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Língua Brasileira de Sinais - Libras Aula 2 Língua Brasileira de Sinais - Libras Aula 2 Sumário 1 Surdos e Ouvintes 4 1.1 Povo Surdo 4 1.2 Comunidade Surda 4 1.3 Pré-Conceito e Estigma 5 1.4 Comunicação Surdo e Ouvinte 6 1.5 Associações de Surdos no Brasil 7 1.6 Federação Nacional de Educação e Integração do Surdo – Feneis 9 1.7 Confederação Brasileira de Desporto de Surdos – CBDS 9 2 Língua de Sinais Brasileira - Libras 11 2.1 Conceitos Fundamentais 11 2.2 Como a Libras chegou ao Brasil 13 4 1 Surdos e Ouvintes 1.1 Povo Surdo Os surdos são pessoas que compartilham os mesmos va- lores, ideologias, e cultura; possuem uma identidade e não são caracterizados como deficientes e sim como diferentes. Eles se organizam sob a ótica da não-medicalização da surdez, dessa forma, a surdez não é considerada como uma patologia que ne- cessita de cura e sim como algo que os torna diferentes, compon- do assim a diversidade humana. Povo Surdo: “O conjunto de sujeitos surdos que não habi- tam no mesmo local, mas que estão ligados por uma ori- gem, tais como a cultura surda, costumes e interesses se- melhantes, histórias e tradições comuns e qualquer outro laço”. (STROBEL apud PERLIN & STROBEL 2006, p. 8) 1.2 Comunidade Surda Alguns surdos não se consideram assim por ouvirem um pouco e fazerem uso da leitura labial, nesse caso, preferem ser chamados de deficientes auditivos, outros, na mesma situação, se autodenominam surdos. No primeiro contato entre surdos e ouvintes, quando os surdos querem identificar alguém, eles costumam sinalizar a ex- pressão: Você é ouvinte ou surdo? 5 Comunidade Surda: (...) não é só de surdos, já que tem sujeitos ouvintes junto, que são família, intérpretes, profes- sores, amigos e outros que participam e compartilham os mesmos interesses em comuns em um determinado local- ização. (...) Geralmente em associação de surdos, feder- ações de surdos, igrejas e outros. (STROBEL apud PERLIN & SROBEL 2006, p. 58) 1.3 Pré-Conceito e Estigma O Pré-conceito é um conceito prévio a respeito de algu- ma coisa ou de alguém, antes mesmo de conhecer ver-dadeira- mente. É marcado por estereótipos ou rótulos, impos-sibilitando um determinado segmento da sociedade de ser incluído e aceito com suas especificidades. No caso das pessoas com necessidades especiais, mais restritamente os deficientes auditivos e os surdos, objeti-vo de estudo da presente unidade, o estereótipo causa a nega-ção da sua identidade, os rotula como incapazes, deficientes, doentes, marginalizados e excluídos em suas potencialidades. As maiorias dos pesquisadores discreta-mente se limitaram nos registros nos quais os su-jeitos surdos eram vistos como seres ‘deficientes’, conforme a definição de ‘ouvintismo’, assim como pronuncia a pesquisadora surda Perlin (2004) “As narrativas surdas constantes à luz do dia estão cheias de exclusão, de opressão, de estereóti- pos” (p.80) (STROBEL, 2006, p.8). 6 Qualquer pessoa que queira conhecer um determi-nado grupo, precisa primeiramente abandonar os pré-concei-tos, par- ticipar e aprender a conviver respeitando as peculia-ridades de cada cultura e de cada povo. Assim deve acontecer também com aqueles que de-sejam conhecer e interagir com a cultura surda, é necessário antes de tudo haver uma quebra de paradigmas, o rompimen-to de ideias pré-concebidas, errôneas sobre os surdos e a sua língua, obje- tivando assim a aceitação dos surdos na sua tota-lidade, como pessoa, ser humano, cidadão e parte integrante da sociedade. 1.4 Comunicação Surdo e Ouvinte É importante sabermos que, entre os cinco sentidos que possuímos: tato, paladar, olfato, visão e audição; a visão é o sen- tido mais aguçado nas pessoas surdas. Então, para uma comu- nicação eficaz, é imprescindível olharmos dire-tamente para ele, falarmos pausadamente e demonstrarmos através da expressão facial o que queremos comunicar. Por vezes, faz-se necessário uso da escrita para co-municar algo, lembrando que, nem todos os surdos fazem leitura labial ou não sabem se comunicar através dos sinais. Não podemos esquecer ainda que, ao chamá-lo, nun- ca devemos gritar ou chamar a sua atenção dando-lhe tapas. 7 1.5 Associações de Surdos no Brasil As associações são espaços existentes em todo o Brasil, onde os surdos se reúnem para juntos lutarem pelos seus direit- os. É estruturada através de uma diretoria compos-ta por surdos, a qual é responsável por administrá-la, sendo que, os ciclos de eleições são regidos por estatutos, havendo também a partici- pação e envolvimento das pessoas ouvintes. Podemos dizer ainda, que as associações dos sur-dos é como se fossem a sua própria pátria, pois nela, eles se sentem em liberdade para expressarem seus pensamentos e manifestarem suas ideias. São nas associações, que eles or-ganizam eventos como campeonatos, cursos, palestras, onde muitos aprendem a língua de sinais e obtêm informações va-riadas. É ainda o lugar onde simplesmente eles se encontram para se relacionar e fazer amizades. Existem associações de surdos espalhadas por todo o Brasil, veja o mapa a seguir e para maiores informações acesse www.feneis.com.br. 8 Região Nordeste (24 associações) Região centro-oeste (12 associações) Região Sudeste (59 associações) Região Sul (28 associações) Região Norte (02 associações) Fonte: www.feneis.org.br Povo Surdo: Você sabia que: “Ferdinand Berthier, Surdo, francês, intelectual, Foi profes- sor de surdos e o seu método de ensino tinha por base a iden- tidade surda. Foi fundador da primeira Associação de Surdos da qual se originaram outras no mundo todo”. (PERLIN & STROBEL, p.15, 2006.) 9 1.6 Federação Nacional de Educação e Integração do Surdo – Feneis “A federação nacional de educação e integração dos sur- dos (FENEIS) é uma entidade não governamental, regis-trada no Conselho Nacional de Serviço Social-CNAS e não está subor- dinada à CBDS, sendo filiada a World Federation of The Deaf” (FELIPE, p. 63, 2002). A principal função da Feneis tem sido ministrar e divulgar a Libras através de cursos, oficinas, palestras. A Feneis também organiza ações políticas e manifestações em prol dos direitos da comunidade surda brasileira. É ainda uma entidade filantrópica com objetivos educacionais e sociais. Segundo Felipe (2002, p. 64), “a fundação da Fe-neis data do ano de 1987, quando a liderança da Federação Nacional de Educação e Integração do Deficiente Auditivo (FENEIDA) foi assumida pelos surdos”. Possui sede no Rio de Janeiro, mas já possui regionais como, por exemplo, em: Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre, Distrito Federal, Fortaleza, Rio de Janeiro, Amazonas, Pernambuco, etc. 1.7 Confederação Brasileira de Desporto de Surdos – CBDS A Confederação Brasileira de Desporto de Surdos (CBDs) é a organização que visa promover a integração do sur- do por meio do esporte. Através dela, os surdos partici-pam de campeonatos e torneios nas mais diversas modalida-des em todo o território nacional. 10 Há pouco tempo a CBDs se associou a confedera-ção in- ternacional, dessa forma, os surdos também podem participar dos jogos esportivos em nível internacional. “A CBDs, fundada em 1984, tem como proposta o desen- volvimento esportivo dos surdos do Brasil, por isso promove campeonatos masculinos e femininos em várias modalidades em nível nacional” (FELIPE, p.63, 2006). Segundo Felipe (2006, p. 63), “é composta de for-ma hierárquica, sendo formada por uma CBDS, seis Federa- ções Desportivas e 58 associações, clubes, sociedades, con-gregações”. 11 2 Língua de Sinais Brasileira - Libras 2.1 Conceitos Fundamentais A Língua de Sinais Brasileira (Libras) é a língua materna dos surdos brasileiros. É uma língua viva, autônoma, capaz de transmitir todo e qualquer conceito, dos mais complexos até os mais abstratos. Os usuários da Libras, podem discutir sobre todo e qualquer assunto, desde economia, política, física, literatura, histórias de humor, etc. É considerada como línguanatural, uma vez que, ela surge de forma espontânea no meio da comunidade surda, em face da necessidade destes, em se comunicarem uns com os outros. Diferencia-se da linguagem, por possuir todos os requisitos que a conferem como língua, tais como: aspectos fonológicos, mor- fológicos, sintaxe, semântica e pragmática. As línguas faladas como o inglês, o espanhol e o francês, são consideradas línguas orais-auditivas. As línguas sinalizadas como a Libras, são de modalidade gestual-visual, também con- hecida com viso-espacial, onde o canal emissor da comunicação são as mãos, através dos sinais, e o canal receptor é a visão. Línguas orais-auditivas: o canal emissor da comunicação é a voz, através da fala e o canal receptor da comunicação são os ouvidos, através da audição. Línguas gestuais-visuais: o canal emissor da comuni- cação são as mãos, através dos sinais e o canal receptor da comunicação são os olhos, através da visão. 12 As línguas de sinais aumentam seus vocabulários com novos sinais criados e introduzidos pelas comunidades surdas espalhadas por todo o Brasil. O léxico pode ser definido como o conjunto de palavras de uma língua. “Ele se relaciona com o processo de nomeação e com a cognição da realidade. Constitui ainda uma forma de registrar o conhecimento do universo. Quando o homem no- meia os seres e objetos, ele está os classificando simultanea- mente. O ato de nomear gerou o léxico das línguas naturais.” (BIDERMAN, 2006) Dessa forma, as línguas de sinais, apresentam em seu léxi- co, regionalismos. Os regionalismos, também conhecidos como dialetos, são expressões características de uma determinada lo- calidade. Assim, podemos sinalizar a palavra CIDADE, em São Paulo de uma forma e sinalizar no Ceará de outra forma. Sinal de CIDADE usado pelos surdos na cidade de São Paulo. Fonte: CAPOVILLA & RAPHAEL (2001, p. 408) (Ilustração: Silvana Marques) 13 Sinal de CIDADE usado pelos surdos no estado do Ceará. Fonte: CAPOVILLA & RAPHAEL (2001, p. 408) (Ilustração: Silvana Marques) 2.2 Como a Libras chegou ao Brasil A Língua de Sinais Brasileira teve sua origem através do alfabeto manual francês. A convite de D. Pedro II, um Padre surdo da França, chamado Ernest Huet, veio ao Brasil por vol- ta de 1857. Na cidade do Rio de Janeiro, ele encontrou surdos cariocas mendigando e perambulando pelas ruas, sem saberem se comunicar. Foi através do “método combinado”, utilização da língua de sinais como meio para o ensino da fala, que Ernest Huet começou a trabalhar com os surdos do Brasil. Em 1857, foi fundada a primeira escola para surdos no Brasil, O Instituto Nacional de Surdos-Mudos. Hoje, Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Foi a partir desse instituto que surgiu, da mistura da Língua de Sinais Francesa, trazida por Huet, com a língua de sinais 14 brasileira antiga, já usada pelos surdos das várias regiões do Brasil, a Língua Brasileira de Sinais. (FELIPE, p.121, 2002). Em contato com D. Pedro II, Ernest Huet propõe a criação da primeira escola de surdos da época, o Institu-to Nacional de Educação de Surdos (INES), estabelecido na cidade do Rio de Janeiro, que antigamente funcionava em regime de interna- to, onde apenas os surdos masculinos de várias partes do país, mudavam para o Rio de Janeiro para estudar e nas férias eles voltavam para junto de suas famílias. Apenas em 1931, é que fora criado um externato com oficina de costura e bordado para as mulheres surdas. Dessa forma, os sinais que os surdos apren- diam nos períodos em que fica-vam no INES, eram facilmente difundidos para várias locali-dades do Brasil quando estes vol- tavam para os seus estados. Prédio onde funciona o INES, desde 1915 – Rio de Janeiro 15 Aos poucos, essa língua foi sendo construída com novos sinais criados e incorporados ao léxico pela comunidade sur- da brasileira. Apesar de ter uma origem francesa, a Língua de Sinais Brasileira, já possui hoje sua própria estrutura. Aqui no Brasil, até pouco tempo foi considerada como lin- guagem, mas como vimos na unidade 01, graças aos trabalhos de linguistas e pesquisadores comprovando a autenticidade da Libras como língua, ela foi reconhecida oficialmente pela lei 10.436 de 24 de abril de 2002, como meio de comunicação legal da comunidade surda brasileira. A Língua de Sinais Brasileira não é universal, cada país possui a sua. Assim como em diferentes países os ouvintes falam línguas diferentes, também ocorre com as línguas de sinais, cada comunidade surda espalhada pelos mais variados países pos- suem a sua própria língua de sinais. Dessa forma temos aqui no Brasil (Libras), nos Estados Unidos (American Sign Language – ASL) e na França (Langue de Signes Française - LSF). LIBRAS foi a sigla aceita e aprovada em 1993 pela FENEIS. Brito e Felipe (1989) utilizavam a sigla LSCB – Língua de Sinais dos Centros Urbanos. Há, no entanto, um movimento, liderado pelo pesquisador surdo Nelson Pimenta, que defende o uso da sigla LSB – Língua de Sinais Brasileira. A linguista R. Quadros (2002) tam- bém utiliza, em seus trabalhos, LSB, sigla que segue os padrões internacionais de denominações das línguas de sinais. No entanto, conforme declaração da Profª. Myrna 16 S. Monteiro, da UFRJ, a sigla LSB já era usada pela COPADIS – Comissão Paulista de Defesa dos Direitos dos Surdos, desde 1996 (LEITE, 2004, p. 9). A sigla Libras é comumente usada aqui no Brasil, contu- do, outras siglas têm sido usadas como LSB (Língua de sinais Brasileira) seguindo o padrão internacional de L (Língua) + S (Sinais) + a inicial do país. 1 Surdos e Ouvintes 1.1 Povo Surdo 1.2 Comunidade Surda 1.3 Pré-Conceito e Estigma 1.4 Comunicação Surdo e Ouvinte 1.5 Associações de Surdos no Brasil 1.6 Federação Nacional de Educação e Integração do Surdo – Feneis 1.7 Confederação Brasileira de Desporto de Surdos – CBDS 2 Língua de Sinais Brasileira - Libras 2.1 Conceitos Fundamentais 2.2 Como a Libras chegou ao Brasil