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AULA 6 GERENCIAMENTO DE RISCOS Prof. Thiago Ayres 02 CONVERSA INICIAL Esta é a fase de implementação e monitoramento dos riscos! Esta aula lhe auxiliará a compreender a importância da implementação das respostas aos riscos e do monitoramento dos riscos de seu projeto. Abordaremos os principais elementos da implementação de respostas aos riscos e algumas das principais técnicas de monitoramento de riscos: análise de gatilhos, reservas, auditorias e medição de desempenho técnico. CONTEXTUALIZANDO A implementação e o monitoramento dos riscos é uma fase crítica do gerenciamento de riscos, principalmente porque, em muitos casos, é comum que o gestor de projetos priorize outras atividades e deixe a gestão dos riscos de lado. Não é difícil encontrarmos gestores que negligenciam as melhores práticas da gestão dos riscos de um projeto. Esse é um erro grave, pois pode trazer consequências capazes de impactar os custos e o prazo do projeto, além de desmotivar a equipe. De nada adianta realizar um esforço enorme na fase de planejamento – identificando, analisando e desenvolvendo respostas aos riscos – se não houver uma implementação e um monitoramento adequados. E como vamos ter a certeza de que estamos implementando respostas de forma correta? Com a medição de desempenho técnico do monitoramento de riscos é possível verificar se estamos executando o que foi planejado de forma adequado. Vamos aprender a fazer isto? TEMA 1 – IMPLEMENTANDO RESPOSTAS AOS RISCOS Agora que temos nossa lista de riscos priorizada, uma análise de cenários e probabilidades, bem como respostas aos riscos definidas, qual o próximo passo? Vamos implementar as respostas dos riscos mais prioritários e monitorá- los. Mas devemos sair implementando todas as respostas aos riscos de uma vez? Não, é muito importante saber o momento certo, identificar qual é o gatilho necessário para implementar cada resposta. O objetivo primário da implementação de respostas aos riscos é garantir que elas sejam acionadas conforme o planejado. Outro ponto importante é 03 garantir que os papéis e responsabilidades atribuídas aos membros da equipe sejam alocados de forma correta para apoiar o gestor do projeto. O desenvolvimento de uma resposta ao risco é fundamental neste momento. É uma atividade que agrega muito valor ao projeto. Implementar respostas aos riscos aumenta a probabilidade de seu projeto atingir o sucesso almejado. É preciso também estar sempre atento, pois a implementação também pode demandar atualizações nos demais documentos do projeto. Um erro muito comum, segundo Kerzner (2016), é achar que a identificação dos riscos se dá somente na fase de planejamento do projeto. É notório que os projetos sofrem alterações durante sua execução, causadas por influências externas ou internas. Dessa forma, a lista de riscos deve ser revisada periodicamente. Na tabela abaixo, apresentamos alguns exemplos de respostas aos riscos. Tabela 1 – Riscos priorizados ID Descrição de risco Tipo Responsável por executar a ação Tipo de resposta Plano de contingência 1 Indisponibilidade de pessoal devido à priorização de outros projetos Negativo Ana Beatriz Escalar Realizar contratações e/ou treinar e capacitar recursos com alta disponibilidade 2 Outros atrasos no cronograma Negativo Ana Beatriz Mitigar O PMO deve acompanhar diariamente as execuções das atividades do projeto 6 Mudança de foco no projeto Negativo Juarez Negrão Mitigar Acompanhar se as atividades do projeto estão alinhadas com os requisitos do projeto 3 A organização conseguir subsídios do governo para garantir investimentos Positivo Waldemar Nogueira Aceitar Acompanhar o andamento da tramitação da lei na Câmara 04 Notem que a tabela apresenta apenas um recorte de uma planilha. As colunas contêm informações relevantes para essa etapa do projeto. Ao final, você terá uma planilha única com várias colunas, apresentando as informações que levantamos até aqui. Segundo Montes (2017), durante a implementação das respostas, deve-se estar sempre atento às seguintes questões: As premissas do projeto ainda são válidas? As reservas de contingência precisam ser revisadas? A metodologia definida está sendo seguida? Houve mudanças significativas na lista de risco? As respostas aos riscos continuam adequadas? Para Montes (2017), realizar o levantamento dos riscos por si só não garante que a equipe conseguirá evitá-los ou que vai conseguir diminuir a probabilidade de ocorrência de riscos negativos. A implementação do plano de contingência pelo responsável é necessária com vistas a reduzir as perdas causadas por impactos negativos e assim aumentar a probabilidade de sucesso do projeto. TEMA 2 – ANÁLISE DE GATILHOS NO MONITORAMENTO DE RISCOS Na etapa de monitoramento do projeto, o Gestor utiliza técnicas para analisar os desvios e as tendências. Essa fase requer a análise de informações relacionadas ao desempenho das atividades que estão em execução. Essa análise, muitas vezes, é baseada em respostas às seguintes questões: As premissas do projeto foram alteradas? Houve alguma alteração nos riscos classificados como prioritários? O orçamento para contingências ou o cronograma foram modificados? O monitoramento dessas questões é importante para garantir que as respostas que não corresponderam às expectativas tenham uma ação corretiva adequada e em tempo hábil, a fim de corrigir os desvios do projeto. Muitas vezes, as ações são tão significativas que é necessário abrir solicitações de mudança da linha de base. Uma forma de saber se um risco está prestes a ocorrer é por meio da utilização de gatilhos. Gatilhos (ou triggers) são eventos que indicam se um determinado risco está prestes a ocorrer e se está na hora de dar início a ações 05 planejadas de resposta. Os gatilhos de cada risco devem ser identificados no momento do levantamento dos riscos e devem ser acompanhados durante todo o processo de monitoramento. Na Tabela 2, a coluna gatilho apresenta exemplos de eventos que indicam se um determinado risco está prestes a ocorrer e se está na hora de iniciar as ações planejadas de resposta. Tabela 2 – Riscos priorizados ID Categoria Descrição do risco Tipo Gatilho Tipo de resposta 1 Gerenciamento Indisponibilidade de pessoal devido à priorização de outros projetos Negativo Aumento das solicitações de manutenção e serviço para outros projetos por parte dos clientes Escalar 2 Organizacional Outros atrasos no cronograma Negativo Comunicação de alteração dos interesses Mitigar 6 Gerenciamento Mudança de foco no projeto Negativo Comunicação de alteração dos interesses Mitigar 3 Organizacional A organização conseguir subsídios do governo para garantir investimentos Positivo Aguardar a votação da lei de incentivo Aceitar Kerzner (2016) sugere dois pontos importantes para o controle eficiente dos gatilhos: 1. Acionar as ações de respostas ao risco no momento certo evita gastos desnecessários da reserva de contingência do projeto. 2. Uma gestão de risco eficiente traz uma segurança maior aos stakeholders de que o projeto será concluído dentro das expectativas. Identificar o momento certo para acionar os gatilhos durante o monitoramento dos riscos é essencial. Para Kerzner (2016), isso significa que, caso uma ação de contingência seja acionada após o momento correto, ela pode ser ineficaz; então, fique sempre atento aos sinais que indicam a ocorrência do risco. 06 TEMA 3 – ANÁLISE DE RESERVAS PARA O MONITORAMENTO DE RISCOS É de conhecimento de muitos gestores que, durante a execução de um projeto, é necessário contarcom reservas de contingências, tanto financeiras quanto de prazo. As reservas têm como objetivo resguardar o projeto de eventuais infortúnios causados por riscos relacionados a ameaças que não puderam ser evitadas. O cálculo da Reserva de Contingência já foi apresentado anteriormente, na aula de análise quantitativa. Utilizamos o método do Valor Monetário Esperado (VME) e multiplicamos a probabilidade de ocorrência de um risco pelo custo financeiro do risco, ou o impacto. A reserva de contingência é o somatório do VME de todos os riscos calculados. A reserva de contingência não está somente relacionada ao orçamento do projeto, mas também ao gerenciamento de atrasos no projeto. No caso do cronograma, a equipe pode optar por adicionar tempo, o que também é chamado de buffers, nas atividades impactadas pelos riscos. O tempo adicionado deve ser condizente com a probabilidade de ocorrência do risco. Durante a execução do projeto, a reserva de contingências pode ser total ou parcialmente utilizada, ou até mesmo não utilizada, conforme o andamento do projeto. Seguem algumas dicas para a correta análise de reservas durante o monitoramento dos riscos: esteja sempre atento às expectativas do cliente: caso a expectativa mude ao longo do projeto, isso poderá acarretar riscos que não estavam previstos; certifique-se de que a metodologia definida no plano está sendo utilizada de forma correta; certifique-se de que as premissas do projeto ainda são válidas. Como vimos, reservas devem ser monitoras e atualizadas constantemente à medida que o projeto evolui. Chittenden (2006) apresenta as reservas ou contingências como sendo fundamentais para uma correta gestão dos riscos do projeto, pois elas vão garantir a sua realização. TEMA 4 – AUDITORIAS NO MONITORAMENTO DE RISCOS É comum que os gestores de projetos e as equipes se deparem com cenário de incertezas, relacionadas aos fatores ambientais nos quais a 07 organização está inserida, como por exemplo incertezas econômicas. Como já vimos anteriormente, é muito importante para o sucesso do projeto que os riscos levantados e priorizados reflitam tais incertezas. Essa conjuntura de incertezas mexe com as expectativas dos stakeholders quanto ao sucesso do projeto. Diante disso, como podemos transmitir uma confiança maior aos stakeholders do projeto? Transmitir confiança de que o projeto será concluído dentro das expetativas é muito difícil e exige excelente comunicação por parte do gestor. Uma forma de transmitir confiabilidade e transparência em relação à execução do projeto é por meio de auditorias periódicas. Conforme o Guia PMBOK (PMI, 2017), a auditoria pode ser usada para analisar a eficácia do processo de gerenciamento de riscos, devendo ser executada em conformidade com o plano de gerenciamento de riscos do projeto. Vimos que auditorias são importantes para transmitir confiabilidade para os stakeholders do projeto. Porém, existe um padrão para as auditorias? O PMI (2017) apresenta o Guia PMBOK, que é um guia de boas práticas, e enfatiza que cada organização tem necessidades específicas, e que, portanto, não existe uma solução padrão única para todas as organizações. Todavia, existem duas recomendações básicas: 1. A criação de um comitê de auditoria com a responsabilidade de garantir a confiabilidade e a veracidade das informações levantadas; 2. A criação de indicadores que reflitam, de alguma forma, a implementação das respostas aos riscos, além da eficácia das respostas com relação ao impacto. Alguns pontos devem ser observados em uma auditoria no monitoramento de riscos: defina os objetivos e resultados esperados; faça um cronograma e comunique os interessados; em caso de não conformidades, é importante definir responsáveis e prazos para garantir que o processo de auditoria foi válido. O Guia PMBOK (PMI, 2017) sugere a elaboração de um relatório apresentando informações como: Quantos itens foram cumpridos? Quais foram as não conformidades? Quantas ações serão necessárias para resolver as não conformidades? Qual é a área que mais necessita de melhorias? A Associação Brasileira de Normas Técnicas, em sua NBR (2009), trata da ISO 31000, que define princípios e diretrizes para a gestão de riscos. Ela define que a auditoria deve avaliar o projeto em sua totalidade, incluindo as atividades 08 que deveriam ter sido feitas e que por algum motivo estão atrasadas. A auditoria deve comparar a situação atual do projeto com a sua linha de base; todos os desvios devem ser registrados, sendo respondidos com medidas corretivas adequadas. TEMA 5 – INFORMAÇÕES SOBRE O DESEMPENHO DO TRABALHO Medir o desempenho de um projeto é essencial para o seu sucesso. Não é apenas uma boa prática de gestão, mas sim uma ação necessária para saber se o projeto está no caminho certo, além de servir como fonte de informação para levantar as lições aprendidas. Como vimos no tema anterior, reportar informações relacionadas aos riscos influencia diretamente na percepção que os stakeholders terão sobre as possibilidades de o projeto atingir seus objetivos. Alguns pontos devem ser observados na elaboração do relatório. Sempre tenha em mente que quem recebe os relatórios não dispõe de muito tempo. Evite inserir muitos detalhes, pois muitas vezes eles não agregam valor à informação e só tornam a leitura desinteressante. A falta de informações sobre o desempenho do projeto pode abrir uma brecha grave para que ruídos de comunicação prejudiquem o projeto. O Guia PMBOK (PMI, 2017) apresenta as avaliações de desempenho do projeto como um processo necessário, cujo objetivo é antecipar problemas e identificar a causa do mau desempenho. Vejamos um breve estudo de caso. Eis a empresa: Conglomerado de capital nacional criado em 1954, composto de 3 (três) empresas principais. Líder na produção de fármacos destinados às classes populares, os medicamentos similares (medicamentos desenvolvidos a partir de marcas de referência no mercado, cuja patente expirou), com participação de 33%. Atua também com destaque no mercado de genéricos (medicamentos comercializados a partir dos princípios ativos regulados pelas políticas públicas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).a participação da empresa neste mercado é de (19%), dados fornecidos pela ANVISA (2005) (Rovai, 2005). O problema: A empresa, até recentemente, só reproduzia mecanicamente os similares derivados de marcas de referência no mercado. Com patente esgotada, entrou fortemente no mercado de genéricos. Todavia, segundo as diretrizes da ANVISA, as empresas que se dedicarem à produção de genéricos terão de fazer testes de bio-equivalência e isso gera investimentos até de R$ 25.000.000,00, e prazos de maturação de três a quatro anos. 09 Todos estes fatos e acontecimentos têm gerado a demanda por projetos e a empresa não possui metodologias formais para gerenciar projetos e/ou riscos. A direção executiva reconhece fortemente esta necessidade, todavia muito pouca coisa tem feito, devido aos picos de produção e às altas taxas de crescimento enfrentadas. A falta de profissionais que gerenciem seus projetos e que tratem dos riscos de suas atividades inovativas tem causado muitos problemas.] (...) A Abordagem para Gestão dos Riscos nos projetos não é efetuda, porém os profissionais que estão diretamente envolvidos com tais atividadesêm ciência do enorme potencial de seus efeitos positivos e reconhecem que a situação atual é muito difícile até mesmo insustentável a longo prazo. Os riscos são muitos elevados e os profissionais só tem consciência deles quando se tornam problemas ou graves crises, e em muitos casos os projetos são cancelados e os recursos perdidos (Rovai, 2005). Considere o estudo de caso apresentado e reflita sobre a importância de reportar sistematicamente as informações sobre o desempenhodo trabalho. Vale sinalizar a intrínseca relação entre os sistemáticos fluxo informacional sobre os riscos de um projeto, ruídos de comunicação e cultura organizacional. A conclusão de Rovai (2005) sobre as principais deficiências do caso apresentado indica pontos importantes sobre essa questão: Como principais deficiências que precisam ser evitadas no processo de implantação do modelo estruturado pode se mencionar: (...) Por último, acredita-se que o fator crítico mais relevante além da cultura, competências (ou experiência) e aplicações são os processos de gerenciamento de riscos. Uma cultura sem processos será diletantismo ou conhecimento de pouca utilização. Competências sem processos estruturados são igualmente restritas, pois os esforços individuais são desproporcionais aos resultados obtidos. As aplicações da gestão de riscos também têm sua efetividade afetada pela falta de processos estruturados (Rovai, 2005). FINALIZANDO Nesta aula, vimos o que é implementar as respostas aos riscos e como é importante o gestor estar atento e não negligenciar a gestão dos riscos de um projeto. Mostramos que esse é um erro grave, pois pode trazer consequências que podem impactar os custos e o prazo do projeto, além de desmotivar a equipe. Na sequência, vimos para que serve a análise de gatilhos no monitoramento e como fazer a análise das reservas. Apresentamos dicas para a realização da auditoria como parte do monitoramento dos riscos e por fim vimos que a apresentação de informações sobre o desempenho do trabalho é de suma importância para garantir o sucesso do projeto. Assim, chegamos ao final de nossa escalada do conhecimento! Desejo sucesso em seus projetos! 010 REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. ISO 31000. Gestão de riscos – Princípios e diretrizes. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <https://gestravp.files.wordpress.com/2013/06/iso31000-gestc3a3o-de- riscos.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2018. CHITTENDEN, J. Risk Management based on MoR: a management Guide. Zeewolde: Van Haren Publishing, 2006. DINSMORE, P. C; NETO, F. H. da S. Gerenciamento de projetos e o fator humano. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2012. KERZNER, H. Gestão de projetos: as melhores práticas. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2016. MONTES, E. Introdução ao Gerenciamento de Projetos. 1. Ed. São Paulo: Createspace Independent Publishing Platform, 2017. PMI – Project Management Institute. Gerenciamento de riscos do projeto. In: _____. Guia PMBOK: um guia de conhecimento em gerenciamento de projetos. 6. ed. Filadélfia: PMI, 2017. ROVAI, R. L. Modelo estruturado para gestão de riscos em projetos: estudo de múltiplos casos. Tese (Doutorado em Engenharia da Produção) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3136/tde-01092006-180244/pt- br.php>. Acesso em: 25 abr. 2018.