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GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Cláudia Maria Francisca Teixeira CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Tathyane Lucas Simão Prof. Ivan Tesck Revisão de Conteúdo: Graciele Alice Carvalho Adriano Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2017 Ficha catalográfi ca elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 370.2 T266g Teixeira, Claudia Maria Francisca Gestão em educação integral / Cláudia Maria Francisca Teixeira. Indaial: UNIASSELVI, 2017. 167 p. : il. ISBN 978-85-69910-79-4 1.Gestão Escolar. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Cláudia Maria Francisca Teixeira Graduada em Bacharelado e Licenciatura Plena em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1994) especialização em Informática Educativa, pela FERJ, em 1999. Mestre em Educação pela Universidade de Estado de Santa Catarina. Professora alfabetizadora e de educação infantil da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro de 1983 a 1995. Professora de História da prefeitura municipal de Florianópolis a partir de 1996. Atuou na função de assessora pedagógica no Núcleo de Tecnologia Educacional da Secretaria de Educação deste município, de 1998 a 2016, ministrando cursos para educadores no uso pedagógico das tecnologias de comunicação digital e como coordenadora nos períodos de 2005/2006 e 2015/2016. Participou do GT-EaD que implementou a formação a distancia nos cursos de educação continuada para educadores na Prefeitura de Florianópolis, sendo coautora do caderno de Introdução à EaD e ao Ambiente Virtual e Professora articuladora dos Cursos: Gestão e Ética e Educação Integral. Também atuou como tutora e professora formadora em cursos na modalidade a distância na UFSC: Educação Integral e Integrada (2008), Especialização em Coordenação Pedagógica (2010/11 e 2012/13). Sumário APRESENTAÇÃO ....................................................................01 CAPÍTULO 1 Gestão Escolar e Educação Integral ..................................9 CAPÍTULO 2 Paradigma Contemporâneo da Educação Integral/ Integrada ................................................................................63 CAPÍTULO 3 Gestão Escolar e os Desafios da Escola de Tempo Integral ................................................................................121 APRESENTAÇÃO Car@ pós-graduand@! A disciplina Gestão em Educação Integral tem o propósito de oferecer o estudo acerca da Educação Integral, abordando as questões da gestão educacional e escolar e sua aplicabilidade à educação de crianças, jovens e adultos na atualidade. No primeiro capítulo focaremos nos princípios da administração geral, os tipos de gestão e suas possibilidades de aplicação na educação integral. No segundo capítulo partiremos das experiências em educação integral no Brasil do século XX e início do atual, bem como as lições desses para as proposta em educação integral a serem implementadas, passando pela legislação, a participação da família, comunidade e demais setores da sociedade para o alcance de uma educação de qualidade social. No terceiro e último capítulo reforçaremos os conceitos e fundamentos teóricos estudados, os marcos legais e os caminhos metodológicos possíveis aos programas que se propõem implementar uma educação integral de qualidade. Esperamos contribuir com as reflexões acerca da construção social e política de uma escola com foco na formação integral, que converte-se em espaço essencial, no qual se articulam experiências educativas que favoreçam o desenvolvimento integral de crianças, jovens e adultos. Um bom estudo a tod@s! CAPÍTULO 1 Gestão Escolar e Educação Integral A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Compreender o processo histórico da gestão escolar e sua aplicação no contexto da educação integral. Conhecer princípios teóricos da administração como ciência e sua infl uência na gestão da educação. Conceituar gestão educacional e escolar. Reconhecer os diferentes aspectos da gestão escolar presentes na educação integral. Compreender as implicações político-pedagógicas da escola integrada e integradora. Fazer a relação entre as teorias administrativas e a aplicação na educação. Realizar a identifi cação dos diferentes tipos de gestão escolar. Refl etir acerca da importância do gestor no planejamento, articulação de recursos humanos e fi nanceiros, avaliação pedagógica e integração da comunidade numa proposta de educação integral. Conceituar a escola integrada e integradora e aspectos da sua gestão. 10 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL 11 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 ConteXtualiZação Neste capítulo estudaremos a Educação Integral, abordando as questões da gestão educacional e sua aplicabilidade à educação de crianças, jovens e adultos na sociedade atual. Para começo de conversa, o que podemos compreender, de forma objetiva, como educação integral? Como uma concepção de educação, que entende a necessidade do ato educativo, contempla as múltiplas dimensões dos sujeitos, isto é, as dimensões intelectual, física, emocional, social e cultural, na qual educar constitui um projeto coletivo, compartilhado por crianças, jovens, famílias, educadores, gestores e comunidades locais? Nessa perspectiva a escola, tendo como foco a formação integral de crianças, jovens e adultos, converte-se em espaço essencial, no qual se articulam experiências educativas que favoreçam o seu desenvolvimento integral. A organização de espaços, a articulação dos diversos agentes e recursos necessários à concretização desta escola promotora de uma educação de qualidade, que atenda às expectativas da sociedade contemporânea, é que podemos chamar de gestão escolar. A gestão escolar, suas especifi cidades e aplicabilidades na educação integral e integrada será o objeto central de nossos estudos neste capítulo. Primeiramente veremos como a ciência da administração infl uenciou, com suas teorias, a gestão na educação, passando pelos tipos de gestão e depois abordaremos sua relação com a educação integral. Para compreendermos este último item, revisitaremos questões fundamentais à compreensão da complexidade da educação integral na contemporaneidade e as implicações de sua implementação. 12 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL HistÓria da Gestão Escolar: Do Mundo Empresarial Para a Escola Vejamos como iniciou a história da administração, para então chegarmos ao seu uso no âmbito da educação nos tempos de hoje. A administração, como ciência, pode ser considerada recente, no entanto o ato ou conjunto de ações que visem uma organização ou registro de procedimentos necessários à produção de bens, alimentos, construção habitações e até cidades podem ser encontrados desde as antigas civilizações. Como nos aponta Maximiano (2007), que lista das antigas civilizações princípios administrativos até hoje defendidos e utilizados por teóricos da administração: • Egípcios – a burocracia administrativa. • Babilônios – os registros de transações comerciais e controle das mesmas. • Assírios – depósitos de suprimentos e colunas de transportes, que podem ser considerados precursores da logística atual. • Gregos – os princípios da democracia participativa, planos de estratégia, conceitos de qualidade, pregação da ética e igualdade na administração.• Romanos – criadores dos tributos, primeiros organizadores de empresas em outro país e de associações artesanais, as guildas. • Chineses – ensinamento de planejamento, comando, doutrina e estratégia militar. No entanto, apesar desses fatos, estudiosos apontam como marco da administração moderna a Revolução Industrial, que na segunda metade do século XIX implementou o modo de produção capitalista, com a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e com o uso das máquinas. O crescimento acelerado e desorganizado das primeiras indústrias passou a exigir uma administração mais científi ca, que fosse capaz de substituir o empirismo e a improvisação, bem como a necessidade de maior efi ciência e profundidade das empresas para fazer face à intensa concorrência e competição no mercado. 13 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 ConHecendo um Pouco das Teorias de Administração No início do século XX há o desenvolvimento de uma grande quantidade de teorias administrativas, e de acordo com Chiavenato (2000), as teorias mais importantes e que mais contribuíram para o desenvolvimento das organizações foram: a) Teoria clássica da administração A partir dos estudos de Frederick Taylor e Henri Fayol é que se formou a Escola Clássica. Taylor preocupava-se com a análise metodológica do trabalho, defendendo que cada pessoa dentro da organização deveria saber exatamente o que fazer, e fazê-lo muito bem. Separando planejamento e execução, o taylorismo utilizou o estudo de tempos e movimentos como o principal método para padronizar as atividades dentro das organizações, principalmente nas linhas de produção. Henry Fayol focou seus estudos nas estratégias para administrar, preocupando-se com as hierarquias do operário à gerência, propôs um modelo de organização do trabalho e gerenciamento cartesiano por meio da especialização de funções, dando ênfase às tarefas que foram simplifi cadas e padronizadas, tendo como objetivo o aumento dos índices de produtividade. Entendia que a gerência poderia ser ensinada. Enquanto Taylor voltou-se para o “chão da fábrica”, Fayol focou na alta administração das empresas. Essas teorias se preocuparam em construir um modelo de administração baseado na racionalização e no controle das atividades humanas. Ambas, apesar de suas contribuições à formação da ciência da administração, receberam a crítica de colocarem as empresas isoladas do contexto da sociedade, observando somente os aspectos da produção, dentro de um sistema “fechado”. 14 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL Figura 1 – Filme Tempos Modernos Fonte: Disponível em: <http://www.cinevest.com.br/imgs/post/28_0_gr.jpg>. Acesso em: 30 ago. 2017. Assista ao clássico do cinema “Tempos Modernos”, produzido em 1936 e estrelado por Charlie Chaplin. Veja o quanto, com humor, o artista critica o modo de produção capitalista e, por conseguinte, a administração científi ca de massifi car e tornar mecanicista o trabalho do homem nas indústrias. b) Teoria das relações humanas A partir de uma pesquisa de verifi cação da correlação entre produtividade e iluminação do local de trabalho, realizada dentro dos princípios da administração científi ca pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, percebeu-se a infl uência dos aspectos sociológicos, psicológicos e emocionais na produtividade dos trabalhadores. Assim, preconizava que quanto maior a integração social no grupo de trabalho, maior a disposição para produzir. A teoria das relações humanas estabelecia que a complexidade do ser humano deveria ser considerada no interior das organizações, tendo como princípios básicos a natureza da motivação humana, e o ambiente social externo da organização deveria receber atenção. Outro princípio importante para essa teoria é a percepção de que uma organização se caracteriza por ser um sistema social aberto, cujos valores, sentimentos e atitudes dos sujeitos que a compõem interferem no processo de produção. 15 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 c) Teoria neoclássica da administração No período pós-Segunda Guerra Mundial o mundo passou por aceleradas mudanças e as organizações passaram por transformações signifi cativas, com o surgimento da televisão, do motor a jato e o avanço das telecomunicações, dentre outros. Com isso as teorias administrativas existentes foram revistas para fazer adequações aos novos tempos, costumes e necessidades. Assim, elaborou-se a abordagem neoclássica como uma readequação da Teoria Clássica às transformações ocorridas no modo de vida, produção e consumo. Tal teoria consiste numa abordagem prescritiva e normativa com caráter misto, entre os aspectos formais e informais, e ênfase nos objetivos e nos resultados. É em função dos objetivos e resultados que a organização deveria ser dimensionada, estruturada e orientada, como meio de avaliar seu desempenho. d) Teoria da burocracia A teoria da burocracia surgiu a partir dos estudos de Max Weber, sociólogo e economista alemão, autor da “Sociologia da Burocracia”. Seria uma resposta de estudiosos da administração ao excesso de mecanicismo da Teoria Clássica e o que era considerado como demasiado aspecto sociológico e utópico da Teoria das Relações Humanas. Segundo Weber, a burocracia seria a forma de organização efi ciente por excelência, pois a principal característica da abordagem burocrática é a ênfase no aspecto descritivo e explicativo de cada etapa e sujeitos envolvidos na produção de bens e serviços. Essa teoria administrativa prima por funcionários com cargos bem defi nidos, e que se pautam por um regulamento fi xo, determinada pela rotina e a hierarquia com linhas de autoridade e responsabilidade bem demarcadas. e) Teoria comportamental A Teoria comportamental foi elaborada como resposta à busca por um novo padrão de teoria e pesquisa administrativas para explicar o comportamento organizacional. Defende, assim, a valorização do trabalhador em qualquer empreendimento, baseado, sobretudo, na cooperação. Com infl uência do behaviorismo esta teoria aponta que o administrador precisa compreender o comportamento humano para utilizar a motivação humana como estratégia para melhorar a qualidade do ambiente dentro das organizações. f) Teoria dos sistemas A administração, com a orientação da teoria dos sistemas da biologia, tem o foco na empresa como um todo, isto é, o estudo do geral sobrepuja ao do particular. Por ter uma visão mais abrangente, parte da análise das organizações 16 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL como sistemas abertos, nos quais há interação e, ao mesmo tempo, independência entre cada segmento e etapas com o ambiente que os envolvem, considerando várias entradas (insumos) e saídas (resultados) para garantir esse constante intercâmbio com o meio. g) Teoria das contingências As transformações aceleradas da metade do século passado refl etiram numa crescente complexidade do ambiente organizacional e na maior intensidade no uso de inovações tecnológicas nas empresas. Assim, necessitava-se de um novo paradigma administrativo em substituição aos existentes, que atendesse a essa demanda. A teoria das contingências enfatiza a administração como dependente de um determinado conjunto de circunstâncias de um contexto para conseguir os resultados almejados. Desta forma, as ações de caráter administrativo teriam seus resultados de acordo com as características situacionais e a solução dos problemas organizacionais básicos estariam na diferenciação dos ambientes de realização das tarefas e na integração entre os diversos departamentos produtivos. Podemos perceber que a partir das teorias dos dois pioneiros, Taylor e Fayol, desenvolveram-se várias abordagens da administração como conhecimento humano. Cada uma dessas teorias fundamenta abordagens diferenciadas na forma de organizar o trabalho administrativo com ênfase ora na administração de tarefas, ora na estruturaorganizacional, nos processos ou nas pessoas e na busca de princípios universais para administração. Tendo como base o resumo das diferentes abordagens das teorias administrativas, podemos compreender até que ponto há infl uência destas teorias no contexto educacional, em especial, na gestão escolar. Que tal reler com atenção as teorias e verifi car se você percebe um pouco de cada uma no modelo de escola predominante que encontramos até os dias de hoje? 17 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 Continuando nossos estudos acerca da administração, encontramos no Novo Dicionário Aurélio (HOLANDA, 2009, p. 38) uma defi nição para o termo como “um conjunto de princípios, normas e funções que tem por fi m ordenar os fatores de produção e controlar a sua produtividade e efi ciência, para se obter determinado resultado”. Já Martins (1999, p. 22) nos apresenta a administração como “processo de planejar para organizar, dirigir e controlar recursos humanos, materiais, fi nanceiros e informacionais, visando à realização de objetivos”. A partir destes conceitos observamos que os termos como controle, produtividade e efi ciência, tão característicos do modo de produção capitalista, estão presentes neles. No entanto, como já falamos anteriormente, a administração enquanto atividade essencialmente humana precede a organização da sociedade sob a ótica capitalista. Chiavenato a sintetiza desta forma: A palavra administração vem do latim ad (direção, tendências para) e minister (subordinação ou obediência) e signifi ca aquele que realiza uma função abaixo do comando de outrem, isto é, aquele que presta um serviço a outro. No entanto, a palavra administração sofreu uma radical transformação em seu signifi cado original. A tarefa da administração é a de interpretar os objetivos propostos pela organização e transformá-los em ação organizacional por meio do planejamento, organização, direção e controle de todos os esforços realizados em todas as áreas e em todos os níveis da organização, a fi m de alcançar tais objetivos da maneira mais adequada à situação. Assim, a administração é o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar o uso de recursos a fi m de alcançar objetivos (CHIAVENATO, 2000, p. 6-7). E você? Como defi ne a Administração? Escreva com suas próprias palavras o que o termo signifi ca para você. A Administração e a Gestão Escolar Para que possamos traçar um paralelo entre as teorias administrativas e o processo de construção histórica da gestão escolar, buscamos em Lück (2006) o conceito de gestão escolar, que 18 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL [...] constitui umas das áreas de atuação profi ssional na educação destinada a realizar o planejamento, a organização, a liderança, a orientação, a mediação, a coordenação, o monitoramento e avaliação dos processos necessários à efetividade das ações educacionais orientadas para a promoção da aprendizagem e formação dos alunos (LÜCK, 2006, p. 24). Desta forma podemos entender, nos dias de hoje, a gestão escolar como o processo de organização de uma instituição educacional, resultante de um trabalho conjunto de uma equipe, que a partir de diagnóstico da realidade defi ne propósitos e seleciona os meios necessários para a sua realização, isto é, a gestão escolar estabelece metas, escolhe os rumos e encaminhamentos necessários, constituindo planejamentos de ações, estratégias e avaliação contínua, de modo a obter uma constante adequação à realidade na qual a instituição está inserida. Todo este processo implica o compartilhamento de decisões e a participação de todos os sujeitos envolvidos. Para chegar a tal concepção, um caminho foi percorrido, e vimos que podemos ter na história da administração de empresas uma parte deste caminho, no que concerne aos conceitos das diversas teorias de administração aplicadas ao ambiente escolar. Cabe lembrar o educador Paulo Freire (1995) em sua crítica à “educação bancária”, que teremos um exemplo da infl uência da organização empresarial fundada nos princípios capitalistas de produção na organização do trabalho escolar. No entanto, temos que ter claro que administração escolar tem suas especifi cidades que a diferenciam da administração especifi camente capitalista, cujo objetivo é o lucro. Por isso, os procedimentos adotados na escola não podem ser idênticos aos adotados na empresa, uma vez que administrar uma escola não se resume à mera transposição de métodos e técnicas do mundo administrativo empresarial, que não tem como objetivo alcançar fi ns pedagógicos (PARO, 2010). A administração escolar no Brasil das primeiras décadas do século XX, de acordo com os estudos de Vieira (2003), era fortemente marcada pela visão de administração pautada na teoria clássica, estruturalista e burocrática. Desta forma, as decisões eram restringidas pela vontade do diretor da escola, ou dos altos escalões do sistema escolar como um todo, refl etindo numa organização da escola hierarquizada, centrada na autoridade e responsabilidade, marcadamente disciplinar. Gestão escolar como o processo de organização de uma instituição educacional, resultante de um trabalho conjunto de uma equipe, que a partir de diagnóstico da realidade defi ne propósitos e seleciona os meios necessários para a sua realização. 19 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 Encontraremos na década de 1960 o uso de terminologias e práticas da produção industrial aplicadas nos processos educacionais, mantendo o predomínio da burocracia, hierarquia, disciplina e centralização das decisões, tanto das políticas educacionais quanto nas instituições educativas. Ao mesmo tempo, há infl uências das abordagens humanísticas, incorporando uma visão mais social da educação, inserindo a motivação dos estudos da psicologia para atingir os objetivos educacionais; da infl uência da abordagem neoclássica há o maior foco nos objetivos educacionais e no resultado das escolas, e uma preocupação na relação aprovação versus reprovação, isto é, nos dados estatísticos como avaliação da educação, e; da teoria sistêmica, a inserção da tecnologia da informação e sistematização da comunicação, como formulários de controle, planejamentos e avaliações. Nas décadas fi nais do século passado, com o processo de globalização da economia, vivemos aceleradas mudanças nas dimensões políticas e socioculturais no Brasil e no mundo. As tecnologias de informação e comunicação (TIC) inserem-se cada vez mais em todos os âmbitos da vida em sociedade e a educação não se aparta deste processo. Se a produção se informatiza, vemos políticas de informatização serem formuladas e aplicadas também na educação. A emblemática queda do muro de Berlim se desdobra, simbolicamente, na “queda de muros” que separa a escola da comunidade, há portanto, um processo de descentralização da gestão escolar, uma das mais importantes tendências das reformas educacionais em nível mundial. No Brasil vivenciamos concomitante ao processo de democratização na política, o processo de democratização nas escolas públicas, consolidado na promulgação da Constituição de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996. À medida que as teorias da administração geral se renovavam com as exigências de um modo de produção globalizado, a administração escolar também seria ajustada. Nas palavras de Vieira (2003, p. 40), “o aparelho escolar é inseparável do modo de produção capitalista, pois se apresenta como um instrumento para a reprodução das relações de trabalho e dominação existente entre as classes sociais”. Este percurso apresentado não foi tão linear. Cabe lembrar que a história não se trata de um simples resumo de fatos, mas uma complexa e intrincada articulação das relações humanas nas dimensões sociais, econômicas, políticas e culturais ao longo do tempo. O que fazemos são recortes destes momentos históricos para fi ns didáticos.20 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL Assim, compreendida a administração como ciência que subsidia a gestão dos recursos fi nanceiros, humanos e materiais necessários à produção de bens e serviços, fi ca mais fácil compreender o que Libâneo (2004, p. 215-216) nos apresenta como as principais características do que seja gerenciar no âmbito escolar: - Dirigir e coordenar os andamentos dos trabalhos, o clima de trabalho, a efi cácia na utilização dos recursos e meios, em função dos objetivos da escola. - Assegurar o processo participativo de tomada de decisões e, ao mesmo tempo, cuidar para que essas decisões se convertam em ações concretas. - Assegurar a execução coordenada e integral das atividades dos setores e elementos da escola, com base nas decisões tomadas coletivamente. - Articular as relações interpessoais na escola e entre a escola e a comunidade (incluindo especialmente os pais). Estes quatro pontos fundamentais apresentados pelo estudioso da educação, desdobram-se nos instrumentos dos quais todo gestor escolar deve apropriar-se e incorporar ao cotidiano da instituição. São eles: planejamento de objetivos e estratégias pedagógicas; organização das pessoas e dos recursos para alcance dos objetivos pretendidos; execução com qualidade dos trabalhos planejados de acordo com os recursos disponíveis; avaliação de todos os processos e atividades desenvolvidas; comunicação das atividades e dos resultados alcançados para toda comunidade escolar; e formação continuada da equipe de funcionários da escola, visando ao aperfeiçoamento profi ssional e consequente qualifi cação do trabalho administrativo e pedagógico. Com base no que vimos até agora, podemos perceber a infl uência das diferentes teorias administrativas estudadas, ou seja, as transformações e permanências teóricas que aqui também se fazem presentes. Paro enfatiza que cabe ao gestor escolar articular os instrumentos relacionados anteriormente às fi nalidades educacionais, no sentido de garantir que a escola cumpra o que ele entende como sua função social: “cumprir adequadamente um papel consciente de socialização da cultura e ao mesmo tempo de contribuição (por moderada que seja) para a democratização da sociedade” (PARO, 2010, p. 84), o que implica a construção da cidadania participativa. No entanto, nos alerta que no caso da escola pública, há uma especifi cidade quanto ao seu objeto de trabalho: alunos, funcionários e professores não devem ser compreendidos como meros clientes, uma vez que há uma diferença entre os fi ns humanos da educação dos fi ns empresariais. 21 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 Nessa perspectiva, na escola pública, ao contrário dos interesses capitalistas das empresas privadas, não pode ser o seu objetivo a obtenção do lucro fi nanceiro, mas possibilitar a fruição do conhecimento historicamente produzido e a experiência das práticas democráticas como condição de cidadania. Assim: Novos desafi os e exigências são apresentados à escola, que recebe o estatuto legal de formar cidadãos com capacidade de não só enfrentar esses desafi os como de superá-los. Como consequência, para trabalhar em educação, de modo a atender às demandas, torna-se imprescindível que se conheça a realidade e que se tenham competências necessárias para realizar contextos educacionais, os ajustes e mudanças de acordo com as necessidades e demandas emergentes no contexto da realidade externa e no interior da escola (LÜCK, 2006, p. 32). Desta forma, a gestão da educação hoje extrapola a questão de simplesmente aplicar as teorias administrativas viáveis no mundo empresarial na realidade educacional. Vai além da defi nição de objetivos, escolha de estratégias e aplicação de recursos de forma fria e científi ca, pois a gestão da educação é responsável por garantir a qualidade de uma “mediação no seio da prática social global” (SAVIANI, 1980, p.120). Com todo o processo de estímulo à participação de todos e todas, por meio de leis e movimentos sociais que resultaram na inserção da gestão democrática como processo fundamental à administração escolar, cada vez mais o compartilhamento das tomadas de decisões constrói coletivamente uma escola que se integra à sociedade, que interage com a realidade em que está inserida, ou seja, que promove uma educação para cidadania integral em sua essência. Gestão Educacional e Gestão Escolar A gestão educacional aplica-se à organização dos sistemas educacionais, enquanto a gestão escolar refere-se aos estabelecimentos de ensino. No que concerne à defi nição da política e da gestão da educação básica, no Brasil temos como instrumentos maiores a Constituição Federal (CF) de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996). 22 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL Saiba mais sobre a Constituição Federal acessando <http:// www.stf.jus.br/arquivo/cms/legislacaoConstituicao/anexo/CF.pdf> e a LDB em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Para a CF e a LDB, a gestão da educação nacional orienta a organização dos sistemas de ensino federal, estadual e municipal; defi ne as incumbências da União, dos estados e dos municípios; relaciona as diferentes formas de articulação entre as instâncias normativas, deliberativas e executivas do setor educacional; e, regula a oferta de educação escolar pelo setor público e privado. No que diz respeito ao Poder Público, a educação deve ser compartilhada entre a União, os estados, o Distrito Federal (DF) e os municípios, sendo organizada sob a forma de regime de colaboração de acordo com o artigo 211 da CF e do 8º artigo da LDB. Já as competências e atribuições dos diferentes entes federativos encontramos explicitadas no artigo 3º da Emenda Constitucional (EC) nº 14/96 e especifi cadas na LDB nos artigos 9°, 10º, 11º, 16º, 17º, 18º e 67º. No contexto da educação básica como atribuição dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, temos no artigo 8º da LDB a defi nição da União com o papel de coordenação, articulação e redistribuição em relação às demais unidades federadas, tendo também a responsabilidade pela educação dos povos indígenas, tarefa a ser repartida com os demais sistemas de ensino (BRASIL, 1996, p. 78-79). Considerar a diversidade nacional levou os legisladores a proporem uma organização descentralizada, na qual compete ao Governo Federal defi nir e assegurar as grandes linhas do projeto educacional do país. No entanto, a gestão educacional não é só legislação, também envolve circunstâncias políticas, e por isso depende de constante negociação e mediação de confl itos de interesses. Assim, o que muitas vezes na teoria se organiza, na prática pode ser difi cultada pelas condições de implementação que demandam disponibilidade fi nanceira (origem de capital e responsabilidade de custeio), recursos humanos e outras condições materiais e imateriais. Na gestão educacional brasileira, cada sistema tem um papel a desempenhar, e no que se refere à educação básica, cabe aos estados, Distrito Federal e municípios ofertá-la, fi cando o ensino médio como um dever dos estados e do Distrito Federal, e a educação infantil dos municípios. Na gestão educacional brasileira, cada sistema tem um papel a desempenhar, e no que se refere à educação básica, cabe aos estados, Distrito Federal e municípios ofertá-la, fi cando o ensino médio como um dever dos estados e do Distrito Federal, e a educação infantil dos municípios. 23 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 Cabe à União a responsabilidade sobre as escolas particulares e órgãos federais, aos estados e Distritos Federais compete as instituições de ensino mantidas por eles; as de nível superior mantidas pelos municípios, as particulares de ensino fundamental e médio, os órgãos estaduais de educação e as instituições municipais de ensino particulares de educação infantil. Sob a competênciados municípios fi cam as instituições de educação infantil e de ensino fundamental e médio mantidas pelos mesmos, as instituições particulares de educação infantil e os órgãos municipais de educação. Assim os entes federativos compartilham responsabilidades, mas cada um possui atribuições específi cas, cabendo à União o papel de coordenar e articular os níveis de sistemas, aos estados e ao Distrito Federal o de elaborar e executar políticas e planos educacionais, e aos municípios organizar, manter e desenvolver seu sistema de ensino através da sua integração com as políticas e planos educacionais da União e dos estados. Gestão Escolar Enquanto a gestão educacional concentra-se nos aspectos macros da educação nacional, a gestão escolar trata das atribuições dos estabelecimentos de ensino, respeitando as normas comuns dos sistemas de ensino. Cada escola tem dentre as suas atribuições, segundo a LDB: [...] elaborar e executar sua proposta pedagógica; administrar seu pessoal e seus recursos materiais e fi nanceiros; assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; prover meios para a recuperação de alunos de menor rendimento; articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; informar aos pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica (BRASIL, 1996, p. 3). No que tange a elaboração e a execução de uma proposta pedagógica, esta pode ser compreendida como a principal das atribuições da escola, devendo sua gestão orientar-se para tal fi nalidade. Também cabe à escola gerir seu patrimônio material e imaterial. O primeiro é composto pelos prédios e instalações, equipamentos, laboratórios, livros, enfi m, tudo aquilo que se traduz na parte física da instituição escolar; o segundo refere-se às pessoas, às ideias e à cultura produzida em seu interior. 24 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL De acordo com a citação anterior, destacamos os incisos III, IV e V da LDB, que tratam do que seria a própria razão de ser da escola: o ensino e a aprendizagem. Assim, tanto lhe cabe “velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente”, como “assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas”, também “prover meios para a recuperação de alunos de menor rendimento” (BRASIL, 1996, p. 3) Ao exercer com sucesso as incumbências desses três dispositivos, a escola realiza a essência de sua proposta pedagógica. Os incisos VI e VII do artigo 12º da LDB tratam de outra dimensão importante da gestão escolar: a relação com a comunidade. Assim, cabe à escola “articular- se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração” entre esta e a sociedade e, ao mesmo tempo, “informar aos pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica” (BRASIL, 1996, p. 5). Temos que destacar na gestão escolar a questão da autonomia que a escola possui e que está prevista na LDB, pois o exercício dessa autonomia possibilita o atendimento às especifi cidades regionais e locais, assim como às diversas clientelas e necessidades para o desenvolvimento de uma educação de qualidade. A legislação afi rma a existência de “progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão fi nanceira” (BRASIL, 1996, p. 6), a serem defi nidas pelos sistemas de ensino. Orienta-se, desta forma, que a autonomia de uma escola não é algo espontâneo, mas construída a partir de sua identidade e história. Esses “graus de autonomia” correspondem a diferentes formas de existir de cada estabelecimento de ensino, sua história, tamanho, corpo docente, seu desempenho e gestão de recursos. Outro destaque vai para a gestão democrática, também preconizada na Constituição Federal e na LDB de 1996, que estudaremos em um tópico específi co mais adiante, e que para Lück está atrelada ao conceito de gestão escolar: Uma forma de conceituar gestão é vê-la como um processo de mobilização da competência e da energia de pessoas coletivamente organizadas para que, por sua participação ativa e competente, promovam a realização, o mais plenamente possível, dos objetivos de sua unidade de trabalho, no caso, os objetivos educacionais. O entendimento do conceito de gestão, portanto, por assentar-se sobre a maximização dos processos sociais como força e ímpeto para a promoção de mudanças, já pressupõe, em si, a ideia de participação, isto é, do trabalho associado e cooperativo de pessoas na análise de situações, na tomada de decisão sobre seu encaminhamento e na ação sobre elas, em conjunto, a partir de objetivos organizacionais, entendidos e abraçados por todos (LÜCK, 2006, p. 21). 25 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 O conceito de gestão para Lück (2006) tem na participação democrática a sua essência, pois parte do pressuposto de que o êxito de uma organização social depende da mobilização da ação conjunta de seus componentes, pelo trabalho associado, mediante reciprocidade que cria um “todo” orientado por uma vontade coletiva. Esta, aliás, é condição fundamental para que a educação se processe de forma efetiva no interior da escola, tendo em vista a complexidade e a importância de seus objetivos e processos. Então vimos que se a gestão educacional se refere aos sistemas de ensino e a gestão escolar situa-se no âmbito da organização da escola no desenvolvimento das suas atribuições sociais, isto é, na promoção do ensino e da aprendizagem para todos e todas, o estudo das políticas educacionais requer análise crítica das ações que emanam do poder público em suas diferentes esferas (União, estados, municípios) e de como chegam aos estabelecimentos de ensino. Um ponto importante é que se faz necessária a avaliação, por diferentes instrumentos e agentes, para aferição de como estas políticas se materializam em ações, traduzindo-se, ou não, na gestão educacional e escolar, bem como se respondem aos anseios da sociedade, no que concerne à educação de qualidade em todos os níveis e modalidades e em todo o território nacional. Lück (2006, p. 24) ressalta que [...] a gestão escolar é um enfoque de atuação, um meio e não um fi m em si mesmo. O fi m último da gestão é a aprendizagem efetiva e signifi cativa dos alunos, de modo que, no cotidiano que vivenciam na escola desenvolvam as competências que a sociedade demanda, dentre as quais se evidenciam pensar criativamente; analisar informações e proposições diversas, de forma contextualizada; expressar ideias com clareza, oralmente e por escrito; empregar a aritmética e a estatística para resolver problemas; ser capaz de tomar decisões fundamentadas e resolver confl itos. Segundo a LDB (BRASIL, 1996), a gestão educacional engloba o conjunto de iniciativas desenvolvidas pelas diferentes instâncias de governo, as responsabilidades compartilhadas na oferta de ensino e outras ações que desenvolvem em suas áreas específi cas de atuação. Por outro lado, a gestão escolar situa-se no plano da escola e diz respeito a tarefas que estão sob sua esfera de abrangência. Gestão educacio- nal se refere aos sistemas de ensino e a gestão escolar situa-se no âmbito da organização da escola no desenvolvimento das suas atribuições sociais, isto é, na promoção do ensino e da aprendizagem para todos e todas. Se faz necessária a avaliação, por dife- rentes instrumentos e agentes, para aferição de como estas políti- cas se materializam em ações, traduzindo- -se, ou não, na gestão educacional e escolar, bem como se respon- dem aos anseios da sociedade. 26 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL A gestão é processo indispensável para garantir condições ao desenvolvimento da política de educação. Assegura relações entre sistemas implicando em anéis de articulação e alinhamento entre suasações. Garante à rede escolar os insumos e apoios necessários para que a ação coletiva deste serviço público tenha efetividade. Tais insumos referem-se a recursos humanos, fi nanceiros e técnicos (BRASIL, 2011b, p. 69). Nesse sentido, podemos dizer que a política educacional está para a gestão educacional como a proposta pedagógica está para a gestão escolar. Ambas se articulam e pode-se afi rmar que a primeira existe em função do trabalho que na escola se realiza. A política educacional está para a gestão educacional como a proposta pedagógica está para a gestão escolar. Ambas se articulam e pode-se afi rmar que a primeira existe em função do trabalho que na escola se realiza. Tipos de Gestão Escolar Após conceituarmos gestão educacional e gestão escolar podemos partir para a identifi cação dos diferentes tipos de gestão que aplicadas à educação contribuem para que esta atinja suas fi nalidades com qualidade. Gestores e suas equipes, seja no âmbito macro das políticas e sistemas educacionais ou na escola, precisam planejar, monitorar e avaliar as ações, determinando a dinâmica e a qualidade da educação oferecida a crianças, jovens e adultos. Nesse sentido, a organização da gestão da escola necessita de meios que [...] valorizem os sujeitos envolvidos no processo, os aspectos pedagógicos presentes no ato educativo e, ainda, contemplem as expectativas dos envolvidos com relação à aquisição dos saberes escolares signifi cativos e às diferentes possibilidades de trajetórias profi ssionais futuras (DOURADO; OLIVEIRA; SANTOS, 2007, p. 10). No âmbito da escola, a equipe gestora deve dar conta da implementação das políticas educacionais e projetos pedagógicos, criação de planos e estratégias para superar a limitação da fragmentação, elaborar e executar seu projeto pedagógico, tomar decisões para que a escola exerça a sua autonomia. Para tal, necessita prever formas de organização que permitam atender às peculiaridades regionais e locais, às diferentes clientelas e necessidades do processo de aprendizagem conforme a previsto no artigo 23 da LDB. 27 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 Precisamos pensar gestão no sentido de uma articulação entre ações que se realizam no cotidiano da instituição escolar e o seu signifi cado político e social. Signifi cado este que refl ete o desejo de uma escola que atenda às exigências da contemporaneidade, promovendo o acesso ao conhecimento historicamente construído a partir de práticas educacionais participativas, que forneçam as condições para que crianças, jovens e adultos possam se constituir cidadãos atuantes e transformadores da realidade sociocultural e econômica em que estão inseridos. Para fi m de melhor entendimento, vamos usar uma classifi cação da gestão escolar em três áreas, que devem funcionar interligadas, de modo integrado ou sistêmico. São elas: gestão administrativa e fi nanceira; gestão de recursos humanos; e, gestão pedagógica. a) Gestão Administrativa e Financeira De forma sintética a gestão administrativa escolar tem como principal função cuidar da parte física e da parte institucional. A primeira abrange o prédio e os equipamentos materiais que a escola possui, enquanto que a segunda, a legislação escolar, direitos e deveres, atividades de secretaria. Suas especifi cidades são defi nidas no Plano Escolar, também denominado Plano Político-Pedagógico de Gestão Escolar, ou Projeto Pedagógico e no Regimento Escolar. Vale destacar como principais atribuições da gestão administrativa na escola, segundo Lück (2006): ● Gerenciamento correto e pleno da aplicação de recursos físicos, materiais e fi nanceiros da escola para melhor efetivação dos processos educacionais e realização dos seus objetivos. ● Organização, atualização e correção de documentação, escrituração, registros de alunos, diários de classe, estatísticas, legislação, de modo a serem continuamente utilizados na gestão dos processos educacionais. ● Promoção de ações que criem ambiente limpo, organizado e com materiais de apoio e estimulação necessários à aprendizagem dos alunos e sua formação para a cidadania e respeito ao meio ambiente. ● Coordenação na aplicação de recursos fi nanceiros e materiais e a sua prestação de contas correta e transparente, de acordo com normas legais, tanto dos recursos obtidos diretamente de fontes mantenedoras, quanto dos obtidos por parcerias e atividades de arrecadação. ● Otimização do uso dos recursos e equipamentos disponíveis na escola para a realização do trabalho pedagógico, mediante planejamento sistemático dessa utilização. Três áreas, que devem funcionar interligadas, de modo integrado ou sistêmico. São elas: gestão administrativa e fi nanceira; gestão de recursos humanos; e, gestão pedagógica. 28 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL ● Cumprimento dos 200 dias letivos e das 800 horas de trabalho educacional de acordo com o artigo 24 da LDB. ● Estímulo à correta utilização de materiais, mediante controle de estoque, de compra e de consumo. ● Manutenção das condições de uso dos bens patrimoniais disponíveis na escola mediante contínuo inventário dos mesmos e providência de consertos imediatos. ● Formulação de diretrizes e normas de funcionamento da escola e a sua aplicação, tomando as providências necessárias para coibir atos que contrariem os objetivos educacionais, bem como providências ante as irregularidades que venham a prejudicar as boas práticas profi ssionais. Durante muito tempo a visão positivista infl uenciou a administração da escola, restringindo a gestão escolar aos recursos físicos, materiais, fi nanceiros e humanos como ação do diretor, que deveria na maior parte do seu tempo buscar a garantia desses recursos para a escola, na expectativa de que assim os processos educacionais se desenvolveriam “naturalmente”. Esta visão fragmentada dos processos educacionais foi superada por uma ótica da gestão mais abrangente e interativa. Tal mudança de paradigma passou a colocar a administração numa dimensão de papel subsidiário à ação educacional, no contexto de outras dimensões da gestão. Assim, a gestão administrativa, insere-se no [...] conjunto interativo de várias outras dimensões da gestão escolar, passando a ser percebida como um substrato sobre o qual se assentam todas as outras, mas também percebido com uma ótica menos funcional e mais dinâmica. A passagem de uma ótica fragmentada da educação, para uma ótica organizada pela visão de conjunto (LÜCK, 2006, p. 26). A percepção do papel, não central, mas participativo da administração dos recursos materiais e imateriais, repercutiu sobre a gestão da escola, demandando a necessidade de promoção de articulações entre os objetivos da ação pedagógica com os recursos disponíveis. À gestão administrativa cabe a constante análise do relacionamento entre os objetivos com o uso educacional de espaços, bens materiais e recursos fi nanceiros voltados para a sua realização. Lück (2006) identifi ca as ações que a gestão administrativa de recursos materiais e fi nanceiros na escola atual exige de seus gestores: ● A utilização de tecnologias da informação na organização e melhoria de processos de gestão em todos os segmentos da escola. ● A promoção na escola de uma cultura de cidadania orientada pelo sentido de responsabilidade no cuidado e bom uso do patrimônio escolar, espaços, equipamentos e materiais. 29 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 ● Que mantenham organizados os registros e documentação escolar de modo que possa, a qualquer momento, fazer uso das informações correspondentes, tomar decisões objetivas e também prestar contas de trabalho desenvolvido. Com relação à organização da documentação, em geral esta se concentra na secretaria da escola, a qual além da documentação da vida escolar dos educandos deve integrar informações de várias fontes internas e externas da escola, taiscomo correspondências, atas de reuniões e documentos legais. Esse registro envolve não apenas organização, cuidado e conferência, mas sobretudo lisura, honestidade e sigilo. Cabe ao gestor escolar supervisionar e orientar continuamente este trabalho de documentação de modo que estejam corretos e prontamente disponíveis sempre que solicitados por quem de direito. Uma ação importante para a qual a organização dos documentos escolares contribui é o levantamento de dados para elaboração de estatísticas e mapas descritivos gerais dos educandos, incluindo informações dos turnos escolares, das turmas, assim como de disciplinas, que podem ser mensalmente atualizados. O mesmo pode ser feito com o quadro de professores e funcionários. Esses mapas contribuem para se ter uma visão geral da escola e de suas peculiaridades demográfi cas, importantes no diagnóstico da realidade para subsidiar a tomada de decisões pela gestão e elaboração do PPP da unidade educativa. Vale ressaltar que os diários de classe fornecem informações quantitativas e qualitativas referentes ao educando ao processo de orientação de sua aprendizagem dada pelo professor. Esse registro tem o objetivo de permitir o acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem, de modo a possibilitar a realização de ajustes contínuos nesse processo. Em vista disso, os diários devem ser preenchidos regularmente e de forma correta e completa a cada aula e permanecerem na escola. Esse registro permite observar a variação de rendimento entre alunos e da turma como um todo em um período de tempo, mas como são sínteses que reduzem de modo acentuado as informações, não permitem perceber as variações de aprendizagem e aspectos que necessitam mais reforço ou recuperação. Assim, para atender esse objetivo são necessários outros registros voltados para a orientação da aprendizagem e que focalizam os seus desdobramentos, cabe ao gestor pedagógico acompanhar e orientar os procedimentos adotados para que sejam alcançados os objetivos de aprendizagem e formação dos educandos. Cada vez mais as instituições educacionais e secretarias de educação têm adotado sistemas de informação digitais pelos quais se pode fazer o levantamento de vagas, matrículas e avaliação de alunos; comunicação entre estabelecimentos e secretarias, e outras instituições do sistema a que estejam ligadas, bem como maior agilidade nas informações das escolas e sua comunicação com a comunidade. 30 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL O processo de informatização das escolas, secretarias municipais e estaduais de educação, do ministério da educação, universidades, conselhos de educação e demais instituições governamentais e não governamentais voltadas às questões educacionais ampliou-se signifi cativamente a partir da virada do século XXI. O acesso e disseminação das informações na era digital podem colocar na palma da mão de crianças, jovens e adultos, não só este acesso, como também a possibilidade de produção de conteúdos institucionais ou não relacionados ao cotidiano escolar. Dessa forma, urge o conhecimento por parte dos gestores educacionais e escolares dos recursos das tecnologias de informação e comunicação digitais e suas possibilidades de arquivamento, catalogação, mapeamento, análise e descrição de informações das escolas e demais instituições que integram os sistemas educacionais. Com relação à gestão do espaço físico e do patrimônio escolar devemos considerar o patrimônio material e o imaterial da escola. O patrimônio imaterial diz respeito ao “conjunto de experiências acumuladas do trabalho de muitas pessoas que lutaram por ideais, desenvolveram planos e projetos, alcançaram êxitos e amargaram fracassos” (MARTINS, 1999, p. 16). Já o patrimônio material compreende todos os bens e os recursos físicos que possibilitam a realização do trabalho educacional e contribuem para a sua qualidade. A importância da gestão do patrimônio material relaciona-se ao bom uso dos bens disponíveis que subsidiam as experiências de aprendizagens, bem como a construção de uma cultura escolar de respeito aos bens públicos, uso correto e adequado dos mesmos, promovendo sua conservação e manutenção porque “o patrimônio material bem formado e bem gerido é condição para o desenvolvimento do processo pedagógico com qualidade” (MARTINS, 1999, p. 23). b) A Gestão Financeira da Escola Nas instituições de fi ns lucrativos esta gestão pressupõe o uso de pessoal e ferramentas especializadas para o controle de insumos e dos resultados, almejando o lucro com as atividades desenvolvidas, como todo empreendimento empresarial. Urge o conhecimento por parte dos gestores educacionais e escolares dos recursos das tecnologias de informação e comunicação digitais e suas possibilidades de arquivamento, catalogação, mapeamento, análise e descrição de informações das escolas e demais instituições que integram os sistemas educacionais. 31 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 Nas instituições públicas de ensino vimos como resultado dos processos de democratização da gestão escolar e dos movimentos de descentralização da gestão e construção da autonomia da escola, um crescimento de medidas voltadas à resolução pelas escolas de muitos de seus próprios problemas de consumo, manutenção e reparos, por meio do repasse de recursos públicos. Assim, os sistemas de ensino vêm destinando recursos para as escolas, proporcionais ao número de alunos nela matriculados, a fi m de que possam realizar despesas diversas. Um destes programas é o Programa Dinheiro Direto na Escola – PDDE – do Governo Federal, através do qual a escola pública com mais de 50 alunos e com uma unidade executora, como por exemplo, Conselho Escolar e Associação de Pais e Mestres, pode registrar-se para o repasse anual de recursos, cuja utilização deve ser feita de acordo com as decisões dos órgãos colegiados da escola. Esses recursos podem ser utilizados para as seguintes fi nalidades, de acordo com o PDDE (BRASIL, 2006): ● Aquisição de material permanente. ● Manutenção, conservação e pequenos reparos da unidade escolar. ● Aquisição de material de consumo necessário ao funcionamento da escola. ● Capacitação e aperfeiçoamento de profi ssionais da educação. ● Avaliação de aprendizagem. ● Implementação de projeto pedagógico e desenvolvimento de atividades educacionais. Os valores transferidos a cada unidade escolar são determinados com base no quantitativo de alunos matriculados no Ensino Fundamental e na Educação Especial que os gestores escolares preencham no Censo Escolar do ano anterior. Além dos valores recebidos do Governo Federal, as escolas públicas podem receber recursos advindos do sistema de ensino ou rede à qual pertencem e que, por ventura, mantenham programa com tal objetivo. Esses recursos variam de acordo com os programas. Para saber mais sobre o Censo Escolar, acesse: <http://portal. inep.gov.br/censo-escolar>. 32 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL Além dos recursos recebidos de fontes públicas, a unidade executora da escola pode receber recursos oriundos de várias fontes, como por exemplo, de doações e de resultado de campanhas diversas. Cada gestor escolar assume a responsabilidade pela gestão dos recursos fi nanceiros de montante variável, de acordo com o número de seus alunos e as fontes de recursos disponíveis e deve sempre fazê-lo em conjunto com os representantes da Caixa Escolar, Conselho Escolar, Associação de Pais e Professores ou outro órgão semelhante, que se constitua uma personalidade jurídica própria, sem fi ns lucrativos, formada por pais, professores, alunos e funcionários da escola, garantindo a lisura, clareza e democracia na aplicação desses recursos. O mesmo deve ocorrer com o patrimônio material, sobretudo no que diz respeito a sua conservação e manutenção. As práticas de sucesso neste aspecto da educação pública se caracterizam pela participação dacomunidade, que de forma proporcional valoriza e mantém os estabelecimentos nos quais é coparticipe nas ações decisórias. Da escola deve partir a decisão da distribuição dos recursos, levando em conta a defi nição de prioridades educacionais, isto é, sua contribuição para a melhoria da qualidade do ensino. Os gastos devem ser corretamente calculados e de acordo com as prioridades, e as compras realizadas pela escola feitas de modo a atender às disposições legais orientadoras de compras pelo serviço público. Também deve-se ter o cuidado com os registros e documentações fi nanceiras da escola mantendo-os organizados e atualizados. Compete ao gestor escolar estar atento às determinações da legislação nacional, estadual e às normatizações do sistema ou rede de ensino a que pertença, pois aquisições efetuadas por instituições públicas devem respeitar os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade e probidade. Uma lei importante para estas questões é a Lei nº 8.666/93, que regulamenta o art. 37, inciso XXI da Constituição Federal (BRASIL, 1988, p. 47), instituindo as normas para licitações e os contratos da Administração Pública. Dessa forma, licitações e contratos devem ser realizados segundo as normas legais, serem de interesse público, obedecerem a critérios éticos, serem divulgadas e zelarem pelo bom uso dos recursos públicos. Compete ao gestor escolar estar atento às determinações da legislação nacional, estadual e às normatizações do sistema ou rede de ensino a que pertença, pois aquisições efetuadas por instituições públicas devem respeitar os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade e probidade. 33 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 Conheça a Lei nº 8.666/93 na íntegra. Acesse: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8666cons.htm>. Finalizando, podemos compreender o quão é importante para a qualidade da gestão pedagógica a melhor gestão administrativa possível. A dimensão administrativa não pode ser o foco único do gestor, é necessária a atenção às questões administrativas da escola com a perspectiva e a visão de que esta seja apoio à promoção da educação de qualidade. Todos os recursos adquiridos e sua utilização devem existir em função da promoção do ensino e aprendizagem de todos e todas. Vale saber que compreendemos a educação de qualidade como aquela que se constitui como processo de humanização, que responde à demanda social de necessidades formativas de homens e mulheres de um dado momento histórico. c) Gestão de Recursos Humanos (de pessoas) Fundamentalmente, a escola é um “organismo vivo” que não pode existir sem as pessoas que nela trabalham, sem as crianças, jovens e adultos que nela estudam, seus funcionários e a comunidade em que está inserida. A vitalidade da escola, na promoção de educação de qualidade, necessita de uma gestão competente das pessoas que a compõem e possibilitam o seu fazer pedagógico. As estruturas físicas, seus bens materiais e equipamentos, sua tecnologia, seus planos de ação não garantem sozinhos a qualidade do ensino e da aprendizagem. Constituem subsídios e instrumentos de apoio que, não sendo movidos e empregados adequadamente por pessoas, pouco contribuem para a efetividade da educação, por melhores que sejam. Enfi m, a ação coletiva organizada das pessoas, de acordo com sua competência e comprometimento, constitui-se na alma da escola e a base da sua qualidade educacional. Administrar pessoas, mantendo-as trabalhando satisfeitas, rendendo o máximo em suas atividades, contornando problemas de relacionamento humano, faz da gestão de recursos humanos item importante para o sucesso de qualquer corporação e não o é diferente para a gestão educacional. A dimensão adminis- trativa não pode ser o foco único do gestor, é necessária a atenção às questões admi- nistrativas da escola com a perspectiva e a visão de que esta seja apoio à promoção da educação de qualidade. A ação coletiva organizada das pessoas, de acordo com sua competência e comprometimento, constitui-se na alma da escola e a base da sua qualidade educacional. 34 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL Destacamos que a defi nição clara dos direitos, deveres e atribuições de professores, funcionários, educandos, pais e comunidade devem estar previstos no Regimento Escolar. Tal regimento poderá subsidiar a solução de problemas do cotidiano administrativo e pedagógico, bem como a mediação de confl itos. Podemos listar algumas das atribuições apontadas por Lück (2006) imprescindíveis à qualidade da gestão de pessoas na escola, como: ● promover a gestão de pessoas na escola e a organização de seu trabalho coletivo, focada na formação e aprendizagem dos alunos; ● estimular o bom relacionamento interpessoal e a comunicação entre todas as pessoas da escola; ● estabelecer diferentes canais de comunicação na comunidade escolar, que promovam a publicitação das ações da gestão e dos órgãos colegiados; ● desenvolver ações e medidas que tornem a escola numa verdadeira comunidade de aprendizagem, na qual todos e todas aprendam continuamente, de forma colaborativa; ● motivar e mobilizar todos os componentes da escola para a articulação de um trabalho integrado, voltado para a realização dos objetivos educacionais e a melhoria contínua de seu desempenho profi ssional; ● promover uma constante troca de experiências entre professores e sua interação, como estratégia de capacitação em serviço, desenvolvimento de competência profi ssional e melhoria de suas práticas; ● criar redes interna e externa de interação e colaboração, visando ao reforço, o fortalecimento e a melhoria de ações educacionais e à criação de ambiente educacional positivo; ● facilitar as trocas de opiniões, ideias e críticas acerca do processo educacional em desenvolvimento na escola. Vale lembrar que a educação é processo humano que envolve relacionamento interpessoal, são as pessoas que fazem diferença na educação como em qualquer outro empreendimento humano, quer pelas ações empreendidas, quer pelas atitudes que assumem ou pelo esforço na produção e alcance dos objetivos e estratégias que aplicam na resolução de problemas e no enfrentamento de desafi os. Dessa forma, como processo humano, a educação tem sua qualidade social vinculada ao trabalho conjunto e integrado, ao compartilhamento de ações e ao uso responsável dos recursos disponíveis pelas pessoas envolvidas. Estas pessoas fazem a diferença nos resultados alcançados e por isso uma política de valorização de seu trabalho precisa ser implementada. Como processo humano, a educação tem sua qualidade social vinculada ao trabalho conjunto e integrado, ao compartilhamento de ações e ao uso responsável dos recursos disponíveis pelas pessoas envolvidas. Estas pessoas fazem a diferença nos resultados alcançados e por isso uma política de valorização de seu trabalho precisa ser implementada. 35 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 Ao compreendermos o quanto a gestão de pessoas, ao promover a atuação coletivamente organizada constitui-se no coração do trabalho de gestão escolar, podemos perceber que tal gestão pode fazer a diferença entre a superação, ou não, das difi culdades do cotidiano escolar, pois “se assenta sobre a mobilização dinâmica do elemento humano, sua energia e talento, coletivamente organizado, voltados para a constituição de ambiente escolar efetivo na promoção de aprendizagem e formação dos alunos” (LÜCK, 2006, p. 27). Essa orientação deve ter como ponto de partida o percurso e a chegada do trabalho educacional, a aprendizagem e formação integral dos educandos. Nessa perspectiva, temos a certeza de que as demandas e as possibilidades de atuação sob a dimensão da gestão de pessoas são múltiplas e interferem em todas as ações da escola, articulando com todas asdemais dimensões de gestão escolar. Destacamos como elementos fundamentais da gestão de pessoas a motivação e estímulo ao comprometido com o trabalho educacional; a promoção do trabalho em equipe, por meio do acompanhamento cotidiano das diversas interações que ocorrem no interior da escola e do cultivo ao diálogo e comunicação abertos e contínuos, com vistas a superar situações adversas ou de confl itos interpessoais; a formação continuada em serviço para o aprimoramento do processo educacional e as experiências a ele relacionadas; e, o implemento de ações contínuas que promovam a avaliação e autoavaliação de desempenho, que estimulem a refl exão orientadora da revisão de práticas e o aprimoramento contínuo. Outro aspecto importante dos recursos humanos de um estabelecimento escolar diz respeito à gestão dos serviços de apoio. Em geral, o número de funcionários de apoio em relação ao número de alunos por escolas é variável, mas a tendência nas escolas públicas é ter um quadro enxuto de funcionários neste setor. Esta situação reforça a necessidade de se ter um plano de gestão do uso e aplicação do tempo e competência para o atendimento das demandas do cotidiano escolar. Embora a contratação de funcionários para os serviços de apoio na escola pública seja feita via contratação de empresas terceirizadas ou por concurso de pessoal no serviço público, para funções específi cas a realização de trabalho da equipe de apoio deve partir da defi nição das responsabilidades de cada um e do envolvimento de todos para que se possibilite um ambiente educacional positivo para a formação e aprendizagem dos educandos e atendimento dessas necessidades. O entendimento de que os funcionários dos serviços de apoio também são colaboradores do processo educacional deve orientar a gestão desse segmento funcional. É importante que as equipes sejam motivadas pelos gestores para esse objetivo e trabalhem de forma colaborativa, de modo a se apoiarem reciprocamente na realização de seu trabalho. 36 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL Constituem parte do serviço de apoio, além dos serviços gerais de limpeza e manutenção do prédio, os da merenda escolar, os da secretaria escolar e os de apoio ao trabalho pedagógico e administrativo. Manter essa equipe de funcionários focada na construção de ambiente escolar positivo em que todos se sintam responsáveis por uma educação de qualidade é condição fundamental e diz respeito à participação desses servidores na realização do Projeto Político- Pedagógico da escola para que sejam parte efetiva da equipe responsável pela formação e aprendizagem de todos. Cabe ainda destacar a importância da participação da comunidade nessa gestão, colaborando para superar eventuais difi culdades da escola nesses aspectos, o que muitas vezes resulta na aproximação dos diferentes segmentos da comunidade. Os problemas da educação, em geral globais e complexos, demandam por conseguinte uma visão mais abrangente e integradora de todos os segmentos do coletivo escolar. A busca e o implemento de soluções para tais problemas precisam ser realizadas pelas pessoas envolvidas, sob a articulação dos gestores dos diferentes níveis que compõem o sistema educacional até o nível da gestão escolar. Cabe ainda destacar a importância da participação da comunidade nessa gestão, colaborando para superar eventuais difi culdades da escola nesses aspectos, o que muitas vezes resulta na aproximação dos diferentes segmentos da comunidade. Gestão PedagÓgica A gestão pedagógica é a dimensão que estabelece para educação os objetivos gerais e específi cos, e em função dos objetivos são defi nidas as linhas de atuação e as metas a serem atingidas. A gestão pedagógica elabora os conteúdos curriculares, acompanha e avalia as propostas pedagógicas, os objetivos e o cumprimento de metas. Avalia também o desempenho dos alunos, do corpo docente e da equipe escolar como um todo. Também orienta a elaboração e revisão do Projeto Político-Pedagógico – PPP, o qual contém a proposta pedagógica da escola e inclui elementos da gestão pedagógica, como objetivos gerais e específi cos, metas, plano de curso, plano de aula, avaliação e capacitação da equipe escolar. Abordar a gestão pedagógica implica compreender o que esta representa, pois trata-se da organização, coordenação, implementação e avaliação de todos os processos e ações diretamente voltados para a promoção da aprendizagem e formação de crianças, jovens e adultos. O termo “pedagógica” é oriundo da Pedagogia, que pode ser defi nida como a ciência cujo objeto de análise é a educação, seus métodos e princípios; também se relaciona com o estudo das teorias sobre educação e a sistemática e organização dos processos de ensino e aprendizagem. Como defi ne Gadotti (2009, p. 15), “a pedagogia é ciência e arte 37 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 da educação, que tem vocação interdisciplinar e transdisciplinar. Ela cria espaços e condições para o diálogo reciprocamente educativo entre as várias ciências e nos permite o reconhecimento de suas diferenças e semelhanças”. Portanto, o “pedagógico” representa variados níveis de complexidade e abrangência, expressos em condições e contextos diferentes que engendram a formação do ser humano como cidadão sujeito e objeto do processo educativo. A efetividade da ação pedagógica realizada na escola depende da efi ciência que se traduz, basicamente na boa organização e articulação entre as ações promovidas e no adequado uso do tempo, dos recursos humanos na promoção da aprendizagem de todos, porém nem toda ação efi ciente, realizada de acordo com o planejado e com bom uso do tempo e de recursos, promove resultados efetivos no sentido da educação. Dessa forma, acompanhamento e avaliação por sua natureza são atividades que se complementam reciprocamente, cabendo promovê-los de forma associada, no intuito de se fazer as correções dos processos necessárias ao alcance dos resultados desejados. De acordo com Lück (2006), podemos destacar como características de uma gestão pedagógica efi caz aquela que: ● promove a visão abrangente do trabalho educacional e do papel da escola, norteando suas ações para a promoção da aprendizagem e formação humana; ● lidera na escola a orientação da ação de todos os participantes da comunidade escolar pelas proposições do PPP e do currículo escolar; ● promove na escola um ambiente estimulante e motivador orientado para a necessária melhoria dos processos educacionais e seus resultados; ● orienta a elaboração e atualização do currículo escolar, tendo como parâmetro o Referencial Curricular da secretaria de educação a quem está relacionada a unidade escolar; as Diretrizes Curriculares Nacionais; os Parâmetros Curriculares Nacionais; bem como o que concerne à evolução da sociedade, ciência, tecnologia e cultura, na perspectiva, nacional e internacional; ● estimula a integração horizontal e vertical de todas as ações pedagógicas propostas no projeto pedagógico e a contínua contextualização dos conteúdos do currículo escolar com a realidade; ● identifi ca e analisa a fundo limitações e difi culdades das práticas pedagógicas no seu dia a dia, formulando e introduzindo perspectivas de superação, mediante estratégias de liderança, supervisão e orientação pedagógica; ● acompanha e orienta a melhoria no processo ensino-aprendizagem na sala de aula mediante observação e diálogo de feedback correspondente; 38 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL ● articula as atividades extrassala de aula e orientadas por projetos educacionais diversos com as áreas de conhecimento e plano curricular, de modo a estabelecer orientação integrada; ● orienta, incentiva e viabiliza oportunidades pedagógicas especiais para alunos com difi culdades de aprendizagem e necessidades educacionais especiais; ● promove e organiza a utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na melhoriado processo ensino-aprendizagem. Por fi m, estas ações engendram a gestão pedagógica como dimensão de convergência de todas as outras dimensões de gestão escolar, vale dizer, a de recursos humanos e a administrativa e fi nanceira. Todo o trabalho desenvolvido pelo gestor pedagógico precisa ter claro os fundamentos teóricos que orientam todas as ações do trabalho escolar e que mobilizam seus sujeitos. A defi nição dos objetivos, estratégias de seu alcance e instrumentos de acompanhamento e avaliação, e até mesmo a interação da equipe de trabalho da escola com sua comunidade são infl uenciados pelos pressupostos teórico-fi losófi cos e pedagógicos que podem ser explicitados no Projeto Político-Pedagógico – PPP – da unidade educativa. Afi rmamos que podem, porque em muitos casos o que se explicita no PPP de uma escola, não se desenvolve na prática de todos e de cada um dos profi ssionais que atua na escola. Neste sentido, é muito importante a percepção da equipe gestora pedagógica de que o processo de realização dos objetivos fi ns da educação por sua complexidade, dinâmica e abrangência necessita da articulação entre concepções, estratégias, métodos e conteúdos. E isso demanda esforços, recursos e ações, com foco no estudo, acompanhamento e avaliação continuada do processo como um todo, não só dos resultados alcançados. Tal processo de articulação é o papel central da gestão pedagógica, que em algumas realidades de escolas públicas é exercida pelo diretor e em outras compartilhada com um coordenador ou supervisor pedagógico. Em ambos os casos, para Lück, a responsabilidade pela sua efetividade permanece sempre com o diretor escolar, cabendo-lhe a liderança, coordenação, orientação, planejamento, acompanhamento e avaliação do trabalho pedagógico exercidos pelos professores e praticados na escola como um todo (LÜCK, 2006, p. 30). Todo o trabalho desenvolvido pelo gestor pedagógico precisa ter claro os fundamentos teóricos que orientam todas as ações do trabalho escolar e que mobilizam seus sujeitos. É muito importante a percepção da equipe gestora pedagógica de que o processo de realização dos objetivos fi ns da educação por sua complexidade, dinâmica e abrangência necessita da articulação entre concepções, estratégias, métodos e conteúdos. 39 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 O diretor/gestor, na realização de seu trabalho de gestão pedagógica, necessita orientar um planejamento no qual os critérios utilizados na seleção dos conteúdos curriculares e dos métodos utilizados estejam transparentes, bem como os contextos políticos e socioculturais privilegiados nas práticas escolares implementadas e a visão de sociedade com que se comprometem. Na elaboração do PPP, planejamento anual e planos de aula deve-se levar em consideração os saberes de crianças, jovens e adultos, e a escolha da melhor metodologia para a articulação destes com o saber escolar, tendo em vista o desenvolvimento de um currículo que contemple as novas demandas que o mundo contemporâneo traz para a escola. Vale um destaque para a questão de elaboração do Projeto Político- Pedagógico, que precisa ser resultante de uma construção do coletivo escolar, que traduza a escola e suas fi nalidades a partir das necessidades que lhe estão colocadas, com o pessoal – professores/alunos/equipe pedagógica/pais – e com os recursos de que dispõem pela realidade em que se insere. Essas condicionantes não são imutáveis, daí que o PPP deve ser revisto periodicamente, contribuindo para sua depuração constante e cada vez maior aproximação da escola com o seu papel social como instituição educativa. A gestão pedagógica deve estar voltada para alcançar o equilíbrio de construir a unidade do trabalho educacional, contemplando, contudo, a diversidade e peculiaridade de cada escola. O alcance desse todo, internamente articulado com unidade de princípios e de objetivos, se assenta sobre a capacidade do gestor escolar de articular unidade e diversidade. É essa articulação que possibilita a construção e a existência da escola e de uma direção coordenadora e integrada de partes e elementos tão distintos e complexos que se fazem representar na escola e que a constituem. Um dos desdobramentos da gestão escolar e que é de crucial importância diz respeito a como esta gestão acontece no cotidiano das unidades escolares, alguns autores a destacam como gestão do cotidiano escolar e seu desenvolvimento envolve, de acordo com Lück (2006): ● a observação das regularidades do cotidiano escolar, inclusive a conduta de professores, funcionários e alunos, o modo como respondem aos desafi os e como interagem entre si, com foco na efetividade do processo educacional; ● a adoção de regularidades e rotinas de procedimentos capazes de maximizar os efeitos positivos das práticas e processos educacionais; 40 GESTÃO EM EDUCAÇÃO INTEGRAL ● a promoção de condições necessárias à superação das regularidades que prejudicam a formação de ambiente escolar educativo positivo; ● a construção de grade de atividades e distribuição de aulas e projetos com vistas ao melhor aproveitamento do tempo na organização do calendário escolar e o seu uso máximo na promoção da aprendizagem e inclusão de todos e todas; ● a inserção no cotidiano da escola da utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação, como apoio à gestão escolar e favorecimento da aprendizagem signifi cativa de crianças, jovens e adultos; ● o zelo para o cumprimento das rotinas de limpeza, segurança, qualidade da merenda escolar, realizando e fazendo realizar verifi cações rotineiras, assim como providenciando as manutenções e correções necessárias; ● a conservação e uso adequado de espaços, equipamentos e materiais, limpeza, organização, segurança, merenda escolar, cumprimento de horários, providenciando as correções necessárias; ● a organização de momentos de planejamento que sejam de efetiva preparação de melhoria das práticas educacionais. Por representar o cotidiano escolar, o conjunto de práticas, relações e situações que ocorrem efetivamente no dia a dia de uma instituição educativa, constituem a realidade na qual se inserem crianças, jovens em processo de formação, então deve ser considerado no planejamento das ações de educadores e gestores. Conhecer como se dão as práticas e as relações no dia a dia da escola consiste em um importante elemento da ação educacional por colocar em evidência a realidade da escola como ela é. Podemos concluir que mudanças nas práticas do cotidiano são necessárias em conjunto com mudanças nos planos de ação, projeto político-pedagógico, condições físicas e materiais, normas e regulamentos, organização de seu espaço, dentre outros para que haja a efetiva qualifi cação do trabalho pedagógico desenvolvido nas instituições educativas. Posto isso, a ação por parte do gestor em debruçar-se sobre a rotina escolar com o olhar mais atento, a fi m de que possa conhecer as práticas comuns que marcam o cotidiano, é imprescindível para compreender seus desdobramentos no conjunto das ações que infl uenciam a qualidade do desempenho educacional. 41 GESTÃO ESCOLAR E EDUCAÇÃO INTEGRAL Capítulo 1 Atividade de Estudos: 1) Pare e refl ita sobre a sua experiência na escola (pode ser na que você trabalha ou na que você tenha estudado) e a partir do que vimos até agora, faça uma análise de cada dimensão da gestão escolar. Reproduza o quadro abaixo, marcando sua avaliação em satisfatória, regular ou insatisfatória para cada tipo de gestão e justifi cando sua escolha. Gestão Sati sfatória Regular Insati sfatória Por que ... De pessoas Financeira Pedagógica Gestão Democrática e ParticipatiVa Chegamos à questão da gestão democrática, que na educação, ainda que reconhecida como um valor já consagrado, necessita de estudo e avaliação constante para fi rmar-se
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