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O PROFISSIONAL DE RH: POR UMA VISÃO INTEGRADA CLARISSA SOCAL CERVO CRISTIANE FROEHLICH DIEGO ALBERTON HELENA BEATRIS TOSCHI DE CORTEZ ISAMARA DELLA FAVERA ALLEGRETTI LUCAS HENRIQUE DA LUZ (org.) ROSÂNGELA FRITSCH 2ª edição Editora Unisinos, 2015 SUMÁRIO Apresentação Capítulo 1 – Paradigma da complexidade, interdisciplinaridade e a gestão de pessoas Capítulo 2 – Rotinas de pessoal e legislação trabalhista: uma visão integrada Capítulo 3 – Saúde e segurança no trabalho: uma visão integrada Capítulo 4 – Recrutamento e seleção: uma visão integrada Capítulo 5 – A atuação do profissional gestor de pessoas Sobre os autores Informações técnicas APRESENTAÇÃO A transdisciplinaridade vai além das disciplinas, promovendo uma interação entre elas a partir de uma ação cooperativa. Mais do que isso, “a transdisciplinaridade, que se busca e se afirma, pode ser entendida como um tecido, que não é apenas a soma de fios que o compõem. É uma forma de construção de conhecimento que permite derrubar as barreiras existentes entre as ciências, colocando-as em diálogo e permitindo a interação entre os diversos saberes”. As afirmações anteriores ilustram o propósito deste livro, que busca compreender e analisar alguns processos da gestão de recursos humanos de maneira integrada, por meio de uma visão complexo- sistêmica, considerando, por exemplo: que recrutamento e seleção não se encerram em seus processos e ações; que saúde e segurança no trabalho perpassam todo e qualquer espaço e ação organizacional; e que rotinas de pessoal estão entrelaçadas às relações de confiança, ao ambiente organizacional, à motivação, dentre outros. Mais ainda, que todos esses processos influenciam e são influenciados pela realidade organizacional, pela cultura e pelo foco estratégico da organização, seu mercado, seus stakeholders, pela realidade da sociedade em geral e suas dinâmicas e pelas histórias de vida dos sujeitos que a compõe. Dessa forma, o primeiro capítulo do livro – que é sua introdução –, mostra a área gestão de pessoas como complexa, sistêmica e inter/transdisciplinar. Em seguida, nos capítulos dois, três e quatro, respectivamente, o livro apresenta uma visão integrada de rotinas de pessoal e legislação trabalhista, saúde e segurança no trabalho e recrutamento e seleção, evidenciando relações desses temas com a gestão de pessoas e a organização como um todo. Busca evidenciar mudanças e tendências que ocorreram e ocorrem nesses processos da gestão de pessoas e suas relações com as mudanças da sociedade. Em seu capítulo final, o livro debate a atuação do gestor de pessoas e o mercado de trabalho, enfatizando a atuação do assistente e do analista de recursos humanos. Diante do exposto, pode-se afirmar que o livro O Profissional de RH – por uma visão integrada, escrito por docentes e pesquisadores da área com atuação prática na gestão de pessoas, o levará a pensar a gestão de pessoas a partir de uma perspectiva interdisciplinar, integrada, percebendo de maneira sistêmica as relações entre os processos de gestão de pessoas citados, bem como desses processos com os objetivos das organizações, das empresas, dos indivíduos e com as transformações da sociedade em geral. É desejo dos autores que todos aproveitem a leitura ao máximo! Lucas Henrique da Luz CAPÍTULO 1 PARADIGMA DA COMPLEXIDADE, INTERDISCIPLINARIDADE E A GESTÃO DE PESSOAS Isamara Della Favera Allegretti Lucas Henrique da Luz O objetivo deste capítulo é apresentar e compreender algumas das principais mudanças no contexto atual que tornam a realidade efetivamente complexa, influenciando a sociedade em geral e, consequentemente, o ser e fazer do gestor de recursos humanos. Assim, poderão ser compreendidos o paradigma da complexidade e a necessidade de uma visão inter ou transdisciplinar na e da gestão de pessoas. Esse embasamento, a visão interdisciplinar ou transdisciplinar, tem se tornado cada vez mais relevante para se pensar políticas e práticas de gestão de pessoas e seus processos, como recrutamento e seleção, saúde e segurança, rotinas de pessoal e legislação trabalhista. Permite pensá-las, de maneira mais holística e sistêmica, visto que ajuda a relacioná-los entre si e também a relacioná-los à organização em que ocorrem, ao mercado em que ela está inserida e a sociedade de forma geral. Este capítulo é importante para que se possa, posteriormente, compreender os capítulos subsequentes, que tratam de uma visão integrada dos processos citados. Ele é fundamental para pensar a gestão de pessoas a partir de uma perspectiva interdisciplinar, integrada, percebendo de maneira sistêmica as relações entre os processos citados, bem como destes com os objetivos das organizações, dos colaboradores e com as transformações da sociedade. Assim, ao longo de sua leitura, entender-se-á o que é interdisciplinaridade e sua relação com a gestão de pessoas, suas políticas, práticas e processos. Para tanto, inicia-se buscando compreender mudanças na sociedade que interferiram, fomentaram, interferem e fomentam a evolução dos paradigmas da administração, perpassando brevemente essa evolução. 1.1 Complexidade, inter/transdisciplinaridade e a evolução do paradigma da administração e da gestão de pessoas A complexidade do mundo atual exige do administrador, do gestor de pessoas e dos profissionais em geral atuação baseada em uma perspectiva, em um pensamento sistêmico, holístico e, mais do que isso, em um pensar e fazer que busque ser o mais inter ou transdisciplinar possível. O paradigma da complexidade, que marca a sociedade atual, exige essa postura. Essa complexidade é apresentada como o princípio básico da vida e da existência, dos sistemas e do ser humano. É impossível, portanto, a sustentação de uma visão mecanicista, linear e hierárquica sobre os sistemas que estruturam o homem. O homem é um complexo corpo/mente em que todos os sistemas estão interligados e são interdependentes (MORIN, 2001). Segundo Ramos (1989), o contexto atual exige um modelo alternativo de pensamento, ainda não articulado em termos sistemáticos. Para ele, esse modelo alternativo é necessário porque a sociedade centrada no mercado, mais de 200 anos depois de seu aparecimento, está mostrando agora suas limitações e sua influência desfiguradora da vida humana como um todo. Experimenta-se um momento de transição em que o ambiente mais previsível, absoluto linear, do predomínio intenso da razão vai sendo substituído por um ambiente mais volátil, de trajetórias menos previsíveis. Um mundo localmente controlado, visível, mais estático e dominado pelos paradigmas cartesiano e newtoniano vai dando lugar e/ou misturando-se a um mundo intangível, global, com uma lógica mais complexa, sistêmica e não linear (MORIN, 2000). É nesse cenário, de um novo modelo de pensar, de perceber o mundo e sua realidade, modelo muito mais complexo e desafiador, que a administração e a gestão em diferentes áreas, inclusive a gestão de pessoas, vem se reinventando. Compreender essa evolução e esse reinventar é fundamental ao entendimento do momento presente. Ao analisar a evolução da administração, das empresas, perceber- se-á que elas estão na linha da evolução da sociedade e que a teoria administrativa passou basicamente por três períodos em sua trajetória (CHIAVENATO, 2004). O primeiro período, que pode ser denominado período cartesiano-newtoniano, durou aproximadamente até 1960, quando predominava um pensamento linear e lógico. Ou seja, um período em que era mais fácil perceber o que iria acontecer no momento seguinte, quando as coisas aconteciam em sequência, dentro de uma ordem lógica. Foi uma ocasião em que mercado e a sociedade experimentaram uma maior estabilidade. Segundo Vasconcellos (2002 apud BEHRENS, 2007) o período cartesiano tinha como pressuposto básico a fragmentação e a visão dualista do universo. Nele, aparecem as múltiplas fragmentações: a visão de mundo material e o espiritual; do corpo e da mente; da filosofia e da ciência; do objetivo e subjetivo; da ciência e da fé, entre outras. No tocanteà administração, foi nesse período que houve a criação das bases teóricas iniciada por Taylor e Fayol, envolvendo principalmente a Administração Científica, a Teoria Clássica e a Teoria Neoclássica. A influência predominante foi a física tradicional de Isaac Newton e a metodologia científica de René Descartes. Foi um período, para a gestão, iniciado no começo do século XX até a década de 1960, aproximadamente, e no qual o pensamento linear e lógico predominou na teoria administrativa (CHIAVENATO, 2004). No contexto da gestão de pessoas, pode-se citar como exemplo desse período o fato de muitas pessoas entrarem em uma empresa e lá desenvolverem sua carreira, desde o início de sua vida profissional até o final. Ou ainda o fato de que ter um diploma era a garantia de sucesso, visto que as coisas mudavam de maneira mais lenta e que a própria formação não ocorria de maneira tão acelerada e contínua, fazendo com que houvesse menos pessoas com formação formal. Também pode ser citada como exemplo a repetição de rotinas diárias de trabalho, praticamente idênticas, com tarefas muito claras, bem definidas e divididas – portanto, repetitivas. O segundo período foi o chamado período sistêmico da administração, que iniciou após 1960, com a teoria dos sistemas, e substitui o pensamento linear, mais mecanicista, pelo expansionismo (CHIAVENATO, 2004). A partir desse período, passou-se a perceber que as mudanças, os acontecimentos organizacionais e empresariais, não eram acontecimentos isolados do ambiente. Na verdade, de maneira simplificada, pode-se dizer que se passou a perceber a existência de um sistema maior –a sociedade – e dentro dele o mercado a partir do qual as empresas vão se adaptando, vão mudando, assim como pessoas e os profissionais. Foi, portanto, um período de mudanças e busca da adaptabilidade em que a adaptação ao mercado, às suas transformações, era um imperativo organizacional. O terceiro momento, no qual se vive atualmente, é fortemente marcado pela complexidade, ou seja, não elimina a visão sistêmica do período anterior. Pelo contrário, mostra que tudo está intimamente ligado e relacionado, tanto que mudanças em determinado local podem ter consequências do outro lado do mundo. Segundo Allegretti (2003), o pensamento complexo é também um pensamento sistêmico, uma vez que ele significa pensar que tudo está relacionado com tudo, e a globalização é um claro exemplo desse pensamento. Ou seja, o momento em que se vive hoje exige dos setores e do gestor de pessoas um fazer que considere a complexidade atual e, para tanto, precisa ser pensado e efetivado a partir de um paradigma inter/transdisciplinar, como será detalhado nas próximas seções. Exige que se pense e se tomem ações em uma lógica não dicotômica, em um paradigma de “e” mais “e” e não “ou um, ou outro”, como reforça Aquino (2013), que permite a visualização de muitas perspectivas, que inclusive se influenciam mutuamente. Para além dessas questões, porém, o momento atual revela um mundo em constante mudança, com mudanças cada vez mais rápidas, que trazem para a sociedade a incerteza, a não possibilidade de saber o que vai ocorrer amanhã e até mesmo a dificuldade em se fazer previsões. Assim, atualmente a crise não pode ser entendida como um fim, mas como um momento de incerteza e de desordem, em que o novo pode surgir (ALLEGRETTI, 2003, p. 35). Dessa forma, aquilo que ocorria no primeiro período, no qual a mudança era gradual, lenta, previsível, com certa linearidade, mudou completamente. As pessoas ficam cada vez menos tempo em uma mesma empresa; o que o colaborador fez até o presente momento não garante seu futuro na empresa, e, por melhor que tenha feito, ele precisa fazer melhor a cada dia; o que hoje é o paradigma do mais moderno, amanhã poderá estar superado (é o que ocorre, por exemplo, com toda a evolução tecnológica), dentre outros aspectos. Essa evolução histórica da administração, forjada dentro da evolução histórica da sociedade – ou seja, que ocorre acompanhando a concepção de mundo em transformação, com os avanços da ciência, do conhecimento, da humanidade e suas necessidades, com suas mudanças culturais e materiais –, afeta a gestão de recursos humanos. Por exemplo, não se pode ter na empresa pessoas que não tenham iniciativa, que não sejam capazes de inovar, que não busquem fazer cada vez melhor, seja no nível e/ou no departamento que estiverem. Assim, as empresas não têm como exigir que o indivíduo entre na empresa e nela permaneça durante toda sua vida produtiva, sua carreira, como acontecia em outras épocas. Ou seja, não se pode impedir que os talentos procurem em todo o mundo o melhor lugar para trabalharem, tendo, então, que convencê-los a cada dia que trabalhar na empresa em que estão vale a pena. Portanto, muito na administração em geral e na gestão de pessoas tem mudado. E, para entender essas mudanças, de maneira a poder atuar de forma inovadora e com protagonismo, é fundamental que o gestor de pessoas não se limite a saber fazer, apenas, mas entenda o que faz, por que faz, o que está mudando – é importante, ainda, que possa pensar o que fará amanhã. Em um mundo complexo, mutável, é importante que se possa ter uma prática reflexiva, com significado diante do mundo atual. Para que isso ocorra, uma visão interdisciplinar é fundamental. A fim de entender o que é essa visão interdisciplinar, é necessário perpassar pelos conceitos de multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e inter/transdisciplinaridade, para depois relacioná-los com a gestão de pessoas. 1.1.1 Transdisciplinaridade e interdisciplinaridade: o que é isso? A interdisciplinaridade expressa uma interação entre as disciplinas ou áreas do saber, do conhecimento, de uma organização (CARLOS, 2007). Por exemplo, para entender de administração de recursos humanos, é preciso entender de antropologia e cultura, de direito e legislação, de cálculos, de sociologia, de psicologia, de economia, de estratégia, entre outros campos de conhecimento. Aqui emerge a interdisciplinaridade, como será visto adiante, uma vez que a gestão exige a articulação efetiva desses saberes. Essa interação entre as diferentes áreas do saber pode acontecer em diversos níveis de complexidade. É justamente para distingui-los que termos como multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade foram cunhados. Compreendendo cada um deles, pode-se chegar ao entendimento do que é a interdisciplinaridade e sua importância para a gestão de pessoas. 1.1.1.1 Multisciplinaridade É o primeiro nível de interação entre disciplinas ou áreas. Segundo Japiassu (1976), nela ocorre ação simultânea de disciplinas ou áreas, em torno de determinado foco ou tema comum, mas sem haver cooperação entre as áreas. É uma ação fragmentada. A Figura 1: Multidisciplinaridade demonstra o conceito de multidisciplinaridade, de acordo com o qual há diferentes áreas, mas sem interação. Caracteriza-se por uma ação simultânea de uma gama de disciplinas, conhecimentos ou áreas em torno de uma temática comum. Figura 1 – Multidisciplinaridade. Fonte: adaptado de Carlos (2007). Eis um exemplo de atuação multidisciplinar: em uma empresa, cada área/departamento faz no mínimo 15 horas de treinamento por colaborador e, então, sem haver diálogo entre as diferentes áreas, cada uma organiza e realiza seu processo de treinamento. Perceba que, sem o diálogo, sem a interação entre as áreas, sem uma construção conjunta dos treinamentos, provavelmente ocorrerão treinamentos isolados, perdendo-se muita qualidade e a tão buscada sinergia. Esses treinamentos provavelmente não serão capazes de gerar aos colaboradores a visão do todo da empresa, uma visão sistêmica da empresa. Eles estarão cada vez mais focados no que fazem, em seu departamento, sem compreender a empresa de maneira holística – talvez até sem entender a importância daquilo que fazem para a empresa como um todo. Essa visão fragmentada da empresa com certeza não será suficiente para que ela tenha êxito em um mercadocada vez mais complexo, no qual tudo está relacionado e globalizado. 1.1.1.2 Pluridisciplinaridade Na pluridisciplinaridade já existe algum tipo de interação entre as diferentes áreas, entre os diferentes conhecimentos ou departamentos. Assim, ocorre um nível, ainda que muito baixo, de cooperação, porém sem uma coordenação e sem a influência do que um departamento faz em relação ao fazer do outro. A Figura 2: Pluridisciplinaridade mostra a interação muito frágil e praticamente inexistente entre os diferentes departamentos da empresa ou entre as diferentes áreas do conhecimento, ou, ainda, áreas de uma organização, por exemplo. Figura 2 – Pluridisciplinaridade. Fonte: adaptado de Carlos (2007). Usando o mesmo exemplo anterior, das 15 horas de treinamento, porém aqui o transformando para uma perspectiva pluridisciplinar, ter-se- ia cada departamento montando seu programa de treinamento de 15 horas, e a cooperação seria apenas no sentido de um departamento comunicar, compartilhar com os demais departamentos o que está fazendo. Não haveria uma construção mais conjunta, em que um poderia sugerir e influenciar a proposta do outro. Novamente, como no exemplo anterior, não haveria sinergia e maior qualidade das ações, e esse treinamento ainda não seria capaz de criar na empresa uma visão mais interdisciplinar, mais holística, uma cultura da integração e da interdependência entre as diferentes áreas da empresa. Pelo contrário, continuará sendo reforçada a visão fragmentada da empresa, incapaz de dar conta das necessidades do mundo atual, com suas mudanças rápidas, com influências, necessidades, concorrência e mercados local e global. 1.1.1.3 Interdisciplinaridade Quando se fala em interdisciplinaridade, está se tratando de uma intensa relação entre as diferentes áreas do conhecimento ou, transpondo mais diretamente para a realidade organizacional, entre os diferentes departamentos de uma organização, de maneira qualificada e organizada. Ou seja, em uma perspectiva interdisciplinar, as diferentes áreas do conhecimento e/ou os diferentes departamentos de uma empresa e seus processos cooperam e interagem entre si, a partir de uma coordenação bem definida, geralmente exercida por algum departamento ou área, visando alcançar um ou mais objetivos em comum. A interdisciplinaridade é caracterizada pela presença de uma axiomática comum a um grupo de disciplinas, de áreas do conhecimento, de áreas de atuação, de departamentos, conexos e definidos no nível hierárquico imediatamente superior, o que introduz a noção de finalidade (JAPIASSU, 1976). Veja na Figura 3: Interdisciplinaridade a presença da referida coordenação e, principalmente, a forte interação entre as diferentes áreas, representadas pelas figuras ali expostas. Figura 3 – Interdisciplinaridade. Fonte: adaptado de Carlos (2007). Perceba na figura acima que o nível de interação é bem mais intenso do que aqueles ilustrados nas anteriores e que não há departamento ou área que não tenha relação com outra área ou outro departamento, mesmo que de maneira indireta, perpassando por alguma área para chegar na desejada. Há uma coordenação nessa interação, que buscará a convergência dos esforços de todas as áreas e de todos os departamentos para uma mesma direção, ou seja, para um ou mais objetivos comuns. Essa é a ideia de axiomática que foi referida anteriormente. Têm-se os diferentes cooperando em relação a questões comuns, que envolvem toda a organização, uma vez que não há tema que não diga respeito ao todo dentro de uma mesma organização. Tudo está interligado e exige a interação direta ou indireta de todos. O resultado final da organização dependerá sempre dessa interação, dessa interdependência, e esse é o paradigma da complexidade, que será abordado na próxima seção. Utilizando o mesmo exemplo dos itens anteriores, das 15 horas de treinamento para cada departamento da empresa, em uma visão interdisciplinar, cada um desses departamentos iria identificar suas necessidades de treinamento, com a coordenação da área de recursos humanos (RH) provavelmente, pensando no negócio, nos resultados da organização e em sua cultura organizacional. Depois, levaria uma proposta para uma ou mais reuniões conjuntas de todos os departamentos, em que seria discutida uma única proposta final de treinamento, que abarcasse a necessidade de cada departamento em relação a si próprio, mas também considerando sua interação com os demais, bem como as necessidades comuns. Por fim, o RH coordenaria a execução da proposta elaborada. Portanto, no exemplo da interdisciplinaridade, aparece decisiva interação entre as áreas, bem como a coordenação de uma delas e os objetivos comuns – resultados da empresa. Trata-se de uma necessidade latente no mundo organizacional de hoje – aliás, no mundo em geral. E não é diferente nas empresas e na gestão de pessoas. Fazer gestão sem a visão do todo, compreendendo a organização como um conjunto de sistemas interdependentes e influenciada por um sistema maior – mercado e sociedade –, com certeza leva ao desperdício de energia e a não efetivação do potencial coletivo e individual dos colaboradores e, consequentemente, de suas organizações. A interdisciplinaridade contribui para compreender essa interdependência e para fomentar ações e uma gestão complexo-sistêmicas. 1.1.1.4 Transdisciplinaridade A transdisciplinaridade está para além da interdisciplinaridade. Nela, há uma integração das áreas, dos diferentes departamentos, em todo o processo e em um mesmo nível, em que todos participam e coordenam em algum momento. É uma coordenação compartilhada em uma espécie de equipes autogeridas, ou seja, equipes formadas por diferentes departamentos e sem uma liderança centralizada. Todos acabam assumindo o papel de liderança em algum momento. Veja na Figura 4: Transdisciplinaridade a realidade de intensa integração e da coordenação compartilhada, em que não há uma coordenação única e todos interagem entre si, da maneira mais direta possível. Figura 4 – Transdisciplinaridade. Fonte: adaptado de Carlos (2007). A perspectiva transdisciplinar é muito importante quando se avalia um determinado fenômeno na empresa, pois permite pensá-lo e avaliá-lo a partir de diferentes perspectivas – dificilmente algo que ocorre se explica a partir de uma única concepção, de uma única causa. Por exemplo, um alto nível de rotatividade de colaboradores em uma empresa – alto índice de turnover – pode estar relacionado à concorrência, aos fatores do ambiente interno, à falta de um plano de carreira, ao recrutamento e à seleção, à relação com as chefias, entre vários outros aspectos. Todos eles têm a mesma importância e precisam ser analisados conjuntamente. Perceba que provavelmente o turnover não será explicado e amenizado apenas pela melhoria do recrutamento e da seleção ou por um plano de carreira que preveja possibilidades de ascensão profissional. Terá que ser realizada uma leitura e um conjunto de ações transdisciplinares para poder diminuí-lo. Ou seja, todas as atividades da empresa e todas suas áreas devem e precisam pensar e combater essa problemática. Pode-se dizer que não serão ações pontuais que irão eliminar ou diminuir efetivamente o turnover, mas sim que essa meta deve ser transversal, transdisciplinar a tudo o que ocorre na organização, em suas diferentes áreas. O mesmo pode ser pensado em relação à saúde e à segurança na organização. Não há como ter um ambiente de saúde e segurança sem que essa questão, que essa cultura do seguro e do saudável esteja presente de maneira transversal, de maneira transdisciplinar às estratégias e ações da empresa como um todo. Ou seja, não se faz saúde e segurança no trabalho apenas a partir das ações do departamento de recursos humanos, da compra de equipamentos de proteção individual, da constituição de comissões – deve-se promover uma ação conjunta de todos na empresa, que deverão incorporar em suas atividades rotineiras e nas que virão como inovação o paradigma da segurança. Cada um será responsável por issoem seu escopo de atuação, sem necessariamente haver uma coordenação que exija isso cotidianamente. Esse pensar e essa forma de agir são transdisciplinares. Encerrando a perspectiva dos conceitos de multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade adaptados à realidade organizacional, vislumbrados a partir da gestão e da gestão de pessoas, cabe ressaltar que esses distintos níveis de interação entre diferentes áreas do conhecimento ou entre diferentes áreas e departamentos não ocorre necessariamente de maneira evolutiva, passando de um nível para o outro. Ou seja, não é como se fosse possível ter uma régua que medisse a atividade, as ações de uma empresa dizendo que, em determinado ano, foi multidisciplinar, depois evoluiu para pluridisciplinar e, finalmente, para interdisciplinar. A separação não é tão clara e evidente entre esses diferentes níveis ao se analisar diferentes práticas. O que se deve considerar é que, diante do paradigma da complexidade atual, diante do contexto organizacional e social, e da evolução do paradigma de gestão visto na parte inicial deste capítulo, não há como pensar e executar a gestão sem buscar o paradigma interdisciplinar e/ou transdisciplinar. Não há como pensar em gestão de pessoas de maneira estratégica, de maneira a agregar valor à empresa e aos colaboradores, sem a ideia da interação entre os diferentes, entre as diferentes áreas do conhecimento, entre diferentes departamentos de uma organização. A gestão e a gestão de pessoas necessitam da sinergia e, portanto, são competências inter ou transdisciplinares. Esse será o aspecto abordado na seção a seguir, na qual o paradigma da complexidade é trazido e, diante dele, a necessidade da gestão interdisciplinar e/ou transdisciplinar. 1.1.2 Interdisciplinaridade, complexidade e a gestão de pessoas Diante do que foi exposto até aqui, é necessário compreender um pouco do que significa o paradigma da complexidade atualmente vivenciado e, mais do que isso, por que ele exige das pessoas, das organizações, da gestão e da gestão de pessoas um pensar, um ser e um fazer interdisciplinar. A evolução do mundo e, dentro dele, da administração, como mostrado no início deste capítulo, aflorou a necessidade de promover a ruptura epistemológica proposta pelo pensamento cartesiano, um pensamento fragmentado, linear, baseado em reações de causa e efeito previsíveis. Pensar com a complexidade é compreender que o real está em constante mutação e que a dúvida, a desordem e a incerteza são elementos que o constituem, como mostra a Figura 5: Complexidade. Mais do que isso: trata-se de conviver com esses elementos em vez de negá- los. Morin (1999) de imediato esclarece que a complexidade não é receita nem completude, pelo contrário: pensar o pensamento complexo implica compreender que o conhecimento científico está repleto de incerteza e incompletude. Figura 5 – Complexidade. Fonte: Allegretti (2003). Assim, toda e qualquer atividade – e, portanto, o exercício da gestão e também da gestão de pessoas – assumem essas características, uma vez que não estão isolados da realidade descrita, mas se relacionam com ela. A gestão de pessoas assume essa complexidade e tem que pensar suas políticas e práticas em um contexto de constantes e aceleradas mutações, de muita incerteza, sempre sabendo que é limitada, que nunca terá alcançado seu desenvolvimento pleno, que sempre poderá melhorar e precisará, constantemente, reinventar-se. Dessa forma, por melhor que seja o programa de treinamento e desenvolvimento pensado pela empresa hoje, amanhã ele terá que ser completado, repensado diante das novas necessidades da empresa, das pessoas, do mercado. O mesmo ocorre com recrutamento e seleção, que constantemente terá novas competências a identificar e novas técnicas, dinâmicas e processos a efetivar. Ou ainda com saúde e segurança, que terão novas necessidades humanas e novos riscos para dar conta, de maneira a construir um ambiente sadio em seus aspectos físicos, materiais e imateriais. Poderiam ser colocados aqui todos os processos de gestão e se perceberia que eles estão sempre incompletos, sempre precisando adaptar-se, reinventar-se. E não se resume a isso: eles precisam pensar todas essas questões de maneira integrada. Não adianta ter excelentes recrutamento e seleção na organização se o plano de cargos e salários é ruim, ou se o ambiente de trabalho não é sadio. Haverá excelentes funcionários que provavelmente em breve estarão desmotivados, podendo até mesmo se desligar da empresa. Perceba, então, que um processo como recrutamento e seleção não se encerra em si. Ele inicia nas necessidades do mercado, da empresa, passa pelas necessidades das pessoas, dos indivíduos, por todo o processo de recrutamento e seleção propriamente dito e se estende para além disso, perpassando treinamento e desenvolvimento, avaliação de desempenho, cargos e salários, saúde e segurança, dentre outros. Essa é a complexidade em ação, em que determinado fenômeno ou processo está para muito além de si próprio e precisa ser pensado e executado com essa visão, mais sistêmica e holística. Nesse contexto, em que os processos e os fatos não se iniciam nem mesmo se encerram em si, mas estão inter-relacionados, pode-se entender que a transdisciplinaridade amplia as possibilidades dos indivíduos e faz com que seu “palco” de atuação seja reforçado por uma relação ampla e consolidada, com diversos meios de atuação (MELUCCI, 2001). O mesmo autor afirma que o local para o homem exercer sua condição humana é na ação coletiva de um movimento, pois há objetivos, recursos e limites, construindo relações sociais com vínculos e oportunidades. Portanto, para Dalcul (2001), esse contexto exige hoje um profissional mais ágil e sintonizado com as demandas do mundo globalizado. Exigem-se desse profissional mudanças na maneira de pensar e de agir frente aos desafios de sua atuação, propostas de trabalho mais qualificadas (que utilizem conhecimentos advindos de diversas áreas do saber, de diferentes níveis de complexidade) e a utilização de ferramentas de alta tecnologia. Ou seja, o profissional gestor e, consequentemente, o gestor de pessoas, precisa ter um perfil e uma forma de pensar e atuar ancorados na interdisciplinaridade e na complexidade do mundo, da realidade. Por exemplo, uma sociedade que cada vez mais se comporta sob a lógica de rede muda a dinâmica das organizações, que necessitam se adaptar às condições de imprevisibilidade introduzidas pelas rápidas transformações econômicas e tecnológicas. As organizações precisam, então, atuar em parceria com concorrentes, trocando informações como forma de qualificação, de forma a compreender melhor seus clientes externos e internos. Esse cenário comprova a necessidade de pensar a gestão e, portanto, a gestão de pessoas de forma complexa e sistêmica, percebendo que tudo está relacionado com tudo. O processo de globalização é exemplar do pensamento complexo, e o tema das diferenças parece fazer parte dessa nova epistemologia. Guattari (1997) é preciso ao afirmar que é necessário que os indivíduos se tornem, ao mesmo tempo, mais solidários e mais diferentes. Portanto, a gestão e a gestão de pessoas são detentoras de fatores interconectados que exigem a construção de uma competência em gestão que se perceba, que se deseja e que seja o mais complexa possível, superando o modelo tradicional de racionalidade da ciência, que divide, classifica e quantifica – e, ao quantificar, muitas vezes desqualifica. Assim, ao se analisar mais de um século de estudos que envolvem a ciência da Administração, podem-se identificar diferentes autores e pesquisadores, apresentando suas considerações, pontos de vistas e críticas, específicos de suas áreas de conhecimento e, mais recentemente, relacionados a outras ciências em torno da administração, da gestão, mostrando seu caráter complexo e que ela necessita de um pensar e fazer inter/transdisciplinar (DALCUL, 2001). Tal constatação é exemplificada pelo autor,destacando alguns focos de análise, de diferentes áreas de conhecimento acerca de dois pontos centrais de uma administração organizacional: os recursos humanos e a organização e o processo organizacional. Isso pode ser observado no Quadro 2: Contribuições das diferentes áreas à gestão, que demonstra o quanto a gestão é, sim, uma competência complexa e interdisciplinar, seja ela a gestão de pessoas ou ainda em outras perspectivas. Quadro 1 – Contribuições das diferentes áreas à gestão Áreas de Focos de análise Unidade de Focos de estudo Conhecimento análise da Administração Direito Fiscalização, legislação, normas, direitos humanos etc. Indivíduo, grupo e sistema da organização Organização e do processo de trabalho Economia Custos, produtividade, impostos, lucro Grupo e sistema da organização Organização e do processo de trabalho Engenharia Desenvolvimento de materiais, equipamentos, técnicas de organização, projetos etc. Indivíduo, grupo e sistema da organização Organização e do processo de trabalho Medicina Sobrecarga de trabalho, reabilitação, identificação de sintomas etc. Indivíduo Recursos humanos Psicopatologia Psicobiologia, carga de trabalho, medos e angústias etc. Indivíduo Recursos humanos Psicologia Aprendizagem, motivação e satisfação, desempenho, seleção do trabalhador, estresse no trabalho, mudança de comportamento, comunicação etc. Indivíduo e grupo Recursos humanos Sociologia Dinâmica de grupo, poder e conflito etc. Grupo e sistema da organização Recursos humanos Antropologia Valores compartilhados, cultura organizacional etc. Grupo e sistema da organização Recursos humanos Fonte: adaptado de Dalcul (2001, p. 61). Percebe-se que, para poder analisar a organização, a gestão precisa ancorar-se na Engenharia, na Medicina, na Psicologia, na Sociologia, na Economia, no Direito, na Antropologia, enfim, em uma gama variada de áreas do conhecimento. E, mais que isso, precisa utilizar essas áreas de maneira integrada. Por exemplo, quando analisa um grupo dentro da empresa, não pode fazê-lo apenas a partir da Sociologia, vendo como se dão as relações entre as pessoas do grupo. Precisará perceber os valores do grupo e de seus participantes, questões que estão ligadas à Antropologia; a forma de participação das pessoas do grupo, o que está relacionado à Psicologia; e ainda terá que buscar mensurar e/ou demonstrar os resultados tangíveis e intangíveis do grupo, quantificando- os em valores, o que está relacionado à Economia. Algo que comprova o que foi dito é o fato de o mau desempenho de um dos inúmeros departamentos ou áreas prejudicar o resultado de toda a organização. Assim, pode-se dizer que não é somente a área de recursos humanos que faz a gestão de pessoas dentro da empresa: toda a empresa o faz. Essa é uma visão complexa e interdisciplinar, mais sistêmica e holística da gestão e da gestão de pessoas. Ainda é possível comprovar a importância de uma visão complexa e interdisciplinar analisando os processos de gestão de pessoas. De nada adianta a empresa ter excelentes políticas e práticas de recrutamento e seleção se não tem uma boa política de remuneração e de desenvolvimento de carreira. Os exemplos anteriores mostram a importância da interdisciplinaridade na gestão e na gestão de pessoas. Esta precisa ter e precisa fomentar na empresa uma visão e uma cultura da interdisciplinaridade, rompendo com a departamentalização, segundo a qual as pessoas percebem e enxergam apenas aquilo que fazem, sem entender sua participação no todo da empresa, no que influenciam e são influenciados. Essa visão fragmentada, por departamentos, já não dá conta da realidade atual. É preciso considerar os diferentes e suas diferentes visões dentro da empresa, gerindo a diversidade, colocando as pessoas e os diferentes departamentos em diálogo permanente tanto quanto possível. Dessa maneira, podem-se afirmar a gestão e a gestão de pessoas como competências interdisciplinares e complexas, que devem ser pensadas a partir da realidade, que é imprevisível, mutável. É necessário relacionar todos os fatos e acontecimentos, e analisar ações a partir da visão de diferentes áreas, e não apenas de uma ou outra área do saber e do fazer, demonstrando que a estratégia está ancorada, sim, em aprender a trabalhar com o acaso. O que até algum tempo atrás poderia parecer antagônico, hoje se torna possível. “O conhecimento científico tornava-se procura da certeza. Ora, hoje a presença da dialógica da ordem e da desordem mostra que o conhecimento deve tentar negociar com a incerteza” (MORIN, 1999, p. 205). Segundo Allegretti (2003), a criação está na possibilidade da existência da desordem e da inovação, ao mesmo tempo em que a ordem garante a conservação daquilo que foi criado. Uma crise não pode ser entendida como um fim, mas como um momento de incerteza e de desordem em que o novo pode surgir. Não se trata de subordinação, mas de adaptação ativa, construtora de história. Porém, um mundo absolutamente determinado ou um mundo completamente aleatório seria pobre e mutilado. O primeiro seria incapaz de evoluir e o segundo não seria capaz de nascer (MORIN, 1999 apud ALLEGRETTI, 2003). Adaptando o modelo, a ilustração de complexidade de Morin (1999) ao mundo do trabalho, percebe-se que aquilo que até há pouco tempo era considerado fator de inclusão – trabalho na forma de emprego –, hoje é fator de exclusão. As organizações em rede, até então marginais e desconsideradas na ordem constituída, passaram a se constituir como possibilidade de inclusão no mundo do trabalho, por exemplo. Dito de outro modo, é a desordem permitindo novos arranjos organizacionais, se entendida em um sentido amplo (ALLEGRETTI, 2003), como pode ser visto na Figura 6: Complexidade e trabalho. Figura 6 – Complexidade e trabalho. Fonte: (a) Morin (1999a); (b) Allegretti (2003). Como vimos, o mundo do trabalho está cada vez mais diverso e complexo, exigindo que a gestão de pessoas seja feita de maneira complexo-sistêmica. Nesse mundo do trabalho diverso e complexo, diferentes relações emergem, como, por exemplo, relações de trabalho sem vínculo empregatício, que pode ou não ser precarização do trabalho, o surgimento de formas alternativas de trabalho (formais e informais), a prestação de serviços de um mesmo profissional para várias empresas (terceirização e quarteirização), a rotatividade de funções e, até mesmo, de empresas por parte dos trabalhadores, entre outros. Os termos que vêm sendo utilizados para designar o que está acontecendo com o trabalho ao longo do tempo revelam a profundidade das transformações. Alvin Toffler afirmou que o caminho seria ir para o trabalho intelectual, embalado na terceira onda; Domenico De Masi acenou com um agradável ócio criativo, ativo; Manuel Castells mostrou as perspectivas do trabalho em rede; Pierre Lévy apontou para um universo coletivo de inteligência compartilhada; dentre outros (LUZ, 2005). As transformações do mundo do trabalho são tão significativas que Tesch (1995) afirmou que elas constituem o problema central do desenvolvimento social, tanto em países altamente industrializados como em países em desenvolvimento. Todo esse contexto complexo e interdisciplinar acentua-se, ainda mais, ao pensar que a gestão de pessoas está relacionada de maneira direta com a singularidade dos indivíduos – ninguém é igual a ninguém. Fenômenos como os recém-descritos marcam a gestão de pessoas por uma complexidade e uma interdisciplinaridade ainda maiores, uma vez que ela não pode se distanciar de tudo o que foi exposto e, ainda, das necessidades dos colaboradores e das diferentes configurações do mundo do trabalho. Assim, não bastasse o que foi trazido até aqui, pode-se afirmar que a complexidade da gestão de pessoas é ainda mais intensificada pela singularidade dos sujeitos. Cada indivíduo tem suas necessidades, sua realidade e seu histórico de vida. Para Allegretti (2003), o sujeito singular é uma realidade subjetiva, vivendo em determinados tempo e espaço. É esse sujeito com história singularque precisa assumir diferentes posições no circuito produtivo, circuito de trocas, pois o mundo do trabalho não se desenha igualmente para todos. Esse sujeito singular precisa influenciar e ser influenciado pela cultura de uma organização, precisa dar conta de metas individuais e, ao mesmo tempo, coletivas, precisa agregar valor à organização e à sua atuação, dentre uma série de outras coisas e, ainda, precisa perceber que suas necessidades, que não são iguais às de seus colegas, estão sendo atendidas, vislumbrando uma possibilidade de crescimento pessoal e profissional. Tudo isso está interdisciplinarmente ligado e complexifica a gestão e a gestão de pessoas. Depois de todo este pano de fundo de cunho mais teórico, mostrando a complexidade que envolve a gestão de pessoas e a interdisciplinaridade necessária ao pensá-la e ao concretizá-la, cabe, ao finalizar este capítulo, demonstrar alguns exemplos e situações práticas que evidenciam de maneira mais direta o que foi exposto. Serão relacionadas as políticas e práticas de gestão de pessoas a esse contexto complexo-sistêmico e a necessidade de um ser, pensar e fazer inter/transdisciplinar. 1.2 Políticas e práticas de gestão de pessoas: um paradigma inter/transdisciplinar, complexo e sistêmico Ao longo do que foi descrito até o momento, pode-se perceber que a complexidade atual do mundo exige a interdisciplinaridade. Não há como entender a realidade, seja ela da sociedade em geral, da empresa ou de um colaborador, sem olhar a partir de diferentes visões, de diferentes perspectivas e áreas do conhecimento. Não há como ser empreendedor, ser inovador, ser propositivo e fazer uma gestão de pessoas que agregue resultados à empresa, às pessoas e à sociedade se o gestor de pessoas e a empresa não desenvolverem uma cultura de integração, de uma visão sistêmica e holística, como afirmado anteriormente. Cabe destacar que a administração e, dentro dela, a gestão de pessoas por vezes costumam ser bastante pragmáticas e construir verdades absolutas, o que, em um paradigma de complexidade, de mudanças aceleradas e complexas, pode impedir ou diminuir o olhar interdisciplinar, mais amplo e sistêmico. Por exemplo, se a empresa realiza programas de treinamento simplesmente porque pensa que são importantes para toda a empresa, com base na verdade universal do benefício do treinamento, pode acabar sem saber efetivamente por que faz programas de treinamento e qual é sua importância. É neste sentido que a gestão de pessoas, suas políticas e práticas precisam ser pensadas, estruturadas e executadas: a partir de uma visão interdisciplinar, capaz de integrar essa gestão à realidade social em que a empresa está inserida, ao seu mercado, à realidade organizacional interna, às estratégias da empresa e ao seu negócio. Precisa, ainda, integrar e relacionar essa gestão às competências dos colaboradores, às suas necessidades e objetivos individuais, bem como ao seu potencial. Ou seja, as competências potenciais que poderão desenvolver, segundo Sennett (2006), são tão importantes quanto, ou ainda mais importantes, do que aquelas que ele já desenvolveu, perante um mundo complexo, interdisciplinar, onde aprender a aprender sempre é um desafio constante e uma competência necessária. Essa integração, essa gestão de pessoas como uma competência interdisciplinar e complexa e como um fazer também interdisciplinar passa pelas políticas e práticas de gestão de pessoas. Em relação às políticas e práticas, pode-se afirmar que, se a gestão de pessoas não conseguir pensar e perceber a empresa por meio de uma visão inter/transdisciplinar, ela terá muita dificuldade em construir, junto aos demais setores da empresa, políticas e práticas de RH sistêmicas. Pode acabar executando práticas isoladas de gestão, como treinamentos isolados, ou, ainda, sem compreender, por exemplo, que saúde e segurança começam já no recrutamento e seleção. Caso não observar a cultura do cuidado ao contratar colaboradores e não buscar pessoas com perfil adequado para as atividades, aumentará o risco de problemas de saúde e de acidentes na empresa. Assim, cabe recordar aqui o que são as políticas e o que são práticas de gestão de pessoas. A prática se refere ao fazer, em um contexto histórico e social, que vai conferindo estrutura e significado ao que se faz. Aqui entra fortemente o conceito de política, visto que a política é a possibilidade de inscrição de novos sentidos ao mundo social, ou seja, a política é o que dá sentido à ação, à prática, àquilo que é realizado. Portanto, as políticas de gestão de pessoas devem e precisam deixar claro o sentido daquilo que a empresa quer praticar como gestão de pessoas, aquilo que ela faz. O conceito de política traz nele o sentido de linha de ação, daquilo que se pretende com o que se está fazendo, com o que se fez, ou, ainda, com aquilo que se fará. A política é que orienta, que dá o norte, que estabelece os critérios daquilo que é realizado e, mais ainda, o que se pretende com o que se está realizando, ou com o que será realizado. Por exemplo, se a política de remuneração da empresa é pagar 15% a mais da média paga pelo mercado, essa prática será feita no dia a dia da empresa e deve ter um propósito, que poderá ser atrair os melhores profissionais para a organização e mantê-los motivados. Porém, para que isso tudo ocorra, essa política não pode ser isolada apenas como uma política de remuneração: ela precisa estar embasada e estar conectada às políticas e práticas de recrutamento e seleção, a políticas e práticas de benefícios, de saúde e segurança, dentre outros, e, mais que isso, precisa estar presente na cultura da empresa. Portanto, tem-se uma axiomática comum, um objetivo comum, que é, no caso, atrair os melhores profissionais para a empresa e mantê-los motivados. É necessário, então, criar políticas de gestão de pessoas que sejam capazes de integrar diferentes processos dessa gestão e diferentes departamentos e pessoas da empresa, de forma que isso efetivamente ocorra. Essa é a materialização da interdisciplinaridade na empresa e na área de gestão de pessoas. Apenas o salário 15% maior do que a média do mercado não será capaz reter os melhores profissionais na empresa. Diante do exposto, fica evidente que as políticas e práticas de gestão de pessoas precisam ser estabelecidas, pensadas, planejadas e executadas da maneira mais interdisciplinar possível, de forma sistêmica e participativa. Se isso não acontecer, pode-se ficar com práticas isoladas de gestão, que podem levar a desperdícios de recursos e ao não atingimento dos resultados esperados – tanto organizacionais quanto individuais. Sem uma política clara, a gestão de pessoas acaba “apagando incêndios” cotidianos, fazendo apenas o operacional e, consequentemente, perdendo sua dimensão de ação estratégica. Porém, as práticas também são importantes, pois, sem elas, as políticas não se concretizam. Há uma relação de interdependência entre elas. E, por fim, quanto mais os colaboradores conhecerem, entenderem e se identificarem com as políticas de gestão, melhores serão os resultados. Mais uma vez, fica evidente a necessidade de as políticas e as práticas de gestão de pessoas permearem todos os departamentos ou áreas da empresa, chegando aos colaboradores em geral, o que requer visão e ação interdisciplinar na construção e execução da gestão de pessoas. As políticas e práticas de gestão de pessoa precisam estar retrorrelacionadas entre si, precisam estar alinhadas aos processos de gestão de pessoas, sendo transversais, ou seja, permeando e aparecendo em todas as áreas da empresa, dialogando e contribuindo com aquilo que a empresa almeja, sua política geral, seu sentido de existir como um todo, bem como com os interesses e necessidades dos colaboradores. Com certeza, essa é uma trama própria do paradigma da complexidade e da necessidade de um pensar e de um fazer interdisciplinares que foram vistos até aqui. Cabe acrescentar a isso tudo a integração das políticas e práticas da gestão de pessoas coma realidade social em que as pessoas e organizações estão inseridas, bem como com o mercado em que atuam e o mercado em geral. Esses cenários interferem e conferem mudanças, necessidades, alterações aos paradigmas da gestão de pessoas e suas políticas e práticas. Essa também é uma visão complexo-sistêmica e interdisciplinar. Ou seja, a gestão de pessoas não vai evoluindo e mudando ao seu modo, ao acaso. Ela o faz a partir da realidade da sociedade, do mercado, das empresas, das mudanças na cultura e na forma de ser e agir das pessoas. Portanto, de maneira a sistematizar e fechar o que foi visto até aqui, pode-se afirmar que são várias as relações que podem ser feitas a partir de um ser e fazer interdisciplinar ou, até mesmo, transdisciplinar e complexo da gestão de pessoas. Primeiro, o olhar inter-transdisciplinar rompe com a formatação compartimentalizada das organizações, segundo a qual cada departamento pensa por si, para dar à empresa uma visão mais integrada, de cultura compartilhada, de identidade com o todo, e a gestão de pessoas deve contribuir para isso, visto ser fundamental para a empresa. Segundo, a multiplicidade de percepções e vivências caracteriza o mundo contemporâneo e os colaboradores. A gestão de pessoas pensa políticas e práticas de gestão para pessoas que têm perfis, necessidades e competências diferentes. Cabe à gestão da área fomentar que em todos os espaços se tenham o convívio e a interação entre os diferentes: entre engenheiros e administrativos, entre psicólogos e profissionais de marketing, entre porteiro e estrategista, entre outros. Essa interação, fomentada pela gestão da diversidade, concede uma riqueza de competências, de habilidades e de conhecimentos tácitos à empresa. Terceiro, a gestão nas suas diferentes áreas e a gestão de pessoas mudam de acordo com uma série de fenômenos sociais, econômicos, culturais e políticos que ocorrem na sociedade. Ou seja, a gestão e a gestão de pessoas não mudam ao acaso. E o contexto em que a gestão de pessoas está é cada vez mais complexo, marcado por aquilo que se denomina paradigma da complexidade. Torna-se cada vez mais complexo realizar a gestão de pessoas uma vez que ela saiu de um ambiente estável e previsível para um ambiente instável, mutável, globalizado e, muitas vezes, imprevisível. Diante da questão acima, tem-se uma quarta sistematização e constatação a fazer. O paradigma da complexidade, a dinâmica do mundo atual, da sociedade e do mercado requerem empresas com pessoas capazes de atender demandas de produtos ou serviços diferentes a cada momento. Tratam-se de pessoas capazes de traçar estratégias e construir portfólios de produtos e serviços que devem transformar-se velozmente, enaltecendo criatividade e inovação. O celular que hoje é de última geração estará amanhã em decadência, pois surgirá outro, por exemplo. O serviço de treinamento em datilografia, que uma vez teve enorme valor, hoje não tem mais sentido e assim por diante. Seguindo o raciocínio, a quinta afirmação que pode ser feita em relação a tudo o que foi visto é que as capacidades, as competências necessárias às pessoas e, portanto, a gestão de pessoas devem estar prontas a colaborar decisivamente para a construção de estruturas flexíveis nas organizações, estruturas adaptáveis. Trata-se de uma organização aprendente, em que as pessoas podem e precisam desenvolver novas competências. Assim, por exemplo, em recrutamento e seleção não se contrata alguém considerando apenas aquilo que ela já fez e sabe fazer no momento, mas também aquilo que ela poderá fazer, pelas competências que ela poderá desenvolver, pela atitude do saber buscar, do adaptar-se ao novo, do atuar na pressão da mudança, dentre outros. Além disso, como sexto aspecto, deve-se ressaltar que a gestão de pessoas deve ser capaz de contribuir para que elas possam utilizar a seu favor as inovações tecnológicas, a fim de experimentarem processos de mudanças rápidas e intensas, que não obedecem necessariamente um ciclo lógico. Empresas mudam suas tecnologias, suas estratégias e até seus valores, acompanhando as mudanças da própria sociedade. Por exemplo, poucas empresas falavam em cultura de solidariedade e de sustentabilidade ambiental há dez anos. Hoje, elas precisam falar e engajar-se nessas práticas de alguma forma. Nesse sentido, a gestão de pessoas é decisiva. Antigamente, poucas empresas utilizavam software de gestão do conhecimento, hoje utilizados em várias organizações. Assim, conseguir ler e interpretar os cenários, evidenciando mudanças, oportunidades e ameaças, é fundamental aos colaboradores, seja em relação aos objetivos da empresa, seja em relação a seus objetivos individuais. E, novamente, a gestão de pessoas é relevante para isso e só poderá fazê-lo se for capaz de desenvolver uma visão e atividades cada vez mais sistêmicas e interdisciplinares. Todos os aspectos destacados aqui, aos quais ainda poderiam somarem-se muitos outros, representam um pouco das transformações desencadeadas pelo que se denomina paradigma da complexidade, que influencia a vida das pessoas em diferentes dimensões, inclusive no trabalho, e, portanto, influencia diretamente a gestão de pessoas. Como visto, precisam-se formar empresas e pessoas aprendentes. Para tanto, a gestão de pessoas precisa inovar e se (re)inventar constantemente. A gestão de pessoas, para dar conta do paradigma da complexidade atual, precisa estar atenta às mutantes necessidades dos clientes externos e internos, às oportunidades do mercado, às novas tecnologias materiais e sociais, à alta concorrência, às novas demandas sociais e culturais, fomentando, para isso culturas organizacionais adaptativas e não conservadoras nas empresas. Dessa forma, deve evitar a acomodação dos funcionários, não permitindo que os hábitos e costumes se tornem intransponíveis na organização, trazendo dificuldades em aprender novas técnicas e a falta de visão e de percepção do ambiente. Todos que fazem gestão precisam de visão e atitude interdisciplinares para poderem ter a capacidade de estabelecer relações não lineares entre os fenômenos, identificar o porquê das mudanças atuais e quais são as mudanças futuras, bem como para compreender o resultado do que fazem em relação ao todo da empresa. Assim, a gestão de pessoas se torna cada vez mais complexa, integrada e fascinante. Isso tudo gera diferentes tendências e mudanças na gestão de pessoas, que são analisadas nos capítulos a seguir. Serão analisados os processos de recrutamento e seleção, rotinas de pessoal e sua relação com a legislação trabalhista, bem como saúde e segurança no trabalho. Para saber mais sobre os temas deste capítulo, consulte: ALLEGRETTI, Isamara Della Favera. Redes de Colaboração Solidária: um contraponto ao desmanche do mundo do trabalho. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas, 2003. CABRAL, Patrícia M. F.; SEMINOTTI, Nédio. A dimensão coletiva da liderança. Cadernos IHU Ideias, ano 7 – número 120. São Leopoldo: Instituto Humanitas Unisinos – IHU, 2009. MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. SOUZA, Ielbo M. L. de; FOLLMANN, José Ivo. Transdisciplinaridade e universidade: uma proposta em construção. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2003. Sites: http://www.cetrans.com.br http://www.cetrans.com.br http://www.cetrans.com.br/artigos/Alexey_Carvalho.pdf http://www.cetrans.com.br/artigos/Ane_Lise_Dalcul_et_al.pdf Alguns temas para debate: Qual é o verdadeiro sentido de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade e suas relações com o paradigma da complexidade? Por que complexidade é diferente de complicado? Qual é a relação disso com os processos de gestão e de gestão de pessoas? Por que a gestão de pessoas deve ser entendida, pensada, planejada e efetivada a partir de um paradigma interdisciplinar e/ou transdisciplinar e sistêmico? O que são políticas e práticas de gestão de pessoas e o que significa sua interdependência? Quais relaçõespodem ser feitas entre a interdisciplinaridade e/ou transdisciplinaridade e as políticas e práticas de gestão de pessoas? Por que o sucesso de processos como recrutamento e seleção, saúde e segurança, e rotinas de pessoal da gestão de pessoas dependem da visão e atuação interdisciplinar e/ou transdisciplinar? REFERÊNCIAS AQUINO, M. F. Os arranjos colaborativos e complementares de ensino, pesquisa e extensão na educação superior brasileira e sua contribuição para um projeto de sociedade sustentável no Brasil. Cadernos IHU, a.11, n. 187, 2013. CARLOS, Jairo Gonçalves. Interdisciplinaridade no ensino médio: desafios e potencialidades. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 7. ed.. 12. ed. São Paulo: Campus, 2004. http://www.cetrans.com.br/artigos/Alexey_Carvalho.pdf http://www.cetrans.com.br/artigos/Ane_Lise_Dalcul_et_al.pdf GUATARRI, Félix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1997. RAMOS, Guerreiro. A nova ciência das organizações. Uma reconceituação da riqueza das nações. 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Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas, 2005. MORIN, Edgar. Complexidade e Transdisciplinaridade: a reforma da universidade e do ensino fundamental. Natal, EDUFRN, 1999. MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand, 2000. MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. 3. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. SENNETT, Richard. A cultura do novo capitalismo. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006. BEHRENS, Marilda Aparecida. A evolução dos paradigmas da educação: do pensamento científico-tradicional à complexidade. In: Diálogo Educ., Curitiba, v. 7, n. 22, p. 53-66, set./dez. 2007. ALLEGRETTI. Isamara Della Favera. Redes de Colaboração Solidária: um contraponto ao desmanche do mundo do trabalho. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas, 2003. CABRAL, Patrícia M. F.; SEMINOTTI, Nédio. A dimensão coletiva da liderança. Cadernos IHU Ideias, ano 7 – número 120. São Leopoldo: Instituto Humanitas Unisinos – IHU, 2009. SOUZA, Ielbo M. L. de; FOLLMANN, José Ivo. Transdisciplinaridade e universidade: uma proposta em construção. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2003. CAPÍTULO 2 ROTINAS DE PESSOAL E LEGISLAÇÃO TRABALHISTA: UMA VISÃO INTEGRADA Diego Alberton O objetivo deste capítulo é apresentar uma discussão ampliada sobre a legislação do trabalho em nosso país. Inicialmente, procura-se apresentar a relevância do tema no contexto de gestão de pessoas, caracterizando suas principais inclusões no campo das relações de trabalho entre empresas e empregados. Na segunda parte, mostra-se uma breve conceituação das principais rotinas trabalhistas derivadas da legislação trabalhista. Por fim, propõe-se uma reflexão sobre fatos e perspectivas sobre o tema, com hipóteses para o debate e abertura de novos diálogos. Versar sobre a legislação do trabalho brasileira não é algo simples. Interpretada e percebida como complexa, ampla e diversas vezes como passível de várias interpretações, seu entendimento e aplicação frequentemente são um desafio para empresários e administradores. Como instrumento norteador das relações entre o capital e o trabalho no âmbito legal, merece reflexão sobre como conseguir respeitar os direitos sociais estabelecidos por lei e conquistados ao longo dos anos, visando proporcionar uma relação de trabalho ética, justa e profissional. Acredita-se que a proposição de um debate acerca de relações de trabalho implica, necessariamente, a compreensão de um cenário em que ocorrem interesses contraditórios e, ao mesmo tempo, relações de cooperação entre capital e trabalho. Esses interesses contraditórios decorrem do processo proveniente da produção e da obtenção do lucro por parte das organizações. As relações de cooperação, no entanto, derivam da necessidade, tanto das organizações, quanto dos trabalhadores, do trabalho decorrente de uma relação entre ambos. O estudo dessa complexa relação exige o aprofundamento e a compreensão de outros temas, complexos e abrangentes, que tanto circundam o contexto de uma prestação de serviço quanto estão em sua essência de realização. Entre esses temas, certamente o estudo sobre as relações trabalhistas e todo o contexto legal que as circundam é relevante em um país democrático e que visa ao bem estar social. As relações trabalhistas praticadas por uma empresa devem respeitar todo o aparato legal determinado pelas legislações, normatizações e instituições que possuem competência para tal. A legislação trabalhista brasileira é um tema tradicional nos debates em recursos humanos e gestão de pessoas. Sendo um instrumento que estabelece legalmente as condições de uma prestação de serviço entre empresas e empregados, determina as possibilidades jurídicas e normativas para realização do trabalho no Brasil. Trata-se de um escopo complexo, caracterizado por um considerável contingente de leis, jurisprudências, precedentes e orientações esparsas, exigindo do profissional de recursos humanos constante atualização. A origem da legislação do trabalho no Brasil decorreu do processo de industrialização nacional, ocorrido a partir dos anos 1930 e intensificado a partir de 1950. Na época, o país, que migrava de um processo de produção agrário para o industrial, carecia de leis que regulassem a relação entre a força de trabalho e as empresas. Assim, diversas leis foram criadas desde o início do século passado, vindo a se consolidarem no dia primeiro de maio de 1943, com a criação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) no governo do então presidente Getúlio Vargas. Desde então, modificações e proposições de alteração têm sido realizadas visando adequar a legislação do trabalho ao contexto em que se realiza o trabalho, embora nem sempre em consenso com a sociedade, classe trabalhadora e classe patronal. Algumas lutas sociais sobre o trabalho caracterizaram o Brasil durante o século XX, sendo que parte destas teve relação direta com a própria defesa dos direitos trabalhistas conquistados ao longo dos tempos. Nos últimos anos, por exemplo, o debate foi estabelecido em torno da redução de jornada de trabalho semanal, no novo formato de controle eletrônico do horário de trabalho e na implantação do E-Social. Nesse complexo cenário, exige-se que os profissionais de recursos humanos e os empresários estejam sempre atualizados a respeito das determinações legais que influenciam nas relações de trabalho. As mudanças realizadas até hoje variam desde legislações novas, que incluem ou modificam determinações anteriores, inclusões de novos sistemas eletrônicos de banco de dados e envio de informações eletrônicas, até alterações mais previsíveis e constantes, como o valor do salário mínimo, valores em tabelas da previdência social e do imposto de renda, valores do salário família, alíquotas e incidências de tributação. No entanto, frequentemente o debate sobre o tema recai na adequaçãoda legislação do trabalho brasileira – moldada para um cenário de trabalho tipicamente industrial e fordista – ao contexto do mundo do trabalho contemporâneo, com novos modelos de organização do trabalho. A crítica, normalmente advinda do capital e de suas instituições representativas, questiona o fato de, talvez, a legislação do trabalho não se adequar a determinados contextos de trabalho e/ou trazer alguma insegurança jurídica na relação de emprego. Mesmo as mudanças ocorridas nos últimos anos não teriam sido suficientes para reestruturar o cenário legal da relação de trabalho no Brasil. 2.1 Legislação do trabalho: relevância em gestão de pessoas De alguma forma, pode-se entender que o surgimento da área de recursos humanos nas organizações também decorre da criação das leis trabalhistas. Com o início da relação formal de trabalho, agora definida como emprego – decorrente das transformações impulsionadas pela revolução industrial –, as empresas precisavam de um departamento que administrasse a relação legal de trabalho com seus empregados. Essa responsabilidade ainda hoje está predominantemente sob a tutela da área de recursos humanos. Era esse (e normalmente ainda é) o departamento que administrava os processos de admissão e demissão de empregados, além de ser responsável por manter a disciplina fabril. O chefe de pessoal, na época, era uma posição de poder dentro das organizações. Com o passar dos anos, o departamento de recursos humanos se transformou intensamente, devido às exigências organizacionais decorrentes dos contínuos processos evolutivos dos modelos de organização do trabalho adotados pelas empresas. Com um olhar crítico, pode-se perceber que, historicamente, o departamento de recursos humanos foi comumente reativo às demandas organizacionais. Não apresenta uma característica histórica de inovação, pelo contrário: em diversas oportunidades, foi criticado por propor modismos ou ações desvinculadas com a cultura e o negócio organizacionais, tendo um caráter mais voltado para a invenção do que para a inovação. Entretanto, muitas ações de recursos humanos também trouxeram resultados positivos para as organizações, seja nos processos tradicionais do departamento – como captação de pessoas, remuneração, carreira, benefícios, avaliação de desempenho e treinamento e desenvolvimento –, seja na inclusão de temáticas ampliadas em gestão de pessoas – como cultura organizacional, liderança, relações de poder, relações de trabalho, subjetividade e qualidade de vida. Certamente os avanços teóricos e práticos sobre esses temas contribuíram para um melhor posicionamento do departamento de RH nos últimos 30 anos. Ao mesmo tempo, os modelos atuais de organização do trabalho, caracterizados pela flexibilidade e pela imaterialidade do trabalho, tendem a valorizar cada vez mais o fator humano. Mesmo neste texto, em que não se discute se essa maior valorização é efetivamente real ou apenas algo que revela um desejo de aumento de lucratividade por parte das empresas, pode-se entender que esses novos modelos são campos férteis para ações vinculadas à gestão de pessoas. De alguma forma, também se deve entender esse contexto para justificar e compreender criticamente os avanços que o tema recursos humanos teve no espaço empresarial nos últimos anos. Ao incluir novas temáticas, o departamento de recursos humanos se mostrou diversificado e abrangente. Após um início concentrado apenas nos aspectos legais de uma relação de trabalho, abriu-se para novos temas e novas perspectivas em gestão de pessoas, agora consideradas, ao menos no discurso, mais estratégicas. Essa inclusão fez com que o departamento ganhasse maior estrutura e representatividade em algumas organizações, tornando-se peça-chave no sucesso organizacional, especialmente naquelas com modelos de organização de trabalho estabelecidos por regimes flexíveis, cuja demanda por gestão de pessoas tende a ser mais decisiva para o atingimento dos resultados empresariais. Em boa parte das empresas, a estrutura de recursos humanos normalmente se organiza de forma funcional, com profissionais atuando especificamente nos processos sob sua responsabilidade, com variações de empresa para empresa. Nesse modelo, exige-se dos profissionais de RH amplo domínio sobre o processo em que atuam. No entanto, algumas organizações já se propõem a atuar de forma mais articulada e diferenciada em relação ao modelo funcional. Surge, assim, o modelo de Consultoria Interna de RH, um modelo de apoio à gestão organizacional, considerado como uma evolução natural da área frente às novas demandas de gestão de pessoas. Nesse modelo, a posição de consultor interno, também denominado business partner, amplia o escopo de responsabilidades do cargo por meio de uma atuação mais próxima aos gestores imediatos e com papel interventivo de apoio à gestão de pessoas. A mudança do perfil do consultor interno é significativa: o escopo até então específico de competências exigidas ao Analista de RH se altera para um conjunto amplo de competências exigidas ao Consultor Interno de RH, que transcendem sua própria área de atuação, exigindo-lhe habilidades de gestão organizacional. A inclusão de outras temáticas na área de RH fez com que o tema legislação do trabalho ficasse periférico frente às demandas de gestão de pessoas. Pôde-se evidenciar, nos últimos 40 anos, até mesmo algum desinteresse, inclusive dos profissionais de recursos humanos, pelo tema legislação do trabalho. Frente a outros temas considerados mais importantes, é normal entender que um assunto de caráter predominantemente jurídico e legalista perca espaço. Ao mesmo tempo, sua contribuição para o negócio – aspecto tão buscado nas ações atuais de recursos humanos – mostra-se inicialmente pequena em relação a projetos de maior representatividade. Todo esse contexto explica uma parte do porquê do tema ter menor valorização em relação aos outros processos de recursos humanos. Entretanto, em nosso entender, essa visão simplista pode transformar-se em um aspecto negativo para o departamento e para os profissionais de RH, pois, ao desvalorizar – e muitas vezes até desconhecer – a legislação do trabalho, assume-se o risco de desconsiderar a compreensão do tema como algo que possui implicações tanto de ordem externa quanto interna às organizações. Essa visão simplista exclui, ainda, a conotação social inerente ao tema. De ordem externa, essa exclusão remete a uma falta de compreensão do contexto social em que são praticadas as relações de trabalho no Brasil, limitando a visão do profissional de recursos humanos a respeito da complexidade de sua atuação. Já em relação à ordem interna, principalmente, essa exclusão remete à transformação que o departamento vem realizando, delegando a gestão de pessoas para as lideranças e necessitando, por consequência, de profissionais de RH que sejam especialistas em gestão de pessoas, e não mais apenas em processos de recursos humanos. Essa transformação normalmente é impulsionada por modelos de consultoria interna ou outras variações aproximadas. Na perspectiva externa, o contexto social brasileiro, como na maioria dos outros países, sempre apresentou um cenário de luta de classes. No mundo do trabalho, essa proposição ocorreu e ocorre por meio dos dois principais agentes dessa relação, que são o capital e a classe trabalhadora (trabalho). Ainda, como agentes representativos dos interesses de cada uma dessas partes, encontram-se os sindicatos, as federações e as confederações, tanto para as empresas quanto para os empregados. Ainda, existem as centrais sindicais, independentes na representação de diversas classes de empregados. E, por fim, na regulamentação e na mediação dessa relação, encontra-se o Estado, por meio, principalmente, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e do Ministério da Justiça. Em um contexto profissional de relações de trabalho e emprego, cenário no qual se vive (ou deveria ser) atualmente, é imprescindível que leis regulem e estabeleçam as condições de uma prestaçãode serviço. Essa regulação é importante para determinar obrigações e responsabilidades, visando evitar que as relações de poder, no âmbito legal, sejam ainda mais extremadas. Entretanto, infelizmente, no Brasil, apesar dos avanços estatísticos dos últimos anos, o emprego de carteira assinada – regime celetista –, com as proteções sociais decorrentes da legislação do trabalho, é realidade apenas de uma parte da classe trabalhadora. Deve-se considerar e refletir, na compreensão desse tema, sobre os milhares de trabalhadores que realizam serviços sem qualquer proteção social. Assim, em nosso ver, deve-se entender que as funções principais da legislação do trabalho no âmbito de gestão de pessoas são: a) estabelecer os parâmetros gerais para a contratação, a prestação do serviço e a saída de trabalhadores por parte das organizações; b) definir as regras relacionadas à prática do trabalho e emprego no Brasil; c) determinar as responsabilidades de empresas e empregados em uma relação de trabalho; e, por fim, d) garantir condições de trabalho adequadas à realidade nacional, que assegurem o bem-estar social e a produtividade coerente com os objetivos do país. Ao compreender e assumir esses objetivos, pode-se observar a relevância que o tema legislação do trabalhotem, considerando a perspectiva social. É essa legislação – composta por vários meios e instrumentos – que garante uma relação de poder menos desequilibrada na esfera legal, permitindo, assim, maior profissionalização de uma relação de emprego por meio de seus aspectos normativos e jurídicos. Evidentemente, nem todas as organizações cumprem com as determinações legais previstas, derivando, em alguns, casos para um cenário de precarização do trabalho e do sistema de proteção social brasileiro. Na perspectiva interna, esse descumprimento resulta em condições de trabalho inadequadas, expondo o trabalhador à prática do trabalho precário. Certamente, as empresas que adotam essa posição contribuem para um mau clima organizacional, na medida em que obrigam seus profissionais a trabalharem sem receber direitos que lhe são devidos. Esse cenário interno, de alguma forma, ainda resulta em baixa vinculação das pessoas com a empresa e, possivelmente, em dificuldades de formar e fortalecer uma equipe em médio e longo prazos. Essas decorrências podem colocar em risco a própria busca por lucratividade das empresas, já que é por meio do trabalho que é buscada e atingida. Ainda, ao analisar o tema por uma perspectiva intraorganizacional, é evidente a mudança no perfil dos profissionais que atuam em gestão de pessoas. As mudanças que o departamento de recursos humanos vem promovendo nos últimos anos, visando se inserir com mais representatividade na gestão do negócio, influenciam o perfil dos trabalhadores que atuam em RH, que também precisam aperfeiçoar-se. É necessário, por exemplo, que dominem gestão de pessoas como um todo, não mais somente um único processo de recursos humanos. Com isso, o tema legislação do trabalho volta a ser fundamental no rol de conhecimentos do profissional do departamento. Ainda, várias demandas diárias de RH são relativas a questões de relações trabalhistas, mantendo o tema atual e importante, inclusive para os empregados. Ao mesmo tempo, parte dessa mudança de perfil tem sido consequência da alteração do modelo de funcionamento do departamento de RH. Ao incluir a perspectiva de consultoria interna como nova forma de atuar nas organizações, esse modelo prevê um profissional com maior referencial conceitual de gestão de pessoas e domínio de todos os processos tradicionais do departamento, inclusive de legislação do trabalho. Por fim, também se deve considerar como fato relevante a importância do tema legislação do trabalho na percepção dos funcionários das empresas. Sabe-se que o Brasil possui um traço cultural histórico de reconhecimento e valorização – principalmente por parte dos empregados – do cumprimento dos direitos trabalhistas. Esse aspecto não pode ser desconsiderado pelas organizações. Ainda, pode-se refletir sobre que país se estabeleceria se, nas relações internas e legais entre empresas e empregados, não existisse um conjunto de regras que regulassem essa relação. Essa reflexão, em nosso ver, destaca e reforça a importância do tema legislação do trabalhona gestão de pessoas. 2.2 Legislação do trabalho: rotinas tradicionais Sabe-se que a legislação do trabalho brasileira é considerada complexa e repleta de proposições e determinações. Esses aspectos, inclusive, mostram-se como fatores de crítica ao seu formato atual. Independentemente do posicionamento a respeito, é fundamental que o profissional que atua em gestão de pessoas compreenda as rotinas tradicionais do departamento de RH derivadas da legislação do trabalho e ainda consiga refletir criticamente sobre as relações dessas rotinas com os demais processos de recursos humanos e/ou com temáticas ampliadas em gestão de pessoas. As principais rotinas de legislação do trabalho são: rotina de admissão de empregados; rotina de controle da jornada de trabalho; rotina de apuração da folha de pagamento e do 13º salário; rotina de controle e apuração de férias; rotina de apuração e operacionalização da rescisão de contrato; rotina de administração do contencioso trabalhista. Ao encerrar o processo seletivo de uma vaga em aberto, toda a empresa regida pelo sistema CLT deve registrar o empregado conforme determina a legislação vigente. Para o devido registro dos empregados, é necessário o cumprimento de uma série de procedimentos admissionais, que devem ser realizados, de forma geral, antes do primeiro dia de trabalho do empregado na empresa. Assim, é importante compreender que a preocupação com o correto gerenciamento das rotinas trabalhistas inicia-se desde o momento da contratação de um novo empregado. Dentre os principais procedimentos, listam-se: a) realização do exame médico admissional; b) documentação pessoal do novo empregado; c) formalização de um contrato de trabalho; d) formalização do emprego na carteira de trabalho do empregado; e) declarações diversas (imposto de renda, salário família etc.); f) termo de compromisso de vale transporte; g) ficha registro de empregados, entre outras particularidades de cada empresa. Todos esses procedimentos são rotinas relativamente simples, porém importantes para o início de uma relação formal de trabalho. Com isso, pode-se entender que a rotina de admissão de empregados é diretamente vinculada com o processo de captação de pessoas, podendo também influenciar os processos de remuneração (salário de contratação, salário normativo, convenção coletiva etc.) e de treinamento e desenvolvimento (qualificação do novo empregado, documentação de certificados de formação, diplomas etc.). Ainda, como todas as outras rotinas derivadas da legislação do trabalhocitadas anteriormente, a rotina de admissão de empregados está diretamente inter-relacionada com as temáticas de relações de trabalho e cultura organizacional, que são perspectivas ampliadas e importantes em gestão de pessoas. A segunda rotina derivada da legislação do trabalho é o controle da jornada de trabalho, que é responsabilidade da empresa. Esse procedimento é fundamental, principalmente para verificar se o empregado tem trabalhado mais horas do que o estabelecido em sua jornada normal, pois, nesse caso, deve ser remunerado com horas-extras ou compensado de alguma forma, desde que acertado em comum acordo. É necessário compreender, ainda, que a legislação regulamenta a quantidade máxima de horas que um empregado pode estar à disposição de um empregador, mas há variações conforme cada profissão. As principais regras estabelecidas nessa rotina referem-se à duração da jornada de trabalho, ao trabalho noturno, ao intervalo durante a jornada, ao intervalo entre as jornadas de trabalho e às faltas, sejam elas justificadas ou não. Ainda, é nessa rotina que se estabelece o controle do horário de trabalho, normalmente por meio de um cartão ponto, em que se registram
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