerente da Unidade Fábrica Papel I. Segundo Nabuco, Veloso teria desacatado a sua orientação na condução de processo trabalhista. Na audiência de conciliação, Chico Veloso, nas palavras de Nabuco, teria se precipitado no fechamento de um acordo altamente lesivo aos interesses da empresa. Nabuco, de modo incisivo, afirmou que Chico Veloso era um despreparado e que a sua precipitação teria comprometido a obtenção de um melhor resultado para o Grupo Empresarial. Revoltado, Chico Veloso replicou, afirmando que estava ali obedecendo à orientação do Gerente da Unidade, vez que a Unidade estava muito insegura quanto à atuação dos integrantes do Departamento Jurídico, que não conheciam a realidade laboral dos empregados lotados na Unidade. Na troca de insultos que se seguiu, Chico Veloso chegou a qualificar Joaquim Nabuco de preguiçoso. No que foi chamado de arrogante. (Adaptação VASCONCELOS. C. E. de. Mediação de conflitos e práticas restaurativas. 6.ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2018, p.290). Disponível em https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530981839/cfi/6/10!/4/20/2@0:56. 3 Acesso em 16 jan. 2021). A partir do caso delineado, qual o modelo de mediação adotado e qual a proposta deste modelo?
Estudo de caso: Ricardo, que é advogado, e Romilda Maia, procuradora municipal, após 15 anos de casamento em comunhão de bens, decidiram requerer o divórcio em juízo, ficando a guarda dos dois filhos com a mãe, cabendo a Ricardo pagar uma pensão alimentícia de R$ 2.000,00. Mas não chegaram a um acordo quanto à partilha dos bens. Em virtude desse impasse, comunicaram aos respectivos advogados que haviam decidido procurar uma instituição especializada em administração de mediações, onde escolheram, de comum acordo, um mediador de confiança e capacitado. Na reunião inicial, após recebidas as orientações do mediador, fizeram--lhe a entrega de uma relação dos bens que estavam dando origem à discórdia, como segue: a)Uma casa de quatro quartos e demais dependências, em bairro nobre, onde a divorciada continuava morando com os três filhos, que, segundo Ricardo, vale R$ 480.000,00 e que, segundo Romilda, vale R$ 360.000,00. b)Uma pequena casa, de dois quartos, em bairro popular, que pertencera aos pais de Ricardo, e onde ele se encontra enquanto não se resolve o problema da partilha, e que, segundo este, vale R$ 20.000,00, mas que, conforme Romilda, vale R$ 40.000,00. c)A biblioteca jurídica, herdada por Ricardo de seu pai, também advogado, abrangendo 2.000 exemplares que ele estimava em R$ 20.000,00, enquanto Romilda lhe atribuía o valor de R$ 40.000,00. d)O título de sócio do Clube Náutico, avaliado em R$ 20.000,00. e)Um automóvel Honda Civic, modelo 2010, avaliado em R$ 30.000,00. f)Uma aplicação financeira em banco oficial, no montante de R$35.000,00. Além das divergências quanto aos valores atribuídos por cada um aos bens comuns, constatam-se toda uma má vontade, todo um ambiente de acusações de parte a parte, o que dificulta o trabalho do mediador. Mas o fato de haverem procurado a mediação denotava que, no fundo, ambos gostariam de obter a solução para aquele impasse. (Adaptação VASCONCELOS. C. E. de. Mediação de conflitos e práticas restaurativas. 6.ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2018, p.302). Disponível em https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530981839/cfi/6/10!/4/20/2@0:56. 3 Acesso em 16 jan. 2021. Com base no caso, identifique: 1. Modelo de mediação; 2. Como o mediador conduz a mediação a partir desse modelo escolhido; 3. Questões importantes, que devem ser destacadas pelo mediador, segundo o modelo escolhido.
Bibliografia
MIRANDA, Maria Bernadete E.outro. Curso Teórico e Prático de Mediação, Conciliação e Arbitragem. 1ª Edição, Rio de Janeiro: GZ Editora, 2013. 
TARTUCE, F. Mediação nos conflitos civis. 5ª Edição, São Paulo: Método, 2019.
2

Outros materiais