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_____________________________________________________________________________________________________________ PROPP - Pesquisa Dados do Projeto e do(a) Coordenador do Projeto Título do Projeto As engrenagens da viagem na criação poética: estudos da performance autoral na coleção literária Amores Expressos. Referência da Chamada: ( X ) BIC/UFJF e PIBIC/CNPq ( ) PIBIC/CNPq AÇÕES AFIRMATIVAS ( ) PROBIC/FAPEMIG ( ) PROBIC-JR/FAPEMIG ( ) Apoio ao Recém-Doutor ( ) Apoio a Grupos de Pesquisa ( ) Apoio à Instalação de Doutores ( ) Cadastro na Propesq Coordenador do Projeto: Humberto Fois Braga Equipe: - Endereços para contato: Eletrônico: humfois@gmail.com ou humberto.fois@ufjf.edu.br Telefônico: 32-98863-0491 Unidade/Departamento: Instituto de Ciências Humanas / Departamento de Turismo Data: 18 de maio de 2017. 1 1 . Justificativa/Caracterização do Problema Da constituição do autor enquanto indivíduo, ainda no século XVI (FOUCAULT, 2006), até a sua "morte" como professada pelos estruturalistas dos anos de 1960 (BARTHES, 1988), chegamos ao século XXI com o renascimento da sua presença. Na contemporaneidade, o discurso do desaparecimento do autor convive com o da sua visibilidade performática, afinal, “assistimos hoje a um ‘retorno do autor’, não como origem e explicação última da obra, mas como personagem do espaço público midiático” (VIEGAS, 2007, p.15). Se o autor era um a posteriori à sua obra, atualmente, ele se tornou um espetáculo a priori, pois "deve induzir o desejo de ler seus textos, ao passo que, antes, era o texto que despertava a vontade de se aproximar dele" (LEJEUNE, 2008, p. 199). Reimão (1996) detecta esta performance autoral, no Brasil, desde o final da década de 1970, quando os autores nacionais começaram a constituir espaços de presença para não serem esquecidos, o que fez com que a autoria deixasse de ser somente um nome na capa do livro publicado para, então, tornar-se uma marca, uma atuação que, para além de literária, é também midiática. Amplia-se, pois, os espaços de intervenção do autor e, na sequência, problematiza-se os limites dos textos literários. Performático para além de seu texto, o escritor contemporâneo envolve seu próprio corpo: fisionomia, gestos, timbre, cacoetes e postura se tornam espetáculos visíveis. Com isso, afirmaríamos positivamente para a questão levantada por Foucault (2006, p. 269), quando ele nos interroga: “será que tudo o que ele escreveu ou disse, tudo o que ele deixou atrás de si faz parte de sua obra?” Sim. Nessa ampliação do local de assinatura, o autor se constrói tanto na exterioridade da obra (presenças midiáticas) quanto em sua interioridade (a partir, principalmente, de sua inscrição enquanto personagem e também narrador, no que vem sendo denominando de autoficção). Assim, ele está para além e dentro de sua obra. Espalhado em diversas direções, e usando-se das desconstruções contemporâneas que esfacela as fronteiras entre vida e arte, o autor performático (das mídias e da autoficção) nunca se entrega por inteiro, fragmenta-se e se contradiz nos diversos enunciados que produz nas múltiplas plataformas impregnadas com sua presença. Constrói-se como um quebra- cabeça cujas peças não se encaixam para formar uma totalidade panorâmica e coerente. O corpo do livro e o corpo do autor se entrelaçam. E, dentre os diversos assuntos abordados por estes autores performáticos, deparamo-nos com eles falando de suas famílias, de sua infância, de seus dramas e, também, de suas viagens. A literatura brasileira está perpassada pela mobilidade não somente dos personagens, mas também dos autores: são vários aqueles que colocam a viagem como condição anterior à sua criação literária. Não defendemos que a viagem seja necessária para escrever um romance ambientado em outras cidades (vide, por exemplo, Chico Buarque de Hollanda, que afirma ter escrito seu romance Budapeste sem ter visitado a cidade europeia); todavia, partimos do princípio de que a “ida a campo” desses romancistas viajantes em busca de inspirações é uma tendência performática e participa, também, do processo de internacionalização dos argumentos e cenários que compõem os romances brasileiros contemporâneos. Por exemplo, temos uma miríade de autores brasileiros que se servem desses recursos, em que o turismo se torna uma premissa que antecede a escrita de seus romances, tais como Adriana Lisboa que viajou ao Japão para escrever Rakushisha (Ed. Alfaguara, 2014) e Daniel Galera que passou uma temporada em Garopaba (SC) para escrever seu romance Barba ensopada de sangue (Ed. Cia. das Letras, 2012). Bernardo Carvalho, um dos contemporâneos que mais se serve desta estratégia de viajante-romancista, já foi até a tribo Krahô (TO) e a Nova York para construir os argumentos de Nove Noites (Ed. Cia. das Letras, 2002), a Mongólia com o intuito de escrever sua obra Mongólia (Ed. Cia. das Letras, 2003), São Petersburgo para O filho da mãe (Ed. Cia. das Letras, 2009) e Simpatia pelo Demônio (Ed. Cia. das Letras, 2016) como resultado de anotações realizadas ao longo de sua estadia em Berlim, motivada por uma bolsa de residência literária em 2011. Nesse contexto, o projeto Amores Expressos, da editora Companhia das Letras em parceria com a produtora RT Features, teve o mérito de organizar esta tendência que faz confluir a performance na mobilidade com a performance autoral, ou seja, estruturou o discurso do autor-viajante, com o argumento de que a viagem é capaz de inspirar a escrita, que o viajante guia a mão do autor. Tal projeto, idealizado pelo produtor cultural Rodrigo Teixeira e pelo escritor João Paulo Cuenca, teve seu início em 2007, ao enviar 17 autores brasileiros para 17 cidades nos quatro cantos do mundo. Com o custo da viagem sendo financiado e contratos firmados, tais 2 viajantes/escritores passaram um mês em seus destinos, recolhendo informações e impressões para, posteriormente, quando de retorno ao Brasil, pudessem escrever um romance que contasse uma história de amor ambientada nesses locais visitados. Todavia, tal projeto não era somente literário, pois o que Rodrigo Teixeira idealizou foi uma cadeia produtiva multimídia: a experiência de viagem deveria suscitar dois produtos imediatos e pautados na estética do relato/depoimento – um blog e um documentário, ambos visando explorar a experiência em trânsito do autor –, na sequência haveria o lançamento dos romances e, finalmente, a sua transposição cinematográfica. Tais relatos dos autores viajantes que perpassam seus blogs e documentários devem ser compreendidos como parte do espetáculo, e não simplesmente apêndices ou bastidores dos romances. Há um voyerismo no projeto que mercantiliza uma suposta privacidade do escritor- viajante, expondo para o leitor (também internauta e telespectador) a “garimpagem de experiências” que subsidia a sua escrita. Amores Expressos trouxe os bastidores e as engrenagens da criação literária para a cena do espetáculo, transformando o romancista em produto, embalado enquanto personagem-viajante a ser consumido; com isso, a persona do viajante-explorador se adequou a do autor performático. E tal performance na viagem acabou, no final, influenciando a própria obra literária lançada por tais autores: a referida coleção passou a ser estudada pela crítica literária a partir do argumento da mobilidade internacional, sendo o estrangeiro o leitmotiv aglutinador dos enredos dos romances lançados (FOIS-BRAGA, 2017). Todavia, devemos nos recordar que o argumento temático era contar uma história de amor que se passasse na cidade visitada pelo autor – em nenhum momento o personagem estrangeiro e a temática da viagem foram definidos pelo organizadores da iniciativa enquanto necessários à narrativa das obras. Em outras palavras, se o projeto determinou a construção de histórias de amor territorialmente demarcadas, por outro lado, deixou livre para que essas pudessemser vivenciadas por qualquer personagem. E tal fato nos leva às indagações: por que, ao construir suas histórias de amor passadas nessas cidades localizadas em diversos países, os autores privilegiaram personagens estrangeiros (brasileiros e de outras nacionalidades) em detrimento dos “nativos”? Quais foram os motivos que fizeram a viagem surgir como elemento imprevisto, no entanto aglutinador e recorrente em todas as obras, chegando ao ponto da coleção ser reconhecida por tal temática? Em outros termos: o que levou as obras produzidas pela coleção Amores Expressos a se tornarem sinônimo de romances de viagem? Temos como hipótese que a viagem surgiu nas experiências do autor e, posteriormente, deslizou em direção à sua obra, gerando uma “ficcionalização da experiência”, havendo uma certa aderência de suas subjetividades de viajantes às suas escritas criativas. O estrangeiro, que surgiu como personagem principal em todos os romances lançados, não foi, senão, uma consequência – um efeito colateral – da cláusula contratual que exigia que o participante, antes de ser escritor, fosse viajante e frequentasse o campo para extrair experiências a serem gatilhos para a confecção de seus romances. Logo, o que se impunha era a mobilidade do autor em terras alheias e, de alguma forma, esses argumentos da viagem e do ser-estrangeiro deslizaram das experiências dos escritores em direção às páginas de seus textos. Em outros termos, podemos sugerir que tais discursos do estar em trânsito eram do autor e, assim, seriam encontradas nos seus relatos de viagem que abasteciam os blogs e nos documentários do projeto, mas não era pressuposto a ser encontrado nos romances. A viagem-laboratório posicionou o escritor como participante de seus próprios experimentos de campo, ou seja, o viajante que deveria observar a alteridade acabou se observando enquanto estranho ao local de chegada; com isso, o sentimento de ser estrangeiro emergiu enquanto persona que resvalou do autor em direção às suas obras. O criador levou traços e rastros de si para suas criaturas. A viagem, enquanto um “ritual de transformação” (LEED, 1992) e em todas suas possibilidades, inclusive a turística, deveria provocar o estranhamento de si, a percepção e a vivência de uma diversidade que está para além dos nossos hábitos cotidianos. Fazendo coro a esta interpretação, Botton (2003), em seu livro A Arte de Viajar, defende que o turismo deveria ser apreendido a partir de uma sensibilidade estética, o que despertaria no viajante um desejo de se apropriar e de trazer para a casa estas experiências de fruição do Belo. Partindo do que foi dito por John Ruskin1, o autor menciona que 1 John Ruskin foi um pintor, poeta, crítico de artes e escritor inglês do século XIX. 3 há muitas expressões inferiores desse desejo de posse, e aí se incluem o desejo de comprar lembranças e tapetes, de inscrever o próprio nome em colunas e de tirar fotografias [...] [porém,] existe apenas um modo de possuir a beleza corretamente, que é pelo entendimento, por nossa conscientização dos fatores (psicológicos e visuais) que são responsáveis por ela. E, em último lugar, que o modo mais eficaz de obter esse entendimento consciente é o esforço de descrever locais belos por meio da arte, pela escrita e pelo desenho, independentemente de termos ou não qualquer talento para tal (BOTTON, 2003, p. 232). Se a experiência estética de uma viagem pode fruir para ser canalizada em uma linguagem artística, logo, sugerimos que esta transmutação do ato ao texto ocorre através da alegoria benjaminiana. Servindo-nos de Benjamin (2004), insinuamos que alguns romances são reescritas alegóricas da viagem do escritor, onde e quando o autor recria o estado e sensações passadas de viajante que já foi. A linguagem literária deste escritor, posto que viajante, seria então melancólica, pois conteria em si uma experiência já perdida, sendo resgatada, ou melhor, “anarquivada” (DERRIDA, 2001) no plano de sua recriação enunciativa. Percebemos que a alegoria benjaminiana é um conceito primordial para compreendermos a escrita como derivações das viagens. A alegoria se infiltra ali, para expressar aquelas transformações de viagem que ocorrem devido à limiaridade (ORTIZ, 2006), à hostipitalidade (DERRIDA, 2003), à voyage raté (URBAIN, 2008) e aos desafios e provocações (FOSTER, 2010): conceitos esses que remetem à potencialidade literária gerada na passagem do viajante ao escritor, e que nos serão primordiais para formatar o que estamos chamando de “engrenagens da viagem na criação poética”. Amores expressos, rápidos, na velocidade dos sentimentos que não permitem ancoragens e lastros? Ou amores expressos, enunciados, proferidos e manifestos na linguagem escrita? É nessa ambiguidade dos termos que o projeto multimídia se situa enquanto epítome da nossa contemporaneidade, cujo processo de fazer a escrita esfacela os limites entre autor e obra, entre o que antecede a narrativa, situando-se no âmbito do criador, e aquilo que se encontra no texto enquanto linguagem-criatura que deseja se libertar de seu processo criativo. Afinal, de quem são esses amores expressos – rápidos e manifestos – a qual nos referimos? Seria do autor que se envolveu performaticamente no projeto ou seria dos personagens que ganharam vida em seus romances? Cremos que é neles e entre eles, a partir de uma escrita que recupera as experiências de viagem, que devemos situar nossas compreensões: mobilidade horizontal, dos autores e dos personagens em suas viagens particulares, e mobilidade vertical, na passagem do viajante ao romancista. A partir destes argumentos, certas questões se apresentam como centrais na compreensão deste fenômeno contemporâneo presente no circuito literário brasileiro: até que ponto deslocar-se foi preciso para escrever os romances da coleção Amores Expressos, sendo então a experiência do viajante um ato que antecedeu a linguagem do autor? Como a performance autoral pautada na viagem é construída pelo projeto Amores Expressos? E como os autores criam estratégias discursivas para problematizar as fronteiras entre suas experiências pessoais de viagem e a criação literária (ficcional) de seus romances? 2 . Objetivos Objetivo Geral: Perceber como as engrenagens da viagem movem a criação poética no projeto multimídia Amores Expressos, especificamente a partir do estudo dos discursos da performance autoral e das coincidências biográficas na construção das narrativas que aparecem nos dez romances publicados pela coleção literária. 4 Objetivos Específicos: 1. Discutir como os relatos em blog, documentários em televisão, romances nas prateleiras e entrevistas nos jornais são enunciações que articulam, em diversos níveis discursivos, “vontades factuais” e “vontades ficcionais” dos autores que se posicionam como personagens de si mesmos. 2. Desenvolver o conceito de “garimpagem de experiência” para definir a performance autoral pautada na retórica da viagem. 3. Perceber como os autores participantes da coleção Amores Expressos desenvolvem discursos convergentes ou destoantes a respeito da “garimpagem de experiência” em seus blogs e nos documentários (produzidos anterior à escrita de seus romances) e nos cadernos de cultura dos jornais O Globo e Folha de S. Paulo (em entrevistas concedidas para divulgar as suas obras). 4. Estruturar o conceito de “deslizamento da experiência” para perceber como a “garimpagem de experiência” afeta a escrita criativa, permitindo que as obras lançadas sejam interpretadas pela crítica enquanto discursos (in)voluntários que problematizam as fronteiras entre fatos e ficções. 5. Apontar outras iniciativas coletivas ou individuais no circuito literário e artístico brasileiro que utilizam das engrenagens da viagem em suas criações poéticas. 3 . Metodologia e Estratégias de Ação Amores Expressos é um projeto de 2007, mas aindaem desenvolvimento. Inicialmente, supunha-se que teríamos a composição de 17 obras; todavia, até o momento, foram lançados dez romances2, dois foram recusados3 pela editora e outros cinco ainda aguardam4 a entrega do original pelos autores. Sendo assim, o escopo do nossa pesquisa se concentra na análise dos seguintes objetos: 10 romances, 17 blogs, 16 documentários5 (já em posse, devido a contato prévio com a produtora que cedeu o material para pesquisa) e mais 120 reportagens referentes ao projeto Amores Expressos (também já repertoriadas nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo). O roteiro para o desenvolvimento da presente pesquisa seguirá as fases abaixo elencadas, tendo como intuito estabelecer um panorama teórico-reflexivo das problemáticas propostas: • Fase 01: levantamento e leitura dos livros e artigos acadêmicos que dialogam com a temática dos nossos estudos. Aqui, tais pesquisas serão realizadas em livrarias, bibliotecas e outras plataformas virtuais de distribuição de textos científicos. Especificamente, as discussões concentrar-se-ão em compreender e desenvolver confluências teóricas entre os conceitos de 2 O primeiro lançamento ocorreu em 2008, com “Cordilheira” (Buenos Aires), de Daniel Galera. O segundo e terceiro livros surgiram em 2009: “Estive em Lisboa e lembrei de você”, de Luiz Ruffato; e “O filho da mãe” (São Petersburgo), de Bernardo Carvalho. Em 2010, foi a vez de “O único final feliz para uma história de amor é um acidente” (Tóquio), de João Paulo Cuenca, e “Do fundo do poço se vê a Lua” (Cairo), de Joca Reiners Terron. Já em 2011, a editora lançou “O livro de Praga – narrativas de amor e arte”, de Sérgio Sant’Anna; e “Nunca vai embora” (Havana), de Chico Mattoso. Finalmente, em 2013, mais três obras vieram à luz: “Barreira” (Istambul), de Amilcar Bettega Barbosa; “Digam ao Satã que o recado foi entendido” (Dublin), de Daniel Pellizzari e “Ithaca Road” (Sydney), de Paulo Scott. 3 André Leones teve seu romance recusado pela Cia. das Letras, e assim acabou publicando-o em 2010 pela Editora Rocco e com o título “Como desaparecer completamente” (São Paulo). Outro recusado foi o de Cecilia Giannetti, cujo título provisório é “Desde que te amo tanto” (Berlim), e ainda sem casa editorial. Consideramos tais romances “apócrifos” vis-à-vis à coleção Amores Expressos. 4 Os demais, ainda não publicados, foram motivos de uma reportagem no jornal Folha de São Paulo, no dia 27 de julho de 2013, com o título “Encomenda travou escritores da coleção Amores Expressos”. De acordo com o jornalista Marcos Rodrigo Almeida, “crises de inspiração, acúmulo de trabalho e dificuldade em lidar com o tema da série partiram o coração de muitos escritores do projeto Amores Expressos” (FOLHA DE SÃO PAULO ONLINE, 2013). Esses são os casos de Lourenço Mutarelli, que foi pra Nova York, Adriana Lisboa em Paris, Antonia Pellegrino em Bombaim, Reinaldo Moraes com a cidade do México e, finalmente, Antonio Prata com Xangai. Mas todos, ainda de acordo com a reportagem, pretendem (re)escrever os livros e apresentá-los brevemente à editora. 5 A viagem de Paulo Scott para Sydney (Austrália) não gerou um documentário, devido a problemas logísticos da produtora. Logo, embora tenhamos 17 participantes da iniciativa, contamos com somente 16 documentários. 5 “autoria”, “performance autoral”, “autoficção”, “retóricas da viagem”, “narrativas (contemporâneas)”, “convergência de conteúdos em multimídias”. • Fase 02: Desenvolvimento do conceito de “garimpagem de experiência”, a partir de determinadas categorias de análise, como, por exemplo, do hypomnémata foucaultiano (que aqui reverbera nas “cadernetas de anotações” mencionadas pelos autores-viajantes), da flânerie benjaminiana e de laços sociais gerados a partir das trocas maussianas. • Fase 03: Aplicação dos conceitos desenvolvidos nas fases 01 e 02 na análise dos blogs, documentários e entrevistas selecionadas nos jornais, para verificar como os escritores constroem uma performance autoral pautada no discurso da “garimpagem de experiências” proporcionada pelas viagens que realizaram. Na sequência, comparemos as convergências e divergências dos discursos distribuídos em suportes e temporalidades distintas. • Fase 04: Desenvolvimento do conceito de “deslizamento da experiência”, a partir de estudos a respeito, por exemplo, da alegoria benjaminiana, de arquivo foucaultiano e derridiano, das relações entre autor e a personagem propostas nos estudos bakhtiniano, da intertextualidade bakhtiniana e transtextualidade genettiana, da mímesis e referencialidades ao real abordados por diversos autores. • Fase 05: Análise dos romances lançados pela coleção, para perceber como os discursos da “garimpagem de experiência”, rastreados na fase 03, se convertem em “deslizamento de experiências” ao serem absorvidos pelos romances. Nesse momento, os discursos de viajante, construídos pelos autores (nos blogs, documentários e jornais) serão confrontados com o conteúdo e forma dos romances que publicaram, o que nos permitirá detectar e estabelecer os índices (categorias) que compõem o “deslizamento de experiência” na referida coleção. • Fase 06: Elaboração do relatório final, em formato monográfico e contendo as discussões teóricas e análises apreendidas. • Fase 07: Democratização dos resultados da pesquisa a partir de 03 eixos: i. organização do Evento IV Café.Tur6 para divulgar à comunidade juiz-forana interessada em tais discussões os aprendizados gerados na pesquisa; ii. definição e estruturação dos artigos acadêmicos, derivados do relatório final, a serem submetidos a eventos e revistas científicas da área; iii. elaboração de uma série de textos curtos (2.800 caracteres com espaço) de maneira a popularizar o conhecimento em estilo coluna/reportagem jornalística. Paralelamente a todas estas fases, haverá: i. levantamento de outras ações literárias, seja de iniciativas coletivas ou individuais, que também estabeleceram a viagem como engrenagem na criação poética; ii. monitoramento de eventos e revistas na área que contemplem as discussões aqui propostas, possibilitando-nos a submissão de artigos com resultados parciais da pesquisa. 4 . Resultados e os impactos esperados • Serão atendidas as demandas específicas determinadas pelo edital, a saber: i. o relatório final (em formato monográfico); ii. participação no Seminário de Iniciação Científica da UFJF (2018); iii. orientação de alunos participantes do projeto, com o intuito de capacitar novos pesquisadores. • Sendo tal projeto o início de um estudo que visa consolidar tal discussão a respeito das interfaces entre performance autoral e retóricas da viagem, e levando em consideração o ineditismo da proposta, desenvolveremos conceitos – principalmente os de “garimpagem de experiência” e de “deslizamento de experiência” – capazes de definirem categorias analíticas aplicáveis a outras obras literárias que se enquadrem nesta tendência contemporânea de dar visibilidade (publicidade) às engrenagens da viagem que operam na criação poética. Por isso, acreditamos que esta é uma primeira etapa de um projeto de estudo de tais engrenagens. 6 Evento organizado pelo Grupo de Pesquisa PeNaVia (Performances e Narrativas de Viagem) ao qual o projeto, caso aprovado, estará vinculado. Como coordenado do referido grupo, já organizamos três versões de tal evento, sempre com o intuito de discutir as interfaces das produções culturais (i.e. cinema, teatro, literatura, artes plásticas etc.) com o universo das viagens. 6 • Elaboração de, ao menos, dois artigos acadêmicos para apresentar os resultados parciais da pesquisa em eventos e revistas científicas. Posteriormente, com o término do projeto, o relatório nos dará subsídios para elaborarmos outros artigos contendo os resultados finais. • Organização de um evento acadêmico (aberto à população juiz-forana)intitulado IV Café.Tur. • Elaboração de textos curtos, formato coluna/reportagem jornalística, com o intuito de difundir e popularizar o conhecimento a partir de uma linguagem acessível e direcionada ao grande público. • Mapeamento e construção de uma base de dados contendo autores brasileiros que se serviram das viagens – nacionais ou internacionais – para construir um laboratório de campo anterior à criação de determinadas obras literárias. • Formação de parcerias entre o curso de Turismo e a Faculdade de Letras da UFJF, para discutir tais convergências temáticas. 5 . Cronograma FA SE S ATIVIDADES ANO / MÊS 2017 2018 08 09 10 11 12 01 02 03 04 05 06 07 - Mapeamento e construção da base de dados contendo outros autores e suas obras que se adequam ao escopo do projeto. x x x x x x x x x x x x - Monitoramento de eventos e chamadas de revistas. x x x x x x x x x x x x - Elaboração progressiva do relatório. x x x x x x x x x x x x 01 Levantamento e leitura de livros e artigos sobre performance autoral e outros temas convergentes. x x 02 Concepção do conceito de “garimpagem de experiência”. x x 03 Análise dos blogs dos autores. x 03 Análise dos documentários. x 03 Análise das entrevistas. x 03 Comparação dos discursos dos blogs, documentários e entrevistas. x 04 Concepção do conceito de “deslizamento da experiência”. x x 05 Análise e categorização do “deslizamento das experiências” nos romances Amores Expressos. x x 06 Elaboração do relatório final. x x 07 Organização do IV Café.Tur. x 07 Definição dos artigos a serem publicados com resultados finais de pesquisa. x 07 Definição dos textos em formato coluna/reportagem jornalística x 7 6. Orçamento Não se aplica 7. Referências Bibliográficas BARTHES, Roland. O rumor da língua. São Paulo/Campinas: Brasiliense/Ed. Da Unicamp, 1988. BENJAMIN, Walter. Origem do drama trágico alemão. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004. BOTTON, Alain de. A arte de viajar. Trad. de Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro: Rocco, 2003. DERRIDA, Jacques. Anne Dufourmantelle convida Jacques Derrida a falar Da Hospitalidade. São Paulo, SP: Ed. Escuta, 2003. _____. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. FOIS-BRAGA, Humberto. Romances de viagem: políticas e poéticas da mobilidade contemporânea na coleção literária Amores Expressos. Tese de Doutoramento. Juiz de Fora: Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz de Fora, 2017, 471f. FOLHA DE SÃO PAULO ONLINE. Encomenda travou escritores da coleção: tema fechado inibiu a imaginação e atrasou conclusão das histórias, dizem autores do projeto Amores Expressos. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/120848-encomenda-travou-escritores-da- colecao.shtml.Publicado em: 27 de julho de 2013. Acesso em: 15 de janeiro de 2017. FOSTER, Thomas C. Para ler literatura como um professor: um guia ágil e curioso que ensina a ler nas entrelinhas. Trad. de Frederico Dantello. São Paulo: Lua de Papel, 2010. FOUCAULT, Michel. Ditos e escritos III - Estética: Literatura e Pintura, Música e Cinema. Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária, 2006. LEED, Eric J. La mente del viaggiatore: dall’Odissea al turismo globale. Bologna, Itália: Ed. Il Mulino, 1992. LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à Internet. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008. ORTIZ, Renato. A viagem, o popular e o outro. In: Um Outro Território: ensaios sobre a mundialização. 1 ed. São Paulo: Olho d’água, 2006, p. 25-43. REIMÃO, Sandra. Mercado editorial brasileiro: 1960-1990. São Paulo: COM-ARTE FAPESP, 1996. URBAIN, Jean-Didier. Le voyage était presque parfait: essai sur les voyages ratés. Paris: Éditions Payot & Rivages, 2008. VIEGAS, Ana Cláudia. O “retorno do autor” – relatos de e sobre escritores contemporâneos In: VALLADARES, Henriqueta Do Coutto Prado (org.). Paisagens ficcionais: perspectivas entre o eu e o outro. Rio de Janeiro: 7Letras, 2007.
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