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Prof. Dr. Paulo Henrique R. Martins Microbiota Humana Brasília - 2021 Interações dos microrganismos com o homem ⚫ O corpo humano hospeda uma vasta população de microrganismos, incluindo grandes populações de bactérias e fungos, na pele e nas membranas mucosas que revestem a cavidade oral, as vísceras e os sistemas excretor e reprodutor. ⚫ O corpo humano é composto por cerca de 1013 células, porém aproximadamente dez vezes mais desses microrganismos vivem sobre ou dentro do nosso corpo de forma benéfica, sendo inclusive necessários para a manutenção de uma boa saúde. Interações normais entre homem e microrganismos ⚫ Em suas atividades diárias normais, o corpo humano está exposto a inúmeros microrganismos presentes no ambiente. ⚫ Além disso, centenas de espécies e incontáveis células microbianas individuais, coletivamente referidas como a MICROBIOTA NORMAL, crescem sobre ou no interior do corpo humano. ⚫ Este é o microbioma humano, a soma total de todos os microrganismos que vivem sobre ou no interior do corpo humano. Interações benéficas entre o homem e os microrganismos ⚫ A microbiota normal desenvolveu uma relação simbiótica com seu hospedeiro mamífero. ⚫ A microbiota contribui para a saúde e o bem-estar do hospedeiro por meio da geração de produtos microbianos e inibindo o crescimento de microrganismos perigosos. ⚫ Em contrapartida, o hospedeiro disponibiliza diversos microambientes que permitem o crescimento microbiano. A microbiota normal é, inicialmente, introduzida a seu hospedeiro durante o nascimento. Interações benéficas entre o homem e os microrganismos Interações benéficas entre o homem e os microrganismos ⚫ Colonização – Os mamíferos, quando no útero, desenvolvem-se em um ambiente estéril, sem qualquer exposição a microrganismos. – A colonização, o crescimento de um microrganismo após o acesso aos tecidos hospedeiros, inicia-se à medida que os animais são expostos aos microrganismos a partir do nascimento. – As superfícies da pele são prontamente colonizadas por várias espécies. – A cavidade oral e o trato gastrintestinal adquirem microrganismos por meio da alimentação e exposição ao corpo materno que, juntamente com outras fontes ambientais, iniciam a colonização da pele, da cavidade oral, dos tratos respiratório superior e gastrintestinal Interações benéficas entre o homem e os microrganismos ⚫ Colonização – Os hospedeiros mamíferos são ricos em nutrientes orgânicos e fatores de crescimento requeridos por bactérias, fornecendo condições controladas de pH, pressão osmótica e temperatura que são favoráveis ao crescimento de microrganismos. – Cada região do corpo como a pele, o trato respiratório e o trato gastrintestinal difere química e fisicamente umas das outras, sendo um ambiente seletivo, onde o crescimento de determinados microrganismos é favorecido ou não. Interações benéficas entre o homem e os microrganismos ⚫ Colonização – Cada um desses diferentes ambientes suporta o crescimento de uma microbiota diversificada e regionalmente única. Por exemplo: – O ambiente relativamente seco da pele favorece o crescimento de espécies resistentes à desidratação, tais como estreptococos e estafilococos gram positivos; – Enquanto o ambiente anóxico do intestino grosso suporta o crescimento de bactérias anaeróbias obrigatórias como Bacteroides. Microbiota da pele ⚫ Um ser humano adulto normal apresenta cerca de 2m2 de pele, que varia acentuadamente quanto à composição química e ao teor de umidade. ⚫ Um microambiente distinto inclui áreas úmidas da pele, tais como o interior da narina, a axila e o umbigo. ⚫ A pele úmida é separada por apenas alguns centímetros de microambientes secos, como os antebraços e as palmas das mãos. Microbiota da pele ⚫ Um terceiro microambiente consiste em áreas com altas concentrações de glândulas sebáceas que produzem uma substância oleosa chamada sebo. ⚫ Áreas sebáceas são aquelas ao lado do nariz, a parte de trás do couro cabeludo, parte superior do tórax e costas. ⚫ A microbiota da pele vem sendo estudada por métodos de ecologia molecular que empregam sequenciamento gênico comparativo do RNAr. Microbiota da pele ⚫ Em um estudo, 19 filos de Bacteria diferentes foram detectados, porém quatro filos predominaram: Actinobacteria, Firmicutes, Proteobacteria e Bacteroidetes. ⚫ Mais de 200 gêneros diferentes foram identificados, porém os membros de três gêneros, Corynebacterium (Actinobacteria), Propionibacterium (Actinobacteria) e Staphylococcus (Firmicutes), compreenderam mais de 60% das sequências Microbiota da pele Microbiota da pele ⚫ Cada microambiente apresentou uma microbiota única. ⚫ Locais úmidos foram dominados pelas corinebactérias e pelos estafilococos, enquanto locais mais secos apresentaram uma população mista dominada por Betaproteobacteria, Corynebacterium e Flavobacteriales. ⚫ Áreas sebáceas apresentaram predominantemente propionibactérias e estafilococos. Microbiota da pele Microbiota da pele ⚫ Microrganismos eucarióticos também estão presentes na pele. ⚫ Espécies de Malassezia são os fungos mais comumente encontrados na pele, e pelo menos cinco espécies dessa levedura são geralmente observadas em indivíduos saudáveis. ⚫ Quando o hospedeiro apresenta menor resistência, como no caso de pacientes com HIV/Aids, ou naqueles indivíduos em que a microbiota normal está comprometida, Candida e outros fungos também podem colonizar, causando graves infecções de pele. Microbiota da pele Microbiota da pele Microbiota da pele ⚫ Vários fatores ambientais e do hospedeiro podem influenciar a composição da microbiota normal da pele. ⚫ Por exemplo, o clima pode provocar um aumento na temperatura e umidade da pele, aumentando a densidade da microbiota cutânea. ⚫ A idade do hospedeiro também apresenta efeitos; crianças novas possuem uma microbiota mais variada, e carregam um número maior de bactérias gram-negativas potencialmente patogênicas do que os adultos. Microbiota da cavidade oral ⚫ O microambiente oral – A saliva contém nutrientes microbianos, contudo não é um meio de cultura especialmente adequado, uma vez que os nutrientes estão presentes em baixas concentrações e a saliva possui substâncias antibacterianas. – Por exemplo, a saliva contém lisozima, uma enzima que cliva as ligações glicosídicas do peptideoglicano presente na parede celular bacteriana, promovendo o seu enfraquecimento e a lise celular. – Outra enzima, a lactoperoxidase, presente tanto no leite quanto na saliva, mata as bactérias por meio de uma reação que gera oxigênio singleto Microbiota da cavidade oral ⚫ O microambiente oral – Apesar da atividade antibacteriana dessas substâncias, a presença de partículas de alimentos e fragmentos celulares propicia altas concentrações de nutrientes nas superfícies próximas, como dentes e gengivas, criando condições favoráveis ao intenso crescimento microbiano local, ao dano tecidual e à doença. Microbiota da cavidade oral ⚫ Amostras obtidas de alguns indivíduos apresentaram mais de 600 táxons. ⚫ A maioria desses microrganismos possui metabolismo aeróbio facultativo, mas alguns, como Bacteroidetes, são obrigatoriamente anaeróbios, e outros possuem ainda metabolismo aeróbio, como os gêneros Neisseria, Acinetobacter e Moraxella no filo Proteobacteria. Microbiota do trato gastrintestinal ⚫ Estômago – Uma vez que os fluidos estomacais são altamente ácidos (pH 2, aproximadamente), o estômago é uma barreira química à entrada de microrganismos no trato gastrintestinal. – Contudo, os microrganismos conseguem colonizar este ambiente aparentemente hostil. A população microbiana estomacal consiste em diversos táxons bacterianos diferentes. – Cada indivíduo apresenta populações únicas, porém todos contêm espécies de bactérias gram positivas, bem como de Proteobacteria, Bacteroidetes, Actinobacteria e Fusobacteria. Microbiota do trato gastrintestinal ⚫ Estômago – Helicobacterpylori, o organismo mais comumente observado, coloniza a parede estomacal de muitos, mas não de todos, os indivíduos, podendo provocar úlceras em hospedeiros suscetíveis. – Algumas das bactérias que colonizam o estômago correspondem a organismos encontrados na cavidade oral, os quais são introduzidos pela passagem dos alimentos. Microbiota do trato gastrintestinal ⚫ Estômago Microbiota do trato gastrintestinal Microbiota do trato gastrintestinal Microbiota do trato gastrintestinal ⚫ Intestino delgado – O intestino delgado possui dois ambientes distintos, o duodeno e o íleo, que são conectados pelo jejuno. – O duodeno, adjacente ao estômago, é bastante ácido, e sua microbiota normal assemelha-se àquela encontrada no estômago. – Do duodeno ao íleo, o pH torna-se gradativamente menos ácido, havendo um aumento no número de bactérias. Na porção inferior do íleo, é comum um número de células de 105 a 107/grama de conteúdo intestinal, apesar de o ambiente tornar- se progressivamente mais anóxico. Microbiota do trato gastrintestinal ⚫ Intestino grosso – O colo é essencialmente um frasco de fermentação in vivo; com a presença de muitas bactérias, as quais utilizam os nutrientes derivados da digestão dos alimentos. – Organismos aeróbios facultativos, como Escherichia coli, estão presentes, embora em menor número do que outras bactérias. – Os aeróbios facultativos consomem qualquer oxigênio remanescente, tornando o intestino grosso estritamente anóxico. Essa condição promove o crescimento de anaeróbios obrigatórios, incluindo espécies de Clostridium e Bacteroides. Microbiota do trato gastrintestinal ⚫ Produtos da microbiota intestinal – Os microrganismos intestinais realizam ampla variedade de reações metabólicas, as quais produzem vários compostos essenciais. – Entre esses produtos estão as vitaminas B12 e K. Essas vitaminas essenciais não são sintetizadas pelo homem (e a vitamina B12 não se encontra presente nas plantas), sendo produzidas pela microbiota intestinal e absorvidas a partir do colo. – Outros produtos gerados pela ação de bactérias fermentativas e organismos metanogênicos incluem gases e diversas substâncias produtoras de odor. Microbiota do trato gastrintestinal ⚫ Produtos da microbiota intestinal – Durante a passagem do alimento pelo trato gastrintestinal, a água é absorvida da matéria digerida, que se torna gradativamente mais concentrada, sendo convertida em fezes. – As bactérias correspondem a cerca de um terço do peso da matéria fecal. – Organismos que habitam o lúmen do intestino grosso são continuamente removidos pelo fluxo do material, e essas bactérias eliminadas são continuamente substituídas a partir de novo crescimento. Microbiota do trato gastrintestinal ⚫ FORMAS DE CUIDAR DA MICROBIOTA Microbiota do trato gastrintestinal ⚫ FORMAS DE CUIDAR DA MICROBIOTA Microbiota do trato gastrintestinal ⚫ FORMAS DE CUIDAR DA MICROBIOTA Microbiota do trato gastrintestinal ⚫ Obesidade x Microbiota Microbiota dos tecidos mucosos ⚫ Trato respiratório – No trato respiratório superior (nasofaringe, cavidade oral, laringe e faringe), os microrganismos vivem em áreas banhadas pelas secreções das membranas mucosas. – As bactérias continuamente penetram no trato respiratório superior a partir do ar inalado durante a respiração, porém a maioria delas fica presa no muco das vias nasal e oral, sendo expelidas com as secreções nasais, ou engolidas. – Os microrganismos encontrados com maior frequência são os estafilococos, estreptococos, bacilos difteroides e cocos gram negativos Microbiota dos tecidos mucosos ⚫ Trato respiratório – Ocasionalmente, patógenos em potencial como Staphylococcus aureus e Streptococcus pneumoniae são encontrados na microbiota normal da nasofaringe de indivíduos sadios. – Esses indivíduos são portadores desses patógenos, porém geralmente não desenvolvem doenças, provavelmente devido à competição bem-sucedida com os demais microrganismos residentes. Microbiota dos tecidos mucosos ⚫ Trato respiratório – O trato respiratório inferior (traqueia, brônquios e pulmões) de adultos saudáveis não apresenta uma microbiota residente, apesar do grande número de organismos potencialmente capazes de alcançar essa região durante a respiração. – As paredes de todo o trato respiratório são revestidas por um epitélio ciliado, em que o movimento ciliar ascendente empurra as bactérias e outras partículas em direção ao trato respiratório superior, as quais são expelidas pela saliva e pelas secreções nasais, ou são engolidas. Microbiota dos tecidos mucosos ⚫ Trato urogenital – No trato urogenital masculino e feminino saudável, os rins e a bexiga são normalmente estéreis; no entanto, as células epiteliais que revestem a porção distal da uretra são colonizadas por bactérias aeróbias facultativas gram negativas. – Patógenos em potencial, como Escherichia coli e Proteus mirabilis, normalmente presentes em pequeno número no corpo ou no ambiente local, podem multiplicar-se na uretra, tornando-se patogênicos diante de condições alteradas, como alterações no pH. Microbiota dos tecidos mucosos ⚫ Trato urogenital – A vagina da mulher adulta é ligeiramente ácida (pH 2,5), e contém quantidades significativas de glicogênio. – Lactobacillus acidophilus, um organismo residente na vagina, fermenta o polissacarídeo glicogênio, produzindo ácido láctico, que mantém um ambiente local ácido. – Outros organismos, como leveduras (espécies de Torulopsis e Candida), vários estreptococos e E. coli podem também estar presentes. Microbiota dos tecidos mucosos ⚫ Trato urogenital – Antes da puberdade, a vagina é alcalina e não produz glicogênio, não sendo detectada a presença de L. acidophilus, com a microbiota sendo composta predominantemente por estafilococos, estreptococos, difteroides e E. coli. – Após a menopausa, a produção de glicogênio é interrompida, o pH eleva-se e a microbiota volta a assemelhar-se àquela presente antes da puberdade. Microbiota dos tecidos mucosos Microbiota dos tecidos mucosos
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