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Desenvolvimento Instrucional CURSO: Engenharia de Produção DISCIPLINA: Gestão da Inovação PROFESSOR: ANTONIO IACONO Aula 5: Estratégias de Inovação Meta Nesta aula vamos apresentar diferentes tipos de estratégias de inovação, que podem ser adotadas pelas empresas como táticas competitivas. Objetivos O objetivo principal desta aula é o de apresentar uma classificação de estratégias de inovação que englobe as alternativas possíveis existentes no ambiente competitivo. Para isso, vamos explorar os seguintes pontos: • Mostrar que os diferentes tipos de estratégias de inovação não são excludentes e podem ser utilizados de maneira combinada; • Mostrar que a escolha estratégica adequada é afetada por fatores internos e externos a empresa; • Mostrar a integração entre a estratégia de inovação e capacitação tecnológica. Após esta aula, você será capaz de: 1. Caracterizar os diferentes tipos de estratégias de inovação adotadas pelas empresas; 2. Compreender a importância da estratégia de inovação para o alcance da estratégia organizacional; 3. Compreender o contexto das empresas brasileiras quanto as estratégias de inovação adotadas. | 2 Introdução Pudemos ter a oportunidade, na aula anterior, de entendermos a importância dos processos de aprendizagem em empresas de países emergentes como o Brasil. Mostramos que a capacidade tecnológica é crucial para o desenvolvimento das inovações e para o avanço rumo a fronteira tecnológica. Agora, vamos avançar um pouco mais em nosso estudo sobre inovação e estudar as estratégias de inovação, ou seja, vamos entender de que modo as empresas definem como irão participar do “jogo da inovação”. Nessa ocasião iremos ver que a definição da estratégia de inovação está diretamente relacionada à capacidade tecnológica acumulada pela empresa ao longo do tempo. É claro também que a capacidade tecnológica não é o único fator determinante na escolha das alternativas de estratégia de inovação; existem outros fatores de natureza externa à empresa que serão também apresentados e analisados. Em outros termos, podemos dizer que as estratégias de inovação são apoiadas na avaliação das ameaças e oportunidades e da capacidade interna da empresa de responder aos desafios e influenciar o meio externo Nesse sentido, a estratégia de inovação pode então ser entendida como um conjunto de alternativas a serem selecionadas e implementadas na empresa com o objetivo principal de adaptá-la ao ambiente externo em que atua ou de modificá-lo, para aumentar suas chances de sucesso e ser mais competitiva. Não podemos deixar de enfatizar que a estratégia de inovação precisa, acima de tudo, dar sustentação à estratégia de negócios. O volume e o tipo da inovação (radical ou incremental) irão variar de acordo com a estratégia e o ambiente competitivo. Vamos apresentar neste capítulo os diferentes tipos de estratégias de inovação que são mais adotadas pelas empresas. Mas antes, gostaríamos de apresentar alguns conceitos e considerações sobre estratégia, que julgamos importantes para o entendimento dos tipos de estratégias de inovação. | 3 1. Abordagens conceituais sobre estratégia O conceito de estratégia não é trivial e não pode ser generalizado. As diferentes interpretações e conceitos de estratégia tem como base a relação entre o ambiente interno e o ambiente externo das organizações. Apresentamos, a seguir, quatro conceitos de estratégia competitiva, que podem ser vistas com mais detalhes em Tigre (2006). a) estrutura-conduta-desempenho A variante do enfoque estrutura-conduta-desempenho foi desenvolvida por Porter (1980), o qual considera que a estratégia é essencialmente a relação entre a empresa e o ambiente externo e que a parte mais relevante do ambiente externo é a indústria ou setor de atividades onde a empresa se insere. Tal ambiente pode ser caracterizado por cinco forças competitivas, conforme mostrado na Figura 1. Figura 1: As cinco forças de Porter Fonte: Porter (1980) A grande contribuição pioneira da abordagem de Porter consiste na identificação da natureza das ameaças competitivas e das oportunidades que decorrem dos avanços tecnológicos, e na importância de desenvolver e proteger a tecnologia desenvolvida internamente pela empresa, para a exploração de uma posição superior em relação à concorrência Rivalidade entre concorrentes Ameaça de entrada de novos concorrentes Ameaça de produtos substitutos Poder de negociação dos fornecedores Poder de negociação dos clientes | 4 b) novas teorias de organização industrial e teoria dos jogos Este segundo conceito de estratégia é baseado nas novas teorias de organização industrial e na teoria dos jogos. Segundo essa abordagem, um movimento estratégico de uma empresa influencia o comportamento de outros agentes no mercado. O movimento é bem-sucedido se a empresa tiver sucesso em deter ou influenciar a ação de um competidor. Esse conceito, a exemplo do de Porter, enfatiza mais o ambiente externo do que o interno. c) visão baseada em recursos Essa visão apoia-se nos recursos específicos disponíveis na empresa. Ao contrário das percepções anteriores (que focam no posicionamento da empresa no mercado), a visão baseada em recursos sustenta que a estratégia competitiva de uma empresa deve ter por base o potencial de receitas que podem ser obtidas pelo uso de recursos específicos e escassos detidos por ela. Desse modo, uma estratégia bem-sucedida constitui-se na exploração dos recursos, capacitações ou acessos privilegiados a fontes de tecnologia que são específicos a cada empresa, e por sua vez, não podem ser criados ou transferidos facilmente. d) capacidade dinâmica O conceito de capacidade dinâmica, alinhado à visão neoschumpeteriana, é uma variante do enfoque baseado em recursos, proposta por Teece (1990). A diferença entre as duas visões consiste na ênfase que está última dá à criação de novas capacitações, em lugar da simples exploração dos recursos existentes. Nessa abordagem considera-se que o desenvolvimento de novas capacitações ocorre por meio do aprendizado social e coletivo da empresa. O processo de aprendizado gera conhecimentos que são utilizados para aprimorar as rotinas organizacionais. Outro aspecto a ser considerado no conceito de capacidade dinâmica é a importância dada a experiência passada da empresa e ao caráter local do aprendizado. O acúmulo de capacidades, decorrentes da experiência passada da empresa | 5 no uso da tecnologia é considerado uma condição necessária para seu desenvolvimento no presente e no futuro próximo. Nesse contexto, tanto o conhecimento tácito como o conhecimento codificado são importantes para permitir que a empresa desenvolva certos tipos de capacitação tecnológica. Quanto maior a especificidade desses conhecimentos, mais a empresa terá de investir internamente para desenvolvê-lo, já que dificilmente poderá obtê-lo no mercado. Os quatro enfoques devem ser vistos como complementares, e não como excludentes. Podemos perceber claramente que os dois primeiros (estrutura- conduta-desempenho, e novas teorias de organização industrial e teoria dos jogos) são baseados em análises de variáveis externas à empresa e se concentram na análise da estrutura do setor para tentar neutralizar a ação de competidores. Já os dois últimos (visão baseada em recursos e capacidades dinâmicas) enfatizam os aspectos internos à organização, ou seja, recursos e capacitações. A definição das estratégias competitivas e tecnológicas, vão exigir, portanto, do comando executivo da empresa uma articulação dos ambientes externos e internos, com ênfase na absorção de conhecimentos. Podemos acrescentar diante disso, algumas considerações quantoao desenvolvimento de uma estratégia de inovação. Uma primeira consideração refere-se ao conhecimento específico da empresa. Para o sucesso competitivo é fundamental que a empresa seja capaz de explorar o conhecimento específico interno. Uma segunda característica importante é que a estratégia corporativa deve ser a de uma estratégia de inovação, pois é esta que promoverá o acúmulo de conhecimentos específicos da empresa. Uma estratégia de inovação deve também se adequar a um cenário externo complexo e em continua mudança, com incertezas sobre desenvolvimentos tecnológicos presentes e futuros, ameaças competitivas e demandas de mercado. Por fim, deve-se considerar a existência de conflitos internos, em especial, nas áreas tecnológicas, comerciais e divisões de produtos; portanto, as estruturas e processos internos devem buscar o equilíbrio contínuo, a fim de identificar e desenvolver conhecimento especializado nessas áreas, e de | 6 explorar esse conhecimento por meio da integração delas. Feitas essas considerações sobre os conceitos de estratégia, vamos apresentar, a seguir, os tipos estratégias de inovação propostas para o presente capítulo. Para isso, iremos nos apoiar na classificação proposta por Freeman e Soete (2005), na qual, as estratégias de inovação estão divididas em seis tipos, a saber: ofensiva, defensiva, imitativa, dependente, tradicional e oportunista, conforme Figura 2. Figura 2: Estratégias de inovação Fonte: Elaborado a partir de Freeman e Soete (2005) As estratégias alternativas que as empresas podem seguir vai depender de seus recursos, de sua história, e de suas atitudes administrativas. A Tabela 1 mostra a ênfase na eficiência de várias funções científicas e técnicas internas às empresas, em cada tipo de estratégia. É importante enfatizar que estas estratégias diferem daquelas estratégias tradicionais, as quais podem ser seguidas pelas firmas que produzem uma mercadoria padrão homogênea em condições concorrenciais. Essas empresas podem concentrar toda sua capacidade e habilidade na produção eficiente a baixo custo e podem ignorar outras atividades científicas e técnicas, ou considerá-las variáveis externas à firma. Desenvolvimento Instrucional Tabela 1: Estratégias das firmas Fonte: Freeman e Soete (2005) Estratégias Funções científicas e técnicas internas às firmas Pesquisa fundamental Pesquisa aplicada Desenvolvimento experimental Engenharia de projeto Controle de qualidade da engenharia de produção Serviços técnicos Patentes Informações científicas e técnicas Educação e treinamento Previsões a longo prazo e planejamento de produtos Ofensiva 4 5 5 5 4 5 5 4 5 5 Defensiva 2 3 5 5 4 4 4 5 4 4 Imitativa 1 2 3 4 5 3 2 5 3 3 Dependente 1 1 2 3 5 2 1 3 3 2 Tradicional 1 1 1 1 5 1 1 1 1 1 Oportunista 1 1 1 1 1 2 1 5 1 5 A escala de i a 5 indica eficiências de fraca (ou não existente) até muito forte. Desenvolvimento Instrucional A estratégia tradicional, por essência, é essencialmente não-inovativa, ou, na medida em que é inovativa, ela se restringe à adoção de inovações de processo geradas em outros locais e igualmente disponíveis para todas as firmas do ramo. Vale destacar que aqui são consideradas seis estratégias alternativas, mas elas devem ser entendidas como um conjunto de possibilidades e não como formas claramente definíveis e puras. Embora algumas firmas reconhecidamente sigam uma ou outra destas estratégias, elas podem mudar de uma para outra, ou podem seguir diversas estratégias nos diferentes setores de seus negócios (Freeman e Soete, 2005). Passemos finalmente a descrição dessas estratégias. 2. Estratégias inovativas ofensivas As estratégias de inovação “ofensivas” são adotadas para alcançar uma liderança tecnológica e de mercado mediante antecipação aos concorrentes na introdução de novos produtos. A estratégia ofensiva baseia-se, fundamentalmente numa forte Pesquisa e Desenvolvimento independente. O departamento de P&D das firmas tem um papel-chave nas estratégias ofensivas. Ele deve por si mesmo gerar as informações e conhecimentos científicos e tecnológicos que não estão externamente disponíveis, bem como levar a inovação proposta ao ponto em que a produção normal do novo produto possa ser iniciada. Embora as estratégias ofensivas sejam comumente adotadas por empresas já estabelecidas e de grade porte, pequenas empresas também podem adotar estratégias ofensivas, em especial, as novas empresas de base tecnológica formada especificamente para explorar uma inovação ou ideia original. Em boa parte dos casos, esses empreendimentos são originários de incubadoras de empresas ligadas a universidades ou de spin-offs de empresas maiores. | 9 Início do verbete Spin-off é uma nova empresa que nasceu a partir de um grupo de pesquisa de uma empresa, universidade ou centro de pesquisa público ou privado, normalmente com o objetivo de explorar um novo produto ou serviço de alta tecnologia. É comum que estas se estabeleçam em incubadoras de empresas ou áreas de concentração de empresas de alta tecnologia. Fonte: Wikipédia Fim do verbete Entretanto, uma importante observação em relação ao contexto das pequenas empresas na adoção de estratégias ofensivas merece destaque. Quando uma empresa introduz uma inovação, mas não conta com os recursos necessários para desenvolvê-la adequadamente, acaba por criar espaços para concorrentes em melhores condições para ocupar o mercado criado. Os nichos não permanecem abertos para sempre e, à medida que crescem e se tornam mercados relevantes, serão fatalmente visados por empresas maiores. Empresas bem-sucedidas na criação de um mercado geralmente são obrigadas a investir de forma contínua em P&D e marketing de modo a aperfeiçoar o produto e desenvolver o mercado. Por isso, empresas inovadoras de pequeno porte bem-sucedidas costumam ser absorvidas por empresas maiores (Tigre, 2006). A firma que adota uma estratégia ofensiva será, em geral, altamente intensiva em pesquisas, já que ela normalmente dependerá de uma considerável quantidade de P&D internos. Concederá naturalmente uma importância considerável à proteção por patentes, já que busca pioneirismo e substanciais lucros de monopólio. Adotam uma visão de longo prazo e altos riscos, características estas inerentes ao tipo de inovação com elevado grau de novidade. Vale lembrar que produtos novos para o mercado requerem experiência e aprovação dos clientes, o que demanda prazos maiores de retornos. Podemos citar como exemplos de estratégias ofensivas, o desenvolvimento da televisão em preto e branco e da televisão em cores pela RCA, do nylon pela Du Pont, do PVC pela IG Farben, e dos semicondutores pela Bell. https://pt.wikipedia.org/wiki/Empresa https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade https://pt.wikipedia.org/wiki/Alta_tecnologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Alta_tecnologia https://pt.wikipedia.org/wiki/Incubadora_de_empresas | 10 A disponibilidade de economias externas sob a forma de uma infraestrutura científica e tecnológica altamente desenvolvida é fundamental para a eficiência inovativa. Embora essas economias externas sejam até certo ponto de âmbito mundial, o acesso a muitas de suas partes permanece limitado. Isso ocorre devido às barreiras culturais, educacionais, políticas, nacionais e de propriedade comercial que se criam naturalmente, bem como fatores puramente geográficos, impedem que qualquer indivíduo possa dispor desse estoque livremente. A capacidade de ter acesso a ele constitui um aspecto importante da administração da P&D e possui uma efetiva relação com o desempenho e a reputação em pesquisa. Nesse sentido, o desenvolvimentocultural, educacional e de incentivos locais, bem como a presença de centros de excelência universitários e empresas de alta tecnologia pode favorecer a adoção de estratégias ofensivas. Início do verbete Economias externas ou externalidades, refere-se à produção ou consumo de bens ou serviços sobre terceiros, que não estão diretamente envolvidos com a atividade. Ela pode ter natureza negativa, quando gera custos para os demais agentes (poluição atmosférica, de recursos hídricos, poluição sonora, sinistralidade rodoviária, congestionamento, etc.), ou natureza positiva, quando os demais agentes, involuntariamente, se beneficiam, (por exemplo, investimentos privados em infraestrutura e tecnologia, ou investigação). Fonte: Wikipédia. Fim do verbete Contudo, embora o acesso a conhecimentos científicos básicos seja essencial, as funções tecnológicas mais relevantes para as firmas que perseguem estratégias de inovação ofensivas são aquelas voltadas para os trabalhos de desenvolvimento experimental, concentrando-se tanto de um lado em engenharia de projetos como em outro, nas pesquisas aplicadas. Portanto, uma empresa que almeja ser pioneira na introdução de novos produtos ou processos terá de desenvolver grande capacidade de solução de https://pt.wikipedia.org/wiki/Polui%C3%A7%C3%A3o_atmosf%C3%A9rica https://pt.wikipedia.org/wiki/Polui%C3%A7%C3%A3o_da_%C3%A1gua https://pt.wikipedia.org/wiki/Polui%C3%A7%C3%A3o_sonora https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinistralidade_rodovi%C3%A1ria https://pt.wikipedia.org/wiki/Tarifa%C3%A7%C3%A3o_de_congestionamento | 11 problemas em projetos, bem como na construção e no teste de protótipos e em plantas-piloto. Estas áreas são responsáveis por uma parcela representativa de despesas, e, portanto, buscarão a proteção de patentes não somente para suas próprias invenções originais, mas também para diversas invenções secundárias e derivadas. A estratégia de inovação do tipo ofensiva engloba outras áreas além da P&D. Não devemos minimizar a importância do planejamento da produção, dos equipamentos, das pesquisas de mercado, da propaganda, da logística e do marketing. Todas estas atividades devem ser executadas de maneira eficiente pela firma inovativa. Portanto, as empresas inovadoras ofensivas precisam de bons cientistas, tecnólogos e técnicos para todas essas funções. Isto significa que as empresas precisam ser intensivas em educação, ou seja, devem possuir uma taxa de pessoal cientificamente treinado acima da média no seu emprego total. Vale lembrar que nos processos de aprendizagem e de capacidade tecnológica a conversão dos diferentes tipos de informações em novos conhecimentos de produtos e processos é a característica mais importante. 3. Estratégias inovativas defensivas São poucas as empresas de qualquer país que estão dispostas a adotar uma estratégia ofensiva de inovações, e quando o fazem não é de forma consistente e durante um longo período. Normalmente essas empresas, refiro- me aqui aquelas que adotam estratégias ofensivas, possuem produtos em vários estágios do ciclo de vida, sendo alguns completamente novos, outros recém-estabelecidos e até mesmo já próximos do declínio ou da obsolescência. A imensa maioria das empresas, incluindo algumas daquelas que alguma vez chegaram a ser inovadoras ofensivas, seguirão uma estratégia diferente: defensiva, imitativa, dependente, tradicional ou oportunista. Você pode estar se perguntando agora, se a adoção de uma estratégia defensiva “dispensaria” a presença de P&D na empresa. A resposta é não. A estratégia defensiva não implica uma ausência de P&D; ao contrário, a política defensiva pode ser tão intensiva em pesquisa quanto a política ofensiva. A | 12 diferença está na natureza e na velocidade das inovações. A empresa que adota uma estratégia defensiva não quer correr o risco de ser a primeira a inovar, mas também não quer ficar para trás em termos tecnológicos. Ela espera aprender com os erros das empresas inovadoras pioneiras e usufruir da abertura de um novo mercado para oferecer soluções mais seguras e consistentes. Ocorre que em muitos casos em que a empresa defensiva pode não ter a capacidade necessária para os tipos de inovação mais originais e, particularmente, carecer de relações com pesquisas fundamentais, ou tem uma marca conhecida no mercado e conta com boa capacitação em áreas complementares, como produção, marketing e distribuição, e aproveita essas vantagens para superar os inovadores ofensivos. Essa situação mostra a importância de desenvolver outras áreas da empresa além da Pesquisa e Desenvolvimento. O objetivo de uma estratégia defensiva não se limita a apenas ser uma seguidora, mas ir além, ou seja, superá-los. Para isso, é necessário investir em capacitação técnica própria (Tigre, 2006). Uma estratégia defensiva pode algumas vezes ser involuntária, na medida em que um candidato a inovador ofensivo venha a ser ultrapassado por um competidor ofensivo mais bem-sucedido. Diversas pesquisas têm mostrado que, em empresas líderes, a maior parte da P&D industrial é de natureza defensiva ou imitativa, principalmente voltada para melhorias incrementais, modificações de produtos e processos já existentes, ou serviços técnicos e outros trabalhos com curtos horizontes de tempo. A P&D defensiva é predominante na maioria dos mercados oligopolistas, e está associada à diferenciação de produtos. Para os oligopolistas, a P&D defensiva é uma forma de seguro, permitindo à empresa reagir e adaptar-se às mudanças técnicas introduzidas pelas concorrentes. Já que as inovadoras defensivas não desejam ser deixadas para trás, elas precisam ser capazes de se mover rapidamente após decidirem que o momento é oportuno. Se elas desejam obter ou manter uma parcela significativa do mercado, precisam fazer projetos de modelos pelo menos tão bons quanto os das primeiras inovadoras e, preferivelmente, incorporando | 13 alguns avanços técnicos que diferenciem seus produtos, mas a um custo menor. Percebemos então que o desenvolvimento experimental e os projetos são tão importantes para as empresas inovadoras defensivas quanto para as inovadoras ofensivas. Empresas fabricantes de computadores que continuaram a oferecer projetos de válvulas muito depois da introdução dos semicondutores não conseguiram sobreviver. A empresa inovadora defensiva precisa ser capaz de, pelo menos, alcançar ou então ultrapassar o nível estabelecido. Isto significa que, em indústrias como as de semicondutores e de softwares, todos os inovadores precisam ser extremamente ágeis, já que a vida de cada nova geração de componentes e produtos é muito curta. Início do Box explicativo Num interessante estudo do mercado de computadores assinalou que a IBM tem seguido principalmente uma estratégia de inovações defensivas, embora com alguns elementos ofensivos, enquanto a Sperry Rand (Univac) adotou uma estratégia ofensiva mais consistente e a Honeywell, uma estratégia imitativa. Uma vez que a IBM gastou muito mais em P&D que a Sperry Rand em termos absolutos, isso ilustra o argumento de que a firma inovadora defensiva pode chegar a comprometer recursos científicos e técnicos maiores que a inovadora ofensiva. Uma certa dose de flexibilidade pode ser necessária para abranger muitas outras novas possibilidades e para se ter a necessária capacidade de mover-se muito rapidamente, para alcançar os avanços técnicos primeiramente introduzidos por concorrentes. Entretanto, mesmo com elevadas despesas de P&D, uma estratégia exclusivamente defensiva pode tornar uma firma ultrapassada por concorrentes mais ágeis. O caso clássico de uma firma intensiva em P&D sendo deixada nessa situação foi o desenvolvimento tardio dos computadores pessoais da IBM. No final das contas, ela teve de fazer isso usando componentes de fontes externas e uma equipe de P&D que permaneceufora das suas principais estruturas de pesquisa (Adaptado de Freeman e Soete, 2005). Fim do Box explicativo | 14 Quanto às patentes vale a pena aqui fazer uma consideração importante. Enquanto que para as empresas inovadoras ofensivas, as patentes buscam uma proteção de uma liderança técnica e de retenção de uma posição de monopólio, para as empresas inovadoras defensivas, as patentes funcionam como um balcão de negociações para enfraquecer esse monopólio. As empresas inovadoras defensivas são, tal como as inovadoras ofensivas, intensivas em conhecimentos e empregam uma elevada proporção de pessoal científico e técnico. Seus serviços de informação científica e técnica serão particularmente importantes, assim como a velocidade na tomada de decisões, uma vez que a sobrevivência e o crescimento delas dependerão de forma considerável dessa velocidade. As empresas inovadoras defensivas podem esperar até perceberem como os mercados irão se desenvolver e ver quais os erros que os pioneiros fizeram, mas elas não podem ousar esperar por muito tempo, pois podem perder a vez completamente ou ser deixadas em uma posição de completa dependência. Por fim, vale a pena destacar o papel do Estado evolução e a adoção dos tipos das estratégias inovativas. Tomamos como exemplo as pesquisas sobre as estratégias inovativas das firmas do Leste Asiático. Tais empresas apresentaram uma evolução similar em suas estratégias, desde a dependência, a imitação e os projetos conjuntos com firmas estrangeiras, até inovações crescentemente independentes. As políticas nacionais têm ativeram um papel-chave nisso. As políticas tecnológicas desse tipo envolvem uma mudança gradativa na combinação de sistemas científicos e tecnológicos rumo a uma combinação mais intensiva em P&D. A mudança de adaptativa para uma crescente originalidade pode requerer um longo período de tempo, durante o qual a maior parte das empresas segue uma estratégia dependente ou imitativa, ao mesmo tempo que, vagarosamente, vão fortalecendo seus recursos técnicos com base em políticas nacionais de longo prazo cuidadosamente concebidas, envolvendo a proteção das tecnologias recém-criadas, bem como a acumulação de uma ampla variedade de sistemas científicos e tecnológicos apoiados pelo governo (Freeman e Sopete, 2005). | 15 Os principais elementos desta estratégia nacional irão variar conforme o tamanho, a amplitude de recursos e a experiência histórica de cada país. Em muitos países em desenvolvimento, como o Brasil, são de importância crítica os serviços de informação técnica e científica; as organizações de levantamentos setoriais; os institutos de padronização; as organizações de assistência técnica; e as entidades de consultoria de engenharia de projetos. Eles podem oferecer a infraestrutura essencial de ciência e tecnologia que permite aos sistemas científicos e tecnológicos funcionarem efetivamente em âmbito empresarial, a despeito das inevitáveis limitações de pessoal científico e técnico habilitado. No entanto, somente umas poucas empresas irão tornar-se gradualmente capazes de desenvolver primeiro uma capacidade inovativa adaptativa e, mais tarde, uma capacidade inovativa original. Contudo, mesmo nos EUA a grande maioria das empresas é tradicional, dependente ou imitativa em suas estratégias. As firmas que adotaram estratégias de inovação ofensiva ou defensiva têm aprendido gradualmente como inovar. Mas não existe uma receita capaz de assegurar o sucesso, e intensas controvérsias continuam a envolver seus principais elementos. 4. Estratégias imitativas Vimos que as empresas inovadoras defensivas, normalmente, não buscam produzir cópias imitativas dos produtos introduzidos pelas primeiras inovadoras. Diferentemente, elas esperam tirar vantagem dos erros iniciais destas para melhorar seus projetos e, por isso, precisam ter a força técnica necessária para fazê-lo; em outros termos, procuram diferenciar seus produtos por meio de melhorias técnicas menores. Ao invés de optarem por uma licença, elas vão tentar competir por meio do estabelecimento de uma posição de patentes independentes. O licenciamento pode ser entendido como um mecanismo para se fazer algo melhor; entretanto, as despesas relacionadas à aquisição de know-how e de licenças de outras empresas (ofensivas e defensivas) podem exceder a receita | 16 derivada do licenciamento; e no caso das empresas imitativas, elas sempre irão exceder. As empresas imitativas se contentam em acompanhar as líderes das tecnologias estabelecidas. O grau dessa diferença pode variar dependendo das circunstâncias específicas do setor, do país e da empresa. Se a defasagem for grande, poderá ser desnecessário obter uma licença, mas pode ser útil adquirir algum know-how. Se a diferença for pequena, o licenciamento formal e deliberado e a aquisição de know-how poderão ser necessários. A firma imitativa pode obter patentes secundárias, mas estas serão um subproduto de suas atividades em vez de constituírem parte central de sua estratégia. Da mesma maneira, as empresas imitativas podem oferecer serviços técnicos e treinamento, mas não serão muito importantes quanto para as firmas inovativas, já que as empresas imitadoras irão basear-se nos trabalhos pioneiros de terceiros. Uma exceção a isso pode ser observada em uma área completamente nova, como por exemplo em um país em desenvolvimento, quando nem importações nem a subsidiária de alguma empresa inovadora chegaram a abrir o mercado. Nestes casos, a empresa imitadora pode aspirar a tornar-se uma inovadora defensivo, especialmente em economias em rápido crescimento. Isto poderá envolver uma melhoria da situação dos serviços técnicos e científicos e o fortalecimento ou o início das atividades de P&D no país. Frequentemente tais atividades levam a empreendimentos conjuntos ou acordos de cooperação com empresas estrangeiras ou locais. Para uma empresa imitadora poder competir em um mercado com firmas inovativas já estabelecidas, elas vão precisar desfrutar de determinadas vantagens. Tais vantagens podem variar desde a posse de algum mercado cativo até decisivas vantagens de custo. Em relação ao mercado cativo, queremos dizer que, normalmente, as empresas que adotam a estratégia imitativa fazem uso de uma importante vantagem por deterem um nicho de mercado, com clientes fiéis a uma | 17 determinada marca ou tipo de serviço. Para ilustrar citemos, por exemplo, um grande usuário de borracha sintética, tal como uma empresa fabricante de pneus, pode decidir iniciar sua produção por conta própria, ao invés de operar através de outro fabricante. Isso facilita e inclina as empresas a explorarem mercados a partir deste tipo de estratégia. Quanto às vantagens de custo, as empresas imitadoras podem desfrutar de vantagens decorrentes de mais baixos custos de mão-de-obra, de investimento em instalações, de fornecimento de energia ou de insumos materiais. Por fim, as empresas imitadoras podem desfrutar de vantagens em eficiência administrativa e em custos indiretos muito mais baixos, derivados do fato de que não precisam fazer grandes gastos em P&D, patentes, treinamento e serviços técnicos, que tanto pesam nas firmas inovativas. Em síntese, a estratégia imitativa é mais comumente adotada em países em desenvolvimento, como o Brasil, especialmente em mercados em que as empresas inovadoras não atuam diretamente. Quando a tecnologia já está difundida, é possível obtê-la a custos relativamente baixos junto a consultores especializados, com a contratação de técnicos com experiência em empresas concorrentes, ou pelo acesso à informação técnica publicada ou através de patentes vencidas. No entanto, apesar da facilidade ao acesso, para realizar a imitação de forma independente, a empresa precisa contar com certo nível de capacitação técnica,ou seja, conforme já visto, é preciso, mesmo para as estratégias imitativas, que as empresas se engajem em processos contínuos de aprendizagem para o acúmulo de capacidade tecnológica. Vale lembrar que a estratégia imitativa, em inúmeros casos, é a única opção para a sobrevivência das empresas, já que elas não possuem capacidade para desenvolver tecnologias próprias. A grande desvantagem que as estratégias de imitação apresenta é em relação às baixas margens de lucro, já que os produtos sem diferenciação atuam com preços estabelecidos pelo mercado. Diante da intensificação da concorrência, a busca pela redução de custos pode levar o setor à informalidade ou a se mudar para regiões mais pobres, onde os custos salariais são menores. | 18 Início Box Explicativo Estratégias imitativas na indústria de calçados Poucas empresas no setor calçadista mantêm atividades rotineiras de P&D, já que a maioria é de pequeno porte e não conta com recursos financeiros e capacitação tecnológica para desenvolver novos produtos. A inovação no setor calçadista se apoia principalmente nas mudanças no design e no uso de novos materiais sintéticos, visando a oferecer maior conforto e qualidade. Os lançamentos bem-sucedidos são invariavelmente imitados por empresas menores a preços muito inferiores aos dos produtos originais. Empresas imitadoras sem capacitação tecnológica própria dificilmente conseguem fazer uma boa cópia de um calçado inovador de qualidade. A estratégia competitiva se apoia na fabricação de baixo custo de um produto que, embora pareça com o original, utiliza materiais menos nobres e frequentemente menos apropriados para o uso proposto. Por exemplo, fabricantes mais inovadores vêm introduzindo o polímero ABS (Acrilonitrila Butadieno Estireno) na estrutura dos saltos de sapatos, de forma a conferir flexibilidade e estabilidade. Os imitadores, por sua vez, utilizam um tipo de poliestireno considerado "pura sucata" para obter um aspecto visual semelhante a um custo muito inferior. Tais produtos são orientados para consumidores que, apesar de disporem de menor renda, valorizam o design. Fonte: Tigre (2006). 5. Estratégias dependentes Uma estratégia dependente envolve a aceitação de um papel subordinado com relação a outras empresas mais fortes. A empresa dependente não tem por objetivo iniciar ou mesmo imitar as mudanças técnicas em seus produtos ou processos, exceto em casos onde haja alguma demanda específica de seus clientes ou da sua matriz. Ela normalmente atribuirá a seus clientes o fornecimento das especificações técnicas para novos produtos e as recomendações técnicas para sua introdução. A maior parte das grandes empresas de países industrializados conta com várias firmas-satélites a seu | 19 redor, fornecendo componentes, ou produzindo e usinando sob contrato, ou fornecendo-lhes uma variedade de serviços. A firma dependente é frequentemente uma subcontratada ou até mesmo uma “subsubcontratada”. Normalmente, ela deixa de ter qualquer iniciativa no projeto do produto e não possui serviços de P&D. As empresas que se encontram nessa categoria são as de pequeno porte, pertencentes a setores intensivos em capital, e são responsáveis por muito pouco, em termos de inovação. Contudo, as pequenas empresas dependentes subcontratadas também, a partir desta estratégia, podem atualizar suas tecnologias e, em alguns casos, seus principais clientes podem auxiliá-las a fazê-lo. Pequenas empresas de base tecnológica, com frequência, tornam-se inovadoras ofensivas em nichos de mercado muito especializados; E além disso, as pequenas empresas subcontratadas podem, igualmente, passar de um status ou condição de dependente para um patamar de firmas inovativas devido à atualização de seus conhecimentos especializados num campo específico. Elas também podem reduzir sua dependência por uma ampliação de suas redes de clientes, após terem fortalecido sua própria competência inovativa. Para facilitar mais nossa compreensão, vamos agora apresentar alguns tipos de modelos de negócios que se aderem às estratégias tecnológicas dependentes, conforme Tigre (2006). No primeiro, podemos referir as empresas que fabricam produtos para serem comercializados sob a marca de terceiros. Nesse caso, o produto é especificado pelo comprador. A dependência comercial, nessa situação, pode levar também a outro tipo de dependência, a tecnológica. Apesar do baixo risco de acesso ao mercado, esta estratégia reduz as margens de lucro, pois o fornecedor estará sempre em concorrência direta com outros fornecedores da rede em todo o mundo. Outro tipo de estratégia dependente é bastante conhecida, e opera sob o regime de franquias. O franqueado recebe prontos o projeto da loja, os processos de vendas, a formulação dos produtos e o treinamento necessário para realizar as operações de forma padronizada. Neste caso, não é possível, | 20 por exigências contratuais, realizar mudanças que possam descaracterizar sua filiação à rede de negócios. Para empresas de pequeno porte, a franquia é uma opção bastante aderente, pois é uma forma de reduzir os riscos do empreendimento e superar a falta de capacitação ou experiência em um determinado segmento de negócios. Um terceiro tipo de estratégia dependente é adotado por subsidiárias de outras empresas que mantêm controle centralizado sobre as atividades de P&D. Nestes casos, as filiais geralmente realizam mudanças técnicas em sua linha de produtos, exceto quando orientadas por suas respectivas matrizes. As áreas de engenharia geralmente se dedicam a traduzir, interpretar e detalhar os desenhos e informações técnicas recebidas do exterior. Quando são pressionadas a adaptar os produtos ao mercado local por exigências dos consumidores ou a mudar o processo para se adequar às menores escalas de produção, a subsidiária busca assistência técnica na matriz. Mais recentemente, tem-se visto várias empresas multinacionais descentralizando as atividades de P&D, e permitindo, assim, maior autonomia às suas subsidiárias no desenvolvimento tecnológico. Entretanto, o controle de tais operações é mantido na matriz, o que não descaracteriza a estratégia dependente. Por fim, um quarto tipo de estratégia dependente é adotado por empresas que adquirem tecnologia de terceiros sem um esforço próprio de capacitação. Por meio de licenças, pode-se obter acesso a uma tecnologia de produto ou processo ou utilizar marcas sem necessariamente ter de desenvolver esforços tecnológicos correspondentes. A estratégia de licenciamento, entretanto, apresenta alguns riscos e limitações. Uma restrição típica é a proibição de exportações, limitando a licença ao país ou a determinada região. Os acordos de licenciamento também podem restringir a introdução de modificações técnicas sem a prévia autorização do licenciador, proibir a fabricação ou a venda de produtos concorrentes, fatos que dificultam o processo de aprendizado. Há também o risco de o licenciador suspender o contrato, caso o mercado cresça e se torne atrativo suficiente para que ele estabeleça uma subsidiária própria. | 21 6. Estratégias tradicional e oportunista As firmas “tradicionais” diferem das “dependentes” quanto à natureza de seus produtos. Os produtos fornecidos pelas firmas tradicionais sofrem pouca modificação, se é que mudam, seja porque o mercado não demanda mudanças ou porque a concorrência também não inova. Já os produtos fornecidos pelas firmas dependentes podem mudar bastante, mas sempre em resposta a iniciativas e especificações externas. As firmas tradicionais não veem razões para mudar seus produtos porque o mercado não exige tais mudanças e a concorrência não as forçam a fazê-lo. Tanto as empresas dependentes quanto as tradicionais carecem de capacidade científica e técnica para iniciar mudanças de produto de maior alcance,mas as firmas tradicionais podem ser capazes de lidar com mudanças de projetos, essencialmente derivadas de modas, mais que de técnicas. As firmas tradicionais podem atuar sob severas condições competitivas, aproximando-se do modelo de concorrência perfeita, ou podem funcionar como monopólios locais parciais devido a fracas comunicações e à falta de uma economia de mercado desenvolvida. A tecnologia delas frequentemente se baseia em habilidades técnicas de seu pessoal, e os insumos científicos que utilizam tendem a ser mínimos ou inexistentes. Início do verbete Concorrência perfeita descreve mercados em que nenhum participante tem tamanho suficiente para ter o poder de mercado para definir o preço de um produto homogêneo. Dado que as condições para a concorrência perfeita serem restritas, existem muito poucos mercados assim. A competição perfeita pode servir como ponto de referência para avaliar mercados de concorrência imperfeita no mundo real. Fonte: Wikipédia Fim do verbete Com frequência, a demanda dos produtos de firmas tradicionais pode ser muito forte, mas muito limitadas, devido a habilidades tradicionais. Tais firmas podem | 22 ter uma boa capacidade de sobrevivência, mesmo em economias capitalistas altamente industrializadas. Por exemplo, a indústria de refrigerantes populares, conhecidos como tubaínas, praticamente não muda seus produtos e processos de produção Tigre (2006). A demanda é relativamente grande, mas em muitos ramos industriais essas empresas tradicionais se mostram vulneráveis a mudanças técnicas do ambiente externo. Incapazes de iniciarem mudanças técnicas em suas linhas de produtos, ou uma resposta defensiva às mudanças técnicas introduzidas por outras firmas, elas podem gradualmente ser eliminadas. O último tipo de estratégia de inovação, a oportunista ou de nicho, está associada à exploração de nichos de mercado ou oportunidades temporárias. A estratégia oportunista é frequentemente adotada em situações especiais que abrem janelas de oportunidades. A crise energética vivenciada pelo Brasil no início do novo milênio, por exemplo, fez surgir novos fornecedores de material elétrico poupador de energia, como lâmpadas de baixo consumo e luminárias com sensores da presença humana. Chegar rapidamente no mercado constitui o atributo essencial dessa estratégia (Tigre, 2006). Sempre existe a possibilidade de empreendedores identificarem alguma nova oportunidade em mercados de rápida transformação que não exija grandes investimentos em P&D ou projetos complexos. Algumas empresas conseguem prosperar encontrando um nicho de mercado que ninguém havia percebido antes. O empreendedorismo criativo continua sendo um recurso capaz de encontrar constantemente novas oportunidades, que podem ter pouca relação com qualquer P&D, mesmo nos ramos mais intensivos em pesquisa. Todos os tipos de estratégias de inovação apresentadas acima não são de livre escolha, estão fortemente associadas às capacidades tecnológicas da empresa, aos recursos financeiros disponíveis e às condições de mercado. Na próxima seção, trataremos com mais detalhes dessas questões. | 23 7. Integração entre estratégias de inovação e capacidade tecnológica As diferentes estratégias mostradas nas seções anteriores estão relacionadas a outras variáveis que são internas e externas à empresa. A escolha da estratégia a ser adotada pela empresa vai depender, dentre outros fatores, de sua capacidade tecnológica acumulada. Imaginar que a superioridade de um produto da empresa, por si só, possa ser capaz de abrir novos mercados pode levar a um grande equívoco na adoção de uma determinada estratégia. É preciso entender que um bom produto é apenas uma das variáveis a serem consideradas na formulação de uma estratégia competitiva. Lembremos que a escolha de uma estratégia tecnológica deve estar alinhada à estratégia do negócio e subordinadas às suas competências desenvolvidas ao longo de sua existência. As áreas de competências de uma empresa podem ser genericamente agrupadas em quatro funções básicas: desenvolvimento, produção, marketing e gestão (Tigre, 2006). Cada empresa possui maiores ou menores competências em cada uma destas funções, e a estratégia adotada enfatizará, de maneira particular, aspectos dessas funções. a) Desenvolvimento A função desenvolvimento engloba esforços tecnológicos realizados pela empresa por meio de diversos mecanismos de geração e aquisição de informação e conhecimento. Fazem parte desses mecanismos as atividades de P&D; aquisição de tecnologia por meio de patentes; obtenção de licenças de fabricação e contratos de assistência técnica; acesso a informações codificadas; ações conjuntas com outras empresas; e aprendizagem interna contínua. b) Produção A função produção refere-se ao conjunto de recursos utilizados para as atividades de manufatura. São incluídos os equipamentos, instalações, métodos de organização da produção e de controle de qualidade. As tecnologias de produção podem ser obtidas através da compra de tecnologia embutida em bens de capital e insumos, todavia, a adaptação ao contexto interno vai exigir da empresa um esforço tecnológico próprio. | 24 c) Marketing A função marketing representa o elo da empresa com o mercado. Inclui atividades de vendas, promoção, publicidade e serviços pós-venda. Presta serviços de assistência técnica e atendimento ao cliente. d) Gestão A função gestão inclui tarefas administrativas típicas da atividade empresarial, como o planejamento estratégico, o suporte para a tomada de decisão, a administração financeira e a gestão de recursos humanos. No âmbito da inovação, a tecnologia passa por todas essas funções e afeta a produtividade e a competitividade. As capacidades tecnológicas devem estar em constante mudança, devem incorporar novos conhecimentos. Para isso, são necessários esforços de treinamento, aprendizado dinâmico, acesso a informações, e cooperação com oura empresas e agentes econômicos. A intensidade desses esforços vai depender das escolhas feitas em função de suas estratégias competitivas. A estratégia de inovação de uma empresa vai precisar de ajustes ao longo do tempo, pois a mesma é influenciada por vários fatores, que são internos e externos a ela. Posto isto, vamos apresentar agora os principais fatores (internos e externos à empresa), que afetam a escolha da melhor estratégia de inovação (Figura 3). Fatores internos Fatores externos • Condições técnicas • Capacidades organizacionais • Sucesso do atual modelo de negócios • Financiamento • Visão do comando executivo • Capacidades presentes na rede externa • Estrutura da indústria • Concorrentes • Índice de mudança tecnológica Figura 3: Fatores internos e externos que afetam na escolha de uma estratégia de inovação Fonte: Adaptado de Davila et al, 2009 | 25 a. Fatores internos Entre os fatores internos podemos destacar: • Condições técnicas. A quantidade de inovação tecnológica depende em grande parte das condições que a empresa tem internamente ou às quais pode ter acesso por meio de sua rede de inovação. A empresa que sempre compete à base de suas capacidades de marketing e de melhorias tecnológicas incrementais certamente terá dificuldades se optar por acrescentar repentinamente uma dimensão tecnológica radical a sua estratégia. • Condições organizacionais. Estão relacionadas à capacidade de cultivar inovação. Avançar para uma abordagem mais radical de inovação será algo impossível quando não existirem as condições organizacionais e gerenciais para tanto indispensáveis. • Sucesso do atual modelo de negócios. Empresas bem-sucedidas enfrentam dificuldades ao optar pela mudança. Quanto maior o sucesso, tanto maior será a resistência potencial à mudança. • Financiamento. Contar com os recursos econômicos adequados a dimensãodo projeto é uma necessidade, embora às vezes esquecida. Há ainda o fato de que o excesso de recursos pode representar um risco tão perigoso quanto sua escassez. Uma disponibilidade de recursos menos generosa incentiva as equipes de inovação a planejar e testar com o máximo cuidado os pressupostos de um novo modelo, antes de passarem a depender dele. • Visão da alta administração. A administração sempre conta com um amplo leque de opções para situar a empresa, e o talento gerencial desempenha papel extremamente relevante na seleção e evolução da estratégia de inovação da empresa. | 26 b. Fatores externos Entre os fatores externos podemos destacar: • Capacidades na rede externa. O desenvolvimento de novas tecnologias ou modelos de negócios normalmente requer colaboração com outras organizações dotadas de recursos de complementação; para tanto é preciso contar com uma rede capacitada a atingir tanto o interior quanto o ambiente dessa empresa. A capacidade de criar alianças sustentáveis com esses parceiros torna-se importante para decidir se a estratégia de inovação deve ser mesmo implementada. • Estrutura da indústria. A própria indústria em que se atua é um fator relevante. Uma análise dessa estrutura poderá indicar onde situam-se os maiores obstáculos e oportunidades em matéria de inovação. Entender qual a cadeia de valores dominante na indústria, quem a domina, e o porquê desse domínio, e a estrutura das barreiras ao ingresso são importantes contribuições ao desenho de uma estratégia de inovação. • Concorrência. A qualidade e a rapidez da inovação entre os concorrentes, bem como das próprias inovações, determinarão o formato do mercado nos próximos anos. Mesmo que a organização esteja bem situada no mercado atual, os concorrentes podem mudar, outros podem ingressar na concorrência, especialmente em caso de mudança drástica na dinâmica competitiva. Perguntas de grande valia neste caso incluem: as estratégias dos concorrentes significam alguma abertura para a adoção de uma estratégia? A abordagem dos concorrentes acaba tornando relativamente atraente a estratégia escolhida? Não havendo um líder realmente destacado em inovação na área, abrem-se possibilidades para que um grupo de fora entre na concorrência e inclusive passe a determinar novas regras? • Índice de mudança tecnológica. À medida que o mundo avança em matéria de tecnologia, a vida de um produto torna-se cada vez mais reduzida. Quando novos lançamentos começam a superar seu produto, toma-se da maior importância identificar a mudança antes que esse produto se mostre inteiramente ultrapassado. Por exemplo, a Panasonic constatou | 27 que seus tradicionais produtos analógicos eram suscetíveis à substituição por uma ampla classe de tecnologias digitais com as quais a empresa não tinha compatibilidade. Por isso, a Panasonic estabeleceu, no ano 2000, uma incubadora no Vale do Silício, na Califórnia, a fim de incrementar a curva do aprendizado com maior rapidez e assim ganhar acesso às tecnologias digitais emergentes. A atualização e o aperfeiçoamento da estratégia de inovação requer o tratamento desses elementos. Entretanto, é importante destacar que não existem fórmulas capazes de gerar a melhor tecnologia; cada empresa é única e difere das outras, mesmo que compartilhem do mesmo ambiente. Em outras palavras, aquilo que para uma determinada empresa companhia parece ameaçador, pode perfeitamente representar para outra empresa, concorrente do mesmo setor, uma grande oportunidade. Enfim, foi possível perceber que as estratégias de inovação precisam estar, dentre outros, harmonizadas com as capacidades tecnológicas acumulada pela empresa. Mas o sucesso de uma estratégia não vai depender exclusivamente dessas capacitações, é preciso também levar em conta fatores exógenos à empresa, ou seja, da análise do ambiente setorial, nacional e internacional, e de como as mudanças nesse ambiente afetam as ameaças e oportunidades com que a empresa vai se deparar. Atividades 1. Descreva resumidamente os diferentes tipos de estratégias de inovação adotadas pelas empresas. 2. Quais as principais diferenças entre a estratégia inovativa ofensiva e defensiva? 3. Por que no Brasil, as empresas em sua maioria adotam estratégias imitativas? 4. Quais as vantagens e desvantagens da adoção de uma estratégia tradicional? | 28 5. A empresa pode escolher a estratégia que quiser deliberadamente? Justifique sua resposta. 6. Que fatores internos e externos à empresa devem ser considerados para uma escolha adequada da estratégia de inovação? 7. Explique a importância da capacitação tecnológica para a escolha da estratégia de inovação. Conclusão Podemos concluir nesta aula, que as estratégias de inovação são particulares a cada empresa e que não existe um modelo genérico que se adapte a qualquer empresa independentemente de seu porte e mercado de atuação. As estratégias devem levar em conta questões que vão além de sua própria capacidade de desenvolvimento, embora esse fator seja considerado crucial para seu sucesso. Para países como o Brasil, estratégias de inovação ofensivas são raras, mas devem ser estimuladas, pois o resultado dessas inovações, além de gerarem alto valor agregado, servem de mecanismos de difusão tecnológica interna no país. As estratégias imitativas, apesar de mais acessíveis, também se encontram num patamar de baixa competitividade. O grande desafio recai novamente no apoio aos esforços de aprendizagem tecnológica para o acúmulo de capacidades, sem o qual, levarão as empresas brasileiras, cada vez mais, a competirem por meio de estratégias tradicionais e oportunistas. Resumo Nessa aula aprendemos que estratégia tecnológica é parte de uma estratégia maior geral, que leva uma empresa à competividade. Tivemos a oportunidade de apresentar seis diferentes tipos de estratégias tecnológicas possíveis de serem implantadas em diferentes contextos. Pudemos também verificar que nem sempre a escolha de uma estratégia é deliberada ou livre, já que a empresa atua em ambientes de grandes restrições internas e externas, que como consequência influenciam suas escolhas. Em outras palavras, a combinação das oportunidades e dificuldades internas e externas constitui o | 29 elemento essencial para uma estratégia de sucesso. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, a maioria das empresas operam por meio de estratégias dependentes, imitativas e tradicionais, na medida em os recursos técnicos e econômicos para inovar de forma mais agressiva são escassos, e por vezes inexistentes. Mostramos também a importância e a integração das estratégias de inovação com a capacitação tecnológica. Nesse contexto apresentamos as principais áreas de competências de uma empresa, agrupadas em funções organizacionais básicas que influenciam no processo de acumulo de capacidade tecnológica. Por fim, apresentamos um conjunto de fatores internos e externos às empresas que afetam na escolha de uma estratégia de inovação. Próxima aula Na próxima aula vamos falar sobre sistema de inovação. Vamos aprender que o sucesso das empresas não depende exclusivamente de seu esforço em pesquisa e desenvolvimento e de outras atividades de gestão; vai depender de uma infraestrutura que compreende um conjunto de recursos (local, regional e nacional), que são condicionantes para promover a inovação. Leitura recomendada HAMEL, G.; PRAHALAD, C. K. Competing for the Future. Harvard Business Press, 1996. PROENÇA, A. et al. Gestão da inovação e competitividade no Brasil: da teoria para a prática. Bookman Editora, 2015. TIDD J, BESSANT J, PAVITT K. Gestão da Inovação. Porto Alegre: Bookman, 2008. CHRISTENSEN, Clayton M. O dilema da inovação. São Paulo: Makron Books, 2011. | 30 Referências Bibliográficas CONWAY, S.; STEWARD, F. Managingand shaping innovation. Oxford University Press, 2009. DAVILA, T.; EPSTEIN, M.J.; SHELTON, R. As regras da inovação. Bookman, 2009. DE NEGRI, J.A; SALERNO, M.S., (Orgs.). Inovação, padrões tecnológicos e desempenho das firmas industriais brasileiras. Brasília, Ipea, 2005. FIGUEIREDO, P.N. Gestão da inovação: conceitos, métricas e experiências de empresas no Brasil. Rio de Janeiro, LTC, 2015. FREEMAN, C.; SOETE, L. A economia da inovação industrial. Editora da UNICAMP, 2008. SARKAR, Soumodip. Empreendedorismo e inovação. Escolar Editora, 2014. TEECE, D. Firm capabilities, resources and the concept of strategy. Economic analysis and policy, 1990. TROTT, P. Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Novos Produtos. 4. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.
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