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aula 08 - texto 01 - A fé cristã e os desafios destes tempos difíceis

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A fé cristã e os desafios destes tempos difíceis 
Por Klênia Fassoni 
Ultimato 370 
 
A matéria das próximas páginas discorre sobre os desafios de se viver a fé cristã no Brasil hoje. O tema é 
vasto. Os colaboradores focam principalmente em três pontos: o cenário político social, as rupturas da igreja 
evangélica e questões que envolvem sexualidade. 
A decepção com o que acontece à nossa volta é generalizada. O cenário parece caótico; o futuro, incerto. A 
percepção de que atravessamos um mar turbulento parece tomar conta de boa parcela da população e também da 
igreja. Se, por um lado, a igreja evangélica nunca foi tão numerosa e ocupou tanto espaço, por outro, a polarização 
entre seus diferentes segmentos é enorme, e nem sempre há clareza sobre o que constitui fidelidade e justiça. 
notícias que ouvirem. Continuem anda
dará a contribuição que a igreja pode dar. São os crentes com a mentalidade cristã que podem incluir em suas 
análises e atitudes a dimensão do evangelho de Cristo. 
Parte da resposta passa por atentar aos chamados básicos do evangelho: 
Arrependimento e mente constantemente renovada pela Palavra: 
vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma 
; 
Testemunho cristão, sendo sal e luz, demonstrando amor e graça: 
são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as 
 
Oração: Como descreve o pastor Valdir Steuernagel
amor se encontram é a oração. Lá podemos expressar a nossa indignação quanto ao presente 
estado das coisas, chorar pela injustiça, nossa e dos outros [...] é também lá onde 
balbuciamos um pedido de perdão, a busca de uma atitude de serviço e intercessão por 
reconheçam que o teu nome é santo. Venha o teu Reino. Que a tua vontade seja feita aqui na terra como é feita 
-10). 
árvores frutíferas e comam as suas frutas. Casem e tenham filhos [...] Trabalhem para o bem da cidade para onde 
eu os mandei como prisioneiros. Orem a mim, pedindo em favor dela, pois, se ela estiver bem, vocês também 
-7). 
Em especial nestes dias 
reina sobre as nações; Deus está assentado em seu santo trono. Os soberanos das nações se juntam ao povo do 
Deus de Abraão, pois os governantes da terra pertencem a Deus; ele é sobera -9). 
 em um Deus soberano devem ser 
 
Cidadãos cristãos em tempos turbulentos 
Por Paul Freston 
Tudo indica que a crise brasileira se arrastará ainda por um bom tempo. Embora a dimensão 
macroeconômica possa melhorar, as dimensões políticas e sociais não estão, por enquanto, promissoras. Na pior 
das hipóteses, as divisões podem aprofundar-se ainda mais no processo eleitoral deste ano, colocando em perigo a 
legitimidade das instituições vitais à democracia. 
Diante disso, dois grandes desafios se apresentam aos cristãos, sobretudo aos de confissão evangélica. O 
primeiro des -se como cidadãos de um país em crise econômica e política, e cada 
-se 
como membros de uma comunidade religiosa já muito numerosa e bastante diversa em termos sociais, econômicos 
e políticos. Dois desafios que, no final, se resumem em um só: como compreender e viver a dimensão pública do 
discipulado cristão no espírito de Cristo. 
 
C -se as análises evangélicas que falam dos dias 
vida. Só não é assim sob alguma forma de autoritarismo político, seja de fundo religioso ou não. O cristianismo se 
expandiu, por mais de trezentos anos, por um império romano extremamente pluralista em muitos sentidos, muito 
mais do que o Brasil de hoje. Tal pluralismo não causou nos primeiros cristãos o saudosismo por uma época mais 
uniforme, nem criou demandas por um regime mais repressivo. 
Nem (pelo menos, se prestaram atenção aos 
evangelhos) criou o destempero verbal contra os 
os poderosos da sua época (chamando-
mais vulnerável o grupo ou pessoa, maior o seu cuidado com a linguagem usada. Ilustrativo disso é o incidente da 
mulher adúltera (Jo 8.1-11), duplamente vulnerável por ser mulher e adúltera numa sociedade patriarcal. 
Claro, naqueles tempos não havia a globalização e a internet. A liberdade de expressão é ameaçada não só 
Esse mundo encolhido exige de nós o uso de uma linguagem ponderada e respeitosa, evitando caricaturar o outro, 
mesmo (e sobretudo) na hora de criticar. Isso não é render-
do pecado e a visão bíblica do uso responsável da língua. 
Uma das tentações desse mundo encolhido, para os evangélicos, é de oscilar entre o impulso autoritário e 
site da Ultimato, o novo Código Penal estava mal redigido e ambíguo (e constituía ameaça à democracia, no dizer 
de Vargas), mas não criminalizava a evangelização. A reação evangél
esse fazem muito mal à reputação da comunidade evangélica. Para a sociedade, na melhor das hipóteses indicam 
uma comunidade mal assessorada; na pior das hipóteses, uma comunidade autocentrada e paranoica, e até 
manipulada por forças políticas inescrupulosas. 
O estranho disso é que os evangélicos têm toda a base teológica para ser o segmento menos vulnerável a 
tais desvios ou manipulações. São familiarizados com a visão bíblica da radicalidade do pecado, que afeta não 
apenas todos os indivíduos, mas também todos os grupos e instituições. Conhecem a visão equilibrada de renovação 
institucional e renovação individual que fundamenta o Pentateuco e os profetas. Sabem que a universalidade do 
pecado é uma das grandes justificativas da democracia; ninguém merece ter poderes ilimitados e não 
supervisionados sobre seus semelhantes. A fé cristã é realista: onde houver grande desigualdade, haverá opressores 
e oprimidos, e tenderá a aumentar a corrupção. 
 
O realismo otimista dos cristãos 
o mundo. Nenhuma realização humana está isenta dos efeitos do pecado, mas a graça comum de Deus também 
está presente em todos os espaços da vida. Por isso, as instruções de Moisés ao povo recém-liberto incluíam 
exortações à generosidade individual, mas também mecanismos legais (como a lei do Ano do Jubileu e a lei do Ano 
Sabático), para impedir que a estrutura social justa cedesse ao longo do tempo a estruturas de desigualdade e 
opressão. 
tigos 
portadores de determinados ideais, percamos de vista os ideais políticos incentivados pela Bíblia, tais como a justiça 
e a solidariedade, a priorização dos mais fracos e necessitados para diminuir a extrema desigualdade, o valor 
fundamental da democracia como reflexo tanto da antropologia cristã como do caráter de Deus expresso na 
maneira como ele trata a humanidade desde o começo e a rejeição da idolatria tanto do Estado quanto do mercado 
 sábado/Estado/mercado, mas sim o 
-se diante 
-
sacrificá- - 
A priorização do ser humano nos leva à questão dos direitos humanos. Os cristãos, longe de fazerem eco à 
narrativa secularista do desenvolvimento dos direitos humanos (ou seja, que esses nada devem à religião e, em vez 
disso, foram conquistados contra a oposição religiosa), deveriam apoiar a narrativa de muitos acadêmicos de que o 
conceito moderno de direitos humanos deve muito às religiões e, sobretudo, à herança bíblica. Deveriam, também, 
entender que a viabilização dos direitos humanos depende não somente de um arcabouço legal, mas também de 
um trabalho cultural, pelo qual o direito do outro é inculcado como o meu dever, e o meu direito, como o dever 
do outro. 
 
Com isso, voltamos ao nosso 
ponto de partida, a dificuldade de 
conviver numa sociedade pluralista. A 
liberdade de expressão é um dos 
direitos mais fundamentais do ser humano, sem o qual os outros direitos se tornam impossíveis ou difíceis de 
exercer. Sem a liberdade de expressão, não há como navegar pacificamente a extrema diversidade de experiências 
humanas; não há como desenvolver a boa governança; e não há como reconhecer e responder à verdade em todos 
os campos, inclusive o religioso. A absoluta necessidade dessa liberdade foi reconhecida muito cedo na história 
possa adorar segundo as 
suas próprias convicções. A religião de uma pessoa não ajud 
Essa convicção (lamentavelmenteabandonada por boa parte do cristianismo posterior, uma vez em aliança 
idólatra com o Estado) é fundamental para a relação entre fé e política. Pois, para muitos críticos, o cristianismo, 
como, aliás, todos os monoteísmos, seria essencialmente intolerante e autoritário. Entretanto, essa abordagem 
essencialista é falha. O que importa não é o monoteísmo em si, nem a reivindicação de possuir uma revelação 
a descrença e os descrentes, e como concebe a relação entre descrença e os direitos sociais e políticos dos descrentes. 
A resposta que deram os primeiros cristãos, baseada em sua leitura do Novo Testamento (e do Antigo à luz do 
Novo), fundamenta até hoje a verdadeira convivência cristã em sociedades tão pluralistas quanto o antigo mundo 
helênico. 
Um último ponto é essencial, antes de passarmos ao segundo desafio. Em matéria de política, o cristianismo 
se caracteriza por certo recato, um não dogmatismo, um amplo espaço livre de discordância legítima entre os 
cristãos fiéis. A razão básica disso são as circunstâncias do seu surgimento. O cristianismo não nasce exercendo o 
poder político; nasce como uma comunidade voluntária e transnacional. O Novo Testamento foi escrito para uma 
comunidade que não controlava território, não possuía poder político e não poderia influenciar a legislação pública. 
O Antigo Testamento, por outro lado, foi escrito para uma comunidade nacional que de fato lidava com as questões 
de território, lei, poder e força. Mas nenhum país hoje, por mais cristãos que tenha, está na situação do Israel do 
Antigo Testamento. 
. 
 
O recato político próprio do cristianismo nem sempre é observado pelos cristãos, sobretudo quando estes 
são solicitados a colocar a sua fé a serviço de determinado interesse político. Isso pode acontecer (e de fato, já 
aconteceu) em todos os pontos do espectro político, mas hoje acontece mais à direita do espectro. Daí a percepção, 
por boa parte da sociedade brasileira, de uma subida política evangélica fortemente de direita. Essa percepção, 
 pode não corresponder exatamente à postura 
média dos evangélicos comuns; mas, de qualquer forma, os atuais problemas do evangelicalismo norte-americano 
(esvaziamento dos jovens, descontentes com uma politização vista como excessiva, estreita, autoritária e 
ultraconservadora) nos servem de alerta. Aprendamos, enquanto é tempo, que a sabedoria e a diversidade políticas 
são fundamentais para a saúde da igreja. Tenhamos a sabedoria de escolher bem as batalhas. E tenhamos a 
consciência da diversidade política evangélica que de fato existe, tendo o cuidado interno de não exigir uma 
respeito da pluralidade política evangélica e seu compromisso com as normas democráticas. 
É importante que os cristãos não se deixem consumir pelo ódio político, mas que deem exemplo de uma 
comunidade não unida politicamente (o que, além de impossível, seria indesejável porque decorreria somente de 
uma unidade manipulada), mas unida no tratamento cristão das diferenças políticas. Lembremos as exortações 
bíblicas de amar a todos, mas especialmente os irmãos na fé (como João 13.34-35, em que a capacidade dos cristãos 
de se amarem mutuamente é o fator mais importante na sua reputação diante do mundo; e Gálatas 6.10, em que 
nutrir uma antipatia para com aqueles que nos são mais próximos, mas que discordam de nós! Se os cristãos não 
forem capazes de viver essa ética do amor, dentro da comunidade cristã e no meio da tormenta política que nos 
divide, não teremos nada a contribuir à sociedade.

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