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DIREITO TRIBUTÁRIO 2021 Unidade Faculdade Sul Fluminense Curso de Graduação em Administração AD3A JENNIFFER REIS PEREIRA ROCHA DA CUNHA O aluno deverá elaborar uma pesquisa sobre: Taxa de incêndio, taxa de iluminação pública e taxa de esgoto. Dentre a pesquisa colocar os entendimentos jurisprudenciais (dos tribunais) TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa. Art. 79. Os serviços públicos a que se refere o artigo 77 consideram-se: I – utilizados pelo contribuinte: a) efetivamente, quando por ele usufruídos a qualquer título; b) potencialmente, quando, sendo de utilização compulsória, sejam postos à sua disposição mediante atividade administrativa em efetivo funcionamento; II – específicos, quando possam ser destacados em unidades autônomas de intervenção, de unidade, ou de necessidades públicas; III – divisíveis, quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de cada um dos seus usuários. Os serviços públicos, quanto à forma de sua fruição, podem ser divididos em duas categorias, os uti singuli; e os uti universi. Segundo Hely Lopes Meirelles (2006:293) os últimos “são aqueles que a Administração presta sem ter usuários determinados, para atender a coletividade no seu todo, como os de polícia, iluminação pública, calçamento, e outros dessa espécie” já os uti singuli, segundo Roque Cazzarra (2003:471) compreendem “as atividades voltadas a procurar utilidades específicas para determinados cidadãos que se servem do serviço público oferecido pela Administração. Trata-se, pois, de atividades que se convertem num benefício desfrutado pelos cidadãos uti singuli.” As prestações gerais (uti universi) devem sempre ser custeadas por via de impostos, pois representam serviços indivisíveis como a segurança pública ou a educação, pois com refere Roque Antonio Cazzarra (1997:312), são “prestados uti universi, isto é, indistintamente a todos os cidadãos. Eles alcançam a comunidade, como um todo considerada, beneficiando número indeterminado (ou, pelo menos, indeterminável) de pessoas. É o caso dos serviços de iluminação pública, de segurança pública, de diplomacia, de defesa externa do País etc. Todos eles não podem ser custeados, no Brasil, por meio de taxas, mas, sim, das receitas gerais do Estado, representadas, basicamente, pelos impostos. ” Os Desembargadores do Órgão Especial do TJRS julgaram inconstitucionais artigos da Lei Municipal de Viamão nº 2.069/1990, que trata do Código Tributário Municipal. Foram declarados inválidos os dispositivos que preveem cobrança de taxa de expediente, em determinadas hipóteses, e taxa de serviços urbanos (decorrente dos serviços de limpeza e conservação de logradouros e iluminação pública). Com relação à taxa de serviços urbanos, a PGJ afirma que o serviço de limpeza e conservação de ruas, bem como a iluminação pública detém caráter universal e indivisível. As taxas são tributos vinculados, ou seja, o respectivo fato gerador deve manter relação direta com a utilização, provocação ou disposição, ao contribuinte, do serviço ou atividade prestada pelo Estado. "Verifica-se, portanto, que o direito de petição é garantia constitucional e não pode ser condicionada a qualquer contraprestação pecuniária. Assim, qualquer cobrança de taxa pela Administração Pública para fornecer certidões/documentos nos termos supracitados se mostra inconstitucional", afirma o relator. O magistrado também destacou que a impossibilidade de cobrança de taxa em virtude da emissão de guia para pagamento de tributo já restou sedimentada pelo Supremo Tribunal Federal. Com relação à taxa de serviços urbanos, o Desembargador esclarece que taxa é espécie tributo cujo fato gerador pode ser o exercício efetivo e regular do poder de polícia ou então a utilização, efetiva ou potencial, de qualquer outro serviço público, específico e divisível, posto à disposição do contribuinte. "Portanto, a taxa somente pode ser imposta quando presentes os requisitos da especificidade e divisibilidade. Isso porque o serviço de coleta de lixo, por exemplo, é prestado" uti singuli ", enquanto que a conservação de pavimentação e vigilância é" uti universi ". O primeiro específico e divisível, e o último, inespecífico, em benefício da população em geral", explicou o relator. Além disso, destaca o Desembargador, o STF já consolidou entendimento no sentido de que o serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa. TAXA DE ESGOTO Não há como se confundir as taxas com as “tarifas”, também chamadas de “preços públicos” ambos guardam semelhança por envolverem a prestação de serviços públicos, contudo não se confundem. As taxas são prestações compulsórias, sendo irrelevante a vontade do sujeito, ao passo que os preços públicos, são facultativos, dando ao consumidor a opção de não receber o serviço e, em não recebendo, não ser cobrado. As taxas tem regime tributário, ao passo que as tarifas tem regime contratual, as taxas a autonomia da vontade é irrelevante, há uma relação de sujeição, nas tarifas, pelo contrário a vontade do consumidor é essencial para a relação, por fim, as taxas se legitimam pela mera disponibilidade do serviço, ao passo que as tarifas somente se legitimam com a efetiva prestação dos serviços. A súmula 545 do STF deixa clara a sua distinção: Súmula 545. Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e tem sua cobrança condicionada a prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu. Em relação ao fornecimento de água e tratamento de esgoto, a posição do Superior Tribunal de Justiça (REsp 1492573/RS) e do Supremo Tribunal Federal (AI 753964) é no sentido de que tal cobrança tem natureza jurídica de tarifa e não de taxa, regendo- se, portanto, e especialmente, em relação ao regime de prescrição, pelo art. 206 do CCB/02 e não o art. 174 do CTN, entendimento, inclusive consolidado no STJ na Súmula 412: Súmula 412. A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita- se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil. A competência para a previsão de taxa de água e esgotos é do Município. Se no Município inexistir norma legal criando e instituindo taxa de fornecimento de água ou de coleta e tratamento de esgotos, a cobrança de remuneração esbarra no princípio constitucional da legalidade (art. 150, I, da CF), tendo em conta que é vedado ao Poder Público exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. De acordo com WALTER FOLETO SANTIN, Promotor de Justiça de São Paulo. Sabe-se que as concessionárias aumentam os valores constantemente, sem atentar para a obrigatoriedade de lei estabelecendo o aumento ou à vedação de cobrança no mesmo exercício financeiro (art. 150, III, "a" e "b", da Carta Magna). A propósito, os aumentos ilegais dos valores cobrados dos consumidores são fixados pela própria concessionária, fato que reforça a tese de cuidar-se de serviços públicos passíveis da cobrança de taxa (dependente do preenchimento de todos os requisitos constitucionais) e não de tarifa, pois inexistente a liberdade das partes estabelecerem o valor dos serviços públicos nem as condições da atuação estatal, por via de concessionária. Além de todas essas irregularidades, ilegalidades e inconstitucionalidades, em condições de fulminarem facilmente a obrigação de remunerar os serviços públicos de esgotos, para a própria cobrança de taxa faltam os requisitos constitucionais da divisibilidade e especificidade (art. 145, II). Não é utilizado medidor para aferir quanto cada domicílio produz de matéria orgânica e outros detritos encaminhados aos esgotos. E as águas gastas na lavagem de carros, calçadas e jogadas no quintal, nas hortas, plantas, verduras e flores como ficam, poisnão se endereçam aos esgotos ? Por que 80% ou 100% e não 50%, 30%, 20%, 10%, 5% ou uma quantia igual para todos? Inexiste lei a respeito. Portanto, os serviços públicos de abastecimento de água e ligações de esgotos, para receber e conduzir os despejos, são obrigatórios e compulsórios, sem condições de opção pelo consumidor do seu recebimento ou não, indicando seguramente a condição de serviços públicos esssenciais e primários, remuneráveis por taxa. TAXA DE INCÊNDIO Em agosto de 2020, o Supremo Tribunal Federal julgou a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº. 4.411, entendendo ser inconstitucional a cobrança da taxa de incêndio, por 6 votos a 4. A ação foi movida pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil - CF/OAB, que questionou os requisitos da taxa (especificidade e divisibilidade), além de afirmar ser um tributo não compatível com o financiamento de serviços de segurança pública. Foi arguida, também, afronta ao artigo 144, caput, inciso V, § 6º e 145, inciso II, § 2º, da CF. Pontos que levam a assertividade da decisão do STF As taxas têm caráter contraprestacional, sinalagmático e devem ser cobradas do contribuinte pela utilização de serviços públicos específicos e divisíveis. O Corpo de Bombeiros é uma das corporações elencadas no artigo 144, da Carta Magna, como responsáveis pela segurança pública, a qual é exercida “para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”, conforme afirma o caput do dispositivo. Além da Lei Maior Federal, cabe analisar também o que traz a Constituição do Estado de Minas Gerais no tocante à atividade do Corpo de Bombeiros: “Art. 142 – A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar, forças públicas estaduais, são órgãos permanentes, organizados com base na hierarquia e na disciplina militares e comandados, preferencialmente, por oficial da ativa do último posto, competindo: [...] II – ao Corpo de Bombeiros Militar, a coordenação e a execução de ações de defesa civil, a prevenção e combate a incêndio, perícias de incêndio, busca e salvamento e estabelecimento de normas relativas à segurança das pessoas e de seus bens contra incêndio ou qualquer tipo de catástrofe;” Capta-se da leitura do texto que os constituintes federais e estaduais elencaram como parte da segurança pública a extinção de incêndios, visando, assim, a preservação das pessoas e do patrimônio. Escreve Leandro Paulsen sobre o tema: “Não se admite, porém, a cobrança de taxa pela prestação de serviços que a Constituição diz serem deveres do Estado e direito de todos, tais como os de saúde e de segurança, devem ser prestados gratuitamente, não podendo dar ensejo à instituição e cobrança de taxas.” (2021, p. 26) Portanto, o combate a incêndios é dever do Estado, de interesse geral, não sendo possível a sua individualização, elemento que, como visto, é essencial para a caracterização da taxa. Inclusive, esse já era o entendimento sido consolidado pela Corte Suprema desde 2017, quando do julgamento do RE 643.247, de relatoria do Ministro Marco Aurélio Mello - também relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade objeto do presente estudo - que assim votou: “A segurança pública, presentes a prevenção e o combate a incêndios, faz-se, no campo da atividade precípua, pela unidade da Federação, e, porque serviço essencial, tem como viabilizá-la a arrecadação de impostos, não cabendo ao Município a criação de taxa para tal fim.” Tanto a especificidade quanto a divisibilidade não são vistas na taxa em questão, pois não há como dimensionar quem serão os contribuintes que irão usufruir do serviço. Refere-se aqui a atos de interesse público, logo toda a sociedade irá desfrutar dos benefícios destes. O serviço de segurança pública, como o desempenhado pela polícia civil ou militar, é um serviço prestado para manter a ordem pública, das pessoas e do patrimônio, não sendo possível dizer que somente um número específico de cidadãos irá gozar dos benefícios que a execução daquele serviço trará. Luciano Amaro dispõe com maestria: “Os impostos se destinam a financiar as atividades gerais e indivisíveis do Estado, enquanto as taxas objetivam financiar serviços divisíveis do Estado, mediante a cobrança das pessoas que se beneficiam desses serviços, com o que se evita onerar todos (por meio de impostos) com o custo de serviços que só aproveitam a alguns. À vista disso, se determinado serviço estatal é posto à disposição de um grupo de indivíduos da comunidade, é de justiça que o serviço seja financiado pelos indivíduos integrantes desse grupo que dispõe do serviço. Não seria justo que toda a comunidade suportasse o custo do serviço que só atinge parte dela. Mas também não seria justo deixar de cobrar a taxa dos indivíduos integrantes do grupo a cuja disposição está posto o serviço”. E completa: “Ora, quanto aos serviços (divisíveis) que o Estado põe à disposição de toda a comunidade, se se quiser cobrar de todos os membros da comunidade, não é preciso criar taxas; eles podem ser financiados com os impostos. A razão de ser taxa está exatamente em que ela pode ser cobrada apenas de quem efetivamente utilize o serviço”. (grifo do autor) (2010. pg.62) Portanto, trata-se de serviço que não pode ser remunerado através de taxa, havendo evidente afronta ao texto constitucional e, por isso, outra não poderia ser a decisão senão pela inconstitucionalidade da Taxa de Incêndio instituída através da Lei Mineira 14.938/2003. BIBLIOGRAFIA https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/as-taxas-e-a-jurisprudencia-do-supremo- tribunal-federal/ https://www.apmp.com.br/juridico/santin/artigos/ilegalidade_cobranca_esgotos.htm https://www.jusbrasil.com.br/noticias/busca?q=LEGALIDADE+DA+COBRAN%C3%87 A+DE+TAXA+DE+ILUMINA%C3%87%C3%83O+P%C3%9ABLICA
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