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2 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Copyright 2019 Futebol Interativo / Natal – RN ©
Coordenador
Marcos Antonio Mattos dos Reis 
Autores
Maickel Padilha 
Marcos Antonio Mattos dos Reis 
Designer Editorial e Interação
José Antonio Bezerra Junior
Capa
Marcus Arboés
Para sua melhor interação clique em nossa navegação.
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3 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Sumário
Introdução
INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
Capítulo 1
DESENVOLVENDO ATLETAS DE FUTEBOL
Capítulo 2
INICIAÇÃO ESPORTIVA X ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE NO FUTEBOL
Capítulo 3
COORDENAÇÃO TÉCNICA NO FUTEBOL DE BASE 
Capítulo 4
COORDENAÇÃO METODOLÓGICA NO FUTEBOL DE BASE
Capítulo 5
 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO JOGADOR DE FUTEBOL 
Capítulo 6
 COMO ENSINAR O FUTEBOL 
Capítulo 7
IDENTIFICANDO TALENTOS X PROCESSOS DE AVALIAÇÃO 
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4 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
introdução
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5 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
 Este material didático tem como finalidade dar suporte para o curso online 
“Iniciação e Futebol de Base” debatendo assuntos sobre o processo de formação, 
identificação e seleção de jogadores de futebol, desde as fases iniciais da vida 
humana até as últimas categorias competitivas do futebol de base. Neste sentido, 
este material possui uma visão holística acerca do futebol de base, apresentando 
diversos conteúdos que permitam os alunos mergulharem em diferentes e ricas 
áreas da formação de jogadores de futebol. Ao abordar o futebol de base, pode-
-se dividir em três estágios: iniciação esportiva (6-10 anos de idade), especializa-
ção esportiva (11-15 anos de idade) e categorias de base (16-20 anos de idade). A 
iniciação esportiva consiste no primeiro contato do sujeito com qualquer prática 
esportiva. Já a especialização esportiva coloca o indivíduo em um contexto mais 
restrito do futebol, visando focar em habilidades motoras específicas da modali-
dade. Obviamente, a utilização do futsal nesse processo ainda pode ser bastante 
utilizada, inclusive como transição da iniciação à especialização esportiva, tendo 
em vista que é um esporte que faz parte da família dos jogos jogados com os pés. 
Por fim, a categoria de base, que é a fase coloca os jogadores em contato com o 
alto rendimento, a partir de diversos cuidados, como o aumento da quantidade 
diária de prática, por exemplo.
Essa divisão não é um produto fechado, mas ajuda a entender o quão com-
plexo é a formação de um jogador de futebol a partir das finalidades específicas 
de cada categoria. Existem diversas formas que permitem enxergar o futebol de 
base e nos próximos capítulos iremos abordá-las de acordo com cada conteúdo 
específico. Neste sentido, esse material didático traz diversas informações que 
podem ser transformadas em conhecimento no processo de ensino e apren-
dizagem do futebol, mostrando fatores biopsicossocioculturais que afetam a 
formação dos jogadores e ferramentas que permitem identificar e selecionar 
o talento esportivo. Além disso, tanto esse material didático, quanto o curso “Ini-
ciação e Futebol de Base”, trazem conteúdo sobre duas funções emergentes no 
futebol contemporâneo: coordenação técnica e coordenação metodológica no 
futebol de base. 
Formado por um corpo de professores com experiências teóricas e práticas, 
que trabalham em grandes clubes do futebol brasileiro, como América MG, Co-
rinthians, Flamengo e Vasco, o curso “Iniciação e Futebol de Base” apresenta uma 
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6 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
estrutura de conhecimento que visa promover a qualificação de quem deseja 
trabalhar no processo de formação de jogadores de futebol em diferentes pers-
pectivas. A figura 1 mostra a estrutura curricular do curso e a sequência de conte-
údo do material didático. Tenham todos uma excelente leitura e um ótimo curso.
Figura 1 – Estrutura curricular do curso “Iniciação e Futebol de Base”
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7 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
DESENVOLVENDO ATLETAS DE FUTEBOL
MARCOS REIS
1
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8 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
A formação de jogadores de futebol é influenciada por diferentes restrições que interagem entre si: tarefa, ambiente e sujeito (figura 2) (NEWELL, 1986). As restrições das tarefas estão relacionadas às manipulações dos exer-
cícios geralmente feitas pelo professor/treinador, que serão discutidos nos pró-
ximos módulos (em especial módulo 6). Já as restrições do ambiente e do sujeito 
são constrangimentos que não podem ser manipulados pelo professor/treinador, 
mas que afetam diretamente no processo de formação de jogadores e estão 
relacionadas ao desenvolvimento humano (ARAÚJO et al., 2010). Elas podem ser 
consideradas como fatores biopsicossocioculturais que determinam as possibi-
lidades do sujeito se tornar jogador de futebol e que quando caminham juntas, 
se tornam mais preponderantes do que as restrições das tarefas (REIS, 2016).
Figura 2 - Modelo de restrições adaptado de Newell (1986).
Dentro desta perspectiva, os professores/treinadores devem conhecer esses 
fatores biopsicossocioculturais a fim de ajustar as restrições das tarefas que per-
mitam potencializar as habilidades dos jogadores a partir dos diferentes perfis. 
Neste módulo, serão abordados os seguintes fatores biopsicossocioculturais: 
maturação biológica, efeito da idade relativa, cegueira inatencional e local de 
nascimento e criação (REIS, 2016). Contudo, existem diversos outros fatores que o 
treinador precisa conhecer a fim de ofertar os estímulos adequados a partir das 
características de cada jogador.
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9 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Imagine o seguinte contexto...
Você foi contratado para trabalhar no departamento de captação de um 
grande clube do futebol brasileiro. Você foi escalado para selecionar um zaguei-
ro para a categoria sub-13 em uma competição no interior de Minas Gerais. No 
final da competição, você selecionou gostou de dois zagueiros: Anderson Vital e 
o Ricardo Pedra. Os dois nasceram no dia 1º de janeiro de 2006 e apresentaram 
o mesmo nível de habilidade (tanto nas ações com bola, quanto nas ações sem 
bola). Contudo, o Anderson Vital tinha 1,72 metros de estatura e o Ricardo Pedra 
1,60 metros de estatura. Qual dos dois você selecionaria? (após chegar a uma 
resposta, veja figura 3).
Figura 3 – Os zagueiros Anderson Vital e Ricardo Pedra 
(personagens fictícios) e suas respectivas estaturas nos anos de 2019 e 2024.
Na figura 3, os zagueiros Anderson Vital e Ricardo Pedra (personagens fictícios) 
apresentam estaturas muito distintas aos 13 anos de idade cronológica. Porém, 
após 5 anos, aos 18 anos de idade de idade cronológica, essa distância na esta-
tura praticamente desapareceu. Será que aos 13 anos de idade cronológica eles 
apresentavam uma idade biológica diferente e isso fez com que você selecionas-
se o Anderson Vital simplesmente pela estatura? Será que essa questão biológica 
pode afetar no processo de formação desses jogadores? Vamos debater sobre 
essas implicações a seguir. 
Pensando 
a prática
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10 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
As categorias de base no futebol são organizadas com base na idade crono-
lógica dos jogadores (MALINA et al., 2015). Porém, não é incomum encontrar jovens 
jogadores cuja idade cronológica não acompanhe a idade biológica (podendo 
estar abaixo ou acima dela) (como por exemplo o caso fictício da figura 3), o 
que pode representar características funcionais distintas dentro de um mesmo 
grupo de indivíduos (MALINA et al., 2015; MALINA, 2014; MIRWALD et al., 2002). Isso 
ocorre por conta da maturação biológica, que consiste no processo natural em 
que os tecidos, órgãos e sistemas de todo ser humano passam para chegar na 
fase adulta (MALINAet al., 2015; MALINA, 2014). Ela pode ser identificada através de 
diferentes sistemas biológicos do ser humano: sexual, ósseo e somático (MALINA, 
2014). 
A maturação óssea reflete na proliferação de células da cartilagem do es-
queleto humano ossificando-o por completo nas placas de crescimento (MALINA, 
2014). A maturação sexual consiste no desenvolvimento dos eixos hipotalâmico-
-hipofisário-gonadal e adrenal do sistema neuroendócrino e é identificada a 
partir do incremento dos órgãos genitais e dos pelos pubianos (MALINA et al., 
2015; MALINA, 2014). Já maturação somática, método mais utilizado e acessível 
por conta do baixo custo e por não ser invasivo (BACIL et al., 2015; MIRWALD et al., 
2002), é identificada a partir da distância em anos que o indivíduo se encontra 
do pico de velocidade de crescimento (PVC) (MIRWALD et al., 2002). 
A avaliação do nível maturacional dos jogadores através do PVC é feita a 
partir da obtenção das seguintes variáveis antropométricas, além da idade cro-
nológica do indivíduo: estatura (cm), massa corporal (kg), altura tronco-cefálica 
(cm) e comprimento de membros inferiores (cm). Em seguida, os dados são co-
locados na seguinte equação a fim de gerar um coeficiente que representa a 
distância em anos que os jogadores se encontram dos seus respectivos PVC:
Equação para encontrar 
o nível de maturação biológica através do PVC
-9,236 + 0,0002708 x 
(comprimento de membros inferiores x altura tronco-cefálica) -
0,001663 (idade x comprimento de membros inferiores) +
0,007216 (idade x altura tronco-cefálica) +
0,02292 (massa corporal / estatura)
Com base no coeficiente gerado pela equação, os jogadores podem ser es-
tratificados em três grupos: Pré-Estirão (jogadores que não atingiram o PVC, coe-
ficiente < -0,5), Estirão (jogadores que estavam atingindo o PVC, coeficiente entre 
-0,5 e 0,5) e Pós-Estirão (jogadores que já tinham atingindo o PVC, coeficientes 
> 0,5). A partir disto, o professor/treinador terá uma referência de qual estágio 
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11 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
maturacional o jogador se encontra e quando ele atingirá o PVC, podendo per-
sonalizar os estímulos de acordo com a necessidade de cada sujeito. Por quê é 
importante essa identificação no processo de formação, identificação e seleção 
de jogadores?
Muitas das vezes no processo de seleção de jogadores de futebol, os aspectos 
físicos acabam se tornando o cerne das atenções (DODD e NEWANS, 2018). Isso 
faz com que a maturação biológica seja um fator simultaneamente discrimina-
dor e de confusão na formação, identificação e seleção de jogadores, favore-
cendo aqueles já amadurecidos biologicamente, que passam a produzir mais 
testosterona, o que altera as características antropométricas influenciando na 
capacidade neuromuscular, gerando uma vantagem no desempenho atlético 
(MOREIRA et al., 2017). Nessa perspectiva, jogadores de futebol amadurecidos pre-
cocemente possuem vantagens no desempenho físico, visto que costumam ser 
mais fortes (MURTAGH et al., 2018; BIDAURRAZAGA-LETONA et al., 2017a; BORGES et 
al., 2017), mais velozes (ROMMERS et al., 2019; BROWNSTEIN et al., 2018), mais ágeis 
(KURANTH et al., 2017) e mais resistentes aeróbica (BIDAURRAZAGA-LETONA et al., 
2017a; BORGES et al., 2017) e anaerobicamente (VALENTE-DOS-SANTOS et al., 2012b) 
do que os jogadores amadurecidos tardiamente.
Bidaurrazaga-Letona et al. (2017b) observaram mais jogadores maturados 
biologicamente entre os novos integrantes do que entre os que já faziam parte 
da equipe sub-15. Em outro clube de futebol, na categoria sub-17, os jogadores 
recrutados no início da temporada eram mais altos, possuíam mais massa ma-
gra e atingiram o PVC antes do que os jogadores que foram dispensados do 
clube (AQUINO et al., 2017). Importante frisar que em ambos estudos o desem-
penho físico e/ou atlético não foi explicitamente considerado como critério de 
seleção. Essas evidências dão suporte à premissa de que treinadores de futebol 
tendem a associar implicitamente o talento esportivo ao tamanho do jogador 
(PEÑA-GONZÁLEZ et al., 2018; FURLEY e MEMMERT, 2016; MASTERS, POOLTON e VAN DER 
KAMP, 2010). 
Em função disso, é possível que o processo de formação, identificação e sele-
ção de jogadores esteja sujeito a um viés ao privilegiar jogadores amadurecidos 
biologicamente, sem respeitar o tempo necessário para o desenvolvimento dos 
jogadores que ainda não atingiram esse estado. Nesse sentido, Aquino et al. (2017) 
e Malina et al. (2005) identificaram melhor desempenho em habilidades técnicas, 
tais como, controle de bola, drible, passe e chute em jogadores de futebol com 
maturação biológica precoce em relação à tardia. Porém, quando a maturação 
biológica foi controlada, o desenvolvimento das habilidades com bola evoluiu 
com o avanço da idade cronológica, independentemente do estado matura-
cional (VALENTE-DOS-SANTOS et al., 2012a). Cabe destacar que nesses estudos, 
os procedimentos de avaliação não simularam situações de jogo, ou seja, sem 
interações de cooperação e oposição, o que pode gerar interpretações equivo-
cadas do desempenho, favorecendo ainda mais o viés físico.
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12 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Em jogos reduzidos, a literatura científica traz que não foi encontrada corre-
lação entre maturação biológica e habilidades com bola (SILVA et al., 2011), joga-
dores de diferentes níveis maturacionais obtiveram desempenho tático pareci-
dos, apesar da correlação moderada entre eficácia ofensiva e potência aeróbia 
(BORGES et al., 2018), e jogadores que já tinham atingindo o PVC realizaram mais 
ações táticas com bola para frente, ações táticas sem bola de criação de linha 
de passe próximo do colega portador da bola e linha de passe para trás distante 
dele do que os jogadores que ainda não tinham atingido o PVC (BORGES et al., 
2017).
Reis (2016) avaliou o comportamento tático de 78 jogadores divididos em três 
grupos de acordo com o nível de maturação somática deles: pré-estirão (que 
ainda não tinham alcançado o PVC), estirão (que estavam passando pelo PVC) e 
pós-estirão (que já tinham alcançado o PVC). Foi encontrado que os jogadores do 
pós-estirão e do estirão tiveram melhor desempenho na penetração (progressão 
com bola na direção da baliza ou linha de fundo adversária), enquanto os joga-
dores do pré-estirão apresentaram maior variabilidade tática dos que os seus 
pares que já tinham alcançado ou estavam alcançando a maturação biológica.
Esses resultados mostram que os jogadores amadurecidos biologicamente 
podem se favorecer da vantagem física por conta de aspectos biológicos para 
realizar ações com bola, que geralmente são as mais observadas na seleção de 
jogadores. Por outro lado, os jogadores que ainda não amadureceram biologica-
mente criam mais repertório de jogo para que possam se manter competitivos 
diante da desvantagem biológica que apresentam. Retomando ao exemplo da 
figura 3, provavelmente o Ricardo Pedra buscou estratégias cognitivas e motoras 
para poder jogar o jogo de futebol e, ao atingir o nível maturacional biológico 
do Anderson Vital, pode ter ultrapassado o nível de habilidade do Anderson Vital 
(caso ele tenha sido estimulado a jogar a partir da sua vantagem física). A figura 
4 mostra um exemplo real dessa questão no futebol contemporâneo, o jogador 
Lucas Paquetá quase foi dispensado das categorias de base do Flamengo por 
causa da sua baixa estatura, tendo em vista, muito provavelmente, que o jogador 
atingiu o PVC de forma tardia em relação aos seus pares de idade cronológica.
Figura 4 – Reportagem do globoesporte.com destaca 
o alcance do PVC de Lucas Paquetá em um curto período 
Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2015/12/joia-2016-apos-
ganhar-27-centimetros-em-tres-anos-paqueta-mira-topo-no-fla.html
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http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2015/12/joia-2016-apos-ganhar-27-centimetros-em-tres-anos-paqueta-mira-topo-no-fla.htmlhttp://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2015/12/joia-2016-apos-ganhar-27-centimetros-em-tres-anos-paqueta-mira-topo-no-fla.html
13 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Desta forma, o professor/treinador deve criar estratégias metodológicas que 
permitam aos jogadores que ainda não atingiram a maturação biológica re-
alizem mais habilidades com bola, enquanto os seus pares que já atingiram a 
maturidade biológica possam realizar mais habilidades sem bola relacionadas à 
coordenação interpessoal voltada para ocupação e criação de espaços vazios 
(REIS, 2016). Além disso, mais uma alternativa para diminuir o impacto da matu-
ração biológica e deixar o processo de formação mais holístico é a organização 
de categorias competitivas e competições esportivas a partir da idade biológica 
(CUMMING et al., 2018).
Outro fator que pode ser influenciado pela maturação biológica e que influen-
cia o processo de formação de jogadores de futebol é o efeito da idade relativa 
(FURLEY e MEMMERT, 2016). O efeito da idade relativa consiste na categorização 
assimétrica de indivíduos de uma mesma faixa etária e categoria competitiva, 
a partir de um ponto de corte (geralmente 1º de janeiro), sendo que eles podem 
apresentar quase 12 meses de diferença entre as suas idades cronológicas. Isso 
pode implicar vantagens e desvantagens físicas e cognitivas afetando o desem-
penho esportivo ao longo de todo o processo de formação (HELSEN et al., 2012).
Por exemplo, Williams (2010) verificou que que cerca de 40% de jogadores de 
futebol que disputaram Copas do Mundo Sub-17 nasceram no primeiro trimestre 
do ano (janeiro, fevereiro, março) e apenas 16% deles nasceram no último tri-
mestre do ano (outubro, novembro, dezembro). Ishigami (2016) verificou que os 
jogadores de futebol nascidos próximo do ponto de corte (ou seja, nos primeiros 
meses do ano), possuem mais chances de se tornarem jogadores de futebol do 
que os indivíduos que nasceram no final do ano. Furley, Memmert e Weigelt (2016) 
verificaram que dos 100 jogadores de futebol mais valiosos (economicamente 
falando) cerca de 60% nasceram no primeiro semestre do ano.
Desta forma, percebe-se que o efeito da idade relativa influencia no processo 
de formação, identificação e seleção de jogadores de futebol. Portando, os pro-
fessores/treinadores de futebol das categorias de base devem estar atentos a 
isso a fim de que ofereçam oportunidades igualitárias para todos os jogadores, 
aumentando a possibilidade de sucesso na formação de jogadores.
Por outro lado, Côté et al. (2006) chamam a atenção para quando o “onde” é 
mais importante do que o “quando” em relação ao nascimento dos praticantes 
de esportes coletivos. Esse “quando” está relacionado ao local de nascimento 
do jogador. Os pesquisadores encontraram que indivíduos que nascem em ci-
dades americanas entre 50 e 99 mil habitantes apresentam mais chances de 
se tornarem jogadores de basquetebol, hóquei, beisebol e golfe em relação as 
outras cidades com menor e maior porte. Isso ocorre porque essas cidades são 
grandes o suficiente para oferecer infraestrutura e suporte técnico para a prá-
tica esportiva de qualidade, porém não são tão grandes para oferecer outras 
atividades que diminuiriam o tempo de prática dos jogadores.
Em relação ao futebol, Costa, Cardoso e Garganta (2013) verificaram que 82,3% 
dos jogadores que disputaram o Campeonato Brasileiro da Série A de 2010 foram 
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14 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
oriundos de cidades com índice de desenvolvimento humano (IDH) médio (entre 
0,501 e 0,800). Além disso, somente 2,0% dos jogadores nasceram em cidades com 
IDH abaixo de 0,500. Tais resultados reforçam os achados de Côté et al. (2006) 
para outros esportes.
Contudo o estudo de Costa, Cardoso e Garganta (2013) não apresenta se es-
ses jogadores foram formados de fato nas cidades que nasceram. Mas já é uma 
informação importante para entender a importância do local de nascimento e 
as políticas públicas que podem ser implementadas para o desenvolvimento de 
jogadores de futebol em conjunto com os clubes.
Por fim, após serem apresentados fatores biológicos, sociais e culturais, será 
apresentado um fator psicológico que pode afetar na formação dos jogadores 
de futebol que é a cegueira inatencional (SCHMIDT e LEE, 2016). A cegueira inaten-
cional consiste na ação de negligenciar características, gestos e movimentos em 
um ambiente por conta do foco de atenção específico em determinada tarefa. 
Por exemplo, quando um treinador solicita ao seu jogador que ele faça marcação 
individual em determinado adversário, esse jogador irá focar somente naquele 
jogador, negligenciando todo e qualquer tipo de movimentação ao seu redor. Isso 
pode gerar uma falha na detecção de um objeto ou sujeito inesperado (outro 
adversário ocupando um espaço vazio próximo da baliza, por exemplo) mesmo 
que esteja na frente do jogador (SCHMIDT e LEE, 2016; MEMMERT, 2011).
Memmert (2011) destaca que existe uma relação entre criatividade, experiên-
cia esportiva e cegueira inatencional, pois os jogadores experientes conseguem 
perceber os colegas de equipe livres e podem tomar decisões originais para 
realizar passes, por exemplo. Enquanto os jogadores inexperientes ficam “cegos” 
e não conseguem perceber as oportunidades de passe que o ambiente oferece, 
caracterizando o famoso “olhei, mas não consegui ver”. Furley, Memmert e Heller 
(2010) verificaram que jogadores de basquetebol experientes possuem menos 
chances de não enxergar em um vídeo um gorila passando no meio de uma 
troca de passes do basquetebol.
Desta forma, o professor/treinador de futebol deve entender esse mecanismo 
psicológico e criar exercícios adequados para diminuir a cegueira inatencional 
e permitir que os jogadores possam perceber as oportunidades que o ambien-
te de jogo oferece tomando decisões e executando habilidades que permitam 
solucionar os problemas do jogo (CORRÊA et al., 2014). Por outro lado, também 
deve-se tomar cuidado com os estímulos que são ofertados aos jogadores para 
que eles não ampliem a cegueira inatencional. 
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15 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Acesse o link abaixo, faça o teste e veja o seu desempenho atencional
TESTE DE ATENÇÃO 
O que você acha de aplicar esse teste com seus jogadores? 
O seu treino está potencializando esse fator cognitivo?
Boas questões para serem refletidas!
Leia clicando 
no conteúdo
http://www.futebolinterativo.com.br
https://www.youtube.com/watch?v=FzeXeXR9cCs
16 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS 
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Revista Paulista de Pediatria, v. 33, n. 1, p. 114-121, 2015.
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CÔTÉ, J. et al. When “where” is more important than “when”: birthplace and birthdate 
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24, n. 10, p. 1065-1073, 2006.
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17 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
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20 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
INICIAÇÃO ESPORTIVA X ESPECIALIZAÇÃO 
PRECOCE NO FUTEBOL
MARCOS REIS
2
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21 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
O esporte é um patrimônio cultural da humanidade, pois foi construído e trans-
mitido a partir de um conjunto de valores, podendo ser analisado em diferentes 
perspectivas, sendo uma delas a organização hierárquica. Por exemplo, o esporte, 
enquanto todo, pode ser dividido em partes: esportes coletivos e esportes indi-
viduais. Posteriormente, cada uma dessas partes se torna todo e geram novas 
partes, criando ramificações hierárquicas a partir das existentes (figura 5). Neste 
sentido, o todo atua como mecanismo restritivo das partes, mas não as contro-
lam, pois elas apresentam características particulares de acordo com a lógica 
interna de cada modalidade esportiva (TANI e CORRÊA, 2006).
A partir disso, ao observar os esportes coletivos de invasão (nível de análise 
3 da figura 5), nota-se que existem denominadores em comum que fazem com 
que essas modalidades esportivas se assemelhem entre si, como por exemplo: 
móbil (objeto a ser disputado pelas equipes, vide a bola, por exemplo), terreno de 
confronto, relações de cooperação e oposição entre os jogadores, regras, alvo a 
ser atingido, entre outros (GARGANTA, 1995). Dentro desta perspectiva, quando se 
fala de iniciação esportiva, será que é melhor as crianças praticarem somente 
uma modalidade esportiva ou será que a prática de vários esportes não seria 
melhor para a sua formação? Por exemplo, no caso do futebol, não seria interes-
sante o sujeito praticar diferentes esportes?
Figura 5: Organização hierárquica do esporte
A partir desses questionamentos, o debate sobre como deve ocorrer a ini-
ciação esportiva no processo de formação de jogadores de futebol é de funda-
mental importância. A iniciação esportiva pode ser entendida como o primeiro 
contato que o indivíduo tem com qualquer modalidade em uma perspectiva 
formal, caracterizada por uma sistematização de treinamento e pela disputa de 
competições (escolar, interclubes, etc.). A iniciação no esporte pode ser feita sob 
uma perspectiva generalista ou uma abordagem específica, denominada de 
especializaçãoprecoce (MEMMERT e ROTH, 2007; GRECO, 1998).
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22 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Na iniciação esportiva generalista, o sujeito pratica diferentes modalidades 
esportivas sem perder o foco principal (no caso desse material, será o futebol) 
(MEMMERT e ROTH, 2007). Essa permissividade a diversidade de práticas esporti-
vas ao indivíduo pode ser intra ou inter-sessões. Na intra-sessão, ou seja, dentro 
de um treino, o professor cria um ou dois exercícios (pode ser no aquecimento, 
entre os exercícios do futebol ou no final do treino) que são de outras modalida-
des esportivas (handebol, basquetebol e hóquei, por exemplo). Na inter-sessões, 
ou seja, entre treinos, o professor dedica um dia de treino para que as crianças 
realizem exercícios de outros esportes coletivos de invasão.
Já na iniciação esportiva específica, as crianças praticam somente exercícios 
do futebol de campo, priorizando as habilidades motoras específicas (com e sem 
bola) da modalidade. Portanto, percebe-se que são abordagens de iniciação 
esportiva diferentes e que podem gerar mecanismos de adaptação diferentes 
nas crianças. Abaixo, vamos observar como a literatura científica tem investigado 
essas abordagens e como os resultados encontrados podem nortear e auxiliar 
escolas e clubes de futebol no processo de formação de jogadores.
Memmert e Roth (2007) fizeram um estudo com o objetivo de verificar os efei-
tos da iniciação esportiva generalizada e específica na tomada de decisão cria-
tiva de crianças com a média de 7 anos de idade durante 15 meses de interven-
ção. Eles dividiram as crianças em seis grupos experimentais: futebol específico, 
handebol específico, hóquei específico (as crianças desses três grupos apenas 
praticavam essas modalidades e, inclusive, participavam de competições), fute-
bol não específico, handebol não específico e hóquei não específico (as crianças 
desses três grupos praticaram durante seis meses exercícios de todas as mo-
dalidades e durante nove meses participaram apenas das suas modalidades, 
contudo, sem participar de competições).
Em relação ao futebol, tanto os grupos específico e não específico melhora-
ram a tomada de decisão criativa relacionada ao passe e às movimentações 
sem a posse de bola. Também foi verificado que o grupo do hóquei não específico 
permitiu melhor desempenho na prática do futebol. Além disso, as crianças dos 
grupos específicos melhoraram o desempenho 35% nos primeiros seis meses de 
intervenção, enquanto os indivíduos dos grupos não específicos aumentaram 
apenas 10%. Contudo, nos últimos nove meses de intervenção, os sujeitos dos 
grupos específicos melhoraram 21% e os grupos não específicos 32% (MEMMERT 
e ROTH, 2007).
Oppici et al. (2017) fizeram uma comparação entre o desempenho de joga-
dores de futsal que nunca tinham praticado futebol e jogadores de futebol que 
nunca tinham jogado futsal. Os jogadores tinham aproximadamente 13 anos de 
idade. Foi verificado que os jogadores de futsal realizam mais passes por minuto, 
possuem menor área individual de jogo ao redor do portador da bola e menor 
tempo para receber a bola do que os jogadores de futebol de campo.
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23 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Após a identificação desses resultados, Oppici et al. (2018) fizeram outro expe-
rimento em que colocaram os jogadores de futsal para jogar futebol de campo 
e vice-versa. Foi verificado que os jogadores de futsal tiveram mais passes bem-
-sucedidos no futebol de campo do que no futsal, enquanto os jogadores de 
futebol de campo se mantiveram os seus desempenhos estáveis nos dois jogos. 
Além disso, os jogadores de futsal tiveram mais passes bem-sucedidos do que 
os jogadores de futebol de campo no jogo de futebol de campo.
Antes do primeiro toque na bola, os jogadores de futsal direcionavam sua 
atenção para outros jogadores mais vezes do que os jogadores de futebol de 
campo no jogo de futebol. Além disso, o jogo de futsal promoveu maior atenção 
orientada para outros jogadores do que o jogo de futebol (OPPICI et al., 2018). O 
que é uma característica de jogadores experientes no futebol de campo, que 
olham mais para os jogadores e o espaço vazio no campo, enquanto os joga-
dores inexperientes olham mais para a bola (ROCA et al., 2011). 
Müller et al. (2016) também verificaram que o futsal promove maior eficácia 
defensiva do que o futebol. Com isso, os contributos do futsal para o futebol vão 
além dos aspectos ofensivos do jogo. Neste sentido, percebe-se os motivos, tes-
tados cientificamente, pelo qual o futsal é considerado um esporte doador para 
o futebol de campo, em especial no Brasil. Por isso ele é caracterizado como uma 
das principais ferramentas na formação de jogadores de futebol (TRAVASSOS, 
ARAÚJO e DAVIDS, 2018).
Desta forma, observa-se através da literatura científica que as duas aborda-
gens (iniciação esportiva generalizada e específica) são eficazes na melhora do 
desempenho dos jogadores na iniciação esportiva, com a perspectiva genera-
lizada permitindo a transferência de habilidades. A transferência da aprendiza-
gem de habilidades pode ser definida como o processo de adaptação de deter-
minado comportamento a um novo contexto de prática, avaliada na obtenção 
de desempenho e não em um movimento estereotipado (NEWELL, 1986). Conclui-
-se que a prática de outros esportes pode ajudar na formação de jogadores de 
futebol, tanto em aspectos ofensivos, quanto defensivos, e que o professor pode 
manipular a utilização de outras modalidades esportivas durante as sessões de 
treinos ou deixando um dia de prática alternativa no seu planejamento.
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24 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Figura 6: A transferência de habilidades (perceptivas, cognitivas e motoras) 
de diferentes esportes coletivos para o futebol.
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25 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS
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26 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
COORDENAÇÃO TÉCNICA 
NO FUTEBOL DE BASE
MARCOS REIS
3
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27 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
A coordenação técnicaé a função que visa gerenciar todo o processo de 
formação de jogadores de futebol na base, incluindo a identificação e seleção. 
A partir disto, o coordenador técnico deve dominar duas habilidades essenciais 
para a função: conhecimento técnico e gestão de recursos humanos (CARRA-
VETTA, 2012).
Entende-se como técnica o conjunto de procedimentos que permitem a reso-
lução de problemas e a efetividade de determinado processo (TANI, 2016). Neste 
sentido, o coordenador técnico deve estudar para conhecer de maneira profun-
da a cultura de jogo e objetivos com a formação de jogadores dentro do clube 
que trabalha. A cultura de jogo consiste no conjunto de valores e conquistas de 
determinado clube de futebol produzidos ao longo do seu processo histórico até 
a contemporaneidade (REIS e ALMEIDA, 2019). 
Partindo deste ponto, se o objetivo do clube é formar jogadores para a equipe 
profissional, o coordenador técnico vai adaptar todo o processo para essa fina-
lidade (perfil de profissionais contratados, metodologia de treinamento, conte-
údo dos treinos por categorias competitivas, etc.). Contudo, caso o clube tenha 
como meta a negociação de jogadores da base na primeira oportunidade de 
negócio que aparecer (dentro da legislação esportiva vigente), a abordagem do 
coordenador técnico deverá ser totalmente diferente nesse processo. Ou seja, 
a abordagem do coordenador técnico depende do contexto em que ele está 
inserido no clube (processo histórico e cultural, missão, visão e valores do clube, 
entre outros fatores, por exemplo). 
Já a gestão de recursos humanos consiste na habilidade em lidar com dife-
rentes perfis profissionais (comissão técnica e jogadores) retirando o melhor de 
cada sujeito (CARRAVETTA, 2012). Esta dimensão também envolve o processo de 
recrutamento de profissionais que irão trabalhar diretamente na formação dos 
jogadores (treinadores, auxiliares técnicos, preparadores físicos, etc.). A depender 
do clube, o coordenador técnico não é o único a participar desta escolha (por 
exemplo, o diretor ou o gerente de futebol de base podem estar em um nível hie-
rárquico acima nesse processo), contudo ele deve ter seus mecanismos de sele-
ção de profissionais, pois isso implicará diretamente na eficácia do seu trabalho.
O quadro 1 apresenta as funções do coordenador técnico no futebol de base. 
Existem duas abordagens (tarefa e motivação) e quatro mecanismos para cada 
abordagem (comportamentos do coordenador técnico, processos, condutas da 
comissão técnica e dos jogadores e os resultados obtidos) (adaptado de KATTU-
MAN, LOCH e KURCHIAN, 2019).
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28 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Figura 7: Abordagens e mecanismos inerentes à função do coordenador técnico no futebol
As duas abordagens são as seguintes: tarefa e motivação. A abordagem da 
tarefa consiste naquilo que quer ser alcançado no futebol de base a partir da 
intervenção do coordenador técnico. Já a abordagem da motivação é o quanto 
o profissional consegue otimizar a energia do sistema (interação entre as dife-
rentes partes que compõem) mantendo-os determinados a alcançar a tarefa 
estabelecida. Para cada abordagem, quatro mecanismos devem ser controlados 
pelo coordenador técnico.
Por exemplo, em relação ao mecanismo comportamento do coordenador 
técnico, ele deve criar e/ou desenvolver a filosofia de jogo da equipe (abordagem 
da tarefa). Já em relação a abordagem da motivação, o fornecimento de feed-
back (informações sobre o que está sendo feito) aos treinadores se o trabalho 
deles está de acordo com os estilos de jogo que o clube deseja implementar na 
sua categoria competitiva é umas das funções do coordenador técnico. 
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29 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Quadro 1: Funções do coordenador técnico no futebol de base 
(adaptado de KATTUMAN, LOCH e KURCHIAN, 2019).
Abordagem Comportamento Processo
Conduta da co-
missão técnica 
e dos jogadores
Resultado
Tarefa
Estilo de jogo Planejamento Aspectos coletivos
Objetivos 
específicos 
por categoria 
competitiva
Filosofia de 
trabalho Avaliação 
Aspectos 
individuais
Eficácia e 
eficiência nos 
jogos
Filosofia de jogo Formação 
continuada e 
permanente 
dos 
profissionais
Gestão de 
recursos 
humanos dos 
treinadores
Eficácia e 
eficiência em 
competição
Identificação 
e seleção de 
jogadores
Motivação
Estilo de 
interação
Coesão 
(comissão 
técnica e 
jogadores)
Afetividade
Metas 
traçadas 
(curto, médio 
e longo 
prazo)Feedback do 
desempenho
Comunicação Suporte social
Estados 
emergentes 
(estresse, 
nível de 
competição, 
foco, etc.)
Avaliação 
individual
No que concerne aos mecanismos do processo de formação de jogadores 
de futebol, o coordenador técnico deve planejar os treinos em conjunto com 
as comissões técnicas, avaliar os planejamentos e criar ambientes de forma-
ção continuada e permanente dos profissionais, através de ciclo de palestras, 
reuniões periódicas e permissão da ida a cursos, por exemplo (abordagem da 
tarefa). Além disso, ele deve perceber e estimular a coesão das equipes, tanto nas 
relações entre os profissionais da comissão técnica, quanto nas relações entre 
os profissionais e os jogadores da sua categoria competitiva, além das relações 
entre os jogadores (abordagem da motivação).
Em relação à conduta da comissão técnica e dos jogadores, o coordenador 
técnico deve buscar agregar sujeitos que ao interagirem possam ter eficácia e 
eficiência, além de retirar o melhor desempenho de cada indivíduo (abordagem 
da tarefa). A afetividade (laços emocionais equilibrados nas relações humanas), 
o suporte social (demonstração de preocupação sobre aspectos da vida de 
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30 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
cada indivíduo) e avaliações individuais periódicas compõem a abordagem da 
motivação nesse mecanismo. 
Nos resultados, no que se refere a abordagem da tarefa do coordenador téc-
nico, ele deve traçar objetivos específicos tangíveis por categoria competitiva, 
além de avaliar a eficácia (alcance do objetivo) e a eficiência (meios para al-
cançar o objetivo) tanto nos jogos, quanto em competições. A abordagem da 
motivação nesse mecanismo é justamente traçar metas a curto, médio e longo 
prazo que estejam intimamente ligadas aos objetivos a fim de estimular os pro-
fissionais e os jogadores.
Outra questão a ser observada pelo coordenador técnico é a interação entre 
as diferentes funções e áreas que compõem o futebol de base do clube. Durante 
muito tempo, o futebol ficou restrito ao conceito de multidisciplinaridade, ou seja, 
cada profissional realiza a sua função e não ocorre uma sinergia entre os sujeitos 
de diferentes áreas de atuação profissional do futebol de base. Esse conceito e 
sua aplicabilidade prática vem sendo substituído pela interdisciplinaridade e, até 
mesmo, pela transdisciplinaridade (figura 8).
Figura 8: Conceitos e aplicações de comportamentos de interação que o coordenador 
técnico pode estimular entre os diferentes profissionais que gerencia no futebol de base.
Sintetizando, nota-se que o coordenador técnico é uma função primordial no 
processo de formação de jogadores, dada a quantidade de atributos, caracte-
rísticas, competências e habilidades que precisa ter. É uma função emergente 
no futebol brasileiro, mas que já apresenta um caráter protagonista, pois o coor-
denador técnico deve buscar convergir todo o processo complexo de formação 
de jogadores, pautado pelos diferentes contextos e finalidades (categorias com-
petitivas, por exemplo), com os objetivos da instituição a partir da interação com 
profissionais com distintas formações e expertises. Porém, é importante ressaltar 
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31 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
que é uma função que pode gerar oportunidades únicas para profissionais que 
almejam trabalhar com futebol.
Assista o vídeo abaixo sobre os conceitos da multidisciplinaridade, interdisci-
plinaridadee transdisciplinaridade no ambiente escolar
O que você achou? Com qual mentalidade você mais se identifica? Como os 
conceitos desse vídeo podem ser transferidos para a coordenação técnica do 
futebol? Essa é uma boa reflexão para aplicar na prática.
Leia clicando 
no conteúdo
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https://www.youtube.com/watch?v=Ux8rN5Mhv1g
32 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
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33 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
COORDENAÇÃO METODOLÓGICA 
NO FUTEBOL DE BASE
MARCOS REIS
4
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34 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
O coordenador metodológico é uma função incipiente no futebol brasileiro. 
Tal função tem como objetivo desenvolver formas de ensino e treinamento do 
futebol que permitam a aprendizagem dos conteúdos estabelecidos no docu-
mento norteador de formação de jogadores do clube. Portanto, o coordenador 
metodológico deve criar e/ou desenvolver um conjunto de técnicas e procedi-
mentos, juntamente com os treinadores e suas respectivas comissões técnicas, 
a fim de atingir as finalidades do clube no processo de formação de jogadores.
Partindo deste ponto, são competências e habilidades que um profissional 
deve ter para poder assumir tal função no futebol de base: a) conhecimento 
aprofundado sobre a natureza do jogo de futebol; b) conhecimento aprofunda-
do sobre as diferentes habilidades com e sem bola do futebol; c) conhecimen-
to aprofundado sobre aspectos estratégicos-táticos relacionados ao aspectos 
coletivos do futebol; d) conhecimento aprofundado sobre os diferentes tipos de 
métodos de ensino e treinamento aplicados no futebol, suas qualidades e limi-
tações; e) conhecimento aprofundado sobre diferentes instrumentos de avalia-
ção individual e coletiva aplicados ao futebol; f) conhecimento sobre tecnologia 
aplicada ao futebol; g) conhecimento aprofundado sobre a cultura de jogo da 
equipe que irá trabalhar; i) criatividade e inovação.
Todas as competências e habilidades apresentadas anteriormente servem 
para a construção dos conteúdos que serão desenvolvidos ao longo da iniciação 
esportiva até as últimas categorias competitivas da base. A lógica dos conteúdos 
deve buscar desenvolver a coordenação intra e interpessoal (SANTOS et al., 2018; 
DAVIDS et al., 2013; PASSOS e BARREIROS, 2013; NEWELL, 1985). 
A coordenação intrapessoal consiste na organização do controle do arca-
bouço motor do jogador, ou seja, tornar a multiplicidade de microcomponentes 
do sistema controlável para alcançar os objetivos da tarefa (SANTOS et al., 2018; 
NEWELL, 1985). Neste sentido, o coordenador metodológico deve pensar acerca da 
interdependência dos componentes do desempenho individual no futebol: tática, 
técnica, físico e psicológico/emocional (figura 9) (BRADLEY e ADE, 2018). Portanto, 
os conteúdos devem contemplar todos esses diferentes desempenhos que se 
relacionam a fim de formar jogadores com a mais alta performance possível 
nesses aspectos.
Já a coordenação interpessoal está relacionada ao mecanismo de auto-or-
ganização do sistema, que pode ser estimulada para gerar ordem e estrutura 
a partir da interação entre os indivíduos (SANTOS et al., 2018; PASSOS e BARREI-
ROS, 2013). Neste sentido, os conteúdos devem respeitar um dos atributos mais 
essenciais do jogo de futebol: as interações de cooperação e oposição entre 
os jogadores (SANTOS et al., 2018; GARGANTA, 1995). Desta forma, o coordenador 
metodológico deve entender esses aspectos a fim de ofertar os melhores mé-
todos para os treinadores e coordenação técnica no processo de formação de 
jogadores de futebol na base.
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35 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Figura 9 – Exemplo da interdependência dos componentes do jogo de futebol e 
de conteúdos que devem estar presentes no documento norteador da formação 
de jogadores de um clube de futebol, que tem o coordenador metodológico como 
responsável por sua criação e, principalmente, por sua operacionalização.
Nesta perspectiva, a escolha dos procedimentos metodológicos deve ser 
norteada a partir de três dimensões: conceitual, atitudinal e procedimental. As 
três dimensões podem ser mais bem compreendidas a partir de três questio-
namentos: quais os conceitos de jogo que os jogadores precisam desenvolver? 
(dimensão conceitual); quais as atitudes os jogadores precisam apresentar ao 
longo da sua formação? (dimensão atitudinal); quais as técnicas e procedimen-
tos que devem ser escolhidas para operacionalizar? (dimensão procedimental)
Nota-se que apesar do coordenador metodológico precisar conhecer, e até 
mesmo dominar, as dimensões conceitual e atitudinal, a base do seu trabalho é 
a dimensão procedimental. Desta forma, a resposta para a terceira pergunta é 
basicamente o que o coordenador metodológico precisa responder e dar como 
devolutiva do seu trabalho ao clube. Não obstante, o domínio das dimensões 
conceitual e atitudinal precisam ser conhecidas e até mesmo trabalhadas em 
uma perspectiva interdisciplinar ou transdisciplinar, em conjunto com o coorde-
nador técnico e comissões técnicas, por exemplo.
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36 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Figura 10 – Dimensões conceituais e atitudinais, e exemplos de possibilidades para 
operacionalização delas (dimensão procedimental) na formação de jogadores de futebol.
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37 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
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38 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
 O PROCESSO DE APRENDIZAGEM 
DO JOGADOR DE FUTEBOL
MARCOS REIS
5
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39 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
A aprendizagem é um processo singular e relativamente permanente de alte-
ração comportamental. Ela pode ser apresentada a partir de diferentes aspectos 
(individual, específico e geral) e o desempenho é utilizado como principal medi-
da de aprendizagem de alguma habilidade (PACHECO e NEWELL, 2018; TANI, 2016; 
BARREIROS e PASSOS, 2013). Habilidade é definida como uma ação propositiva, 
intencional e consciente, apresentada através do processo de parametrização 
da função (otimização do controle), que visa solucionar problemas dentro de um 
contexto (SCHMIDT e LEE, 2016;TANI, 2016; NEWELL, 1985).
Figura 11: Coordenação, controle e habilidade: questões fundamentais no aprendizado 
de solução de problemas esportivos (NEWELL, 1985).
No futebol, os problemas do ambiente de prática estão relacionados à opera-
cionalização do jogo em que uma equipe visa manter a posse de bola, avançar 
no campo de jogo, criar situações de finalização e finalizar na baliza adversária, 
enquanto o adversário busca proteger sua baliza, anular situações de finalização, 
impedir o avanço do adversário no campo e recuperar a bola (COSTA et al., 2009). 
Neste sentido, ocorre uma constante troca de informações entre as equipes com 
o objetivo de aumentar a incerteza sobre o adversário e, consequentemente, 
diminuir a ambiguidade do adversário sobre a equipe (CORRÊA et al., 2012). 
Desta forma, os jogadores devem aprender habilidades com e sem bola (para 
exemplos dessas habilidades consultar o quadro 2) que permitam a eficácia e 
eficiência ao longo do jogo, ou seja, a resolução dos problemas gerais e especí-
ficos de uma partida de futebol com o menor gasto de energia possível (CORRÊA, 
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40 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
PINHO e SILVA FILHO, 2016; CORRÊA et al., 2012; GRECO, 1998). A partir disto, surge uma 
indagação, como os jogadores de futebol aprendem estas habilidades?
Na tentativa de responder essa pergunta, pode-se observar os estudos cientí-
ficos da aprendizagem motora, definida como uma subárea do comportamento 
motor que tem como objetivo entender e esclarecer os processos e mecanismos 
inerentes à conquista, estabilização e adaptação das habilidades motoras hu-
manas a partir da prática e dos fatores que o afetam (TANI, 2016; TANI et al., 2014; 
TANI et al., 2011). Com isso, serão apresentados, de maneira suscinta, três teorias 
da aprendizagem motora que buscam explicar como o ser humano aprende 
diferentes habilidades: teoria do processamento de informações (SCHMIDT, 1975; 
FITTS e POSNER, 1967), teoria da ação (TURVEY, SOLOMON e BURTON, 1989) e o modelo 
de processo adaptativo (TANI, 2000).
A teoria do processamento de informações parte de uma abordagem cogni-
tivista que preconiza que o sistema nervoso central (SNC) é o elemento central e 
regulamentador de todo o movimento humano. A conservação ou transmissão 
da informação, a redução da informação e a criação ou elaboração da informa-
ção são formas específicas de processamento de informações (FITTS e POSNER, 
1967). Desta forma, a partir deste modelo, os jogadores percebem um estímulo, 
processam a informação captada no SNC, elaboram uma resposta mental para 
o problema percebido e executam uma ação motora para resolver o problema, 
sendo que esse processo é retroalimentado por feedback (SCHMIDT e LEE, 2016).
Sobre as diferentes 
fases da aprendizagem motora Assista o vídeo 
clicando 
no conteúdo
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https://www.youtube.com/watch?v=DXTr_kPf1wo
41 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Quadro 2. Exemplo de habilidades motoras específicas do futebol.
Habilidades motoras específicas ofensivas
Com bola Sem bola
Recepção Cobertura ofensiva
Condução Espaço sem bola
Penetração Mobilidade
Espaço com bola Unidade ofensiva
Drible
Chute
Cabeceio ofensivo
Habilidades motoras específicas defensivas
Com bola (recuperação da bola) Sem bola (sem contato com a bola)
Desarme Contenção
Interceptação Cobertura defensiva
Bloqueio de chute Equilíbrio
Cabeceio defensivo Concentração
Unidade defensiva
A teoria da ação se baseia na psicologia ecológica e na abordagem dos sis-
temas dinâmicos como sustentação teórica (TURVEY, SOLOMON e BURTON, 1989; 
GIBSON, 1979; GIBSON e GIBSON, 1955). A partir disto, o processo decisório e a exe-
cução de movimentos não são comandados por um único elemento, mas são 
regidos pelo acoplamento percepção-ação, ou seja, interação entre o indivíduo e 
o ambiente de prática (PACHECO e NEWELL, 2018). No caso do futebol, os jogadores 
e as equipes são considerados sistemas sociais complexos não-determinísticos 
(não são completamente previsíveis) e a aprendizagem emerge continuamen-
te das interações dos componentes do sistema (padrões coordenativos inter e 
intra-indivíduos) (DAVIDS et al., 2013).
Já o modelo de processo adaptativo aborda que a aprendizagem motora é 
um processo além da estabilização da habilidade e que consiste em um cresci-
mento complexo da dinâmica cíclica de estabilidade-instabilidade-estabilidade. 
Desta forma, a aprendizagem motora vai além da estabilização funcional (pa-
dronização espacial e temporal do movimento a partir de uma nova estrutura 
formada), pois o sujeito mostra que aprendeu a habilidade ao enfrentar pertur-
bações e se adapta à elas, o que denota uma alteração qualitativa do sistema 
(TANI et al, 2014; CHOSHI, 2000; TANI, 2000) (figura 12).
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42 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Figura 12: Modelo de processo adaptativo na aprendizagem de habilidades motoras. 
Após breve discussão sobre teorias da aprendizagem motora, a partir de ago-
ra será abordado alguns fatores que afetam a aprendizagem motora no futebol. 
Essa mudança relativamente permanente de determinado comportamento, de-
nominada de aprendizagem motora, é afetada por um conjunto de elementos 
que convergem para um resultado. Esses elementos produzem algum efeito na 
evolução da aprendizagem e são denominados de fatores. Os fatores que afe-
tam a aprendizagem motora do futebol abordados nesse capítulo serão os se-
guintes: instrução, demonstração, foco de atenção, prática e feedback (SCHMIDT 
e LEE, 2016; WALTER, BASTOS e TANI, 2016; MELO e BARREIROS, 2013; WULF, 2013).
A instrução é a verbalização de informações ofertada aos jogadores de acor-
do com aquilo que quer ser aprendido (WALTER, BASTOS e TANI, 2016; MELO e BAR-
REIROS, 2013). Contudo, o excesso de instrução ou a instrução ofertada em mo-
mentos inoportunos (como durante os exercícios) pode gerar uma dependência 
do aprendiz pelas informações do professor/treinador (MEMMERT, 2007).
Memmert (2007) verificou os efeitos da instrução do professor na tomada de 
decisão do passe em crianças com idade aproximada de 7 anos. As crianças 
foram divididas em dois grupos: com e sem instrução do professor (mesmos 
exercícios para os dois grupos). Após seis meses de intervenção, as crianças 
do grupo sem instrução do professor durante os jogos melhoraram mais o de-
sempenho do que o grupo com instrução. Nota-se que a utilização da instrução 
deve ser controlada e priorizada antes dos exercícios a fim de não engessar o 
processo decisório dos jogadores.
A demonstração consiste na utilização de imagens representativas da tarefa 
a ser praticada. Ela deve ser predominantemente visual, ofertando informações 
diferentes da instrução, por exemplo. Desta forma, a demonstração visa a obser-
vação de um modelo a fim de favorecer a compreensão do que vai ser praticado 
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43 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
e, consequentemente, a assimilação do conteúdo (WALTER, BASTOS e TANI, 2016; 
MELO e BARREIROS, 2013). 
O foco de atenção corresponde ao direcionamento dos mecanismos aten-
cionais durante a tarefa e pode ser orientada para elementos internos do sujeito 
ou para componentes do ambiente de prática (WULF, 2013). Por exemplo, em um 
exercício do futebol, o aprendiz pode ser orientado a focar no seu padrão de mo-
vimento do passe (foco de atenção interno) ou pode ser conduzido para focar 
nas movimentações dos outros jogadores (foco de atenção externa).
A prática é o fator mais importante no processo de aprendizagem motora, 
pois consiste na busca constante de experimentar diversas possibilidades de 
solução de problemas motores a partir de tentativas conscientes de arranjo, 
execução, avaliação e alteração das habilidades motoras. A prática pode ser 
abordada a partir do seu fracionamento e da sua variabilidade (WALTER, BASTOS 
e TANI, 2016).
O fracionamento da prática consiste na divisãoda habilidade em partes para 
diminuir a complexidade da tarefa (prática por partes) ou na execução da habili-
dade na sua totalidade (prática pelo todo) (WALTER, BASTOS e TANI, 2016). Práxedes 
et al. (2016) verificaram que a prática pelo todo foi mais eficaz do que a prática 
pelas partes na tomada de decisão e execução de habilidades do futebol. Isto 
ocorre por conta dos padrões coordenativos interpessoais inerentes à lógica 
interna do futebol, portanto, ao invés de realizar a prática por partes, descontex-
tualizando o jogo, a prática pelo todo através de jogos reduzidos pode reduzir 
a complexidade da tarefa sem perder a essência da lógica interna do futebol 
(DAVIDS et al., 2013).
A variabilidade da prática é a quantidade de variação na execução de uma 
habilidade motora em determinada tarefa. A prática pode ser constante (sem 
variação) e variada (com variação) (WALTER, BASTOS e TANI, 2016). Quando se 
pratica o futebol por partes, a prática constante consiste na execução do passe 
na mesma direção e distância, por exemplo. Já na prática variada, o passe será 
executado em diferentes direções e distâncias.
Contudo, ao observar a aprendizagem do futebol pelo todo (jogos reduzidos, 
por exemplo) (DAVIDS et al., 2013), as habilidades motoras variarão por si só. Com 
isso, a variabilidade da prática pode ser feita através das relações numéricas 
entre equipes (superioridade, igualdade e inferioridade numérica). Na prática 
sem variação, as equipes jogariam somente em uma situação (4x4, por exemplo), 
enquanto na prática com variação elas jogariam nas três situações (4x3, 4x4 e 
3x4, por exemplo).
Por fim, o feedback consiste em informações sobre o movimento praticado 
pelo aprendiz e os resultados obtidos por ele (SCHMIDT e LEE, 2016; MELO e BARREI-
ROS, 2013). Existem dois tipos de feedback: intrínseco ou inerente e extrínseco ou 
aumentado (SCHMIDT e LEE, 2016; CHOSHI, 2000). O feedback intrínseco é consequ-
ência natural da ação realizada, ou seja, o praticante utiliza mecanismos internos 
para detectar e corrigir os erros para estabilizar o desempenho da habilidade 
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44 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
(SCHMIDT e LEE, 2016; CHOSHI, 2000). Já o feedback extrínseco é a retroalimentação 
da informação por um agente externo, como o professor/treinador ou um vídeo 
do jogo, por exemplo (VAN MAARSEVEEN, OUDEJANS e SAVELSBERGH, 2018; SCHMIDT 
e LEE, 2016). van Maarseveen, Oudejans e Savelsbergh (2018) verificaram que o 
feedback de vídeo autocontrolado (quando os sujeitos escolhem o momento 
para recebê-lo) promoveu maior envolvimento dos jogadores, permitindo uma 
maior autonomia no processo de ensino e aprendizagem. 
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45 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
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47 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
 COMO ENSINAR O FUTEBOL
MARCOS REIS
6
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48 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
O processo de ensino do futebol consiste em duas vertentes fundamentais: 
a) gestão de recursos humanos a partir da liderança do professor/treinador e 
b) escolha da abordagem metodológica a fim de estimular a aprendizagem de 
habilidades com e sem bola do futebol (CARRAVETTA, 2012).
A liderança consiste na otimização do desempenho dos jogadores a fim de 
maximizar a eficácia coletiva em prol de uma tarefa. O perfil de liderança do 
treinador deve procurar a integração entre os componentes do grupo a fim de 
que atenda às necessidades de cada um a fim de alcançar a meta estabeleci-
da (REIS et al., 2018). Neste sentido, o perfil de liderança de treinadores de futebol 
apresenta dois estilos: decisão e interação. O estilo de decisão está relacionado 
às escolhas do treinador que afetam diretamente os jogadores e possui duas 
dimensões. Já o estilo de interação envolve as relações interpessoais entre o 
treinador eos jogadores, possuindo quatro dimensões (ZHANG, JENSEN e MANN, 
1997) (quadro 3).
Quadro 3. Estilos de liderança e suas respectivas dimensões de acordo com a Escala de 
Liderança Revisada para o Esporte (ZHANG, JENSEN e MANN, 1997)
Estilo Dimensão Definição
Decisão
Autocrática
O professor/treinador centraliza todas as 
decisões não considerando a opinião dos 
jogadores
Democrática
Permite que os jogadores deem suas opi-
niões e respeita a opinião da maioria dos 
jogadores em determinados assuntos
Interação
Reforço positivo
O professor/treinador elogia os jogadores 
quando eles conseguem alcançar as metas 
estabelecidas
Situacional
Busca individualizar as conversas para aten-
der as necessidades particulares de cada 
jogador
Suporte social
Procura informações sobre a vida pessoal 
dos jogadores (com a família e na escola, 
por exemplo)
Treino-instrução
Foca em aspectos metodológicos do treino 
a fim de ofertar os melhores estímulos para 
os jogadores
Costa, Samulski e Costa (2009) verificaram que os treinadores das catego-
rias de base do futebol brasileiro são mais autocráticos do que democráticos e 
focam mais no planejamento de treino. Reis et al. (2018) verificaram que treina-
dores das categorias de base do município de Aracaju/SE apresentam um perfil 
de liderança voltado mais para a autocracia e menos para a democracia em 
termos de decisão, e menos para o situacional em relação as outras dimensões 
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49 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
da interação. Além disso, os treinadores mais experientes ofertam mais reforço 
positivo do que os treinadores menos experientes. 
Hampson e Jowett (2014) detectaram que o perfil de liderança afeta na per-
cepção da eficácia coletiva por parte dos jogadores. Eles encontraram que existe 
uma correlação negativa entre perfil de liderança autocrática e autopercepção 
de eficácia coletiva, ou seja, quanto mais centralização nas decisões por parte 
dos treinadores, menor é eficácia coletiva da equipe. Desta forma, o percebe-
-se que permitir que os jogadores ajudem a decidir determinadas questões que 
envolvam o seu processo de formação pode ajudar na coesão da equipe.
Já em relação a abordagem metodológica, ela pode ser definida como um 
conjunto de procedimentos que visam transmitir conteúdos a fim de que os pra-
ticantes possam assimilá-los da melhor forma possível e, consequentemente, 
melhorar o desempenho dos jogadores (DAVIDS et al., 2013). No futebol, ao longo 
do desenvolvimento do esporte na história, diversos procedimentos metodoló-
gicos foram sendo criados a fim de ofertar o melhor ensino do futebol possível. 
Dentre esses métodos de ensino do futebol, destacam-se: global, analítico, inte-
grado e sistêmico (CARRAVETTA, 2012; LOPES e SILVA, 2009; SILVA, 1998). 
Sobre as diferentes tipos de periodização que podem 
ser aplicadas no processo de ensino do futebol
O método analítico tem como foco o ensino das habilidades com bola, com 
ênfase na biomecânica do movimento, partindo do pressuposto que a soma 
das partes será maior do que o todo (CARRAVETTA, 2012). Desta forma, ao utilizar 
esse método, o professor/treinador prioriza o padrão de movimento, em uma 
perspectiva descontextualizada do jogo de futebol, a fim de que o jogador pos-
sa ter consistência na habilidade que a ser treinada através da diminuição de 
incertezas (DAVIDS et al., 2013). Contudo, a ruptura disfuncional na relação am-
biente de prática e aprendiz, a ausência de variabilidade contextual, os poucos 
e engessados mecanismos decisórios e a diminuição dos recursos atencionais 
dos jogadores são as principais limitações desse método (DAVIDS et al., 2013; 
GARGANTA e GRÉHAIGNE, 1999; SILVA, 1998).
Práxedes et al. (2016) investigaram a eficácia do método analítico em com-
paração com jogos reduzidos no ensino da tomada de decisão e da execução 
do passe em crianças com idade aproximada de 10 anos. O programa baseado 
nos jogos reduzidos foi mais eficaz do que o método analítico, provavelmente 
por conta dos fatores apresentados no parágrafo anterior.
O método global consiste na utilização de jogos, geralmente próximo dos 11x11, 
em que o professor/treinador não possui uma finalidade em relação ao que se 
quer ensinar, ou seja, não existe uma sistematização de conteúdo (CARRAVE-
TA, 2012). Esse tipo de abordagem metodológica pode prejudicar o processo de 
Assista o vídeo 
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50 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
formação no futebol, pois os estímulos ofertados ficam destinados ao acaso. 
Além disso, esse método pode fazer com que os jogadores não corrijam os seus 
principais defeitos, tendo em vista a grande quantidade de interações e, conse-
quentemente, de complexidade na tarefa. Por exemplo, jogadores que apresen-
tam dificuldades na execução de habilidades com bola dificilmente realizarão 
ações com bola que permitam a melhora do seu desempenho no passe, chute, 
drible, etc.
O método integrado visa a junção dos métodos analítico e global em uma 
mesma sessão de treino. Geralmente, o professor/treinador utiliza o método ana-
lítico no início do treino e depois realiza jogos (método global) na segunda parte 
do treino com a expectativa de que ocorra uma transferência de aprendizagem 
(CARRAVETTA, 2012; LOPES e SILVA, 2009). Porém, será essa tal esperada transfe-
rência de habilidades fica prejudicada por conta que na primeira parte do treino 
ocorre uma descontextualização do jogo de futebol a partir de exercícios simples 
e previsíveis, enquanto na segunda parte ocorre exercícios com alto grau de 
complexidade (DAVIDS et al., 2013).
Já a abordagem sistêmica aplicada ao ensino do futebol reconhece a nature-
za coletiva do jogo, em que duas equipes se encontram em cooperação e oposi-
ção a fim de alcançar objetivos comuns e específicos (atingir a baliza adversária 
e proteger a própria baliza do adversário, por exemplo) (GARGANTA e GRÉHAIG-
NE, 1999). Essas duas equipes são entendidas como dois sistemas abertos, pois 
trocam energia e informação para obter suas metas (VON BERTALANFFY, 2016). 
Essa troca de energia e informação ocorre a partir de um processo adaptativo 
e entrópico em que uma equipe busca perturbar a outra a fim de aumentar as 
incertezas sobre ela (entropia positiva) e, consequentemente, diminuir as dúvi-
das geradas pela equipe adversária (entropia negativa) se adaptando às suas 
perturbações (CORRÊA et al., 2012). 
Neste sentido, a abordagem sistêmica possui diversas ramificações no futebol, 
ou seja, diversos métodos que surgiram a partir da década de 80 influenciados 
pela teoria geral dos sistemas (VON BERTALANFFY, 2016), como por exemplo: ensino 
dos jogos para compreensão (MEMMERT et al., 2015), periodização tática (SILVA, 
2008) e escola da bola (MEMMERT e ROTH, 2007). Todos esses métodos possuem 
especificidades, mas apresentam dois denominadores comuns: reconhecem a 
complexidade do jogo de futebol e sua não-linearidade e utilizam jogos reduzidos 
como principal estratégia metodológica (DAVIDS et al., 2013).
Os jogos reduzidos representam variáveis específicas do jogo de futebol que 
permitem a regulação da tomada de decisão e da execução de habilidades 
(com e sem bola) a partir de fontes de informações que devem representar o 
todo. Neste sentido, a utilização dos jogos reduzidos deve permitir o aprendizado 
de comportamentos funcionais estabelecendo o acoplamento percepção-ação 
fundamental para ambientes imprevisíveis e dinâmicos como o jogo de futebol. 
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51 INICIAÇÃO E FUTEBOL DE BASE
SUMÁRIO
Além disso, os jogos reduzidos fornecem aos jogadores a variabilidade contextual 
inerente às partidas de futebol (DAVIDS et al., 2013).
Portanto, os jogos reduzidos podem ser entendidos como padrões microscó-
picos (1x1, 2x1, 2x2, etc.) que influenciam o surgimento de padrões macroscópicos 
(11x11) (SANTOS et al., 2018). Neste sentido, os jogos

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