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Autores: Prof. William Antonio Zacariotto Profa. Célia Pereira da Silva Colaboradores: Profa. Silmara Maria Machado Prof. Jamilson José Alves da Silva Tecnologia da Informação e Comunicação em Educação Professores conteudistas: William Antonio Zacariotto / Célia Pereira da Silva William Antonio Zacariotto É mestre em educação de nível superior (PUC-Campinas, 2004), especialista em análise de sistemas pela Fecap, em Matemática pela Faculdade Hermínio Ometto, em qualidade de educação básica e formação em tutoria virtual pela OEA – Organização dos Estados Americanos; graduado em administração de empresas pelas Faculdades Associadas de Educação (1991). Atualmente é coordenador e professor adjunto mestre do curso de Administração de Empresas do Instituto de Ensino Superior de Itapira. Tem experiência na área de administração desde 1983, e foi gerente de informática na Prefeitura Municipal de Mogi Guaçu, de 1991 a 2008. Criou o Projeto Amigos do Trânsito, Linuxday. Escritor do livro Internet: Meu primeiro emprego (2008), palestrante em educação, administração e tecnologias. Célia Pereira da Silva É mestre em Políticas Públicas de Educação pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Políticas Públicas de Educação da Universidade Cidade de São Paulo – Unicid-SP (2016), licenciada em Pedagogia (2004) pela Universidade Nove de Julho – Uninove e pós-graduada em Psicopedagogia Institucional (2006) pela mesma instituição. Tem formação em EaD pela Universidade Paulista – UNIP. É integrante do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas, Gestão e Formação de Professores da UNIP. É professora dos cursos de graduação em Pedagogia e pós-graduação em Psicopedagogia Institucional e formação em EaD. Tem produção científica nos temas de tecnologia da informação e comunicação, vulnerabilidade social, políticas públicas de educação, desigualdade escolar, princípio de justiça na escola, formação de professores, metodologias e práticas de ensino e direitos humanos. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. U511.47 – 21 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Z13t Zacariotto, William Antonio Tecnologia da informação e comunicação em educação / Willian Antonio Zacariotto; Célia Pereira da Silva. – São Paulo, 2021. 132 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Tecnologia. 2. Comunicação. 3. Pedagogia I. Silva, Célia Pereira da. II. Título. CDU 37:65.011.56 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Alessandro de Paula e Silva Giovanna de Oliveira Sumário Tecnologia da Informação e Comunicação em Educação APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 INTRODUÇÃO AO USO DA TECNOLOGIA NAS ESCOLAS E A CULTURA DIGITAL .................... 11 1.1 O que é tecnologia? ............................................................................................................................. 13 1.2 Tecnologia e educação: um recorte dos investimentos em educação com tecnologia no Brasil .................................................................................................................................... 15 1.3 O envolvimento involuntário da cultura digital ...................................................................... 19 2 A ESCOLA E A TECNOLOGIA: UMA MUDANÇA CONSTANTE .......................................................... 22 2.1 A infraestrutura da escola ................................................................................................................ 25 2.2 O papel da administração escolar no envolvimento tecnológico e na inovação .................................................................................................................................................... 30 3 A PARTICIPAÇÃO DOS EDUCADORES ...................................................................................................... 33 4 AS ESCOLAS E OS RECURSOS TECNOLÓGICOS ................................................................................... 36 4.1 A televisão e os vídeos ....................................................................................................................... 36 4.2 O podcast ................................................................................................................................................. 47 4.2.1 Os microcomputadores e os laboratórios de informática ...................................................... 49 4.3 Os tablets e smartphones .................................................................................................................. 50 Unidade II 5 TECNOLOGIA PARA EDUCAÇÃO ................................................................................................................ 56 5.1 Uso correto das ferramentas tecnológicas para educação ................................................. 60 5.2 Como utilizar ferramentas digitais ............................................................................................... 65 6 AS NOVAS TENDÊNCIAS DA EDUCAÇÃO COM O USO DA TECNOLOGIA E CULTURA DIGITAL ............................................................................................................................................... 69 6.1 Aprendizagem criativa e significativa .......................................................................................... 69 6.2 Metodologias ativas ........................................................................................................................... 72 7 ENSINO HÍBRIDO ............................................................................................................................................. 76 7.1 Sala de aula invertida ......................................................................................................................... 79 7.2 Gamificação ............................................................................................................................................ 81 7.3 O movimento maker ........................................................................................................................... 83 8 A BNCC E AS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS ...................................................................................... 88 8.1 Como o uso da tecnologia é previsto pela BNCC ................................................................... 88 8.2 A BNCC e a tecnologia na Educação Infantil............................................................................ 97 8.3 A tecnologia nas competências gerais da Educação Básica (Ensino Fundamental do 1o ao 5o ano)..............................................................................................1087 APRESENTAÇÃO A disciplina Tecnologia da Informação e Comunicação em Educação tem como objetivo geral proporcionar condições para que o graduando possa desenvolver as habilidades e competências básicas sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação – TICs. Busca também articular reflexões sobre a história da tecnologia da informação e comunicação em educação, bem como análises das teorias e das práticas para elaborar e avaliar estratégias para a educação atual na sociedade tecnológica e informatizada. Além disso, procura fazer uma análise sobre a construção do conhecimento do indivíduo e a contribuição das tecnologias por meio de novas propostas para o ensino e a aprendizagem em uma abordagem tecnológica, buscando identificar a relação entre tecnologia, comunicação e educação em uma sociedade contemporânea. São objetivos de nosso estudo refletir sobre a profissão do pedagogo e a necessidade de uma atuação consciente e reflexiva diante das diversidades tecnológicas, vivenciar e explorar os recursos da linguagem informatizada em situações de ensino e de aprendizagem e analisar a Base Nacional Comum Curricular, ou BNCC (BRASIL, 2018), o envolvimento involuntário da cultura digital e o envolvimento da tecnologia como ferramenta de apoio pedagógico. Ao final desta disciplina, você deve ser capaz de: • entender princípios teórico-metodológicos das tecnologias da informação e comunicação em educação; • adquirir a capacidade de articular ensino e pesquisa na produção de conhecimento na prática pedagógica; • ter compromisso com uma ética de atuação profissional e com a organização da vida em sociedade; • dominar princípios teórico-metodológicos das áreas de construção que se constituem objeto da prática pedagógica; • compreender o processo de construção do conhecimento do indivíduo inserido no seu contexto social e cultural; • reconhecer a informática como ferramenta para novas estratégias de aprendizagem, capaz de contribuir de forma significativa para o processo de construção do conhecimento; • conhecer e entender os princípios da tecnologia da comunicação e da informação, associando-os ao conhecimento científico e às linguagens que lhe dão suporte; • compreender as dez competências gerais identificadas no documento da Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018) e quais são as aprendizagens essenciais a serem trabalhadas nas escolas públicas e particulares do país, sobretudo na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. 8 Na unidade I, será apresentado o conceito de tecnologia e seu percurso histórico sobre o investimento em tecnologia nas escolas públicas no Brasil. A intenção é possibilitar o entendimento e a fundamentação da estrutura e do funcionamento da escola no cenário atual de trabalho marcado por uma sociedade da informação, ou seja, com novos hábitos, novas formas de comunicar-se, de pensar, de agir. Ênfase especial é dada à formação inicial do educador, valorizando a formação de um professor reflexivo, ético, criativo e crítico para o uso das ferramentas digitais, de modo a atender a demanda dos alunos nativos, chamados de geração alpha. É necessária uma boa infraestrutura para a implementação das TICs nos espaços escolares. Entender o papel da administração escolar no envolvimento tecnológico e na inovação e a participação ativa dos educadores nos processos de ensino e aprendizagem com o auxílio das tecnologias é fundamental, pois esses recursos tecnológicos podem auxiliar as mais diversas áreas do conhecimento a cumprir suas atividades afins. Por isso é tão importante o estudo da inclusão de novas tecnologias para o aperfeiçoamento pedagógico. Na unidade II, optamos por situar o contexto histórico dos marcos legais dos documentos que normatizam a Educação Básica brasileira. Partindo da Constituição Federal de 1988 (CF/88), falaremos sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996 (LDB/96), o Plano Nacional de Educação, de 2014 (PNE/2014) e, por último, da Base Nacional Comum Curricular (BNCC/2018), que tem como fundamento pedagógico o desenvolvimento integral de todos os estudantes das redes públicas e particulares do Brasil. Entendemos que o futuro profissional da área deve estudar a BNCC e entender o currículo, para, assim, poder discutir ativamente as propostas pedagógicas com recursos tecnológicos nos momentos de atuação. Este livro-texto, além do que já mencionamos, busca apontar as principais ferramentas tecnológicas utilizadas como alternativas de recursos pedagógicos pelos professores, contemplando as perspectivas que a BNCC traz sobre as novas tendências da educação para trabalhar a aprendizagem criativa e significativa que envolve o uso das metodologias ativas, o ensino híbrido, a sala de aula invertida e o uso da gamificação. Durante nosso percurso de estudos, serão alvos de comentários algumas concepções imprescindíveis, como tecnologia, criança, currículo, inspiradas na BNCC (BRASIL, 2018) e/ou em outras possibilidades de ensino e aprendizagem na Educação Infantil e no Ensino Fundamental do 1º ao 5º ano, na superação dos desafios diante das mudanças nos processos educacionais, ressignificando a formação do professor. A complexidade das TICs e a importância do papel do profissional de nossa área vão além deste livro-texto, por isso, evidentemente, a discussão em torno do uso das tecnologias na Educação Básica não se esgota aqui. Além de buscar muitas outras leituras, não esqueça: apenas conhecer a teoria não garante uma boa prática, assim como a prática sem uma sólida base teórica, não possibilita a formação de um profissional autônomo. O equilíbrio entre ambos esses campos é a chave para ser capaz de encaminhar decisões educativas, compartilhar conhecimento com seus alunos e refletir sobre sua prática. 9 INTRODUÇÃO A disciplina Tecnologia da Informação e Comunicação em Educação constitui-se em campo de conhecimento que se produz nas formas de compreender as TICs da educação. Na interação entre a formação inicial, a universidade e a instituição escolar, as tecnologias podem ser consideradas uma articulação entre o currículo do curso e a realidade escolar. Em nossa disciplina, as TICs serão problematizadas e procuraremos entender suas raízes, assim como teremos uma visão global de quais são os recursos tecnológicos utilizados nas escolas do Brasil atualmente. Esta disciplina pretende situar você, aluno, diante das dimensões macro e micro dos documentos oficiais do sistema educacional, evidenciando as relações existentes na sala de aula, com seus cenários e atores dentro de uma estrutura legal, institucional e pedagógica. Este livro-texto, assim, fornecerá oportunidade para a comparação e compreensão da prática e da teoria, no que diz respeito à utilização das tecnologias utilizadas ou não no cotidiano das escolas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. De acordo com essa proposta, esta disciplina apresenta, inicialmente, o uso das tecnologias nas escolas e a cultura digital, abordando os conceitos do que é tecnologia, quais as possíveis ferramentas tecnológicas utilizadas para o trabalho pedagógico e como podemos fazer uso delas em sala de aula. Além disso, falamos sobre a valorização do estudante nos processos de formação dos professores, tendo como reforço a dimensão do movimento de reconfiguração de trabalho e formação docente. Consideramos, tendo isso em conta, o uso da tecnologia como ferramenta imprescindível na sociedade contemporânea, haja a vista a cultura digital. Nosso percurso de estudos situa a tecnologia no mundo e traça um percurso histórico das iniciativas governamentais com projetos de inserção das tecnologias nas escolas públicas. Em continuidade, explicitando a importância de conhecer, valorizar e refletir sobre o uso adequado das ferramentas tecnológicas como instrumentos indissociáveis da prática docente, apresentamos os documentos legais e as concepções políticas, filosóficas e pedagógicas que fundamentamo uso das ferramentas tecnológicas como instrumento para o processo de ensino e aprendizagem na formação do cidadão que irá atuar na sociedade da informação – inclusive levando em consideração que essas ferramentas já estão presentes no cotidiano dos alunos. É com esse intuito que foi elaborado o presente material: acreditando que a aprendizagem não acontece isolada. A formação do professor não se dá sem a presença do outro, todo o processo de aprender acontece em grupo. O ser humano é marcado pela incompletude e por isso o desejo e a dependência do grupo. João Mattar (2010) diz que o grande desafio que devemos levantar é que nossos alunos são nativos digitais, por isso as escolas devem se preparar para aprender como esses aprendem, por isso a formação do futuro professor deve estar alinhada às novas tendências tecnológicas. 10 11 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM EDUCAÇÃO Unidade I 1 INTRODUÇÃO AO USO DA TECNOLOGIA NAS ESCOLAS E A CULTURA DIGITAL Que fique claro que não quero dizer que o uso de tecnologias mais avançadas melhore o conteúdo de um texto. Carlos Drummond de Andrade Neste livro-texto, vamos tratar sobre a força que a tecnologia tem exercido em nossas vidas. Ela se integrou em nosso dia a dia de tal forma que hoje temos com ela uma relação de dependência, a ponto de, por exemplo, frequentemente não sermos capazes de cumprir tarefas simples sem recorrer aos recursos tecnológicos. Exemplo de aplicação Você talvez já tenha passado por isso sem perceber. Faça o teste: você sabe de cor todos os telefones que estão na sua agenda digital? Se não pudesse acessá-la, seria capaz, mesmo assim, de realizar uma ligação telefônica para qualquer um de seus contatos? A charge a seguir baseia seu humor no grande nível de dependência que temos desenvolvido com relação à tecnologia: Figura 1 – André Dahmer, Quadrinhos dos Anos 10 Na verdade, isso ocorre espontaneamente, e especialmente com os alunos, que têm maior facilidade para o uso desses recursos. Assim, nasce naturalmente a tecnologia, que já está presente na vida dos alunos, facilitando o ensino e o aprendizado com a utilização dos seus recursos. 12 Unidade I Observação Faremos um percurso histórico da tecnologia no Brasil e os principais marcos de seu envolvimento com a educação. O dicionário Houaiss (2001) explica o que é a tecnologia: Tecnologia: teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade humana. A origem da palavra tecnologia, na sua etimologia, está na palavra grega tekhnología, que significa: “tratado ou dissertação sobre uma arte, exposição das regras de uma arte”, pois é formada a partir do radical grego tekhno, que vem de tékhné, que significa: “arte, artesania, indústria, ciência”, e do radical grego – logía, que vem de logos, que significa: “linguagem, proposição”. Para Gama, o conceito de tecnologia: Estudo e conhecimento científico das operações técnicas ou da técnica. Compreende o estudo sistemático dos instrumentos, das ferramentas e das máquinas empregadas nos diversos ramos da técnica, dos gestos e dos tempos de trabalho e dos custos, dos materiais e da energia empregada. A tecnologia implica a aplicação dos métodos das ciências físicas e naturais e [...] a comunicação desses conhecimentos pelo ensino técnico (GAMA, 1986, p. 30-31). Já para Bazzo, Linsingen e Pereira, a melhor definição é: Conjunto de procedimentos que permitem a aplicação dos conhecimentos próprios das ciências naturais na produção industrial, ficando a técnica limitada aos tempos anteriores ao uso dos conhecimentos científicos como base do desenvolvimento tecnológico industrial (BAZZO; LINSINGEN; PEREIRA, 2003, p. 39). Desse modo, não podemos resumir “tecnologia” apenas a recursos tecnológicos. É importante ter essas definições em mente para entender o conceito em sua complexidade. Lembrete O papel do professor diante da tecnologia é estar devidamente capacitado e promover o uso da ferramenta como apoio pedagógico; dessa forma, uma série de fatores pode contribuir para seu uso e a melhoria da educação no País. 13 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM EDUCAÇÃO 1.1 O que é tecnologia? A tecnologia está presente em nosso dia a dia, em tudo o que fazemos, seja para comunicar, alimentar, locomover, comprar e outras atividades rotineiras. Você consegue identificá-la com maior facilidade nos computadores, celulares, smartphones, equipamentos eletrônicos e de comunicação que têm invadido nossos lares e tomado parte em nossa vida. O termo “tecnologia” refere-se a tudo que se inventou – tanto artefatos como métodos e técnicas – para estender a capacidade física, sensorial, motora ou mental do homem, facilitando e simplificando o seu trabalho, enriquecendo suas relações interpessoais, ou simplesmente dando-lhe prazer. Quando pensamos em tecnologia educacional, logo imaginamos o uso de computadores e da internet pelo professor ou pelos alunos, porém os recursos tecnológicos que podem ser utilizados no processo educativo não se limitam ao mundo digital. Pensando sobre a definição de tecnologia, é interessante entender o significado de arte: habilidade ou disposição dirigida para a execução de uma finalidade prática ou teórica, realizada de forma consciente, controlada e racional, ou definida como conjunto de meios e procedimentos através dos quais é possível obter finalidades práticas ou a produção de objetos; técnica. As técnicas são formas, jeitos ou habilidades especiais em lidar com cada tipo de tecnologia que encontramos ao executar nossas atividades cotidianas, lidando com vários equipamentos, produtos e serviços originados da tecnologia. Algumas dessas técnicas são simples e de fácil aprendizado, transmitidas de geração para geração, e se incorporam aos costumes e hábitos sociais de um determinado grupo de pessoas. Exemplo de aplicação Lembrando do seu primeiro dia de aula na Educação Básica, você consegue identificar a utilização de uma tecnologia simples, porém não simplista, que é empregada até hoje nas salas de aula? Figura 2 – Giz e lousa 14 Unidade I Talvez você tenha se lembrado do giz, que é um exemplo excelente. O giz e o quadro negro podem ser considerados tecnologias educacionais, pois são ferramentas que permitem até hoje que docentes e alunos compartilhem informações com o objetivo de facilitar o processo de ensino e aprendizagem. A evolução da tecnologia pode ser observada sempre, até mesmo antes do advento da era digital, inclusive, portanto, quando falamos da simples dupla de ferramentas giz e quadro negro. E será que o problema resolvido por essa dupla tem como ser solucionado por uma nova tecnologia? Será que podemos considerar que o pincel que permite escrever várias vezes no quadro branco é uma evolução dessa dupla? Convém refletimos: qual é o papel da tecnologia em nível educacional? O computador pode ser uma ferramenta que substitua o professor? Acesso a tecnologia é o mesmo que conhecimento? A charge a seguir traz uma reflexão sobre esse assunto. Figura 3 – Orlandeli, Grump A tecnologia educacional difere um pouco da tecnologia, pois ela pode ou não ser utilizada, ficando a cargo dos professores e da coordenação pedagógica essa decisão. Diferentemente da sociedade que recebe a cultura digital e vai se adequando às novas formas de viver, ela simplesmente permite novos caminhos e soluções para sanar as deficiências de ensino. A tecnologia não irá, em nenhum momento, substituir a figura do professor. Como a charge anterior ironiza, a destreza com a tecnologia não significa que o aluno seja eficiente em português, inglês, cálculo ou outros conhecimentos pertinentes ao currículo escolar. No nível educacional, a tecnologia se constitui em ferramentas, programas e técnicas que permitam que o aluno refletir e aprender o que está sendo ensinado. Influências da cultura digital estão sendoapontadas diariamente na vida e na convivência dos jovens. Não há como deixar de lado, também, a necessidade de visualizar o que é correto e o que é errado em todo este ambiente. As tecnologias estão oferecendo ferramentas poderosas que podem auxiliar o ensino e o aprendizado. Essas ferramentas podem auxiliar professores, alunos, gestores, psicopedagogos e psicólogos. Nesse 15 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM EDUCAÇÃO leque, as ferramentas e os equipamentos proporcionados são o apoio e o auxílio que os profissionais podem utilizar no ensino, na capacitação e até mesmo como ferramentas de estudo e revisão. 1.2 Tecnologia e educação: um recorte dos investimentos em educação com tecnologia no Brasil Fazer da escola não apenas o lugar da qualificação, do treinamento, mas o lugar da formação. Creio que isto significa fazer a escola retornar a seu futuro. Neidson Rodrigues A entrada da informática na educação, no Brasil, está ligada diretamente ao ingresso dos microcomputadores, que ocorreu nos últimos 30 anos, principalmente no campo da microeletrônica, acarretando inúmeras transformações. Essas transformações ocorreram em vários setores econômicos, como indústrias, bancos e telecomunicações, que passaram a ter como base de seu desenvolvimento a informática. Os avanços tecnológicos educacionais começaram na década de 1970, com a caracterização de dois pontos de vista: um restrito e outro amplo. O restrito estava limitado ao ensino dirigido apenas à utilização dos recursos dos microcomputadores no aspecto físico, ou seja, dominar os equipamentos; já o amplo se enquadrava em uma linha diferente, baseada no desenvolvimento e na administração dos elementos sistêmicos, ou seja, na educação concebida como o sistema ou a totalidade de subsistemas inter-relacionados, em que o papel da tecnologia é apenas colaborar, fornecendo ferramentas para o auxílio do desenvolvimento de atividades na educação. A seguir, elencamos os principais investimentos em educação com tecnologia no país: • 1981 – Política de Informática Educativa (PEI), do governo federal, das secretarias estaduais e municipais de educação e das universidades, a fim de inserir o computador no processo ensino-aprendizagem. • 1982 – Centro de Informática Educativa do MEC – Cenifor, subordinado à Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa, seu papel era assegurar a pesquisa, o desenvolvimento, a aplicação e a generalização do uso da informática no processo de ensino-aprendizagem em todos os níveis e modalidades. • 1983 – Comissão Especial de Informática na Educação (CE/IE), que elaborou e aprovou o projeto Educom – Educação com computadores, ficando a cargo da Funtevê, apoiado financeiramente pela Secretaria Especial de Informática (Seinf-MEC), pelo CNPq e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). • 1985 – I Plano Setorial: Educação e Informática, prevendo ações nos segmentos de ensino e pesquisa relacionadas ao uso e aplicação da informática na educação. 16 Unidade I • 1986 – Comitê Assessor de Informática na Educação de Primeiro e Segundo Graus – Caie/Seps, aprovou-se o programa de ação imediata em informática na educação. • 1988 – Realizou-se o III Concurso Nacional de Software Educacional Brasileiro, e a Organização dos Estados Americanos (OEA) convidou o MEC-Brasil para avaliar o programa de informática aplicado à educação básica do México. O resultado foi um projeto multinacional de cooperação técnica e financeira integrado por sete países (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana e Venezuela), com o objetivo de utilizar as redes telemáticas para a formação de professores, investigadores, administradores escolares e membros da comunidade, para auxiliar a implantação da informática na educação e a promoção de mudanças na escola pública. • 1989 – Jornada de Trabalho Latino-Americano de Informática na Educação e Reunião Técnica de Coordenação de Projetos em Informática na Educação; a Unicamp avançou implantando o II Curso de Especialização em Informática na Educação – Projeto Formar II. Outro fator importante foi que o Conselho Nacional de Informática e Automação (Conin) alterou a redação do II Plano Nacional de Informática e Automação, introduzindo ações de informática na educação, implantando núcleos de informática em educação nas instituições de ensino superior, secretarias de educação e escolas técnicas, no sentido de criar ambientes informatizados para atendimento à clientela de primeiro, segundo e terceiro graus, educação especial e ensino técnico, para o desenvolvimento de pesquisa e formação de recursos humanos; instituiu-se o Proninfe (Programa Nacional de Informática na Educação). • 1991 – Aprovado o 1º Plano de Ação Integrada (Planinfe), para desenvolver nos anos de 1991 a 1993 um plano de ação integrada com objetivos, metas e atividades para o setor da informática educativa; criou-se o Comitê Assessor de Informática Educativa. • 1996 – Foi criada a Secretaria de Educação a Distância – SEED, e também foi apresentado o documento básico “Programa Informática na Educação”, tendo como função básica promover o uso da informática como ferramenta de enriquecimento pedagógico no ensino público médio. • 2000 – Projeto Rede Telemática para Formação de Educadores a Distância. O projeto formava professores, administradores, pesquisadores e membros das comunidades escolares em informática na educação, analisando, estudando e programando as mudanças pedagógicas e de gestão da escola, integrando a comunidade e a escola, envolvendo e formando continuamente os seus integrantes. • 2010 – O governo federal instalou 6,6 mil telecentros em 5,4 mil cidades brasileiras. Os telecentros são dotados de dez computadores, servidor central, impressora, central de monitoramento, mobiliário e conexão com a internet. • 2010 – Parcialmente, o Estado de São Paulo promoveu a inclusão digital, implementando 519 postos do Acessa São Paulo, atendendo a 464 municípios paulistas. Também foi criado o programa Acessa Escola em 3.752 escolas da rede pública estadual. Esse programa tem um diferencial utilizar estagiários, cerca de 13.086, que serão os responsáveis pelo atendimento aos alunos nas salas de informática, as quais permanecem abertas o dia todo. 17 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM EDUCAÇÃO • 2012 – Distribuição de 6.000 tablets para a rede púbica (professores e alunos) pelo Governo Federal. • 2014 – Plano Nacional de Educação 2014-2024, Lei n. 13.005/2014. • 2017 – Programa de Inovação da Educação Conectada, pelo Decreto n. 9.204/2017. Heinsfeld e Pischetola (2019) descrevem que o Plano Nacional de Educação 2014-2024 é um documento de planejamento do setor educacional que orienta o desenvolvimento das políticas públicas para educação pelo período de 10 anos. Ele trata das diversas percepções tecnológicas apontadas como ferramentas estratégicas para que seja possível alcançar as metas estabelecidas, apresentando maior diálogo com uma percepção de tecnologia mais próxima à de artefato técnico. As autoras apontam que o desenvolvimento tecnológico e pedagógico deve combinar, de maneira articulada, atividades didáticas da escola e do ambiente didático, dando maior ênfase às escolas do campo, comunidades indígenas e quilombolas. A ênfase é dada ao aspecto pedagógico, criando métodos e propostas pedagógicas para acompanhar os resultados do sistema de ensino e de alfabetização das crianças, fomentando o desenvolvimento das tecnologias educacionais e práticas inovadoras que assegurem a alfabetização e melhoria da aprendizagem dos alunos nos ensinos de educação infantil, fundamental e médio. Corroborando o que dizem as autoras, pode-se resumir que o Plano Nacional de Educação (PNE) trata sobre as percepções de tecnologia do período de 2014 a 2024: • O desenvolvimento, seleção, difusão e incorporação de tecnologias pedagógicas e tecnologias educacionais no cotidiano escolar; • O incentivo à formação continuada docentee à participação dos alunos em cursos de área científico-tecnológicas; • A informatização de escolas e universalização do acesso à rede mundial de computadores (BRASIL, 2014). Outro destaque é estimular a participação de jovens e adultos nos cursos de áreas tecnológicas. Destacam-se aqui dois trechos que indicam uma valorização das carreiras científico-tecnológicas, em detrimento das demais possibilidades formativas, com programas de capacitação para todos, inclusive alunos com deficiência, para favorecer a inclusão social. O PNE também visa dar estimulo à formação continuada dos professores, incluindo a formação e a aplicação de práticas docentes inovadoras. Por isso é visto também como uma das estratégias da política, promovendo o conhecimento de novas tecnologias educacionais e práticas pedagógicas, com programas de pós-graduação stricto sensu e ações de formação continuada de professores para a alfabetização. 18 Unidade I A infraestrutura do plano prevê acesso à rede de internet em banda larga de alta velocidade para alunos e professores da rede pública de educação básica, permitindo a utilização pedagógica das tecnologias de informação e conhecimento, distribuindo equipamentos e recursos tecnológicos digitais para a utilização pedagógica no ambiente escolar a todas as escolas públicas da educação básica, em salas de aula, nas bibliotecas ou no ambiente escolar. No contexto administrativo gerencial, o plano prevê a informatização integral da gestão escolar das escolas públicas, a formação continuada dos colaboradores (pessoal técnico) das escolas e o fornecimento de equipamentos adequados para as mesmas. Saiba mais Acompanhe os avanços e retrocessos do PNE no site: Disponível em: https://www.observatoriodopne.org.br/. Acesso em: 12 abr. 2021. O decreto n. 9.204, de 23 de novembro de 2017, do Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações, instituiu o programa de Inovação da Educação Conectada, objetivando conjugar esforços entre órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, escolas, setor empresarial e sociedade civil, para assegurar as condições necessárias à inserção da tecnologia como ferramenta pedagógica de uso cotidiano nas escolas públicas de educação básica (BRASIL, 2017). Está previsto no programa, em seu artigo 4º, o apoio técnico às escolas e às redes de educação básica para a elaboração de diagnósticos e planos locais para a inclusão da inovação e da tecnologia na prática pedagógica das escolas, permitindo: • a contratação de serviço de acesso à internet; • a implantação de infraestrutura para distribuição do sinal da internet nas escolas; • a aquisição ou contratação de dispositivos eletrônicos e de recursos educacionais digitais ou suas licenças; • a oferta de cursos de formação de professores para o uso da tecnologia em sala de aula e de articuladores para apoiar a implementação da política. Para ter direito, a escola deve aderir ao programa, conforme descreve o artigo art. 14: Compete às escolas que aderirem ao Programa de Inovação Educação Conectada incorporar o uso da tecnologia à sua prática de ensino, conforme o seu Projeto Político Pedagógico (BRASIL, 2017). 19 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM EDUCAÇÃO Dessa forma, é papel da rede de ensino e das escolas aderirem ao programa para desfrutarem dos benefícios ora propostos. 1.3 O envolvimento involuntário da cultura digital Muitas crianças, embora ainda não consigam escrever ou amarrar os sapatos, já são capazes de navegar na internet, usando smartphones, computadores e tablets. A internet das coisas tem influenciado a vida cotidiana das crianças. Ela se refere à conexão digital dos objetos cotidianos com a internet. Uma série de objetos hoje foram substituídos por objetos tecnológicos, e desde cedo as crianças convivem naturalmente com eles. Estes sistemas ou códigos de significado dão sentido às nossas ações. Eles nos permitem interpretar significativamente as ações alheias. Tomados em seu conjunto, eles constituem nossas “culturas”. Contribuem para assegurar que toda ação social é “cultural”, que todas as práticas sociais expressam ou comunicam um significado e, neste sentido, são práticas de significação (HALL, 1997, p. 16, tradução nossa). Uma pesquisa da Unicef (2017) sobre as crianças em um mundo digital observou que 90% dos jovens conectam-se à internet para buscar informações, 74% deles entram em contato com pessoas que não conhecem, 91% usam as redes sociais diariamente, 70% jogam on-line e um a cada três menores de 18 anos está presente na internet. Para as crianças conectadas, a tecnologia é sinal de evolução, rapidez, facilitação e poder de vida diária; ter um um celular próprio é um grito de crescimento e símbolo de independência. As crianças são usuárias frequentes de múltiplas plataformas para socializar, divertir, passar o tempo, expressar-se e se identificam com aplicativos como Netflix, Youtube, Instagram, Whatsapp etc. Por isso, as tecnologias influenciam o modo como crianças e adolescentes percebem e compreendem o mundo, se comunicam, se relacionam e vivem. É, portanto, papel da escola (comunidade, professores, pais) acompanhar e enriquecer a experiência das crianças nesses processos de interação. Com o advento da internet, a tecnologia aproximou cada vez mais as pessoas dos carros, dos eletrodomésticos e das formas de se comunicar, movimento que acabou culminando no surgimento da chamada internet das coisas (ou internet of things – IoT, em inglês). Ela pode ser uma mudança do uso da computação para fins de trabalho para uma computação utilizada em casa, com aplicativos mais amigáveis, que solucionam questões domésticas, com interfaces que requisitam menos conhecimentos técnicos. A internet das coisas está presente na maioria dos televisores novos, conhecidos como smart TVs, que permitem acessar aplicativos (apps), jogos, lojas de compras virtuais, geladeiras, fornos e telefones, por isso está inserida na vida das crianças desde cedo. Bom, mas o que a internet das coisas e a tecnologia têm a ver com a forma de ensinar, de ler, de se comunicar? A sua inserção é natural; assim, não há como evitar inclusive os erros, os vícios e as 20 Unidade I melhorias. Por ser parte da vida cotidiana de todos, ela pode ocasionar vícios, os quais vão afetar a educação ao longo de todo o processo de ensino de crianças, adolescentes e jovens. Com o advento da TV por assinatura e das TVs digitais, muitas crianças nem mesmo conseguem esperar um simples comercial para assistir ao próximo desenho. Esse imediatismo pode atrapalhar as fases da vida do aprendizado. Figura 4 – A internet das coisas Estamos vivendo a era da Informação e do conhecimento, e a cultura digital está cada vez mais presente na vida das pessoas. Mas o que é a cultura digital? Em 2009, Savazoni (SAVAZONI; COHN, 2009, p. 13) descrevia que a cultura digital era um conceito novo, emergente, e vários setores se apropriavam dele, incorporando as perspectivas diversas sobre o impacto das tecnologias digitais e das conexões da sociedade em rede. Corroborando, Fantin afirma que: a cultura digital é uma cultura em que a mídia pessoal, personal midia, é a protagonista. Os celulares e as redes sociais, social network, ao lado de outras tecnologias, permitem que o leitor se torne cada vez mais autônomo, e graças a essa cultura, cada leitor pode se tornar também um autor. É nessa cultura que crianças, jovens e alunos da escola mergulham, pois esse é o seu meio ambiente (FANTIN; RIVOLTELLA, 2012, p. 98). E o que a cultura digital tem a ver com a educação? O grande detalhe é a mudança de comportamento dos educandos e educadores, por exemplo, o uso dos celulares, smartphones, tablets e equipamentos conectados à internet. Através das redes, são novos espaços de comunicação e por si só são educação. Diante dessa perspectiva: As mudanças de comportamento dos jovens, por exemplo, com ouso dos dispositivos móveis (celulares) podem dar uma nova dimensão de que as expressões culturais, que ampliaram a dimensão de tempo e espaço nascem novas narrativas para o mundo globalizado (ZAMBON, 2015, p. 3). 21 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM EDUCAÇÃO Dessa forma, deve-se considerar que a cultura digital tem promovido mudanças sociais significativas nas sociedades contemporâneas. Em decorrência do avanço e da multiplicação das tecnologias de informação e comunicação e do crescente acesso a elas pela maior disponibilidade de computadores, telefones celulares, tablets e afins, os estudantes estão dinamicamente inseridos nessa cultura não somente como consumidores. Os jovens têm se engajado cada vez mais como protagonistas da cultura digital, envolvendo-se diretamente em novas formas de interação multimidiática, multimodal e de atuação social em rede, que se realizam de modo cada vez mais ágil. Kenski (2014) aponta que o uso da internet e o acesso a conteúdos diversos ficaram muito simplificados: assuntos complexos podem ser alcançados por qualquer pessoa, de qualquer idade e nível educacional, contudo, o simples acesso não garante a aprendizagem. Os recursos tecnológicos não possibilitam o domínio pleno de conhecimento em determinadas áreas; não se trata do que se oferece nem do seu uso e/ou simplicidade, mas das inter-relações pedagógicas, psicológicas, políticas e tecnológicas empregadas para dimensionar, programar e orientar com habilidade a produção das ações educativas em prol do aprendizado. É importante destacar que a cultura digital e a tecnologia caminham juntas: a tecnologia é a forma e a cultura, o modus operandi da sociedade. Assim, mesmo sem querer, a tecnologia invade a vida das pessoas, dos usuários, profissionais, educadores e alunos, que são incluídos nesse contexto de forma natural, mesmo sem querer. À educação cabe o papel de mediar e utilizar todos os recursos disponíveis, verificando o que é fidedigno (bom e justo) ou não. Uma matéria apresentada no site da Gazeta do Povo, da autora Marisete Bolzani (2014), relata uma pesquisa que foi realizada por uma empresa americana, AVG Technologies, com famílias de diversos países do mundo. Nela observou-se que 66% das crianças de 3 a 5 anos de idade conseguiam usar jogos de computador, mas apenas 14% delas eram capazes de amarrar os sapatos sozinhas. Se há um mergulho de crianças, jovens e alunos nas escolas, e este é o seu ambiente atual, surgem alguns desafios aos professores para identificar os conteúdos e as possíveis ferramentas de utilização e ensino. Há que se ressaltar que esta cultura traz a vantagem de estar presente nos aparelhos portáteis, de bolso, que estão cada vez mais potentes e acessíveis em locais cada vez mais distantes, podendo conectar-se às redes sociais, editar textos, visualizar imagens, infográficos, efetuar pesquisas a bibliotecas virtuais, realizar visitas virtuais, exibir videoaulas, transmitir rádio, músicas e ensinamentos múltiplos em qualquer lugar, bastando um simples acesso wi-fi ou a uma rede de dados móvel. Da mesma forma, a sociedade está se inovando a cada dia, desde as formas de se organizar, de produzir bens, de comercializá-los, de se divertir, até de ensinar e aprender. Desde a década de 1990, com a utilização em grande escala dos microcomputadores, passamos por uma verdadeira revolução tecnológica. Os desafios impostos pela rápida evolução dessas novas tecnologias e sua inserção em todos os ramos da atividade humana somam-se às contradições sociais. Muitas escolas acreditam que a modernização consiste em adotar equipamentos de informática, programas e professores para ministrar cursos de treinamento de uso de ferramentas aos seus alunos, 22 Unidade I esquecendo o lado pedagógico. É preciso entender que a nova prática pedagógica deve preparar as pessoas para aprender a usar a tecnologia como ferramenta de apoio pedagógico e não como material final. Você já deve ter escutado que a sociedade está se construindo através da tecnologia. Será? Sabe-se que historicamente a tecnologia esteve presente na mídia em geral, passando por fotos, telégrafos, telegrafia sem fio, telefones, telecomunicações, gravação de sons, filmes, rádio, televisão, até os microcomputadores e softwares. Não podemos nos esquecer também dos monitores de TV, das videoconferências, dos vídeos interativos, dos treinamentos por meio de softwares (programas) e a distância que, com softwares específicos, tentavam auxiliar e criar métodos de ensino via internet ou teleconferência. A tecnologia relaciona-se com o conceito pedagógico na medida em que as formas de se comunicar estão mudando, e com elas os meios de ensinar, pois os recursos são melhores. Assim, o aspecto tecnológico tem nos auxiliado a adotar novas formas de ensino, mais práticas e mais próximas da sociedade. Saiba mais Sugerimos que você assista às entrevistas de Daniela Costa, coordenadora da pesquisa TIC Educação; e André Ferreira, coordenador pedagógico da Escola Sesc de Ensino Médio, no Canal Futura, no Youtube: TIC Educação. 2016. 1 vídeo (23:14). Publicado por Canal Futura. Disponível em: https://bit.ly/3a89moi. Acesso em: 13 abr. 2021. 2 A ESCOLA E A TECNOLOGIA: UMA MUDANÇA CONSTANTE A tecnologia educacional é apenas uma ferramenta, como caderno e lápis; se não houver um professor para ensinar a escrever, ninguém aprende e o caderno se perde no tempo. William Zacariotto Utilizar a tecnologia em sala de aula não é tão simples assim; temos uma série de fatores que acabam promovendo sucesso ou fracasso na utilização do recurso. Como já abordamos anteriormente, não basta usar uma televisão, um computador, tablet ou celular para que a tecnologia seja empregada, é necessária a participação de todos, desenvolvendo um projeto de apoio pedagógico que utilize os recursos como uma ferramenta de apoio e não uma solução pronta. A tecnologia sempre afetou o homem, desde as primeiras ferramentas, sendo por vezes considerada extensão do corpo, passando pela máquina a vapor, que mudou hábitos e instituições, até chegar ao microcomputador, tablets e agora celulares, trazendo novas e profundas mudanças sociais e culturais. 23 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM EDUCAÇÃO Diante desse fator, grande parcela da sociedade confunde a evolução social do homem com as tecnologias desenvolvidas e empregadas em cada época. Historicamente, passamos pelos avanços tecnológicos fundamentados na Idade da Pedra, do Ferro, do Ouro e no tratamento da informação, gerando avanços científicos e ampliando o conhecimento sobre esses recursos cada vez mais sofisticados. Paralelamente, ao assumir o uso de tecnologias nas escolas, precisamos requerer que elas estejam preparadas para realizar investimentos em equipamentos, qualificação pessoal e, sobretudo, a viabilização das condições de acesso, determinação de regras, políticas de acesso e uso das tecnologias, sejam elas computadores ou dispositivos móveis. A revolução de informática em computadores desktop (computadores de mesa) está muito próxima do seu fim: passamos a notebooks, tablets e celulares, dispositivos móveis que podem ser levados aos diversos ambientes. Não podemos afirmar que se trata de uma novidade; aliás, basta olhar para seus filhos ou para os alunos: para eles, a tecnologia é natural e não se pode ignorar sua existência. A escola, face à revolução tecnológica, sofre as mesmas influências que qualquer outra organização, ou seja, não há como ignorar ou deixar de aproveitar todos os benefícios tecnológicos proporcionados. Mas é necessário tomar cuidado, pois a escola não deve agir como as empresas, uma vez que estas procuram sucesso rápido em pequeno prazo. Com a tecnologia educacional, o sucesso pode vir de duas ou três intervenções realizadas com alunos. O foco é identificar a dificuldade de ensino e buscar formas de melhorar o aprendizado. São vastos os recursos tecnológicos oferecidos no mercado atualmente,desde equipamentos audiovisuais, microcomputadores, programas de computador, lousas eletrônicas, equipamentos de robótica, simuladores, chromebooks, tablets e celulares, estes últimos munidos de aplicativos das mais diversas formas e padrões, todos disponíveis ao aluno para que possa pesquisar, desenvolver, criar, jogar e aprender. Há, hoje em dia, escolas particulares cuja propaganda principal está em serem “escolas totalmente informatizadas”. Mas o que é isso? Há diversas formas de analisar se uma instituição está ou não informatizada. Uma escola que detém um controle de notas e pagamentos informatizados, biblioteca catalogada em um computador, site disponibilizando notas dos alunos está informatizada na questão de gestão, mas não no uso da tecnologia como ferramenta de apoio didático. Não há parâmetros atualmente para medir o nível de informatização, mas divisões que podem ser estabelecidas em nível administrativo e gerencial, pedagógico, de apoio educacional e outros. Portanto, uma escola informatizada nem sempre utiliza os recursos tecnológicos como ferramenta de apoio pedagógico – o conceito administrativo não pode ser levado em conta. No anseio de destacar-se das demais, algumas escolas acabam adquirindo esses equipamentos para seus laboratórios de informática sem mesmo verificar se há profissionais que saibam operá-los, se há como mantê-los ou se atendem ao planejamento escolar. Em alguns casos, há escolas que investem nos recursos e os deixam guardados por medo de danificar os equipamentos com o uso. 24 Unidade I Também há escolas que adquirem os equipamentos e somente os professores da área de tecnologia podem utilizá-los. Alguns diretores costumam trancar esses laboratórios, e os equipamentos acabam ficando obsoletos, pois a evolução é rápida. Uma escola não pode ser chamada de informatizada pelo simples acervo de equipamentos, pelo boletim eletrônico ou por deter laboratórios fascinantes; deve-se levar em conta como é utilizado o recurso e como está planejada a sua utilização – ou seja, o essencial não é apenas a tecnologia. Atualmente a informatização é tão natural nas áreas administrativas que o que se espera na realidade é que ela saiba mesmo interpretar a tecnologia e as culturas digitais. Hoje, o necessário, na verdade, é ter condições de executar as aplicações ou disponibilizar recursos com os quais possamos conectar o mundo externo com o mundo vivenciado dentro da escola. Um bom exemplo disso é a alfabetização digital, uma das missões obrigatórias nas escolas. Conforme diz Marini (2019) num artigo da revista Educação: “Os algoritmos começam a bater na porta de instituições comprometidas em formar jovens em condições de ler, escrever e programar o novo mundo que se impôs”. Assim, a meta passa a ser o desenvolvimento do pensamento, o raciocínio computacional e aprender a programar para resolver demandas consoantes à evolução do estudante nas séries e depois na carreira. Correto? É importante problematizar: uma coisa é compreender a cultura digital e inseri-la no contexto de sala de aula, outra é programar e desenvolver algoritmos. A BNCC aborda as duas temáticas, dando ênfase maior ao uso da cultura digital, de aplicações e inserção das hipermídias hoje existentes (BRASIL, 2018). A construção coletiva dos conhecimentos não é uma tarefa fácil, principalmente no que diz respeito ao confronto das expectativas dos sujeitos envolvidos. Trata-se de dificuldades que precisam de condições especiais para serem superadas. O exercício de confrontar as expectativas de cada um dos organizadores do projeto coletivo da escola implica tornar público o desejo de um princípio, de uma convicção, exigindo um desprendimento com relação ao próprio desejo, desenvolvendo a ideia de que algo que era de uma pessoa agora é também de muitos e poderá ser transformado. A internet, por exemplo, pode ser uma ferramenta de integração para a multidisciplinaridade, pois permite compartilhar projetos de diversas matérias. As pesquisas podem ser múltiplas e ainda servir como facilitadoras no ato de compartilhar conhecimentos produzidos pela própria escola, disponibilizando os trabalhos dos alunos em blogs, videominutos, podcasts, vídeos, sites e ferramentas de redes sociais. Também é uma ferramenta importante para agendamento e gerenciamento da comunicação entre direção, coordenação pedagógica e professores. Entretanto, será que todos estão capacitados para seu uso? Ao disponibilizar trabalhos escolares, projetos e ações da escola na internet, ela abre as portas à comunidade, demonstrando a criatividade dos projetos, permitindo que toda a sociedade passe a conhecer os trabalhos desenvolvidos pelos alunos e professores. Nessa construção, podem ser gerados novos parceiros que venham da comunidade privada ou de órgãos governamentais. Não estamos 25 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM EDUCAÇÃO falando em dispor fotos de alunos, nem rede social de cada um, mas dos seus trabalhos e das atividades por eles criadas. A articulação entre as escolas e outras instituições (como bibliotecas, museus, arquivos etc.) poderia ser realizada através do uso das telecomunicações e da informática, proporcionando contatos entre pessoas, grupos e associações regionais, por serem espaços de intervenção, realização de atividades integradas e coletivas. Não há como deixar de lado o uso da tecnologia; ela nos envolve e sempre se adaptará para atender às nossas necessidades. O importante, ao utilizá-la, é saber que se trata de um instrumento de apoio pedagógico, tal como um livro ou um jogo, ou seja, apenas um instrumento a ser desenvolvido, inacabado, disposto a ser integrado e que proporcione frutos para ambos os lados. Muita coisa mudou com a cultura digital, mas a necessidade de que a comunidade escolar seja participativa é prioritária. Essa mudança é constante, em ciclos, determinada pelos avanços da internet, dos equipamentos tecnológicos e das metodologias de aprendizado encontradas em softwares, que são meras ferramentas para auxiliar a escola e os professores. 2.1 A infraestrutura da escola As tecnologias digitais surgiram, então, como a infraestrutura do ciberespaço, novo espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização e de transação, mas também novo mercado da informação e do conhecimento (LÉVY, 1999, p. 31). O primeiro ponto a ser levantado é: as escolas estão preparadas fisicamente para receber a tecnologia? Diante de um mercado complicado e de inúmeras ocorrências como furto e roubo, as escolas têm se fechado, e o acesso aos laboratórios acaba ficando difícil. Um caso típico e frequentemente verificável é: 20 minutos gastos apenas nas tarefas de abrir a sala e ligar os computadores. A maior parte da aula é perdida no tempo de abrir e fechar o laboratório. A reorganização física dos prédios das escolas deveria ser tratada como ponto importante para que se inicie o envolvimento tecnológico, pois sem a infraestrutura física aparentemente encontramos dificuldade no acesso a esses recursos. Na maioria dos projetos de implementação da tecnologia, são criados laboratórios de informática, rede de acesso aos dados e acesso à rede de pesquisas (internet). Com o advento do uso dos smartphones e dos tablets com acesso à internet sem fio, muita coisa já mudou nas escolas, mas são mudanças que exigem outras. Assim, por exemplo, ao mesmo tempo em que é imprescindível haver internet de alta velocidade disponível com acesso via redes sem fios a alunos e professores, é igualmente fundamental que ela seja controlada, permitindo acesso a sites de uso educacional e profissional, mas restringindo sites de conteúdo pornográfico, racista etc. Nem o mobiliário atual atende às demandas para o ensino moderno, pensando em metodologias ativas e formas de trabalho. Dificilmente você verá salas de aulas preparadas para atender a essa 26 Unidade I demanda. O início do processo é reestruturar ou criar salas ambientes, seja parauso coletivo de tablets e chromebooks, ou ações de movimento maker (as fab labs), ou ainda para uso em metodologias ativas. Os laboratórios hoje existentes ou que venham a ser criados podem ser reaproveitados nesse processo. Observação Não é por serem antigas que as formas e as adequações ao trabalho pedagógico se perdem; o caminho é encontrar qual metodologia adequa-se melhor à estrutura que se tem. Tratar o mobiliário e valorizar os espaços de uso pode ser um ganho competitivo no aprendizado. Todas as escolas brasileiras estão centradas em salas de aula tradicionais, preparadas para aulas expositivas, nas quais o professor posiciona-se no centro e os alunos, enfileirados. Mesmo nessas salas pode-se inserir a tecnologia, com data shows, lousas digitais ou mesmo internet banda larga distribuída por wi-fi, permitindo o uso de pesquisas em aplicativos em tablets ou celulares. Exemplo de aplicação Entretanto, será que as escolas públicas dentro do território brasileiro têm essas ferramentas disponíveis a toda a comunidade escolar, de gestão, professores, alunos e equipe técnica? Você conhece alguma escola pública equipada com essas tecnologias? Figura 5 – Sala de aula tradicional com recursos tecnológicos Ademais, faz-se necessário discutir sobre o uso dos celulares: antes odiados, agora passam a ser uma ferramenta de apoio pedagógico. Para tanto, é preciso: 27 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM EDUCAÇÃO • ter atenção à estrutura física das escolas, a torná-la mais acessível e organizada; • facilitar o acesso aos laboratórios; • criar salas de aula mais funcionais e com conexões de rede locais (ou disponíveis em diversos pontos da escola), permitindo que professores e alunos desenvolvam pesquisas utilizando tablets, smartphones, microcomputadores ou notebooks. Paralelamente, caminhamos para formas de gestão menos centralizadas, mais flexíveis e integradas; para isso, seria necessário ter estruturas mais enxutas, trabalhando mais sinergicamente, concentrando maior participação dos professores, alunos, pais e comunidade, gerenciando atividades e proporcionando os rumos de cada instituição escolar, com a finalidade de obter uma maior integração, um acesso facilitado e garantir a qualidade da educação. A melhoria do espaço físico das escolas poderia ser facilitada se isso fosse bem planejado. Escolas eficazes não são necessariamente grandes, mas sim aquelas que utilizam de forma criativa seu espaço, transformando-o em um ambiente especial para a leitura, para as representações ou até mesmo para o convívio da comunidade. Além dos laboratórios de informática, que demandam no mínimo 25 computadores, podem ser adotadas melhorias de reorganização trabalhando com grupos nos moldes de salas de centro de aprendizagem. Cortelazzo (2018) explica que as salas de aula tradicionais podem se transformar, literalmente, em centro de aprendizagem (seja uma ou várias), proporcionando uma infinidade de atividades, desde seminários até espaços de convívio social. Para tanto, deve-se levar em consideração que a tecnologia deverá estar totalmente alinhada ao design do espaço como um todo, permitindo estudos individuais, em grupos ou que a turma toda seja dividida em múltiplos equipamentos e que todos possam estar conectados ao mesmo tempo. Apenas mover os moveis já possibilita criar ambientes de design mais flexíveis. Figura 6 – Sala de aula modelo centro de aprendizagem – metodologias ativas 28 Unidade I O ambiente de aprendizado learnlab da empresa Steelcase, por exemplo, leva em consideração uma sala de aula tecnologicamente aprimorada, projetada para facilitar o trabalho para palestras, projetos grupais, projetos de robótica e outras atividades, organizada em uma configuração adequada ao ambiente com exibições múltiplas que permitem ao professor apresentar o material em vários locais dentro da sala de aula e ter seu material visível a todos os alunos. Além disso, as lousas digitais possibilitam enviar aos alunos o que se insere no quadro branco via celular ou tablet a fim de aumentar a natureza colaborativa. Outros ambientes de aprendizado que são executados em sites on-line permitem o uso da internet para o ensino a distância. São ambientes gratuitos que permitem maior interação entre professores e alunos, seja no modo presencial (no laboratório da escola) ou a distância (em casa), e podem ser gratuitos ou pagos, como o Google Classroom, Ekstep, Edmodo, Classdojo, Moodle, Schoology, Seesaw e Blackboard. A seguir listamos algumas ferramentas de sala de aula para trabalho com alunos em ensino a distância e remoto: • Blackboard: recursos e ferramentas para fazer a transição e fornecer ensino e aprendizagem de qualidade on-line; • Centurytech: caminhos pessoais de aprendizado com microlições para abordar lacunas no conhecimento, desafiar os alunos e promover a retenção de memória a longo prazo; • Classdojo: conecta professores com alunos e pais para criar comunidades em sala de aula; • Edmodo: conecta professores com alunos e pais para criar comunidades em sala de aula; • EKStep: plataforma de aprendizado aberta com uma coleção de recursos de aprendizado para apoiar a alfabetização e o ensino de matemática; • Google Classroom: ajuda as turmas a se conectarem remotamente, se comunicarem e se manterem organizadas; • Moodle: plataforma de aprendizado aberto, orientada para a comunidade e com suporte global; • Schoology: ferramentas para apoiar instrução, aprendizado, classificação, colaboração e avaliação; • Seesaw: ferramentas para apoiar a construção de portfólios. Uma grande parte dessas melhorias do espaço físico das escolas já ocorreu em escolas onde houve a participação da comunidade. Contudo, não basta simplesmente ter computadores e programas para uso em atividades de ensino; é preciso também que esses computadores estejam interligados e em condições de acessar a internet e todos os demais sistemas e serviços disponíveis nas redes, multiplicando, assim, as possibilidades educativas. 29 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM EDUCAÇÃO É necessário também adequar a tecnologia ao alcance das expectativas de seu uso: telecomunicações, por exemplo, facilitam a coleta de dados e o acesso às informações da escola; o audiovisual favorece a apresentação explicativa e ilustrativa do real; e a informática pode colaborar para a classificação, a seleção e a simulação de situações. Uma sugestão de início de trabalho coletivo visando adequar o uso das tecnologias consiste no seguinte: alunos, professores, especialistas, diretores e comunidade de pais, juntos, em um processo de construção, podem criar uma equipe própria na escola, a qual, ao analisar a base tecnológica disponível (equipamentos e mídias), tome decisões quanto à escolha de ser ou não conveniente o uso de informática aplicada à educação, e ainda sugira possíveis adequações no projeto pedagógico, contando com o apoio de universidades ou de especialistas externos para assessoramento e suporte técnico voltado à tecnologia. Em conjunto, poderiam também analisar os problemas relativos às cargas horárias, hoje constituídas de “aulas” de 50 ou 100 minutos, e aqueles ocasionados por turmas grandes demais. Notadamente, o uso do computador e da internet no “curto período” da aula e para um número excessivo de alunos é totalmente inviável. Cada instituição de ensino deveria se atentar, no seu próprio projeto pedagógico, para a relevância a ser dada ao uso da tecnologia aplicada à educação, envolvendo professores, coordenadores pedagógicos e diretores, os quais, por meio de reuniões permanentes que provoquem atualizações nesses projetos, busquem acompanhar e melhorar todas as dificuldades encontradas no processo. O projeto pedagógico aparentemente é o modo de ser e de fazer da escola. O clima escolar positivo na escola como um todo envolveria alunos, professores, direção e equipe técnico-pedagógica, todos orientados para a superação dos desafios. A existênciaou não de locais de concentração e de circulação de alunos e professores, as cores das paredes, as distribuições dos ambientes dentro do espaço escolar projetam-se diretamente na produção e no estímulo dos que ali convivem. Esses fatores refletem-se na disposição para trabalhar e estudar e na própria qualidade do ensino e podem vir a definir a ação pedagógica. O ambiente pode influenciar o processo de aprendizagem do aluno, e as instalações condicionariam a integração da comunidade acadêmica com sua produção e pesquisa. O conjunto escola, alunos e comunidade é a aura da escola. Uma das soluções viáveis é a utilização de monitores (professores ou profissionais auxiliares), contratados ou terceirizados, colaboradores que venham de projetos sociais ou até mesmo os próprios alunos, para fazer manutenções nos laboratórios, nos computadores e equipamentos móveis. Os equipamentos tecnológicos devem estar sempre limpos, carregados, com programas adequados e em pleno funcionamento. O controle do patrimônio também é importante, e a sua manutenção é vital para escola. Em contrapartida, com o envolvimento cultural e o uso de novas ferramentas móveis (tablets, chromebooks, celulares e outros) será necessário o uso de aplicativos ou de internet conectada via wi-fi ou móvel. 30 Unidade I Lembrete É importante frisar: a internet deve ser filtrada, para que ofereça acesso apenas a itens interessantes e condizentes com a educação. Se tudo isso for levado em conta, o professor não perderá tempo com ações que não são seu papel, como preocupar-se com o acesso dos dados, pois o controle é do link. Dessa forma, o acesso é de responsabilidade da escola, que buscará profissionais para coordenar essas ações. 2.2 O papel da administração escolar no envolvimento tecnológico e na inovação [...] o envolvimento dos gestores escolares na articulação dos diferentes segmentos da comunidade escolar, na liderança do processo de inserção das TICs na escola em seus âmbitos administrativo e pedagógico e, ainda, na criação de condições para a formação continuada e em serviço dos seus profissionais pode contribuir, e significativamente, para os processos de transformação da escola em um espaço articulador e produtor de conhecimentos compartilhados (ALMEIDA, 2004, p. 2). Os principais problemas encontrados nas escolas quanto à utilização das tecnologias são falta de acesso, apoio técnico inadequado, tempo insuficiente para aprendizagem e planejamento. O envolvimento da direção e da coordenação nos cursos de capacitação auxilia na disseminação da ideia de utilização da tecnologia como ferramenta de apoio no ensino-aprendizagem. Além de frequentarem os cursos de capacitação em informática na educação, é de vital importância que os professores estejam dispostos a colaborar nos aspectos de diminuição dos problemas de acesso à tecnologia, providenciando apoio técnico necessário, mostrando interesse pelo assunto e pelos projetos que venham a surgir com o uso da informática e até mesmo reservando tempo de aprendizagem para si mesmos. As mudanças na educação dependem também de termos administrativos, esperando que os dirigentes da instituição entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo educacional, dando apoio aos professores a fim de equilibrar o gerenciamento empresarial, tecnológico e humano e contribuir para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação na escola. Possivelmente, com essas mudanças, diretores e coordenadores passarão a procurar formas de tornar viável o acesso frequente e personalizado de professores e alunos às novas tecnologias. Além disso, é imprescindível que: • haja laboratórios bem equipados e salas conectadas à internet adequadas para pesquisa; • seja facilitada a aquisição de microcomputadores por meio de financiamento público, privado, com juros baixos e com o apoio de organizações não governamentais. 31 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM EDUCAÇÃO Aos diretores, um ponto importante é verificar se a escola aderiu ao Programa de Inovação Educação Conectada, pois ela deve fazê-lo para poder receber os seus benefícios. Também deve acompanhar de perto as ações do plano e verificar como pode evoluir a cada momento. Cabe ao município ou ao estado, a depender da setorização da rede, garantir o suporte e a manutenção dos equipamentos, bem como o gerenciamento das redes. O programa permitirá ganhos de conhecimento. A vivência de gestores de tecnologia das redes estaduais e municipais de ensino foi fundamental para a identificação das realidades educacionais locais que embasaram a elaboração de estratégias nacionais para inovar na educação. O projeto aponta melhorias de gestão das redes de ensino, com a formação de um banco de dados de informações para tomada de decisão em nível educacional. Também está previsto o acesso à educação continuada aos gestores e professores. O projeto aponta ainda para o potencial da tecnologia a favor da educação, que será concretizado ao atingir quatro dimensões: • visão; • competências de gestores e professores; • acesso e qualidade de recursos educacionais digitais; • infraestrutura. E se a escola ainda não está inscrita ou não foi selecionada no projeto, tudo se perdeu? Não, o projeto cresce a cada ano, e espera-se chegar até 2024 contemplando todas as escolas urbanas e rurais. Cabe ao diretor local sempre se inscrever sempre no processo. E se a escola onde você atuar não estiver no projeto, outras soluções podem ser empregadas, desde que a internet seja controlada, pois há um alto risco em apenas distribuir os acessos ou liberar o uso de celulares de modo indiscriminado. Se existe hoje internet banda larga e wi-fi na escola ou em laboratório, é muito importante colocar aplicativos ou equipamentos que permitam o controle do acesso aos dados. É, assim, papel do diretor preocupar-se com a qualidade de acesso e com o uso controlado da internet ou celular nas salas de aula. Também há formas de incentivar os alunos a utilizarem a tecnologia de outros modos, com atividades de metodologias ativas, ou movimento maker sustentável, que podem proporcionar recursos de aprendizado auxiliares. Se os docentes apresentarem aulas inovadoras, verificarem o projeto, acompanharem os estudantes de perto e discutirem essa questão nos horários de trabalho coletivo, os projetos podem ser inovadores e incentivar o uso de tecnologias simples na melhoria do aprendizado. Observação Deve-se destacar que são necessárias estratégias pedagógicas e que elas podem auxiliar o professor e tornar a inovação o foco de aprendizado. 32 Unidade I Não se pode olhar para trás em direção à escola que continuava focada no passado, ancorada, limitando-se a escrever, ler, contar e receber passivamente as informações. É necessária uma ação mais ativa, desde os anos iniciais de aprendizagem, criando condições para que os alunos e professores possam participar mais ativamente do processo, o que, como enfatizamos, exige mudanças práticas e o desenvolvimento de estratégias que garantam o aprendizado. Convém, neste ponto, trazer o conceito de inovar de Camargo e Daros: Inovar é uma palavra derivada do latim in + novare, cujo significado é fazer o novo, renovar, alterar a ordem das coisas, ou, de maneira simplificada, ter novas ideias, ou mesmo aplicar uma ideia já conhecida em um novo contexto (CAMARGO; DAROS, 2018, p. 4). Para os autores, o passado nem sempre servirá para o presente e este último não necessariamente terá serventia para o futuro. O Manual de Oslo, um documento de referência internacional para coleta e análise dos dados de inovação, citado pelos mesmos autores, define que: [...] é por meio da inovação que novos conhecimentos são criados e difundidos, expandindo potencial econômico para o desenvolvimento de novos produtos e de novos métodos produtivos de operação [...] esses melhoramentos dependem não apenas de conhecimento tecnológico, mas também de outrasferramentas de conhecimento que são usadas para desenvolver inovações de produto, processo, marketing e organizações (CAMARGO; DAROS, 2018, p. 4). Olhando para o contexto pedagógico, a inovação trata de intervenções únicas ou coletivas, decisões e processos que tenham um grau de intenção e sistematização para modificar atitudes, ideias, culturas, conteúdos, modelos e práticas pedagógicas em novos modelos didáticos e de ensino-aprendizagem, inserindo novos contextos no currículo, na escola ou na dinâmica da classe. O modelo de inovação educacional – ou nova estratégia – deverá envolver o planejamento sistêmico do ensino, tendo como ponto-chave que a educação seja o eixo norteador, adequando a ele a função da escola e os resultados que serão propostos. Deverá, ademais, levar em conta quais serão os sujeitos da criatividade, motivadores de ideias e conhecimento, e que materiais serão necessários. Portanto, a inovação necessita ter espaço nas escolas, e especialmente com o diretor e o coordenador pedagógico. É necessário compreender que, para inovar, mudanças e sugestões de planos de professores surgirão ao elaborar o projeto político pedagógico ou o planejamento escolar. Verificar se estão condizentes e de acordo com o eixo delineador da proposta educacional é ponto vital para que não haja exageros ou erros. É interessante ter em vista que surgirão propostas de mudanças para aprendizagem mais significativa, baseadas em processo de ensino-aprendizagem em grupos, com mais de um professor em sala de aula, 33 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM EDUCAÇÃO novos projetos, tarefas, soluções que buscarão casos em problemas reais e tendo como foco engajar alunos, responsabilizar a aprendizagem e promover o protagonismo estudantil. Também surgirão propostas de ensino híbrido, apontando modos de aprendizado mais eficientes, personalizados e interessantes, aderindo às necessidades reais; ou de aprendizagens baseadas em projetos, em que os exercícios de exploração geram questões orientadoras e de aprofundamento de estudos que proporcionarão aos alunos e professores apresentações e discussões que, diante da apresentação aos demais envolvidos ou à comunidade externa, como fruto do seu esforço para outras pessoas, aumentará a motivação e a qualidade de pesquisa. Camargo e Daros (2018) afirmam que, para que o processo de inovação ocorra, será necessário envolver novos recursos tecnológicos e novas estruturas que possibilitem a interação, pois assim nascerão novos modelos de formação de docentes para se adequar a esses novos saberes. 3 A PARTICIPAÇÃO DOS EDUCADORES A organização traduz um aspecto importante da competência democrática, por coerência participativa, bem como por estratégias de mobilização e influência. Não se interessar por formas de participação organizada significa já uma visão ingênua do processo social, porque, por mais crítica que seja a cidadania individual, não quer dizer que tenha relevância social como estratégia de transformação (DEMO, 1988, p. 70). O novo educador é um profissional em constante mudança, passando a ser o intermediário entre o conhecimento acumulado, o interesse e a necessidade do aluno. Nessa perspectiva, Phillipe Perrenoud (2000), sociólogo suíço e referência essencial aos educadores, devido às ideias pioneiras sobre a profissionalização de professores, acredita ser necessário que o uso da tecnologia seja uma competência do professor, de modo que ele atinja uma atitude desafiadora e assuma uma postura de aprendiz ativo, crítico e criativo. A escola não pode ignorar que as novas tecnologias de informação e da comunicação afetam o mundo, pois estas transformam as maneiras de comunicar, de trabalhar, de decidir e de pensar. Para Perrenoud (2000), o professor necessita utilizar os aplicativos para explorar todas as potencialidades didáticas dos programas de computador em relação aos objetivos do ensino, adicionando-se as formas de comunicação a distância por meio da telemática e as ferramentas multimídia no ensino. Os avanços das ciências e das tecnologias fazem com que a educação assuma um caráter de recomeço da renovação sempre, pois possui papel de transformar criticamente a realidade por meio da construção e disseminação do conhecimento. A colocação do microcomputador na sala de aula não garante um ensino inovador crítico e transformador: a sociedade do conhecimento exige dos professores e dos alunos autonomia e produção própria, baseada na modernidade, analisando a proposição metodológica do “aprender a ensinar”. 34 Unidade I O desafio de “aprender a ensinar” é acoplado à habilidade ou ao atributo indispensável ao professor que, aqui, muito mais do que um portador de conhecimento, deverá ter um papel de gerenciador da circulação e da construção desse conhecimento, assim como o de um orientador da aprendizagem. Para um professor não é possível separar as dimensões pessoais e profissionais; e essas dimensões são a forma pela qual cada um vive a profissão de professor. Tão ou mais importante do que as técnicas que aplicam ou os conhecimentos que transmitem, os professores constroem sua identidade por referência aos saberes (práticos e teóricos), mas também por um conjunto de valores. A tecnologia pode auxiliar, contudo, para que seu uso seja efetivo, é necessário que os professores estejam preparados ou capacitados. Atualmente o educador cria, organiza e promove o ambiente tecnológico através de atividades que facilitam o processo de ensino-aprendizagem, fornecendo recursos para que o aluno desenvolva ao máximo o processo de aprender. Há professores que resistem ao trabalho realizado no laboratório de informática, não querem se envolver, e, mesmo quando aceitam o trabalho, acreditam que este é independente das atividades curriculares, delimitam o uso como reforço, enquanto outros procuram os laboratórios para realizar um trabalho integrado, inserindo-se em projetos, de modo que a sua função passa de apenas “lecionar a incentivar os demais professores”. Outro ponto a ser incluído nesta reflexão diz respeito à formação do professor. Simplesmente ter um curso superior na área de educação e participar dos componentes curriculares de informática na faculdade, quando estas existem no currículo, não garante em nenhum momento que esses professores estão prontos para realizar as tarefas de ensino de informática na educação. Daí a necessidade de um processo permanente de capacitação, monitoramento e estruturas de apoio docente, em que possam ser desenvolvidas as dimensões técnico-didáticas (campo científico específico), pedagógicas (campo das teorias e práticas educacionais) e tecnológicas (campo das novas tecnologias). Ao professor cabe o papel de facilitar, supervisionar, ser consultor do aluno no processo de resolver o seu problema, e não somente transmitir informação ao aluno; o professor deverá se concentrar em propiciar ao aluno a chance de construir o próprio conhecimento, convertendo a enorme quantidade de informação adquirida em conhecimento aplicável na resolução de problemas de seu interesse. Ao trabalhar nessa construção de conhecimentos, é necessário conhecer o aluno, incentivando a reflexão e a crítica e permitindo que ele passe a identificar os próprios problemas em sua formação. A questão da qualificação e da carreira docente sempre precisou ser repensada e tratada com base em uma perspectiva mais aberta, flexível. São necessários docentes qualificados, recursos tecnológicos, clima intelectual sério e responsável, caracterizando o cotidiano do trabalho acadêmico. É fundamental a valorização da atuação desse professor, ou seja, é preciso que entes governamentais e sistemas de ensino invistam tanto na sua formação continuada (incluindo a sua capacitação) quanto na promoção de condições adequadas de trabalho. José Manuel Moran, um dos maiores especialistas no uso da internet em sala de aula, discorre em seus livros que esse investimento transforma o professor no gerenciador
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