Mundo VUCA

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Mundo VUCA: o papel da liderança neste novo cenário
Sendo a complexidade uma condição da vida moderna, sabemos que todas as coisas são passíveis de mudança: não há estabilidade, os cenários se transformam rapidamente, e este dinamismo requer novas habilidades dos gestores e colaboradores. O mundo VUCA é um conceito utilizado para classificar o contexto de caos e de imprevisibilidade no meio corporativo.
Muito se tem falado sobre a transformação digital, mas na prática, a reinvenção e adaptação dos modelos de liderança e gestão não acontecem sem conflitos. Neste artigo, vamos explorar detalhadamente o conceito do mundo VUCA, sua aplicabilidade no dia a dia das empresas, quais são as habilidades requeridas dos profissionais, e como criar um ambiente favorável para o desenvolvimento dessas novas competências. Acompanhe!
O que é o Mundo VUCA?
A expressão “VUCA” foi utilizada pela primeira vez na década de 90, após o fim da Guerra Fria, nos Estados Unidos. Seu objetivo era apontar aspectos fundamentais do cenário que o país deveria enfrentar, realizando os planos contingência, para posicionar-se estrategicamente.
A partir do atentado de 11 de Setembro, a instabilidade deixou de ser uma circunstância de guerra para se tornar o dia a dia enfrentado pelas forças de segurança. E este contexto passou a afetar não somente a rotina militar, mas também a dos cidadãos comuns.
O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman descreveu essa nova realidade como “modernidade líquida”. Segundo ele, nós vivemos em uma sociedade em que não há solidez, e tudo pode se transformar a qualquer momento – fato este que também nos obriga a mudar.
A aplicação do termo VUCA no âmbito empresarial se deu logo após a crise econômica de 2008. De lá pra cá, a transformação digital, o alto volume de dados e os novos comportamentos e exigências do consumidor, têm tensionado as empresas a modificar seus modelos de gestão para sobreviver às inconstâncias desta realidade.
O significado de cada conceito em VUCA
Volatilidade (Volatility)
O mundo se tornou fugaz. O conceito de volatilidade está relacionado à velocidade da ocorrência de mudanças e aos impactos gerados por elas. Sentimos isso na prática: tudo muda tão rapidamente, que temos a sensação de não haver tempo para acompanhar os acontecimentos.
O mundo é fluido, líquido, e passível de mudanças rápidas. As tecnologias, tendências e preferências são inconstantes, e essa instabilidade faz com que o meio empresarial seja extremamente desafiador. Como não podemos controlar a volatilidade, o que podemos fazer é nos abrir para ao novo, primando pelo crescimento ao invés do conformismo.
Incerteza (Uncertainty)
Trata-se aqui das dúvidas, indecisões e imprevisibilidade naturais de um contexto em que os conhecimentos são incompletos. Mesmo que tenhamos hoje uma quantidade sem precedente de dados, é muito difícil prever cenários futuros, justamente por causa dessa incerteza que permeia nossa realidade. 
Temos dificuldade de enxergar para onde vamos e qual será o próximo passo. Muitos acontecimentos podem mudar drasticamente a dinâmica socioeconômica, trazendo a necessidade de adaptação. 
Complexidade (Complexity)
Os problemas geralmente são complexos e não são tão fáceis de resolver. Existem muitas interdependências. É comum encontrarmos contextos que possuem múltiplos aspectos ou elementos cujas relações são incompreensíveis ou confusas.
A complexidade aqui é a dificuldade da compreensão do resultado das interações entre as inúmeras variáveis. Ou seja, não existe apenas uma resposta correta, mas sim, diversas possibilidades de resposta. Essa característica mostra que há diversos fatores que podem afetar o negócio e, não raramente, estar fora do controle da liderança.
Ambiguidade (Ambiguity)
Em razão das incertezas e falta de clareza no mundo empresarial, torna-se cada vez mais difícil encontrar uma coerência nos acontecimentos para buscarmos a melhor solução. Não existe mais “isso ou aquilo”, mas sim “isso e aquilo”. 
Todas as características dos conceitos anteriores culminam na ambiguidade. O que temos são possibilidades e caminhos, e tanto as pessoas quanto as empresas devem fazer uma escolha consciente, optando por uma direção em detrimento de outra.
Como podemos permanecer capazes de agir e perseguir nossos objetivos, apesar deste ambiente ambíguo? Para reduzir o nível de ambiguidade, os líderes precisam tomar medidas proativas em direção à visão que têm do futuro.
Matriz Mundo VUCA
Podemos representar VUCA através de uma matriz que faz a correlação entre o conhecimento que temos sobre uma determinada situação e a previsibilidade dos resultados possíveis de nossas ações. Cada cenário requer uma estratégia de abordagem diferente. Veja a ilustração abaixo:
Em uma situação da qual temos muito conhecimento e ampla noção da previsibilidade de nossas ações, podemos dizer que estamos em um contexto Volátil. Neste cenário, a confiança na liderança é primordial. Entretanto, sabemos que as coisas podem mudar rapidamente e as certezas e conhecimentos podem tornar-se obsoletos.
O quadro de Incerteza é fruto de situações com ações de resultados imprevisíveis, mesmo que tenhamos muito conhecimento sobre elas. Se nos encontramos com incertezas, a saída  é agir com entendimento: parar, analisar as variáveis ​​e reduzir a falta de informação.
Já a situação de Complexidade, ocorre quando possuímos pouco conhecimento sobre determinados contextos, mesmo que saibamos com bastante precisão os resultados de nossas ações. Quando estamos em um cenário de complexidade, o ideal é atuar com clareza, tomando as decisões com todas as informações que possuímos. É importante agir com o máximo transparência, para construir um ambiente de confiança e colaboração.
O quadro de Ambiguidade, por sua vez, é decorrente de cenários em que temos pouca previsibilidade das ações e baixo conhecimento. Neste caso, é recomendável trabalharmos baseados na agilidade e com ênfase na equipe de trabalho, priorizando uma boa comunicação interna para rápida adaptação às mudanças.
Quais são as principais habilidades requeridas dos profissionais no Mundo VUCA?
Como vimos, a velocidade com que as mudanças acontecem exige que as empresas busquem soluções criativas, inovadoras, e ágeis. Abre-se, então, uma oportunidade para a cultura do intraempreendedorismo, ou seja, a criatividade das equipes deve promover os resultados para a empresa. Listamos algumas das principais competências e habilidades para os profissionais neste ambiente:
Liderança por propósito
Saber liderar com propósito, tomando decisões de acordo com as estratégias do negócio, é a melhor forma de conseguir motivar equipes, mudar atitudes, buscar oportunidades,  solucionar problemas, e aumentar a iniciativa, o engajamento e a inovação. Neste modelo de gestão, há clareza dos propósitos e resultados esperados. As pessoas se engajam em causas que as inspiram, e não em tarefas que lhes são impostas.
Adaptabilidade Proativa
O que diferencia esta competência da adaptabilidade tradicional, é que a proatividade faz com que o profissional, além de se adaptar às mudanças, busque aprender aquilo que o amanhã vai precisar. Ou seja, ele busca identificar as oportunidades e desafios do futuro com base em tendências, dados e informações, e a partir daí, tem a iniciativa de preparar-se antecipadamente para os possíveis cenários.
Resiliência evolutiva
Imprescindível para que se possa desenvolver uma postura otimista e enxergar as crises como oportunidade de crescimento, a resiliência evolutiva é uma habilidade extremamente útil para trabalhar com as pressões e incertezas impostas em um mundo que muda tão rapidamente.
Além de resistir às dificuldades, é importante aprender com as experiências, entender as oportunidades de desenvolvimento e buscar a melhoria, para evoluir a partir de cada novo obstáculo.
Visão estratégica
Analisar as possibilidades, identificando oportunidades e ameaças para os negócios é fundamental para planejar estratégias inovadoras e ter vantagens competitivas no mercado.
Pensamentocrítico no Mundo VUCA
Para tomar as melhores decisões, o pensamento crítico, questionador e analítico, será importante para enxergar o cenários sob diversas óticas e perspectivas, facilitando na escolha da melhor decisão.
Co-Criação e Prototipagem Rápida 
Trata-se da habilidade de ser criativo e inovador, através da conexão com outras pessoas. As pessoas unidas, em equipes e redes de colaboração, são mais eficientes para propor soluções. Uma das maneiras mais poderosas de navegar na complexidade é co-criar visões alternativas do futuro com outras pessoas.
Como criações devem ser testadas antes da utilização em larga escala, é importante trabalhar com versões ágeis, para tentativas e erros, possibilitando a aprendizagem contínua.
Trabalho em equipe no Mundo VUCA
A conexão entre pessoas de diferentes áreas do conhecimento é extremamente enriquecedora aos negócios. Comunicar-se claramente e ter habilidade para trabalhar em equipe é, sem dúvida, uma característica imprescindível aos profissionais do mundo VUCA.
Empatia multifocal
Colocar-se no lugar do outro, sabendo que pessoas são diferentes e têm visões, desejos e necessidades também diferentes. Possuir empatia “multifocal” é conseguir enxergar sob diversos focos distintos, e compreender o ponto de vista dos outros.
Recapacitação (Reskilling)
É a construção de novas habilidades, ou seja, uma reinvenção de si mesmo, buscando o desenvolvimento pessoal e descartando antigas certezas. Em suma, “ser um eterno aprendiz”. 
Todo aquele que sustenta conhecimento em opiniões, se satisfaz como um falso saber e se afasta da verdade. Para Sócrates, filósofo grego e autor da célebre frase “Só sei que nada sei”, há uma compreensão sobre a necessidade de questionar as certezas, opiniões e preconceitos. A tomada da consciência do “não-saber”, é o primeiro passo para reinventar-se.
Como criar um ambiente corporativo favorável para o desenvolvimento dessas novas habilidades?
A não aceitação e a falta de abertura para o que é novo, é um dos maiores obstáculos enfrentados para o desenvolvimento de novas habilidades. A barreira da adaptação às novas demandas e oportunidades do mercado, associados à cultura do apego às fórmulas antigas de sucesso, sintetizam hoje um grande risco para as empresas. Isso porque, se antes as soluções eram consistentes o suficiente para serem duradouras, agora é preciso nos reinventarmos tempo todo, e buscarmos resultados de uma forma criativa e eficaz.
Essas tensões colocam a prática da liderança organizacional em uma nova perspectiva, destacando a necessidade de transformar as antigas crenças em novas formas de enxergar as situações. Algumas das principais ações para favorecer o desenvolvimento de novas competências, são:
· Orientar equipes para relacionamentos de colaboração, a fim de criar soluções estratégicas e inovadoras;
· Buscar significado e propósito para atender às necessidades de pertencimento, aprendizado, co-criação e realização dos colaboradores;
· Estabelecer a liderança horizontal para desenvolver culturas ágeis e resilientes;
· Desenvolver procedimentos para explorar e atender às expectativas dos clientes, criando valor real e impacto sustentável na sociedade;
· Criar um ambiente para conversas dialogadas e colaborativas, para aceitar múltiplas verdades e gerenciar interesses conflitantes.
Conclusão sobre a importância do Mundo VUCA
O futuro do trabalho está mudando, estabelecendo um novo significado ao conceito de “liderança”. Modelos de trabalho em rede estão surgindo para substituir as estruturas hierárquicas tradicionais. A liderança está se tornando uma habilidade requisitada dos profissionais, para que possam colaborar, entregar e inovar, mudando e desafiando constantemente o ambiente corporativo.
Essa mudança exige novas formas de pensar, sobre um novo tipo de poder e confiança. Como empresa, precisamos ver nossos colaboradores como adultos responsáveis, motivados e comprometidos em criar propósitos, estabelecer objetivos e aprender com suas experiências. Isso requer as condições de estrutura corretas sob as quais cada indivíduo possa contribuir com suas habilidades, ou seja, é preciso criar um ambiente corporativo baseado em confiança, liberdade, criatividade, velocidade, flexibilidade e uma cultura que conecte as pessoas à organização. 
O mundo da VUCA está repleto de incertezas sobre o futuro; volatilidade das forças do mercado global; complexidade de lidar com demandas múltiplas e concorrentes; e confusão entre nosso trabalho e nossa vida pessoal. Ser bem-sucedido nesse contexto exige a capacidade de desenvolver constantemente novas formas inovadoras de pensar e agir.
Encontrar um significado, propósito e paixão em nosso trabalho tende a ser mais gratificante do que a busca pelo poder e controle. À medida em que o foco estiver voltado para o aprendizado e desenvolvimento; a consequência será a colaboração real e a relação de confiança entre as pessoas. Estes são fatores primordiais para o sucesso – pessoal e corporativo.