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M ÓD UL O I - L iv ro T ex to 1Material Didático Pedagógico de Educação Profissional da Escola Técnica do SUS em Sergipe Material Didático Pedagógico de Educação Profissional da Escola Técnica do SUS em Sergipe Autores Eliane Aparecida do Nascimento Flávia Priscila Souza Tenório Josefa Cilene Fontes Viana Katita Figueiredo de Souza Barreto Jardim Margarite Maria Delmondes Freitas Rosiane Azevedo da Silva Cerqueira Valdelíria Carvalho Coelho de Mendonça Organizadores Flávia Priscila Souza Tenório Katiene da Costa Fontes Cristiane Carvalho Melo 1ª Edição Editora Fundação Estadual de Saúde- FUNESA Aracaju-SE 2011 Material Didático Pedagógico de Educação Profi ssional da Escola Técnica do SUS em Sergipe Módulo I - Livro Texto Autores Eliane Aparecida do Nascimento Flávia Priscila Souza Tenório Josefa Cilene Fontes Viana Katita Figueiredo de Souza Barreto Jardim Margarite Maria Delmondes Freitas Rosiane Azevedo da Silva Cerqueira Valdelíria Carvalho Coelho de Mendonça Organizadores Flávia Priscila Souza Tenório Katiene da Costa Fontes Cristiane Carvalho Melo 1ª Edição Editora Fundação Estadual de Saúde- FUNESA Aracaju-SE 2011 6 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Copyrigth 2011- 1ª Edição - Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe, Fundação Estadual de Saúde/FUNESA e Escola Técnica do Sistema Único de Saúde em Sergipe/ETSUS-SE Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e a autoria e que não seja para venda ou para fim comercial. Tiragem: 4.000 Impresso no Brasil Ficha catalográfica Catalogação Claudia Stocker – CRB-5 1202 F981m ISBN 978-85-64617-00-1 CDU 614:371.217(813.7) Funesa – Fundação Estadual de Saúde Material Didático Pedagógico de Educação Profissional da Escola Técnica do SUS em Sergipe. Módulo I – Livro texto / Fundação Estadual de Saúde - Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe. – Aracaju: FUNESA, 2011. Cristiane Carvalho Melo (organizadora), Eliane Aparecida do Nascimento (autora), Flávia Priscila Souza Tenório (autora e organizadora), Josefa Cilene Fontes Viana (autora), Katiene da Costa Fontes (organizadora), Katita Figueiredo de Souza Barreto Jardim (autora), Margarite Maria Delmondes Freitas (autora), Rosiane Azevedo da Silva Cerqueira (autora), Valdelíria Carvalho Coelho de Mendonça (autora). 1. Educação Profissional 2. Saúde Pública 3. SUS – Sistema Único de Saúde de Sergipe I. Funesa II.Título III. Assunto 366p. 28 cm 7 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe GOVERNO DO ESTADO DE SERGIPE Governador Marcelo Déda Chagas Vice-Governador Jackson Barreto de Lima SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE Secretário Antônio Carlos Guimarães Sousa Pinto Secretário Adjunto Jorge Viana da Silva FUNDAÇÃO ESTADUAL DE SAÚDE/FUNESA Diretora Geral Claúdia Menezes Santos Diretor Administrativo Financeiro Carlos André Roriz Silva Cruz Diretora Operacional Katiene da Costa Fontes ESCOLA TÉCNICA DE SAÚDE DO SUS/ETSUS-SE Coordenadora Eliane Aparecida do Nascimento Assessora Pedagógica Débora Souza de Carvalho ELABORAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO Consultoria Ricardo Burg Ceccim Autoria Eliane Aparecida do Nascimento Flávia Priscila Souza Tenório 8 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Josefa Cilene Fontes Viana Katita Figueiredo de Souza Barreto Jardim Margarite Maria Delmondes Freitas Rosiane Azevedo da Silva Cerqueira Valdelíria Carvalho Coelho de Mendonça Colaborador Alex Bicca Corrêa Revisão Técnica Daniele de Araújo Travassos Eliane Aparecida do Nascimento Flávia Priscila Souza Tenório Francis Deon Kich José Francisco de Santana Josefa Cilene Fontes Viana Margarite Maria Delmondes Freitas Rosiane Azevedo da Silva Cerqueira Valdelíria Carvalho Coelho de Mendonça Revisão Ortográfica Edvar Freire Caetano Organizadores Flávia Priscila Souza Tenório Katiene da Costa Fontes Cristiane Carvalho Melo Pré-Formatação Margarite Maria Delmondes Freitas Validadores Adriano Santos de Oliveira - ASB Aline Batista Cunha - ACS Aline Raquel Almeida - ENFERMEIRA Andréa de Jesus Silva - GESTORA Carlos Adriano de Oliveira Almeida - GESTOR Débora Souza de Carvalho - ENFERMEIRA Edenilce Barros dos Santos - ACS Fernanda Machado Lima Dias - CIRURGIÃ DENTISTA Flávio Xavier de Oliveira Mello - CIRURGIÃO DENTISTA Hebert Gualberto da Silva - CIRURGIÃO DENTISTA Jéssica Caroline Batista Santos - ASB 9 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe José Denis dos Santos de Santana - ACS Joselma da Silva Santos Dantas - ACS Kellen Malta Ribeiro - ASB Ligia Santos da Silva - ACS Maria Aparecida de Santana - ASB Maria Cristiane Santos - ACS Maria da Conceição De Santana Lima - SUPERVISORA Maria de Fátima Lima Nascimento - ASB Maria do Livramento Anjos - FONOAUDIÓLOGA Maria José Pereira - ACS Maria Solange Carvalho Cardoso - ACS Mariselma Santos Guimarães Teixeira - ENFERMEIRA Marileide Santos de Jesus - ASB Neide Santos Moura Teles - ACS Patrícia Evangelista - ACS Paulo Rômulo Rodrigues - ENFERMEIRO Paulo Vinícius Nascimento Paes Barreto - ENFERMEIRO Regina Mary Almeida Henriques - SUPERVISORA Renata Oliveira Mota - CIRURGIÃ DENTISTA Roberto Fabrício Pais Lima - CIRURGIÃO DENTISTA Rosicélia Gonzaga de Oliveira - ASB Sheyla Maria Teixeira Lima - ENFERMEIRA Stella Maria Gouvêa - ENFERMEIRA Tereza Aline Muniz Nascimento - ASB Vandriana Nóbrega Azevêdo de Morais - ENFERMEIRA Projeto Gráfico Imagens Publicidade & Produções Ltda. Impressão Gráfica e Editora Liceu Limitada Esta publicação é uma produção da Secretaria de Estado da Saúde e Fundação Estadual de Saúde com o apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 10 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 10 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Apresentação Prezado (a) Aluno (a), O curso que você está iniciando foi construído para utilização em uma abordagem dinâmica e abrangente que engloba conteúdos de base para a formação inicial na educação profissional do técnico em saúde que atua no Sistema Único de Saúde (SUS). Como estra- tégia didática, o livro foi dividido em cinco unidades de produção pedagógicas, buscando facilitar o processo de ensino e aprendizagem. No contato com os textos, você vai observar que foi enfatizado o tema das políticas públicas no nosso cotidiano e o entendimento da trajetória de implantação e desenvolvi- mento do SUS, destacando o seu surgimento a partir da Reforma Sanitária Brasileira. Será apresentado, também o processo da Reforma Sanitária e Gerencial do SUS em Sergipe, abordando de forma atrativa e numa linguagem acessível as diretrizes que impulsionaram esse movimento. A formação inicial visa a aproximá-lo o máximo possível do sistema de saúde onde você vai trabalhar e exercer ativamente seu papel de agente de transformação social. Os autores buscaram discutir o tema da Proteção à Saúde refletindo sobre a diferen- ça entre promoção, prevenção e assistência. Trabalharam, também, questões relativas ao território e aos modelos de atenção à saúde como construção histórica, social e cultural. Em relação à Vigilância em Saúde, o livro traz conceitos e aplicabilidades com destaque para os cuidados aos usuários, considerando os fatores determinantes da saúde e os pro- cessos de trabalho. A inserção dos temas Processos Comunicacionais e Educaçãoem Saúde aparecem no livro como forma de estimular a participação ativa dos trabalhadores com ênfase no desenvolvimento do controle social. Com a sua dedicação e o suporte deste livro, você concluirá a sua formação em um dos nossos cursos: Curso de Formação para Agentes Comunitários de Saúde, Curso Téc- nico em Saúde Bucal, Curso Técnico em Vigilância à Saúde. Bem vindo (a) ao Curso e bons estudos! 11 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Sumário Geral Unidade de Produção Pedagógica I As Políticas Públicas e a Construção do Sistema Único de Saúde (SUS)..............................13 Unidade de Produção Pedagógica II Ampliando o Olhar para o Território.........................................................................................91 Unidade de Produção Pedagógica III O Processo de Trabalho nos Serviços de Saúde......................................................................135 Unidade de Produção Pedagógica IV Informação e Planejamento em Saúde......................................................................................179 Unidade de Produção Pedagógica V Educação em Saúde e Controle Social......................................................................................279 12 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Nota de Esclarecimento A editora esclarece que, priorizando o caráter comunicativo, bem como a preservação da fluência textual, referên- cias foram omitidas do corpo do texto. Entretanto, as idéias expressas implícita e explicitamente são baseadas na bibliografia indicada ao final de cada unidade de produção pedagógica nas referências. Unidade de Produção Pedagógica I As Políticas Públicas e a Construção do Sistema Único de Saúde (SUS) Rosiane Azevedo da Silva Cerqueira 14 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 1414 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Apresentação.....................................................................................................................................................................17 Intertexto: A história de dona Vera..........................................................................................................18 Atividade 01...........................................................................................................................................................20 A contextualização da política no cotidiano....................................................................................................20 Atividade 02...........................................................................................................................................................22 Marcos históricos das políticas de saúde no Brasil..................................................................................23 Brasil Colônia: 1500 até o Primeiro Reinado ......................................................................................23 Do Final do Brasil Colônia ao Brasil Império.....................................................................................24 Brasil República - 1889 a 1930: início da República........................................................................25 Atividade 03...........................................................................................................................................................27 1930 a 1945: da revolução de 30 ao Estado Novo.............................................................................29 Atividade 04 ..........................................................................................................................................................31 1945 a 1964: o Populismo ...............................................................................................................................31 1964 a 1973: o Estado Militar .......................................................................................................................32 Atividade 05...........................................................................................................................................................35 1980 a 1990: redemocratização e direito à saúde.................................................................36 A Nova República - 1990 aos dias atuais: avanços e desafios de se fazer valer o direito à saúde.......................................................................................................................................................38 Atividade 06...........................................................................................................................................................39 1ª Atividade de Dispersão................................................................................................................................39 Sistema Único de Saúde ...........................................................................................................................................40 Atividade 07...........................................................................................................................................................40 O que é o SUS? ......................................................................................................................................................40 Sumário 15 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 15 UP P I - A s Po lít ic as P úb lic as e a C on st ru çã o do S is te m a Ún ic o de S aú de (S US ) 15 Como deve funcionar o SUS? ......................................................................................................................41 Atividade 08 ..........................................................................................................................................................47 Bases legais que regulamentam o SUS ..................................................................................................47 Atividade 09 ..........................................................................................................................................................48 Atividade 10 ..........................................................................................................................................................50 Financiamento do SUS ....................................................................................................................................50 Atividade 11 ..........................................................................................................................................................50 Atividade 12 ..........................................................................................................................................................52 Intertexto: cordel: “Um recado do SUS para dona Vera” ..........................................................54 Reforma Sanitária do Brasil e em Sergipe: “Nossas Reformas” ...................................................55 A Reforma Sanitária Brasileira - resgatando a história do SUS................................................55 Origem do movimento.....................................................................................................................................55 Diretrizes defendidas por este movimento............................... ..........................................................56A reforma e a VIII Conferência Nacional de Saúde............................................................................57 Atividade 13...........................................................................................................................................................57 Atividade 14...........................................................................................................................................................58 2ª Atividade de Dispersão..............................................................................................................................58 A Reforma Sanitária e Gerencial do SUS em Sergipe...................................................................59 Atividade 15...........................................................................................................................................................59 Atividade 16...........................................................................................................................................................62 Mapa da Reforma Sanitária de Sergipe...................................................................................................64 Atividade 17...........................................................................................................................................................64 Promoção da saúde e processo saúde/doença............................................................................................65 Atividade 18...........................................................................................................................................................65 Atividade 19...........................................................................................................................................................65 16 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 1616 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Atividade 20...........................................................................................................................................................66 3ª Atividade de Dispersão...............................................................................................................................66 Processo saúde/doença....................................................................................................................................68 As concepções sobre saúde e doença nos diversos períodos históricos.............................68 Como a sociedade primitiva pensava sobre os conceitos de saúde e de doença?........69 Abordagens racionais para explicar a saúde e a doença..............................................................69 Como era a saúde na Idade Média?..........................................................................................................69 Novos modelos de pensar a saúde e a doença ..................................................................................70 A saúde como ausência de doença...........................................................................................................71 Os contagionistas x anticontagionistas...................................................................................................71 A era bacteriológica............................................................................................................................................72 Unicausalidade e multicausalidade.........................................................................................................72 A História Natural da Doença: conhecer para questionar..........................................................73 A saúde como uma produção social: um novo paradigma .......................................................73 Atividade 21...........................................................................................................................................................73 Das diferenças entre prevenção, proteção e os princípios da promoção de saúde..........74 Atividade 22...........................................................................................................................................................74 Vigilância da saúde........................................................................................................................................................78 Intertexto: O Cão e a Ovelha...........................................................................................................................78 Atividade 23 ..........................................................................................................................................................79 Atividade 24...........................................................................................................................................................81 4ª Atividade de Dispersão................................................................................................................................82 Referências.........................................................................................................................................................................86 17 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 17 UP P I - A s Po lít ic as P úb lic as e a C on st ru çã o do S is te m a Ún ic o de S aú de (S US ) 17 Apresentação Esta unidade discute o papel e os conceitos de política e de política pública no nosso cotidiano. As discussões iniciais conduzirão a reflexões sobre a história da saúde pública no Brasil até a implantação do SUS, enfocando o seu surgimento a partir da Reforma Sa- nitária Brasileira, apresentando as diretrizes e os princípios do Sistema Único de Saúde, organização e financiamento. O texto aborda, também, a Reforma Sanitária e Gerencial do SUS em Sergipe, enfocando as diretrizes e os eixos que impulsionam este movimento, além dos desafios para sua implantação e consolidação. Discute a proteção à saúde se- gundo as perspectivas da integralidade, da participação popular e do trabalho em equipe, buscando a superação da noção de saúde pautada na História Natural da Doença, con- textualizando na ótica atual de saúde como fator de produção social e de transformação coletiva. Traz a Vigilância na Saúde com a proposta de mudança de concepções e práticas sanitárias, discutindo conceitos e aplicabilidades na Saúde Coletiva, avançando nos seus recortes teóricos, técnicos e operacionais, para conformar uma nova proteção à saúde, que não seja pela imposição de práticas e valores, mas pela construção de processos coletivos e sociais. As abordagens propostas devem enfocar o controle dos determinantes, dos riscos e dos danos, mas também a dimensão político-gerencial e, nesse sentido, voltar-se para a organização dos processos de trabalho e do “empoderamento” da população sobre a for- ma de conduzir a vida. Pretende-se com isso que, ao final desta unidade, novos processos e ações se consti- tuam de fato tanto no campo do trabalho em saúde coletiva quanto naqueles campos que compõem o espectro dos direitos sociais e da cidadania. 18 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 1818 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Intertexto: A história de dona Vera... Dona Vera é uma mulher muito querida no povoado onde mora. Sua filha mais velha, chama-seMicaela. De uns dias para cá dona Vera encontrava-se muito pre- ocupada, pois Micaela estava apresentando alguns sintomas como perda de peso e tosse há mais de sete dias. Dona Vera pegou um transporte e levou a menina para a unidade de saúde da cidade. Ao chegar naquela unidade de saúde, o médico não estava. Assim, sem esperar pelo atendimento da enfermeira, dona Vera deu segui- mento à sua caminhada e saiu, levando a filha para o hospital regional. Quando chegou ao hospital, dona Vera visualizou uma emergência lotada! Olhou ao redor e viu um ambiente confuso, tumultuado e barulhento. Ela, tomada pela ansiedade e agitação, procurou a recepção e gritou com a atendente: - Moça, preciso do médico para atender minha filha! - Certo, senhora, mas calma, todos aqui precisam ser atendidos. Só que, antes de qualquer coisa, você tem que me passar primeiro seus dados para eu poder dar entrada no cadastramento. Respondeu a recepcionista. Assim, após 1 hora ela foi encaminhada para o acolhimento e para o médico, que a examinou detalhadamente e encaminhou para fazer uma radiografia de tórax e uma baciloscopia (teste do escarro). O resultado destes exames demorou uma hora para que o médico visse e analisasse, concluindo que a criança estava acometida de tuberculose pulmonar. Diante do quadro clínico em que chegou a paciente, o profissional decidiu que precisaria ficar internada, devendo dar início imediato ao tratamento. Porém, a notícia não foi dada por completo à dona Vera. A enfermeira apenas avisou que a menina precisava ficar internada. Passados três dias, a mãe e a criança ainda se encontravam no pronto-socorro, numa sala separada sem saber o que havia com Micaela. O município onde dona Vera mora possui 8 mil habitantes, esses vivem basicamente da agricultu- ra, cujo produto de maior destaque é o feijão. Em relação à saúde tem duas Equipes de Saúde da Fa- mília e uma Equipe de Saúde Bucal que atendem na sede do município. Quando a população da zona rural necessita do serviço de saúde precisa vir à cidade, ou procura o agente comunitário de saúde. Há também a ida de uma das Equipes, uma vez por semana, para cada povoado. Acolhimento origina de acolher e significa rece- ber, aceitar (opiniões, ideias), abrigar, escutar... (Houaiss, 2001). O Acolhimento é um dis- positivo para ampliar o acesso dos usuários ao sistema de saúde. Não deveria ser só um meca- nismo de organização da agenda mais humaniza- da, mas a entrada numa rede de cuidados com atendimentos contínuos e garantia de atenção às necessidades em saúde de cada usuário. 19 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 19 UP P I - A s Po lít ic as P úb lic as e a C on st ru çã o do S is te m a Ún ic o de S aú de (S US ) 19 Dona Vera, sem aguentar com tamanho descaso, procurou por ajuda, indo até a enfermaria da ala pediátrica. Não conseguiu ser bem-sucedida, pois não encontrou vaga e nem resposta para suas indagações. Com isso, ela começou a xingar o SUS. Esbravejando: - Esse SUS não presta, mas quando é na política todos esses “safados”aparecem para pedir voto. Depois, deixam um pronto socorro só com um médico para atender esse povo todo e quando precisa se internar, bota mais sofrimento. As outras mães que também estavam presentes, confirmaram: - É mesmo, e essas enfermeiras com má vontade, tudo com a cara de bicho?! - Você vai pedir uma fralda descartável para botar no menino, só falta apanhar - grita bem alto uma outra mãe. Dona Vera continua: - Não aguento mais tanta humilhação. Quando você precisa dessa porcaria fica na mão. Nin- guém se compadece que tenho uma filha especial. Minutos depois chega a enfermeira da ala pediátrica, informando: - Mãezinha, estava lhe procurando, solicitamos uma vaga na pediatria para a Micaela e já encontramos. Arrume-a que já venho buscar a bonequinha! Tá bom?” A mãe, surpresa, responde: - Nem acredito! É mesmo? Já tem três dias que não prego o olho aguardando uma solução. Ai que bom Micaela! Micaela, inocentemente, sorri... 20 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 2020 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Responder no portfólio para posterior discussão A História de dona Vera se assemelha à história de muitas outras pessoas. Quando vimos a trajetória dela buscando atendimento, encontramos uma realidade muito presente em alguns cenários dos serviços de saúde. Com isso, questionamos: • Você concorda com a mãe de Micaela quando ela fala que o SUS não presta? Por quê? • O que você entende por política? • O que você entende por políticas públicas? A contextualização da política no cotidiano É fato que há muitos aspectos relacionados ao setor da saúde que dificultam o seu avanço. No entanto, destacamos que antes de qualquer crítica devemos aprofundar o de- bate sobre os determinantes históricos envolvidos no processo de construção do SUS, pon- derando seu contexto político, econômico e social. A história da origem do SUS está relacionada com a conquista dos direitos sociais, da saúde e da previdência, sendo resultante do poder de luta, de organização e de reivin- dicação de um “coletivo” que busca políticas públicas não como dádivas, mas sim como direito. A saúde deve estar disponível e acessível para todas as pessoas e não apenas para aquelas registradas no mercado formal ou quando as doenças se tornam uma ameaça para a economia. A Saúde deve ser um bem de todos e obrigação dos governos federal, estadu- ais e municipais. Antes de avançarmos na história do SUS, precisamos discutir sobre os dilemas ilus- trados na história de dona Vera, sendo importante a aproximação com alguns conceitos. Na nossa sociedade a palavra política tem um entendimento comum e que muitas vezes é piorado pela mídia, que passa uma visão negativa dos serviços públicos, levando a população ao descrédito em relação à Saúde Pública. Foca nas fragilidades e não dá visi- bilidade aos aspectos positivos vivenciados até o momento. Assim, quando dona Vera afirma que é na Política que esses “safados” aparecem...o que ela afirma como política está relacionado ao poder político na esfera da admi- nistração pública materializada como Estado, sendo tal significado em rela- ção à política bem parcial, pois se refere apenas ao Estado. Deveria ampliar o entendimento para além, tendo clareza do que consiste a vida em socie- dade, em comunidades e nas instituições. O que evidencia é que a política é algo intrínseco à vida nas coletividade, já que o homem é um ser social, ou seja, depende de outros para sua existência. Assim precisa haver um gerenciamento da vida relativa a todos, e isso é política. ATIVIDADE 1 O Estado é uma instituição abstrata, do tipo que não vemos,mas existe. Significa um coleti- vo fixado num território or- ganizado politicamente, so- cialmente e juridicamente e dirigido por um Governo. 21 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 21 UP P I - A s Po lít ic as P úb lic as e a C on st ru çã o do S is te m a Ún ic o de S aú de (S US ) 21 Se recordarmos o momento vivenciado por Micaela no ato do internamento, obser- vamos que as relações e discussões vivenciadas, entre as mães, os pacientes e/ou entre os profissionais são relações sociais de força e persuasão e estas são o estabelecimento de política. Isso nos faz entender que o homem é um ser essencialmente político e que todas as suas ações são políticas, motivadas pelo entendimento doque seja direito de uns ou de todos, do que seja melhor para os grupos sociais, do que deve estar acessível a todos e como deve estar. Tudo o que fazemos na vida tem consequências e somos responsáveis por nossas ações. A omissão, em qualquer aspecto da vida, significa deixar que os outros escolham por nós. A ação política está presente em todos os momentos da vida, seja nos aspectos pri- vados ou públicos. Vivemos com a família, nos relacionamos com as pessoas no bairro, no povoado, na escola ou serviços de saúde. Somos parte integrante da cidade, pertencemos a um Estado e a um país. Influenciamos em tudo o que acontece em nossa volta. Podemos acumular água em pneus ou não, podemos jogar lixo nas lixeiras ou nas ruas, podemos participar da associação do nosso bairro, ou de uma pastoral, trabalhar como voluntário ou buscar ajuda para pessoas que tiveram seus bens perdidos por conta da ação da chuva, por exemplo. Assim, superamos o entendimento geral de que política é simplesmente o ato de vo- tar, ir a comícios ou fazer parte de algum partido político. Estamos fazendo política quan- do tomamos atitudes em nosso trabalho, na comunidade e na família. Estamos fazendo política quando exigimos nossos direitos de cidadão, quando nos indignamos ao vermos nossas crianças fora das escolas, quando vemos mulheres vítimas de violência doméstica, políticos utilizarem o dinheiro público para comprar passagens aéreas para familiares. A política está presente cotidianamente em nossas vidas: na luta das mulheres contra uma sociedade machista que discrimina e age com violência; na luta dos portadores de necessidade especiais para pertencerem de fato à sociedade; na luta dos negros discrimi- nados; dos homossexuais igualmente discriminados e desrespeitados; na luta de milhões de trabalhadores sem terra num país de grandes latifúndios; enfim, na luta de todas as mi- norias por uma sociedade inclusiva que, se somarmos, constitui a maioria da população. A pessoa pode se omitir da chamada atividade política convencional (partidos, sin- dicatos etc.), mas não pode deixar de se relacionar com os amigos, filhos, marido ou espo- sa, vizinhos, colegas de trabalho etc. Há uma dimensão política em todas essas relações, sendo resultado de um longo processo histórico, durante o qual se firma a vida social dos homens. Analisando a história é possível perceber as mudanças na sua con- cepção, pois, pensar a política atualmente, já não significa limitar-se ao estudo do Estado ou dos partidos, como acontecia nos séculos passados. Os movimentos sociais adquiriram importância decisiva como ações políticos de atores sociais, tão necessários como o próprio governo ou os partidos políticos. Assim, compreendemos que atitudes e omissões fazem parte de Falamos em Atores Sociais no sentido de que os sujeitos são: 1) Atores- Porque atuam ati- vamente, expressando emo- ções, lutas e batalhas; 2) Sociais - Porque suas cau- sas são coletivas, em defesa de um modelo ou projeto de sociedade. 22 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 2222 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe nossa ação política perante a vida. Somos responsáveis politicamente pela luta por justiça social e por uma sociedade verdadeiramente democrática. Estamos falando das relações sociais que fazem e refazem a sociedade. Como vimos, a Política vai além do Estado, dos partidos políticos, das organizações, firmando-se na família, na escola, no trabalho, nas relações amorosas etc. Já quando se fala em políticas públicas refere-se à intervenção do Estado por meio de um conjunto de diretrizes e instrumentos ético-legais, para fazer frente aos problemas que a sociedade apresenta. Em outras palavras, política pública é a resposta que o Estado oferece diante de uma necessidade vivida ou manifestada pela sociedade. Portanto, as po- líticas públicas são implementadas, normalmente, vinculadas a equipamentos urbanos, a obras públicas e serviços de consumo coletivo. Elas refletem e expressam as necessidades da população nos diferentes setores da sociedade. É o reconhecimento dos direitos sociais de cidadania relacionados às condições de vida e bem-estar das populações, atendendo, também, o direito de liberdade e o de igualdade. Nessa perspectiva, existe consenso em classificar as políticas públicas em políticas de saúde, de educação, de seguridade social, de habitação, de meio ambiente e de assistência social, entendendo que são estratégias que visam a dar respostas às principais questões que emergem da vida em sociedade. A política de saúde, que faz parte desse conjunto de políticas empregadas pelo Es- tado, tem o grande objetivo de organizar as funções públicas governamentais para que no planejamento e execução dos serviços contemple ações de promoção, proteção e recupe- ração da saúde para os indivíduos de forma a proporcionar a melhoria das condições de saúde da população. Reunião em grupo para discutir as questões e apresentar em plenária Fomos apresentados aos conceitos de Política e Políticas Públicas. Agora, resgataremos os conceitos construídos após a história de dona Vera e realizaremos um paralelo com as questões a seguir: • Existe similaridade ou divergência entre o conceito formulado na atividade anterior e o con- teúdo apresentado referente a políticas e políticas públicas? Destaque. • Busque construir um conceito coletivo do que seja Política. Contextualizando a trajetória e os conceitos problematizados anteriormente, pode- mos considerar que a saúde e o seu panorama atual são frutos do nosso passado e da nossa história. As influências do seu contexto político-social são pilares para encontrarmos as respostas para entendermos como se conformou a História da Saúde no Brasil e conhe- cermos os períodos vivenciados. Assim, trazemos, a seguir, uma caracterização de alguns marcos das políticas de saúde no Brasil. ATIVIDADE 2 23 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 23 UP P I - A s Po lít ic as P úb lic as e a C on st ru çã o do S is te m a Ún ic o de S aú de (S US ) 23 Marcos históricos das políticas de saúde no Brasil Brasil Colônia: 1500 até o Primeiro Reinado Panorama político-econômico Denomina-se Brasil Colônia o período da história entre a chegada dos primeiros por- tugueses, em 1500, e a Independência, em 1822, quando o Brasil estava sob domínio socio- econômico e político de Portugal. A economia do período era caracterizada pelo tripé mo- nocultura, latifúndio e mão de obra escrava. A base da economia colonial era a produção de açúcar. O senhor de engenho era um fazendeiro proprietário da unidade de produção de açúcar que utilizava a mão de obra africana escrava e tinha como objetivo principal a venda do açúcar para o mercado europeu. Além do açúcar, destaca-se também a produção de tabaco e algodão. (BERTOLOZZI e GRECO, 1996) A saúde e o panorama sanitário A saúde era uma prática sem qualquer regulamentação, realizada de acordo com os costumes, tradições e cultura de cada povo. Índios, negros e europeus tinham sua forma singular de tratar da sua própria saúde. Existiam alguns recursos a que eles recorriam a depender de sua fé, da sua dispo- nibilidade financeira e sua condição física. Assim, a atenção à Saúde no Brasil limitava-se aos próprios recursos da terra (plantas e ervas) e àqueles que, por conhecimentos empíri- cos (curandeiros), desenvolviam as suas habilidades na arte de curar. Os caboclos empre- gavam a medicina dos pajés, e os negros, seus amuletos e ervas. Nas ruas, os barbeiros, também chamados de “práticos”, utilizavam drogas, faziam sangrias, aplicavam ventosas e sanguessugas.Os “práticos” realizavam algumas técnicas disponíveis à população mediante paga- mento, as quais tinham origem na medicina europeia. Não havia Faculdade de Medicina no Brasil e as pessoas que desejavam a formação eram obrigadas a ir estudar na cidade de Coimbra, em Portugal, o que fomentava ainda mais o atendimento dos boticários e a popularização dos remédios dos curandeiros. Prolifera- vam as rezas e os adeptos dos feiticeiros no Brasil colonial. No povoado de São Vicente ocorreu a construção da Primeira San- ta Casa de Misericórdia, na cidade de Santos. As Santas Casas atendiam os colonizadores portugueses e também os índios catequizados, que os jesuítas tomavam sob sua proteção. A situação sub-humana dos escra- vos africanos, envolvendo o cultivo da cana-de-açúcar, favorecia novos problemas como as epidemias, com destaque para a varíola. Boticários: são os atuais farmacêuticos, só que os boticários não pos- suiam formação científica. Elaboravam medicamentos a partir de folhas, ervas ou ou- tros elementos químicos com propriedades terapêuticas. Atuavam em “boticas”, uma mistura de laboratório e loja farmacêutica. 24 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 2424 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Do final do Brasil Colônia ao Brasil Império Panorama político-econômico Em 1808, com a vinda da família real para o Brasil, a grande colônia passaria por grandes mudanças e se tornaria sede provisória do Império português, recebendo uma corte que havia sido expulsa por Napoleão. D. João VI logo tratou de implantar serviços em Salvador e, depois no Rio de Janeiro de modo a criar as instituições necessárias ao funcionamento do governo. Fundou o Banco do Brasil, a Imprensa Régia e duas faculdades de medicina, uma na Bahia e outra no Rio de Janeiro. Com isso o Brasil passava a fazer parte das rotas comerciais inglesas e aumen- tava a circulação de navios, mercadorias e pessoas. A economia era baseada na cana-de- -açúcar, posteriormente, no ouro e no café. (FIGUEIRA, 2005) A Saúde e o Panorama Sanitário Buscava-se uma organização mínima das cidades para conter a situação de epide- mias que se instalava na saúde. Para isso foi criada a Intendência Geral de Polícia, cuja preocupação era com a organização da cidade e o combate à ociosidade, e a Provedoria de Saúde. Esta provedoria tinha como dirigente o provedor, responsável pelas ações de inspeção e pelo monitoramento dos portos por meio da quarentena dos navios, do sane- amento básico das cidades, da qualidade da comercialização das carnes e do exercício profissional da medicina, buscando inibir as atividades de inúmeros práticos, curandeiros e charlatões. As Santas Casas que já existiam mantinham suas características de prestar assistência aos pobres, enquanto as atividades de saúde pública estavam limitadas à dele- 25 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 25 UP P I - A s Po lít ic as P úb lic as e a C on st ru çã o do S is te m a Ún ic o de S aú de (S US ) 25 gação das atribuições sanitárias das juntas municipais que faziam o controle de navios e a política de saúde dos portos. Surge um período de inúmeras epidemias acometendo a população do Rio de Janei- ro, com surtos de febre amarela e febre tifoide, varíola, sarampo, gripes etc. Em geral, os médicos apontavam como causa principal a pouca atuação da Câmara Municipal. O governo imperial mobilizou a Academia de Medicina e soli- citou um plano para acabar com o progresso da febre amarela. A resposta foi a elaboração de um plano baseado nos princípios da Polícia Médica, criação de um órgão dirigente da saúde (Comissão Central de Saúde Pú- blica), assistência gratuita aos pobres, inspeção sanitária, registro médico e fiscalização do exercício da medicina. Esse modelo serviu como base para a criação da Junta Central de Higiene Pública, sendo composta por 5 membros e responsável pela vigilância das vacinações, pelo exer- cício da medicina e pela ação da polícia sanitária. Seu perfil assistencial não resolveu os problemas de saúde pública, contudo, suas concepções determinam as práticas de higiene pública adotadas no século XIX. Verifica-se que o interesse primordial estava limitado ao estabelecimento de um con- trole sanitário mínimo da capital do Império para a garantia dos fatores econômicos, e que a alta mortalidade provocada pelas epidemias afetava as relações econômicas do país, fazendo com que companhias de navegação evitassem os portos brasileiros. Assim, surgi- ram políticas públicas que eram concebidas como instrumento para sanear os espaços de circulação e distribuição de mercadorias. A organização sanitária, portanto, estava estrei- tamente articulada com as necessidades do desenvolvimento capitalista brasileiro. Brasil República - 1889 a 1930: Início da República Panorama político-econômico A Proclamação da República veio firmar no Brasil o Federalismo, que era pautado num sistema Presidencialista, na independência dos Poderes, bem como na separação entre Estado e Igreja. Essa forma de organização propôs fim à hierarquia baseada no nascimento e na tradi- ção de família, modelo monárquico, substituindo-a pela forma republi- cana e democrática baseada no talento, no mérito e na carreira, sendo adotado o voto-direto (sufrágio). Entretanto, havia a predominância do controle político pelos grandes proprietários, que nesse período foi marcado pela hegemonia dos donos das terras do café, representando o Coronelismo cujo poder centralizou-se nos Estados produtores de café e de gado leiteiro do eixo centro-sul, instalando-se a política do “café com leite”. O café propiciou um período de grande crescimento econômico. (FASTO, 2006). Polícia médica: foi uma prática instituída na Alemanha com o papel de tratar dos doentes e supervi- sionar a saúde da população, tendo poderes de polícia so- bre a qualidade de vida das pessoas nas cidades. Federalismo: é reunião dos vários entes num só, preservando a auto- nomia interna de cada ente: Municipio, Estado e Governo Federal, de forma que todos obedeçam a uma Constitui- ção única. A qual irá enume- rar as competências e limita- ções de cada ente. O coronelismo é uma forma de atuação na política que vi- gorou de forma muito forte no início do período republicano e persiste, ainda, em muitos territorios, mas precisamente na região nordeste. O nome tem relação com o poder exercido pelos ricos fazendei- ros, chamados de coronéis e que utilizavam-se da sua influência econômica e social para compra de voto e manu- tenção dos seus aliados no poder. 26 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 2626 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Com tal crescimento e com a abolição da escravatura, houve uma crise de mão de obra escrava. O que foi favorável é que a Europa vivenciava um período ruim economica- mente e o Brasil tornou-se alvo de correntes imigratórias. Entretanto, o quadro sanitário não era nada satisfatório. A Saúde e o panorama sanitário Economicamente o país estava bem, contudo, sem um modelo sanitário condizente. A população crescia sem condições estruturais. As cidades brasileiras estavam assoladas pelas diversas doenças tais como: varíola, malária, febre amarela e, posteriormente a peste. Este quadro teve grandes repercussões tanto para a Saúde Coletiva quanto para a econo- mia, que era agroexportadora,levando ao fato de nenhum navio querer atracar no Rio de Janeiro, o que viria a prejudicar, principalmente, a exportação de café e também reduziria a imigração de mão de obra. Para reverter a situação, o então presidente, Rodrigues Alves, nomeou Oswaldo Cruz, para ser o Diretor de Departamento Nacional de Saúde Pública e erradicar a epidemia de febre amarela que se espalhava na capital do Brasil. Sua ação foi pautada na criação de campanhas, formando um batalhão composto por 1500 indivíduos, denominados de “guardas-sanitários”, responsáveis pelo combate ao mosquito da febre amarela. A atuação desse coletivo foi marcada por muita arbitrarie- dade e desconhecimento, pois as medidas adotadas geraram grande insatisfação popular. A figura da próxima página revela muito bem a repercussão da política sanitária adotada por Oswaldo Cruz. Foi uma atuação importante do ponto de vista epidemiológi- 27 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 27 UP P I - A s Po lít ic as P úb lic as e a C on st ru çã o do S is te m a Ún ic o de S aú de (S US ) 27 co, no entanto de caráter autoritário. Os moldes como foi concebida essa política estavam relacionados a uma visão militar em que a ação era pautada pela premissa de que não importava os artifícios, o importante era o resultado e para sua obtenção utilizava-se de muita força e autoridade. As ações eram organizadas como se fossem campanhas militares, com divisão da cidade em distritos de atuação de tropas que prendiam os sujeitos com doenças contagio- sas, como a varíola e os submetiam a medidas higienistas, como vacinação. No entanto, a insatisfação se intensificava, com o receio das medidas de desinfecção, que ordenavam queimar colchões e roupas, e com a obrigatoriedade da vacinação antivaríola para todo o território nacional. As mulheres eram obrigadas a expor parte de seu corpo para des- conhecidos a fim de tomar vacina, os guardas sanitários invadiam as casas e vacinavam as pessoas. Surge, então, um grande movimento popular de revolta que ficou conhecido como a revolta da vacina. Essa foi, de fato, uma grande manifestação de cidadania contra as arbitrariedades do governo. Reunião em grupo para discutir as questões e apresentar em plenária Como vimos, Oswaldo Cruz adotou medidas para reduzir as moléstias que se espalhavam pelo Rio de Janeiro. Com relação à febre amarela, adotou campanhas e contratou guardas sanitários para combater o mosquito Aedes. Assim, responda: • Por que a população se revoltou? • Como seria a melhor forma de realizar esta ação? • Você se considera autoritário na condução das suas práticas? Por quê? Apesar das arbitrariedades e do autoritarismo, o modelo campanhista obteve im- portantes vitórias no controle das doenças epidêmicas, conseguindo inclusive erradicar ATIVIDADE 3 Fonte: http://pessoas.hsw.uol.com.br/historia-da-saude.htm 28 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 2828 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe a febre amarela da cidade do Rio de Janeiro, o que fortaleceu o modelo proposto e o tornou hegemônico como proposta de intervenção na área da saúde coletiva durante décadas. Posteriormente, Carlos Chagas assumiu a coordenação da política na- cional de saúde e reestruturou o Departamento Nacional de Saúde Pública, introduzindo, nas ações cotidianas, atividades educativas e de propaganda, promovendo inovações ao modelo campanhista e ampliando as ações de saneamento para outros Estados. É importante também perceber que as ações não foram equivocadas, mas sim o mo- delo, faltando o aspecto democrático, o trabalho participativo e o envolvimento da popu- lação nas tomadas de decisões. Com isso é possível compreender que melhor do que uma atuação “campanhista” é o trabalho coletivo de informar, convencer, pactuar e se articular, de forma a trazer a percepção de cidadania. Crise do Café e Novos Rumos na Economia No final da década de 1920, a economia agroexportadora entra em crise, mas como acumulou grandes montantes de capital no período das grandes exportações, permitiu investir na industrialização. Essa economia começa a tomar força, permitindo atrair mão de obra de imigrantes, e, a partir desses processos migratórios e da industrialização cres- cente, favorece a urbanização. Porém, as condições de trabalho eram precárias. Os traba- lhadores não tinham garantias trabalhistas. Contudo, tratava-se de indivíduos politizados que tinham experiências no movimento operário e na conquista dos direitos trabalhistas na Europa. Os imigrantes, insatisfeitos foram se articulando e realizaram dois movimentos de greves que geraram a conquista de alguns direitos sociais e o decreto da Lei Elói Chaves, através do qual foram criadas as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAP), consideradas a semente do sistema previ- denciário atual, sendo a primeira vez que o Estado interfere para criar um mecanismo destinado a garantir ao trabalhador algum tipo de assistência. Você percebe nestas práticas, alguma familiaridade de atuação com os dias atuais? Nesse período, todos esses assuntos eram tratados no Ministério da Justiça e Negócios Interiores, em específico, na Diretoria Geral de Saúde Pública cujo modelo de assistência à saúde estava limitado às ações de saneamento e combate às ende- mias. Isso evidencia porque era de responsabilidade desses ministérios tais atribui- ções, devido a ser de interesse econômico o estabelecimento de ações de saúde pública. A Lei Elói Chaves é considerada o marco da previdência social no Brasil. Por meio dessa Lei foram criadas caixas de aposen- tadorias e pensões que davam direito aos seus be- neficiários de aposentar-se por invalidez ou aposentar- -se por tempo de contribui- ção, além de pensão por morte. A previdência ainda assegura assistência mé- dica. Carlos Chagas foi um mé- dico de importância signifi- cativa para a saúde pública e para a ciência. Ele desco- briu o agente causador da malária (o protozoário que denominou de Trypanoso- ma cruzi, em homenagem ao mestre Oswaldo Cruz) e o inseto que o transmi- tia (triatomíneo conhecido como “barbeiro”). O “feito” de Chagas, considerado úni- co na história da medicina, constitui um marco decisivo na história da ciência e da saúde brasileira. 29 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 29 UP P I - A s Po lít ic as P úb lic as e a C on st ru çã o do S is te m a Ún ic o de S aú de (S US ) 29 Os CAPs traziam uma proposta avançada e significativa na assistência médica aos trabalhadores. Contudo, sua abrangência era limitada: ao se restringir ao público que contribuía financeiramente para o sistema e a oferta de procedimentos voltados para atividades médicas hospitalares.Os demais trabalhadores não contemplados pelas CAPs e quem não tinham trabalho, ficavam submetidos às entidades filantrópicas ou aos serviços públicos que eram precários. 1930 a 1945: da Revolução de 30 ao Estado Novo Panorama Político-econômico O país vivenciava uma crise econômica, que se arrastava desde 1922. Em 1929, com a quebra da bolsa de valores de Nova York, se instaurou a crise do café. Em 1930 é iniciada a Revolução de 30 que foi comandada por Getúlio Vargas, o qual rompeu com a política do café com leite, que elegia alternadamente entre São Paulo e Minas Gerais o presidente. Assim, com a crise instalada, houve aumento da dívida externa o que levou a potencializar o confronto entre os republicanos e os liberais. Esse fenômeno,aliado à crise mundial do café de 1929, afetou de forma contundente a economia brasileira, criando condições propícias para a Revolução de 1930. Nela, frações da oligarquia (grupos fechados e pequenos que se utilizam de suas forças para garantir seus interesses em detrimento do interesse da maioria, geralmente forma- dos por familiares de grandes proprietários). O Tenentismo e as classes médias urbanas modificaram a estrutura de poder, diminuindo o poder oligárquico e aumentando o poder dos estratos sociais pertencentes à burguesia. Em 1930, Getulio Vargas é nomeado presidente, usufruindo de poderes quase ilimitados e, aproveitando-se deles, começou a adotar políticas de modernização do país. Ele criou, por exemplo, novos minis- térios - como o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e o Minis- tério da Educação e Saúde, e nomeou interventores de estados. Caixas de Aposentadoria e Pensão consistiam num fundo criado pelas empresas, com a contribuição dos empregados, para financiar a aposentadoria dos trabalhadores e a assistência médica. Essas caixas eram mantidas por empregados e empregadores, o Estado em nada contribuía, elas eram organizadas somente nas empresas que estavam ligadas à exportação e ao comércio, no caso, as ferroviárias, marítimas e bancárias, atividades que na época eram fundamentais para o desenvolvimento do capitalismo no Brasil e não abrangia os trabalhadores rurais. Os serviços ofertados eram aposentadorias e pensões, serviços funerários, médicos e assistência farmacêutica, tanto para os empregados como aos depen- dentes. (BAPTISTA, 2007). Entidade Filantrópica é uma instituição que presta serviços à sociedade, principalmente às pessoas mais carentes, e que não possui finalidade lucrativa. Exemplo: Hospital São José. Crise da bolsa de valores de Nova York Crise da eco- nomia americana, oriunda da redução das exportações, consequentemente aumento no desemprego e isto fez a moeda parar de circular oca- sionando uma desvalorização das ações de muitas empre- sas americanas, o que levou à redução das ações na Bolsa de Valores de Nova York. Mo- mento semelhante ao viven- ciado quando Barack Obama assumiu a presidência dos Estados Unidos. Tenentismo: foi movimento militar de re- presentantes de baixa paten- te do exercito que estavam descontentes com a estrutura econômica, potíca e social do país. Lutavam contra o voto de cabresto, o poder limita- do das autoridades judiciais e em busca de uma reforma constitucional. 30 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 3030 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Nesse período, tem início um processo de maior intervenção do Estado na sociedade e na economia, com objetivo de promover a expansão do sistema econômico estabele- cendo-se, paralelamente, uma nova legislação que ordena a efetivação dessas mudanças. Tendo em vista que a economia do país caminhava para a industrialização, e que os tra- balhadores estavam insatisfeitos com a postura dos governos anteriores, o governo atual deu início a uma política que promovia a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), re- gulamentando a jornada de trabalho em 8 horas diárias, férias, definição de um salário mínimo, além da obrigatoriedade da carteira profissional. Esse período foi um marco na expansão e consolidação dos direitos trabalhistas. A saúde e o panorama sanitário A queda da produção do café e o desenvolvimento da industrializa- ção estimularam o êxodo rural e, consequentemente a urbanização. Desta maneira, os surtos epidêmicos, que já se faziam presentes, se intensifica- ram em decorrência, principalmente, do excesso populacional e da falta de infra-estrutura sanitária nas cidades, ocasionando a piora das condições de vida. O Ministério da Educação e Saúde, recém-criado, assume as ações de saúde pública realizando ações de Controle e Prevenção das doenças transmissíveis, atuando na assis- tência a algumas doenças e entendendo as ações de saúde a diversos outros setores. Des- tacam-se nesse período os programas de abastecimento de água e construção de esgotos. A política de Estado pretendeu estender-se a todas as categorias do operariado urba- no, organizando os benefícios da previdência. Com isso, em 1933 as antigas CAPs foram substituídas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs). Um fator a destacar é que os IAPs, ao invés de manter os seus hospitais e serviços médicos, compravam e pagavam os serviços de hospitais e de grupos médicos, fortalecen- do a lógica da organização dos serviços de saúde a partir de grupos privados, que é uma marca do funcionamento dos serviços de assistência médica até hoje. Êxodo Rural: é o movimen- to do trabalhador rural em direção aos centros urbanos em busca de melhores con- dições de vida. Assim, por mais que os IAPs tenham ampliado o número de assistidos, mantinham a característica das CAPs ao ofertar assistência à saúde apenas a quem contribuísse. IAP: essa modalidade previdenciária era organizada por categorias profissionais (ma- rítimos, comerciários, bancários), não mais por empresas. Os recursos dos Institutos eram arrecadados por meio do desconto salarial compulsório, para criar um fundo que, investido, gerava a massa de recursos necessários para pagar as aposentadorias e pensões, sendo admi- nistrado por representantes dos trabalhadores. Os IAPs não foram criados todos ao mesmo tempo, mas sim de acordo com a importância que cada setor assumia na economia, primei- ramente os marítimos, seguidos dos comerciários, bancários, industriários, estivadores e transportadores de cargas. Os descontos salariais é o que se chama de poupança forçada que tiveram grande importância no desenvolvimento econômico devido ao montante financeiro arrecadado. (BAPTISTA, 2007). 31 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 31 UP P I - A s Po lít ic as P úb lic as e a C on st ru çã o do S is te m a Ún ic o de S aú de (S US ) 31 No final da década de 1930 e início da década de 1940, os IAPs já concentravam uma grande quantidade de recursos, resultado do crescimento contínuo da arrecadação, fruto do aumento do número de trabalhadores com carteira assinada. Ao mesmo tempo, os gastos eram poucos já que a demanda por aposentadoria ainda era pequena. O Governo Vargas utilizou grande parte dos recursos dos IAPs para estimular o processo de indus- trialização, emprestando para empresários ou investindo diretamente, como foi o caso do desenvolvimento da indústria siderúrgica. Assim, o governo retirou o dinheiro do caixa dos trabalhadores e nunca mais devolveu. Por isso, mais tarde, faltou para investir em ações de saúde e previdência. Nesse momento, a ação do Estado no setor da saúde se divide claramente em dois ramos: um voltado para saúde pública cujas ações eram organizadas em campanhas, com enfoque na prevenção; e o outro baseado na assistência médica por meio da intervenção da previdência social com viés curativo. Essa atuação evidencia claramente que a lógica que operava era a de organização da assistência voltada para a inserção no sistema de produção e na harmonia da economia. Assim, quem tinha acesso às ações e serviços assistenciais de saúde era o indivíduo que tinha trabalhava, enquanto as ações de prevenção estavam voltadas para toda a popu- lação, pois objetivava equilibrar os investimentos econômicos. Percebemos que, mais uma vez, os trabalhadores rurais, os profissionais autônomos e aqueles que não possuíssem uma função reconhecida pelo Estado ficavam excluídos. Quem podia pagar pelas consultas, exames e demais intervençõesdos serviços recorria aos serviços privados. E aqueles que não podiam, recorriam aos serviços das Santas Casas de Misericórdia. Reunião em grupos para discutir as questões e apresentar em plenária Aprendemos que os movimentos organizados de trabalhadores propiciaram a criação de institutos de aposentadoria, denominados de CAP e IAP. Após toda discussão acima, respondam: • Quais são as diferenças entre CAP e IAP? • O que têm de semelhante? • Qual o significado produzido pelo CAP e IAP ao sistema de saúde brasileiro? 1945 a 1964: o Populismo Panorama político-econômico Ao término da II Guerra Mundial (1939-1945), Getúlio Vargas é derrubado, e é pro- ATIVIDADE 4 32 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 3232 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe mulgada a Constituição de 1945. O General Dutra assume a presidência, mas Vargas, em 1949, volta ao poder. Posteriormente, assume Jânio Quadros, que, após sete meses de governo, renuncia e assume o vice-presidente João Goulart, o Jango, que sofreu grandes pressões para não tomar posse, uma vez que suas ligações com os esquerdistas causavam desconfiança nos setores conservadores. João Goulart promoveu importantes reformas de base administra- tiva, além da proposição de reforma agrária radical, estatização do abastecimento, nacio- nalização dos monopólios estrangeiros, bem como controle direto sobre o sistema de livre iniciativa e propriedade privada capitalista. Esse período é caracterizado pelo enfraquecimento do populismo e pelos amplos investimentos no desenvolvimento industrial. Condições sanitárias e estratégias Nesse período, a influência americana na área da saúde refletiu-se na construção de um modelo semelhante aos padrões americanos, baseados na construção de grandes hospitais e aquisição de equipamentos, concentrando o atendimento médico de toda uma região. A partir desse modelo, coloca-se em segundo plano a rede de postos de saúde, consultórios e ambulatórios, cujos custos são bem menores. O dilema é que alguns IAPs que haviam acumulado muitos recursos financeiros, resolveram construir uma rede própria de serviço de saúde, só que não contavam com a devida experiência na área, ofertando uma assis- tência sem qualidade, o que acabou gerando o descontentamento dos as- sociados e favorecendo o surgimento da medicina de grupo ou convênios. Em 1953, criou-se o Ministério da Saúde, desmembrando-se do Ministério da Educa- ção e Saúde. O Ministério da Saúde tinha caráter extremamente frágil, cabendo-lhe a me- nor fração do orçamento do Ministério da Educação e Saúde, ou seja, um terço do imposto se dedicava às atividades de caráter coletivo, como as campanhas e a vigilância sanitária. Com isso, as condições de saúde da maioria da população pioravam. 1964 a 1973: o Estado militar Panorama Político-econômico A ditadura militar no Brasil foi um período iniciado em abril de 1964, após um golpe articulado pelas Forças Armadas, em 31 de março do mesmo ano, contra o governo do Pre- sidente João Goulart. As forças armadas tinham um projeto político-ideológico definido e, para executá-lo, pretendiam permanecer longamente no poder. Convênios: empresas particulares cuja finalidade é prestar serviços médicos aos funcionários das empresas que os con- tratam. E hoje, qual o percentual do financiamento para a saúde? 33 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 33 UP P I - A s Po lít ic as P úb lic as e a C on st ru çã o do S is te m a Ún ic o de S aú de (S US ) 33 Assim, vários foram os fatores impulsionadores desse golpe, dentre os quais tivemos o conjunto de ações de cunho social que se pretendia implantar, um exemplo era a reforma agrária cuja diretriz firmava-se na redistribuição das terras brasileiras, em busca da extin- ção das grandes propriedades e da exploração do trabalhador do campo. Além da redução do poder dos coronéis do nordeste e do resgate da cidadania dos sujeitos que viviam em péssimas condições de trabalho e de vida e tão oprimidos pela atuação desses. Essa refle- xão reforça a discussão da página 12 sobre o poder exercido por esses latifundiários. O período militar teve como panorama o desordenado desenvolvimento econômico, com amplo estímulo no investimento nas indústrias de bens duráveis versus a pouca im- portância dada ao setor agrícola e às empresas de produção de bens não duráveis. Além da aposta nas exportações, abrindo o mercado para investimentos de capital externo e o envolvimento estatal nas indústrias pesadas, favorecendo a modernização e dinamismo das empresas. Outra particularidade vivenciada foi a atuação do Estado no sistema de cré- dito ao consumidor o que propiciou a ampliação do acesso da classe média ao consumo. Considerações sanitárias e estratégias As várias instituições previdenciárias, ou seja, os vários IAPs e a diversidade de tra- tamentos ofertados aos seus usuários, motivaram o governo à uniformização de métodos com a promulgação da Lei Orgânica da Previdência Social, em agosto de 1960. Os direitos e deveres passaram a ser semelhantes, orientados pela lei, o que facilitaria a fusão dos IAPs. Em 1966, da fusão dos IAPs surgiu o INPS – Instituto Nacional de Previdência Social que uniformizou e centralizou a previdência social. Nesta década a previdência social se firmou como principal órgão de financiamento dos serviços de saúde. (PAULO JÚNIOR e CORDONE JÚNIOR, 2006). O Ministério da Saúde ficou responsável pelas ações de caráter coletivo, tais como: vacinação, programas para alguns agravos, ações de vigilâncias. Percebe-se que a saúde mantém uma atenção polarizada, com cuidados coletivos realizados por um órgão e cui- dados individuais por outro cujo acesso é privativo a quem contribui. Destaca-se que, muito embora ocorresse a elevação dos recursos arrecadados, não houve melhoria da qualidade da assistência e nem o monitoramento desses valores, o que facilitava ações de desvio de dinheiro e de corrupção. Desenvolveram-se quadrilhas espe- cializadas em roubo de recursos do INPS. Obras como Itaipu e Transamazônica tiveram financiamento de recursos do INPS que nunca foram devolvidos. (BAPTISTA, 2007). A ditadura deteriorou as condições de saúde da população, tanto pelo aumento da miséria nas cidades, quanto pela mudança de ênfase dos investimentos em saúde, agra- vando com a concessão de subsídios para que a iniciativa privada construísse hospitais e comprasse equipamentos que, posteriormente, o INPS pagava pelos serviços. O INPS passou a concentrar todas as contribuições previdenciárias, incluindo a dos trabalhadores do comércio, da indústria e dos serviços. Ele vai gerir todas as aposentado- rias, pensões e assistência médica dos trabalhadores do país. 34 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 3434 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Para nos causar mais indignação, quando o INPS diminuiu os recursos, esses mes- mos hospitais passaram a prestar mais serviços para a iniciativa privada e deixaram de atender ou diminuíram os leitos disponíveis para os pacientes do INPS. O setor previ- denciário responsável pela assistência dos indivíduos que contribuíam passou por mu- danças na sua forma de organização, saindo de produtor de serviço para comprador. Tal prática favoreceu o lucro. Como exemplo, podemos citar: os convênios celebrados entre a previdência e as empresas médicas e o credenciamento e a remuneração por unidadesde serviços. Vale destacar que não eram todas ações que foram contratadas, mas sim os casos mais simples, pois os casos mais complexos e que requeressem uma longa permanência hospitalar, continuavam sendo prestados pela previdência social. Assim, as empresas con- tratadas passariam a executar as ações e a receber um valor fixo por trabalhador, o que levavam-nas a produzir menos para garantir o lucro. Algumas características desses problemas se mantêm nos dias de hoje, pois grande parte dos hospitais privados foram construídos e equipados com recursos públicos, mas atendem mais prontamente os planos privados. Nas internações e em outros procedimen- tos, a prioridade é sempre para os pacientes de planos privados. Isso con- tribui para o aumento das filas de espera dos pacientes que entraram pelo sistema. Em 1970 é criada a SUCAM (Superintendência de Campanhas da Saúde Pública) e em 1972, o SESP (Serviços Especiais de Saúde Pública). Estes organizavam grandes campanhas no interior do país, voltadas, prin- cipalmente, para as regiões Norte e Nordeste, como educação sanitária, saneamento e assistência médica às populações carentes. Sua criação tinha um cunho estratégico do ponto de vista da economia, que garantia a pro- dução da borracha. O objetivo era de evitar a disseminação das endemias rurais como a febre amarela, malária, mal de Chagas e esquistossomose. Percebe-se que a saúde pública caracterizou-se, neste período, pelo cen- tralismo e verticalismo, onde mais uma vez o que estava em evidência eram as questões econômicas, pautadas no modelo campanhista ora in- truduzido por Osvaldo Cruz. Enquanto que as instituições de previdência social tinham no clientelismo, populismo e paternalismo uma fórmula que deixou seus resquícios na nossa estrutura social (LUZ,1991). Analisem... O governo dá dinheiro para construir e equipar os hospitais e, depois, continua re- passando dinheiro com a compra de internações e demais procedimentos.Vários hospitais que conhecemos hoje foram construídos com recursos públicos a fundo perdido, privados ou subsídiados. O clientelismo tem a fina- lidade de amarrar politica- mente o beneficiado. Ofe- rece favor e poder em troca de voto. Sendo que se utiliza dos cofres públicos ou dos serviços públicos que são de todos para fazer favores para poucos. Os intermediários de favores prestados às custas dos cofres públicos são os chamados clientelistas, são traficantes de influências cujo maior objetivo é o voto do beneficiado ou a propina. O paternalismo A prática paternalista acontece geral- mente quando um candidato ou governante oferece um fa- vor em troca de algum outro benefício. Dessa forma, ao invés de representar hones- tamente apenas o interesse daqueles que o elegeram, o político abusa do poder que tem em mãos para se perpe- tuar em cargos ou atingir ou- tras metas. Em suma, vemos que a relação de representa- tividade perde amplo espaço para as simples relações de troca. 35 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 35 UP P I - A s Po lít ic as P úb lic as e a C on st ru çã o do S is te m a Ún ic o de S aú de (S US ) 35 Reunião em grupo para discutir as questões e apresentar em plenária Há uma forte pressão de Representantes Políticos nas ações e ser- viços de saúde. Para ampliarmos o debate, reunir em grupos e discutir as questões: • De que forma o clientelismo e o paternalismo ainda estão presentes na nossa estrutura social do sistema local de saúde? • Quem ajuda para que estas coisas sigam acontecendo? Permanece a dicotomia entre Ministério da Saúde e Ministério da Previdência: as ações de medicina preventiva eram para toda a população e ações médicas individuais para quem contribuía. Paralelamente a todo esse contexto, o governo aumentou o atendimento para trabalha- dores rurais através do FUNRURAL (fundo dos trabalhadores rurais). Perceberam que até esse período não se tinha garantido ações previdenciárias de assistência aos trabalhadores rurais. Em contrapartida a essa conquista, aconteceu a expansão da assistência médica pre- videnciária que enfatizou a prática médica curativa, individual e especializada. O Estado passa a ser o maior financiador dos interesses dos grandes laboratórios, passando a comprar serviços de terceiros em detrimento dos serviços existentes na previdência. Era evidente o amplo investimento na atenção hospitalar. O que agrava ainda mais as condições da popu- lação. Com o fim do “milagre econômico” esse quadro piorava, tendo um crescimento nos números da mortalidade infantil, doenças infecciosas e parasitárias, e com o ressurgimento de doenças que haviam sido erradicadas. Este quadro é revelador do pouco investimento que se deu à saúde pública, menos de 2 % do PIB. O somatório da falta de saneamento e de política de habitação revela o descaso com o desenvolvimento social. Na tentativa de contornar tais problemas, são adotadas medidas políticas e adminis- trativas, instituindo o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social – SINPAS. Além da criação do Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS, que ficará responsável pela orientação, coordenação, criação e controle do SINPAS. Tivemos a criação também do INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) e IAPAS (Insti- tuto Administrativo Financeira da Previdência e Assistência Social), que ficaram vincu- lados ao MPAS. Assim, o INAMPS era responsável pela coordenação de todas as ações de saúde de nível médico assistencial da previdência social, o IAPAS pela administração dos recursos financeiros do Sistema e o INPS continuava respondendo pelas aposentadorias e seguridade profissional. (BAPTISTA, 2007). ATIVIDADE 5 36 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe 3636 M at er ia l D id át ic o Pe da gó gi co d e Ed uc aç ão P ro fis si on al d a Es co la T éc ni ca d o SU S em S er gi pe Considerando que o IAPAS não disponibilizava mais de recursos necessários para promover a medicina curativa pelo INAMPS e nem os benefícios pelo INPS, foram ado- tadas estratégias para reduzir ainda mais esses gastos, aumentando-se a contribuição. Inicialmente, coexistiram (IAPAS/ INPS e INAMPS), sendo que, posteriormente, o Go- verno deu início a um movimento burocrático de unificação da Previdência (INPS), da administração financeira (IAPAS) e da assistência médica (INAMPS) em um único ór- gão, INAMPS. Assim, a crise no setor da saúde é revelada. O Ministério da Saúde, ora criado, continuava respondendo por atividades coletivas, o acesso às ações de caráter individual continuava para quem contribuísse. (BAPTISTA, 2007). Insatisfeitos com todo esse panorama, setores da sociedade criam um movimento composto por acadêmicos ligados à Saúde Pública e profissionais da saúde, que se uni- ram contrários ao modelo de saúde apoiado pelos militares, defendendo a utilização de novas práticas na assistência médica, apresentando propostas para reverter a lógica as- sistencial da saúde, impulsionados por um movimento que ficou conhecido como “Mo- vimento Sanitário”. Esse tema será abordado mais detalhadamente no capítulo seguinte, “Nossas Reformas”. 1980 a 1990: redemocratização e direito à saúde Na década de 80 surgiram vários projetos que pretendiam estender a cobertura dos serviços de saúde para toda a população, superar tais dilemas e buscar a ênfase na saúde pública. Em todos eles havia uma ideia de integração da Saúde Pública com a assistência médica individual e por isso foram combatidos pelos grupos médicos priva- dos e pela própria burocracia do INAMPS, porque esses últimos anos foram também de crescimento para as indústrias médicas, da medicina de grupo
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