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Ana Júlia Soares Silva1 A Filosofia como Ciência de Rigor HUSSERL, Edmund. A filosofia como ciência de rigor. Coimbra, 1995. Edmund Husserl, em sua publicação de A Filosofia como Ciência de Rigor, faz uma crítica ao lugar que a Filosofia foi colocada ao decorrer de sua evolução, longe de qualquer rigor e de sua pretensão inicial de ser ciência. Não tendo métodos e teorias esclarecidas cientificamente, a Filosofia logo se tornou base de fundamentação para as ciências naturais e morais, mas sem conseguir chegar ao patamar das mesmas em questão de cientificidade. Para isso, Husserl pensa, inicialmente, na definição de uma ciência de rigor para, só assim, tencionar a Filosofia como uma. Tendo-se em mente que essa ciência, para o autor, é diferente da ciência positivista, que se destacava na época. Para que ocorra essa fundação de um novo sistema da filosofia, torna-se necessário superar outras propostas da filosofia que foram surgindo na época, entre elas, a Filosofia Naturalística. Um dos grandes problemas de colocar a filosofia dentro das ciências naturais é que isso implica na naturalização da consciência, das ideias e na criação de leis naturais do pensamento, e que ainda mais, tem como pressuposto que essa natureza a ser estudada é uma natureza dada, logo, estática no tempo e no espaço. Outro conhecimento que acaba por tentar encaixar-se nas ciências naturais é a Psicologia, que através da psicofísica e da psicologia experimental se aproxima do naturalismo, podendo então ser a base fundamentadora de todas as ciências do espírito e metafísicas. Entretanto, para o autor, esse é um caminho ingênuo para ambos os saberes, que deveriam buscar entender a consciência e o “ser” em suas formas puras, investigando todas as suas possibilidades de ser para enfim chegar a sua essência. O que seria uma forma rigorosa do conhecer, porém diferente da rigorosidade do positivismo, apesar de ser tão válida quanto. Assim, Husserl propõe a Fenomenologia da Consciência, método investigativo diferente da ciência natural, e junto a isso, uma proximidade da Fenomenologia e da Psicologia, tendo em vista que ambas terão o mesmo objeto de estudo, a consciência, mas que se apropriaram do 1 Discente de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão Email: ajuliasoares13@gmail.com mesmo de formas diferentes. Estando a Fenomenologia em busca da consciência pura, em uma orientação fenomenológica, e a Psicologia em uma consciência empírica. Por outro lado, a Psicologia Exata Moderna, traz o afastamento dessa com a Filosofia, se colocando a cima de outras possíveis psicologias e acabando por ser falha e ingênua, ao não fazer uma análise pura da consciência, ao não conseguir investigar e compreender o ser assim como é dado, e por aspirar de tal forma a exatidão do naturalismo, que não se percebe tentando encaixar em uma objetividade fenômenos que são por si subjetivos. Torna-se impreciso, então, o significado da experiência psicológica, que não é buscada em sua essência dada – dado, aqui no sentido de revelado e não de algo fixo e estável. Portanto, a Psicologia que tem como objeto de estudo os fenômenos psíquicos, a consciência, o ser, não pode os estudar por um filtro naturalizado. Considerando que para a Natureza a aparência evidencia a existência, o psíquico não pode ser pertencente a essa, já que os fenômenos são dinâmicos, como um fluxo, dados na vivência. Assim, não adianta tentar adaptar a Psicologia aos métodos das Ciências Naturais, sendo que essa deve possuir seu próprio método de acordo com a necessidade de seu objeto, que no caso, precisa da valorização da experiência. Para tanto, Husserl sugere a fenomenologia, junto a seus métodos, para a reparação dos erros fundamentais existentes na Filosofia e na Psicologia, enfatizando ainda a necessidade de ambas de uma afinidade, que não as confunda. Ademais, o autor propõe uma breve discussão a respeito da Filosofia Ideológica, que é considerada filha do ceticismo historicista, sendo uma Filosofia que procura ser mais ideologia do que ciência. Preocupando-se com a questão da sabedoria e ideologia, que se refere a variedade de valores que acompanham culturas e épocas diferentes. Portanto, uma Filosofia Ideológica ainda é incompleta ao propósito da cientificidade, tendo-se que essa é mutável de acordo com a ética, enquanto a ciência deve ter valores absolutos e eternos. Por fim, Husserl afirma ainda não existir uma filosofia que seja ciência de rigor em sua teoria e prática, mas ratifica que isso não deve impedir a busca pelo rigor científico. E isso deve ser feito por meio de uma busca intensa de suas origens, objetivo e métodos, tornando esses os mais claros e evidentes possíveis, para assim poder se chegar à ciência filosófica.
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