Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Disturbios Hipercineticos Decorrem de uma hiperfunção da via direta (D1) ou inibição da via indireta (D2) ou aumento da atividade dopaminérgica. O resultado final é um globo pálido interno pouco ativo, inibindo pouco o tálamo, que estimula muito o córtex através da via tálamo-cortical, mediada pelo glutamato. Mioclonias Significa músculo e clônus, tumulto. São caracterizadas por abalos musculares bruscos, breves e involuntários, lembrando, muitas vezes, choques elétricos, causadas por contração muscular (mioclonia positiva) ou perda momentânea do tônus muscular agonista, seguidas de contrações compensatórias dos antagonistas (mioclonia negativa). Exemplo típico de mioclonia negativa é o asterixis ou flapping, comum nas encefalopatias hepática e urêmica. Mioclonias benignas são comuns no dia a dia, como os soluços e os abalos musculares com sobressalto durante o sono. Podem ter origem tanto no sistema nervoso central, quanto no sistema nervoso periférico. Podem ser tanto espontâneas, quanto causadas por estímulos táteis, sonoros, visuais ou ato motor. Quanto à localização anatômica são classificadas em focal (parte específica do corpo), segmentar (envolve dois segmentos contíguos), multifocal (quando em segmentos não contíguos) e generalizada (quando envolvem os membros inferiores). Do ponto de vista fisiopatológico, as mioclonias classificam-se em corticais (epilepsias mioclônicas), corticais/subcorticais (mioclonia pós-anóxia), segmentar (lesões do tronco cerebral e medulares) ou periféricas (espasmo hemifacial). Tiques São movimentos anormais estereotipados, sem finalidade, que se repetem, em geral, sempre na mesma região do corpo. Apresentam características peculiares, como a supressibilidade pela vontade do paciente, ou seja, o paciente, em geral, por curtos períodos de tempo, consegue suprimir os movimentos anormais (movimento semivoluntário). A chamada “urgência premonitória” é a sensação, muitas vezes, de difícil caracterização, que o paciente apresenta antes do desencadeamento dos tiques, em geral com relato de “alívio” após a execução dos mesmos. Assim, as características básicas dos tiques são: 1. Previsibilidade e supressibilidade. 2. Possibilidade de ser desencadeado por estresse, excitação e sugestão. 3. Tensão emocional, gerando desconforto que acompanha o período de supressão. 4. Necessidade imperiosa de realizar o ato para aliviar a tensão durante a supressão. Os tiques podem ser caracterizados como “simples”, quando os movimentos motores atingem apenas um pequeno segmento corporal, como, por exemplo, o piscamento repetitivo dos olhos. Os tiques motores simples podem ser abalos breves (tique clônico), contração lenta com posturas anormais (tique distônico) e contração muscular isométrica (tique tônico). Podem ser “complexos”, quando envolvem mais de uma região corporal ou há a presença de atos complexos como manipulações repetitivas de objetos ou regiões corporais, como copropraxia (gestos obscenos) e ecopraxia (imitar gestos). Tiques vocais simples caracterizam-se pela emissão de sons sem significado, como fungar, pigarrear, gritar e tossir. Já os complexos envolvem emissão de sons com conteúdo linguístico, muitas vezes, de caráter obsceno (coprolalia), repetição de palavras ouvidas (ecolalia) ou repetição de palavras ou sílabas (palilalia). É importante diferenciar os tiques da compulsão, observada nos pacientes com transtorno obsessivo- compulsivo (TOC). Na compulsão, a ansiedade associada à necessidade de realizar o ato ou som se deve ao medo de que, se não prontamente realizado, algo de desastroso poderá ocorrer. Já nos tiques, por outro lado, o desconforto é prontamente aliviado pela execução do movimento ou emissão do som, não havendo associação a ganho secundário. Paracinesias são comuns e têm o intuito de camuflar o tique, parecendo que o ato seria proposital (passar a mão no cabelo, enquanto se balança a cabeça). Os tiques transitórios (duração < 1 ano) da infância tendem a ser exclusivamente motores e geralmente regridem durante a adolescência. A presença de tiques vocais e motores (não necessariamente juntos), com duração superior a um ano, é classificada como crônica e pode ser indicativa da doença de Gilles de La Tourette. Outras doenças, como a coreia de Sydenham, doença de Huntington, neuroacantocitose e doença de Wilson, também podem apresentar tiques dentre suas várias manifestações clínicas. Em pacientes com DP, os tiques podem aparecer como efeitos colaterais do uso da levodopa durante períodos muito longos e podem-se mesclar aos movimentos discinéticos. Distonia A distonia é um distúrbio do movimento, caracterizado por contrações musculares sustentadas ou intermitentes, resultando em movimentos em torno de um eixo e/ou posturas anormais, frequentemente de caráter repetitivo. Os movimentos podem ser torcionais ou tremulantes e tendem a ocorrer em uma direção preferencial, o que os diferenciam da coreia. Apresentam característica de transbordamento ou “overflow”, ou seja, o movimento ou a postura se estendem para além da região do corpo comumente envolvida. Por vezes, os movimentos existentes em um lado do corpo podem ser observados no outro lado do corpo (distonia em espelho). A distonia é provavelmente o terceiro distúrbio de movimento mais comum somente atrás da DP e do tremor. Como já foi dito anteriormente, os tipos e causa de distonia são muito variados, envolvendo desde causas genéticas até traumáticas. Nos adultos, a distonia cervical idiopática (torcicolo espasmódico) é a forma mais comum, e, nas crianças, boa parte dos casos relaciona-se com o contexto de paralisia cerebral (PC). O surgimento de distonia em um paciente com PC pode demorar até décadas, não sendo incomum o aparecimento na segunda ou terceira década (PC distônico). Entre as causas mais estudadas de distonias atualmente estão as causas genéticas. Todos os tratamentos são a toxina botulínica. Tremor Os tremores são movimentos causados por contrações alternadas ou síncronas de grupos musculares agonistas e antagonistas, caracterizados por oscilações rítmicas, podem aparecer em qualquer parte do corpo. Avaliação Semiológica| Todo e qualquer tipo de tremor deve ser avaliado em repouso, durante a marcha, durante o movimento dos membros, com os braços estendidos e através da escrita. Para avaliar a presença de tremor postural, deve-se primeiramente observar o paciente com os braços estendidos e dedos abduzidos, com as mãos abertas paralelas ao tronco e, por fim, confrontando os dedos indicadores paralelamente ao tronco, sem que ocorra o toque dos mesmos. Ao avaliar os movimentos com a escrita, solicita-se ao paciente que escreva uma frase completa, ligue dois pontos com uma reta e desenhe uma espiral (espiral de Arquimedes) com ambos os membros. Deve-se zelar para que o paciente não encoste a mão ou punho no papel. 1. Tremor Essencial| Considerada a forma mais comum de tremor, caracteriza-se por ser cinético- postural, 4-12 Hz, afetando principalmente as mãos (90%) com movimentos de flexão e extensão (mais comum em mãos) e o segmento cefálico. O início geralmente é bilateral e simétrico, porém pode haver ligeira assimetria. Geralmente desaparece no repouso e durante o sono, entretanto, a presença durante o repouso pode ocorrer em casos avançados. No segmento cefálico, pode ser em afirmação (mais comum) ou em negação. Por vezes, o envolvimento dos músculos fonatórios pode tornar a voz trêmula, já o acometimento do mento e membros inferiores é menos comum. Vale citar a melhora com a ingestão alcoólica e a presença de história familiar em muitos casos (30-50%). Além disso, sinais cerebelares sutis, como dificuldade de marcha em tandem, ataxia e dismetria leves, bem como sinal de Froment, podem estar presentes e não afastam o diagnóstico. É considerado um tremor benigno. Tratamento é consideradoa depender dos sintomas. É tremor que predomina na postura e na ação. Tratamento é feito principalmente com B- bloqueador. 2. Tremor Parkinsoniano| É o tremor de repouso clássico, lento e regular, de frequência em torno de 4-6 Hz e com diminuição ou desaparecimento durante o movimento voluntário. Entretanto, após uma breve latência, tende a retornar com os membros estendidos com uma frequência um pouco mais rápida de 6-12 Hz (tremor reemergente). Os membros superiores são os mais afetados, seguidos pelos membros inferiores emento. Os movimentos típicos são de “pronação-supinação” ou de “rolar de pílulas”. Vale lembrar que na DP o tremor inicia unilateralmente e nos parkinsonismos atípicos (plus), sua presença é simétrica. Esse tremor também pode ser visto em causas medicamentosas de parkinsonismo. 3. Tremor Cerebelar É um tremor lento (< 5Hz), de intenção (piora ao atingir um alvo). Utilizam-se as manobras de índex- índex e índex-nariz para evidenciá-lo. Em afecções cerebelares bilaterais, o tremor tende a ser bilateral; já em lesões hemisféricas, o tremor ocorre no membro ipsolateral. A escrita desses pacientes tende a ser macrográfica (letras grandes e irregulares). Geralmente envolve segmentos distais dos membros, entretanto, pode ter características grosseiras, acometendo os segmentos proximais, quando gerado por lesões em pedúnculo cerebelar. Por vezes, pode envolver a região cefálica com oscilações rítmicas da cabeça e/ou do tronco, chamada de titubeação. Geralmente se associa a outros sinais cerebelares, como nistagmo, dismetria, disartria e hipotonia. 4. Tremor de Holmes| Antigamente denominado tremor rubral, verificou-se que nem sempre era proporcionado pela lesão do núcleo rubro e sim por alteração de suas vias. Dessa forma, recebeu o nome de tremor de Holmes, em homenagem ao seu descritor. Trata-se de tremor de repouso, postura e ação, unilateral, afetando tanto a parte distal, quanto proximal do membro. É extremamente incapacitante e apresenta frequência menor que 4,5 Hz. Ocorre contralateralmente à lesão do núcleo rubro ou às suas conexões (tálamo/cerebelo), geralmente entre 2 semanas a 2 anos após a lesão. 5. Tremor Ortostático | Tremor raro e rápido (14-18 Hz) que envolve os membros inferiores e/ou tronco e se inicia logo após o paciente assumir a posição ortostática, queixando-se de sensação de instabilidade, mas geralmente sem relatos de quedas. Apresenta melhora com a marcha e com o repouso (indivíduo sentado). Tem etiologia desconhecida, sendo classificado por muitos como uma variante do tremor essencial. O examinador, ao auscultar a panturrilha do paciente com a campânula do estetoscópio, pode verificar um som parecido com as hélices de um helicóptero (sinal do helicóptero). 6. Tremor Distônico| É um tipo de tremor que foge à regra, pois pode apresentar frequências e amplitudes variáveis. Ocorre em pacientes que apresentam distonia em algum segmento corpóreo e apresenta uma direção predominante. Exemplo típico é o tremor cefálico associado à distonia cervical, podendo ser em negação (mais comum) ou afirmação, e se torna mais evidente quando o paciente realiza um movimento contrário ao da distonia. Assim como citado na seção de distonia, este tipo de tremor pode ser aliviado temporariamente por truques sensoriais (gestos antagonistas), como tocar o mento ou a região posterior da cabeça com as mãos. A presença de tremor cefálico sem tremor de membros fala a favor de tremor distônico, pois o tremor essencial tende a iniciar nos membros superiores e acometer o crânio mais tardiamente. 7. Tremor na Doença de Wilson| Tremor peculiar, classificado com “bater de asas”, pode ser postural ou de intenção e, por vezes, de repouso. Associa-se a outros sinais, como parkinsonismo, ataxia, distonia e alterações cognitivas. Tem frequência em torno de 4-6 Hz. Coreia Coreia (do grego “dança”) é caracterizada por movimentos involuntários, rápidos, sem propósito, irregulares, arrítmicos e de grande amplitude, que podem acometer qualquer parte do corpo. Ocorrem com maior intensidade nas extremidades distais apenas um lado do corpo, denominamos hemicoreia e geralmente é secundária a insulto isquêmico ou hipofluxo nos núcleos da base contralaterais, apesar de outras causas, como estado hiperosmolar ou hiperglicemia, serem etiologias possíveis. Quando difusa dá a sensação de inquietude e pode ser muito incapacitante para o paciente. Ao examinar o paciente com coreia, pode-se evidenciar redução exuberante do tônus muscular, traduzido por uma fase de relaxamento anormalmente prolongada após a contração na pesquisa do reflexo patelar (Fenômeno de Gordon). O sinal da ordenha constitui dificuldade de manter contração tônica pelo paciente ao prender os dedos do examinador com as mãos. O paciente afrouxa repetidamente, dando a sensação de ordenha. Doença/Coreia de Huntington (DH)| é uma doença neurodegenerativa e autossômica dominante (cromossomo 4), caracterizada por coreia, sintomas psiquiátricos e declínio cognitivo. A idade de início ocorre geralmente entre 35 e 50 anos de idade. A genética se caracteriza por expansão do trinucleotídeo CAG (acima de 39 repetições) no gene da Huntingtina no cromossomo 4. Início precoce antes dos 20 anos (DH juvenil) pode ocorrer e, por vezes, uma pequena proporção dos pacientes nunca desenvolve coreia típica, apresentando-se com rigidez progressiva (variante rígida de Whestphal). Coreia de Sydenham| decorre de mecanismo imunológico e está associada à febre reumática (geralmente escolares de 6-13 anos). Coreia gravídica| ocorre geralmente no primeiro trimestre, e muitas pacientes tiveram episódios coreicos passados (moléstia reumática) Balismo O balismo e a atetose são os principais diagnósticos diferenciais e frequentemente surgem associados à coreia. O balismo se caracteriza por movimentos involuntários de grande amplitude (bruscos), de arremesso, preferencialmente na porção proximal dos membros, com amplo e rápido deslocamento das extremidades e, em geral, é unilateral (hemibalismo). Geralmente, o hemibalismo é causado por lesões estruturais, como acidente vascular encefálico ou lesões expansivas, envolvendo o núcleo subtalâmico de Luys contralateralmente. Atetose Atetose, por sua vez, é caracterizada por movimentos involuntários lentos, sinuosos e mais distais (movimentos tentaculares). Frequentemente coreia e atetose manifestam-se simultaneamente (coreoatetose). A atetose é sinal comum em pacientes com encefalopatias crônicas da infância. Quando o paciente tenta erguer os braços sobre a cabeça, ocorre pronação dos mesmos (sinal do Pronador). Ao solicitar que o paciente realize a protrusão da língua, o mesmo é incapaz de permanecer com esta fora da cavidade oral, denotando impersistência motora (“Ice cream sign”). Paracinesias são frequentes, a fim de disfarçar o movimento involuntário, como coçar a cabeça ou espreguiçar-se a depender da direção dos movimentos
Compartilhar