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história antiga

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Prévia do material em texto

1
HISTÓRIA ANTIGA
NELSON DE PAIVA BONDIOLI
EDUCAÇÃO A 
DISTÂNCIAFACULDADE ÚNICA
2
LEGENDA DE
Ícones
Trata-se dos conceitos, definições e informações 
importantes nas quais você precisa ficar atento.
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão 
do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar 
ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção 
para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função 
específica, mostradas a seguir:
São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros 
da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo 
apresentado no livro.
Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada 
unidade, associando-os a suas ações, seja no ambiente 
profissional ou cotidiano.
Atividades de fixação sobre o conteúdo visto e aplicado 
no livro.
Apresentação dos significados de um determinado 
termo ou palavras mostradas no decorrer do livro.
Espaço para marcar citações de algum livro, artigo ou 
site que sustenta e reforça uma ideia.
FIQUE ATENTO 
BUSQUE POR MAIS 
VAMOS PENSAR? 
FIXANDO O CONTEÚDO 
GLOSSÁRIO 
CITAÇÕES 
3
SUMÁRIO
UNIDADE 1
UNIDADE 2
UNIDADE 3
UNIDADE 4
1.1 O que é história antiga?.......................................................................................................................................................................6
1.2 Fontes e Metodologias para o estudo sobre antiguidade.......................................................................................8
1.2.1 Particularidades das fontes antigas......................................................................................................................................10
1.2.2 Metodologias para análise das fontes antigas.............................................................................................................13
2.1 Antiguidade oriental: Reflexões históriográficas...........................................................................................................19
2.2 Trabalho e escravidão no oriente próximo.......................................................................................................................22 
2.3 Realezas divinas no Egito e Mesopotâmia.......................................................................................................................24
2.4 Estudo de caso:”De Israel aos Hebreus: Narrativa bíblica na construção de uma história polí-
tica...........................................................................................................................................................................................................................26
3.1 A Hélade e os Helenos: Os períodos arcaico, clássico e helenístico...............................................................32
3.2. Paideia.........................................................................................................................................................................................................34
3.3 Helenismo..................................................................................................................................................................................................35
3.4. A história e memória na antiguidade grega: Da epopeia à história...........................................................37
3.4.2 História e memória: Escrita e regime de verdade..................................................................................................38
4.1 Introdução.................................................................................................................................................................................................45
4.2 Política..........................................................................................................................................................................................................47
4.2.1 Res Pública............................................................................................................................................................................................47
4.2.2 Principado.............................................................................................................................................................................................49
4.3 Religião........................................................................................................................................................................................................50
4.3.1 Religião Romana, religões de roma...................................................................................................................................50
4.3.2 Cultos imperiais: Roma e as províncias.........................................................................................................................52
HISTÓRIA ANTIGA, DISCIPLINA, PERIODIZAÇÃO E DOCUMENTOS
ANTIGUIDADE ORIENTAL - MESOPOTÂMIA, EGITO E OS HEBREUS
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - O MUNDO GREGO
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - O MUNDO ROMANO
UNIDADE 5
5.1 Introdução..................................................................................................................................................................................................59
5.2 Documentação e cultura material dos estudos celtas............................................................................................61
5.2.1 Cultura Textual: A visão clássica..............................................................................................................................................61
5.2.2 Arqueologia: culturas hallstatt e la tène........................................................................................................................62
5.3 Análise de fontes: “Religião celta e seus sacerdotes”...............................................................................................64
5.3.1 Bardos, duidas e adivinhos........................................................................................................................................................64
5.3.2 Filósofos e educadores.................................................................................................................................................................65
5.3.3 Os mais justos dos homens.....................................................................................................................................................65
5.3.4 Monopólio da ação religiosa...................................................................................................................................................66
5.3.5 Sacrifícios................................................................................................................................................................................................66
5.3.6 Uma instituição centralizada..................................................................................................................................................67
UMA OUTRA ANTIGUIDADE: OS CELTAS
UNIDADE 6
6.1 Introdução................................................................................................................................................................................................72
6.2 Usos do passado.................................................................................................................................................................................73
6.3 Teoria da recepção............................................................................................................................................................................74
6.4 Temas de Pesquisa: Estudos de Recepção....................................................................................................................76
6.4.1 Televisão & Cinema.......................................................................................................................................................................766.4.2 Videogames......................................................................................................................................................................................78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................................................................84
A ANTIGUIDADE HOJE: RECEPÇÃO & USO DO PASSADO
4
UNIDADE 1
Nesta unidade são apresentados temas inicias sobre a Antiguidade, em que fazemos 
uma discussão historiográfica a respeito do que é a “História Antiga”, bem como 
tratamos das fontes para seu estudo.
UNIDADE 2
Começamos nosso estudo com a chamada Antiguidade Oriental, em que 
debateremos temas acerca do Egito, Mesopotâmia e dos Hebreus. Ao final desta 
Unidade apresentamos um “Caso de Estudo”, isto é uma maneira de observamos na 
prática as questões teóricas que estamos tratando.
UNIDADE 3
Nossas investigações históricas a respeito do chamado “Mundo Clássico”, em que 
discutiremos diversos aspectos relacionados à Grécia Antiga, privilegiando discussões 
de conceitos essenciais dessas sociedades, bem como a questão da Historiografia 
Grega.
UNIDADE 4
Nesta Unidade trabalharemos com Roma, com maior atenção a dois aspectos que 
se entrelaçam: a esfera política e a esfera religiosa. Nosso recorte cronológico será 
aquele do período Republicano e do Principado Romano.
UNIDADE 5
Já a unidade 5 traz cada etapa do Processo de Negociação de negociação: planejame 
Apresentaremos nesta unidade estudos sobre os povos Celta, privilegiando, 
sobretudo, a discussão a respeito de fontes, apresentando ao final desta unidade 
uma breve “Análise das Fontes” relativas aos Druidas. nto, abertura da negociação, 
fase teste/interesse, convicção, ação final/fechamento, avaliação e controle. E por fim 
a Administração de Conflitos.
UNIDADE 6
Na última unidade deste material, trazemos questões relacionadas com a presença 
do passado em nossas sociedades atuais, e apontando “Temas de Pesquisa” na área 
conhecida como Estudos de Recepção.
C
O
N
FI
R
A
 N
O
 L
IV
R
O
5
UNIDADE 1
HISTÓRIA ANTIGA, DISCIPLINA, 
PERIODIZAÇÃO E DOCUMENTOS
6
1.1
 O
 Q
U
E
 É
 H
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TÓ
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 A
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G
A?
“A História não é nunca inocente” Furet, 
François. Oficina da História.
 É fácil tomarmos a cronologia 
como um elemento certo, fechado e 
definido, como se fosse um dado da 
natureza: primeiro vem a “Pré-História”, 
então a “História Antiga” seguida 
da “Medieval”. Em algum momento 
encontramos o “Renascimento” na 
História dita “Moderna”, até chegarmos 
ao momento mais próximo de nosso 
presente: a “História Contemporânea”. 
Nunca nos fora apresentado, em termos 
de currículo escolar, uma alternativa 
ou ferramentas que possibilitassem 
questioná-la. 
 Conforme já apontou Rosa (2013, 
p. 119):
“[...] os “períodos” estão tão naturalizados 
e tão presentes na base dos currículos 
de ensino e dos programas de pesquisa, 
que não costumam ser vistos como 
(apenas) mais um dos modelos 
explicativos de que dispomos para 
organizar nossas investigações”.
 Em outras palavras, esta 
cronologia, estas periodizações 
parecem-nos categorias imóveis e 
incontestáveis, independentes das 
orientações e recortes dos historiadores 
e historiadoras. 
 Tal fato, entretanto, talvez 
possa ser entendido como mais um 
elemento constitutivo de nossa própria 
inabilidade/habilidade humana de 
lidar com a passagem do tempo: 
marcamos no relógio e calendário os 
segundos, minutos, horas, dias meses 
sem questionarmos tais separações e 
categorias. Afinal, poderia o tempo ser 
contado de forma diferente? Oras, e de 
mesma sorte, quão estranho pareceria 
questionar que o Antigo vem antes 
do Medieval? E ambos antes de nosso 
“tempo” Contemporâneo?
Figura 1 - Visão Simplificada das Periodizações Históricas 
 Ao dirigirmos nossa atenção a uma 
reflexão a respeito da periodização na História, 
podemos apreciar toda a complexidade – 
e mesmo simplicidade – que envolve essa 
distribuição do passado em categorias.
 É simples, pois se torna rapidamente 
evidente o caráter arbitrário, político e 
ideológico que circunda categorias como 
“História Antiga”, “História Medieval”, 
“Renascimento” etc. Perguntemos: Onde e 
Quando começa e termina a História Antiga, ou 
ainda como alguns chamam, a Antiguidade? 
É certo que, conforme observaremos, mais de 
uma resposta pode ser dada – e vem sendo 
dada –, e encontramos diversas possibilidades 
dependendo, justamente, de quem pergunta. 
 Começa a Antiguidade na África, na 
Índia, na China ou nas Américas? Ocorrem elas 
ao mesmo tempo em que a Antiguidade Greco-
Romana? Estava o restante do mundo parado e 
despovoado durante as Antiguidades Egípcia e 
Mesopotâmica? 
 Se considerarmos apenas o mundo 
Greco-Romano, como já questionou Guarinello 
(2003), seria essa a “História Antiga” da Europa? 
Ainda que não seja possível nem mesmo 
observar uma continuidade espacial entre seus 
territórios no passado e no presente?
 Por outro lado, a complexidade dessa 
análise está em uma vez que percebamos 
sua arbitrariedade, entender como se formam 
esses modelos explicativos, as maneiras como 
são capazes de abarcar os variados fatores que 
influenciam na configuração dessas categorias 
e sua permanência em nosso imaginário 
cronológico.
 Trata-se, pois, de um exercício no tempo 
7
e no espaço que, para citar alguns desses 
fatores, passa por debates dentro de grupos 
intelectuais, processos e projetos políticos/
indenitários e mesmo sobre a criação e 
desenvolvimento da própria ideia de uma 
“História Científica”.
 Atentemo-nos a esse último 
elemento. Como já mostrou Geary (2005) é 
especialmente importante notarmos como 
a História-Ciência nasce como instrumento 
dos Estados Nacionais: ela lança as bases das 
justificativas de sua criação, historicidade 
e pretensões futura. A História, ou ainda, 
as narrativas históricas, nesse primeiro 
momento, são criações sobre um povo e sua 
cultura, a busca de uma identidade.
VAMOS PENSAR?
Existem outras formas de datação que não tomam 
como referência a tradição cristã. Uma outra forma 
muito popular se marcar datações é através da ex-
pressão: “Era Comum”. Assim temos em 44 a.E.C. (an-
tes da Era Comum) a morte de Júlio César e a funda-
ção de Constantinopla no século IV E.C. (Era Comum). 
Você conseguiria pensar em outras formas de data-
ção que não referenciam a tradição cristã?
 Dosse (2017, p. 07) indica a mesma 
conjunção entre História e nacionalismo, 
em que:
O historiador detinha então uma 
autoridade inconteste, situando-se 
no mais elevado nível das posições de 
poder. Durante um século [XIX] uma 
verdadeira sobreposição de consciência 
nacional e discurso historiográfico 
constituía a base da função que parecia 
natural ao historiador: missão patriótica, 
em que ele era meio sacerdote, meio 
soldado.
 Nesse mesmo sentido, Furet (1982) 
quem nos aponta para um elemento 
importante: é na França da Restauração 
que encontramos as primeiras tentativas 
de se estabelecer um ensino sistemático 
e cronológico sobre a história, mostrando 
como um texto de 1814 que:
[...] divide o ensino da história em 
fatias cronológicas para as aulas dos 
liceus e dos colégios: história sagrada 
no primeiro ano, Egito e Grécia no 
segundo, Roma (até o Império) no 
terceiro, de Augusto a Carlo Magno 
no quarto, a idade média no quinto, 
Tempos modernos e história da França 
no sexto (FURET, 1982, p. 123)
 Nesse excerto podemos observar 
os contornos que moldam nossa própria 
disciplina, especialmente no que tange o seu 
Ensino. Mas notemos que as preocupações 
demonstradas nessa separação, como 
sempre afirmamos, não são despretensiosas: 
há uma clara ênfase pelo aspecto político, 
a segmentação da história pelos “Grandes 
Homens”, e pela força da tradição católica – 
perceba que ainda hoje, usa-se muito como 
forma de datação “antes” e “depois” de 
Cristo – noções e elementos que continuam 
a aparecer na atualidade, ainda que hoje 
sejam feitos maioresdebates.
 Voltemo-nos, porém, a pensar a 
“História Antiga”, sob esses aspectos, nos 
perguntando a respeito de sua periodização 
e os conceitos que abrange.
 Em primeiro lugar, como afirmamos, 
é comum que o conceito de História Antiga 
acabe sendo traduzido como o período 
relativo à Antiguidade Greco-Romana. Mas 
rapidamente percebemos seus motivos: 
Se a história científica moderna, conforme 
observado, nasce como esse instrumento dos 
Estados Nacionais que faz dos historiadores 
“meio soldados, meio sacerdotes”, qual a 
surpresa em percebermos que a identidade 
buscada é aquela que está naquelas “raízes 
da Europa”, dita dos povos “civilizados” cujo 
legado é a “cultura ocidental”?
 História Antiga é assim, vista com 
uma introdução ao momento “atual”, é a 
nossa história mais afastada no tempo, a 
partir de um marco cultural: a escrita. Afinal, 
a escrita da história era especificamente 
vista como feita com fontes documentais.
 Devemos notar que há também uma 
imposição espacial nessa nossa história: a 
forma de construção da narrativa histórica 
cronológica é a narrativa do apogeu do 
8
Estado Nacional, e assim percebemos um 
movimento que nasce no Oriente em direção 
ao Ocidente: da Mesopotâmia e Egito, para 
as hegemonias gregas e então romanas, os 
“verdadeiros antepassados”.
 Esse caso é sintomático mesmo 
em nosso Brasil: tendo a elite intelectual 
brasileira construído sua identidade a partir 
do “descobrimento” e, portanto, por uma 
orientação europeia, a História Antiga aqui, 
até muito recentemente fora ensinada e 
aprendida como a antiga história da Europa, 
não havendo espaço, por exemplos, para a 
história dos nossos povos nativos, uma História 
Antiga do povo Tupi, por exemplo.
A partir desta observação é possível entendermos por-
que se critica o ensino de “História do Brasil”, como uma 
perspectiva Eurocêntrica e Ocidentalizada: isto é, que si-
tua o Brasil a partir de uma História Europeia, sem levar 
em consideração a existência de populações nativas, 
anteriores ao “Descobrimento”.
FIQUE ATENTO
 Observamos, entretanto, que há 
atualmente diversas tentativas de se afastar 
desse modelo europeu de História Antiga, 
como mostraram Savant e Hirscheler (2014) 
reinserindo a imaginação geográfica como 
uma categoria crucial de análise ou, em 
outras palavras, quebrando com as ideias de 
histórias universais e teleologias na criação de 
modelos interpretativos sobre o passado.
 Especificamente no que tange a 
História Antiga, essa reinserção da geografia 
e desestabilização da hegemonia europeia 
deu origem a uma separação entre duas 
categorias: Ocidente e Oriente, de modo 
que encontramos – inclusive atualmente nos 
diversos currículos universitários – a separação 
entre disciplinas de História Antiga “Oriental” 
e “Clássica”. Embora proponham retirar da 
agenda do historiador o compromisso com 
as identidades nacionais, essas periodizações 
ainda acarretam dois grandes problemas.
 O primeiro é que, ao seu próprio modo, 
ainda lidam com uma metanarrativa 
que movimenta a história do Oriente 
ao Ocidente. O oriental é também um/o 
Oriente próximo: os estudos nessa 
área são invariavelmente sobre Egito e 
Mesopotâmia. Onde está o restante do 
mundo?
 O segundo problema, e talvez 
mais perigoso, é a reificação do “lugar” 
das sociedades, isto é, ao estipularmos 
categorias como Oriente e Ocidente, 
acabamos por congelar o passado, 
em uma visão isolacionista do 
desenvolvimento das várias sociedades 
antigas. As trocas culturais entre povos 
distintos são pouco observadas.
 Afinal, onde estão, por exemplo, as 
civilizações da Mesopotâmia ou do Egito, 
durante a ascensão de Atenas ou durante 
o Império Romano? Sumiram do tempo e 
do espaço? Quando muito, sendo o Egito 
lembrado devido a figura de Cleópatra. 
E o que dizer das culturas milenares 
das regiões que hoje chamamos de 
China, Índia ou Japão, completamente 
ignoradas?
 Devemos compreender, é verdade, 
necessitamos fazer recortes em pesquisas 
históricas, tanto temporais quanto 
geográficos, cujas formas de escolha 
dependem do/a próprio/a historiador/a. 
 Seriam então todos esses 
problemas apontados, apenas um 
problema de nomenclatura? Não. 
Deveríamos proclamar o fim da “História 
Antiga”: talvez. Enquanto unidade 
genérica e representativa de uma 
universalidade, certamente deveria ser 
cancelada. A Antiguidade é múltipla, e 
ela é viva. Os povos não desaparecem 
ou deixam de ser “importantes” com a 
passagem do tempo. O contato entre as 
diferentes culturas é intenso e recorrente. 
Não existe um movimento histórico do 
Oriente para Ocidente, se não no recorte 
específico de quem assim o queira ver.
 A partir desta observação é 
possível entendermos porque se critica 
9
o ensino de “História do Brasil”, como uma 
perspectiva Eurocêntrica e Ocidentalizada: 
isto é, que situa o Brasil a partir de uma 
História Europeia, sem levar em consideração 
a existência de populações nativas, anteriores 
ao “Descobrimento”.
Metanarrativa é o termo utilizado para se referir a nar-
rativas que visam fazer explicações universais, abarcan-
do todo um conteúdo, muitas vezes, como uma forma 
de impor uma verdade absoluta.
GLOSSÁRIO
 História Antiga continua a existir, porém, 
enquanto marcação quando bem definida no 
tempo e no espaço: História da Roma Antiga 
no Período Imperial, A História de Atenas do 
século V a.E.C. ou a História dos Povos Celtas 
da Gália dos séculos III ao IV a.E.C.
 Porque o problema, apesar de parecer 
linguístico, é de um enfretamento político de 
nossa atualidade. História Antiga, conceito 
imbuído de ideologias, não se desprende de 
lutas maiores pela emancipação: Correntes 
pós-modernas e pós-coloniais que o digam. 
Assim, seria sim ideal que na construção de 
nossos modelos interpretativos ficassem 
explícitas as escolhas realizadas pelo (as) 
historiador (as), desnaturalizando o tempo e 
o espaço, e identificando-os como recortes 
subjetivos.
10
1.2
 F
O
N
TE
S 
E
 M
E
TO
D
O
LO
G
IA
S 
P
A
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A
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ST
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 S
O
B
R
E
 A
N
TI
G
U
ID
A
D
E
“Não há relato histórico sem 
documentos” Lefebvre (1971)
 A pesquisa histórica a 
respeito da Antiguidade – seja essa 
“Oriental” ou “Ocidental” – passa, 
necessariamente, pela análise dos 
documentos disponíveis: dos textos à 
cultura material, encontramos diversas 
fontes que podem ser utilizadas pela 
historiadora e pelo historiador.
 Devemos, no entanto, 
indagarmos de pronto, de um lado, 
o que são essas fontes, assim como, 
de outro lado, investigarmos a sua 
disponibilidade ao historiador\a. Em 
outras palavras, o documento deve ser 
problematizado em duas vias: uma 
que diz respeito a crítica documental 
e, como expôs Le Goff (1982) outra em 
relação às suas condições de produção 
[e manutenção] histórica.
 A necessidade dessa dupla 
indagação se dá pelo fato de 
entendermos que os documentos não 
são “inocentes” e nem mesmo possuem 
uma existência objetiva, independente 
das relações de poder existente nas 
sociedades históricas que os criaram e 
os mantiveram.
 Como aponta Batstone (2009, 
p. 27), acreditar que os documentos 
que temos disponíveis não sejam o 
resultado de, de um lado, uma violência 
ideológica e, de outro, o próprio acaso, 
é acreditar que durante muitos anos 
“nada aconteceu” ou mesmo que em 
determinadas épocas as mulheres não 
existiram. Le Goff (1982, p. 114), nesse 
sentido, faz uma síntese do documento: 
“É o resultado do esforço realizado pelas 
sociedades históricas para impor ao 
futuro – voluntária ou involuntariamente 
– determinada imagem de si próprias”.
 Como deve então proceder o 
historiador e a historiadora em sua 
pesquisa sobre a Antiguidade? De que 
formas deve trabalhar seus textos e 
artefatos na análise que se propõe desse 
passado? Para responder a essas perguntar 
devemos, em primeiro lugar, compreender 
as especificidades das fontes antigas.
1.2.1 PARTICULARIDADES DAS
FONTES ANTIGAS
 Quando trabalhamos com fontes da 
Antiguidade, duas categorias extremamente 
amplas edistintas estão disponíveis: Em 
primeiro lugar, e comumente usada nas 
pesquisas históricas, encontramos textos; 
escritos que, de maneira geral, são o produto 
de uma elite intelectual que escreve para a 
própria elite (MARINCOLA, 2009, p. 13-14).
Figura 2 - Exemplos de Edições das Bibliotecas Les Belles Let-
tres e Loeb Classical da obra de Júlio César, Guerra da Gália 
 Nesse sentido, encontramos obras 
sobre diversos temas, como oratória, 
costumes, religião, política, biologia, filosofia, 
e mesmo história, espalhadas por todo o 
período da Antiguidade, sobretudo clássica.
11
Atualmente, diversos textos antigos podem ser consul-
tados de forma legal e gratuita, nas línguas originais 
como Latim e Grego, e suas traduções, principalmente 
para o inglês. 
Conheça esse projeto: Perseus Digital Library 
LINK: http://www.perseus.tufts.edu/hopper/
Além disso é possível encontrar excertos de diferentes 
textos antigos compilados em livros:
100 Textos de História Antiga – Jaime Pinsky
LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publica-
cao/3477
BUSQUE POR MAIS 
 Diz Hartog (2011, p. 20), especificamente 
em um estudo sobre os historiadores greco-
romanos antigos, que a “historiografia é sempre 
história da história da história”, querendo 
dizer com isso que as Histórias escritas no 
passado são sempre um contar a partir de 
outra produção. O que chega a nós não são, 
portanto, dados brutos e objetivos: não são 
“eventos”, mas uma produção política e cultural 
posicionada sobre acontecimentos passados. 
São discursos construídos e reconstruídos 
com determinados fins – em uma metáfora, 
o que chega a nós não é o petróleo bruto do 
passado, mas seus derivados refinados, como 
a gasolina.
 Mas não apenas as Histórias devem 
ser observadas sob esse aspecto: todo texto, 
todo escrito da Antiguidade é sempre um 
posicionamento, uma imposição de uma 
imagem, elemento esse que os antigos 
estavam bastante cientes: Quem poderia 
acusar Aristóteles, Tucídides, Júlio César ou 
Cícero de ingenuidade na construção de suas 
obras?
 Em relação a esse tema, podemos 
retomar um dos grandes nomes da 
historiografia: Finley (1994). Em seu livro 
História Antiga: Testemunhos e Modelos, 
notamos a importância que o autor faz da 
distinção entre “testemunhos oculares” e 
“posteriores”, ou ainda, uma distinção entre 
“fontes primárias” e “derivadas”.
 Entendemos, entretanto, e conforme 
estamos expondo, que essa é uma distinção 
de pouca utilidade para o historiador atual, 
pois enseja uma ideia de “verdade” ou 
objetivação de “fatos e eventos” narrados 
da qual discordamos. Para Finley é como 
se, por exemplo, o valor da obra de Tito 
Lívio sobre períodos antigos da República 
Romana fosse menor – ou mais falsa – do 
que a escrita de Tucídides sobre a Guerra do 
Peloponeso, pois este teria participado da 
mesma, enquanto Tito Lívio, estaria apenas 
trabalhando com documentos e memórias 
distantes.
 Sabemos, entretanto, que o relato do 
historiador grego não é mais “verdadeiro” 
ou “verossímil” que a obra de Lívio sobre a 
fundação da República Romana: ambas 
retratam posicionamentos específicos do 
que seus autores queriam expressar para 
a sua audiência. Nem Lívio, nem Tucídides 
trabalham com fatos ou verdades, ambos 
escrevem apenas as suas reflexões sobre 
esses eventos, discursos sobre o passado e o 
presente: história da história da história.
 A segunda categoria de fontes 
disponíveis é o que chamamos por cultura 
material: e adentramos em um terreno 
absolutamente extenso que passa pela 
análise de construções/monumentos 
e sítios arqueológicos, artefatos como 
cerâmica, armamentos, roupas, alimentos, 
joias, moedas e etc. enfim, um número 
absolutamente vasto de objetos que 
podem auxiliar aos historiadores (as) e aos 
arqueólogos (as).
SCANEIE O CÓDIGO 
E ACESSE O LINK
12
VAMOS PENSAR?
Com o advento da internet e grandes esforços de di-
gitalização ficou muito mais fácil trabalhar com di-
versos artefatos da cultura material. Você sabia, por 
exemplo, que existem bancos de dados com extensos 
catálogos de inscrições e arquivos numismáticos de 
livre acesso aos usuários?
CIL - Corpus Inscriptionum Latinarum:
LINK:https: //arachne.uni-oeln.de/drupal/?q=en/
node/291
OCRE – Online Coins of the Roman Empire:
LINK: http://numismatics.org/ocre/
Figura 3 - Exemplos de fontes da Cultura Material: moedas, 
sítios arqueológicos e Vasos Canopos
 Embora comumente relegadas ao 
domínio da Arqueologia, as fontes materiais 
também fazem sim parte da busca do/a 
historiador/a, algo que os próprios fundadores 
dos Annales já haviam expressado: “A História 
faz-se com documentos escritos, sem dúvida. 
Quando estes existem. Mas pode fazer-se, deve 
fazer-se sem documentos escritos, quando 
não existem” (LE GOFF 1982, p. 107). 
 Bloch (2002, p. 80) expressa pensamento 
semelhante em sua Apologia da História:
Que o historiador das religiões se 
contentaria em compilar tratados 
de teologia ou coletâneas de hinos? 
Ele sabe muito bem que as imagens 
pintadas ou esculpidas nas paredes dos 
santuários, a disposição e o mobiliário 
dos túmulos têm a lhe dizer sobre as 
crenças e as sensibilidades mortas 
quanto muitos escritos.
 Como aponta Funari (2005) sempre que 
possível é importante explorar as diferenças e 
contradições entre fontes escritas e materiais. 
É necessário, contudo, ter em mente que as 
fontes materiais não estão disponíveis como 
mera “colaboração/corroboração” para uma 
pesquisa feita com textos. Elas possuem uma 
orientação própria e carecem de modelos 
interpretativos próprios.
 De fato, a fonte material conta com 
um elemento importante: “podem fornecer 
indícios de conflitos e resistência, em geral 
subestimados pela literatura produzida pelos 
letrados” (FUNARI, 2005, p. 102).
 Esse elemento é especialmente 
significativo uma vez que as fontes materiais 
podem fornecer possibilidade para análise de 
grandes grupos populacionais e as “massas” 
frequentemente esquecidas ou tratadas com 
desdém pela elite letrada.
 Devemos, contudo, esclarecer que 
a fonte material não é, de forma alguma, 
menos posicionada ou mais “explícita” que a 
documentação textual. Como mostrou Hartog 
(2011) assirologistas já chamaram a atenção 
para o fato de que as inscrições contendo a 
“Lista de Reis” sumérios, longe de ser “um 
documento “bruto”, era o resultado de uma 
compilação e o produto de uma fabricação, 
para não dizer, de uma falsificação, elaborada 
em um momento que pode ser datado: a 
primeira dinastia de Isin”. 
 Continua Hartog (2011, p. 52)
Longe de ser a primeira escrita de 
escribas arquivistas, encarregados do 
registro, ela é já, o de saída, reescrita 
(...) de um poder que procura, acima 
de tudo, fundir fontes diversas em um 
todo único e sobretudo contínuo. Em 
vez de um documento, trata-se do 
monumento de um poder novo que, 
proclamando a própria legitimidade e 
justificando suas ambições escreve já 
sua história.
 Feitas essas considerações a respeito 
das fontes antigas, passaremos agora a 
explorar alguns modelos de análise utilizados 
hoje pelos historiadores.
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13
1.2.2 METODOLOGIAS PARA ANÁLISE 
DAS FONTES ANTIGAS
 Considerando, especificamente as 
fontes textuais, que como mostramos se 
tratam de posicionamentos políticos e 
culturais, uma das principais ferramentas 
disponíveis ao historiador é a Análise de 
Discurso, que pode ser compreendida 
de diferentes formas conforme obras de 
Foucault ou Norman Fairclough, entre 
outros.
 Para Foucault (2009), o discurso é um 
conjunto de enunciados, na medida em que 
se apoiem na mesma formação discursiva. 
Esse conjunto deve ser observado do ponto 
de vista:
Histórico – fragmento de história, 
unidade e descontinuidade na própria 
história, que coloca o problema de seus 
próprios limites, de seus cortes, de suas 
transformações, dos modos específicos 
de sua temporalidade, e não de seu 
surgimento abrupto em meio às 
cumplicidades do tempo (FOUCAULT, 
2009, p. 132-133).
 O discurso,nessa perspectiva, é 
indissociável do contexto em que foi 
produzido, um contexto que possibilita ou 
proíbe sua realização. Ainda em relação a 
essa ideia, percebemos que o discurso é 
uma prática, que constrói seu sentido na 
articulação desses enunciados. 
 As práticas discursivas, desse modo, 
são fundamentalmente dependentes 
do contexto que lhe dá significado e 
é importante que percebamos nessas 
práticas como o enunciador:
Lança mão de estratégias 
argumentativas e de outros 
procedimentos da sintaxe discursiva 
para criar efeitos de sentido de verdade 
ou de realidade com vistas a convencer 
seu interlocutor. [...] organiza sua 
estratégia discursiva em função de um 
jogo de imagens: a imagem que ele faz 
do interlocutor, a que ele pensa que o 
interlocutor tem dele, a que ele deseja 
transmitir ao interlocutor etc. É em 
razão desse complexo jogo de imagens 
que o falante usa certos procedimentos 
argumentativos e não outros (FIORIN, 
2004, p. 18).
 Nesse sentido, quando falamos 
da análise de discursos e de práticas 
discursivas, propõe-se entender as 
estratégias de persuasão dos variados 
autores da antiguidade em seus textos. O/A 
historiador/a deve buscar compreender os 
objetivos desses discursos, os resultados 
almejados – se possível, alcançados – dessas 
práticas discursivas.
 Assim, dentro dessa perspectiva, 
podemos entender a horizontalidade 
das fontes, em relação a uma possível 
diferenciação entre “primárias” e “derivadas”: 
tendo como objetivo entender as estratégias 
de persuasão dos autores e seus objetivos, 
não se busca uma “realidade” ou “evento 
real” nos documentos, mas trabalhamos 
justamente com as construções ideológicas, 
políticas e etc. nelas contidas. Desse 
aspecto, percebemos que tanto como Tito 
Lívio quanto Tucídides são importantes não 
pela sua “veracidade” em relação aos fatos 
narrados, mas na intencionalidade de suas 
construções, não necessariamente pelo o 
que é narrado, mas o porquê é narrado e 
para quem.
 Em relação a metodologias para 
análise da cultura material há uma grande 
variedade de modelos, a maioria advindos 
da própria Arqueologia, para a interpretação 
dos artefatos. Podemos encontrar, como 
mostra Renfrew & Bahn (2005), teorias que 
passam da Caracterização (que foca nos 
aspectos materiais constitutivos do artefato, 
por exemplo, de onde a matéria prima teria 
sido retirada e trabalhada para a construção 
do objeto) que possibilita uma análise das 
técnicas utilizadas no passado assim como 
sugerir redes de troca e comércio, ao modelo 
de Peer Polity Interaction (Interação entre 
Comunidades Paritárias, que reflete sobre 
a mudança política e econômica) sendo o 
modelo predominante na compreensão 
do desenvolvimento de Creta no período 
Minoico.
 A Semiótica é também uma 
importante ferramenta de análise de 
materiais, e especialmente, imagens. Assim 
14
como a Análise de Discurso, a Semiótica possui 
diversas teorizações, como de Ferdinand de 
Saussure, Julius Greimas e Umberto Eco, 
que podem ser utilizadas e seguidas pelo/a 
historiador/a em sua análise.
A semiótica é uma área em que encontramos uma gran-
de diversidade, tanto em aspectos teóricos quanto prá-
ticos! Ficam aqui boas sugestões de leitura sobre este 
tema, das suas bibliotecas:
Semiótica Aplicada – Lucia Santaella
LINK:https: //integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788522126989/
Semiótica: Objetos e Práticas – Ivã Carlos Lopes e Nilton 
Hernandes
LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publica-
cao/1230
BUSQUE POR MAIS 
 Um último e importante ponto a ser 
lembrado quando tratamos de artefatos 
é que tal qual as fontes documentais, é 
necessário que eles não sejam analisados 
descontextualizados. Um objeto enterrado, 
por exemplo, deve levar em consideração 
para sua análise outros objetos que tenham 
sido depositados em conjunto, o local em 
que foi encontrado e que tipo local se refere, 
por exemplo: seria um cemitério, um templo, 
uma casa comum, um quartel? Todos esses 
elementos básicos, são necessários para uma 
análise e interpretação adequada do material.
 Na busca de ferramentas interpretativas 
aos artefatos, terminamos esta unidade com 
o conselho do professor Pedro Paulo Funari 
que sugere aos historiadores “promiscuir-se 
com as teorias sociais” (2005 p. 94) associando 
a sua análise diversas “leituras de caráter 
metodológico, antropológico, sociológico 
e filosófico que devem ser feitas pelo 
pesquisador”.
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15
FIXANDO O CONTEÚDO
1 - A respeito da periodização da História, observe as assertivas a abaixo e assinale a 
alternativa correta.
I- A periodização é a forma lógica e natural de divisão do tempo em categorias, livre de 
qualquer fundamentação ideológica.
II- O conceito de História Antiga é vago e impreciso, sendo necessário explicitar, no tempo 
e no espaço, a qual Antiguidade está se referindo. 
III- A Periodização tradicional toma como referência as ideias de “Grandes Eventos”, 
“Grandes Homens” e é profundamente influenciada pela tradição Cristã.
 
a) I e II são verdadeiras. 
b) II é a única verdadeira.
c) III é a única verdadeira.
d) II e III são verdadeiras.
e) I, II e III são verdadeiras.
2 - Na historiografia dos séculos XVIII e XIX, era possível observar a respeito da ideia de 
“História Antiga” principalmente um movimento:
a) partindo do Ocidente para o Oriente, este último visto como o último grau de elevação 
civilizatória. 
b) de baixo para cima em que o principal vetor de ação social na Antiguidade eram as 
massas.
c) partindo do Oriente movendo-se para o Ocidente, iniciando-se na Mesopotâmia e ao 
Egito, chegando ao mundo Greco-Romano, visto como a raiz da civilização atual. 
d) de cima para baixo, em que a elite estava preocupada com a educação das massas, de 
maneira que sua produção intelectual se direcionava a elas. 
e) não há nenhum movimento, tendo em vista que a ideia de movimentos na história é 
exclusiva de uma perspectiva Marxista.
3 - A Respeito da conceituação de “Antiguidade Oriental”, observe as assertivas a abaixo e 
assinale a alternativa correta.
I- Reflete o avanço historiográfico nos debates acerca da necessidade de se especificar os 
recortes quando trabalhamos com a História Antiga.
II- Mantém ainda alguns problemas de precisão, uma vez que em geral, refere-se somente 
ao Oriente Próximo, não abrangendo áreas de estudos como China e Índia.
III- Pode levar a uma noção ainda isolacionista da História, em que os povos após dado 
momento “desaparecem” ou “deixam de ser importantes”, não mantendo mais contato 
com outras culturas.
a) I e II são verdadeiras.
16
b) II e III são verdadeiras.
c) I e III são verdadeiras.
d) I, II e III são verdadeiras.
e) I, II e III são falsas.
4 - Considere as seguintes assertivas e assinale a opção correta.
I- Devemos estudar o Império Romano, compreendendo-o como História Antiga da Europa, 
uma vez que existe perfeita continuidade espacial entre estas duas regiões. 
II- Estudar a Antiguidade Clássica no Brasil é uma questão essencial de nossa identidade, 
tendo em vista que nossas raízes estão unicamente na Europa, devido à nossa colonização 
Portuguesa. 
III- A História antiga era vista como introdução de nosso momento atual, tomando como 
marco cultural o uso de ferramentas e o início da agricultura. 
a) I é verdadeira.
b) I e II são verdadeiras.
c) III é verdadeira.
d) I, II e III são verdadeiras.
e) I, II e III são falsas.
5 - As principais fontes que temos para trabalhar com a Antiguidade são:
a) Fontes Textuais e a Cultura Material.
b) Fontes Internas e Fontes Externas.
c) Fontes Primárias, Secundárias e Terciárias.
d) Memórias e Tradições orais.
e) Sítios Arqueológicos.
6 - Podemos afirmar acerca da Documentação a respeito da Antiguidade que:
a) documentos são todos de um mesmo gênero: história, pois não havia diversidade nas 
formas de escrever na antiguidade, seja essa clássica ou oriental.
b) eram escritos de uma elite que escrevia para si mesma, tendo em vista haver apenas 
uma ínfimaparte da sociedade que era alfabetizada. 
c) os documentos chegaram a nós sem passar por nenhuma modificação, já que as 
condições de manutenção de documentos históricos são sempre as mesmas. 
d) representam a realidade daquelas sociedades, pois, tendo sido escritos naquele período, 
trazem verdades e fatos sobre o que realmente aconteceu.
e) tratam-se, em grande parte, de falsificações realizadas no século XX, em que determinados 
grupos sociais resolveram impor novas visões sobre o passado.
7 - A Importância da Análise de Discurso para compreensão dos documentos Antigos 
reside no fato que:
a) esclarece a verdade dos fatos, de modo que é possível discernir entre aquilo que realmente 
aconteceu e não aconteceu. 
b) evidencia a intencionalidade de certas narrativas, de modo que nos permite fazer as 
17
principais perguntas sobre um determinado texto: porque algo foi dito, e para quem. 
c) na antiguidade o discurso era a segunda mais importante forma de comunicação, sendo 
o canto e a poesia lírica em primeiro lugar.
d) nega o caráter político e ideológico dos textos antigos, atribuindo-lhes valores bem 
definidos e universais. 
e) garante ao pesquisador uma metodologia de trabalho que não é passível de erros, ou 
interpretações equivocadas.
8 - A respeito da Análise de artefatos da Cultura Material, podemos dizer que a melhor 
forma de realizá-la é:
a) considerar o seu contexto, analisando o objeto de forma única, pois cada artefato tem a 
capacidade de falar por si mesmo, independentemente de outros fatores.
b) desconsiderar o contexto, analisando o objeto de forma única, cabendo ao historiador 
trabalhar com diversas teorias sociais para interpretar essas fontes. 
c) considerar o seu contexto, analisando objetos que foram encontrados em conjunto, 
realizando questionamentos sobre o local em que foram encontrados e outros elementos. 
Cabe ao Historiador trabalhar com diversas teorias sociais para interpretar essas fontes. 
d) a análise de artefatos é função exclusiva do Arqueólogo, não sendo lícito ao historiador 
estudar e utilizar esses materiais em suas pesquisas.
e) considerar em primeiro lugar sua relação com a fonte textual, uma vez que essa possuí 
primazia no interesse do historiador, devendo comparar se o objeto corrobora ou discorda 
do texto.
18
UNIDADE 2
ANTIGUIDADE ORIENTAL –
MESOPOTÂMIA, EGITO E OS HEBREUS
19
2.
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 Falar de Antiguidade Oriental é 
uma questão de grande complexidade 
que começa com a própria terminologia 
adotada, devido à falta de clareza e 
conceituação do termo “Oriental”. 
A primeira pergunta que se coloca, 
portanto, é o que está sendo chamado de 
“Oriente / Oriental”, tendo como corolário 
as questões sobre onde ele se encontra e 
quais suas implicações.
 Como foi observado na Unidade 
01, a “Antiguidade Oriental” apareceu 
representada como um espaço dentro 
do discurso historiográfico – e não um 
espaço real – em que se enfatizava o 
passado das civilizações que habitaram 
um chamado “Oriente Próximo”, focando 
nos povos do Egito e da Mesopotâmia e, 
em geral, ignorando todo o restante do 
continente asiático.
 Podemos dizer que esta 
historiografia dos séculos XVIII e XIX fora 
sobretudo, retomando o conceito de Said 
(1990) Orientalista. Mas o que significa 
dizer isso? De maneira mais abrangente, 
se entende por Orientalismo como o 
longo processo através do qual o Oriente, 
para além de uma posição geográfica, foi 
construído e constituído ideologicamente, 
e mesmo reorganizado materialmente, 
por acadêmicos ocidentais.
 Como é possível observarmos essa 
construção? Pois bem, se nos lembrarmos 
das discussões realizadas a respeito do 
papel da história na constituição das 
identidades, e o foco mundo Greco-
Romano enquanto berço da civilização, 
tanto Egito quanto Mesopotâmia, por 
exemplo, encontravam-se relegados 
a um segundo plano narrativo que, 
frente a uma ideia de desenvolvimento 
linear no tempo, concebe antecedência 
cronológica como equivalente à 
defasagem cultural – em outras palavras, 
a Cultura era vista também como 
evoluindo com a passagem do tempo, do 
mais bárbaro ao mais civilizado.
 Nesse sentido, note como fora um 
grande ponto de discussão a respeito do 
Oriente Antigo, o fato de não apenas não 
haver o desenvolvimento de um “sistema 
democrático” – uma “inovação Grega” – em 
suas sociedades, mas como as próprias 
relações entre o político e o religioso “as 
realezas divinas” orientais (BRISCHE, 
2008), acabavam por justificar uma 
hierarquização de valores e reificação de 
lugares, que como apontou o próprio Said 
(1990) fez com que o Oriental fosse visto 
como passivo e submisso, necessitado de 
ser dominado e controlado.
 Ainda nesta perspectiva Orientalista, 
no que diz respeito ao uso e manipulação 
de fontes e abordagens, existe o problema 
da fetichização/exotização do “outro” em 
objetos e artefatos que tomam caráter 
metonímico, ao lado de suas formas de 
recepção e consumo no Ocidente.
 De um lado, a questão da existência 
de diversos materiais espalhados em solo 
europeu e americano, por exemplo, em 
disputa com os países de origem (como, 
por exemplo, o Egito) que solicitam sua 
devolução é um atestado da manutenção 
de práticas coloniais antigas. Por outro 
lado, e mais relevante sob o ponto de nossa 
análise, o deslocamento de artefatos e suas 
exibições, seja como do célebre Obelisco 
de Luxor – ícone religioso que se encontra 
em uma praça pública em Paris – seja 
das disposições das coleções em museus 
são sintomáticos dessa fetichização 
do outro da qual decorre uma curiosa 
ambiguidade: cada objeto é colocado 
como representativo de culturas inteiras, 
mesmo estando por vezes no limiar do 
“epifenômeno negligenciável”.
20
Metonímia é a figura de linguagem que consiste em to-
mar uma coisa pela outra, ou ainda, uma parte pelo seu 
conjunto. Nesse sentido, o caráter “metonímico” do obje-
to, é quando tomamos um único artefato ou fato como 
representativo de toda uma cultura, povo, período etc.
GLOSSÁRIO
Figura 4 - Obelisco de Luxor: Retirado do Egito em 1823, e atualmen-
te na Praça de la Concorde em Paris
 Neste exato sentido que encontramos 
as tradicionais exibições de múmias egípcias 
em sarcófagos abertos e que ainda por cima 
contam com a exposição de objetos ao seu 
redor que não possuem nenhuma ligação 
com a múmia em questão ou o local de seu 
descobrimento, sendo especialmente comum 
em relação a exposição de vasos canopos 
(OSBORNE, 2004).
 Da mesma forma podemos refletir 
sobre a reconstrução do palácio de Sargão 
II: Durr-Sharrukin, espoliado por franceses 
e americanos entre os séculos XIX e XX, 
resultando hoje nas exposições de estátuas 
em baixo-relevo no Museu do Louvre “Cour 
Khorsabad” e no Instituto Oriental de Chicago.
 Perguntamos: Qual o papel da 
exibição dos restos mumificados que jamais 
foram vistos em suas próprias sociedades, 
ou dos Lamassus nas portas da seção das 
Antiguidades Orientais do Louvre? Existe algo 
além de um prazer voyeurístico dos visitantes 
em saciar sua sede pelo exótico ao ver estes 
objetos ou restos mumificados que jamais 
foram criados ou pensados para este fim?
Figura 5 - Cour Khorsabad, Louvre
 Esses são exemplos claros de como as 
sociedades do Egito e da Mesopotâmia são 
reconstruídas e representadas/reapresentadas 
a partir de decisões e delimitações que são 
basicamente ocidentais e fornecem assim, um 
conhecimento que é na verdade Orientalizado 
sobre o passado. 
 Apesar do quadro exposto, devemos 
observar que nem todo conhecimento sobre 
a Antiguidade Oriental é, necessariamente, 
fundamentado no orientalismo, existindo uma 
grande produção histórica, principalmente no 
tempo recente, que permite conhecermos 
mais sobre esse passado sem subjugá-lo.
 De um lado contamos, por exemplo, 
com uma extensa produção de acadêmicos 
egípcios que fazem parte de uma “tradição” 
de formados pela Universidade do Cairo. 
Compondo-se especialmentede arqueólogos 
tais como Selim Hassam e Ahmed Moussa 
(que trabalharam nas décadas entre 30 e 70), 
e mais recentemente Mamdouh Eldamaty 
e Zahi Hawass, em que é possível perceber 
em suas obras um forte senso de valorização 
da história do Egito Antigo não o colocando 
dentro do movimento Ocidente-Oriente que 
observamos anteriormente.
 Por outro lado, contamos também com 
a produção da comunidade internacional e 
inclusive brasileira, que tem se preocupado 
em não cair nos erros orientalistas de análise. 
No que diz respeito da historiografia brasileira, 
podemos chamar à atenção o livro organizado 
por Pozzer, Silva e Porto (2013), Um outro 
Mundo Antigo, em que diversos pesquisadores 
apresentam suas contribuições sobre a 
21
Antiguidade Oriental.
 Existem dois pontos a respeito dessa 
obra que são particularmente importantes 
para mencionarmos. Primeiro, em consonância 
com que estamos afirmando a respeito de 
perspectivas não-orientalistas no estudo dos 
povos do Egito e Mesopotâmia, os autores 
apontam para necessidades de abordagens 
plurais, não apenas trazendo temas pouco 
explorados, mas também no próprio sentido 
de integração e formação de redes de relações 
culturais entre esses povos. Notamos assim, 
um considerável esforço para se afastar 
daquela visão isolacionista do passado ao qual 
nos referimos e a tentativa de compreender 
a dinâmica social, política e econômica que 
ligava essas regiões – não só entre si, mas 
também com o próprio “mundo ocidental”.
 O segundo elemento que devemos 
mencionar é o fato de haver uma tentativa de 
inclusão do restante da Ásia em uma visão de 
Antiguidade Oriental. Ainda que possamos 
considerar uma dada timidez – dos onze 
capítulos da obra, apenas dois fazem análises 
sobre a Índia e um sobre a China – é uma 
importante quebra com o paradigma reinante 
que compreende alguma espécie de muro 
intransponível ao leste do Rio Tigre, embora 
ainda estejamos distantes de uma visão de 
integração e formação de redes também com 
essas civilizações da Índia, China e além.
 Nesta Unidade, considerando-se 
especialmente questões de limitação física 
do material de estudo, privilegiaremos uma 
análise comparativa entre diferentes povos do 
Oriente Próximo, deixando claro, porém, que 
a Antiguidade Oriental não se resume a eles, 
convidando os estudantes a continuarem seus 
estudos com outras bibliografias.
22
2.
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 Os temas da escravidão e do 
trabalho entrelaçam-se de maneira 
clara na Antiguidade, tanto para o 
que chamamos de “Oriental” quanto 
“Clássica” embora, seja muito mais 
analisado em relação a essa última.
 É importante percebermos de 
pronto que, e como todos os demais 
aspectos da vida na Antiguidade, o 
trabalho e a escravidão são marcados 
por nada senão a pluralidade e a 
diversidade de formas com que foram 
pensados, encarados e implementados 
nas diversas sociedades espalhadas no 
tempo e no espaço.
 Por um lado, é possível fazermos 
uma generalização básica, como 
nos mostra Warburton (2005, p. 169), 
que “as economias da antiguidade 
são caracterizadas como agrárias”: 
da Suméria à Roma Imperial, 
encontraremos a dependência básica 
da sociedade na produção agrícola 
para tanto sua estabilidade quanto 
desenvolvimento. 
 Por outro lado, como aponta 
Zuiderhoek (2013), a produtividade 
agrícola era baixa e necessitava do 
emprego da grande maioria das 
populações do mundo antigo na 
produção de alimentos primários, e 
condenava a vasta maioria de indivíduos 
para um padrão de vida não muito 
acima do que a subsistência”. 
 Por um lado, é possível fazermos 
uma generalização básica, como 
nos mostra Warburton (2005, p. 169), 
que “as economias da antiguidade 
são caracterizadas como agrárias”: 
da Suméria à Roma Imperial, 
encontraremos a dependência básica 
da sociedade na produção agrícola 
para tanto sua estabilidade quanto 
desenvolvimento. 
 O trabalho escravo, entretanto, 
não necessariamente se reduziria 
a condução desses trabalhadores 
somente aos campos, podendo 
também ser empregada nos projetos das 
grandes construções, especialmente de 
templos. Nesse mesmo sentido, porém, é 
preciso observar que em diversos períodos 
a maior parte da mão-de-obra eram os 
próprios camponeses.
Apesar de ser um tropo comum em imagens atuais 
sobre o Egito, as Grandes Pirâmides não foram cons-
truídas com base no trabalho escravo. De fato, como 
diversas pesquisas demonstraram, as Pirâmides fo-
ram construídas com base no trabalho de campo-
neses e artesões. Haveria dúvidas até mesmo sobre 
como seria possível manter um número tão grande de 
escravos nestes locais, com a tecnologia da época! Re-
alize sua pesquisa sobre o assunto!
FIQUE ATENTO
 Outro fator importante que 
devemos ter em mente em nossas 
análises: o número e proporção de 
escravos em determinada sociedade 
antiga é, invariavelmente, desconhecido. 
Faltam-nos ferramentas e fontes básicas 
que auxiliem essa quantificação, sendo 
que os números com que atualmente 
trabalhamos – como, por exemplo, o 
acima de 20% da população composta por 
escravos em Roma de acordo com Hopkins 
(1978) – são especulações com maior 
ou menor probabilidade, baseada em 
modelos e teorias a respeito da economia 
na Antiguidade.
 Devemos estar atentos também 
ao fato de que não apenas de escravos 
e trabalhadores livres existiam nas 
sociedades antigas, eliminando a extrema 
complexidade de suas relações sociais. 
Zuiderhoek (2013) já mostrou como “existia 
numerosas categorias de trabalhadores 
dependentes e semi-dependentes”, de 
grupos camponeses que trabalhavam 
sem serem os donos da terra, pessoas 
submetidas a trabalho forçado, pessoas 
escravizadas devido a dívidas, escravos 
públicos pertencentes ao Rei e, inclusive, 
ex-escravos.
23
 Outro fator importante que 
devemos ter em mente em nossas 
análises: o número e proporção de 
escravos em determinada sociedade 
antiga é, invariavelmente, desconhecido. 
Faltam-nos ferramentas e fontes básicas 
que auxiliem essa quantificação, sendo 
que os números com que atualmente 
trabalhamos – como, por exemplo, o 
acima de 20% da população composta por 
escravos em Roma de acordo com Hopkins 
(1978) – são especulações com maior 
ou menor probabilidade, baseada em 
modelos e teorias a respeito da economia 
na Antiguidade.
 Devemos estar atentos também 
ao fato de que não apenas de escravos 
e trabalhadores livres existiam nas 
sociedades antigas, eliminando a extrema 
complexidade de suas relações sociais. 
Zuiderhoek (2013) já mostrou como “existia 
numerosas categorias de trabalhadores 
dependentes e semi-dependentes”, de 
grupos camponeses que trabalhavam 
sem serem os donos da terra, pessoas 
submetidas a trabalho forçado, pessoas 
escravizadas devido a dívidas, escravos 
públicos pertencentes ao Rei e, inclusive, 
ex-escravos.
 De fato, como mostrou Snell (2011) 
existem alguns textos do período Ur III 
(2112–2004 a.E.C) provindos da região sul da 
Mesopotâmia que mostram o resultado de 
julgamentos em que pessoas contestavam 
seu status de escravas, apresentando 
inclusive os argumentos utilizados pelas 
partes. Um jovem, por exemplo, pleiteava 
que seu pai havia sido libertado há mais 
de quinze anos e não poderia ser o escravo 
de um certo homem rico. Este, porém, 
trouxe testemunhas de que o pai havia 
recentemente recebido rações de comida 
de sua casa – tal qual um escravo recebia.
Figura 6 - Mapa Mesopotâmia (Destaque para o sítio Arqueológico da 
cidade de Ur)
 O famoso código de Hamurabi também traz 
algumas informações de determinados aspectos 
da escravidão, como por exemplo, o fato de que a 
criança nascida da união de uma pessoa escrava 
e outra livre, teria o status de livre. Note que foi 
observado que a criança cujo pai não reconhece a 
paternidade não teria proveito dessa situação, ao 
mesmo tempo, porém, garantia-se que o filho/a 
reconhecido/a pelo pai em sua morte, ganharia o 
status de livre, bem como sua mãe, se esta fosseescrava.
 No Egito, é principalmente a partir do 
período do Novo Reino (c. 1558-1080 a.E.C) que 
encontramos a entrada maior de escravos 
na sociedade. Por se tratar de um período 
expansionista, são principalmente estrangeiros 
– vindos da Ásia Menor e Alto Nilo – escravizados, 
recebendo uma denominação que equivaleria ao 
termo “trabalhadores”. 
 Ao contrário do observado na Mesopotâmia, 
nesse período do Egito uma criança nascida 
de uma mulher escrava seria sempre escrava, 
independentemente da posição social e/ou 
reconhecimento do pai.
 Estes escravos egípcios possuíam trabalhos 
variados, de serviços domésticos ao cuidado 
com a agricultura, e grandes construções, com 
espaço inclusive para que escravos reais fossem 
alfabetizados.
 O que podemos observar assim, é que a 
escravidão e o trabalho tomam diferentes formas e 
possibilidades, sendo extremamente reducionista 
do ponto de vista social, e mesmo econômico, dividir 
a sociedade simplesmente entre indivíduos livres e 
escravizados; bem como não se buscar entender os 
24
diferentes aspectos da escravidão, em que se 
deve sempre perguntar: 
 • Quem são esses escravos? 
 • Quais seus direitos e suas obrigações? 
 • Quais suas ocupações?
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 O Ramo de Ouro de Frazer, 
(1982) foi um dos primeiros e 
mais influentes trabalhos a tentar 
sistematizar observações a respeito 
das relações entre religião, mito e 
monarquia em diferentes sociedades. 
Apesar das grandes críticas que 
recebeu e recebe, esta obra permitiu 
que, ao longo do tempo, estudos 
sobre este tema passassem a integrar 
um campo de estudos comparativos 
cujas contribuições provinham de 
várias disciplinas como a História, 
Arqueologia, Teologia e etc.
 A consolidação deste campo 
é particularmente importante para 
os estudos a respeito da Antiguidade 
Oriental, onde os pesquisadores 
passaram a compreender a religião 
enquanto um fator importante 
de integração das sociedades, 
especialmente no que se refere em seu 
desenvolvimento/relacionamento com a 
monarquia.
 O trabalho de Frankfort (1948), 
intitulado “Kingship and The Gods: A Study 
of Ancient Near Eastern Religion as the 
Integration of Society and Nature” é neste 
sentido, um dos principais estudos realizados 
sobre o tema, sendo até os dias de hoje um 
ponto de partida para muitos pesquisadores 
discutirem, e mesmo reavaliarem, as relações 
entre a Monarquia e Divindade nas sociedades 
do Egito e Mesopotâmia.
 Para o autor, a qualidade comum 
e essencial entre as realezas do Egito e 
Mesopotâmia é a sua posição central 
nos sistemas cosmológicos destas duas 
sociedades: isto é, a Realeza é necessária não 
somente para a ordenação da sociedade, 
mas da própria natureza, sendo a ordem da 
natureza e da sociedade diferentes aspectos 
de uma ordem moral do universo.
 Porém, como observa o próprio autor, 
os papéis desempenhados pelos Reis nestas 
duas sociedades, apesar de tocados pelo 
divino, seriam diferentes: No Egito, o Faraó é 
um deus entre os deuses, mantenedor - por 
seu próprio direito - da ordem divina, que se 
reflete nos ciclos da natureza e da estrutura 
social. Na Mesopotâmia, o rei se apresenta 
enquanto um servo dos deuses, ele encontra-
se acima dos outros membros da sociedade 
e possui uma relação próxima com as 
divindades: ele é um “espécime magnífico” 
da humanidade, mas inteiramente humano. 
Assim, em outras palavras, encontramos no 
Egito um Rei-Divino e na Mesopotâmia uma 
espécie de Rei-Sacerdote.
 Apesar de no papel esta diferença 
parecer bastante drástica, não se pode dizer 
absolutamente que um egípcio observava 
seu faraó de uma maneira completamente 
diferente do que um assírio, por exemplo. 
A aura divina em torno do Rei leva-nos a 
questionar diretamente, se na prática e 
na vida cotidiana, este rei-sacerdote não 
se tornara também divino em seu próprio 
direito.
Figura 7 - Faraó Ramsés III e seu Filho frente a Deusa 
Háthor
25
 Este questionamento, na verdade, 
parte diretamente do que Brisch (2008) 
nos revela sobre os posicionamentos atuais 
dos estudos sobre a Antiguidade Oriental 
em que novas perspectivas vêm sendo 
abordadas, sendo uma das principais, a 
reconsideração a respeito da separação 
binária entre o divino e o humano.
 Como mostram diversos 
pesquisadores, essa separação que é, 
em última instância, baseada numa 
classificação aristotélica, não funciona 
quando aplicadas diretamente ao dia a 
dia daquelas sociedades. De fato, tanto no 
Egito como na Mesopotâmia, os Reis e os 
membros da família real são “compostos” de 
elementos tanto humanos quanto divinos, 
e não necessariamente se enquadram 
dentro de uma única categoria/estereótipo/
arquétipo.
VAMOS PENSAR?
Podemos fazer uma reflexão acerca deste aspecto 
“Divino” do Governante, que está longe de ser um ele-
mento presente apenas nas sociedades do Oriente 
Próximo. Para além da Antiguidade, até muito recen-
temente na História humana, de fato, governantes 
foram vistos como dotados de uma aura sobrenatu-
ral, dando origem as mais diferentes construções po-
líticas e sociais, como os reis taumaturgos medievais 
e a própria concepção de direito divino nos Estados 
Modernos.
 A compreensão a respeito da 
divindade, ou ainda da realiza divina, passa 
assim de uma separação absoluta entre 
divino e humano, para uma visão relacional 
sobre o status divino, em que observamos 
o Rei, independentemente se no Egito ou 
na Mesopotâmia, como uma figura que ao 
encontrar-se no topo da pirâmide social, 
esta imersa em uma aura divina.
 O status divino assim, deve ser 
compreendido dentro de uma visão que 
engloba um conjunto de ferramentas 
políticas e sociais que aliada s à esfera 
religiosa criam, honram e distinguem o 
governante. Esta visão é importante, pois 
dessencializa a “natureza divina” do Rei, 
situando-a dentro de um complexo contexto 
social, em que se pesa os interesses de 
diferentes grupos sociais na manutenção 
deste sistema.
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 Que o passado é usado para justificar 
posições presentes não é nenhuma novidade 
para nós historiadores do século XXI. Conforme 
observado, é especialmente importante 
notarmos como a história ciência nasce 
como instrumento dos Estados Nacionais, 
nas justificativas de sua criação, historicidade 
e pretensões futuras: A história, ou ainda, as 
narrativas históricas, são criações sobre um 
povo e sua cultura. 
 O caso Hebreu é particularmente 
significante desta tradição historiográfica, 
especialmente por contar com um corpus 
narrativo que, como mostrou Brettler (1995) 
parte da presunção tradicional que as 
religiões Israelitas e “Proto-Judáicas” eram 
fundamentalmente religiões “históricas”, 
no sentindo em que eram primariamente 
preocupadas com, e baseadas em, eventos 
históricos reais.
 Neste sentido, a história – enquanto 
instrumento – e a bíblia – como corpus 
narrativo – assumiram, e ainda assumem, 
o papel de reconstruir uma história “real” 
de Israel usando correntemente textos do 
Oriente Próximo Antigo para este propósito. É 
neste cenário que os Hebreus aparecem nos 
estudos históricos onde a preocupação com 
a sua formação e diáspora, na verdade, são as 
preocupações com a formação e criação de 
Israel e dos judeus.
 Desta forma, podemos nos perguntar 
enquanto pesquisadores/as, de que adianta 
adentramos neste corpo narrativo, se for para 
meramente repetir – com maior ou menor ar de 
cientificidade – as palavras do Antigo 
Testamento? De irmos de Ur a Canãa, 
de Abraão às doze tribos de Israel, do 
Egito a Moisés, ou ainda realizarmos 
uma narrativa sobre os Reinados 
de Davi e Salomão, passarmos pelo 
general romano Tito, para terminamos 
em 1948 com a fundação do Estado 
de Israel – se não entrarmos nas 
dimensões retóricas e literárias destas 
narrativase, especialmente, se não nos 
atentarmos ao ofício do historiador 
que não lida com fatos, mas com 
textos?
 A questão chave que colocamos 
assim, como se pode perceber, é a 
aceitação acrítica do texto, da narrativa 
bíblica, o que poderia, por um lado 
suscitar a questão eloquentemente 
trabalhada por Miller (1991): É possível 
escrevermos uma história de Israel 
sem dependermos da Bíblia Hebraica? 
 Uma resposta a esta questão 
sugeriria o uso praticamente exclusivo 
dos estudos arqueológicos sobre os 
povos da Idade do Ferro I que viviam 
na região da Palestina. O problema, 
entretanto, está que mesmo estes 
estudos de base arqueológica 
tomam também de alguma forma a 
Bíblia hebraica para chegar às suas 
conclusões: sendo a primeira e mais 
problemática destas considerar de 
antemão como hebraicos ou israelitas 
os povos que viviam nesta região.
 A questão apropriada assim 
para esta problemática não é, como 
explica o autor, SE devemos usar a 
Bíblia hebraica na pesquisa histórica, 
mas sim COMO devemos usá-la, ou 
ainda, em nossas próprias palavras, 
como compreender e trabalhar estes 
textos?
 A alternativa assim, é considerá-
los dentro das perspectivas que 
mencionamos: a partir de seu caráter 
retórico e entrarmos em nosso ofício 
de historiadores e perguntarmos 
Figura 8 - Expansão do Estado de Israel de 1946 – 2010
27
sobre os textos: O quê? Por quê? Para 
quem? Tomemos um exemplo prático deste 
trabalho que propomos, considerando a 
Conquista de Canãa.
 Como mostra Malamat (2001), 
os problemas começam quando 
consideramos a própria confiabilidade da 
bíblia enquanto registro histórico. Do ponto 
de vista metodológico, existe a questão 
de que, praticamente, não possuímos 
outros documentos para uma comparação 
externa. Neste caso, esta própria ausência 
é significativa: tal conquista parece não 
ter trazido nenhum movimento na política 
da época, causando um impacto pouco 
significativo, de forma que nem mesmo 
os senhores anteriores de Canãa – leia-se 
o Egito – tomassem nota/registro deste 
acontecimento.
 Este silêncio torna-se sugestivo no 
sentindo que, poderia se esperar algum tipo 
de reação, ou ainda, notificação de uma 
tomada de território a força. Neste mesmo 
sentido estudos arqueológicos das últimas 
décadas, como os de Finkelstein (1990) 
têm mostrado que parece ser muito mais 
apropriado se dar lugar da ideia de uma 
invasão e conquista, para uma ocupação 
pacífica e negociada.
 Cabe assim, questionarmos: Por que 
é importante, do ponto de vista bíblico e 
narrativo a ideia de uma invasão e a tomada 
pela força de Canãa, ao invés do que, como 
sugerem outros indícios, uma ocupação 
pacífica? 
 A resposta fica evidente quando 
percebemos que a descrição deste evento 
na narrativa Deuteronomista subordina a 
historiografia a uma doutrina teológica, onde 
o divino e mortal se entrelaçam, ficando 
explícito e acentuado o papel e a força do 
Senhor de Israel nos feitos humanos.
 A conquista de Canãa na narrativa 
bíblica é a vitória do Deus Hebreu, que 
legitima toda uma série de outros textos, 
configurando-se em um eficiente reforço 
moral e retórico na construção identitária e 
posicionamentos sociais de quando o texto 
Deuteronomista fora escrito. 
 Como não podemos deixar de 
perceber, tal evento e interpretação 
permanecem importante na leitura atual do 
Estado de Israel, pois este evento é utilizado 
como mais uma evidência do direito à terra, 
no que podemos classificar como a ideia de 
uma “conquista atemporal” dos Israelenses 
da “Terra Prometida” – uma vitória militar, 
que nesta situação atual de disputa com os 
Palestinos, é muito mais significativa do que, 
possivelmente, um acordo de ocupação ou 
empréstimo de terras, embora seja provável 
que este tenha sido o caso.
28
FIXANDO O CONTEÚDO
1 - Assinale a Alternativa que apresenta a perspectiva Orientalista acerca dos povos da 
Antiguidade Oriental.
a) Na perspectiva Orientalista, a antecedência cronológica de um povo era entendida como 
equivalente à defasagem cultural, assim, povos do Egito e Mesopotâmia, eram vistos como 
bárbaros, e gregos e romanos como civilizados.
b) Na perspectiva Orientalista, há uma exaltação do caráter avançado das culturas do Oriente 
Próximo, em que se celebra as suas grandes criações como, por exemplo, a Democracia.
c) A perspectiva Orientalista é atualmente a principal forma de compreensão do Oriente, 
permanecendo como ponto central de inflexão historiográfica, caracterizada, sobretudo, 
pela visão do barbarismo dos povos orientais.
d) A perspectiva Orientalista foi, especialmente nos séculos passados, a principal forma 
de compreensão do Oriente, caracterizada sobretudo, pela visão de respeito aos avanços 
culturais dos povos orientais. 
e) Na perspectiva Orientalista o passado era entendido, sobretudo, a partir de relatos 
literários e estórias orais, nas quais superstição e misticismo acabavam sendo as principais 
fontes para retratar os povos orientais.
2 - É correto afirmar acerca da Antiguidade Oriental:
I – Refere-se somente aos povos do Egito e da Mesopotâmia.
II – China e Índia não são localidades abrangidas pelo tema.
III – É um termo preciso e objetivo, não havendo necessidade de se apresentar o recorte do 
pesquisador.
a) I e II são verdadeiras.
b) Apenas II é verdadeira.
c) Apenas III é verdadeira.
d) I, II e III são verdadeiras.
e) I, II e III são falsas. 
3 - Considerando-se a Relação da Economia com o Trabalho na Antiguidade, podemos 
afirmar que.
a) dado que a economia era principalmente baseada no comércio de bens, a mão de obra 
concentrava-se nas cidades, empregando artesões e construtores. 
b) uma vez que a economia era sobretudo agrária, a mão de obra, seja essa livre ou escrava, 
concentrava-se no trabalho no campo. 
c) a economia dos povos antigos baseava-se, principalmente, nos processos de expansão e 
consequente escravidão de povos conquistados, sendo estes, os principais trabalhadores.
d) considerado o baixo grau de riqueza e desenvolvimento das sociedades Orientais 
Antigas, era possível dividir claramente a sociedade em duas camadas: escravos e dono de 
29
escravos.
e) uma vez que a economia era sobretudo agrária, e com altíssimos índices de fertilidade 
e produção – comparáveis até a produção agrícola atual – a maior parte da população não 
precisava trabalhar no campo, sendo os trabalhadores, em sua maioria, artesãos.
4 - Sobre a Escravidão na Antiguidade Oriental, é verdadeiro afirmar:
I - A escravidão possuía diferentes formas dependendo da região analisada, havendo 
possibilidade de encontrarmos diferentes direitos para escravos. 
II - Não havia grande complexidade nas relações sociais e de trabalho: os indivíduos ou 
eram livres ou escravos.
III - Escravos sempre foram o principal motor de trabalho nas sociedades orientais antigas, 
sendo eles, por exemplo, responsáveis pela construção das grandes Pirâmides no Egito.
a) Apenas I é verdadeira.
b) I e II são verdadeiras.
c) Apenas III é verdadeira.
d) I, II e III são verdadeiras.
e) I, II e III são falsas.
5 - A respeito das Realezas Divinas na Antiguidade Oriental, é correto afirmar que
a) a separação entre as esferas divino e humana é natural, de modo que a qualquer tempo 
e em qualquer sociedade, a realeza sempre possuirá uma aura divina. 
b) o Faraó do Antigo Egito, deve ser entendido como um Rei-Sacerdote: um espécime 
magnífico da humanidade, porém, inteiramente humano. 
c) na prática havia pouca diferença entre a visão de um Rei-Sacerdote e um Rei-Divino, 
como presente em sociedades da Mesopotâmia e do Egito.
d) os membros da família real não possuíam qualquer caráter divino, sendo este uma 
exclusividade do Rei. 
e) o peso de diferentes grupos sociais era mínimo na manutenção de sistemas em que 
havia a percepção da natureza divina do Rei, pois o poder deste último restava unicamente 
em crenças religiosas.
6 - A respeito das relações de Israel e seu passado, é possível afirmar que
I- O país não tenta traçar nenhuma relação entre presente e passado umavez que o estado 
é bem recente: fundado em 1948, após a Segunda Guerra Mundial.
II- Israel utiliza-se de narrativas bíblicas como uma forma de dar suporte às suas demandas 
por direito à terra, de forma que traçam uma relação direta com os Hebreus da Antiguidade. 
III- As conquistas dos Hebreus, embora cada vez mais questionadas do ponto de vista 
histórico e arqueológico, permanecem servindo como argumento para justificar posições 
atuais da política externa israelense.
a) Apenas I está correta.
b) Apenas II está correta.
c) I e III estão corretas.
d) II e III estão corretas.
30
e) I, II e III estão corretas.
7 - A respeito da utilização da Bíblia enquanto fonte de estudo da Antiguidade, pode-se 
afirmar que:
I- A Bíblia não deve ser usada como fonte histórica para se entender os povos da Antiguidade.
II- A principal questão não é sobre usar ou não a Bíblia, mas sim, como ela deve ser usada.
III- A Bíblia apresenta verdades históricas que dispensam a análise do Historiador.
 
a) Apenas I está correta.
b) Apenas II está correta.
c) II e III estão corretas.
d) I e III estão corretas.
e) I, II e III estão corretas.
8 - A presença de objetos e artefatos de Sociedades Orientais espalhados por diversas 
partes do mundo, muitas vezes sem qualquer contexto ou ainda, exercendo funções que 
jamais foram pensadas em sua criação são reflexos de qual perspectiva:
a) Capitalismo.
b) Orientalismo.
c) Ocidentalismo.
d) Comunismo.
e) Romantismo.
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ANTIGUIDADE CLÁSSICA – O MUNDO GREGO
UNIDADE 3
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 Quando falamos de Mundo 
Grego, é necessário observar em 
primeiro lugar que tratamos de uma 
abstração com base em pressupostos 
atuais: não havia uma Grécia e muito 
menos Gregos, na Antiguidade.
 Conforme observado já na 
primeira unidade deste material, ao 
discutirmos questões de periodização, 
não é possível traçar sequer uma 
continuidade espacial entre o que 
hoje chamamos de Grécia, Estado 
Nacional formado em 1830, com 
sua suposta contraparte antiga; não 
apenas por não haver uma unidade 
política entre as diferentes poleis 
(cidade-estado), mas também pelo 
fato de encontrarmos helenos não 
apenas na península balcânica: 
estavam espalhados pelas ilhas do 
mar egeu e inúmeras colônias na 
Ásia Menor, no Norte da África e nas 
Penínsulas Itálica e Ibérica.
 O “Mundo Grego” assim, 
trata-se de uma convenção para 
denominar o que os próprios povos 
antigos entendiam como “Hélade”: 
um espaço territorial, compostos por 
unidades políticas independentes, 
espalhadas pelo mediterrâneo, mas 
que compartilhavam alguns valores 
culturais e sociais. Uma das principais 
características da Hélade está no 
compartilhamento – e estruturação 
da linguagem, educação e etc. – da 
poesia homérica, em que inclusive, há 
a menção dos povos Helenos, como 
aqueles que acompanhavam o herói 
Aquiles.
Há duas grandes obras da poesia Homérica a quais 
temos acesso: Ilíada e a Odisseia. Essas obras estrutu-
ram – e de muitas formas ainda estruturam – gêneros 
literários, tendo sido adaptadas diversas vezes ao lon-
go do tempo.
No Brasil, sugerimos a leitura das traduções de Carlos 
Alberto Nunes e as de Haroldo de Campos.
FIQUE ATENTO
 Conceituar assim, Hélade e Helenos – 
um problema espacial e cultural, leva-nos a 
outro problemática, está de natureza temporal 
e historiográfica. Tradicionalmente, divide-
se os períodos da Antiguidade “Grega” em, 
principalmente, Arcaico (c. 800-480 a.E.C), 
Clássico (c. 500 – 338 a.E.C) e Helenístico (c. 321-
31 a.E.C).
Figura 9 - Mapa da Expansão e Colonização dos Helenos
 Os alunos e alunas de história – ao menos 
aqueles atentos – já devem ter suspeitado do 
forte caráter ideológico em denominar um 
período como “Arcaico” e situá-lo, justamente, 
antes do “Clássico”.
 Notoriamente, como demonstrado 
por Assumpção (2013) havia uma predileção 
pelo chamado “Período Clássico”, entre os 
historiadores que elaboraram esta periodização: 
trata-se de um momento de “grandes eventos 
políticos” como a “Guerra do Peloponeso”, 
“Ascenção de Atenas” etc., como se todo o 
desenvolvimento político, econômico e social 
de quase 300 anos do período “Arcaico”, pouco 
significasse.
33
Conforme estamos vendo nas unidades deste ma-
terial, as capacidades de nomear e classificar não 
devem ser vistas de maneira externa ao exercício do 
poder, ao exercício de ideologias e seus contextos so-
cioculturais bastante específicos! Definir, ordenar, no-
mear e classificar são ações sempre de cunho subjeti-
vo, que não podem ser tomadas como “naturais”.
FIQUE ATENTO
 Não nos é possível traçar aqui uma visão 
geral ou aprofundada acerca de cada período 
– isto poderá ser conferido nas indicações 
bibliográficas ao final deste material – tendo 
sido optado por focar em alguns conceitos 
importantes para a historiografia atual, dos 
quais destacamos: Paideia, Helenismo, e da 
visão de História entre os Helenos.
Para outros temas referentes a Antiguidade Grega, 
sugerimos as seguintes leituras, disponíveis em suas 
bibliotecas:
Arquétipos da Religião Grega – Karl Kerényi
LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publi-
cacao/49136
Introdução a Literatura Grega: de Homero ao Roman-
ce Antigo – Emerson Cerdas
LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publi-
cacao/169747
Dicionário de Mitologia Grega e Romana – Mário da 
Gama Kury
LINK:https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788537802182
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 Paideia é um conceito complexo 
e de grande importância entre os 
Helenos, pois se relaciona com as ideias 
de Educação, Cultura e Verdade, sendo 
possível encontrarmos uma grande 
variedade de escritos a seu respeito ao 
longo de toda a história da Hélade. 
 Atualmente, ainda encontramos o 
termo Paideia em voga, sendo utilizado 
em muitos estudos, sobretudo ligados 
à educação, no que tange processo 
educativo do indivíduo da infância à sua 
fase adulta. Tal entendimento do termo, 
no entanto, pode nos trazer uma imagem 
equivocada a respeito do exercício da 
Paideia no passado, relacionando-a 
com escolas, textos, livros e etc., isto é, 
de cairmos na armadilha de entender a 
Paideia apenas como um ensinamento e 
formas de ensinar.
 Se por um lado a Paideia envolve 
uma certa ideia de transmissão – de 
um conhecimento, por exemplo – ela 
representa algo maior do que uma 
educação formal, mais próxima de, como 
apontou Robb (1994) uma aceitação 
– mesmo que inconsciente modelos 
ancestrais, tornando-se, mais do que um 
conhecimento, um próprio modo de vida. 
 Sob esse aspecto, Paideia liga-
se com uma ideia de cultura: uma 
transmissão – não necessariamente 
sistemática – de conjunto de valores 
sociais e culturais (como uma língua, 
uma estética, visões de mundo), próxima 
do que antropologistas chamariam de 
enculturação. 
Enculturação pode ser definida como processos pelos 
quais um indivíduo apreende os elementos da cultura 
em que estão inseridos, como os valores e comporta-
mentos considerados apropriados.
GLOSSÁRIO
 O exercício da Paideia assim, como nos 
mostrou Sousa (2013) ocorre de diferentes 
maneiras e em diferentes locais: Palestras, 
Ginásios e mesmo nos Banquetes. Está 
presente na arte: na escultura, no teatro, 
ou mesmo na poesia. Está nos diferentes 
processos educativos seja da retórica, história, 
filosofia ou geografia, como também numa 
educação física e nas competições esportivas. 
Ela se apresenta como um ideal que é social 
– de como viver em sociedade – e político, do 
gerenciamento do coletivo e do porte público 
do cidadão.
 Nesse sentido, é possível então 
relacionarmos – como faziam os helenos 
– as ideias de Paideia com Verdade, seja 
no sentindo metafísico transcendental, ou 
mesmo no ponto de vista humanístico. A 
Paideia trazia o homem a aquilo que ele 
deveria ser, a completitude de suas aspirações:

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