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Atualmente, 7 classes de agentes antidiabéticos orais (ADO) estão comercialmente disponíveis: biguanidas, sulfonilureias, tiazolidinedionas, inibidores da DPP-4, glinidas, inibidores da α-glicosidase e inibidores do SGLT-2. A biguanida metformina representa a pedra fundamental do tratamento e, na ausência de contraindicações, deve ser sempre empregada, seja em monoterapia ou em combinação. Tipos Os dois principais representantes desse grupo são a metformina e a fenformina. Essa última deixou de ser comercializada há mais de 30 anos, devido a risco elevado de acidose láctica. Mecanismo de Ação: A metformina não tem um efeito direto sobre as células β e ocasiona redução da glicemia por meio dos seguintes mecanismos: inibição da gliconeogênese (75% da sua atividade); melhora da sensibilidade periférica à insulina (que reduz a insulinemia); e redução do turnover de glicose no leito esplâncnico. Em nível celular, a metformina aumenta a atividade da tirosinoquinase do receptor de insulina, estimulando a translocação do GLUT-4 e a atividade do glicogênio sintetase. Ele também inibi as vias de sinalização hepática do glucagon. Adicionalmente, ele aumenta os níveis séricos de GLP-1, o qual atua estimulando a secreção de insulina e inibindo a de glucagon. Indicações e eficácia: A priori, a metformina deve ser iniciada juntamente com as modificações do estilo de vida em todo paciente com DM2. Como monoterapia, ela reduz a glicemia de jejum (GJ) em 20 a 30%, a glicemia pós-prandial em 30 a 40% e a HbA1c em 1 a 2% (valor absoluto). Além de reduzir a glicemia, ela também diminui a insulinemia e o peso corporal, praticamente sem causar hipoglicemia. A combinação de metformina com outros agentes hipoglicemiantes orais promove o controle glicêmico com mais eficácia do que o uso isolado dessas substâncias. A metformina também melhora o perfil lipídico, caracterizando-se por redução de triglicerídeos e do LDL-colesterol (LDL-c), enquanto os níveis do HDL-colesterol (HDL-c) não se alteram ou aumentam discretamente. Efeitos Colaterais: Sintomas gastrintestinais (SGI) ocorrem em até 20% dos pacientes. São mais comuns quando o fármaco é tomado em jejum ou quando é iniciado com doses acima de 850 mg/dia. Geralmente, são transitórios, mas em cerca de 5% dos pacientes obrigam a interrupção do tratamento. Apenas excepcionalmente a metformina causa hipoglicemia. A acidose láctica constitui o efeito colateral mais temível da metformina, por implicar alta mortalidade (42 a 47%). É, contudo, bastante rara. A metformina reduz a absorção de cianocobalamina (vitamina B12) no íleo distal, e seu uso crônico pode levar à deficiência da vitamina B12. Contraindicações: Costuma-se não recomendar o uso de metformina quando há condições que impliquem maior risco para o surgimento de acidose láctica: disfunção renal, cirrose hepática, doença pulmonar obstrutiva crônica, insuficiência cardíaca descompensada, fase aguda de doença miocárdica isquêmica, sepse e pacientes alcoolistas ou com história de acidose láctica. Menos de 1% da metformina é excretado no leite e, portanto, ela é segura para ser usada durante a amamentação. agem primariamente via estímulo da secreção pancreática de insulina. Secundariamente, reduzem o débito hepático de glicose e aumentam a utilização periférica de glicose. Elas se ligam a um receptor específico (denominado subunidade SUR) nos canais de potássio ATP-sensíveis (KATP), presentes nas células β e em outros tecidos. As sulfonilureias causam o fechamento desses canais pela subunidade Kir e, assim, desencadeiam a despolarização. O influxo de cálcio secundário à despolarização causa liberação de insulina. Convém ressaltar que essas substâncias estimulam a secreção, mas não a síntese de insulina, e requerem, portanto, células funcionantes para que atuem. Tipos: As sulfonilureias costumam ser classificadas como de primeira (clorpropamida) e segunda (glibenclamida, gliclazida, glipizida e glimepirida) gerações, em função de sua potência e sua época do surgimento. Indicação e eficácia: As sulfonilureias propiciam uma resposta terapêutica satisfatória em 70 a 80% dos diabéticos tipo 2, inicialmente (20 a 30% de falência primária). Em geral, observa-se um decréscimo de 60 a 70 mg/dℓ na glicemia de jejum e de 1 a 2% na HbA1c. Com o passar do tempo, sua eficácia começa a declinar, caracterizando a falência pancreática secundária. Classicamente, a frequência de falência secundária é de cerca de 4% ao ano, de modo que, após 10 anos, aproximadamente 40% dos pacientes precisarão usar insulina para obter um controle glicêmico adequado. Efeitos colaterais: A hipoglicemia é o principal efeito colateral das sulfonilureias. Em ordem decrescente de frequência, ela é observada com glibenclamida, clorpropamida, glimepirida e gliclazida. Outro importante inconveniente das SU é o ganho de peso, relacionado com aumento da insulinemia. Contraindicações: De modo geral, as sulfonilureias devem ser evitadas em pacientes com insuficiência renal ou hepática graves. Elas também costumam ser contraindicadas na gravidez e durante a amamentação (exceto glibenclamida e glipizida), bem como em diabéticos tipo 1 e pacientes com complicações hiperglicêmicas agudas (cetoacidose diabética e síndrome hiperosmolar não cetótica). atuam ligando-se aos PPAR-γ (receptores ativados por proliferadores de peroxissomo gama), expressos, sobretudo, no tecido adiposo, no qual regulam genes envolvidos na diferenciação do adipócito e na captação e armazenamento dos ácidos graxos, além da captação de glicose. Eles estimulam, ainda, a lipólise intravascular. Os PPAR-γ também se encontram nas células β pancreáticas, no endotélio vascular, nos macrófagos e, em menor intensidade, no músculo esquelético, no fígado e no coração. A ativação dos PPAR-γ resulta em aumento de lipogênese no tecido adiposo, o que diminui os ácidos graxos livres (AGL) circulantes, incrementa a massa de tecido gorduroso subcutâneo (por estímulo da diferenciação de pré-adipócitos em adipócitos) e provoca ganho de peso. Também ocorrem maior expressão da adiponectina no adipócito e aumento de sua concentração sérica. Esse fato, juntamente com a redução dos AGL, levaria a maior sensibilidade do fígado à insulina, menor conteúdo hepático de gordura e inibição da produção hepática de glicose. Do mesmo modo, as glitazonas propiciam um potencial aumento da utilização de glicose no músculo esquelético e nos adipócitos, devido a maior expressão e translocação da proteína transportadora de glicose GLUT-4. Por isso, observa-se redução da insulinemia e da glicemia. Devido ao seu mecanismo de ação, as glitazonas, juntamente com a metformina, são comumente classificadas como sensibilizadores da insulina. Em comparação com a metformina, as glitazonas têm maior efeito potencializador da ação periférica da insulina (no músculo esquelético e nos adipócitos) e menor eficácia em reduzir o débito hepático de glicose. Tipos: Atualmente, o único representante do grupo disponível é a pioglitazona (PGZ). Indicações e eficácia: PGZ pode ser usada isoladamente ou em associação a outros hipoglicemiantes orais, análogos do GLP-1 ou insulina. Em monoterapia, tem eficácia comparável à das sulfonilureias e da metformina (redução de até 1,5% na HbA1c). No entanto, devido ao mecanismo de ação intranuclear das glitazonas, seu efeito anti- hiperglicêmico pleno pode necessitar de até 12 semanas de tratamento para se manifestar. Efeitos colaterais: Observam-se reações adversas em menos de 5% dos pacientes tratados com PGZ. Entre elas, incluem-se infecções do trato respiratório superior, cefaleia, edema periférico, anemia dilucional discreta (redução de até 1,0 g/dℓ e 3,3% na hemoglobina e hematócrito, respectivamente) e ganho de peso. Em geral, este último é modesto (média de 3,6 kg), 70 mas, em alguns pacientes, pode ser excessivo (10 kg ou mais),obrigando à suspensão do tratamento. Aumento em duas vezes no risco para insuficiência cardíaca congestiva (ICC) é outra complicação do uso das glitazonas. Contraindicações: Contraindica-se a PGZ a hepatopatias graves, alcoolistas, indivíduos com reconhecida alergia a esse fármaco, diabéticos tipo 1 e gestantes. Ela deve também ser evitada em casos de insuficiência cardíaca. nova classe de antidiabéticos orais. Mecanismo de ação: Atuam como inibidores competitivos reversíveis da DPP-4 (enzima que rapidamente degrada o GLP-1 e o GIP), pela qual têm afinidades variadas. Os primeiros comercializados. As gliptinas atuam estimulando o sistema das incretinas (GLP-1 e GIP), ao inibir seu metabolismo pela DPP-4. Portanto, a ação hipoglicêmica dos inibidores da DPP-4 se dá, indiretamente, pelo aumento nos níveis circulantes do GLP-1, com consequentes estímulo glicose-dependente da secreção de insulina pelas células β e inibição da secreção de glucagon pelas células α pancreáticas. Isso resulta em redução das glicemias de jejum e pós-prandial. Eficácia: Maior redução da HbA1c é observada quando as gliptinas são usadas junto com a metformina, em comparação com a monoterapia. Essa associação diminui, ainda, os efeitos colaterais gastrintestinais da metformina. Contraindicações: em indivíduos com reconhecida alergia a esse fármaco, diabéticos tipo 1 e gestantes. Elas devem também ser evitadas nos casos mais graves de insuficiência cardíaca. α A acarbose é o único inibidor comercializado no Brasil. Em alguns países, o miglitol e a voglibose estão também disponíveis. A acarbose é pouco absorvida e atua no intestino delgado. Mecanismo de ação: A acarbose inibe, por competição, a ação das α- glicosidases, enzimas localizadas na superfície em escova dos enterócitos do intestino delgado e responsáveis pela hidrólise dos oligossacarídeos, dissacarídeos e trissacarídeos. Por isso, ocorre retardo na digestão e na absorção dos carboidratos complexos pelo intestino delgado, postergando- se, assim, a passagem da glicose para o sangue. Desse modo, a acarbose é mais eficiente em reduzir a glicemia pós-prandial. Indicações e eficácia: O emprego da acarbose tem como principais limitações seu modesto efeito redutor da glicemia e HbA1c, bem como seus efeitos colaterais gastrintestinais. O surgimento dos inibidores da DPP-4, medicamentos muito mais eficazes e mais bem tolerados, fez com que a acarbose tivesse pouca utilidade no tratamento do DM2. Efeitos colaterais: Efeitos gastrintestinais (dor abdominal, diarreia e, sobretudo, flatulência) são uma grande limitação do uso da acarbose (até 50% dos pacientes suspendem o tratamento por causa deles). Ocorrem devido à passagem dos carboidratos não digeridos para o cólon, no qual vão ser metabolizados por bactérias locais, com produção de gás metano. A flatulência, que ocorre em até 60% dos pacientes, diminui após 1 a 2 meses de uso, mas tende a persistir por vários meses. :representam a mais nova classe de antidiabéticos orais. Mecanismo de ação: As gliflozinas promovem redução glicêmica de forma independente da insulina, por bloqueio da reabsorção renal de glicose no túbulo proximal. Em condições normais, 180 g de glicose são reabsorvidos diariamente. Em pacientes diabéticos, os rins são expostos a níveis mais elevados de glicose, ocorrendo maior expressão dos transportadores, com reabsorção de aproximadamente 250 g de glicose por dia. Aproximadamente 90% da glicose no filtrado glomerular é reabsorvida no túbulo contornado proximal pelo SGLT- 2. Pelo aumento da excreção renal de glicose, tais agentes promovem ainda modesta redução de peso e, pelo efeito diurético, redução da pressão arterial. Tolerabilidade: A reação adversa mais frequentemente relatada no tratamento com inibidores de SGLT-2 é a infecção fúngica dos sistemas genital e urinário. Ocorreram também alguns episódios de infecção bacteriana com evolução para urossepse. Tais eventos parecem estar relacionados ao aumento na glicosúria, favorecendo o crescimento dos microrganismos.
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