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Tratamento Fora do Domicílio

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1
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL 
Acadêmica: SIRLEY DA SILVA LOPES 
Orientadora : DALVA FELIPE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRATAMENTO FORA DO DOMICÍLIO: UM TRAJETO PELA VIDA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JI-PARANÁ/2010 
 
 
2
SIRLEY DA SILVA LOPES 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRATAMENTO FORA DO DOMICÍLIO: UM TRAJETO PELA VIDA 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro 
Universitário Luterano de Ji-Paraná – CEULJI/ULBRA, como 
quesito de avaliação para a obtenção do título Bacharel em 
Serviço Social sob orientação da Profª. Msc. Dalva Felipe 
Oliveira. 
 
 
 
 
 
 
Ji-Paraná/2010 
 
 
 
3
 
 
CIP-Brasil. Catalogação na Fonte 
Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná/ULBRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ficha Catalográfica: Ana Cláudia da Silva Rodrigues – CRB11/604 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
L864t LOPES, Sirley da Silva. 
 Tratamento Fora do Domicílio:um trajeto pela vida. 
 /Sirley da Silva Lopes. Centro Universitário Luterano de 
 Ji-Paraná, 2010. 
 106 f.:il. 
 
 
 Orientadora: MCs. Dalva Felipe de Oliveira. 
 
 
4
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço à Deus por tudo: vida, amor, paz, esperança, força de vontade, 
saúde, ar, sol, dia, noite, alimento, lar, família, amigos, vizinhos e irmãos na fé. Por 
ter guardado a minha vida durante esses quatro anos na BR, nas idas e vindas de 
Ouro Preto à Ji-Paraná, por ter dado a oportunidade de concluir o Curso de Serviço 
Social, por ter providenciado recurso financeiro para pagar, por ter me instruído nos 
estudos, trabalhos, por ter colocado pessoas especiais no meu caminho durante 
esta etapa da minha vida. 
Agradeço a minha família em especial meu querido Hélio pelos momentos de 
compreensão, apoio, alegria e amor. 
Ao meu filho Lucas Gustavo, perdoe a mamãe pelas vezes que não pude por 
você para dormir, nem dei seu ‘biscoito com leite’ depois do jantar, pelas vezes que 
te deixei no hospital internado para não perder compromisso acadêmico, mas lhe 
agradeço pela compreensão que muitas vezes na sua inocência dizia – minha mãe 
vai para a faculdade em Ji-Paraná. 
À minha mãe – Rosa, por sua luta incansável de orientar e corrigir cada um, 
chegando a usar a varinha, que juntos fizeram efeito em todos nós filhos. Obrigada 
pelas noites de sono que perdeste, pelos caminhos trilhados, enchentes cortadas 
com água acima da cintura, doenças superadas, dificuldades tantas enfrentadas 
para trabalhar e ajudar o pai a nos sustentar. Você é de fibra – é um mulherão. Em 
todos os momentos, todos os lugares, por quer que passe, por mais que faça tudo 
com perfeição e dedicação sempre há alguém que fica descontente, mas o mais 
importante é você, sua índole, sua garra, seu jeito de fazer, de lidar com pessoas 
que cativa, conquista, amolece até os corações daqueles que estão rancorosos, 
desfalecidos, desobedientes. Isso acontece no seu dia-a-dia, você mesma conta só 
não parou ainda pra perceber que é a ROSA mais perfeita que Deus colocou no 
mundo, de graça para nós e especialmente para mim 
Ao meu pai – Severino, obrigada pelas lutas enfrentadas para nos criar 
juntamente com nossa mãe, na sua simplicidade e humildade sempre trabalhou 
 
 
5
incansável, derramaste muito suor, no trabalho pesado, utilizando de ferramentas 
que pouco lhe favorecia, como derrubar a floresta com machado, roçar o capoeirão 
com foice e limpar o terreno com enxada para plantar e colher. Assim nunca deixou 
nenhum de nós passar fome, frio ou desabrigados. Roupas, calçados, acessórios da 
moda, brinquedos, coisas da atualidade, conforto total não tínhamos. Era tudo muito 
simples, mas o mais importante jamais faltou, o amor, este ora não foi expressado 
com palavras do tipo “eu te amo”, mas cuidados que nos ensinaram para a vida, 
para o mundo. 
Aos meus irmãos – Gilson, Gilvan, João Paulo, Genivaldo, Sirlene, Simone, 
às meus cunhados e cunhadas, meus sobrinhos/sobrinhas, aos meus tios/tias, 
primos/primas, avós, sogro/sogra agradeço a cada um por fazerem parte da minha 
vida. 
As minhas colegas acadêmicas: Vanda, Geni, Aline, Ana Paula, Daiane, 
Raquel, Jucicleide, Angela, Naira, Veronez. Aos colegas de Ji-Paraná: Marinete, 
Roseli, Maria Neuza, Branca, Celso, Ivani, Risany, Marina e outros, agradeço a cada 
um, que Deus ilumine a todos com sua infinita bênção. 
Aos irmãos de fé da 3ª Igreja Presbiteriana do Brasil, à todos agradeço pelas 
orações, a compreensão e por fazerem parte da minha vida. 
Aos parceiros, ao ex-Deputado Estadual, ex- Prefeito de Ouro Preto e ex- 
Secretário de Estado da Agricultura - Carlos Magno Ramos, à Silvane do 
Supermercado Cota e Costa, à Dona Joana e família, À Poneza e família, ao 
Adenilson e Devair pela confiança, a Lieide e família, ao Grupo Cometa e todos os 
funcionários, à equipe da SEMAS – Gestão 2005/2006. Ao ex-prefeito Irandir 
Oliveira e sua esposa Andréia e toda sua família, à Rosangela, Hamilton e Antonio, 
pelo transporte de Ouro Preto à Ji-Paraná ao longo dos quatro anos. 
Aos professores pela dedicação e paciência em nos orientar, em especial 
Profª. Dalva pela Orientação do TCC, Profª. Dulce avaliadora e Professores: Ivania, 
Mara , Lediane, José Carlos que fizeram parte da minha formação acadêmica. 
 
Em tudo, daí graças, 
por que esta é a vontade de Deus 
em Cristo Jesus para convosco ( I Ts 5, 18). 
 
 
6
 
 
 
AVALIADORES 
 
 
 
 
_______________________________________ 
Profª. Msc. Dalva Felipe Oliveira 
 
_______________________________________ 
Assistente Social - Maria Geralda Alves Pereira 
 
______________________________________ 
Profª. Msc. Dulce Teresinha Heineck 
 
______________________________________ 
Assistente Social – Angélica Firmina 
 
 
_________________________________________ 
Média 
 
 
 
 
 
 
 
7
JI-PARANÁ/2010 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho é fruto de uma experiência acadêmica iniciada pelo Estágio 
Supervisionado em Serviço Social I e II, articulando as disciplinas de Pesquisa em 
Serviço Social I e II, alcançando sua concretude no Trabalho de Conclusão de 
Curso. O presente traz uma reflexão sobre a falta de articulação entre as redes 
sociais do município de Ouro Preto do Oeste que dificulta o acesso dos usuários do 
sistema único de saúde no tratamento fora do domicílio. Analisaram-se as 
dificuldades enfrentadas e as ações desenvo lvidas pelas assistentes sociais da 
Secretaria Municipal de Saúde do município de Ouro Preto do Oeste e na Delegacia 
Regional de Saúde de Ji-Paraná, Rondônia, para garantir o acesso aos usuários do 
sistema único de saúde no tratamento fora do domicílio. Identificou-se junto às 
assistentes sociais a duração para a concretização do processo para o acesso ao 
tratamento fora do domicílio e os motivos que justificam a recusa dos processos. 
Neste trabalho não foi elaborado índice de rendimentos dos usuários do sistema 
único de saúde por ser esta política de direito de todos, porém procurou-se conhecer 
um pouco da realidade econômica dos usuários do sistema único de saúde no 
tratamento fora do domicílio. Investigou-se junto a Secretaria de Saúde do município 
de Ouro Preto do Oeste e a Delegacia Regional de Saúde, as patologias que 
recebem financiamento para o Tratamento Fora do Domicílio e quais os Estados, 
cidades e Hospitais para onde ocorre o maiores número de encaminhamentos. A 
rede que compõe o atendimento do tratamento fora do domicílio, vai além do âmbito 
municipal, passando por um processo longo de espera e angústia para aqueles que 
já estão com os sentimentos aflorados devido a doença. Percebemos que as 
políticas de saúde têm avançado em conquistas, e para o tratamento fora do 
domicílio, há ainda muito a ser conquistado,humanizado, agilizado, equipado, para 
que os usuários possam ser atendidos com mais conforto, dignidade e humanidade. 
O profissional de Serviço Social está inserido nesta rede de relações. Sua presença 
é indispensável por ser um profissional de bagagem teórica-metodologia, ético-
politico e técnico-operativo, que tem por Lei a Regulamentação da Profissão e o 
Código de Ética, além de poder contar com os próprios usuários para fazer a 
diferença social. 
 
 
 
Palavras-chave: Serviço social. Saúde. Tratamento fora do domicílio. 
 
 
 
8
 
 
 
 
 ABSTRACT 
 
This work is result of an academic experience initiated by Supervised Training 
in I and II Social service, articulating the disciplines of research in I and II Social 
service reaching its concreteness at Course Conclusion work. This study brings a 
reflection about the lack of articulation between the social networks of the 
municipality of Ouro Preto do Oeste that impeding the access of users of the health’s 
unique system and treatment away from home. Faced difficulties and the developed 
actions by social assistants were analysed in the Health’s Municipal Secretariat of 
Ouro Preto do Oeste and in the Health’s District of Ji-Paraná, Rondônia, to ensure 
the access to the users of health’s unique system in the treatment away from home. 
We identified with the social assistants the duration for the achievement of process 
for the access to the treatment away from home and the reasons those justify the 
refusal of the processes. In this work was not elaborated income’s index of the users 
of health’s unique system, for this is politics of right of everyone, but we knew a little 
of the economic reality of the users of health’s unique system in the treatment away 
from home. We Investigated with the Health’s secretariat of municipality of Ouro 
Preto do Oeste and the health’s Regional District the pathologies that receive 
financing for the treatment away from home that it goes to states, cities and hospitals 
for where happen the bigest numbers of referrals. The network that composes the 
attendance of the treatment away from home goes beyond the municipal ambit, 
passing by a long process of waiting and anxiety for who those are already with the 
agitated feelings due to the illness. We perceive that health’s politics have advanced 
in conquests, and for treatment away from home, there is still much to be 
conquested, humanized, expedited, equipped, for that users can be attended with 
more comfort, dignity and humanity. The Professional of the Social service is inserted 
in this network of relationships. Its presence is indispensable for being a professional 
of methodological-theoretical baggage, ethical-political and technical-operative, 
which has for Law the Regulating the Profession and the Code of Ethics, beyond it 
can count users themselves to make the social difference. 
 
 
Keywords: Social service. Health. Treatment away from home 
 
 
 
 
9
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
 
AACD – Associação de Assistência à Criança Deficiente 
AIS – Assistência Integral à Saúde 
ANS – Agência Nacional de Saúde 
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
ARENA – Aliança Renovadora Nacional 
AS – Assistente Social 
BM – Banco Mundial 
CAP’s – Caixas de Aposentadorias e Pensões 
CDC – Conselho de Desenvolvimento de Comunidade 
CEME – Central de Medicamentos 
CERAC – Central Estadual de Regulação de Alta complexidade 
CF/88 – Constituição Federal de 1988 
CIB – Comissões Intergestores Bipartite 
CID – Código de Identificação da Doença 
CIT – Comissões Intergestores Tripartites 
CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas 
CNES - Cadastro Nacional Estabelecimento de Saúde 
CNRAC - Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade 
CNS – Conferencia Nacional de Saúde 
CNS – Conselho Nacional de Saúde 
COR - Centro de Oncologia e Radiologia 
CPF – Cadastro de Pessoa Física 
 
 
10
CPMF – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira 
CSAN – Centro de Saúde Ana Nery 
CSCC – Centro de Saúde Carlos Chagas 
CSOP – Centro de Saúde Ouro Preto 
DATAPREV – Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social 
DNER – Departamento Nacional de Endemias Rurais 
DRS – Delegacia Regional de Saúde 
ECA– Estatuto da Criança e do Adolescente 
FEB – Força Expedicionária Brasileira 
FEDER – Federação dos Deficientes Físicos do Estado de Rondônia 
FHC – Fernando Henrique Cardoso 
FMI – Fundo Monetário Internacional 
FNS – Fundo Nacional de Saúde 
FUNABEM – Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor 
FUNRURAL – Fundo de Amparo ao Trabalhador Rural 
GAB – Gabinete 
HMLMB – Hospital Municipal Laura Maria Braga 
IAPAS – Instituto de Administração Financeira da Previdência Social 
IAP’s – Instituto de Aposentadorias e Pensões 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IBRA – Instituto Brasileiro de Reforma Agrária 
INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social 
INCA - Instituto Nacional de Câncer 
INCRA – Instituto nacional de Colonização e reforma Agrária 
INPS –Instituto Nacional de Previdência Social 
INTO – Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia 
ISP – Inspetoria de Saúde dos Portos 
JK – Juscelino Kubitscheck 
LBA – Fundação Legião Brasileira de Assistência 
LOA – Lei de Orçamento Anual 
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social 
LOPS – Lei Orgânica da Previdência Social 
LOS - Lei Orgânica da Saúde 
LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal 
 
 
11
Lula – Luiz Inácio Lula da Silva 
MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário 
MDB – Movimento Democrático Brasileiro 
MDS – Desenvolvimento Social e Combate a Fome 
MEC – Ministério da Educação 
MESP – Ministério da Educação e da Saúde Pública 
MP – Ministério Público 
MPAS - Ministério da Previdência e Assistência Social 
MS – Ministério da saúde 
MT – Ministério do Trabalho 
NOAS – Norma Operacional de Assistência à Saúde 
NOB – Norma Operacional Básica do SUS 
OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde 
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento 
PDR – Plano Diretor de Regionalização 
PIB – Produto Interno Bruto 
PIC – Plano de Integração e Colonização 
PIC – Plano de Integração e Colonização 
PIS – Programa de Integração Social 
PMS – Plano Municipal de Saúde 
PND - Plano Nacional de Desenvolvimento 
PPA – Plano de Pronta Ação 
PPA - Plano Pluri-Anual 
PPI – Programação Pactuada Integrada 
PREV-SAÚDE – Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde 
SAS – Serviços de Atenção a Saúde 
SEMPLAF – Secretaria Municipal de Planejamento e Fazenda 
SEMSAU – Secretaria Municipal de Saúde 
SESAU - Secretaria Estadual de Saúde 
SINPAS - Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social 
SNS - Sistema Nacional de Saúde SSE – Serviços Sanitários Estaduais 
SUDS – Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde 
SUS – Sistema Único de Saúde 
TFD – Tratamento Fora do Domicílio 
 
 
12
USP – Universidade de São Paulo 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADRO 
 
 
 
QUADRO 1 - População de Ouro Preto do Oeste .............................................50 
QUADRO 2 - Organograma de Atendimento dos Usuários do TFD.......................62 
QUADRO 3 - Organograma da Segunda Rede de Atendimento do TFD .............63 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................13 
CAPÍTULO I. METODOLOGIA .................................................................................15 
CAPITULO II. PROCESSO HISTÓRICO DA SAÚDE ...............................................24 
 2.1 A questão da saúde no Brasil: da Colônia a República Velha .......................24 
 2.2 A queda das velhas oligarquias e o pacto da modernização: 
Como ficou a questão da Saúde ? ..................................................................27 
 
 2.3 A saúde no Estado de Rondônia.....................................................................48 
 2.4 A Saúde no Município de Ouro Preto Do Oeste – RO ..................................49 
CAPITULO III. FUNDAMENTAÇÃO LEGAL DO TFD................................................54 
 3.1 O TFD no Município de Ouro Preto do Oeste................................................ 57 
 3.2 A Realidade observada relacionando profissional, usuários e instituição......64 
 3.3 Como se tramita os processos do TFD ........................................................ 74 
 3.4 O perfil dos usuários do TFD .........................................................................76 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................83 
REFERÊNCIAS..........................................................................................................87 
APÊNDICE I - Roteiro de Entrevista com as Assistentes Sociais ............................90 
APENDICE II - Roteiro de Entrevista com os usuários do TFD ...............................93 
 
 
14
ANEXOS ..................................................................................................................94 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Na Constituição Federal no seu Artigo 196 “A saúde é direito de todos e dever 
do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução 
do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações 
e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. Todavia, essa validação 
em termo de capital fetiche tem dificultando esse acesso à saúde. 
Nos municípios periféricos o sistema de saúde não dispõe de infra-estrutura e 
nem das especialidades médicas para os tratamentos de alta complexidade tais 
como: cardiovascular, neurocirurgia, oncologia, epilepsia, traumato-ortopedia, 
transplantes de órgãos e tecidos, entre outros. Em função dessa lacuna, os usuários 
têm recorrido ao Tratamento Fora do Domicílio - TFD -. A falta de pesquisa sobre os 
tramites percorridos pelos usuários do TFD da Secretaria Municipal de Saúde de 
Ouro Preto nos motivou a analisar as relações estabelecidas entre os usuários do 
TFD e o profissional do Serviço Social. 
Refletir sobre a inacessibilidade, a falta de informação que muitos usuários 
ainda sofrem, pois quando ficam sabendo que o problema de saúde tem solução, 
alguns já estão com o estágio avançado da doença que a possui. A pesquisa 
pretende dar visibilidade aos usuários quanto ao direito que os mesmo têm e que é 
necessário a documentação exigida, pois estamos falando de recursos públicos e 
assim sendo tudo precisa de comprovação e esta comprovação vai desde a real 
 
 
15
doença através dos exames até a prestação de contas dos recursos gastos pelo 
Estado. 
Demonstrar que alguns serviços atendidos pelo Tratamento Fora do 
Domicilio, podem ser evitados através da prevenção de doenças e acidentes, 
através do perfil dos usuários pesquisados. 
Proporcionar uma visão de que o usuário faz parte de uma rede de 
atendimento, e que em ambos os setores as informações não pode se fragmentar, 
dando uma continuidade para a realização do processo. 
No primeiro capítulo, descrevemos sobre a metodologia utili zada, os 
métodos de analise e de procedimento, os instrumentos e as técnicas de coletas de 
dados. 
O processo histórico da saúde está presente no capítulo segundo, numa 
análise desde o Brasil-Colônia até os dias atuais da saúde brasileira, seus avanços 
e conquistas. 
A fundamentação legal do TFD se encontra no terceiro capítulo, articulando 
a prática do profissional de Serviço Social e os usuários deste benefício. Neste 
capítulo há um aprofundamento do conhecimento do que é o Tratamento Fora do 
Domicilio, suas exigências e burocracias, seus alcances, os procedimentos para a 
obtenção do recurso, o trabalho dos profissionais em relação aos usuários e as falas 
dos usuários do SUS que buscaram o TFD, durante o Estagio Supervisionado em 
Serviço Social I e II. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16
 
 
 
 
 
 
 
CAPITULO I 
METODOLOGIA 
 
 
Para a realização da pesquisa, utilizou-se como método de procedimento o 
estudo de caso, pois o mesmo proporciona uma busca profunda e completa da 
realidade, numa variedade de fontes de informações. Ao definirmos tecnicamente o 
que é estudo de caso, percebe-se que após o planejamento da pesquisa ele entra 
na fase da investigação onde para Yin (2005, p.32) “[...] o estudo de caso é uma 
investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu 
contexto da vida real, especialmente quando os limites; entre o fenômeno e o 
contexto não estão claramente definidos”. Nesta pesquisa dos usuários do SUS que 
buscam o TFD, o estudo de caso será uma investigação que pretende buscar este 
fenômeno ainda não muito explorado. Pois o TFD é um beneficio visto no âmbito da 
política de saúde como um serviço de difícil acesso. 
O interesse pela pesquisa surgiu frente às dificuldades enfrentadas pelos 
usuários, pondo-se como campo de pesquisa para produção do conhecimento sobre 
o TFD, onde utilizou-se pontos de dados sobre os usuários que utilizam ou utilizaram 
o TFD, dentro da perspectiva de custos, gasto, tempo de duração e uma gama de 
dificuldades apresentadas pelos usuários e profissional de Serviço Social no acesso 
ao TFD. Yin (2005, p.33) definindo ainda a investigação no estudo de caso afirma 
que ela “[...] enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais 
variáveis de interesse do que pontos de dados”. Assinala ainda que os resultados 
baseiam-se em várias fontes de evidência, beneficiando do desenvolvimento prévio 
 
 
17
de proposições teóricas para a condução de coleta e análise dos dados. Assim, o 
estudo de caso abrange planejamento, técnicas de coleta de dados e a abordagem 
específica para análise destes. Enquanto pesquisa dos usuários do SUS no TFD, foi 
necessário o planejamento da busca pelos dados, coletados pelas técnicas de 
pesquisa, entrevistas e utilizando o método dialético para analise dos mesmos. 
A finalidade da pesquisa tem como base a compreensão da realidade 
pesquisada, a fim de entender as procedências, os meios, os métodos e técnicas 
solúveis para solucionar as problemáticas sociais. Martinelli (1999) enfatiza que ‘o 
estudo de caso não é apenas uma coleta de dados’, mas além de coletarem dados e 
informações, no estudo de caso, de cunho sociológico visa sistematizar uma 
atividade social. No TFD, a sistematização da pesquisa iniciou-se pela coleta dos 
dados dos usuários do SUS, da instituição e do profissional de Serviço Social que 
atua neste campo. 
Martinelli (1999, p. 46) afirma que “[...] o estudo de caso volta-se á realidade 
objetiva, investigando e interpretando os fatos sociais que dão contorno e conteúdo 
a essa realidade”. Portanto, este método proporciona a captação da expressividade 
do ser humano, objetividade em atividade do cotidiano, propondo a exploração e o 
aprofundamento dos dados coletados e observados, para a transcendência da 
realidade que está sendo investigada. 
O estudo de caso é, portanto, a articulação do caráter técnico, que 
investiga a realidade, com caráter lógico que devem estar apoiadas em 
referências teóricas. Além disso, deve considerar o processo histórico que, 
norteando a explicação do objeto estudado, destaca a gênese e a 
modificação dos conceitos e hipóteses (MARTINELLI, 1999, p.46). 
Algumas técnicas podem trazer elementos novos á compreensão e 
explicação que se faz da realidade social, podendo ser: questionários, entrevistas e 
observações dos fatos, não abrindo mão de outros recursos como dados 
estatísticos, gráficos demonstrativos, relatórios de execução, ambos vão auxiliar a 
obtenção do conhecimento na realidade observada. Aproveitando do conhecimentoempírico para co-relacionar com as interpretações dos fatos como enfatiza Martinelli 
(1999, p. 49) 
O estudo de caso é, portanto, uma investigação empírico-indutiva, na qual o 
caso é a unidade significativa do todo e deter a possibilidade de explicação 
da realidade concreta. [...] é preciso à ruptura do senso comum e, na 
mediação que o pesquisador faz entre forma e conteúdos do objeto do 
conhecimento, buscar dentre as diferentes perspectivas de interpretação, 
 
 
18
aquela que permite uma aproximação relativamente maior da realidade 
concreta. 
É na busca que o investigador evidencia a relação entre o singular e o 
universal. Nessa busca, entra a verificação de informações e essas devem ser 
analisadas pelo investigador, quanto a sua real relevância, onde com sua 
comprovação dos dados, eliminando os que apresentarem inconsistência ou dúvida, 
assim vai proporcionar a fidedignidade. Ao sistematizar os dados, com a visão 
crítica, com o pensamento político, ideológico que orienta, é possível aproximar 
desta realidade com intuito de reconstrução. 
Diante das multiplicidades de fatores que incide sobre os usuários do Sistema 
Único de Saúde, selecionou-se o TFD porque apresenta número expressivo de 
usuários em busca de tratamento de saúde, onde os mesmos são encaminhados 
para realizarem seus tratamentos fora do Estado de Rondônia. Devido à carência 
que o estado sofre em não oferecer o tratamento adequado a certas doenças como 
câncer, cirurgias de traumatologias, cardíacas, transplantes e outros, os usuários 
são encaminhados para outros estados, onde através do SUS vai efetivar os 
procedimentos. Visto que existe o serviço e usuários do TFD, fez-se necessário a 
construção de um esboço de pesquisa que concretizasse o objetivo deste trabalho. 
Incluindo aí a análise do trabalho do profissional de Serviço Social, com atuação 
dentro da Secretaria de Saúde no município de Ouro Preto do Oeste. 
 Selecionado esse recorte de realidade para ser investigado iniciou-se o 
levantamento da bibliografia pertinente ao tema haja vista que a escolha pelo tema 
não se deu em vazio, mas em função das leituras que foram realizadas ao longo do 
curso, nesse sentido, recorre-se a uma afirmação realizada por Iamamoto (2008, p. 
21) “um projeto de pesquisa não sai de uma cartola mágica” se assim fosse era 
muito fácil enveredar pelo universo da pesquisa só com um agravante: sem teoria a 
prática não se sustenta. Neste sentido Paulo Netto ( 2009, p. 101) nos adverte 
quando afirma que 
No plano da articulação teórica, ultrapassa o senso comum com uma 
formulação sistemática, entretanto sem desbordar o seu terreno; no plano 
da intervenção, clarifica nexos causais e identifica variáveis prioritárias para 
a manipulação técnica, desde porém que a ação que sobre elas vier a 
incidir não vulnerabilize a lógica medular da reprodução das relações 
sociais. 
De acordo com Faleiros (1997, p. 58) “[...] a construção teórica já não se 
baseia mais na evidência dos fatos isolados, mas na estrutura global do pensamento 
 
 
19
teoricamente sistematizado em teoria”. Contudo, a noção de verdade ou falsidade 
depende da relação com a teoria. No TFD as análises realizadas sobre os fatos 
ocorridos nos deu a base da pesquisa que foi sendo construída teoricamente. O 
formalismo, sem referência a um conteúdo, torna-se impotente para resolver os 
problemas que ele coloca. 
A teoria e a prática constituem, portanto, aspectos inseparáveis do processo 
de conhecimento e devem ser consideradas na sua unidade, levando em conta que 
a teoria não só se nutre na prática social e histórica como também representa uma 
força transformadora que indica à prática, os caminhos da transformação. De acordo 
com Kameyama (1989, p. 100) “[...] a teoria consiste também num conjunto de 
princípios e exigências interligadas que norteiam os homens no processo de 
conhecimento e na atividade transformadora”. Teoria e prática estão relacionados no 
dia-a-dia do profissional do Serviço Social, sendo articuladas nas relações que 
permeiam os usuários do SUS e as redes de atendimento. 
Não obstante, há que se captar as mediações que se interpõem entre a teoria 
e a prática. Segundo Chauí (1980, p.111) precisa o âmbito da teoria e o âmbito da 
prática, quando afirma que 
A relação entre teoria e prática é uma relação simultânea e recíproca por 
meio da qual a teoria nega a prática enquanto prática imediata, isto é, nega 
a prática como um fato dado para revelá-la em suas mediações e como 
práxis social, ou seja, como atividade socialmente produzida e produtora da 
existência social. A teoria nega a prática como comportamento e ação 
dados, mostrando que se trata de processos históricos determinados pela 
ação dos homens que, depois, passam a determinar suas ações. Revela o 
modo pelo qual criam suas condições de vida e são, depois, submetidos 
por essas próprias condições. A prática, por sua vez, nega a teoria como 
um saber separado e autônomo, como puro movimento de idéias se 
produzindo umas às outras na cabeça dos teóricos. Nega a teoria como um 
saber acabado que guiaria e comandaria de fora a ação dos homens. E 
negando a teoria enquanto saber separado do real que pretende governar 
esse real, a prática faz com que a teoria se descubra como conhecimento 
das condições reais da prática existente, de sua alienação e de sua 
transformação. 
 
É preciso passar da atividade teórica à prática, mas, de per si, a teoria não 
pode dar esse passo, não se passa direta e imediatamente de uma esfera à outra. A 
busca teórica para este trabalho foi realizada de forma que a pesquisa possibilitou “o 
conhecimento do meio, permitindo a identificação dos problemas a serem atacados” 
(IAMAMOTO e CARVALHO, 2009, p. 211). Aliás, o que pretendemos não era a 
resolução dos problemas, mas conhecer como ocorre o processo de tratamento 
 
 
20
através do TFD, no município de Ouro Preto do Oeste, e indicar meios que pudesse 
provocar a mudança, onde os próprios usuários tomassem conhecimento da 
situação em que estavam inseridos. Para isso Iamamoto (2008 p, 62) afirma que 
Pesquisar e conhecer a realidade é conhecer o próprio objeto de trabalho, 
junto ao qual se pretende induzir ou impulsionar um processo de 
mudanças. Nesta perspectiva, o conhecimento da realidade deixa de ser 
um mero pano de fundo para o exercício profissional, tornando-se condição 
do mesmo, do conhecimento do objeto junto ao qual incide a ação 
transformadora ou esse trabalho ( grifos da autora). 
O objeto de trabalho está dado pelos usuários do TFD no dia a dia do 
profissional de Serviço Social, tecida pelas relações sociais que estes estão 
inseridos incluindo as dificuldades no seu acesso e reconhecer a existência das 
possibilidades dadas na realidade, são para os assistentes sociais uma prática que 
precisam de sua apreensão e para que possam transformá-las em possibilidades de 
prováveis mudanças. As formas de acesso para o TFD são medidas que precisam 
ser implementadas e através da intervenção do profissional de Serviço Social, sendo 
este campo de atuação deste profissional com uma perspectiva de mudanças. 
Mesmo porque “a natureza interventiva que é própria do Serviço Social se revela na 
escala em que a implementação de políticas sociais implica a alteração prático-
imediata de situações determinadas” (NETTO, 2009, p. 76). Idealizar uma prática 
interventiva dentro da política de saúde para o acesso ao TFD é componente que 
orienta a ação alteradora para as situações que tem como difícil acesso deste 
benefício. 
Além da utilização da pesquisa bibliográfica utilizou-se a consulta em 
documentos pessoais dos usuários, documentos internos e externos do setor, e 
documentos que fazem parte, tanto da Prefeitura quanto da Secretaria de Saúde e 
específico do TFD. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza das contribuições 
dos diversos autores sobre determinados assuntos, a pesquisa documentalvale-se 
de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem 
ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. 
Os documentos pesquisados foram os processos de TFD já arquivados após 
sua efetivação, relatórios da Secretaria Municipal de Saúde, relatório do Núcleo de 
Serviço Social, documentos relacionados ao TFD, como: planilhas de custo, tabelas 
de preços e valores destinados aos usuários, e outros que contribuíram para a 
construção desta pesquisa. 
 
 
21
 Mas para atingir o objetivo proposto foi necessário a utilização de algumas 
técnicas de coletas de dados, iniciando-se pela observação que se concretizou 
através do diário de campo, na qual se descrevia sobre os usuários do TFD, o 
trabalho do profissional do Serviço Social, as burocracias institucionais, envolvendo 
desde a Secretaria Municipal de Saúde de Ouro Preto do Oeste, a Central de 
Regulação de Alta Complexidade - CERAC – , o destino do paciente em outros 
Estados. Através da observação percebeu-se a angústia dos pacientes que não 
conseguem seu encaminhamento com agilidade e o caso da doença é de extrema 
urgência. 
Por meio da observação teve-se um contato direto do pesquisador com o 
fenômeno observado, com objetivo de obter informações expressivas das relações 
entre os usuários, a instituição e o profissional. Minayo (2003, p.59), enfatiza que 
“[...]o observador enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma 
relação face a face com os observados”. Utilizando esta técnica pode-se captar 
informações que não seriam obtidas através de outras técnicas, como por exemplo, 
um questionário, “[...]uma vez, observados diretamente na própria realidade, 
transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real” afirma Minayo 
(2003, p.59). 
Antes de iniciar a observação foi necessário estabelecer uma aproximação 
para romper o estranhamento principalmente em relação a equipe de profissionais 
da instituição. Rompendo-se essa etapa, ocorreu a minha inserção neste espaço e a 
partir daí iniciou-se o diálogo com os usuários. Minayo (2003, p. 60), afirma que “[...] 
nessa situação, o pesquisador deixa claro para si e para o grupo sua relação como 
sendo restrita ao momento da pesquisa de campo” ou do estágio curricular. A 
observação realizada na secretaria de saúde, em especial os usuários do SUS, as 
suas idas e vindas, as viagens perdidas, o processo negado, o processo incompleto, 
a falta de documentação, a dor, a tristeza, a angústia pelo tratamento, as alegrias 
por ter conseguido ou por já estar retornando ao tratamento, enfim as várias 
expressões tanto dos usuários como do profissional fez parte da minha observação 
as quais foram registradas no diário de campo. 
Mais do que guardar informações imediatas o diário de campo serve ao 
profissional de Serviço Social, quando ao ser relido teoricamente trazem em suas 
anotações observações que permitem avanços teóricos tanto para prática quanto 
para a produção teórica do Serviço Social. Lima (2007, p. 4) afirma “[...] o diário 
 
 
22
consiste em um instrumento capaz de possibilitar o exercício acadêmico na busca 
de identidade profissional”. Lewgoy e Arruda (2007, p. 2), frisam que o diário de 
campo é base para “[...] reflexão da ação profissional cotidiana, revendo seus limites 
e desafios” a partir das aproximações sucessivas e críticas. O diário de campo 
apresenta-se tanto como caráter descritivo-analítico, quanto investigativo e de 
sínteses cada vez mais provisórias e reflexivas. 
Após observar as relações sociais tecidas entre os usuários e a profissional, 
passou-se a utilizar a técnica da entrevista, haja vista que a mesma se constitui 
como um dos principais meios para o investigador coletar dados, ela faz parte dos 
instrumentais do processo de trabalho do Serviço Social. Lewgoy e Arruda (2007, p. 
3) afirma que a entrevista é “[...] como se fosse uma conversa profissional”, porém 
para o usuário às vezes não parece, porque ele está simplesmente respondendo 
perguntas de acordo com o que está ao seu alcance, ou como aconteceu. 
A importância da entrevista e de sua condução é destacada com 
pressupostos, habilidades e por um marco teórico para a qualificação de 
seu desenvolvimento. Essa exposição introduz a importância da entrevista 
que pode ser considerada uma atividade profissional com objetivos a serem 
alcançados, que coloca frente a frente uma ou mais pessoas que 
estabelecem uma relação profissional, através de suas histórias (LEWGOY 
e ARRUDA, 2007 p. 3) 
Durante as entrevistas realizadas com os usuários do TFD foi preciso ter 
habilidade para conduzi-las, houve a necessidade de voltar o assunto do tratamento 
do usuário para o qual o mesmo relatava, onde muitos se deixavam levar por fatos 
que ocorreram durante todo o processo. Tudo ajudou a enriquecer, pois percebe-se 
através das falas, que o usuário não está isolado, ou seja, as relações tecidas pelo 
mesmo extrapola o tratamento da doença que é portador, criam-se redes de relação 
com outros doentes, com profissionais, instituições, familiar, etc. 
 Após a coleta dos dados realizados e descritas anteriormente passou a 
análise dos dados que foram embasados no método dialético. Analisar os dados 
através da teoria marxiana significa analisar o fenômeno em sua totalidade , ou seja, 
considerar as relações sociais tecidas entre as políticas estruturais adotadas pelo 
Brasil,os seus impactos na vida social dos usuários do Sistema Único de Saúde. 
A teoria marxiana tem uma especificidade na medida em que é a única 
teoria que resgata a totalidade e que também se coloca a questão da 
transformação [...]. Pode-se dizer que a teoria é a forma de organização do 
conhecimento cientifico que nos proporciona um quadro integral das leis, de 
 
 
23
conexões e de relações substanciais num determinado domínio da 
realidade ( KAMEYMA, 1989, p. 100) 
Considera-se que o método dialético é superior ás outras formas 
metodológicas de conhecimento do ser social na sua complexidade intrínseca. 
Devido à consideração concreta daquilo que está vivo na obra marxiana, ou seja, na 
captação correta das tendências históricas principais da sociedade burguesa, por 
este ângulo 
A dialética não atinge o pensamento de fora para dentro, nem de imediato, 
nem tampouco constitui uma de suas qualidades; o conhecimento é que é 
a própria dialética em uma das suas formas; o conhecimento é a 
decomposição do todo. O ‘conceito’ e a ‘abstração’, em uma concepção 
dialética, tem o significado de método que decompõe o todo para poder 
reproduzir espiritualmente a estrutura da coisa (KOSIK, 1989, p. 14). 
A análise histórica que nos apresenta sem uma seqüência regular, 
configurando em situações complexas e no TFD os procedimentos são atendidos 
quase que exclusivamente pela esfera pública, onde apenas alguns procedimentos 
passa pela esfera privada. Isso se deve a mobilizações de movimentos sociais em 
busca de ampliação e efetivação do direito à saúde, onde veremos no decorrer 
desta pesquisa. 
Dialeticamente, os usuários do TFD estão em confronto/conflitos para validar 
o seu direito a vida, neste sentido se percebe que o trabalho do Serviço Social é 
extremamente relevante na sociedade burguesa. O seu fazer/profissional junto aos 
usuários se regido pelo Art. 5º do Código de Ética (1986) 
a) contribuir para a viabilização da participação efetiva da população 
usuária nas decisões institucionais; 
b) garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e 
conseqüências das situações apresentadas,respeitando 
democraticamente as decisões dos usuários, mesmo que sejam 
contrárias aos valores e às crenças individuais dos profissionais, 
resguardados os princípios deste Código; 
c) democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no 
espaço institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à 
participação dos usuários; 
d) devolver as informaçõescolhidas nos estudos e pesquisas aos usuários, 
no sentido de que estes possam usá-los para o fortalecimento dos seus 
interesses; 
e) informar à população usuária sobre a utilização de materiais de registro 
audio-visual e pesquisas a elas referentes e a forma de sistematização dos 
dados obtidos; 
f) fornecer à população usuária, quando solicitado, informações 
concernentes ao trabalho desenvolvido pelo Serviço Social e as suas 
conclusões, resguardado o sigilo profissional; 
g) contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar a 
relação com os usuários, no sentido de agilizar e melhorar os serviços 
prestados; 
 
 
24
h) esclarecer aos usuários, ao iniciar o trabalho, sobre os objetivos e a 
amplitude de sua atuação profissional. 
 
 Á medida que o direito à saúde se realiza e concretiza pelo TFD, alteram o 
modo como as relações entre os usuários do SUS se estruturam. Contribuindo na 
criação de novas formas de sociabilidade, em que o outro passa a ser reconhecido 
como sujeito de valores, interesses e demandas legítimas passíveis de serem 
negociadas e acordadas pelo profissional de Serviço Social que realiza a mediação. 
 
Portanto, colocar os direitos sociais como foco do trabalho profissional é 
defendê-los tanto em sua normatividade legal quanto traduzi-los 
praticamente, viabilizando a sua efetivação social. Essa é uma frente de luta 
que move os assistentes sociais nas micro ações cotidianas que compõe o 
seu trabalho(IAMAMOTO, 2008, p. 78). 
 
A dialética se apresente ainda como a destruição do pseudoconcreticidade 
através do método dialético-crítico, ao qual o pensamento dissolve as criações 
fetichizadas do mundo reificado e ideal, para alcançar a sua realidade. Desta forma 
a dialética, é apresentada como método revolucionário de transformação da 
realidade. A realidade pode ser mudada, de modo mesmo revolucionário, por que o 
homem é que faz parte desta, e a partir dela é que toma consciência para sua 
transformação. 
Durante o período da pesquisa no TFD, os usuários, o profissional de Serviço 
Social, a instituição e as relações ali tecidas foram dando de formas autônomas e 
sem um precisão de como ia ocorrer os fatos. Assim, a aparência, o empírico, é o 
ponto de partida para o conhecimento. A dialética não aceita o mundo das 
representações e do pensamento comum sob o seu aspecto imediato, “[...]submete-
os a um exame em que as formas reificadas do mundo objetivo e ideal se diluem, 
perdem a sua fixidez, naturalidade e pretensa originalidade para se mostrarem como 
fenômenos derivados e mediatos, como sedimentos e produtos da práxis social da 
humanidade (KOSIK,1989,p.17)”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
25
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II 
PROCESSO HISTÓRICO DA SAÚDE NO BRASIL 
 
Moro num país tropical, abençoado por Deus 
E bonito por natureza ..., (Jorge BenJor) 
 
2.1 A questão da saúde no Brasil: da Colônia a República Velha 
Para falarmos da saúde pública no Brasil, torna-se imprescindível conhecer 
os determinantes históricos neste processo. Como os indivíduos sociais 
(IAMAMOTO, 2008) carregam a sua historicidade, o setor saúde também sofreu as 
influências de todo o contexto político-social pelo qual o Brasil passou ao longo do 
tempo. 
Durante o Brasil - Colônia foi criada pelo Conselho Ultramarino português1, 
os cargos de físico-mor e cirurgião-mor, incumbidos de zelar pela saúde da 
população. Essas funções permaneceram sem ocupantes por algum tempo devido 
os baixos salários e os riscos que os médicos enfrentavam. Além disso, a população 
tinha dificuldades de sobrevivência em detrimento das “novas” moléstias, por outro 
lado a população preferia recorrer aos curandeiros indígenas ou negros ao invés das 
práticas médicas. De certo modo à procura pelos métodos alternativos de cura eram 
incentivadas em função da escassez de médicos graduados. 
 
Aos poucos, médicos e cirurgiões foram se instalando no Brasil, enfrentado 
dificuldades proveniente da pobreza, onde a maioria da população não 
podiam pagar uma consulta. O povo tinha medo de submeter-se aos 
tratamentos que eram baseados em purgantes e sangrias, provocando o 
enfraquecimento levando até a morte nos casos mais fracos. Onde a 
população preferia recorrer aos curandeiros negros ou indígenas, em vez de 
recorrer aos médicos formados na Europa (FILHO, 1996, p. 9). 
 
 
1 Sistema administrativo no Brasil Colonial (1750-1777). 
 
 
26
 
Em 1746 em todo o Território “haviam apenas seis médicos graduados em 
universidades européias (FILHO, 1996, p. 13)”. Essa ausência de médicos faziam 
com que suas orientações valesse apenas em casos de epidemias, como o caso da 
varíola, também chamada de mal das bexigas. Sem saber lidar com as epidemias a 
atitude mais tomada era o isolamento do doente. 
Para um atendimento das questões sanitárias foi necessário a criação de 
centros de formação médica que se estabeleceram nas províncias do Rio de Janeiro 
(1813 ) e da Bahia (1815) que foram transformadas nas primeiras escolas de 
medicina do país, “que tinham como objetivos: a proteção da saúde da população 
segundo os modelos europeus e a defesa da ciência, o que contribuiu para a 
construção da hegemonia da prática médica no Brasil (BERTOLOZZI, 1996, p. 
382)”. 
As primeiras menções à saúde da população do Império estão na 
Constituição de 1824 no bojo do artigo 179, inciso XXI, que dispõe: 
 
Nenhum gênero de trabalho, de cultura, indústria, ou comércio pode ser 
proibido, uma vez que não se opunha aos costumes públicos, á segurança, 
e saúde dos Cidadãos. E, mais além, no inciso XXI, o seguinte: A 
Constituição também garante os socorros públicos. 
 
Além da varíola, outras doenças tais como, a febre amarela e a cólera 
assolavam a população e na hipótese que se tinha na época é que tais doenças 
vinham com os imigrantes. Para ter um controle sobre as mesmas, o Governo 
Imperial criou a Inspetoria de Saúde dos Portos – ISP - em 1828. Com esta 
inspetoria, os passageiros doentes iam para uma quarentena na baía de Quanabara, 
ao mesmo tempo exigiu-se que todos da Corte fossem vacinados. 
 
Alguns médicos concluíram que algumas enfermidades eram causadas por 
‘miasmas’ provocado pelo ar corrompido vindo do mar que pairava sobre a 
cidade. Assim tomavam algumas medidas como disparar tiros na crença 
que iam movimentar o ar e que os miasmas iam embora. Essas medidas 
eram promovidas pontualmente sob a forma de campanhas, as quais eram 
abandonadas assim que se conseguiam controlar os surtos presentes na 
época (BERTOLOZZI, 1996, p. 381) 
 
 
Em 1829 foi criada a imperial academia de medicina, que funcionava como 
órgão consultivo do Imperador nas questões ligadas a saúde pública nacional. 
Surgiu também a Junta de Saúde pública, porém esta não conseguiu alcançar seu 
 
 
27
objetivo de cuidar da saúde da população. Os ricos procuravam tratamento na 
Europa e aos pobres restavam as Santas Casas e os raros hospitais, onde nestes 
misturavam doentes de todos os tipos, dividindo até o mesmo leito. 
Durante o governo de Dom Pedro II incentivou-se pesquisas sobre as 
doenças, apesar do Brasil ter sido o país mais insalubre do planeta no final do 
Segundo Reinado. O campo do conhecimento começou a ganhar forma, onde os 
estudos eram voltados para a prevenção e a forma de atuação nos surtos 
epidêmicos, onde Filho (1996, p 13), define como área científica chamada de 
“medicina pública, medicina sanitária, higiene ou simplesmente saúde pública”. 
Apoiada pelos governos republicanos a nova etapa da medicina exigiu a 
reorganização dos serviços sanitários, desta forma as antigas juntas e inspetorias 
foram substituídas pelos Serviços Sanitários Estaduais – SSE - . Entre 1890 e 1900 
as principais cidades do país sofreram com a varíola, febre amarela, peste bubônica, 
febre tifóide e cólera, matando milhares de pessoas. Diante desses casos deepidemia os médicos higienistas, passaram a ocupar importantes cargos na 
administração pública, assumindo o compromisso de estabelecer estratégias de 
combate as epidemias. 
 
Numa constante fiscalização e divulgação de regras básicas de higiene. 
Iniciava também a era da hospitalização de vítimas de doenças 
contagiosas e dos doentes mentais que até então eram isolados. O ser 
humano era tratado de forma desumana, onde o que era para ser 
recuperado fisicamente era submetido ao isolamento de tudo 
principalmente de suas atividades de trabalho. 
Em 1888, com a Abolição da Escravatura intensificaram-se os fluxos de 
imigrantes provenientes da Itália, Espanha e Portugal, esse período foi marcado pela 
hegemonia do café com predominância de grupos oligárquicos regionais. Com o 
aumento populacional principalmente em função da vinda dos imigrantes, as 
condições sanitárias que já eram péssimas tornaram-se cada vez pior. Esse fato, 
“[...] aliado à falta de políticas sociais e de saúde pertinentes, acabou por resultar na 
eclosão de epidemias de febre amarela e peste bubônica, dentre outras 
(BERTOLOZZI, 1996, p. 382)”. 
Ao verificar que os indivíduos sociais doentes não produziam o bastante 
para manter o capital, e que este constituía parte importante do processo de 
trabalho, os governos republicanos passaram a se preocuparem em implementar as 
ações de proteção da saúde para redução de enfermidades. 
 
 
28
A idéia de que a população constituía capital humano e a incorporação de 
novos conhecimentos clínicos e epidemiológicos às práticas de proteção da 
saúde coletiva levaram os governos republicanos, pela primeira vez na 
história do país, a elaborar minuciosos planos de combate às enfermidades 
que reduziam a vida produtiva, ou útil da população (FILHO, 1996, p.14). 
 
 
Apesar do trabalho de cada cidadão ser considerado fonte geradora de 
riquezas, as políticas sociais não eram privilegiadas pelas autoridades republicanas. 
Essa contradição é explicada pela lógica das relações sociais dominantes do Brasil 
que ainda carregavam as marcas do passado colonial. 
Durante a República Velha (1889-1930), os estados mais ricos 
especialmente São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais foram governados pelas 
oligarquias, tendo a cafeicultura como principal fator econômico, influenciando na 
administração federal. Com estes os lucros foram investidos nas cidades, 
favorecendo a expansão urbana, a fim de alcançar o objeti vo do desejado 
progresso. Nesse sentido, buscaram apoio na ciência para melhorar as condições 
sanitárias, com objetivo de fluir a economia. Todavia, os olhares se voltaram 
exclusivamente para os setores urbanos das grandes metrópoles enquanto isso o 
meio rural ficava em segundo plano, e só atendido quando as questões sanitárias 
afetavam a produção agrícola e extrativistas de exportação. Dessa forma, o regime 
republicano, permaneceu com a política de desigualdade haja vista que conservava 
a maioria da população em situação precária. Sendo assim, a assistência de saúde 
era pra quem podia pagar; restava aos pobres, na qualidade de indigentes, o 
amparo nas Casas de Misericórdias. 
 
 
2.2 A queda das velhas oligarquias e o pacto da modernização: Como 
ficou a questão da Saúde 
 
Na década de 30, Getúlio Vargas promoveu a reforma política administrativa 
afastando os líderes da República Velha. Utilizou as políticas sociais para justificar o 
sistema autoritário de sua época, o conjunto das reformas, a área sanitária passou a 
compartilhar do setor educacional com o Ministério da Educação e da Saúde Pública 
– MESP -, mesmo com a remodelação do aparelho de Estado, Vargas manteve uma 
imensa máquina burocrática para controlar os serviços. A criação do MESP parecia 
 
 
29
ser também a realização parcial dos anseios do vigoroso movimento sanitarista da 
Primeira República. 
 
Através de suas agências estatais, o Estado Novo enraizaria a presença do 
poder público em toda a extensão do território brasileiro. Uma das agências 
que fez parte deste projeto foi justamente o Ministério de Educação e 
Saúde Pública, criado em 1930 com intuito de concretizar o ideal de 
reforma administrativa. O MESP agregou uma estrutura dividida em quatro 
departamentos específicos: educação, saúde pública, assistência social e 
cultura. Portanto, os princípios médico-sanitaristas formariam apenas um 
conjunto na pasta ministerial (SILVEIRA, 2004, p. 4). 
 
Assim muitos dos serviços sanitários organizados caíram por terra, pois a 
imposição de um novo programa montado pelos assessores do presidente não 
contava com especialistas no assunto, o que provocava certo medo na classe 
médica que ao se calar perante o regime autoritário, concentraram na defesa da 
classe. Se outrora a questão social era tratada como um problema de polícia, no 
governo varguista forjou um consenso para obter apoio da classe trabalhadora, de 
forma prussiana criaram-se as caixas de aposentadoria e pensões e os institutos de 
previdência que sob a tutela do Estado eram prestados serviços de assistência a 
população, nestes eram cobrados 3% do salário do empregado e 1% da empresa. 
A década de 30 assiste à formação dos IAPs – Institutos de 
Aposentadorias e Pensões – que institucionalizam o seguro social 
fragmentando as classes assalariadas urbanas por inserção nos setores da 
atividade econômica: marítimos, bancários, comerciários, industriários e 
outros. Agora transformados em autarquias, os institutos passam a ser 
geridos pelo Estado, continuando a contar cm recursos financeiros de 
origem tripartite, com a diferença marcante de a contribuição patronal ser 
agora calculada, como a dos empregados, sobre o salário pago (COHAN, 
2002, p. 16). 
Porém, para os tuberculosos foi criada legislação específica estes tinham 
que se afastar de seus familiares para o tratamento. Aos que não possuía carteira 
de trabalho assinada, o sofrimento era ainda maior, pois não contribuíam e assim 
conseqüentemente não recebiam nenhum benefício, restando o apelo à caridade 
pública. 
Porém com a Constituição de 1934 o operário passou a ter direito a 
assistência médica, licença remunerada a gestante trabalhadora e jornada de 
trabalho de 8 (oito) horas, que foram incluídas em 1943 na Consolidação das Leis 
Trabalhistas - CLT -, incluindo também férias, horas extras, salário mínimo, 
indenização e outros benefícios. Ainda nos primeiros anos, iniciou um movimento de 
 
 
30
educação em saúde, com objetivo da mudança de hábitos anti-higiênicos que 
facilitava a propagação das doenças. O analfabetismo impedia grande parte da 
população beneficiar-se do material utilizado, onde as emissoras de rádio entraram 
na divulgação de medidas de higiene. 
Durante a era Vargas, houve nítida diminuição das mortes por 
enfermidades epidêmicas, principalmente nos grandes centros urbanos do 
Sudeste e do Sul do país. Por outro lado cresceram as chamadas doenças 
de massa [...], marcadas por várias doenças endêmicas, entre elas a 
esquistossomose, doença de chagas, tuberculose, doenças 
gastrointestinais, doenças sexualmente transmissíveis e a hanseníase 
(FILHO, 1996, p. 37). 
 
E mesmo expandindo os serviços médico-hospitalar e as técnicas de 
controle das endemias, o Brasil permanecia como um dos países mais enfermos do 
continente. Isso foi demonstrado, ao selecionarem homens para fazer parte da 
Força Expedicionária Brasileira – FEB - , onde lutariam na Europa, os exames 
mostraram que a maioria estava com a saúde comprometida. 
A política populista foi mantida, os presidentes procuravam apoio popular 
firmando a imagem de “país do povo”, paralelo a isso os movimentos populares 
reivindicavam melhores condições de vida, de saúde e de trabalho. Assim 
[...] a década de 50 foi marcada por manifestações que procuravam firmar 
o país como potência, capaz de firmar o seu desenvolvimento econômico 
independente das pressões internacionais, em especial do imperialismonorte americano. Ao mesmo tempo houve crescimento de capital 
estrangeiro na economia nacional favorecendo a proposta 
desenvolvimentista, coordenada pelo Estado. Tendo como principal 
personagem o presidente Juscelino Kubitschek entre 1956-1961, período 
em que governou o país (FILHO 1996, p 13). 
 
Em maio de 1953 foi criado o Ministério da Saúde pelo presidente Getúlio 
Vargas, depois de 07 (sete) anos de tramitação e com verbas irrisórias, provocando 
a deficiência de funcionários, equipamentos, tendo como conseqüência altos níveis 
de mortalidade e morbidade de doenças. Atrelado a isso estava a estrutura dos 
Institutos de Aposentadorias e Pensões - IAPs –, convivendo ainda por décadas 
com a estrutura das Caixas de Aposentadorias e Pensões - CAPs –, remanescentes 
em várias empresas, permanece até 1966, quando então é unificado todo o sistema 
previdenciário no Instituto Nacional de Previdência Social – INPS - . 
 No entanto, acompanhando profundas transformações da sociedade 
brasileira nesse período, sobretudo nesse processo de acelerada industrialização e 
urbanização, os serviços previdenciários de saúde vão progressivamente sendo 
pressionados pela demanda dos trabalhadores assalariados urbanos. Sem outro 
 
 
31
serviço médico alternativo, quer estatal, quer privado, à exceção de uma rede de 
estabelecimentos de natureza filantrópica e de uma rarefeita rede pública hospitalar, 
ambulatorial e de atenção primária. 
 
Estabelece-se, então, a par de uma divisão social do trabalho entre os 
ministérios da Previdência e Assistência Social (criado em 1974) e da 
Saúde (que data de 1953), uma seletividade da clientela de ambos para os 
seus respectivos serviços de saúde. O primeiro destina-se à população 
mais diferenciada, dadas as características sociais do nosso país, por estar 
formalmente inserida no mercado de trabalho, e os serviços públicos 
vinculados ao outro ministério, às populações de mais baixa renda, 
excluídas do setor formal da economia (COHAN, 2002, p. 17). 
 
Em 1956, o Departamento Nacional de Endemias Rurais2, - DNER - 
passou a executar tarefas de combate à vários tipos de doenças na regiões rurais. 
Como segue texto da lei de criação deste departamento em seu Artigo 2º. 
Ao Departamento Nacional de Endemias Rurais cabe organizar e executar 
os serviços de investigação e promover o combate à malária, leishmaniose, 
doença de Chagas, peste, brucelose, febre amarela, esquistossomose, 
ancilostomose, filariose, hidatidose, bócio endêmico, bouba, tracoma e 
outras endemias existentes no país, cuja investigação e combate lhe forem 
especialmente atribuídas pelo Ministro de Estado da Saúde, de acordo com 
as conveniências de ordem técnica e administrativa. Parágrafo único - Não 
se incluem nas atribuições do Departamento Nacional de Endemias Rurais 
as doenças para as quais existam serviços federais específicos, bem como 
a sífilis e demais doenças venéreas, as febres tifóides e paratifóides, e 
amebíase, as shigolloses, a difteria, coqueluche, a varíola e outras doenças 
transmissíveis, cujo combate, executado por órgãos locais de saúde, 
pertencentes a Estados e Territórios, ao Distrito Federal, aos Municípios, 
autarquias e instituições particulares, seja efetuado com o auxílio técnico ou 
financeiro do Ministério da Saúde, segundo as normas traçadas pela 
Divisão de Organização Sanitária do Departamento Nacional da Saúde (MS, 
1956, p. 1). 
A era desenvolvimentista de Vargas gerou uma grande acumulação e 
concentração de renda, que contribuiu para o processo industrializante do governo 
de Juscelino Kubitscheck. Com o fim da reconstrução européia depois da Segunda 
Guerra Mundial, Japão e comunidade européia estavam interessados em investir no 
terceiro mundo, ou seja, existia uma pressão para que o terceiro mundo se abrisse 
aos capitais estrangeiros. As comodidades oferecidas pelo Estado ao capital 
estrangeiro foram tão grandes que obrigaram ao capital nacional a associar-se a ele 
para desfrutar dos mesmos benefícios fiscais, tais como as isenções e os subsídios. 
 
2 Lei Nº 2.743, de 6 de Março de 1956. 
 
 
32
Portanto , o projeto industrializante do governo JK estava calcado sobre o tripé: 
capital nacional, capital estrangeiro, capital estatal. 
Essa nova fase da industrialização provocou a migração dos trabalhadores do 
campo para a cidade, por outro lado a modernização do campo também favoreceu 
para esse êxodo. Esses deslocamento provocou o inchaço nas cidades que sem 
condições financeiras, aglutinou-se nas periferias formando favelas, com moradas 
precárias, sem saneamento básico e falta de estrutura. 
 O clientelismo prejudicou o bom funcionamento da política de saúde, onde 
os políticos trocavam ambulâncias, leitos, vacinas, funcionários e outras 
manipulações em troca de votos em épocas eleitorais. Sob pressão dos 
sindicatos o governo foi forçado a rever a legislação previdenciária: com a 
ampliação do número de trabalhadores e dependentes ao direito de 
tratamento de saúde financiados pelos institutos e caixas, aumento do 
número de salários e pensões aos trabalhadores afastados por motivo de 
doença. Assim teve que aumentar a porcentagem destinada aos 
tratamentos médicos que era de 5%, passando a quase metade da 
arrecadação ( FILHO, 1996, P. 72). 
Pressionada pelos trabalhadores a Previdência assumiu a prestação de 
assistência médico hospitalar, mesmo com serviços rebaixados em sua qualidade. 
Diante disso a medicina privada começava a pressionar o governo a interromper a 
construção de hospitais públicos, não competindo com o setor privado da medicina, 
onde o Estado deveria passar doações e empréstimos a juros baixos para que os 
empresários criassem uma rede de hospitais e clínicas, que atenderia a população e 
o governo com a venda de seus serviços, onde para isso teve apoio de alguns 
políticos. “Muitas verbas oficiais destinadas a essa área iam para deputados que 
também eram sócios de clínicas e hospitais. Eram eles bem mais que a população, 
os beneficiados pelas verbas públicas Filho (2001, p. 44)”. 
Em 1960, foi sancionada a Lei Orgânica da Previdência Social3 - LOPS -, 
onde a principal medida foi uniformizar as contribuições a serem pagas pelos 
trabalhadores. E preconiza sobre o acesso á saúde, como bem exposto em seu 
Artigo 1º. 
A previdência social organizada na forma desta lei, tem por fim assegurar 
aos seus beneficiários os meios indispensáveis de manutenção, por motivo 
de idade avançada, incapacidade, tempo de serviço, prisão ou morte 
daqueles de quem dependiam economicamente, bem como a prestação de 
 
3 Lei Nº 3.807, de 26 de Agosto de 1960. 
 
 
 
33
serviços que visem à proteção de sua saúde e concorram para o seu bem-
estar (MPAS, 1960, p. 1). 
 
Antes cada instituição cobrava um percentual e com a regularização passa a 
ser de 8% do salário vigente, o que não garantiu equilíbrio financeiro e melhoria dos 
serviços prestados o que impedia o bom funcionamento das políticas de saúde. 
Em 1964 com o golpe de Estado liderado pelos chefes das Forças Armadas, 
pôs fim da democracia populista. Com a crescente expansão do capital, após 
meados da década de 50, no incremento do processo de industrialização do país, 
configurando uma aliança entre o capital multinacional, o capital nacional associado-
dependente e o capital do Estado, aprofundou a crise da saúde com este golpe. Os 
militares impuseram ao país um regime ditatorial e puniram todos os indivíduos e 
instituições que mostraram contra ao movimento auto proclamado Revolução de 64. 
Com isso muitos líderes sindicais, estudantis, religiosos, políticos, foram perseguidos 
por melhores condições de vida. 
O regime ditatorial militar estendeu-se por duas décadas, de 1964 a 1985, 
quando se deu o advento da chamada Nova República, [...] ao longo de 
duasdécadas de autoritarismo, e tomando –se a política econômica [...] foi 
posto a serviço de uma política de favorecimento do capital imperialista, 
política essa que se assentou na superexploração da força de trabalho, na 
indústria e na agricultura. Esse foi um dos segredos da persistência e 
reafirmação do lema ‘segurança e desenvolvimento’. A industria do 
anticomunismo, que floresceu sob esse lema, tinha como contrapartida 
econômica e política principal a superexploração do proletariado (SERRA 
2000, p. 54). 
 
Em 1966 o governo criou o Instituto Nacional de Previdência Social – INPS- , 
que unificou todos os órgãos previdenciários que funcionavam desde 1930. Assim o 
Estado tornou-se o único coordenador dos serviços de assistência médica, 
aposentadoria e pensões destinadas ás famílias dos trabalhadores que descontava 
8 % em seu salário mensal. Nesta década foi promulgado o Programa de 
Integração Social4 - PIS –, na tentativa de comprometer o trabalhador com os 
acréscimos atingidos pela economia brasileira. 
 Na Constituição de 1967, o Estado deveria apoiar as atividades privadas, e 
com o INPS começou a firmar convênios com hospitais privados para atender a 
massa trabalhadora. Os baixos valores e o atraso nas transferências foram 
determinantes para a fragilidade deste sistema, o que gerou fraudes, falsificações de 
 
4 Lei Complementar nº 7, de 7 de setembro de 1970. 
 
 
34
internações, cirurgias desnecessárias, onde as instituições procuravam suprir desta 
forma as suas perdas. 
Com objetivo desenvolvimentista, o governo fez com que crescesse o 
orçamento dos Ministérios militares, dos Transportes e da indústria e Comércio e por 
outro lado houve a redução das verbas destinadas ao Ministério da Saúde, que em 
função das políticas econômicas teve que restringir suas ações à projetos e 
programas, delegando as outras pastas como agricultura e educação, uma parte da 
execução de tarefas sanitárias. Serra (2000, p. 59) salienta que; 
[...] e as pressões de grupos privados e monopolistas claramente 
privilegiavam uma noção de desenvolvimento que só poderiam explicar 
através de mais inflação e maiores empréstimos de capitais externos. Eram 
os efeitos do segundo choque do petróleo ainda retardando o ajustamento 
da economia e produzindo uma perigosa desintegração social. O FMI 
acompanhava a consecução de metas prefixadas de ajustamento da 
economia. Do ponto de vista social, a aplicação do receituário do FMI 
conduziu o país em 1983 a uma grande recessão, com desemprego e 
arrocho salarial, que implicou decisões que atingiram basicamente a classe 
trabalhadora, como a de cortar o crescimento real dos salários, política 
adotada em 1974. 
 
Nas políticas de saúde, o Ministério da Saúde privilegiava como elemento 
individual e não como fenômeno coletivo. Embora o Ministério da Saúde retomasse 
o compromisso estabelecido no Plano Nacional de Desenvolvimento - II PND -, de 
1975, isso não alterou com significância o quadro de abandono à saúde pública. 
Quando a dengue, meningite, a malária se tornava epidemia, as autoridades 
recorriam à censura, impedindo sua divulgação. 
Esta censura impedia além da divulgação de epidemias, outras questões de 
relevância no quadro político envolviam tudo que o governo percebesse que a 
população não deveria saber. Desde 1971 os casos começaram a ocorrer e só em 
1974, quando houve um súbito aumento dos casos de morte por meningite, foi que 
os responsáveis admitiram a epidemia, justificando que outros países sofriam com a 
mesma intensidade da doença. A consciência dos limites da medicina oficial se dá 
no contexto mais amplo do reformismo autoritário implementado pelo governo do 
general Geisel, expressão das implicações políticas da continuidade do projeto de 
desenvolvimento capitalista a partir do Estado. Com o aumento dos casos fatais, em 
1974 o governo federal destinou verbas para a vacinação em massa contra a 
meningite. Esta campanha definida como “operação militar” foi realizada até 1977, 
quando a meningite foi declarada sob controle. 
 
 
35
Em 1974, foi criado o Ministério da Previdência e Assistência Sócia – MPAS 
- l, incorporando o INPS que livrou-se das imposições do Ministério do Trabalho, 
com renovação da promessa de garantia da saúde dos trabalhadores. O governo 
criou também a Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social5- 
Dataprev -, na tentativa de controlar a corrupção. Com o objetivo de acelerar o 
atendimento médico foi criado o Plano de Pronta Ação- PPA - e o Sistema Nacional 
de Saúde – SNS –(1975) , para baratear e tornar mais eficazes os serviços de 
saúde. Essas ações segundo Filho (1996, p. 56) “[...] era mais uma tentativa de 
superar as deficiências no setor, que pareciam intransponíveis”. Para atender as 
vítimas dos acidentes de trabalho na zona rural foram estendidos a estes, o seguro 
de acidente à zona rural, através da Lei nº 6.195 de 1974 e neste ano ainda foi 
criado o Conselho de Desenvolvimento de Comunidade pela Lei nº 6.168/1974. 
Neste período merece destaque ainda a integração do salário-maternidade 
nas obrigações de benefícios da Previdência Social6. De acordo com Serra (2000, p. 
57) “o Instituto Nacional de Previdência Social – INPS -, criado pela administração 
de Castello Branco, em Novembro de 1966, transformou-se num enorme organismo 
burocrático dirigido pela tecnocracia do regime”. 
Em 1977 com a promulgação da Lei nº 6.439 instituiu-se o Sistema Nacional 
de Previdência e Assistência Social – SINPAS - , subdividido em: Instituto Nacional 
de Previdência Social – INPS - ; Instituto Nacional de Assistência Médica e 
Previdência Social- INAMPS -; Fundação Legião Brasileira de Assistência – LBA -, 
sendo esta para prestar assistência social à pessoa carente; Fundação Nacional do 
Bem-Estar do Menor - FUNABEM -; - Instituto de Administração Financeira da 
Previdência Social - IAPAS e Central de Medicamentos - CEME-. Em síntese, essa 
estrutura segundo Serra (2000, p. 63) tinha como 
[...] objetivo de universalizar e unificar toda estrutura dessas entidades 
numa só matriz gerencial, o que permitiu, em meados dos anos 80, que 
fosse coberta pela atuação do Ministério uma população previdenciária de 
100 milhões de pessoas, correspondendo na época a 75% da população 
com um todo. 
 
A medicina previdenciária se expandia de forma gigantesca e em face desta 
expansão, em relação à saúde pública, surgiram distorções graves na política de 
 
5 Criada em 4 de novembro de 1974, através da Lei nº. 6.125, oriunda da fusão dos Centros de 
Processamento de Dados dos institutos de previdência existentes até 1964. 
6 Lei nº 6.136 de 1974. 
 
 
36
atendimento em saúde, iniciando por uma ênfase exagerada em investimento na 
rede hospitalar, em deturpação da rede primária ambulatorial e de postos de saúde. 
Houve uma crescente compra de serviços da rede privada e o estimulo à expansão 
dos sistemas de medicina de grupo, satisfazendo a interesses empresariais com 
baixo grau de controle público. 
Os pressupostos das políticas de saúde, segundo Loyola (1984, p.11) “ [...] 
têm sido os mesmos da medicina científica na medida em que esta, ao deter o 
monopólio legítimo do saber médico na sociedade, é intolerante aos conhecimentos 
relativos á saúde produzidos fora de seu domínio. Isso implica, por outro lado, um 
processo de socialização de quadros profissionais (médicos, enfermeiros, 
administradores hospitalares) na ideologia de que o doente é um ser ‘abstrato e 
indiferenciado” o que mascara as diferenças de classe atualizadas no tratamento 
diferencial dos doentes. É também uma ideologia que produz ‘rendimentos 
simbólicos’, ao desvincular, das prescrições médicas, os eventuais insucessos da 
terapêutica. Vale citar aqui as concepções ideológicas sobre á importânciada saúde 
 
[...] função mascarar as relações de classe que ela encobre, o médico atua 
no sentido de preservar o monopólio de seu saber e autoridade indiscutida 
que a sociedade lhe outorga para dispor da doença, até mesmo do corpo e 
das sensações de seu cliente. E sua atitude é tão mais autoritária quanto 
mais baixa é a classe social do doente que, pela distancia sócio-linguística e 
dos hábitos mentais que o separa do médico, encontra-se incapacitado de 
contra-argumentar com ele, isto é, de impor seu próprio discurso ao 
discurso ‘forte’ e definitivo do medico (LOYOLA, 1984, p. 228). 
O início dos anos 80 no Brasil foi marcado por uma série de mudanças no 
panorama político e social acompanhado de uma crise econômica. A população 
apresentava padrão de vida precária sob grande desatenção do estado sobre 
investimentos em políticas sociais. Apesar da tentativa de repressão de 
manifestações populares reprobatórias ao Regime Militar, diversos segmentos 
sociais descontentes se organizam exigindo maior atenção do estado para os temas 
sociais. É nesse contexto que se organizam as assembléias populares composta por 
trabalhadores operários, associações de bairro, classe médica, desempregados, e 
outros, reunindo propostas variadas com interesses convergentes. Pressionado por 
movimentos sociais e sindicatos representantes de várias classes, o Regime Militar 
dá sinais de exaustão dando início a abertura democrática. 
Com as eleições de 1986 e a promulgação da Constituição Federal, a saúde 
passa a ocupar espaço importante nos temas sociais. O cenário político-ideológico é 
 
 
37
formado pelos movimentos pró-reforma e conservadores. Entretanto várias das 
proposições reformistas discutidas na VIII Conferência Nacional de Saúde – CNS -
rompendo com o modelo curativo são incorporadas em lei e acabam por constituir o 
Sistema Único de Saúde – SUS -. 
Em virtude da precariedade de uma rede pública de atendimento à saúde de 
cobertura nacional, a Previdência Social passa a comprar serviços da iniciativa 
privada fortalecendo sobremaneira esse setor. Nesse período houve a maior 
expansão até aquele momento de empresas médico-hospitalares, companhias de 
seguro-saúde juntamente com a indústria farmacêutica internacional. Por se tratar 
de um negócio extremamente lucrativo, o Brasil passa a atrair investimentos 
externos e em pouco tempo companhias brasileiras de saúde tiveram que concorrer 
com grupos internacionais e muitas acabaram por serem compradas. “ A criação da 
Agencia Nacional de Saúde- ANS - teve por objetivo normatizar um mercado que 
atuava há mais de vinte anos sem regras claras e precisas, demandando a definição 
dos direitos e deveres de empresas e consumidores dos planos e seguros privados 
de saúde (CANTON, 2006, p. 159)”. 
Os laboratórios farmacêuticos internacionais passaram a controlar o preço e a 
qualidade dos medicamentos comercializados no país e os hospitais passaram a 
importar equipamentos e artigos médico-hospitalares. Que contou com uma área 
específica de controle e segundo o Ministério da Saúde essa era a área competente 
para autorizar a fabricação de equipamentos e materiais de saúde e a de Tecnologia 
de Produtos para a Saúde é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA -. 
Ainda na década de 80, o governo militar trabalha para superar a crise política 
e numa tentativa conjunta dos Ministérios da Saúde e da Previdência cria o 
Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde - PREV-SAÚDE – , visando 
organizar o setor público de saúde para contrapor-se ao setor privado sustentado 
em mais de 80% pelo próprio Estado. A iniciativa propunha a criação de uma rede 
pública unificada de oferta de serviços, regionalizada e hierarquizada, financiada e 
administrada pelo estado hegemônica sobre a rede privada. O programa PREV-
SAÚDE, elaborado por um grupo técnico interministerial e apoiado pela Organização 
Pan-Americana de Saúde – OPAS - , refletia a VII Conferência Nacional de Saúde7, 
cujo tema principal era a implantação de uma rede básica de saúde. Utilizando de 
 
7 Realizada em 24 de março de 1980, em Brasília. 
 
 
38
indicadores básicos, criados e construídos a partir do perfil epidemiológico de cada 
região. A OPAS, indicava que o importante seria utilizar os indicadores para 
implementação de políticas publicas que visasse a melhoria das condições de vida 
da população, construindo cidades saudáveis. 
Entretanto devido à falta de verbas previdenciárias e após debate entre os 
movimentos de saúde acabou somente com encaminhamento à Câmara dos 
Deputados. A recuperação da estratégia das AIS pela política de saúde do Governo 
Sarney enseja um conjunto de questionamentos entre os interessados na 
concretização das mudanças na área de saúde. 
 
Os princípios que norteavam as AIS não eram diferentes do fracassado 
PREV-SAÚDE: universalidade no atendimento; integralidade e equidade da 
atenção; regionalização e hierarquização dos serviços; descentralização 
das ações e do poder decisório; democratização através da participação da 
sociedade civil e do controle pelos usuários; planejamento e controle 
efetivo pelo setor público sobre o conjunto do sistema, incluindo os setores 
filantrópico e privado (MS, 1998, p. 8). 
 
Na efervescência política apresentada na segunda metade da década de 80, 
período de democratização do país que o debate sobre a participação popular voltou 
á tona, com uma dimensão de controle de setores organizados da sociedade civil 
sobre o Estado. O que constitui o chamado Movimento de Reforma Sanitária, que 
para Correia (2008, p. 124) esse 
[...] Movimento de Reforma Sanitária com a proposta do Sistema Único de 
Saúde como alternativa ao Sistema de Saúde em vigor, foi legitimado em 
nível nacional na VIII Conferencia Nacional de Saúde, em 1986. Nesta 
conferencia, houve ampla participação dos setores organizados na 
sociedade civil que, pela primeira vez, tinham uma presença efetiva, não 
existentes nas Conferencias Nacionais de Saúde anteriores. 
 
O cenário composto para a aprovação das propostas é misto entre 
integrantes do Movimento Sanitário (progressistas) e neoliberais (conservadores) 
comprometidos com o modelo privatista. É nesse contexto que será incorporado a 
discussão sobre um sistema público de saúde na Constituinte. 
Os debates e as recomendações que se seguiram á VIII Conferencia 
contribuíram para três níveis de ação política e técnica da Reforma 
Sanitária: a luta pelo texto da saúde no capítulo da ordem social da nova 
Constituição; os movimentos táticos – institucionais que iniciaram o 
processo de implementação da reforma; a mobilização da sociedade 
(entidades sindicais e comunitárias, partidos políticos, etc.) para ampliação 
das bases sociais do movimento sanitário (CORDEIRO, 2001, p. 60). 
 
O momento foi de discussão intensa e proposição de um modelo nacional 
reformista para a saúde, que apesar de entraves e como ressalvas, acabou por 
 
 
39
incorporar muitas de suas propostas na Constituição Federal de 1988, após análise 
pela Comissão Nacional de Reforma Sanitária da Assembléia Constituinte. No plano 
ideológico rompeu-se explicitamente com a concepção do processo saúde doença e 
a visão curativista e medicalizante que fundamentava o modelo médico assistencial. 
Admite-se após longos anos, o caráter insuficiente de resolução dos problemas de 
saúde apenas por meio de consultas médicas e assistência hospitalar. Torna-se 
reconhecido o caráter social da doença e a responsabilidade do estado, conforme 
trecho inicial do Tema I do Relatório da VIII Conferência Nacional de Saúde. 
Em seu sentido mais abrangente, a saúde é resultante das condições de 
alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, 
transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a 
serviços de saúde. 2- A saúde não é um conceito abstrato.

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