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02 As-engrenagens-da-viagem-na-criação-poética

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_____________________________________________________________________________________________________________ 
	
 
 
 
PROPP - Pesquisa 
 
 
Dados do Projeto e do(a) Coordenador do Projeto 
 
Título do Projeto As engrenagens da viagem na criação poética: estudos da 
performance autoral na coleção literária Amores Expressos. 
Referência da Chamada: ( X ) BIC/UFJF e PIBIC/CNPq 
( ) PIBIC/CNPq AÇÕES AFIRMATIVAS 
( ) PROBIC/FAPEMIG 
( ) PROBIC-JR/FAPEMIG 
( ) Apoio ao Recém-Doutor 
( ) Apoio a Grupos de Pesquisa 
( ) Apoio à Instalação de Doutores 
( ) Cadastro na Propesq 
Coordenador do Projeto: Humberto Fois Braga 
 
Equipe: - 
Endereços para contato: Eletrônico: humfois@gmail.com ou humberto.fois@ufjf.edu.br 
Telefônico: 32-98863-0491 
Unidade/Departamento: Instituto de Ciências Humanas / Departamento de Turismo 
 
Data: 18 de maio de 2017. 
 
 1 
1 . Justificativa/Caracterização do Problema 
 
 Da constituição do autor enquanto indivíduo, ainda no século XVI (FOUCAULT, 2006), até a 
sua "morte" como professada pelos estruturalistas dos anos de 1960 (BARTHES, 1988), chegamos ao 
século XXI com o renascimento da sua presença. Na contemporaneidade, o discurso do 
desaparecimento do autor convive com o da sua visibilidade performática, afinal, “assistimos hoje a um 
‘retorno do autor’, não como origem e explicação última da obra, mas como personagem do espaço 
público midiático” (VIEGAS, 2007, p.15). Se o autor era um a posteriori à sua obra, atualmente, ele se 
tornou um espetáculo a priori, pois "deve induzir o desejo de ler seus textos, ao passo que, antes, era o 
texto que despertava a vontade de se aproximar dele" (LEJEUNE, 2008, p. 199). Reimão (1996) 
detecta esta performance autoral, no Brasil, desde o final da década de 1970, quando os autores 
nacionais começaram a constituir espaços de presença para não serem esquecidos, o que fez com que 
a autoria deixasse de ser somente um nome na capa do livro publicado para, então, tornar-se uma 
marca, uma atuação que, para além de literária, é também midiática. Amplia-se, pois, os espaços de 
intervenção do autor e, na sequência, problematiza-se os limites dos textos literários. 
 Performático para além de seu texto, o escritor contemporâneo envolve seu próprio corpo: 
fisionomia, gestos, timbre, cacoetes e postura se tornam espetáculos visíveis. Com isso, afirmaríamos 
positivamente para a questão levantada por Foucault (2006, p. 269), quando ele nos interroga: “será 
que tudo o que ele escreveu ou disse, tudo o que ele deixou atrás de si faz parte de sua obra?” Sim. 
Nessa ampliação do local de assinatura, o autor se constrói tanto na exterioridade da obra (presenças 
midiáticas) quanto em sua interioridade (a partir, principalmente, de sua inscrição enquanto 
personagem e também narrador, no que vem sendo denominando de autoficção). Assim, ele está para 
além e dentro de sua obra. Espalhado em diversas direções, e usando-se das desconstruções 
contemporâneas que esfacela as fronteiras entre vida e arte, o autor performático (das mídias e da 
autoficção) nunca se entrega por inteiro, fragmenta-se e se contradiz nos diversos enunciados que 
produz nas múltiplas plataformas impregnadas com sua presença. Constrói-se como um quebra-
cabeça cujas peças não se encaixam para formar uma totalidade panorâmica e coerente. 
 O corpo do livro e o corpo do autor se entrelaçam. E, dentre os diversos assuntos 
abordados por estes autores performáticos, deparamo-nos com eles falando de suas famílias, de 
sua infância, de seus dramas e, também, de suas viagens. A literatura brasileira está perpassada 
pela mobilidade não somente dos personagens, mas também dos autores: são vários aqueles que 
colocam a viagem como condição anterior à sua criação literária. Não defendemos que a viagem 
seja necessária para escrever um romance ambientado em outras cidades (vide, por exemplo, 
Chico Buarque de Hollanda, que afirma ter escrito seu romance Budapeste sem ter visitado a 
cidade europeia); todavia, partimos do princípio de que a “ida a campo” desses romancistas 
viajantes em busca de inspirações é uma tendência performática e participa, também, do processo 
de internacionalização dos argumentos e cenários que compõem os romances brasileiros 
contemporâneos. Por exemplo, temos uma miríade de autores brasileiros que se servem desses 
recursos, em que o turismo se torna uma premissa que antecede a escrita de seus romances, tais 
como Adriana Lisboa que viajou ao Japão para escrever Rakushisha (Ed. Alfaguara, 2014) e Daniel 
Galera que passou uma temporada em Garopaba (SC) para escrever seu romance Barba 
ensopada de sangue (Ed. Cia. das Letras, 2012). Bernardo Carvalho, um dos contemporâneos que 
mais se serve desta estratégia de viajante-romancista, já foi até a tribo Krahô (TO) e a Nova York 
para construir os argumentos de Nove Noites (Ed. Cia. das Letras, 2002), a Mongólia com o intuito 
de escrever sua obra Mongólia (Ed. Cia. das Letras, 2003), São Petersburgo para O filho da mãe 
(Ed. Cia. das Letras, 2009) e Simpatia pelo Demônio (Ed. Cia. das Letras, 2016) como resultado de 
anotações realizadas ao longo de sua estadia em Berlim, motivada por uma bolsa de residência 
literária em 2011. 
 Nesse contexto, o projeto Amores Expressos, da editora Companhia das Letras em parceria 
com a produtora RT Features, teve o mérito de organizar esta tendência que faz confluir a performance 
na mobilidade com a performance autoral, ou seja, estruturou o discurso do autor-viajante, com o 
argumento de que a viagem é capaz de inspirar a escrita, que o viajante guia a mão do autor. 
Tal projeto, idealizado pelo produtor cultural Rodrigo Teixeira e pelo escritor João Paulo 
Cuenca, teve seu início em 2007, ao enviar 17 autores brasileiros para 17 cidades nos quatro 
cantos do mundo. Com o custo da viagem sendo financiado e contratos firmados, tais 
 2 
viajantes/escritores passaram um mês em seus destinos, recolhendo informações e impressões 
para, posteriormente, quando de retorno ao Brasil, pudessem escrever um romance que contasse 
uma história de amor ambientada nesses locais visitados. Todavia, tal projeto não era somente 
literário, pois o que Rodrigo Teixeira idealizou foi uma cadeia produtiva multimídia: a experiência de 
viagem deveria suscitar dois produtos imediatos e pautados na estética do relato/depoimento – um 
blog e um documentário, ambos visando explorar a experiência em trânsito do autor –, na 
sequência haveria o lançamento dos romances e, finalmente, a sua transposição cinematográfica. 
 Tais relatos dos autores viajantes que perpassam seus blogs e documentários devem ser 
compreendidos como parte do espetáculo, e não simplesmente apêndices ou bastidores dos 
romances. Há um voyerismo no projeto que mercantiliza uma suposta privacidade do escritor-
viajante, expondo para o leitor (também internauta e telespectador) a “garimpagem de 
experiências” que subsidia a sua escrita. Amores Expressos trouxe os bastidores e as 
engrenagens da criação literária para a cena do espetáculo, transformando o romancista em 
produto, embalado enquanto personagem-viajante a ser consumido; com isso, a persona do 
viajante-explorador se adequou a do autor performático. 
 E tal performance na viagem acabou, no final, influenciando a própria obra literária lançada 
por tais autores: a referida coleção passou a ser estudada pela crítica literária a partir do 
argumento da mobilidade internacional, sendo o estrangeiro o leitmotiv aglutinador dos enredos 
dos romances lançados (FOIS-BRAGA, 2017). Todavia, devemos nos recordar que o argumento 
temático era contar uma história de amor que se passasse na cidade visitada pelo autor – em 
nenhum momento o personagem estrangeiro e a temática da viagem foram definidos pelo 
organizadores da iniciativa enquanto necessários à narrativa das obras. Em outras palavras, se o 
projeto determinou a construção de histórias de amor territorialmente demarcadas, por outro lado, 
deixou livre para que essas pudessemser vivenciadas por qualquer personagem. E tal fato nos 
leva às indagações: por que, ao construir suas histórias de amor passadas nessas cidades 
localizadas em diversos países, os autores privilegiaram personagens estrangeiros (brasileiros e de 
outras nacionalidades) em detrimento dos “nativos”? Quais foram os motivos que fizeram a viagem 
surgir como elemento imprevisto, no entanto aglutinador e recorrente em todas as obras, chegando 
ao ponto da coleção ser reconhecida por tal temática? Em outros termos: o que levou as obras 
produzidas pela coleção Amores Expressos a se tornarem sinônimo de romances de viagem? 
 Temos como hipótese que a viagem surgiu nas experiências do autor e, posteriormente, 
deslizou em direção à sua obra, gerando uma “ficcionalização da experiência”, havendo uma certa 
aderência de suas subjetividades de viajantes às suas escritas criativas. O estrangeiro, que surgiu 
como personagem principal em todos os romances lançados, não foi, senão, uma consequência – 
um efeito colateral – da cláusula contratual que exigia que o participante, antes de ser escritor, 
fosse viajante e frequentasse o campo para extrair experiências a serem gatilhos para a confecção 
de seus romances. Logo, o que se impunha era a mobilidade do autor em terras alheias e, de 
alguma forma, esses argumentos da viagem e do ser-estrangeiro deslizaram das experiências dos 
escritores em direção às páginas de seus textos. Em outros termos, podemos sugerir que tais 
discursos do estar em trânsito eram do autor e, assim, seriam encontradas nos seus relatos de 
viagem que abasteciam os blogs e nos documentários do projeto, mas não era pressuposto a ser 
encontrado nos romances. A viagem-laboratório posicionou o escritor como participante de seus 
próprios experimentos de campo, ou seja, o viajante que deveria observar a alteridade acabou se 
observando enquanto estranho ao local de chegada; com isso, o sentimento de ser estrangeiro 
emergiu enquanto persona que resvalou do autor em direção às suas obras. O criador levou traços 
e rastros de si para suas criaturas. 
A viagem, enquanto um “ritual de transformação” (LEED, 1992) e em todas suas 
possibilidades, inclusive a turística, deveria provocar o estranhamento de si, a percepção e a 
vivência de uma diversidade que está para além dos nossos hábitos cotidianos. Fazendo coro a 
esta interpretação, Botton (2003), em seu livro A Arte de Viajar, defende que o turismo deveria ser 
apreendido a partir de uma sensibilidade estética, o que despertaria no viajante um desejo de se 
apropriar e de trazer para a casa estas experiências de fruição do Belo. Partindo do que foi dito por 
John Ruskin1, o autor menciona que 
 
1 John Ruskin foi um pintor, poeta, crítico de artes e escritor inglês do século XIX. 
 3 
 
há muitas expressões inferiores desse desejo de posse, e aí se incluem o desejo de 
comprar lembranças e tapetes, de inscrever o próprio nome em colunas e de tirar 
fotografias [...] [porém,] existe apenas um modo de possuir a beleza corretamente, 
que é pelo entendimento, por nossa conscientização dos fatores (psicológicos e 
visuais) que são responsáveis por ela. E, em último lugar, que o modo mais eficaz de 
obter esse entendimento consciente é o esforço de descrever locais belos por meio 
da arte, pela escrita e pelo desenho, independentemente de termos ou não qualquer 
talento para tal (BOTTON, 2003, p. 232). 
 
Se a experiência estética de uma viagem pode fruir para ser canalizada em uma linguagem 
artística, logo, sugerimos que esta transmutação do ato ao texto ocorre através da alegoria 
benjaminiana. Servindo-nos de Benjamin (2004), insinuamos que alguns romances são reescritas 
alegóricas da viagem do escritor, onde e quando o autor recria o estado e sensações passadas de 
viajante que já foi. A linguagem literária deste escritor, posto que viajante, seria então melancólica, 
pois conteria em si uma experiência já perdida, sendo resgatada, ou melhor, “anarquivada” 
(DERRIDA, 2001) no plano de sua recriação enunciativa. 
Percebemos que a alegoria benjaminiana é um conceito primordial para compreendermos a 
escrita como derivações das viagens. A alegoria se infiltra ali, para expressar aquelas 
transformações de viagem que ocorrem devido à limiaridade (ORTIZ, 2006), à hostipitalidade 
(DERRIDA, 2003), à voyage raté (URBAIN, 2008) e aos desafios e provocações (FOSTER, 2010): 
conceitos esses que remetem à potencialidade literária gerada na passagem do viajante ao 
escritor, e que nos serão primordiais para formatar o que estamos chamando de “engrenagens da 
viagem na criação poética”. 
 Amores expressos, rápidos, na velocidade dos sentimentos que não permitem ancoragens 
e lastros? Ou amores expressos, enunciados, proferidos e manifestos na linguagem escrita? É 
nessa ambiguidade dos termos que o projeto multimídia se situa enquanto epítome da nossa 
contemporaneidade, cujo processo de fazer a escrita esfacela os limites entre autor e obra, entre o 
que antecede a narrativa, situando-se no âmbito do criador, e aquilo que se encontra no texto 
enquanto linguagem-criatura que deseja se libertar de seu processo criativo. Afinal, de quem são 
esses amores expressos – rápidos e manifestos – a qual nos referimos? Seria do autor que se 
envolveu performaticamente no projeto ou seria dos personagens que ganharam vida em seus 
romances? Cremos que é neles e entre eles, a partir de uma escrita que recupera as experiências 
de viagem, que devemos situar nossas compreensões: mobilidade horizontal, dos autores e dos 
personagens em suas viagens particulares, e mobilidade vertical, na passagem do viajante ao 
romancista. 
A partir destes argumentos, certas questões se apresentam como centrais na compreensão 
deste fenômeno contemporâneo presente no circuito literário brasileiro: até que ponto deslocar-se 
foi preciso para escrever os romances da coleção Amores Expressos, sendo então a experiência 
do viajante um ato que antecedeu a linguagem do autor? Como a performance autoral pautada na 
viagem é construída pelo projeto Amores Expressos? E como os autores criam estratégias 
discursivas para problematizar as fronteiras entre suas experiências pessoais de viagem e a 
criação literária (ficcional) de seus romances? 
 
2 . Objetivos 
 
Objetivo Geral: 
 
Perceber como as engrenagens da viagem movem a criação poética no projeto multimídia Amores 
Expressos, especificamente a partir do estudo dos discursos da performance autoral e das 
coincidências biográficas na construção das narrativas que aparecem nos dez romances 
publicados pela coleção literária. 
 
 
 
 
 4 
Objetivos Específicos: 
 
1. Discutir como os relatos em blog, documentários em televisão, romances nas prateleiras e 
entrevistas nos jornais são enunciações que articulam, em diversos níveis discursivos, “vontades 
factuais” e “vontades ficcionais” dos autores que se posicionam como personagens de si mesmos. 
2. Desenvolver o conceito de “garimpagem de experiência” para definir a performance autoral 
pautada na retórica da viagem. 
3. Perceber como os autores participantes da coleção Amores Expressos desenvolvem discursos 
convergentes ou destoantes a respeito da “garimpagem de experiência” em seus blogs e nos 
documentários (produzidos anterior à escrita de seus romances) e nos cadernos de cultura dos 
jornais O Globo e Folha de S. Paulo (em entrevistas concedidas para divulgar as suas obras). 
4. Estruturar o conceito de “deslizamento da experiência” para perceber como a “garimpagem de 
experiência” afeta a escrita criativa, permitindo que as obras lançadas sejam interpretadas pela 
crítica enquanto discursos (in)voluntários que problematizam as fronteiras entre fatos e ficções. 
5. Apontar outras iniciativas coletivas ou individuais no circuito literário e artístico brasileiro que 
utilizam das engrenagens da viagem em suas criações poéticas. 
 
3 . Metodologia e Estratégias de Ação 
 
 Amores Expressos é um projeto de 2007, mas aindaem desenvolvimento. Inicialmente, 
supunha-se que teríamos a composição de 17 obras; todavia, até o momento, foram lançados dez 
romances2, dois foram recusados3 pela editora e outros cinco ainda aguardam4 a entrega do 
original pelos autores. Sendo assim, o escopo do nossa pesquisa se concentra na análise dos 
seguintes objetos: 10 romances, 17 blogs, 16 documentários5 (já em posse, devido a contato prévio 
com a produtora que cedeu o material para pesquisa) e mais 120 reportagens referentes ao projeto 
Amores Expressos (também já repertoriadas nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo). 
 O roteiro para o desenvolvimento da presente pesquisa seguirá as fases abaixo elencadas, 
tendo como intuito estabelecer um panorama teórico-reflexivo das problemáticas propostas: 
 
• Fase 01: levantamento e leitura dos livros e artigos acadêmicos que dialogam com a temática 
dos nossos estudos. Aqui, tais pesquisas serão realizadas em livrarias, bibliotecas e outras 
plataformas virtuais de distribuição de textos científicos. Especificamente, as discussões 
concentrar-se-ão em compreender e desenvolver confluências teóricas entre os conceitos de 
 
2 O primeiro lançamento ocorreu em 2008, com “Cordilheira” (Buenos Aires), de Daniel Galera. O segundo e 
terceiro livros surgiram em 2009: “Estive em Lisboa e lembrei de você”, de Luiz Ruffato; e “O filho da mãe” 
(São Petersburgo), de Bernardo Carvalho. Em 2010, foi a vez de “O único final feliz para uma história de 
amor é um acidente” (Tóquio), de João Paulo Cuenca, e “Do fundo do poço se vê a Lua” (Cairo), de Joca 
Reiners Terron. Já em 2011, a editora lançou “O livro de Praga – narrativas de amor e arte”, de Sérgio 
Sant’Anna; e “Nunca vai embora” (Havana), de Chico Mattoso. Finalmente, em 2013, mais três obras vieram 
à luz: “Barreira” (Istambul), de Amilcar Bettega Barbosa; “Digam ao Satã que o recado foi entendido” (Dublin), 
de Daniel Pellizzari e “Ithaca Road” (Sydney), de Paulo Scott. 
3 André Leones teve seu romance recusado pela Cia. das Letras, e assim acabou publicando-o em 2010 pela 
Editora Rocco e com o título “Como desaparecer completamente” (São Paulo). Outro recusado foi o de 
Cecilia Giannetti, cujo título provisório é “Desde que te amo tanto” (Berlim), e ainda sem casa editorial. 
Consideramos tais romances “apócrifos” vis-à-vis à coleção Amores Expressos. 
4 Os demais, ainda não publicados, foram motivos de uma reportagem no jornal Folha de São Paulo, no dia 
27 de julho de 2013, com o título “Encomenda travou escritores da coleção Amores Expressos”. De acordo 
com o jornalista Marcos Rodrigo Almeida, “crises de inspiração, acúmulo de trabalho e dificuldade em lidar 
com o tema da série partiram o coração de muitos escritores do projeto Amores Expressos” (FOLHA DE SÃO 
PAULO ONLINE, 2013). Esses são os casos de Lourenço Mutarelli, que foi pra Nova York, Adriana Lisboa 
em Paris, Antonia Pellegrino em Bombaim, Reinaldo Moraes com a cidade do México e, finalmente, Antonio 
Prata com Xangai. Mas todos, ainda de acordo com a reportagem, pretendem (re)escrever os livros e 
apresentá-los brevemente à editora. 
5 A viagem de Paulo Scott para Sydney (Austrália) não gerou um documentário, devido a problemas 
logísticos da produtora. Logo, embora tenhamos 17 participantes da iniciativa, contamos com somente 16 
documentários. 
 5 
“autoria”, “performance autoral”, “autoficção”, “retóricas da viagem”, “narrativas 
(contemporâneas)”, “convergência de conteúdos em multimídias”. 
• Fase 02: Desenvolvimento do conceito de “garimpagem de experiência”, a partir de 
determinadas categorias de análise, como, por exemplo, do hypomnémata foucaultiano (que 
aqui reverbera nas “cadernetas de anotações” mencionadas pelos autores-viajantes), da 
flânerie benjaminiana e de laços sociais gerados a partir das trocas maussianas. 
• Fase 03: Aplicação dos conceitos desenvolvidos nas fases 01 e 02 na análise dos blogs, 
documentários e entrevistas selecionadas nos jornais, para verificar como os escritores 
constroem uma performance autoral pautada no discurso da “garimpagem de experiências” 
proporcionada pelas viagens que realizaram. Na sequência, comparemos as convergências e 
divergências dos discursos distribuídos em suportes e temporalidades distintas. 
• Fase 04: Desenvolvimento do conceito de “deslizamento da experiência”, a partir de estudos a 
respeito, por exemplo, da alegoria benjaminiana, de arquivo foucaultiano e derridiano, das 
relações entre autor e a personagem propostas nos estudos bakhtiniano, da intertextualidade 
bakhtiniana e transtextualidade genettiana, da mímesis e referencialidades ao real abordados 
por diversos autores. 
• Fase 05: Análise dos romances lançados pela coleção, para perceber como os discursos da 
“garimpagem de experiência”, rastreados na fase 03, se convertem em “deslizamento de 
experiências” ao serem absorvidos pelos romances. Nesse momento, os discursos de viajante, 
construídos pelos autores (nos blogs, documentários e jornais) serão confrontados com o 
conteúdo e forma dos romances que publicaram, o que nos permitirá detectar e estabelecer os 
índices (categorias) que compõem o “deslizamento de experiência” na referida coleção. 
• Fase 06: Elaboração do relatório final, em formato monográfico e contendo as discussões 
teóricas e análises apreendidas. 
• Fase 07: Democratização dos resultados da pesquisa a partir de 03 eixos: i. organização do 
Evento IV Café.Tur6 para divulgar à comunidade juiz-forana interessada em tais discussões os 
aprendizados gerados na pesquisa; ii. definição e estruturação dos artigos acadêmicos, 
derivados do relatório final, a serem submetidos a eventos e revistas científicas da área; iii. 
elaboração de uma série de textos curtos (2.800 caracteres com espaço) de maneira a 
popularizar o conhecimento em estilo coluna/reportagem jornalística. 
 
Paralelamente a todas estas fases, haverá: i. levantamento de outras ações literárias, seja de 
iniciativas coletivas ou individuais, que também estabeleceram a viagem como engrenagem na 
criação poética; ii. monitoramento de eventos e revistas na área que contemplem as discussões 
aqui propostas, possibilitando-nos a submissão de artigos com resultados parciais da pesquisa. 
 
4 . Resultados e os impactos esperados 
 
• Serão atendidas as demandas específicas determinadas pelo edital, a saber: i. o relatório final (em 
formato monográfico); ii. participação no Seminário de Iniciação Científica da UFJF (2018); iii. orientação 
de alunos participantes do projeto, com o intuito de capacitar novos pesquisadores. 
• Sendo tal projeto o início de um estudo que visa consolidar tal discussão a respeito das interfaces entre 
performance autoral e retóricas da viagem, e levando em consideração o ineditismo da proposta, 
desenvolveremos conceitos – principalmente os de “garimpagem de experiência” e de “deslizamento de 
experiência” – capazes de definirem categorias analíticas aplicáveis a outras obras literárias que se 
enquadrem nesta tendência contemporânea de dar visibilidade (publicidade) às engrenagens da viagem 
que operam na criação poética. Por isso, acreditamos que esta é uma primeira etapa de um 
projeto de estudo de tais engrenagens. 
 
6 Evento organizado pelo Grupo de Pesquisa PeNaVia (Performances e Narrativas de Viagem) ao qual o 
projeto, caso aprovado, estará vinculado. Como coordenado do referido grupo, já organizamos três versões 
de tal evento, sempre com o intuito de discutir as interfaces das produções culturais (i.e. cinema, teatro, 
literatura, artes plásticas etc.) com o universo das viagens. 
 6 
• Elaboração de, ao menos, dois artigos acadêmicos para apresentar os resultados parciais da pesquisa 
em eventos e revistas científicas. Posteriormente, com o término do projeto, o relatório nos dará 
subsídios para elaborarmos outros artigos contendo os resultados finais. 
• Organização de um evento acadêmico (aberto à população juiz-forana)intitulado IV Café.Tur. 
• Elaboração de textos curtos, formato coluna/reportagem jornalística, com o intuito de difundir e 
popularizar o conhecimento a partir de uma linguagem acessível e direcionada ao grande público. 
• Mapeamento e construção de uma base de dados contendo autores brasileiros que se serviram das 
viagens – nacionais ou internacionais – para construir um laboratório de campo anterior à criação de 
determinadas obras literárias. 
• Formação de parcerias entre o curso de Turismo e a Faculdade de Letras da UFJF, para discutir tais 
convergências temáticas. 
 
5 . Cronograma 
 
FA
SE
S 
ATIVIDADES 
ANO / MÊS 
2017 2018 
08 09 10 11 12 01 02 03 04 05 06 07 
- 
Mapeamento e construção da base 
de dados contendo outros autores e 
suas obras que se adequam ao 
escopo do projeto. 
x x x x x x x x x x x x 
- Monitoramento de eventos e 
chamadas de revistas. x x x x x x x x x x x x 
- Elaboração progressiva do relatório. x x x x x x x x x x x x 
01 
Levantamento e leitura de livros e 
artigos sobre performance autoral e 
outros temas convergentes. 
x x 
02 Concepção do conceito de 
“garimpagem de experiência”. 
 x x 
03 Análise dos blogs dos autores. x 
03 Análise dos documentários. x 
03 Análise das entrevistas. x 
03 Comparação dos discursos dos 
blogs, documentários e entrevistas. 
 x 
04 Concepção do conceito de 
“deslizamento da experiência”. 
 x x 
05 
Análise e categorização do 
“deslizamento das experiências” nos 
romances Amores Expressos. 
 x x 
06 Elaboração do relatório final. x x 
07 Organização do IV Café.Tur. x 
07 
Definição dos artigos a serem 
publicados com resultados finais de 
pesquisa. 
 x 
07 Definição dos textos em formato 
coluna/reportagem jornalística 
 x 
 
 
 7 
6. Orçamento 
Não se aplica 
 
 
7. Referências Bibliográficas 
 
BARTHES, Roland. O rumor da língua. São Paulo/Campinas: Brasiliense/Ed. Da Unicamp, 1988. 
 
BENJAMIN, Walter. Origem do drama trágico alemão. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004. 
 
BOTTON, Alain de. A arte de viajar. Trad. de Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro: Rocco, 2003. 
 
DERRIDA, Jacques. Anne Dufourmantelle convida Jacques Derrida a falar Da Hospitalidade. São 
Paulo, SP: Ed. Escuta, 2003. 
 
_____. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. 
 
FOIS-BRAGA, Humberto. Romances de viagem: políticas e poéticas da mobilidade 
contemporânea na coleção literária Amores Expressos. Tese de Doutoramento. Juiz de Fora: 
Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz de Fora, 
2017, 471f. 
 
FOLHA DE SÃO PAULO ONLINE. Encomenda travou escritores da coleção: tema fechado 
inibiu a imaginação e atrasou conclusão das histórias, dizem autores do projeto Amores Expressos. 
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/120848-encomenda-travou-escritores-da-
colecao.shtml.Publicado em: 27 de julho de 2013. Acesso em: 15 de janeiro de 2017. 
 
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