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Deseq. do adulto 4 (Pneumologia e Cardiologia) Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 CASO 10 - TROMBOEMBOLISMO VENOSO O tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma síndrome clínica e fisiopatológica que resulta da oclusão da circulação arterial pulmonar por um ou mais êmbolos originados (ou carreado). Os eventos tromboembólicos estão relacionados, em mais de 90% dos casos, com êmbolos originados em sítios de trombose venosa profunda (TVP), principalmente dos vasos da coxa e pelve. Raramente, os êmbolos podem ser procedentes das veias renais, membros superiores ou do ventrículo direito. EPIDEMIOLOGIA O tromboembolismo venoso (TEV), que engloba a trombose venosa profunda e a embolia pulmonar, causa morte cardiovascular e incapacidade, bem como doença psicológica e estresse emocional. Existe certa dificuldade intrínseca de aferição de registros de incidência de TEP, explicada principalmente pela ampla variação na apresentação clínica (desde diagnósticos incidentais em pacientes assintomáticos até casos catastróficos de insuficiência respiratória aguda, choque e morte súbita). Os sobreviventes podem sofrer complicações produzidas pela hipertensão pulmonar tromboembólica crônica ou síndrome pós-trombótica. A hipertensão pulmonar tromboembólica crônica causa dispneia, especialmente aos esforços. A síndrome pós-trombótica (também conhecida como insuficiência venosa crônica) causa lesão das válvulas venosas do membro inferior e piora a qualidade de vida por causar edema de tornozelo ou de panturrilha e dolorimento na perna, principalmente após ficar longo tempo de pé. Na forma mais grave, causa úlcera varicosa. FATORES DE RISCO Os principais fatores de risco para TVP são: idade (aumento exponencial > 50 anos), imobilização, história prévia de TEP, anestesia (risco maior na anestesia geral), gravidez (aumento de risco no pós-parto), neoplasias (TVP/TEP podem ser manifestações de neoplasia presente ou preceder o seu aparecimento por anos), estados de hipercoagulabilidade (deficiência de antitrombina III, deficiência de proteína C ou S) anticorpo antifosfolípide, excesso de inibidor do ativador do plasminogênio tecidual, policitemias, cirurgias (especialmente neurocirurgias, cirurgias ortopédicas, cardiovasculares, transplante renal e cirurgias oncológicas torácicas, abdominais e pélvicas), trauma tecidual (ativação da coagulação e trauma direto sobre os vasos), obesidade, varizes dos membros inferiores e anticoncepcionais; doença neurológica resultando em imobilidade, hospitalizações por afecções clínicas agudas em geral, internação em instituições de longa permanência ou hospices, traumas e fraturas, antecedente de tromboembolismo venoso, reposição hormonal combinada, reposição estrogênica, reposição progestagênica. Para algumas dessas condições predisponentes (especialmente os estados perioperatórios), podem haver cofatores de risco adicional, como a idade acima de 65 anos, tabagismo atual e obesidade. A imobilização prolongada devido a condições de incapacidade temporária, como período pós-operatório, portadores de fraturas principalmente aquelas que acometem os ossos dos membros inferiores e pelve ou, associada a doenças crônicas e debilitantes é a causa mais frequente de TEP. A imobilização impede a atividade muscular, prejudicando o retorno venoso. A rede venosa dos músculos sóleo e gastrocnêmio constitui o local de maior lentidão de fluxo, originando grande parte dos trombos. As cardiopatias são importante fator de risco no desenvolvimento do TEP. Os mais frequentemente acometidos são aqueles com insuficiência cardíaca grau funcional III e IV da NYHA e de fibrilação atrial. Politraumatizados apresentam incidência de TEP em torno de 15%. Queimaduras extensas estão associadas a fenômenos tromboembólicos por alterações do endotélio vascular, passagem de tromboplastina tecidual para a circulação, desidratação e imobilidade. Os anticoncepcionais orais com alto teor de estrógeno são responsáveis por 1,6 a 7,2% dos casos de TVP. É frequente a associação de TEP com neoplasias malignas, principalmente de pâncreas, próstata, pulmão e mama. A doença tromboembólica pode ser o primeiro sintoma clínico do tumor. Embora frequentemente citadas como fatores de risco, as viagens aéreas prolongadas conferem um risco pequeno, reportado em cerca de 1 evento de tromboembolismo venoso a cada 4.656 voos. CAUSAS Muito embora a causa mais frequente de embolia pulmonar seja a impactação de trombos (coágulos), razão por que se assume a sinonímia entre embolia pulmonar e tromboembolismo pulmonar (TEP), existem diversas outras causas para essa afecção clínica, de acordo com a natureza do material de impactação: FISIOPATOLOGIA Inflamação e ativação de plaquetas A tríade de Virchow (estase venosa, hipercoagulabilidade e lesão do endotélio) leva ao recrutamento de plaquetas ativadas, as quais liberam micropartículas. Essas micropartículas contêm mediadores pró-inflamatórios que se ligam a neutrófilos, estimulando-os a liberar seu material nuclear e formar redes extracelulares denominadas armadilhas extracelulares de neutrófilos. Essas redes pró-trombóticas contêm histonas que estimulam a agregação plaquetária e promovem a síntese de trombina dependente de plaquetas. Trombos venosos se formam e florescem em ambiente de estase, baixa tensão de oxigênio e aumento da expressão (upregulation) de genes pró-inflamatórios. Estados pró-trombóticos As 2 mutações genéticas autossômicas dominantes mais comuns são a do fator V de Leiden, que causa resistência ao anticoagulante endógeno, a proteína C ativada (que inativa os fatores de coagulação V e VIII), e a mutação do gene da protrombina, que aumenta a concentração plasmática da protrombina. Material embolizado Condição clínica associada Trombo (TEP) Pós-operatórios, imobilizações, trombofilias Gordura (embolia gordurosa) Fratura e manipulação cirúrgica de ossos longos Líquido amniótico e debris fetais (embolia amniótica) Trabalho de parto e parto (vaginal e cesárea) Trombos infectados (embolia séptica) Tromboflebite infecciosa das veias jugulares, abscessos hepáticos e pélvicos Adesivos (fibrina e cianoacrilatos) e xenomateriais de cimentação (metilmetacrilatos) Procedimentos de embolização vascular, osteossínteses, fixação de próteses ortopédicas, vertebroplastias percutâneas Deseq. do adulto 4 (Pneumologia e Cardiologia) Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 A antitrombina, a proteína C e a proteína S são inibidores da coagulação que ocorrem naturalmente. As deficiências desses inibidores, ainda que raras, estão associadas ao TEV. A síndrome antifosfolipídeo representa a causa adquirida mais comum de trombofilia e está associada à trombose venosa ou arterial. Outros fatores predisponentes comuns são câncer, obesidade, tabagismo, hipertensão arterial sistêmica, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal crônica, transfusão sanguínea, viagens aéreas de longa distância, poluição do ar, contraceptivos orais estrogênicos, gestação, terapia de reposição hormonal pós-menopausa, cirurgia e traumatismo. A inflamação predispõe à trombose, e condições como psoríase e doença inflamatória intestinal são fatores de risco reconhecidos de TEV. O estilo de vida sedentárioé uma etiologia cada vez mais prevalente de embolia pulmonar fatal. Um estudo japonês observou que cada aumento de 2 horas ao dia assistindo à televisão está associado com um aumento de 40% na probabilidade de EP fatal. Embolização Quando trombos venosos profundos se desprendem do seu local de formação, embolizam para a veia cava, o átrio direito e o ventrículo direito e se alojam na circulação pulmonar, causando, assim, a embolia pulmonar aguda. Paradoxalmente, esses trombos às vezes embolizam para a circulação arterial através de um forame oval patente ou de um defeito do septo atrial. Muitos pacientes com embolia pulmonar não apresentam evidências de TVP porque o trombo já embolizou para os pulmões. Alterações na fisiologia As anormalidades mais comuns na troca gasosa são hipoxemia arterial e aumento no gradiente alveolar-arterial da tensão de O2, que representa a ineficiência na transferência de O2 nos pulmões. O espaço morto anatômico aumenta porque o gás respirado não entra nas unidades de troca gasosa do pulmão. O espaço morto fisiológico aumenta porque a ventilação para as unidades de troca gasosa excede o fluxo sanguíneo venoso que passa pelos capilares pulmonares. Outras alterações fisiopatológicas são: 1. Aumento da resistência vascular pulmonar causada por obstrução vascular ou secreção plaquetária de agentes neuro-humorais vasoconstritores, como a serotonina. A liberação de mediadores vasoativos pode produzir desequilíbrio na relação ventilação-perfusão em locais distantes do êmbolo, explicando a possível discordância entre uma EP de pequena monta e um grande gradiente alveolar-arterial de O2. 2. Comprometimento da troca gasosa em razão de aumento no espaço morto alveolar causado por obstrução vascular, hipoxemia em razão de hipoventilação alveolar em relação à perfusão no pulmão não obstruído, shunt da direita para a esquerda ou redução da transferência de monóxido de carbono pela perda de superfície de troca gasosa. 3. Hiperventilação alveolar devido à estimulação reflexa dos receptores alveolares. 4. Aumento da resistência das vias aéreas em razão da constricção de vias aéreas distais aos brônquios. 5. Redução da complacência pulmonar em razão de edema pulmonar, hemorragia pulmonar ou perda de surfactante. Hipertensão pulmonar, disfunção do VD e microinfarto do VD A obstrução da artéria pulmonar e os mediadores neuro-humorais causam aumento na pressão arterial pulmonar e na resistência vascular pulmonar. Quando a tensão na parede do VD aumenta, ocorre dilatação e disfunção do VD, com liberação do biomarcador cardíaco peptídeo natriurético cerebral, devido a estiramento anormal do VD. O septo interventricular sofre protrusão para o interior do ventrículo esquerdo e comprime o VE intrinsecamente normal. A disfunção diastólica do VE reduz a distensibilidade do VE e prejudica seu enchimento. O aumento na tensão da parede do VD também comprime a artéria coronária direita, limita o suprimento de oxigênio ao miocárdio e desencadeia isquemia coronária direita e microinfarto de VD, com liberação de biomarcadores (ex: troponina). A redução do enchimento do VE pode causar uma queda no débito cardíaco do VE e na pressão arterial sistêmica, com consequente colapso circulatório e morte. CLASSIFICAÇÃO Embolia Pulmonar - EP maciça: 5-10% dos casos. Trombose extensa afetando pelo menos metade da vasculatura pulmonar. Dispneia, síncope, hipotensão e cianose são sinais característicos. Os pacientes podem se apresentar em choque cardiogênico e morrer com falência de múltiplos órgãos. - EP submaciça: 20-25% dos casos. Disfunção do VD, embora a pressão arterial sistêmica permaneça normal. A combinação de IC direita e liberação de biomarcadores cardíacos sinaliza um alto risco de deterioração clínica. - EP de baixo risco: 65-75% dos casos. Esses pacientes têm prognóstico excelente. Trombose venosa profunda - TVP de membros inferiores: Geralmente inicia na panturrilha e se propaga no sentido proximal às veias poplítea, femoral e ilíaca. A TVP de membros inferiores é cerca de 10 vezes mais comum do que a TVP de membros superiores, que com frequência é desencadeada pela instalação de marca-passo,desfibrilador cardíaco interno ou cateter venoso central. A probabilidade de haver TVP de membros superiores aumenta à medida que aumenta o número de lúmens e o diâmetro dos cateteres. - Trombose venosa superficial: Em geral se apresenta com eritema, dor à palpação e um “cordão palpável”. Os pacientes correm risco de extensão da trombose para o sistema venoso profundo. QUADRO CLÍNICO É variável e dependerá das condições cardiopulmonares prévias do paciente, tamanho do êmbolo, número de episódios embólicos e da resposta neurohumoral. Hemoptise, dor e atrito pleural, febre, flebite e taquicardia ocorrem com frequência. A tríade dor torácica, hemoptise e doença venosa periférica é encontrada em apenas 13% dos casos. Em pacientes com doença cardiopulmonar prévia, obstrução menor de 50% da vasculatura pulmonar pode precipitar cor pulmonale agudo semelhante ao quadro clínico observado em pacientes com embolia maciça. Nos pacientes com TEP agudo e maciço (área arterial pulmonar acometida > 50%), pode ocorrer síncope e colapso cardiovascular, devido a súbita redução do débito cardíaco e do fluxo sanguíneo cerebral. 30% evoluem com instabilidade hemodinâmica. Deseq. do adulto 4 (Pneumologia e Cardiologia) Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 A presença de dor retroesternal está presente em 30% dos casos, provavelmente relacionada a hipoperfusão coronariana, podendo, também, ser originada do pericárdio parietal, da distensão súbita da artéria pulmonar ou, ainda, de isquemia da parede do VD. Os sinais clínicos do TEP agudo e maciço devem-se principalmente a falência aguda do VD, baixo débito cardíaco e distúrbio da relação ventilação/perfusão. Cianose, taquicardia, pressão venosa central elevada e ritmo de galope audível no bordo esternal esquerdo são encontrados em 75% dos casos. A hipoxemia é frequente, mas inespecífica, em portadores de TEP sem doença cardiopulmonar prévia. A presença de áreas hipoperfundidas, mas com ventilação normal, causa desequilíbrio na relação ventilação/perfusão (efeito espaço morto), além disso, pode haver desvio de fluxo sanguíneo para áreas não embolizadas, promovendo predomínio da perfusão sobre a ventilação (efeito shunt). A constrição de ductos alveolares pode reduzir o volume pulmonar com elevação da cúpula diafragmática e atelectasias. DIAGNÓSTICO Avaliação Clínica A EP é conhecida como “a grande dissimuladora”. O diagnóstico é difícil porque os sinais e sintomas não são específicos. O sintoma mais comum é falta de ar sem explicação. Quando uma EP oculta ocorre com IC congestiva franca ou com pneumonia, em geral não há melhora clínica a despeito do tratamento clínico padrão da doença concomitante. Esse quadro é um indicador clínico da possível coexistência de EP. Na TVP, o sintoma mais comum é cãibra ou dor muscular repentina na parte inferior da panturrilha, a qual persiste e se intensifica ao longo de váriosdias. Os critérios do escore de Wells ajudam a estimar a probabilidade clínica de TVP e de EP. Os pacientes com probabilidade baixa a moderada de TVP ou de EP devem ser submetidos à investigação diagnóstica inicial apenas com dosagem de D-dímero, sem exames de imagem obrigatórios. Contudo, nos pacientes com alta probabilidade clínica de TEV, deve-se pular a etapa de dosagem de D-dímero e ir diretamente à etapa de imageamento como próximo passo no algoritmo para o diagnóstico. Exames de Sangue O ensaio quantitativo de D-dímeros no plasma por ensaio imunoabsorvente ligado à enzima (ELISA) revela aumento na presença de TVP ou de EP em razão da degradação da fibrina pela plasmina. A elevação de D-dímeros indica trombólise endógena, embora com frequência seja clinicamente ineficaz. A sensibilidade de D-dímeros é > 80% para a TVP (incluindo a TVP isolada da panturrilha) e > 95% para a EP. O D-dímero é menos sensível para a TVP do que para EP, visto que o tamanho do trombo é menor na TVP. O D-dímero normal é um teste útil para “exclusão”. Entretanto, não é um exame específico. Os níveis aumentam em pacientes com IAM, pneumonia, sepse e câncer, bem como no estado pós-operatório e em mulheres no segundo ou terceiro trimestre de gravidez. Portanto, raramente têm participação útil em pacientes hospitalizados, visto que seus níveis com frequência estão elevados em decorrência de doença sistêmica. Elevação dos Biomarcadores Cardíacos Os níveis séricos de troponina e os níveis plasmáticos de proteína de ligação de ácidos graxos do tipo cardíaco aumentam em razão de microinfarto do VD. O estiramento do miocárdio causa liberação do peptídeo natriurético cerebral ou da fração N terminal do precursor do peptídeo natriurético cerebral (NT-pro-BNP). Eletrocardiograma A anormalidade mais citada, além da taquicardia sinusal, é o sinal S1Q3T3: uma onda S em DI, uma onda Q em DIII e uma onda T invertida também em DIII. Esse achado é relativamente específico, porém insensível. A sobrecarga e a isquemia do VD causam a anormalidade mais comum, inversão da onda T de V1 a V4. Ultrassonografia Venosa A ultrassonografia do sistema venoso profundo depende da perda de compressibilidade das veias como principal critério diagnóstico para TVP. Quando uma veia normal é visualizada em imagem com corte transversal, ela imediatamente colapsa quando se aplica uma leve pressão manual no transdutor de ultrassom. Isso cria a ilusão de uma “piscadela”. Na presença de TVP aguda, a veia perde a sua compressibilidade pela distensão passiva pelo trombo agudo. O diagnóstico de TVP aguda é ainda mais seguro quando o trombo é visualizado diretamente. O trombo tem aspecto homogêneo e baixa ecogenicidade. Com frequência, a própria veia parece estar ligeiramente dilatada e é possível que não haja canais colaterais. Deseq. do adulto 4 (Pneumologia e Cardiologia) Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 A dinâmica do fluxo venoso pode ser examinada com imagem Doppler. Em geral, a compressão manual da panturrilha provoca aumento do padrão de fluxo Doppler. A perda da variação respiratória normal é causada por TVP obstrutiva ou por qualquer processo obstrutivo no interior da pelve. Nos pacientes com ultrassonografia venosa tecnicamente inadequada ou não diagnóstica, devem-se considerar modalidades alternativas de imagem para TVP, como TC e RM. Radiografia do Tórax Com frequência, a radiografia do tórax é normal ou quase normal nos pacientes com EP. Entre as anormalidades bem estabelecidas estão oligoemia focal (sinal de Westermark), densidade periférica em forma de cunha geralmente localizada na base da pleura (corcova de Hampton) e aumento do ramo descendente da artéria pulmonar direita (sinal de Palla). TC do Tórax A TC do tórax com contraste intravenoso é o principal exame de imagem para o diagnóstico de EP. A TC também proporciona excelentes imagens no plano de 4 câmaras do coração. O aumento do VD indica maior probabilidade de morte em até 30 dias, em comparação com pacientes com EP + VD de tamanho normal na TC de tórax. Quando se estendem os cortes tomográficos para as regiões abaixo do tórax chegando ao joelho, a TVP na pelve e na parte proximal do membro inferior também pode ser diagnosticada por TC. Algumas vezes, diagnostica-se incidentalmente câncer de pulmão assintomático em estágio inicial. Cintilografia Pulmonar Tornou-se um exame complementar de segunda linha para EP, usada principalmente em pacientes que não toleram o contraste IV. Pequenos agregados particulados de albumina marcada com um radionuclídeo emissor de raios gama são injetados por via IV e ficam retidos no leito capilar pulmonar. A falha de perfusão na cintilografia indica ausência ou redução do fluxo sanguíneo, possivelmente em razão de EP. As cintilografias de ventilação anormais indicam um pulmão anormal não ventilado, o que enseja possíveis explicações para as falhas de perfusão além da EP aguda, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica. Uma cintilografia de alta probabilidade para EP é definida quando há duas ou mais falhas de perfusão segmentares na presença de ventilação normal. O diagnóstico de EP é muito improvável em pacientes com cintilografias normais ou quase normais, e os exames considerados como de alta probabilidade permitem 90% de certeza de diagnóstico. Infelizmente, na maioria dos pacientes as cintilografias não são diagnósticas, e menos da metade dos casos com EP confirmada por angiografia apresenta cintilografia com alta probabilidade. Até 40% dos pacientes com elevada suspeita clínica de EP, mas com cintilografia indicando “baixa probabilidade”, de fato têm EP diagnosticada por angiografia. Ressonância Magnética (contrastada) Quando a USG é ambígua, a venografia por RM com contraste de gadolínio é uma excelente modalidade para diagnóstico de TVP. Com a angiorressonância magnética pulmonar é possível detectar uma grande EP proximal, mas esse não é um exame confiável para EPs menores segmentares e subsegmentares. Ecocardiografia Não é um exame de imagem confiável para o diagnóstico de EP aguda, visto que é normal na maioria. Entretanto, é um recurso diagnóstico muito útil para detectar condições que poderiam simular a EP, como infarto agudo do miocárdio, tamponamento pericárdico e dissecção da aorta. A ecocardiografia transtorácica (ETT) raramente fornece imagens diretas do trombo. O sinal indireto mais conhecido na ETT é o sinal de McConnell: hipocinesia da parede livre do VD com movimento normal ou hipercinético do ápice do VD. Deve-se considerar a realização de ecocardiografia transesofágica (ETE) quando não se dispõe de TC ou quando o paciente apresenta insuficiência renal ou alergia grave ao contraste impedindo a sua administração, apesar de pré-medicação com esteroides em altas doses. Com essa modalidade de imagem, é possível identificar EP na bifurcação da artéria pulmonar (“trombo em sela”), no ramo principal direito ou no esquerdo. Angiografia Pulmonar A TC do tórax contrastada praticamente substituiu a angiografia pulmonar invasiva como examecomplementar. O exame invasivo com uso de cateter é reservado para pacientes com TC de tórax tecnicamente insatisfatória e àqueles para os quais se planeja um procedimento de intervenção, como trombólise direcionada com cateter. O diagnóstico definitivo de EP depende da visualização da falha de enchimento intraluminal em mais de uma incidência. Os sinais secundários incluem oclusão abrupta (“interrupção”) dos vasos, oligoemia segmentar ou ausência de vascularização, fase arterial prolongada com enchimento lento e vasos periféricos sinuosos e afunilados. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DA TVP Ruptura de cisto de Baker, distensão/lesão muscular, celulite, síndrome pós-trombótica aguda/insuficiência venosa. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DO TEP Pneumonia, asma, DPOC; IC congestiva; pericardite; “síndrome viral”, costocondrite, desconforto musculoesquelético; fratura de costela, pneumotórax; síndrome coronariana aguda; ansiedade. Infarto pulmonar geralmente indica EP de pequena monta. É extremamente doloroso porque o trombo se aloja perifericamente, próximo da inervação dos nervos pleurais. Entre as possíveis etiologias para EP não trombótica estão embolia gordurosa após fratura pélvica ou de ossos longos, embolia tumoral, embolia de medula óssea ou embolia aérea. É possível ocorrer embolia por cimento ortopédico e embolia por fragmentos ósseos após artroplastia total do quadril ou do joelho. Deseq. do adulto 4 (Pneumologia e Cardiologia) Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 TRATAMENTO DA TVP Terapia Primária: Consiste em dissolução do coágulo com terapia farmacomecânica, a qual geralmente inclui trombólise com dose baixa dirigida por cateter. Essa abordagem é reservada aos pacientes com TVP extensa em veias femorais, iliofemorais ou de membros superiores. A hipótese da veia aberta postula que pacientes que recebem terapia primária evoluem com menos danos às válvulas venosas em longo prazo e, consequentemente, com taxas menores de síndrome pós-trombótica. Profilaxia Secundária: Feita com anticoagulação ou instalação de filtro na veia cava inferior. Em 2016, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou um novo filtro de VCI recuperável que é inserido à beira do leito com visualização por ultrassonografia da veia femoral ou da veia jugular interna (Angel® Filter), mas sem necessidade de qualquer imagem fluoroscópica ou radiológica. Em pacientes com edema do membro inferior com diagnóstico de TVP, podem ser prescritas meias três-quartos de compressão graduada, geralmente 30 a 40 mmHg, para reduzir o desconforto do paciente. Elas devem ser substituídas a cada 3 meses pois perdem elasticidade. Todavia, a prescrição de meias de compressão vascular em pacientes assintomáticos com diagnóstico recente de TVP não previne o desenvolvimento de síndrome pós-trombótica. TRATAMENTO DO TEP Estratificação do Risco: Instabilidade hemodinâmica, disfunção do VD na ecocardiografia, aumento do VD na TC do tórax ou aumento nos níveis de troponina em razão de microinfarto de VD implicam alto risco de desfechos clínicos desfavoráveis a despeito de anticoagulação. Quando a função do VD se mantém normal em paciente hemodinamicamente estável, é altamente provável obter um bom resultado clínico apenas com anticoagulação. Anticoagulação: Base do tratamento bem-sucedido de TVP e EP. Há três estratégias principais: (1) a estratégia convencional, mas cada vez menos usada, de anticoagulação parenteral com heparina não fracionada (HNF), heparina de baixo peso molecular (HBPM) ou fondaparinux como “ponte” para a varfarina; (2) terapia parenteral trocada dentro de 5 dias para um novo anticoagulante por via oral, como a dabigatrana (inibidor direto da trombina) ou a edoxabana (anti-Xa); ou (3) anticoagulação VO em monoterapia com rivaroxabana ou apixabana (ambos anti-Xa) com uma dose de ataque de 3 semanas ou 1 semana, respectivamente, seguida por doses de manutenção sem anticoagulação parenteral. Para os pacientes com TEV, diante de trombocitopenia induzida por heparina suspeita ou comprovada, pode-se escolher entre dois inibidores diretos da trombina de uso parenteral: a argatrobana e a bivalirudina. - Complicações dos anticoagulantes: O efeito adverso mais grave é a hemorragia. Na hemorragia potencialmente fatal ou intracraniana causada por heparina ou por HBPM, pode-se administrar sulfato de protamina. Não há um antídoto específico em caso de sangramento causado por fondaparinux ou inibidores do fator Xa. Contudo, o anticorpo da dabigatrana, idarucizumabe, é um antídoto efetivo e de ação rápida para a dabigatrana. O andexanete é um antídoto universal anti-Xa para betrixabana, rivaroxabana, apixabana e edoxabana que está sendo revisado pela FDA. O sangramento significativo causado por varfarina é mais bem tratado com concentrado de complexo protrombínico. No caso de sangramento menos grave, pode ser usado o plasma fresco congelado ou a vitamina K IV. A vitamina K VO é efetiva em sangramentos menores ou INR muito alta na ausência de sangramento. - Duração da anticoagulação: No caso de TVP isolada em membro superior ou na panturrilha que tenha sido provocada por cirurgia, traumatismo, estrogênio ou cateter venoso central ou marcapasso, 3 meses de anticoagulação é suficiente. Para um episódio inicial de TVP provocada na região proximal da perna ou de EP, 3 a 6 meses de anticoagulação seria o período clássico determinado. Filtros de veia cava inferior: As principais indicações são sangramento ativo que impeça a anticoagulação e trombose venosa recorrente apesar de anticoagulação intensiva. A prevenção da EP recorrente em pacientes com insuficiência cardíaca direita que não sejam candidatos à fibrinólise e a profilaxia de pacientes com risco extremamente elevado são indicações “mais leves” para instalação de filtro. O próprio filtro pode falhar, permitindo a passagem de coágulos de tamanho pequeno a médio. Os grandes trombos podem embolizar para as artérias pulmonares por meio de veias colaterais que se desenvolvem. Paradoxalmente, ao prover um nicho para a formação de coágulos, os filtros aumentam a taxa de TVP, ainda que em geral previnam a EP. Portanto, uma complicação comum é a TVP recorrente ou a trombose da veia cava com acentuado edema do membro inferior. Na atualidade, podem ser colocados filtros removíveis em pacientes com distúrbio hemorrágico temporário antecipado ou naqueles com alto risco temporário de EP, como os submetidos à cirurgia bariátrica com história pregressa de EP perioperatória. Os filtros podem ser removidos até vários meses após a inserção, a não ser que haja formação de trombo aprisionado dentro dele. O filtro removível torna-se permanente se ficar no lugar ou quando, por razões técnicas (ex: endotelização rápida) não puder ser removido. Tratamento da embolia pulmonar maciça Nos pacientes com EP maciça e hipotensão, pode-se administrar 500 ml de soro fisiológico. Qualquer líquido adicional deve ser infundido com extrema cautela, visto que a administração excessiva agrava o estresse da parede do VD, provoca isquemia mais profunda do VD e agrava a complacência e o enchimento doVE por causar desvio septal interventricular em direção ao VE. A dopamina e a dobutamina constituem agentes inotrópicos de primeira linha para tratamento do choque relacionado à EP. É necessário manter um limiar baixo para iniciar esses agentes. Frequentemente uma abordagem com “tentativa e erro” funciona melhor; outros agentes que podem ser efetivos incluem norepinefrina, vasopressina ou fenilefrina. Deseq. do adulto 4 (Pneumologia e Cardiologia) Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 Fibrinólise A terapia fibrinolítica bem-sucedida reverte rapidamente a IC direita e pode resultar em menor taxa de mortalidade e de EP recorrente ao dissolver grande parte do trombo arterial pulmonar responsável pela obstrução anatômica, impedir a liberação contínua de serotonina e outros fatores neuro-humorais que agravam a hipertensão pulmonar e lisar grande parte da fonte do trombo nas veias da pelve e nas veias profundas das pernas, diminuindo, assim, a probabilidade de EP recorrente. O esquema fibrinolítico preferido, administrado sistemicamente, é 100 mg de ativador do plasminogênio tecidual (tPA) recombinante, administrados em infusão IV periférica contínua ao longo de 2h. Quanto mais cedo se inicia a trombólise, mais efetiva ela é. Entretanto, a abordagem pode ser usada por pelo menos 14 dias após a ocorrência da EP. Um esquema de dose off label conhecido é o uso de 50 mg de tPA administrados por 2 horas. Notou-se que essa dose mais baixa está amplamente associada com menos complicações hemorrágicas. Entre as contraindicações da fibrinólise estão doença intracraniana, cirurgia recente e traumatismo. A taxa global de sangramento significativo é de cerca de 10%, incluindo risco de 2 a 3% de hemorragia intracraniana. O rastreamento cuidadoso dos pacientes para contraindicações ao uso de fibrinolíticos é a melhor maneira de minimizar o risco de sangramento. A única indicação aprovada pela FDA para o uso de fibrinólise na EP é na EP maciça. Para os pacientes com EP submaciça, que tenham pressão arterial sistólica preservada, mas disfunção do VD moderada a grave, a indicação de fibrinólise permanece controversa. Terapia farmacomecânica guiada por cateter Muitos pacientes têm contraindicações relativas à trombólise em dose plena. A terapia farmacomecânica direcionada por cateter geralmente combina a fragmentação ou pulverização mecânica do trombo com trombólise em dose baixa direcionada por cateter. Entre as técnicas mecânicas usadas estão maceração e embolização distal intencional do coágulo, trombectomia por sucção, hidrólise reolítica e trombólise facilitada por ultrassom de baixa energia. A dose de alteplase pode ser reduzida acentuadamente. Com uma dose total de 24 mg de tPA foi possível diminuir a dilatação do VD, a hipertensão pulmonar e a carga anatômica do trombo e minimizar a hemorragia intracraniana. Embolectomia pulmonar O risco de hemorragia grave com a administração sistêmica de fibrinolítico renovou o interesse na embolectomia cirúrgica. O encaminhamento mais rápido, antes da instalação de falência de múltiplos órgãos, e o aprimoramento da técnica cirúrgica resultaram em aumento da taxa de sobrevida. Tromboendarterectomia pulmonar Pacientes com EP que apresentam hipertensão pulmonar inicial (em geral diagnosticada com eco-Doppler) devem ser acompanhados por cerca de 6 semanas com repetição da ecocardiografia para determinar se houve normalização da pressão arterial pulmonar. Os pacientes acometidos de dispneia causada por hipertensão pulmonar tromboembólica crônica devem ser considerados para tromboendarterectomia pulmonar, que, se bemsucedida, pode reduzir acentuadamente e, algumas vezes, até mesmo curar a hipertensão pulmonar. A cirurgia requer esternotomia mediana, bypass cardiopulmonar, hipotermia profunda e períodos de parada circulatória hipotérmica. Pacientes inoperáveis devem ser tratados com terapia vasodilatadora pulmonar e angioplastia por balão das teias arteriais pulmonares. PREVENÇÃO DO TROMBOEMBOLISMO VENOSO A prevenção de TVP e EP é de suma importância, visto que o TEV é difícil de ser detectado e representa um enorme ônus médico e econômico. Doses baixas de HNF ou de HBPM são a forma mais comum de profilaxia em pacientes hospitalizados. As auditorias em hospitais para assegurar que os protocolos de profilaxia estão sendo usados também irão aumentar a utilização de medidas preventivas. A duração da profilaxia é uma questão importante. A profilaxia de duração estendida com o novo agente anti-Xa, betrixabana, parece ser eficaz e segura em pacientes clinicamente enfermos durante a hospitalização e após a alta hospitalar e está sendo revisada pela FDA.
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