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Farmacologia - Antibioticoterapia Letícia F. de Oliveira|P3B |2021.1 |FMO O conceito mais importante. que. fundamenta a terapia antimicrobiana corresponde à toxidade seletiva, isto é, a inibição seletiva do crescimento do microrganismo sem danos ao hospedeiro. Antibióticos de amplo espectro: são ativos contra vários tipos de microrganismos; por exemplo, as tetracidinas são ativas contra diversos bacilos gram-negativos, clamídias, micoplasmas e riquétsias. Antibióticos de pequeno espectro: são ativos contra um ou poucos tipos; por exemplo, vancomicina é utilizada principalmente contra certos cocos gram-positivos, isto é, estafilococos e enterococos. • Fármaco bactericida: mata as bactérias. • Fármaco bacteriostático: inibe seu crescimento, mas não causa sua morte Inibição da Síntese da Parede Celular| Penicilinas (e cefalosporinas) atuam inibindo as transpeptidases, enzimas que catalisam a etapa final das ligações cruzadas durante a síntese de peptideoglicano. Dois fatores adicionais estão envolvidos na ação da penicilina: (1) O primeiro é o fato de a penicilina ligar-se a uma variedade de receptores da membrana celular e parede celular bacterianas, denominados proteínas de ligação às penicilinas. (2) O segundo fator é o fato de enzimas autolíticas, denominadas mureína hidrolases (mureína é um sinônimo de peptideoglicano), serem ativadas em células tratadas com penicilina. A penicilina é bactericida, mas mata as células apenas quando estas encontram-se em fase de crescimento. Durante o crescimento celular, há síntese de um novo peptideoglicano e ocorre a transpeptidação. No entanto, em células que não se encontram em crescimento, não são requeridas novas ligações cruzadas e a penicilina mostra-se inativa. Desse modo, as penicilinas são mais ativas durante a fase log do crescimento das células bacterianas do que durante a fase estacionária. As penicilinas (e cefalosporinas) são denominados fármacos B-lactâmicos, devido à importância do anel B-lactâmico. Uma estrutura intacta do anel é essencial à atividade antibacteriana: a clivagem do anel por penicilinases (P-lactamases) inativa o fármaco. (1) Penicilina G aquosa: a qual é metabolizada mais rapidamente. (2) Penicilina G procaína: na qual a penicilina G é conjugada à procaína. Essa forma é metabolizada mais lentamente, e é menos dolorosa quando injetada por via intramuscular, uma vez que a procaína atua como anestésico. (3) Penicilina G benzatina: na qual a penicilina G é conjugada à benzatina. Essa forma é metabolizada de forma muito lenta, sendo frequentemente denominada preparação de "depósito” Desvantagens: 4 desvantagens, três das quais foram superadas com sucesso pela modificação da cadeia lateral. As três desvantagens são (1) eficácia limitada contra vários bacilos gram-negativos; (2) hidrólise pelos ácidos gástricos, de modo que não pode ser administrada oralmente; e (3) inativação por B-lactamases. A efetividade limitada da penicilina G contra bacilos gram-negativos é devida à inabilidade do fármaco para penetrar na membrana externa do organismo. A quarta desvantagem, comum a todas as penicilinas e que ainda não foi superada, é a hipersensibilidade, especialmente anafilaxia, observada em alguns receptores do fármaco. Pode-se observar que a ampicilina e a amoxicilina exibem atividade contra vários bacilos gram- negativos, o que penicilinas anteriores não apresentam. Contudo, esses fármacos não são úteis contra Pseudomonas aeruginosa e Klebsiella pneumoniae. A inativação da penicilina G pelas B-lactamases é outra desvantagem importante, especialmente no tratamento de infecções por S. aureus. O acesso da enzima ao anel B-lactâmico é bloqueado modificando-se a cadeia lateral pela adição de grandes anéis aromáticos contendo grupos metil ou etil (meticilina, oxacilina, nafcilina, etc.) Outra defesa contra as B-lactamases consiste em inibidores, como o ácido clavulâmico e sulbactam. Esses inibidores são análogos estruturais de penicilina que exibem pouca atividade antibacteriana, mas ligam-se fortemente a [3-lactamases e, dessa forma, protegem a penicilina. Combinações como amoxicilina e ácido clavulâmico (Augmentine) apresentam uso clínico. Efeitos colaterais: As reações de hipersensibilidade incluem anafilaxia, erupções cutâneas, anemia hemolítica, nefrite e febre induzida por fármacos. Um exantema maculopapular induzido pelo fármaco é bastante comum. A anafilaxia, a complicação mais graves, ocorre em 0,5% dos pacientes. O óbito decorrente de anafilaxia é observado em 0,002% (1:50.000) dos pacientes. As cefalosporinas são fármacos [3-lactâmicos que atuam da mesma maneira que as penicilinas; isto é, são agentes bactericidas que inibem as ligações cruzadas do peptideoglicano. Suas estruturas, no entanto, são diferentes: as cefalosporinas apresentam um anel hexamérico adjacente ao anel B-lactâmico. Cefalosporinas de 1ª geração: são ativas principalmente contra cocos gram-positivos. De forma similar às penicilinas, novas cefalosporinas foram sintetizadas, tendo como objetivo expandir a atividade contra bacilos gram-negativos. Essas novas cefalosporinas foram classificadas em segunda, terceira e quarta gerações, com cada geração exibindo atividade expandida contra certos bacilos gram-negativos. As cefalosporinas de quarta e quinta gerações também apresentam atividade contra muitos cocos gram-positivos. Em geral, são bem toleradas, produzindo menos reações de hipersensibilidade que as penicilinas. Apesar da semelhança estrutural, um paciente alérgico à penicilina apresenta somente 10% de possibilidade de ser hipersensível também às cefalosporinas. Carbapenemas são fármacos B-lactâmicos estruturalmente distintos das penicilinas e cefalosporinas. O imipenem possui o maior espectro de ação entre os fármacos B- lactâmicos. Apresenta excelente atividade bactericida contra diversas bactérias gram-positivas, gram-negativas e anaeróbias. É eficaz contra a maioria dos cocos gram-positivos (p. ex., estreptococos e estafilococos), a maioria dos cocos gram-negativos (p. ex., Neisseria), diversos bacilos gram-negativos (Pseudomonas, Haemophilus e membros da família Enterobacteriaceae, como E. coli) e vários anaeróbios (bacteroides e Clostridium). O imipenem é especialmente útil para o tratamento de infecções causadas por bacilos gram-negativos que produzem um amplo espectro de B-lactamases, que os confere resistência a todas as penicilinas e cefalosporinas. Os carbapenemas são frequentemente o fármaco de última escolha contra bactérias multirresistente. Carbapenemases: produzidas por K. pneumoniae e que degradam imipenem. são também fármacos B-lactâmicos estruturalmente distintos das penicilinas e cefalosporinas. O aztreonam, atualmente o monobactâmico de maior utilidade, exibe excelente atividade contra vários bacilos gram-negativos, como Enterobacteriaceae e Pseudomonas, porém é inativo contra bactérias gram-positivas e anaeróbias. A vancomicina é um glicopeptídeo que inibe a síntese da parede celular ao bloquear a transpeptidação por um mecanismo diferente do dos fármacos B-lactâmicos. A vancomicina liga-se diretamente à porção D-alanil-D-alanina do pentapeptídeo, bloqueando a ligação da transpeptidase, ao passo que os fármacos B-lactâmicos ligam-se à própria transpeptidase. A vancomicina é um agente bactericida efetivo contra algumas bactérias gram-positivas. Seu uso mais importante ocorre no tratamento de infecções causadas por linhagens de S. aureus que são resistentes às penicilinas penicilase-resistentes, corno a nafcilina e a meticilina (p. ex., S. aureus resistentes à meticilina [MRSA]). Observa-se que a vancomicina não é um fármaco B-lactârnico e, portanto, não é degradada pelas B-lactamase. A cicloserina é um análogo estrutural de D-alanina, que inibe a síntese do dipeptídeo D-alanil-D-alanina da parede celular. É utilizada como um fármaco de segunda linha no tratamento da tuberculose.Inibição da Síntese Proteica| Fármacos que atuam na Subunidade 30S Os aminoglicosídeos são fármacos bactericidas especialmente úteis contra vários bacilos gram-negativos. Tanto a inibição do complexo de iniciação quanto a leitura incorreta do RNA mensageiro (mRNA) ocorrem; o primeiro processo provavelmente é mais importante para a atividade bactericida do fármaco. O local de ação na subunidade 30S inclui uma proteína ribossomal e o RNA ribossomal (rRNA). As tetraciclinas constituem uma família de antibióticos com atividade bacteriostática contra uma variedade de bactérias gram- -positivas e gram-negativas, micoplasmas, clamídias e riquétsias. Inibem a síntese proteica, ligando-se à subunidade ribossomal 30S e bloqueando a entrada do aminoacil RNA de transferência (tRNA). Fármacos que atuam sobre a subunidade 50S O cloranfenicol é ativo contra uma ampla gama de organismos, incluindo bactérias gram-positivas e gram-negativas (inclusive anaeróbias). Tem efeito bacteriostático contra certos organismos, como Salmonella typhi. Entretanto, exibe atividade bactericida contra os três importantes organismos capsulados que causam meningite: Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae e Neisseria meningitidis. O cloranfenicol inibe a síntese proteica, ligando-se à subunidade ribossomal SOS e bloqueando a ação da peptidiltransferase. Os macrolídeos são um grupo de fármacos com um amplo espectro de atividade. A azitromicina, a eritromicina e a claritromicina são os principais macrolídeos utilizados na clínica. A azitromicina é usada para tratar infecções do trato genital, causadas por Chlamydia trachomatis, e infecções do trato respiratório, causadas por Legionella, Mycoplasma, Chlamydia pneumoniae e S. pneumoniae. A eritromicina tem um espectro de atividade similar, mas apresenta uma meia-vida mais curta e, por isso, precisa ser administrada mais frequentemente, originando mais efeitos adversos, particularmente no trato gastrintestinal. A claritromicina é usada no tratamento de infecções por Helicobacter. Inibição da Síntese de Ácidos Nucléicos| As sulfonamidas correspondem a uma grande família de fármacos bacteriostáticos produzidos por síntese química. As sulfonamidas são análogos estruturais do ácido p-aminobenzoico. A base da ação seletiva das sulfonamidas em relação às bactérias está no fato de muitas bactérias sintetizarem seu ácido fólico a partir de precursores contendo PABA, ao passo que as células humanas requerem ácido fólico pré-formado como um nutriente exógeno, uma vez desprovidas das enzimas que o sintetizam. Células humanas desviam-se dessa etapa. Inibição da Síntese de DNA| As fluoroquinolonas são fármacos bactericidas que bloqueiam a síntese de DNA bacteriano pela inibição da DNA-girase (topoisomerase). As fluoroquinolonas, como ciprofloxacina, levofloxacina, norfloxacina, ofloxacina e outras, são ativas contra uma ampla gama de organismos que causam infecções do trato respiratório inferior, do trato intestinal, do trato urinário e de tecidos esqueléticos e moles. O ácido nalidíxico, que é uma quinolona, mas não uma fluoroquinolona, é muito menos ativo, sendo utilizado apenas no tratamento de infecções urinarias. Inibição da Síntese de RNAm| é utilizada principalmente no tratamento da tuberculose, em combinação com outros fármacos, assim como na profilaxia de contatos próximos de pacientes com meningite causada por N. meningitidis ou H. influenzae. É também utilizada em combinação com outros fármacos no tratamento de endocardite associada a válvulas prostéticas, causada por S. epidermidis. O mecanismo de ação seletivo da rifampina é baseado no bloqueio da síntese de mRNA pela RNA- polimerase bacteriana, sem afetar a RNA-polimerase das células humanas.